Lula jogou pela janela sua chance de liderar a luta contra barbárie política

Lula afirma que perdão a golpistas soaria como impunidade | Agência Brasil

Vaidoso, Lula alega ser um grande exemplo de democracia

José Casado
Veja

Dois janeiros separados por imagens diferentes. Ano passado, depois dos ataques às sede das instituições, a cúpula dos Três Poderes e 27 governadores uniram-se em manifestações públicas de louvor ao regime democrático.

Nesta segunda-feira, no primeiro aniversário da barbárie do 8/1, a cena foi bem diferente, marcada pela ausência deliberada de 14 governadores, da cúpula da Câmara e o protesto de dezena e meia de senadores.

FORA DA ORDEM – Não há razão para se acreditar que tantos políticos tenham atravessado as últimas 53 semanas em profunda reflexão coletiva sobre virtudes e defeitos da democracia e, agora, concluíram que é o pior de todos os regimes de governo.

Por isso, é evidente que alguma coisa ficou fora da ordem no evento montado pelo governo para a celebração democrática em em Brasília com “um eloquente NÃO ao fascismo” — expressão destacada por Lula em discurso.

O que deu errado? Entre os ausentes, a resposta mais frequente foi o uso político da solenidade no plenário da Câmara. Entre os presentes, a explicação mais constante foi “a polarização” em ano de eleições municipais.

DEMOCRACIA ABALADA – Os dois lados têm razão. E , nesse caso, significa uma sinalização ruim: a democracia segue “inabalada”, mas sem consenso mínimo sobre como poderá prover as necessidades básicas de duas centenas de milhões de pessoas, por exemplo, em renda, educação, segurança, saúde e previdência.

Lula escolheu fazer um discurso raso, metade impregnado pela fórmula sectária do “nós contra eles” e outra metade recheada de autorreferências.

Ofereceu-se à Justiça Eleitoral como garoto-propaganda: “Quando alguém colocar dúvidas sobre a democracia no Brasil, seria importante que vocês não tivessem receio de utilizar a minha história e a história do meu partido como garantia da existência inabalável da democracia nesse país.”

BOLSONARO E FILHOS – Dedicou-se ao adversário, sem nomeá-lo, que derrotou nas urnas do ano passado e que está inelegível, por condenação judicial, pelos próximos sete anos: “As pessoas que duvidam das eleições e da legalidade da urna brasileira, porque perderam as eleições, por que que não pede para o seu partido renunciar todos os deputados e senadores que foram eleitos? Os três filhos dele que foram eleitos? Por que que não renunciam em protesto à urna fraudulenta?”

Lula acabou reduzindo a celebração da democracia a uma briga de palanque. A fórmula tem se mostrado funcional para ele e Jair Bolsonaro manterem inflamados corações e mentes das respectivas torcidas. E só.

No domingo 8 de janeiro do ano passado, quando aliados de Bolsonaro começaram a invasão das sedes do governo, do Congresso e do Judiciário, o juiz Gilmar Mendes estava em Lisboa. Almoçava com Nuno Piçarra, juiz da Corte Europeia, sediada em Luxemburgo, e conversavam sobre o final pacífico da transição de governo no Brasil, com a posse de Lula uma semana antes. Surpreso com o noticiário sobre a devastação em Brasília, voltou ao Brasil e foi ao STF depredrado.

DUAS PERGUNTAS – “Diante do estrago, fiz duas perguntas” — contou Gilmar Mendes ao repórter João Almeida Moreira, do Diário de Notícias, de Portugal: ‘O que fizemos de errado para chegarmos aqui, dado o ódio, refletido nos danos, muito maior sobre o tribunal do que sobre o Congresso e o Planalto? E o que devemos fazer para evitar que se repita?’, e neste ponto entra um dever de todos que têm responsabilidade na vida pública, de tentarmos pensar em formas de fortalecermos a democracia.

Pode-se dizer que Lula jogou pela janela a chance de assumir a liderança de iniciativas para evitar que a barbárie política se repita.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quanto ao fato de Lula citar a história de sua vida como consagração da democracia, seria melhor não tocar no assunto, porque teremos de falar no “Barba”, no “Mensalão”, no “Petrolão” e na existência oficial da segunda-dama Rosemary Noronha, que são quatro episódios picantes de nossa evolução democrática. (C.N.)

“Kids Pretos”, militares do Exército, são suspeitos de liderar os atos de vandalismo

Entidades de jornalismo e comunicação repudiam atos de vandalismo em Brasília - Portal da Comunicação

Os “Kids Pretos” incitaram e lideraram o vandalismo

Felipe Sena
Agência Estado

Há no Exército uma divisão altamente treinada em operações de sabotagem, evasões e operações de inteligência. O Comando de Operações Especiais (Copesp), chamado por militares somente de Forças Especiais e também conhecidos como “Kids Pretos” está, agora, no centro das investigações da Polícia Federal (PF) sobre os atos golpistas de 8 de janeiro.

Na última sexta-feira (29), a PF instaurou a 18ª fase da Operação Lesa Pátria e cumpriu mandado de busca e apreensão contra o general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, que fez parte dos “Kids Pretos”, e é suspeito de envolvimento com os atos golpistas. Militares vasculharam o endereço do general da reserva. Além disso, a ordem expedida ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes permitiu o bloqueio de ativos e valores do investigado.

AMIGO DE PAZUELL0 – Ridauto foi diretor de Logística do Ministério da Saúde durante o governo Jair Bolsonaro, nomeado em janeiro de 2021 pelo atual deputado federal Eduardo Pazuello. Em meio à pandemia da Covid-19, o militar defendeu medidas como “intervenção federal” e de “Defesa ou de Sítio”.

O militar é investigado em uma das linhas da apuração da PF que visa a identificar suposta atuação de militares no início das invasões às sedes dos Três Poderes. Os investigadores suspeitam que ele pode ter sido um dos idealizadores da ofensiva antidemocrática.

Permanente, a Operação Lesa Pátria apura crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido. “Os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido”, diz comunicado divulgado pela PF.

PARTICIPAÇÃO MILITAR – De acordo com uma das linhas de investigação da PF, a ação dos participantes dos atos golpistas pode ter sido orientada por militares do ‘Kids Pretos’. No inquérito, vândalos relataram a presença de pessoas de rosto coberto com balaclava e luvas ajudando na invasão das sedes dos Três Poderes. Os supostos membros das Forças Especiais, segundo depoimentos, teriam aberto escotilhas no teto do Congresso, feito uma escada com o gradil e, aí, chamado os invasores para entrar na sede do legislativo federal.

Quem são os Kids Pretos? As Forças Especiais, também conhecidos como “Kids Pretos” são um grupo de elite das Forças Armadas do Brasil e integram O Comando de Operações Especiais (Copesp). Os membros são altamente treinados para operações de risco, fuga e incentivo à insurgência popular.

O grupo é treinado para o cumprimento de missões que podem envolver guerrilhas, sabotagens e fugas, atacando estruturas como torres de distribuição de eletricidade e aeroportos.

“DE QUALQUER MANEIRA” – Entre os lemas das Forças Especiais, está a frase “qualquer missão, em qualquer lugar, a qualquer hora, de qualquer maneira”.

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL) chegou a fazer a prova de ingresso para os Kids Pretos duas vezes quando era militar, porém, foi reprovado nas tentativas.

À frente do governo, no entanto, colocou várias pessoas que teriam feito parte da divisão. Entre elas, o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência da República durante todo o seu mandato.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Quem lê a Tribuna da Internet não se surpreende com esta notícia, enviada por José Guilherme Schossland, pois a atuação dos “Kid Pretos” vem sendo denunciada aqui na TI desde o início das investigações.

A informação de que dispomos é que eles  chegaram às vésperas do dia 8 de Janeiro, por via aérea, e se hospedaram em pequenos hotéis da capital. O que mais surpreende é que a Polícia Federal tenha demorado tanto para iniciar as investigações dos “Kids Pretos”. Alguns usavam máscaras contra gases e luvas especiais, para devolver as bombas de gás lacrimogêneo lançadas pela PM.  E todos tinham máscaras ninjas ou balaclavas para não serem reconhecidos. (C.N.)

