Procurador aciona a cúpula do MPF para barrar desconto de R$ 6,8 bilhões à J&F

Mandato do diretor-geral da ESMPU é renovado por mais dois anos — Escola  Superior do Ministério Público da União

Lima tenta anular favorecimento a Joesley e Wesley Batista

Rafael Moraes Moura
O Globo

O procurador da República Carlos Henrique Martins Lima acionou a cúpula do Ministério Público Federal (MPF) para suspender imediatamente o desconto de R$ 6,8 bilhões no acordo de leniência do grupo J&F. Na reclamação apresentada nesta terça-feira (22) ao Conselho Institucional do MPF, Martins Lima argumenta que o desconto, concedido de forma unilateral pelo subprocurador-geral da República Ronaldo Albo, não só foi decidido com “manifesta ilegalidade”, como “poderá ocasionar prejuízos irreversíveis” ao cumprimento do acordo de leniência.

SEGUNDA TENTATIVA – O recurso ao Conselho é a segunda tentativa de Martins Lima de anular o benefício à J&F utilizando canais internos do Ministério Público. O órgão, presidido pela vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, tem o poder de revisão de decisões tomadas pelas câmaras do MPF.

Em fevereiro do ano passado, o órgão decidiu que cabia ao procurador que atua do caso na primeira instância, ou seja, Martins Lima – e não à 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, chefiada por Albo – conduzir qualquer renegociação sobre o acordo.

Antes da reclamação apresentada nesta semana, Martins Lima já havia acionado a própria 5ª Câmara para derrubar a decisão de Ronaldo Albo. Ainda alertou ao procurador-geral da República, Augusto Aras, sobre ilegalidades cometidas por Albo na concessão do desconto bilionário ao grupo dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

ATROPELOU COLEGAS – O procurador Martins Lima também acionou a Corregedoria-Geral do MPF para apurar a conduta de Albo, que atropelou dois colegas para garantir a redução da multa.

Até agora, porém, Aras não se mexeu. A corregedora-geral do MPF, Célia Alvarenga, por sua vez, se declarou impedida de analisar o comportamento de Albo, já que é casada com um dos advogados que defendem os interesses do grupo J&F, Aristides Junqueira.

Além do Conselho Institucional do MPF, a revisão do acordo de leniência ainda pode ser barrada na Justiça Federal do Distrito Federal, já que, segundo o procurador, as alterações foram ilegais.

CRISE INTERNA – Conforme revelou a equipe da coluna, a revisão do bilionário acordo abriu uma crise interna no MPF. O acordo original de leniência da J&F previa o pagamento de multa de R$ 10,3 bilhões ao longo de 25 anos por conta do envolvimento da empresa em casos de corrupção.

Mas o grupo empresarial, que concordou com a multa em 2017, questiona agora a cifra, alegando excessiva onerosidade e contestando os cálculos adotados na definição da multa.

Em maio deste ano, os irmãos Joesley e Wesley Batista conseguiram que Ronaldo Albo, coordenador da 5ª Câmara de Coordenação e Revisão do MPF, aprovasse a redução da multa para R$ 3,53 bilhões – um “desconto” de 65,7%. O prazo de pagamento, que era de 25 anos, passou para oito. A 5ª Câmara é o órgão do MP que analisa casos de combate à corrupção e improbidade administrativa.

TUDO ERRADO – Martins Lima alega que, para atender os irmãos Batista, Albo passou por cima de uma decisão que ele mesmo já havia tomado, negando a repactuação da multa, além de ter atropelado um entendimento do próprio Conselho Institucional do MPF que concluiu que a 5ª Câmara não era o órgão competente para se discutir a revisão da multa.

Além disso, Albo “tratorou” o voto de dois outros subprocuradores que também já haviam recusado o pleito da empresa por um placar de 2 x 1 na própria Câmara. Chegou a anular o voto de um colega e decidir, sem consultar ninguém, que a sua posição de coordenador da 5ª Câmara é que deveria prevalecer.

Em meio à polêmica, a J&F pagou a primeira parcela, já sob as novas regras, no último dia 16, depositando R$ 608,1 milhões destinados à União.

ANULAR A DECISÃO – “A questão da repactuação da leniência não se encontra definitivamente solucionada no âmbito do MPF”, alerta Martins Lima, apontando que o objetivo da reclamação é o “reconhecimento da nulidade da tramitação e todos os autos que envolveram” a ofensiva de Ronaldo Albo para reduzir em R$ 6,8 bilhões a multa do grupo J&F.

