Dora Kramer
Folha
Paulo Vanzolini conta em um de seus memoráveis sambas que, na praça Clóvis paulistana (posta abaixo nos idos dos anos 1970 para dar passagem ao metrô), um dia a carteira dele foi batida. “Tinha 25 cruzeiros e o teu retrato”, relata. E, em mágoa de amor, conclui: “25, francamente achei barato pra me livrar do meu atraso de vida”.
É o que ocorre com os infratores da regra da chamada pré-campanha eleitoral, cuja penalidade máxima é uma multa de R$ 25 mil para quem pedir votos para si ou para apadrinhados. Sai quase de graça a infração para quem deseja se livrar do atraso de vida que a lei impõe no período antecedente ao início oficial da corrida eleitoral, neste ano marcada para 16 de agosto.
LULA E BOULOS – Aconteceu outro dia com o presidente Lula por causa do pedido de votos ao pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (PSOL-SP) no palanque de uma comemoração do 1º de Maio. Incomparável o ganho presumido com o apelo explícito em relação aos danos da penalidade imposta.
Vale o risco, posto que irrisório, descontado o cunho imoral da infração legal para o qual não se dá importância — nem a Justiça Eleitoral, dona da norma feita letra morta na prática. Afinal, a própria legislação é frouxa na definição do que seria exatamente o conceito de pré-campanha.
Ninguém sabe direito o que pode ou não pode.
MORO E SEIF – Vimos isso no julgamento que absolveu o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) por ausência de provas consistentes e provavelmente veremos no caso do senador Jorge Seif (PL-SC), também acusado de irregularidades antes do prazo regulamentar.
Ou bem se define o regramento com rigorosa clareza e são impostas punições efetivas — por exemplo, a possibilidade do risco ao registro de candidaturas — ou seguiremos no faz de conta.
Vale lembrar que campanha é campanha, antes ou depois do marco temporal hoje desrespeitado numa rotina de total desfaçatez.
O pavor que tomou conta da maioria da cabeça dos supremos dos supremos, confessado pelo ministro cabeça de ovo, tem sua razão. Os prognósticos dos resultados das eleições municipais são os piores possíveis para a esquerda. Fechadas as urnas, contado o tamanho da derrota, o futuro já começa a se delinear, para o pavor do ministro cabeça de ovo, que vê aliados como o presidente do Senado caindo fora, e adversários dele tomando o seu lugar. E vem muita gente aí, como Stalinácio, com um desejo enorme de vingança, com aquela vontade de mandar o ministro cabeça de ovo para casa, e correr o risco de também acabar no xilindró.
Na praça Clóvis
Minha carteira foi batida
Tinha vinte e cinco cruzeiros
E o teu retrato
Vinte e cinco
Francamente, achei barato
Pra me livrar
Do meu atraso de vida
Eu já devia ter rasgado
E não podia
Esse retrato cujo olhar
Me maltratava e perseguia
Um dia veio o lanceiro
Naquele aperto da praça
Vinte e cinco
Francamente foi de graça.
Doei a coleção que tinha do Paulo Vanzolini e do Adoniran, eu gostava da Capoeira do Arnaldo.
Quando eu vim da minha terra
Passei na enchente nadando
Passei frio, passei fome
Passei dez dias chorando
Por saber que de tua vida
Pra sempre estava passando
Nos passo desse calvário
Tinha ninguém me ajudando
Tava como um passarinho
Perdido fora do bando
Vamo-nos embora, ê ê
Vamo-nos embora, camará
Presse mundo afora, ê ê
Presse mundo afora, camará
Quando eu vim da minha terra
Veja o que eu deixei pra trás
Cinco noivas sem marido
Sete crianças sem pai
Doze santos sem milagre
Quinze suspiros sem ai
Trinta marido contente
Me perguntando “já vai?”
E o padre dizendo às beata
“Milagre custa, mas sai”
Vamo-nos embora, ê ê (…)
Quando eu vim da minha terra
Num sabia o que é sobrosso
Sabença de burro velho
Coragem de tigre moço
Oração de fechar corpo
Pendurada no pescoço
Rifle do papo-amarelo
Peixeira de cabo de osso
Medalha de Padre Ciço
E rosário de caroço
Pra me alisar pêlo fino
E arrepiar pêlo grosso
Que eu saí da minha terra
Sem cisma
Susto ou sobrosso
Vamo-nos embora, ê ê (…)
Quando eu vim da minha terra
Vim fazendo tropelia
Nos lugar onde eu passava
Estrada ficava vazia
Quem vinha vindo, voltava
Quem ia indo, não ia
Quem tinha negócio urgente
Deixava pro outro dia
Padre largava da missa
Onça largava da cria
E os pai de moça donzela
Mudava de freguesia
Mas tinha que fazer força
Porque as moça num queria
Vamo-nos embora, ê ê (…)
Eu sai da minha terra
Por ter sina viageira
Cum dois meses de viagem
Eu vivi uma vida inteira
Sai bravo, cheguei manso
Macho da mesma maneira
Estrada foi boa mestra
Me deu lição verdadeira
Coragem num tá no grito
E nem riqueza na algibeira
E os pecado de domingo
Quem paga é segunda-feira
Vamo-nos embora, ê ê (…)
De que vale instalar , os mais diferentes equipamentos de ” inspeção e segurança ” nos presídios do país , se não tem devidas manutenção dos mesmos , como aconteceu recentemente com a fuga de dois detentos do presidio de segurança , quando descobriu-se que a grande maioria dos equipamentos de segurança , estavam inativos por falta de manutenção e de preparo de seus funcionários para opera-los .