Forças Armadas vivem sob espectro do golpe e não haverá punições a militares

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Lula jamas toca no assunto da  punição aos militares golpistas

Hélio Schwartsman
Folha

Se eu estivesse na pele do Lula também faria o possível para evitar problemas com os militares. A última coisa de que o governo precisa é uma quartelada ou uma crise institucional. Mas é importante ressaltar que a opção pela política de apaziguamento tem um preço, que não é baixo.

Neste primeiro aniversário da tentativa de golpe bolsonarista, os incorrigivelmente otimistas destacam que a intentona fracassou porque a cúpula das Forças Armadas se recusou a patrocinar a aventura. Verdade, mas, considerado o quadro geral, não vejo motivos para celebração.

PARTICIPAÇÃO ATIVA – Militares, incluindo alguns oficiais-generais, participaram ativamente das tramas democraticidas, se é que não constituíam a espinha dorsal do movimento. E, ao que tudo indica, serão poupados dos rigores da lei.

Se o ambiente nas casernas fosse verdadeiramente democrático, jamais teríamos chegado ao ponto a que chegamos. As tentativas do ex-presidente de cooptar militares para apoiá-lo teriam sido interrompidas “ab ovo”.

Vimos isso nos EUA, quando o general Mark Milley, então chefe do Estado-Maior das FFAA, deu uma patada atômica em Donald Trump quando este tentou envolver os militares em política doméstica.

PREÇO DA COMPLACÊNCIA – Brasileiros, pagamos hoje o preço por nossa complacência do passado, quando abrimos mão de responsabilizar os militares por crimes da ditadura. Ainda que se entenda que a Lei de Anistia tornou a responsabilização penal impossível, restariam a responsabilização política e uma necessária reforma institucional.

Para nos livrarmos de vez do espectro de golpes futuros, teríamos de criar uma sólida barreira legal à politização dos quartéis, rever os cursos de formação de oficiais, para ensinar aos jovens que o golpe de 1964 foi um golpe e não uma revolução heroica, e, principalmente, para reescrever o artigo 142 da Carta, para deixar insofismavelmente claro que militares não interferem na política.

Lula não fará nada disso.

“Explorar politicamente o fato deplorável é igualmente desonesto”, comenta Ciro Gomes

Ciro Gomes

Ciro Gomes critica o oportunismo político de Lula

Karina Ferreira
Estadão

O ex-candidato à Presidência da República pelo PDT, Ciro Gomes, publicou nesta segunda-feira, dia 8, uma nota em que diz que os atos golpistas de 8 de Janeiro estariam sendo explorados politicamente, em vez de serem “punidos exemplarmente”.

A nota, publicada em sua conta no X (antigo Twitter), começa falando que os atos merecem punição.

EXPLORAÇÃO POLÍTICA – “Os atos de vandalismo e de depredação do patrimônio público, ocorridos por insubmissão política aos resultados eleitorais, devem ser punidos exemplarmente, principalmente a partir dos grandes responsáveis pelo seu financiamento e motivação.”

A seguir, o pedetista cutuca, ao que parece, o governo federal e o Supremo Tribunal Federal (STF), afirmando que as punições não estão ocorrendo, mas sim, segundo ele, a exploração política do fato. “Explorar politicamente o fato deplorável é igualmente desonesto e é o que está acontecendo.”

A nota de Ciro ocorre no mesmo dia em do ato realizado pelos Três Poderes em memória dos ataques antidemocráticos ocorridos há um ano. Convocado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ato “Democracia Inabalada” ocorreu no Salão Negro da sede do Legislativo.

RESULTADOS – Até agora, o ministro do STF, Alexandre de Moraes, proferiu 6.204 decisões relacionadas aos ataques de 8 de Janeiro. Desse total, foram 255 medidas de busca e apreensão em 400 endereços e 350 medidas de quebras de sigilo bancário e telemático. As medidas resultaram em 800 diligências. Os resultados foram divulgados em um relatório neste domingo, 7, pelo STF.

Ao longo de 2023, foram recebidas 1.345 denúncias apresentadas pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Até o mês de dezembro de 2023, 38 acordos foram homologados com acusados pelos crimes menos graves (aqueles que estavam em frente aos quartéis). Nesses acordos, os réus admitiram os crimes e se comprometeram a pagar multas e a fazer curso sobre a democracia, por exemplo.

Contudo, como mostrado pelo Estadão, os atos golpistas completam um ano sem punição a mentores e financiadores.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula é um líder de currículo nebuloso, que enriqueceu na política e passou 580 dias na prisão. Tenta de todas as formas ocultar o passado, mas é tarefa praticamente impossível. Procura se projetar de qualquer maneira, no país e no exterior, mas acaba fazendo bobagens, como esse evento “Democracia Inabalada”.

O resultado foi péssimo, porque mostrou que só estão sendo punidos os manifestantes pés de chinelo, enquanto os responsáveis pelo golpe fracassado continuam absolutamente impunes, especialmente os militares que se envolveram na aventura.

Embora a imprensa amestrada elogie tudo que Lula faz, desta vez o petista está passando ridículo. Por fim, a ideia do evento não partiu dele, foi obra de dona Janja da Silva, que está ressignificando o papel de primeira-dama, função que já tinha sido inovada anteriormente por Rosemary Noronha. (C.N.)

Polarização, que é obra de lideranças, depende muito do futuro incerto de Bolsonaro

Nani Humor: POLARIZAÇÃO

Charge do Nani (nanihumor.com)

Maria Hermínia Tavares
Folha

A polarização política inquieta todos quantos aspiram a uma democracia sólida e estável para o país. A lembrança da invasão da praça do Três Poderes pelas hordas bolsonaristas, a completar um ano na segunda-feira que vem, serve de alerta para os riscos de novas sortidas da direita radical. Contorná-los requer clareza sobre os perigos da divisão dos brasileiros entre “nós” e “eles”.

Recomendo, por oportuno antes de tudo, o último episódio de 2023 do podcast “Fora da política não há salvação”, no qual o cientista político Claudio Couto (FGV-SP) entrevista seu colega Antonio Lavareda (Ipesp), reconhecido estudioso da opinião pública. Retomo aqui algo daquela proveitosa conversa.

NÃO É NOVIDADE – A polarização política não constitui propriamente uma novidade. Em certa medida, é induzida pela eleição em dois turnos para os cargos executivos. Além de reduzir a duas as opções dos eleitores na segunda volta, esse sistema pode induzi-los, já na primeira, a afunilar suas escolhas nos candidatos mais bem colocados.

Por outro lado, como mostraram os cientistas políticos Cesar Zucco e David Samuels, a oposição entre petismo e antipetismo vem estruturando a disputa presidencial há muito tempo. E, pelos menos desde 2006, agrupa os eleitores em dois campos nítidos e estáveis.

A novidade em 2018 foi a ascensão, no polo antipetista, de uma liderança facistoide que tomou o lugar até então ocupado pelo PSDB, sigla comprometida com a democracia. Essa revolução e tanto no condomínio das direitas ampliou a distância entre os dois polos e fez mais áspera a disputa entre eles.

INDÍCIOS CONTRADITÓRIOS – Ainda é cedo, porém, para dizer até que ponto a extrema direita bolsonarista está alojada nos corações dos eleitores e quão sólida é sua liderança no campo do antipetismo.

Recente pesquisa da Genial/Quaest traz indícios contraditórios sobre o grau de polarização na sociedade. De um lado, só 6 em cada 100 eleitores de Bolsonaro —sete entre os lulistas— se dizem arrependidos de seus votos. Além do mais, o que uns e outros fizeram diante das urnas se correlaciona com sua avaliação do novo governo.

