Roberto Nascimento
Se o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, seguisse os princípios éticos de Epicuro e os princípios morais de Kant, já teria pedido para sair do Banco Central. Como se sabe, Campos Neto entrou nomeado pelo então presidente Jair Bolsonaro e deveria ter saído junto com ele.
É visível o constrangimento do presidente do Banco Central com as pesadas críticas do presidente Lula, de membros do atual governo e até do mercado, principalmente dos líderes empresariais do comércio e da indústria.
NEGÓCIOS TRAVADOS – No entanto, com apoio da maioria dos oito diretores do Banco Central que integram o Comitê de Política Monetária (Copom), o economista Campos Neto insiste em praticar os mais elevados juros reais (descontada a inflação) do planeta.
Sabe-se que juros altos travam os negócios e o crescimento virtuoso do capitalismo. Se ficam estacionados em patamares proibitivos, poucos compram e poucos vendem. Resultado: A arrecadação despenca, aumentando o endividamento público. O melhor exemplo são as recém-iniciadas férias coletivas da indústria automobilística, devido à queda na vendas.
Respaldado no mandato outorgado pelo Congresso, Campos Neto se aferra ao cargo e cumpre as regras que interessam ao mercado financeiro, ao manter a taxa de juros em nível elevado sem que a demanda esteja alta.
RISCO DE ESTAGFLAÇÃO – Como se sabe, demanda reprimida e inflação alta formam a receita infalível para um processo recessivo da economia. Continuando nesse processo, se a inflação não ceder e a demanda seguir contida, atingiremos em pouco tempo a perigosa estagflação, que é a combinação de recessão com inflação.
É isso que deseja o economista Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central? Ninguém sabe, mas sua justificativa da manutenção da taxa básica de 13,75% para a Selic indica que ela está em viés de alta, e não se baixa, e isso parece uma enorme maluquice.
Como quem manda é o Copom e ponto final, temos de esperar o resumo da ata da reunião, que demora alguns dias até ter divulgação. De toda forma, me parece que a política monetária está equivocada, e o presidente do Banco Central deveria pedir demissão e voltar ao mercado, pois os bancos estão de braços abertos para Campos Neto, em função dos serviços a eles prestados, e não ao país.