Marcus André Melo
Folha
O resultado das eleições americanas abalou consensos entre cientistas políticos. Há pelo menos três questões que merecem destaque. A primeira é o que a política parece ter sofrido uma “descalcificação”. Havia certa convergência em torno do argumento que o sistema estava calcificado devido a crescente sobreposição entre raça, religião, gênero, faixa etária e preferências partidárias, como mostrei aqui.
Levitsky e Ziblatt argumentaram que a ascensão de Trump era uma reação da população branca de se tornar minoria nas próximas décadas. Estas análises envelheceram surpreendentemente rápido.
MUITA MUDANÇA – O que se observou nas eleições são mudanças significativas em quase todas os segmentos. A maioria de mulheres e negros ainda votam no candidato democrata mas o fosso entre homens e mulheres ou negros e outras etnias diminuiu espetacularmente. A margem de vitória de Biden na população latina, por exemplo, que foi de 33% em 2020, caiu para 6% em 2024. Em 89% dos condados houve mudança.
Trump aumentou seu percentual de votos entre homens, mulheres, faixas etárias (maior proporcionalmente entre os jovens entre 18 e 29), com e sem curso superior, áreas rurais e urbanas.
Entre homens negros a reação teve por base pautas de comportamento. Há evidências experimentais também de reações ao uso de expressões como “Latinx”. Em New Jersey, na Grande Nova York, a margem de vitória dos democratas caiu de 16% para 5%.
TEMAS ECONÔMICOS – A segunda controvérsia diz respeito aos determinantes do sucesso eleitoral da direita radical. Para muitos analistas ele refletiria uma mudança nas preferências do eleitorado que teria “virado à direita”.
Mas há evidências sólidas de que as preferências do eleitorado com relação a temas econômicos ou culturais/comportamentais mudaram pouco. O nível de concordância do eleitorado em relação a questões como aborto ou casamento homoafetivo não mudou.
Os temas econômicos perderam centralidade em relação a temas como imigração, nativismo e pautas comportamentais. O que efetivamente alterou foi a prioridade conferida a estas questões vis-à-vis, por exemplo, política social, como argumentam Gidron et al em estudo seminal. A eleição de Trump, no entanto, parece ir na direção oposta à convergência de análises sobre as novas prioridades.
TUDO CONFUSO – O resultado sugere a centralidade do chamado voto econômico. No entanto, as evidências são mistas. O nível do índice de infelicidade (taxa de inflação + taxa de desemprego) em 2024 é o segundo menor em 50 anos. Mas isto contrasta com o fato de que 78% dos eleitores concordarem que o país está indo na direção errada.
Esta percepção negativa nos leva a uma terceira questão controversa sobre ao chamado efeito incumbência. Aqui a expectativa é que os incumbentes levem vantagem (ocorre em 66% dos casos). Algumas estimativas avaliam este efeito para os EUA entre 4% a 8% (dados históricos cobrindo 216 anos).
Mas não foi o que se viu. Na realidade, não só na eleição americana mas também no resto das democracias em geral, os incumbentes estão perdendo massivamente. Segundo John Burn-Murdoch nas eleições de 2024, todos os governantes no poder perderam fatias expressivas do voto, a primeira vez que o fenômeno ocorre desde 1947! Assim, Trump não teria ganho; Biden é que teria sido punido.
Nem R$1
Lula pede dinheiro ao exterior, mas não ajuda Fundo Amazônia
O esquecido Biden, que prometeu R$500 milhões, doou US$53,4 milhões
Lula quer grana para o Fundo Amazônia
Enquanto Lula bota banca e passa o pires ao tentar garfar dinheiro dos ricaços para a floresta, o Fundo Amazônia não vê R$1 de doações do governo federal há anos. A última vez que o fundo viu dinheiro nacional passar por lá foi em maio de 2018, uma doação da Petrobras de R$1,1 milhão. Ao todo, a petroleira doou R$17,2 milhões entre 2011 e 2018. Já sob gestão Magda Chambriad, a empresa assinou protocolo de intenção de doar R$50 milhões, mas, dinheiro, que é bom, até agora, nada. A informação é da Coluna Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
Enquanto Lula não coloca grana no fundo, até o esquecido Joe Biden, deu uma beirada, US$53,4 milhões, e prometeu mais US$50 milhões.
A Noruega é líder isolada no ranking de doação ao fundo, US$1,2 bilhão. É seguida pela Alemanha, que despejou outros US$105,8 milhões.
Também injetaram grana no Fundo Amazônia: o governo do Japão, US$3 milhões; e o governo da Suíça, mais de US$5,6 milhões.
Esse tal Fundo e administrado por ONGs, que os doadores me esmo indicam