De outro lado, 15% dos que sufragaram o ex-capitão erguem o polegar para o desempenho de seu adversário vitorioso; índice pouco menor acredita que o governo está no rumo certo e 25% daqueles se dizem otimistas quanto ao desempenho da economia em 2024. Muito cedo, portanto, para falar em identidades políticas calcificadas. De todo modo, sendo a polarização obra de lideranças, sua sobrevida e intensidade dependerão muito do incerto futuro de Bolsonaro e da disposição da direita de buscar rotas mais civilizadas.

Livro conta a história dos juros e alerta para o perigo de taxas baixas demais

Charge do Miguel Paiva (Arquivo Google)

Hélio Schwartsman
Folha

Lula está em boa companhia quando impreca contra os juros. Ele faz coro a Platão, Aristóteles, Agostinho, Aquino, Dante, Lutero, Shakespeare e, é claro, Marx e Keynes. Cobrar para emprestar dinheiro é prática milenar. Mesopotâmicos já o faziam antes mesmo de aprender a pôr rodas em carroças, como ensina Edward Chancellor em “The Price of Time”.

A antiguidade da prática não impediu que várias culturas desenvolvessem ojeriza visceral aos juros, descritos ora como imoralidade, ora como empecilho ao desenvolvimento e frequentemente como ambos.

TAXAS BAIXAS – Não é difícil ver os problemas que altas taxas de juros causam numa economia. Até o PT os enxerga. Chancellor, porém, além de contar uma história razoavelmente detalhada dos juros, também mostra que taxas muito baixas por períodos prolongados geram malefícios ainda piores.

Juros são, como diz o título da obra, o preço do tempo, a diferença entre o presente e o futuro. Se a taxa é muito baixa, o futuro invade o presente. Firmas vistas como promissoras, mesmo que não tenham ainda gerado um dólar de lucro, recebem avaliações bilionárias.

Até projetos absurdos, como reavivar o mar Morto, encontram interessados. Surgem assim bolhas que inevitavelmente explodirão: a companhia do Mississippi, de John Law, as tulipas, 1929, os subprimes. A lista é longa.

OUTRAS INTERPRETAÇÕES – E bolhas não são o único problema. Segundo o autor, taxas muito baixas também levam à má alocação do capital, o que reduz a eficiência da economia, à zumbificação de empresas, ao superendividamento, ao aumento da desigualdade e até à erosão da democracia. É claro que economistas filiados a outras escolas têm outras interpretações.

Nos capítulos iniciais, Chancellor é bem descritivo. À medida, porém, que o livro avança, vai assumindo um tom mais militante.

O penúltimo capítulo é um ataque à China, e o último, uma ode neoliberal a Hayek. Mas isso não torna a obra menos interessante.

Inquérito eterno no STF contra ‘atos antidemocráticos’ é declaração de guerra

CHARGE DESTA SEGUNDA-FEIRA, DIA 27 DE FEVEREIRO DE 2023. - Cariri é Isso

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

J.R. Guzzo
Estadão

O Brasil não vai ter paz enquanto não for fechado o inquérito que o Supremo Tribunal Federal, através do ministro Alexandre de Moraes, abriu cinco anos atrás para investigar “atos antidemocráticos”. Desde então, vem servindo como uma licença oficial para se suprimir direitos civis, anular qualquer lei em vigor no Brasil e criar um Estado policial neste país.

O inquérito é uma declaração permanente de guerra. Foi aberto para apurar “notícias falsas” que poderiam atingir a honra e a segurança do STF. De lá para cá, como se diz hoje, “viralizou”. Foi gerando um inquérito criminal depois do outro (tantos, que não se sabe mais ao certo quantos são no momento) e passou a incluir todos os delitos que alguém possa praticar, inclusive os que não existem em lei nenhuma. É uma aberração jurídica que não existe, nem seria admitida em qualquer democracia séria do mundo.

GUERRA, SEMPRE – É possível, naturalmente, que a ideia de paz seja a última coisa que passe na cabeça do ministro, do STF e da parceria que mantêm com o governo Lula.

(Em cinco anos de inquérito não houve um único indiciado, nenhum, que possa ser descrito como de “esquerda” – o que faz do Brasil o único país do planeta em que só a direita é capaz de mentir.)

Os inquéritos, afinal, permitem que o Supremo e seus sócios façam o que bem entendem: prisões, censura, bloqueio de contas bancárias, apreensão de passaportes, quebra de sigilo, confisco de celulares e tudo o que possa servir como instrumento de repressão. É como nas leis de “segurança do Estado” que existem em todas as ditaduras para perseguir adversários políticos. O inquérito perpétuo do STF (“só termina quando terminar”, diz Moraes”) faz a mesma função, dizendo que defende a “segurança da democracia”.

APOSTAR NA FORÇA – Tudo bem – mas se não quiserem a paz, terão de apostar cada vez mais na força e desrespeitar a cada vez mais a lei. Não há, obviamente, nenhuma ameaça à democracia que justifique nada do que o ministro está fazendo.

Essa realidade, somada às ilegalidades em massa dos inquéritos, levam à uma “cristalina e pacífica conclusão”, como diz em editorial do Estadão: “É tempo de os inquéritos criminais do STF relativos a atos antidemocráticos serem encerrados, de acordo com a lei”.

Não é possível, com base na razão, contestar o que diz o editorial. Em vez de apresentar argumentos, o sistema de propaganda oficial veio com essa assombrosa entrevista na qual o ministro Moraes revelou, entre outros horrores, que iria ser enforcado em praça pública pelos golpistas. É menos jornalismo do que um exercício de taquigrafia em que só o ministro fala. Mas é mais um grito de guerra.

Moraes revela que 8/1 pode ter sido liderado por “militares infiltrados”

8 de janeiro de 2023: veja 15 fotos dos atos extremistas

Bolsonaristas foram liderados pelos “homens de preto”

Fabio Victor
Folha

Relator no STF (Supremo Tribunal Federal) dos inquéritos sobre o 8 de janeiro, Alexandre de Moraes afirma ter indícios de que os ataques podem ter sido coordenados, com orientação de militares treinados por Forças Especiais, unidades de elite existentes tanto no Exército quanto em polícias militares.

“Houve uma falha dos órgãos de inteligência, não sabíamos exatamente quais as ramificações… Sabíamos que havia gente treinada invadindo, tanto que a Polícia Federal continua investigando em torno de 200 pessoas de preto, procedimento de Forças Especiais mesmo, pessoas treinadas”, disse o ministro à Folha.

INCITAMENTO – “E sabíamos que havia, o que se comprovou depois, um incitamento a um golpe militar”, complementou o ministro, “à quebra do regime democrático, porque nos quartéis o que se discursava, inclusive no próprio dia 8, no dia 7, é que deveriam ocupar os palácios, o Congresso Nacional, o Supremo, para forçar uma [operação de] GLO [Garantia da Lei e da Ordem], para que o Exército fosse às ruas, e aí essas pessoas convencessem o Exército a dar um golpe militar”.

O ministro Gilmar Mendes, com Moraes o mais influente do Supremo na atualidade, menciona outra eventual participação de autoridades militares no incentivo aos ataques, como o general Braga Netto –que, na condição de ministro da Defesa de Jair Bolsonaro (PL), disse a manifestantes para terem fé quando a eleição já havia sido definida.

Os dois concordam que houve conivência e incentivo de integrantes das Forças Armadas em relação aos acampamentos em frente a quartéis.

MILITARES NO ACAMPAMENTO – “Diz-se que a desmobilização dos acampamentos não foi feita de imediato porque havia ali muitos militares. A prisão no dia 8 também não ocorreu para não surpreender militares – é o que se diz. Então são fatos que certamente vão surgir de maneira muito clara nas investigações”, afirmou Gilmar à Folha.

“E isso traz responsabilidade para todos os que admitiram. Eu suponho que isso foi admitido a partir de indução ou de autorização do próprio presidente da República [Bolsonaro].”

Gilmar definiu como “um entendimento um tanto quanto exótico” a ideia, defendida numa nota de comandantes das Forças Armadas em novembro de 2022, de que os acampamentos estavam assegurados pela liberdade de expressão prevista na Constituição –sem mencionar que ali se fazia pedia golpe de estado e não se reconhecia o resultado das eleições.

