Mario Sabino
Metrópoles
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, resolveu chamar uma entrevista coletiva para anunciar o que não é seu: a homologação do acordo de delação premiada de Ronnie Lessa pelo ministro Alexandre de Moraes. O acordo deve resultar, espera-se, na resolução completa do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A entrevista sobre o que não é seu foi porque o ministro da Justiça ainda deve o que é dele: Ricardo Lewandowski continua levando um baile de Querubim e Tatu, os dois fugitivos da prisão de segurança máxima de Mossoró, e é bom mudar de assunto.
VIÚVA FAZ CRÍTICA – Quem não gostou foi a viúva de Marielle, a vereadora Monica Benicio. Ela escreveu no X:
“Transformar os fatos deste caso num espetáculo já virou prática corriqueira de diversos veículos de imprensa, contra a qual tenho lutado duramente. O que me causou surpresa, realmente, foi ver um ministro de Estado agir do mesmo modo, em especial, com o fechamento vazio de seu pronunciamento, ao dizer ‘brevemente pensamos que teremos resultados concretos’. Queremos respostas concretas.”
E Monica Benicio continuou: “Nós, familiares de Marielle e Anderson, não aguentamos mais a falta de respostas sobre quem mandou matar Marielle e nem promessas vazias sobre especulações de prazos que não se sustentam, só servem para aumentar a nossa dor e a nossa ansiedade. Isso é desrespeitoso conosco, familiares e amigos que perdemos pessoas amadas e vivemos com a ausência de justiça.”
MINISTRO MIDIÁTICO – A espetacularização do caso Marielle Franco por Ricardo Lewandowski já seria vexatória se ele fosse o melhor ministro da Justiça da história deste país. Como ele está longe de ser, o aproveitamento midiático fica mais evidente.
Um aspecto que chama a atenção na França, onde morei, é a circunspecção com a qual as autoridades tratam de crimes. Quem faz declaração pública é o procurador, em falas bem encadeadas e claras, nas quais se divulga tudo aquilo que se sabe até o momento, desde que não prejudique a investigação. É um ritual narrativo que leva em conta a transparência do processo investigativo, a prestação de contas à sociedade e o respeito às vítimas e aos seus próximos.
Tudo muito diferente da esculhambação brasileira, com todo mundo gritando, vazando e fazendo pronunciamentos que saem do nada para lugar nenhum, como bem apontou a vereadora Monica Benicio. Quem mandou matar Marielle? Onde estão Querubim e Tatu?