As novas cláusulas, obtidas pela equipe da coluna, excluem da compensação por atos de corrupção os fundos de pensão Funcef e Petros, além de BNDES e a Caixa Econômica Federal. Na versão anterior do acordo, os quatro receberiam ao todo R$ 5,75 bilhões. Agora, não terão direito a nenhum centavo.

“A continuação do cumprimento do acordo de leniência nestes termos poderá ocasionar danos irreversíveis, tanto para os beneficiários lesados, como inclusive para a holding, que pode estar adiantando desnecessariamente o pagamento de parcelas devidas à União e posteriormente ainda terá de arcar com as demais parcelas em face dos demais beneficiários, com os respectivos encargos legais”, alerta o procurador.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A redução da multa fede a quilômetros de distância. Mas o fedor vai diminuir. Parodiando o velho ditado sobre a Justiça na Alemanha, felizmente ainda podemos dizer que também há procuradores e juízes em Brasília. (C.N.)

16 thoughts on “Procurador aciona a cúpula do MPF para barrar desconto de R$ 6,8 bilhões à J&F

  1. Embora o Consórcio tenha pra si a impossível tarefa de apagar o passado, em plena Era da Informação, vai aí “um recordar é viver”.

    https://www1.folha.uol.com.br/folha/circulo/pre_sp_30.htm

    Batendo biela o trem do Consórcio tende a descarrilhar na próxima decida. Parece, ou é equívoco meu?, que já ultrapassaram o limite da irresponsabilidade.

    Ninguém abre a gaiola dos ratos famintos impunemente. Vide o alerta do Centro de Controle e Prevenção de Doenças, agência de pesquisa em saúde pública ligada ao Departamento de Saúde dos Estados Unidos.

    https://jmonline.com.br/geral/ratos-carnivoros-com-fechamento-de-restaurantes-agencia-dos-eua-faz-alerta-sobre-roedores-famintos-1.59009

    • Batendo biela o trem do Consórcio tende a descarrilhar na próxima decida. Parece, ou é equívoco meu?, que já ultrapassaram o limite da irresponsabilidade.

  2. Sr. Newton

    Enquanto o Luladrão e sua Quadrilha faz de tudo para liberar seus amigos ladrões corruptos de pagarem os débitos devidos ao povo brasileiro, veja está matéria sobre este idoso que teve de recorrer a justiça para obrigar o “Papai Estado” fazer a cirurgia…

    Ah, já ia esquecendo, quem (des)Governa o Estado do Rio Grande do Norte,.??

    “Sinceramente não dá pra explicar [a dor], porque é fora do controle do ser humano. Só o Senhor que está me sustentando. É uma coisa que não se explica. Pra quê tanto sofrimento assim? E às vezes eu penso que eu fui uma pessoa de só fazer o bem”, diz José Nilton.

    Após batalha judicial, idoso com tumor gigante no rosto tem cirurgia agendada no RN

    https://g1.globo.com/rn/rio-grande-do-norte/noticia/2023/08/08/idoso-com-tumor-gigante-no-rosto-tem-cirurgia-agendada-no-rn.ghtml

    PS. E o pior de tudo, Sr. Newton, tem pessoas que ainda defendem o Maior Ladrão que o Mundo já viu….

    Desanimador…

    Grande abraço

    AGM

      • PS.3

        CPI da Covid pede indiciamento da governadora do RN por contrato que culminou em compra frustrada de respiradores..

        Dá-lhe Corrupção.!!!

        Acaba com tudo

        “Vai, me chama de corrupto”..

        “Vai um Rolex ai..?”

        “Vai um Piaget ai..?””

  3. Senhor Delcio Lima , esquecestes que as FFAs. do Brasil , já foram ” desmoralizadas , desonradas . desrespeitadas e humilhadas ” , impunemente pelo ex-presidente jair messias bolsonaro e sua corja , mas o que esta vindo agora nas investigações são apenas consequências desses crimes .

  4. A JBS presenteou o ladrão & narcotraficante Lula da Silva com U$ 70 MILHÕES de dólares (dólares, não yuan) e a assaltante Dilma com outro de U$ 80 MILHÕES. A dúvida é: estes presentes eram uma espécie de seguro ou os ratos vão embolsar mais uns trocados nessa maracutaia petista?

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