NA ALEMANHA, NÃO – O ministro citou um caso em que a Corte Constitucional Alemã proibiu que manifestantes protestassem em frente a quartéis para impedir proliferação de mísseis.

“Aí a Corte Constitucional disse que não era ali o lugar de liberdade de reunião e manifestação. Eu entendo que também [quarteis] aqui não são esse espaço. Basta que a gente faça um exercício de contraprova. Imaginemos que o MST decidisse fazer um assentamento na frente dos quartéis. Qual seria a reação?”

Para Moraes, a manutenção de acampamentos diante de quartéis no Brasil “foi um erro muito grande”. Ele lembra que disse isso a autoridades do governo Bolsonaro, à Polícia Federal e à Procuradoria-Geral da República. “Não há direito à reunião, não existe liberdade de expressão em você acampar na frente de um quartel pedindo para as Forças Armadas derrubarem o regime democrático”, disse.

TODOS SABIAM – Depois de mais de 1.200 denúncias contra incitadores do 8 de janeiro acampados em frente ao QG do Exército em Brasília, frisa Moraes, “daqui para frente ninguém mais vai poder dizer que não sabia”.

Ambos consideram que foi acertada a decisão do governo Lula de não decretar uma operação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem), optando, em vez disso, por uma intervenção federal na segurança pública do Distrito Federal – reflexo de um receio de dar o controle do caos aos militares. Ao mesmo tempo, Gilmar e Moraes exaltam as Forças Armadas por não aderirem à tentativa de golpe.

“Porque já havia esses rumores de se provocar uma GLO para tentar convencer as Forças Armadas, em especial o Exército, a aderirem a um golpe”, afirmou Moraes. “Mas o Exército e as Forças Armadas, enquanto instituições, jamais aderiram a esse golpe. Permaneceram na estrita legalidade, em que pese alguns de seus agentes terem praticado atos ilícitos, e estão sendo investigados por isso.”

SEM HAVER GLO – Moraes disse que foi consultado por Lula, pelo ministro da Justiça, Flávio Dino, e o advogado-geral da União, Jorge Messias, a respeito da decisão. “Recordei que, no governo do presidente Michel Temer, havia ocorrido uma intervenção numa área específica, só na segurança [do Rio]. Então que isso era possível.”

Segundo Gilmar, “é certo que os militares que estavam nos comandos não compactuaram com aquele tipo de prática”. “Agora também é justo dizer que, sem a participação desses comandos, todo esse caldo de cultura não teria ocorrido –os manifestantes que se instalaram em quartéis, por exemplo. Esses eventos só ocorreram por algum tipo de complacência advinda das autoridades militares.”

Moraes discorda da tese do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, para quem as Forças Armadas livraram o Brasil de um golpe no 8 de janeiro. “Eu diria que quem salvou a democracia de um eventual golpe foram as instituições. Não é correto dizer que foi A, B ou C. Foram as instituições, e eu tenho muito orgulho em dizer isso, principalmente o Supremo Tribunal Federal, o Tribunal Superior Eleitoral, principalmente o Poder Judiciário.”

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes enfim admitiu a veracidade das denúncias da Tribuna da Internet, sobre a infiltração de terroristas de verdade, militares das Forças Especiais, que lideraram o vandalismo, enfrentaram a PM e até devolviam as bombas de gás lacrimogêneo, porque usavam luvas especiais, máscaras contra gases e toucas ninja. Até agora não descobriram os nomes deles nos registros dos hotéis e das companhias aéreas, pois eles chegaram a Brasil de avião, às vésperas da bagunça na Praça dos Três Poderes. Eram terroristas de verdade, mas o Supremo preferiu punir os pés-de-chinelo. Esta é a verdade dos fatos, somente agora revelada. (C.N.)

A ciência evoluiu a humanidade, mas você se reconhece nessa crença positivista?

Ciência comprova os benefícios da Fé para o corpo, mente e coração -  Economia - Estado de Minas

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

Luiz Felipe Pondé
Folha

A ideia de que evoluímos para melhor está na praça. Até bebês nascem pensando assim. Às vezes, quando se nega tal crença, parece um arroto à mesa. Ao contrário do que muitos pensam, essa ideia nada tem a ver com as religiões na sua raiz. O cristianismo, sim, acabou carregando nesses tons, mas, na sua origem, ele era muito mais escatológico: o melhor será a vida após a morte e após o fim do mundo tal como o conhecemos. Chegaríamos ao tal “reino de Deus”.

Com o avançar da história europeia, seu secularismo burguês, iluminismo, cientificismo, movimentos políticos revolucionários, o cristianismo atravessou uma mutação radical inclusive porque o mundo não acabou e Jesus não voltou — no sentido de reinventar-se enquanto uma prática antes de tudo moral, política e de ação histórica. Ficasse ele no momento antigo, com suas expectativas de fim de mundo —alguns loucos ainda estão lá—, teria, provavelmente, desaparecido e permanecido uma seita judaica irrelevante.

LEMBRANDO COMTE – Mas, para compreendemos essa equação que chega até nós, ou seja, uma época, como a nossa, obcecada pela ideia de que evoluímos moralmente e politicamente — tecnicamente não há dúvida —, precisamos trazer à memória uma escola filosófica e seu fundador, que hoje é esquecido, Auguste Comte.

 A igreja positivista — motivo supremo de chacotas com Comte — seria uma religião em que o objeto de culto é a humanidade e sua evolução racional e técnica. Comte se via como o papa dessa futura igreja, o que o põe sob uma certa suspeita de dano mental. Mas esqueçamos esse detalhe e observemos como ele acertou na crença que viria a ser a moderna por excelência.

Para Comte, a humanidade passara por uma fase religiosa ou mitológica em que buscava responder às perguntas essenciais, tipo “de onde viemos?”, “quem criou isso tudo?”, “o que é o bem e o mal?” e semelhantes, com respostas míticas fantásticas. Basicamente, Deus, ou deuses, ou deusas, seriam as causas e saberiam as respostas.

ERA DA METAFÍSICA – Numa segunda era, a metafísica, a humanidade respondia a essas mesmas perguntas com ginásticas racionais que caminhavam por substâncias abstratas, tipo “o bem”, “o mal”, “a causa primeira”, “o ser”, enfim, delírios com roupagem racional. Melhor a simples religião, suspeitava Comte.

E a terceira era a positivista, inaugurada com a ciência, que abandonaria “os quês”, “os porquês” e no lugar dessas perguntas absolutas poria os “comos”. Isto é, em lugar da teologia e da metafísica, a ciência e a engenharia nos ensinariam como melhorar o mundo, a vida, a sociedade, a natureza. Você não se reconhece nessa crença?

A própria noção de que perguntar como resolver um problema concreto é muito mais eficaz do que se perguntar de onde viemos é a nossa cara. Os “comos” é que importam e que nos fazem evoluir.

EXEMPLO DA PSICOLOGIA – A sociedade moderna respira positivismo, mesmo quando se pensa romântica. A psicologia, filha do romantismo, é a prova cabal desse fato: conhecer a alma, para libertá-la da ignorância sobre si mesma que a torna escrava da escuridão dos sintomas. Difícil achar um profissional de saúde mental que não se veja como alguém que trabalha para a evolução dos nossos modos de viver e construir a sociedade.

A psicologia positiva é apenas o rebento mais evidente da família do positivismo psicológico, até pelo nome que adota, e pelo método supostamente empírico em busca “do que dá certo” na experiência.

A chave do gozo positivista não está tanto, ou somente, na ideia da ciência e da engenharia como superiores à teologia ou à metafísica, está no culto à humanidade enquanto tal. Pensar a humanidade como um ser em movimento, em direção ao aperfeiçoamento pelas nossas próprias mãos, é a maior forma de masturbação metafísica já criada pela própria humanidade.

