Livro descreve as teses da genial gangue de três – Sócrates, Platão e Aristóteles

Na ilustração, diante de um templo grego, dois homens representando os filósofos Platão e Aristoteles, usando trajes da época da Grécia Antiga, carregando livros e conversando; do lado direito da cena, uma estátua de Sócrates.

Ilustração de Anette Schwartsman

Hélio Schwartsman
Folha

Neel Burton (Oxford) escreve copiosamente sobre psiquiatria, filosofia e vinhos. “The Gang of Three: Socrates, Plato, Aristotle” é o primeiro de seus livros que leio. Gostei. Não é que Burton ofereça uma nova interpretação revolucionária sobre o pensamento desses filósofos. Pelo contrário, ele vai numa linha bem clássica, que descreve o surgimento da filosofia como uma passagem do “mýthos”, isto é, do discurso poético ou religioso, para o “lógos”, a razão.

O que me chamou a atenção positivamente em “The Gang…” é a contextualização histórica. Na graduação, li histórias da filosofia escritas por autores franceses que, talvez por acreditarem na prevalência das ideias, eram econômicos, para não dizer pães-duros, nos elementos biográficos. Não é o caso de Burton.

VAI AOS DETALHES – Ele fala dos irmãos de Aristóteles, Arimneste e Arimnesto, e vai aos detalhes das várias tentativas de Platão de implantar no mundo real, mais especificamente na corte do tirano Dionísio de Siracusa, as ideias que defendeu em “A República”.

Desnecessário dizer que todas elas fracassaram estrondosamente. Numa, a segunda, Platão chegou a ser posto sob “guarda de honra”, que é um eufemismo para preso. Mas foi por pouco tempo.

The Gang of Three: Socrates, Plato, Aristotle (Ancient Wisdom)VALIOSOS RESUMOS – Também achei interessante a arquitetura que Burton escolheu para sua obra. No caso de alguns dos diálogos mais importantes de Platão, como “A República” e “Teeteto”, além da “Ética a Nicômaco”, de Aristóteles, ele oferece valiosos resumos livro a livro, que nos permitem captar não apenas as teses defendidas como também a estrutura geral da argumentação. É só depois dessa exposição mais descritiva que Burton introduz seus comentários.

Numa observação menos positiva, devo dizer que fiquei chocado com a quase inexistência de notas. Até entendo que é uma obra dirigida ao público geral, não a especialistas, mas, mesmo assim, seria importante mostrar de onde vêm os ótimos achados descritos no livro.

2 thoughts on “Livro descreve as teses da genial gangue de três – Sócrates, Platão e Aristóteles

  1. Traduziu a palavra gang ao pé da letra. Gang também significa grupo e turma. Como bom petista que é que está acostumado com a gangue do pt, usou esse significado

  2. Hélio Schwartsman, comenta no artigo: “A Gang dos três”, livro de Neel Burton, sobre os três cavaleiros do Apocalipse, Sócrates, Platão e Aristóteles.
    Trata-se de uma tarefa hercúlea, descrever a vida e a obra dos três maiores filósofos de todos os tempos.

    Para se debruçar no estudo da obra de cada um dos três, quem se aventurar nessa saga, levará uma parte da existência tentando entender o que cada um quis passar para a humanidade.

    Especialmente, tenho uma admiração por Platão. O filósofo da República. Platão sucedeu Sócrates e serviu de inspiração para Aristóteles. O sábio do Meio.

    Bem, o jornalista da Folha de São Paulo, Hélio Schwartsman magistralmente comentou sobre o livro recém lançado de Neel.

    Sobre Platão o filósofo dos filósofos, nesta sexta-feira, a escritora e pesquisadora da Universidades Nova de Lisboa, Tatiana Salem Levy, no artigo Loucura Erótica, comenta sobre os diálogos platônicos como o próprio lugar da paixão.

    Tatiana releu “Morte em Veneza” do escritor Thomas Mann, excepcionalmente adaptada para o cinema por Lucino Visconti.
    O escritor Mann em suas narrativas foi muito influenciado pelos conceitos filosóficos
    de Platão ( Fedon) e de Nietzsche ( O nascimento da tragédia ).

    Salem então, resolveu ler ” Fedon de Platão”. É sempre assim, com as almas inquietas, um passo leva a outro. A pesquisadora explica, que é com Platão, que o autor de Morte em Veneza, dialoga com o amor, com o belo, o trágico, o apolineo e o dionísiaco, através de seus personagens.

    Em ” Fedon” , Platão tece a teia nos diálogos entre Sócrates e Fedon, sobre o amor e a retórica.

    Olha o que diz Sócrates na leitura de Tatiana:

    ” A loucura dada por Eros é uma dádiva concedida pelos deuses. O amor movimenta, dá vida. Faz crescerem as asas que perdemos, quando viemos para o mundo, ou seja, nos torna um pouco mais divinos”.

    Para Tatiana e para mim também, Platão é um filósofo maravilhosamente paradoxal, diria dialético, bem antes da definição de Hegel, quando ele diz:
    ” Quando guardamos a mente, através do auto controle, nos fechamos para os Deuses. Se as coisas divinas estão fora de nós, temos que deixar elas entrarem, para que as mudanças ocorram”. Trata-se de uma ode a loucura amorosa, uma entrega total a Eros, sem pensar nas consequências da entrega as musas.

    Termino aqui, no epílogo do excepcional artigo de Tatiana Salem, quanto ela cita trecho de uma palestra do escritor argentino, Jorge Luiz Borges sobre Fedon de Platão:

    ” Nos diálogos, ele se multiplica em vários personagens, Sócrates, Fedono, Górgias, entre outros, fazendo da filosofia, o próprio lugar da paixão, da loucura prática “.

    Platão dialoga com ele mesmo através de seus personagens. É ele que está lá, em tudo. Um gigante da Filosofia e da Sabedoria, um gênio, acima de tudo e de todos.

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