Ataque de Lula contra autonomia de Banco Central e Petrobras é ‘tiro no pé’

O presidente Lula durante a solenidade de posse de Magda Chambriard no cargo de presidente da Petrobras

Lula mudou a presidência da Petrobras sem haver motivos

Eliane Cantanhêde
Estadão

O presidente Lula patrocinou uma cena de ocupação da Petrobras, ao ir à posse de Magda Chambriard com a primeira-dama, sete ministros e presidentes de bancos estatais, exatamente quando aprofunda a investida sobre o Banco Central, seu atual presidente e sua autonomia, conquistada por consenso e comemorada depois de muitos anos de debates e cobranças.

O que significa? Que Lula se acha “dono” de estatais e bancos públicos e decidiu lhes impor suas crenças políticas? É uma sinalização ruim para o mercado, onde a palavra chave é sempre liberalização, mas também para setores políticos e da sociedade, onde crescem dúvidas sobre os rumos do governo e temores sobre a volta de Lula ao passado.

PALAVRAS, PALAVRAS… – Na posse, entre sorrisos e simpatia mútua, Lula fez loas à estatização e reduziu a Lava Jato, a maior operação de combate à corrupção da história, a uma ação que visava puramente “desmonte da Petrobras”, enquanto a nova presidente da companhia – foram oito presidentes em oito anos – disse em seu discurso que Lula “não quer confusão”, está “totalmente alinhada” com ele e vai manter firme a exploração de combustíveis fósseis, justificando: “o petróleo vai financiar a transição energética”. É polêmico…

Ainda bem que a ministra Marina Silva não estava lá. Não só pelo tom dos discursos, mas porque o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (cada vez mais dentro do Planalto e próximo de Lula e agente decisivo da queda do petista Jean Paulo Prates), deixou claro: a exploração de petróleo na margem equatorial do Amazonas é “a visão majoritária no governo”. Ou seja: de Lula. E às vésperas da COP em Belém.

INTERVENCIONISMOS – Enquanto Lula reafirmava no Rio, ao vivo e a cores, suas intenções intervencionistas na Petrobras, o Copom decidia em Brasília, por unanimidade, o fim, ou suspensão do ciclo de quedas dos juros. A decisão de manter a taxa em 10,5% já era esperada e foi de certa forma antecipada pelo Boletim Focus do BC nesta semana. A dúvida passou a ser se a votação repetiria os 5 a 4 do último Copom, ou seria por unanimidade. Deu 9 a zero.

Esse resultado foi interpretado como uma união do BC em defesa da instituição, da autonomia e do atual presidente, depois de Lula dizer, na véspera, que Campos Neto “trabalha contra o País” e compará-lo a Sérgio Moro.

Assim, a declaração de guerra de Lula obteve um efeito bumerangue: os quatro diretores indicados por ele votaram pela manutenção da taxa, demonstraram independência política e garantiram a unanimidade.

MAIS PALAVRAS… – Lula, porém, não se deu por satisfeito e voltou à carga no dia seguinte, declarando que “foi uma pena o Copom manter (a taxa, que vinha caindo desde agosto), porque quem está perdendo com isso é o Brasil, é o povo brasileiro”.

O BC, porém, não é malvado e desalmado, apenas age tecnicamente diante de circunstâncias externas e internas, como a insegurança quanto ao desequilíbrio das contas públicas – uma responsabilidade do governo.

“O Meirelles tinha autonomia tanto quanto tem esse rapaz, mas o Meirelles era um cara que eu tinha direito de tirar”, disse Lula à Rádio Verdinha, do Ceará, comparando Henrique Meirelles, presidente do BC dos seus primeiros mandatos, e Campos Neto, deixando claro que, no fundo, no fundo, gostaria de poder demitir os presidentes do BC com a facilidade com que demitiu Prates da Petrobras. Vai crescer o movimento no Congresso para rever a autonomia do Banco Central. Mais um debate desgastante, que cai como uma luva para a oposição. O famoso tiro no pé.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Eliane Cantânhede é uma excelente analista política. Depois de receber muitas críticas, sendo acusada de “petista”, vem fazendo uma série de artigos que desnudam Lula, enquanto ele pensa que está de roupa nova, como no conto de Hans Christian Andersen. O jornalismo é assim – apoiar o que está certo e criticar o que está errado, como a jornalista Eliane Cantânhede faz, bem diferente daquela patota da GloboNews. (C.N.)

8 thoughts on “Ataque de Lula contra autonomia de Banco Central e Petrobras é ‘tiro no pé’

  1. O BC deve ser independente, mas autonomia financeira, como propõe a PEC 65/2023 é algo controverso. André Lara Resende, por exemplo, acha que é um retrocesso.

  2. Lula foi eleito pra isso minha senhora defensora de banqueiros. Quiséssemos gasolina a quase 10 reais manteríamos o casalzinho bolsonaro-guedes.

  3. Há “dendos”, em:
    “Nova Descoberta Científica Indica Que o Petróleo Não é um Combustível Fóssil e Que Provavelmente Estará Disponível Para Sempre e em Quantidade Ilimitada.”
    “A teoria que o petróleo é resultante da decomposição biológica dos dinossauros e das antigas florestas pode estar totalmente errada. A NASA está para publicar estudos conclusivos sobre a presença de metano em abundância e de uma forma não-biológica na lua Titã, do planeta Saturno.” https://www.espada.eti.br/n2268.asp

  4. KKK se existe uma coisa em que não acredito é em jornalista ex-pestista, uma vez pestista sempre pestista. O problema de muitos destes jornazistas é que a Poderosa virou a agência de notícias oficial, a ponto de jornazista ligar para o ministro cabeça de ovo e pedir socorro, coisa só vista em ditadura.

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