Sem exibir provas, Moraes pretende que todos acreditem no “plano” para matá-lo

Gilmar Fraga / Agencia RBS

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Deu na Gazeta do Povo

Que ministros do Supremo Tribunal Federal se manifestem constantemente fora dos autos, em palestras, entrevistas e diversas outras ocasiões, é algo que já não espanta ninguém no Brasil de hoje, mesmo que essa loquacidade bata de frente com todas as regras que regem a magistratura. Que falem inclusive sobre processos que estão julgando ou assuntos que possam vir a julgar também não surpreende.

Então, foi com total naturalidade, sintomática da anestesia institucional que vivemos, que o país tomou conhecimento da entrevista que o ministro Alexandre de Moraes concedeu ao jornal O Globo sobre os acontecimentos do 8 de janeiro de 2023 – os mesmos cujos participantes cabe a ele julgar, no papel especial de relator dos processos.

TRÊS PLANOS SINISTROS – O que ganhou as manchetes foi o teor de uma das afirmações do ministro. Segundo Moraes, havia não apenas um, mas três planos para livrar-se dele naquele domingo, envolvendo inclusive a participação das Forças Armadas.

“O primeiro previa que as Forças Especiais (do Exército) me prenderiam em um domingo e me levariam para Goiânia. No segundo, se livrariam do corpo no meio do caminho para Goiânia. Aí, não seria propriamente uma prisão, mas um homicídio. E o terceiro, de uns mais exaltados, defendia que, após o golpe, eu deveria ser preso e enforcado na Praça dos Três Poderes”, afirmou o ministro do STF ao jornal carioca.

Moraes ainda acrescentou que está sendo investigada a participação da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no planejamento da suposta prisão – haja inteligência por parte dos supostos planejadores, aliás, já que em 8 de janeiro o ministro nem estava no Brasil, pois havia viajado a Paris com a família.

CONVERSA FIADA – Até o momento, não há um único elemento em toda essa história indicando que ela possa ser levada a sério

As provas dos planos? Moraes não apresentou nenhuma evidência, como era de se esperar. Seria mesmo algo elaborado, com funções definidas e estratégias para sua execução? Ou estamos falando apenas de algum manifestante tresloucado que lançou ideias incendiárias em um ou outro grupo de WhatsApp? Não sabemos.

A rigor, não sabemos nem mesmo se chegou a haver a intenção de atentar contra a integridade física do ministro, muito menos da forma por ele descrita. Moraes espera que o país simplesmente acredite em suas palavras a respeito de uma história tão mirabolante sem nenhum tipo de questionamento, e quem levantar dúvidas sobre suas palavras ou perguntar demais ainda pode acabar sendo considerado “inimigo da democracia”…

PERGUNTA-SE – Por que nada disso foi mencionado nos vários votos pela condenação dos réus do 8 de janeiro já proferidos? Se as ameaças eram tão graves, por que o ministro não reforçou sua segurança?

A pretensão de que o Brasil aceite as denúncias de Moraes sem comprovação nenhuma é ainda mais incrível tendo em mente um episódio recente, ocorrido meses atrás no aeroporto internacional de Roma.

O que começou com uma história de “hostilização” e “agressão”, com direito a uma absurda busca e apreensão na casa dos supostos agressores, terminou como algo que nem a Polícia Federal foi capaz de descrever com clareza, já que seu relatório só consegue fazer prosperar a versão de Moraes à custa de muitas ilações e suposições.

FORA DOS AUTOS – Não é só a falta de evidências do suposto plano que nos permite o direito de não acreditar cegamente no ministro; o histórico de Moraes a esse respeito não o ajuda em nada.

O que temos, portanto, é um magistrado falando fora dos autos, sobre um processo que ele mesmo está julgando, relativo a acontecimentos nos quais, segundo seu próprio relato (carente de comprovação), ele seria vítima de uma forma bastante especial, o que o tornaria impedido de julgar em qualquer país que levasse a sério as regras de processo penal, como bem lembrou o ex-deputado federal Deltan Dallagnol.

Até o momento, não há um único elemento em toda essa história indicando que ela possa ser levada a sério. E o fato de tudo estar tão errado assim e ao mesmo tempo tão normalizado assim apenas nos mostra como o Supremo – e Moraes em específico – conseguiu se impor como superpoder capaz de ignorar impunemente a Constituição, as leis, o decoro que deveria pautar a ação dos magistrados, fazendo das próprias palavras o único critério para definir o legal, o justo e o verdadeiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Importante o editorial da Gazeta do Povo, enviado por Mário Assis Causanilhas. Sem a menor dúvida, Moraes precisa ser afastado do processo. Não tem equilíbrio para conduzi-lo, na tripla condição de vítima, promotor e juiz. (C.N.)

Militares temem que ato do 8/1 afete a relação com Planalto e reacenda crise

Charge Jota Camelo (site Viomundo)

Catia Seabra e Cézar Feitoza
Folha

A convocação pelo presidente Lula (PT) de um ato em memória aos ataques do 8 de janeiro virou motivo de apreensão no meio militar. Oficiais ouvidos pela Folha reservadamente afirmaram estar preocupados de que o evento reacenda críticas à vinculação de militares com o governo Jair Bolsonaro (PL) e à postura permissiva dos ex-comandantes com os acampamentos golpistas que se formaram em frente a quartéis, após a vitória eleitoral do petista no final de 2022.

Receosos com a repercussão do aniversário do 8 de janeiro na caserna, os atuais comandantes das Forças Armadas chegaram a questionar o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, sobre a necessidade de participar da cerimônia no Senado Federal, nesta segunda-feira (8).

É ATO POLÍTICO – São esperados cerca de 500 convidados, entre ministros de Estado, governadores, parlamentares, lideranças da sociedade civil e integrantes da cúpula do Judiciário, entre outros.

Os comandantes argumentaram que o ato terá caráter político e que, por isso, eles deveriam ser dispensados de participar e Múcio teria de representá-los.

O tema foi tratado durante um almoço entre os comandantes da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, do Exército, general Tomás Miguel Ribeiro Paiva, e da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno, e o próprio Múcio. As objeções já tinham sido discutidas entre os chefes militares em conversas informais que antecederam a reunião com o ministro.

CONVITE DE LULA – De acordo com pessoas com conhecimento do assunto, Múcio ressaltou a importância da participação dos comandantes por se tratar de um convite de Lula, formulado em conjunto com os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso.

Além dos chefes das Forças, o secretário-geral do Ministério da Defesa, Luiz Henrique Pochyly da Costa, e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Renato de Aguiar Freire, deverão comparecer à cerimônia no Congresso Nacional.

A superação desse impasse não afasta o temor de que o ato, batizado de Democracia Inabalada, acabe por reabrir feridas entre militares e governo e reacenda o clima de tensão de um ano atrás.

DESCONFIANÇAS – A relação entre Lula e as Forças Armadas foi marcada por desconfianças desde a transição, mas houve um gradual distensionamento nos últimos meses. O pano de fundo da desconfiança sempre foi a avaliação, entre conselheiros de Lula, de que oficiais de alta patente estavam comprometidos com o projeto político de Bolsonaro — capitão reformado do Exército.

O próprio Lula já sinalizou que viu participação de fardados no 8 de janeiro. Poucos dias depois das cenas de vandalismo em Brasília, ele declarou em entrevista à GloboNews que os ataques eram um “começo de golpe de Estado” e que integrantes das Forças Armadas que quiserem fazer política têm de tirar a farda e renunciar do seu cargo.

“Enquanto estiver servindo às Forças Armadas, à Advocacia-Geral da União, no Ministério Público, essa gente não pode fazer política. Tem que cumprir com a sua função constitucional, pura e simplesmente”, declarou na ocasião.

SEM ANISTIA – Integrantes das Forças Armadas relatam estar preocupados com o ressurgimento de movimentos como o Sem Anistia, marcado pela cobrança de punição aos participantes dos ataques de 8 de janeiro, entre eles os fardados.

Há ainda o receio sobre uma possível reação de militares da reserva, sempre mais ruidosos do que os da ativa. Outro foco de apreensão é que o ato político volte a impulsar dentro do PT propostas no Congresso para tentar extirpar atribuições dos militares e alterar o artigo 142 da Constituição.

