Em matéria de desejo, a poesia de Álvares de Azevedo não cabia em si

Meu pobre coração que estremecia,... Álvares de Azevedo - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, ensaísta, contista e poeta paulista Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1850), no poema “Meu Desejo”, revela todo o ardor de uma paixão incontida. Ele viveu por apenas 20 anos, mas deixou uma importante obra. 

MEU DESEJO
Álvares de Azevedo

Meu desejo? era ser a luva branca
Que essa tua gentil mãozinha aperta:
A camélia que murcha no teu seio,
O anjo que por te ver do céu deserta….

Meu desejo? era ser o sapatinho
Que teu mimoso pé no baile encerra….
A esperança que sonhas no futuro,
As saudades que tens aqui na terra….

Meu desejo? era ser o cortinado
Que não conta os mistérios do teu leito;
Era de teu colar de negra seda
Ser a cruz com que dormes sobre o peito.

Meu desejo? era ser o teu espelho
Que mais bela te vê quando deslaças
Do baile as roupas de escomilha e flores
E mira-te amoroso as nuas graças!

Meu desejo? era ser desse teu leito
De cambraia o lençol, o travesseiro
Com que velas o seio, onde repousas,
Solto o cabelo, o rosto feiticeiro….

Meu desejo? era ser a voz da terra
Que da estrela do céu ouvisse amor!
Ser o amante que sonhas, que desejas
Nas cismas encantadas de langor!

2 thoughts on “Em matéria de desejo, a poesia de Álvares de Azevedo não cabia em si

  1. 1) Outro dia, uma aluna do 9º ano Fundamental me disse que estava lendo e gostando muito do Alvares de Azevedo…

    2) Lá na Baixada Fluminense, fiquei felicíssimo com tal declaração…

    3) Indiretamente… meu xará…

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