Enquanto as investigações relacionadas aos ataques golpistas miram os vândalos presos nos prédios públicos, os incitadores em frente ao quartel-general do Exército e os financiadores, até o momento altos oficiais das Forças Armadas estão livres de responsabilização —apesar de vozes influentes do Executivo e do Judiciário considerarem que eles foram, no mínimo, omissos.

PUNIÇÕES SIMBÓLICAS – Na sexta (5), o Exército disse em nota que houve punições a dois militares no âmbito do 8 de janeiro, mas não detalhou quais condutas causaram a punição disciplinar e quais foram as penalidades.

A Força também disse que abriu quatro processos administrativos (sindicâncias) para apurar eventuais irregularidades nas condutas de militares, mas que não encontrou indícios de crimes.

O Exército também abriu quatro inquéritos policiais militares, que foram concluídos e encaminhados à Justiça Militar. Em um dos casos, o coronel da reserva Adriano Camargo Testoni foi condenado por postagens ofensivas a seus superiores hierárquicos em grupos de conversas no 8 de janeiro. A pena imposta a ele foi de um mês e 18 dias de detenção, em regime aberto.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É um país de duas caras, como o inimigo do Batman. Se o coronel Testoni fosse civil, teria sido condenado a 21 anos de cadeia, porque fez selfie na invasão. Sem selfie, a pena cairia para 17 anos, tipo Piada do Ano. (C.N.)

A mando de Lula, Gleisi e PT “escondem” Haddad quando citam êxitos na economia

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Hugo Marques
Veja

O PT sempre criticou os ministros da Fazenda dos governos Lula e Dilma que não defendiam as ideias retrógradas do partido. Foi assim em 2003, quando o partido colocou sua militância para fazer crítica às propostas de política econômica e reformas estruturais de Antonio Palocci.

Foi assim em 2014, quando o partido concentrou sua artilharia no então ministro Joaquim Levy, que insistia em um plano de austeridade fiscal para reequilibrar as contas públicas. E é assim agora com Fernando Haddad, um dos poucos auxiliares do presidente que tem um cardápio de realizações a apresentar neste primeiro ano de governo.

OBRAS DE GLEISI – Quem, aliás, tiver a curiosidade de acessar as redes sociais do PT é induzido a  pensar que as conquistas neste primeiro ano de governo foram obra da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do partido. Ela aparece comemorando os resultados econômicos e enaltecendo a reforma tributária, mas sem citar o nome de Fernando Haddad ou de sua equipe.

Em um ‘post’, o PT celebra “um ano de reconstrução” e a “volta dos investimentos”, e escolhe como porta-voz dessas boas notícias a prefeita de Juiz de Fora (MG), Margarida Salomão, que atribui o crescimento acima da média mundial e a geração de empregos no Brasil ao Novo PAC.

A ordem do partido é alfinetar o ministro da Fazenda. Ao mesmo tempo em que comemora as vitórias de Haddad sem citar o nome dele e enaltece personagens menores do partido, o PT não desiste de alfinetar o ministro da Fazenda.

“AUSTERICÍDIO” – Desde a última sexta-feira, a legenda passou a destacar em sua página na internet a Resolução do Diretório Nacional criticando o que chama de “austericídio fiscal” da equipe de Haddad.

A resolução foi criticada pelo ministro em entrevista ao jornal O Globo: “Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’; E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver”, afirmou Haddad, que é apontado como o provável candidato à sucessão de Lula na presidência da República.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Apenas um reparo. Também pensei que a Resolução fosse do Diretório Nacional, mas o caso é pior ainda. A Resolução foi lida perante o Diretório (mais de 1.000 integrantes) por Gleisi Hoffmann, como se fosse decisão do partido. Na verdade, é apenas uma proposta da ala “Construindo um Novo Brasil”, comandada por Lula e Gleisi, que é majoritária no partido. É através desta ala que Lula dá as ordens à peãozada petista e solta seus cachorros contra Haddad, que está um pote até aqui de mágoa. (C.N.)   

Uma ausência desconhecida e tão feliz, na poesia romântica de Cecília Meireles

Não seja o de hoje. Não suspires por... Cecília Meireles - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Irrealidade”, sente que não existe passado nem futuro, pois tudo que ela compreende está no presente.

IRREALIDADE
Cecília Meireles

Como num sonho
aqui me vedes:
água escorrendo
por estas redes
de noite e dia.
A minha fala
parece mesmo
vir do meu lábio
e anda na sala
suspensa em asas
de alegoria.

Sou tão visível
que não se estranha
o meu sorriso.
E com tamanha
clareza pensa
que não preciso
dizer que vive
minha presença.

E estou de longe,
compadecida.
Minha vigília
é anfiteatro
que toda a vida
cerca, de frente.
Não há passado
nem há futuro.
Tudo que abarco
se faz presente.

Se me perguntam
pessoas, datas,
pequenas coisas
gratas e ingrata,
cifras e marcos
de quando e de onde,
– a minha fala
tão bem responde
que todos crêem
que estou na sala.

E ao meu sorriso
vós me sorris…
Correspondência
do paraíso
da nossa ausência
desconhecida
e tão feliz.

Um ano após 8/1, GSI não quer revelar quantos servidores investigou ou puniu

Conduta de Dias no 8 de Janeiro está sendo apurada, diz GSI

General G.Dias, o andarilho do Planalto, não foi punido

Eduardo Barretto
Metrópoles

Um ano depois do 8 de janeiro, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não informa quantos servidores foram investigados ou punidos pela omissão quando o Palácio do Planalto foi facilmente invadido por bolsonaristas. A coluna mostrou que integrantes do GSI tentaram deixar os golpistas que saquearam o palácio fugirem pelo térreo do prédio, em vez de expulsá-los.

A coluna questionou ao GSI quantos funcionários foram investigados internamente por causa da atuação no 8 de janeiro, quantos foram punidos, quais foram as punições, e quantos processos ainda tramitam. O ministério da Presidência não respondeu às perguntas. Sem detalhar, disse apenas que “a sindicância” foi concluída e enviada ao STF em junho.

ATUAÇÃO IRREGULAR – Diversos elementos apontam para a atuação irregular do GSI no 8 de janeiro. A coluna mostrou que militares do GSI queriam deixar os golpistas que saquearam o Planalto saírem pelo térreo do prédio.

Os radicais só foram presos por ordem da Polícia Militar, que chegou a ser confrontada por um coronel do Exército. Um assessor que presenciou a invasão ao palácio afirmou, em entrevista, que os militares do GSI não reprimiram os terroristas. O relato é corroborado por vídeos do 8 de janeiro.

Mesmo após os atos golpistas, o GSI adotou uma postura dúbia em relação às providências que tomou para punir eventuais culpados. Em fevereiro do ano passado, a pasta afirmou, por meio da Lei de Acesso à Informação, que o caso era sigiloso. Em seguida, informou não ter aberto qualquer apuração contra seus servidores.

DUAS INVESTIGAÇÕES – Poucos dias depois, contudo, a versão mudou: o ministério disse ter aberto duas investigações internas sobre o 8 de janeiro: uma em 16 de janeiro, para apurar danos materiais sofridos pelo GSI na invasão; e outra em 26 de janeiro, com vistas a apurar a atuação de funcionários do ministério, sem mencionar quantos servidores.

O ministro do GSI durante o 8 de janeiro, general Gonçalves Dias, foi flagrado caminhando entre os golpistas no Palácio do Planalto durante a invasão. Antes disso, o GSI havia se recusado a divulgar as filmagens do Planalto naquele dia diversas vezes: um pedido da Câmara, um pedido da CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal, e solicitações por meio da Lei de Acesso à Informação.

Ex-chefe da segurança de Lula em mandatos anteriores, GDias foi alvo de duas CPIs: uma do Congresso e outra da Câmara Legislativa do DF. Os dois colegiados isentaram G. Dias. A CPMI do Congresso acatou a tese do general e concluiu que, de 1º a 8 de janeiro, ele só havia conseguido trocar 5% dos seus subordinados herdados do governo Bolsonaro.

Deterioração do discurso democrata aumenta as chances de Trump vencer

A encruzilhada de Joe Biden - Outras Palavras

Joe Biden não soube manter o apoio dos eleitores de centro

Demétrio Magnoli
Folha

Trump bebe no copo do nazismo: há pouco, parafraseando o “Mein Kampf”, alertou para o “envenenamento do sangue americano” pelo influxo de migrantes hispânicos. Trump responde, como réu, à acusação de golpe de Estado: ele instruiu republicanos a fraudarem resultados das eleições de 2020 e, no 6 de janeiro de 2021, incitou a invasão do Capitólio para impedir a certificação da vitória de Biden. Como se explica, então, que as pesquisas o colocam como favorito nas eleições presidenciais de novembro próximo?

A resposta convencional, apoiada em sondagens, é que uma larga maioria de eleitores enxerga Biden como idoso demais para cumprir novo mandato. Daí decorrem as pressões – e articulações ainda subterrâneas – pela substituição do candidato presidencial democrata.

ALGO DE ERRADO – Contudo, há algo mais profundo que escapa às análises protocolares: o Partido Democrata enfrenta rejeição popular superior à do Partido Republicano.

A economia dos EUA vai bem – muito melhor que a da China, por sinal. O surto inflacionário amainou e virtualmente inexiste desemprego. A ferida é outra: segundo pesquisa do Harvard Caps/Harris, 62% avaliam que os democratas moveram-se para a esquerda em demasia, enquanto 57% pensam que os republicanos moveram-se excessivamente para a direita.

Dito de outro modo: nos EUA de hoje, um partido preso à liderança extremista de Trump aparece como opção eleitoral menos radical!

FALTA A TERCEIRA VIA – O resultado surpreendente representa uma reversão das percepções vigentes em 2020. Você tem, claro, o direito de procurar conforto nas “teorias” de uma “sociologia” infantil difundida em redes sociais: os americanos seriam congenitamente direitistas, preconceituosos ou fascistas.

Mas tente evitar o escapismo ideológico: os mesmos americanos elegeram duas vezes Barack Obama e, segundo a pesquisa mencionada, 63% deles gostariam de ter “outra escolha” no lugar do binômio Biden/Trump.

O ponto, refletido em diversas sondagens, é a contaminação do discurso democrata pelas políticas identitárias. Aos olhos do eleitorado, o partido que aprendeu a falar para a maioria com as políticas sociais do New Deal e com a cisão antirracista da Lei dos Direitos Civis converteu-se numa igrejinha subordinada aos dogmas da esquerda universitária.

RACISMO INTERFERE – Na sondagem citada, 64% julgam as universidades rendidas a políticas identitárias baseadas na raça, 69% qualificam a tese de que os brancos são opressores como prejudicial à sociedade e 73% consideram falsa a identificação dos judeus como um estamento de opressores.

O paradigma clássico da ciência política diz que o caminho para o triunfo eleitoral exige a conquista do centro do espectro ideológico. Como regra, os candidatos que obtêm sucesso nas disputas majoritárias são aqueles capazes de ocupar o centro da arena, onde se concentra a maior parcela do eleitorado. É por isso que o sistema democrático isola os extremos, inclinando-se à moderação.

A ruptura da regra – ou seja, a vitória de líderes extremistas – sinaliza uma crise da democracia. Nos EUA, a fonte da crise deve ser buscada no desvio histórico dos democratas rumo às políticas identitárias.

CENTRO DECIDE – Biden derrotou Trump, em 2020, seguindo o manual da conquista do centro. Seu partido, porém, não o acompanhou. O discurso público dos democratas, controlado pela ala esquerda, replica os dogmas identitários raciais fabricados nas universidades.

A chamada Teoria Crítica da Raça, livro sagrado da seita, substitui o conceito de classe social pelo de raça, apresentando a maioria dos americanos como uma “classe opressora”. Trump prospera nesse cenário político, explorando as inseguranças, os temores e os ressentimentos dessa maioria.

O Brasil não é os EUA. O PT evita habilmente os excessos identitários, terceirizando-os ao PSOL. Mas a força persistente do bolsonarismo tem a mesma raiz do vigor do trumpismo.

Confirmado! Parte das Forças Armadas estava apoiando a tentativa de golpe

Dedo na cara e ameaça: general do Exército demitido peitou Flávio Dino

Comandante Arruda alegou que o Brasil estava dividido

Eliane Cantanhêde
Estadão

Passado um ano de 8 de janeiro de 2023, os mandantes do crime, civis e militares, que todo mundo sabe quem são, ainda não foram responsabilizados.

O momento mais tenso daquele dia foi quando três ministros civis se reuniram no Quartel General do Exército (QG) com o então comandante, general Júlio César Arruda, e descobriram, ou confirmaram, algo ainda mais assustador do que a invasão por vândalos do Planalto, Supremo, Câmara e Senado: cooptadas pelo capitão insubordinado Jair Bolsonaro, as Forças Armadas, ou partes delas, não rechaçavam devidamente a tentativa de golpe.

ARRUDA APOIAVA – Arrogante, com ar superior, Arruda agia como negociador, ou mesmo em favor dos invasores, que ainda se amontoavam diante do QG e a quem chamava, condescendentemente, de “manifestantes”, enquanto os tanques em fila à frente do QG apontavam não para a turba acampada ali, mas para fora, tentando impedir a entrada do poder civil, representado, no primeiro momento, pelo interventor do DF, Ricardo Cappelli, acompanhado de policiais e do então comandante da PM, coronel Fábio Augusto Vieira.

Eles tinham ordem superior, do presidente Lula, via ministro da Justiça, Flávio Dino, para “prender todo mundo” no acampamento, mas haviam sido barrados pelo bloqueio militar. “Vamos entrar”, avisou Cappelli.

“Se os senhores entrarem, vai ter um banho de sangue”, advertiu o comandante Militar do Planalto, general Dutra Menezes. E Cappelli: “O que o sr. quer dizer? Que os acampados estão armados?”.

LIGOU PARA GDIAS – Dutra Menezes ligou para o general Gonçalves Dias, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e deu a entender que ele havia passado o telefone para o próprio Lula. Em alto som, para os demais barrados na frente do QG ouvirem, falou: “Sim senhor, presidente”. Desligou e avisou que Lula pedira para aguardarem, até a entrada ser liberada. E foi, mas só uma pequena brecha para o carro onde estavam Cappelli e o coronel Fábio Augusto.

Ao chegarem finalmente ao gabinete do comandante, onde voltaram a se encontrar com o general Dutra Menezes, o general Arruda já assumia um ar de confronto: “Os senhores queriam entrar com a PM aqui sem a minha autorização?”.

E acrescentou dirigindo-se a Fábio Augusto, comandante da PM: “Eu acho que tenho um pouquinho mais de tropas que o sr., comandante”.

EM NOME DE LULA – Com o clima tenso, Cappelli telefonou para Dino, que se dirigiu ao QG com os ministros José Múcio, da Defesa, e Rui Costa, da Casa Civil, para falar em nome do presidente da República. Do outro lado, Arruda pretendia convocar o Alto Comando do Exército, mas foi dissuadido.

A seu lado, um oficial tentava reduzir a gravidade das invasões dos três poderes, desdenhando: “No impeachment da Dilma, também teve manifestação da esquerda e quebraram o Itamaraty”.

Convenhamos que ninguém dá golpe quebrando vidraça do Itamaraty, mas invadir e quebrar tudo no Planalto, Congresso e Supremo é um ato nitidamente golpista, o que fica ainda mais estridente com duas minutas de golpe, complementares, achadas pela Polícia Federal. Uma na casa do ministro da Justiça do governo anterior, Anderson Torres, que era, ora, ora, secretário de Segurança do DF no 8/1 e responsável pela integridade da praça e dos prédios dos três poderes. A outra, no celular, ora, ora, do ajudante de ordens e faz tudo de Bolsonaro, tenente coronel da ativa Mauro Cid.

BRASIL DIVIDIDO – Os três ministros civis exigiam o desmonte imediato do acampamento e a prisão imediata dos que estavam lá, alguns havia meses. Arruda pedia a volta dos ônibus para buscá-los, tentando evitar as prisões e, não tão sutilmente assim, justificar os atos e seus autores.

Dirigindo-se aos representantes de Lula, recém-empossado no terceiro mandato, tascou: “Vocês precisam entender que o Brasil está dividido!”.

Ok. O Brasil estava e está dividido, mas a democracia, a estabilidade política, a garantia das instituições e o respeito ao resultado das urnas nunca, jamais devem estar em jogo. Ditadura e golpes, nunca mais!

JOIO E TRIGO – Assim, o acampamento foi desmontado e os golpistas presos às 6h do dia seguinte e Arruda caiu do Comando do Exército ainda em janeiro de 2023, vejam vocês, por insistir em manter num cargo de comando estratégico o tenente-coronel Mauro Cid.

O general Tomás Paiva assumiu e há um esforço, no Executivo, no Legislativo e no Judiciário para enaltecer os militares legalistas — inclusive a cúpula demitida por Bolsonaro na metade do seu governo — e destacar que o golpe não se concretizou porque as Forças Armadas se recusaram a aderir.

Mas é preciso separar o joio do trigo. O trigo não merece ser confundido com o joio, que deve ser devidamente punido, assim como o mandante maior de uma audácia histórica dessa gravidade. Neste 8/1 de 2024, teremos a comemoração da “Democracia Inabalada”, mas ainda há muito a fazer.

Saiba por que no Brasil ninguém é mestiço, uma “carapuça racial” bem dispensável

Escravidão Indígena no Brasil: características e por que não deu certo

Na colônia, o indígena era considerado “negro da terra”

Muniz Sodré
Folha

Segundo a mais confiável fonte de dados primários do país, a maioria da população brasileira é parda. O IBGE falou, está falado. Mas cabe uma ressalva sobre certa recepção pública desse achado. É que da palavra pardo se deduziu mestiço (do latim “mixticius”, misturado). Em termos etnológicos, a mistura seria combinar duas etnias. Dentro dessa lógica, se um louro dolicocéfalo alemão se casa com uma morena francesa, o filho será mestiço. O mesmo acontece com uma japonesa e um chinês. E, claro, uma ruandesa hutu com um tutsi.

Mas pode não ser nada disso. Troque-se o critério de etnia por cor da pele, o filho da francesa será branco europeu, o da japonesa branco asiático, e o da hutu, de cor preta, também não será considerado mestiço. Para dar credibilidade à mestiçagem, é preciso primeiro acreditar em raça, depois na realidade humana da mistura. Por isso, na prática, aquele nipo-chinês seria considerado mestiço tanto por japoneses como por chineses: predominaria a ilusão da raça, não a evidência da cor.

No paradigma colonial de branquitude, todo desvio desse padrão reprodutivo significa mestiçagem. Nos EUA, pode-se ser branquíssimo, mas uma “gota de sangue negra” (leia-se parentesco afro) produz o “half bred”, mestiço.

CLASSIFICAÇÃO FAKE – Como sangue nenhum tem cor além da vermelha, fica evidente que essa classificação é fake, manipulação de raça como categoria ideológica de dominação social.

A intelectualidade latino-americana embarcou na canoa da originalidade étnica, com prolíficas reflexões para-literárias. Entre nós, o luso-tropicalismo de Gilberto Freyre outorga à mestiçagem um singular estatuto civilizatório.

Razão: “Uma poligamia suavemente disfarçada, que teria obtido a aprovação de especialistas em eugenia, pois os pais, em muitos casos, eram homens de primeira qualidade”. Logo, “uma escravidão desse tipo foi útil ao desenvolvimento social no Brasil” (em “Escravidão, monarquia e o Brasil moderno”).

AQUI NO BRASIL – Respaldado pela biologia de machos brancos, o mestiço justificaria a própria escravidão. Aos pretos, caberia extinção progressiva. Mas esse desejo de morte, genocida, foi vencido pela vontade vital: dez por cento declaram-se negros, a maioria se diz parda, gradação cromática que não resulta de “raças” mescladas, e sim da força latente de uma diversidade a fogo brando, imperturbada pelo Estado.

Na Colônia, indígena era “negro da terra”. Não por cor, por categorização. Hoje, negro é pertencimento político-existencial, embasado num fenótipo que varia do mais ao menos escuro, dito pardo. É categoria de biopoder, designativa de um lugar móvel na luta contra a dominação da farsa histórica da raça. O que de fato somos todos: fenotipicamente diversos. Mestiço é uma carapuça racial, matizada por meio-sorriso literário.

Reação ao ato contra os golpistas exibe a força dos bolsonaristas

Moraes transfere julgamento de réu por atos do 8 de janeiro após suposto erro na condenação - Brasil 247

Moraes decidiu julgar os 1.404 “terroristas” no Supremo

Vinicius Torres Freire
Folha

O “Democracia Inabalada”, o ato de repúdio à intentona golpista do 8 de Janeiro, terá muita ausência notória e previsível. É uma cerimônia para rememorar um grande ataque contra a República. Muitas lideranças políticas não querem que se recorde o vandalismo, pois apoiavam o governo que insuflou a baderna subversiva.

Também não querem que fique na memória que participaram de um protesto contra uma tentativa de derrubada do regime democrático, ainda menos de um ato liderado por Luiz Inácio Lula da Silva e por ministros do Supremo, alvos de ódio do bolsonarismo e da extrema-direita.

MANTER A FAMA – Eles têm de manter a fama de maus, o prestígio com o eleitorado extremista, com as falanges bolsonaristas. Precisam de votos, de recursos e propaganda nas redes; precisam manter viva a mobilização antidemocrática.

É verdade que algumas lideranças políticas estão mesmo de férias ou são relapsas; dado o seu eleitorado, calculam que não valeria a pena interromper a folga e pagar o jatinho. Outras, porém, fazem questão de recusar o convite para o ato com uma defesa dos golpistas.

Trata-se, por exemplo, do manifesto de 30 senadores a respeito do “Democracia Inabalada”. Espalhados entre elogios cínicos à democracia e críticas da violência, aparecem ataques ao Supremo, a tentativa de atribuir a este governo a responsabilidade pelo 8 de janeiro e a defesa dos vândalos, que estariam sendo condenados a penas muito duras.

CÚMPLICES OU COMPARSAS – Quase todos os líderes e signatários do manifesto foram ministros de Jair Bolsonaro ou são militantes da causa. Logo, são cúmplices ou comparsas do projeto golpista, de mentiras criminosas de fraude eleitoral e das tantas promessas de que não haveria eleição e de que decisões do Supremo não seriam cumpridas.

São cúmplices de um idiota necrófilo, que fez campanha homicida contra medidas sanitárias na epidemia, que diz ser adepto do estupro, da tortura e do assassinato como instrumento político. São também cúmplices governadores, deputados, empresários, líderes religiosos e militares.

Os autores do manifesto são cínicos a ponto de escreverem tal coisa: “…ressaltamos como pilar de atuação a lealdade à democracia brasileira e apelamos novamente aos chefes dos Poderes da República a voltarem a atuar dentro dos ditames constitucionais com a consequente volta à normalidade democrática”.

NORMALIDADE DEMOCRÁTICA – Agora é que temos problemas com a “normalidade democrática”? De fato, temos. Um deles, dos maiores, foi a campanha autoritária articulada em torno de Bolsonaro.

O bolsonarismo tem voto, parte dele repulsa a Lula, ao PT, à esquerda, à expansão de direitos civis e sociais e ao Estado. Parte é de adeptos do autoritarismo ou coisa pior.

Parte relevante da elite econômica e social do país não teve problema algum de adotar Bolsonaro como um instrumento político capaz de implantar o “liberalismo”, de acabar com impostos, de sufocar a esquerda, de reprimir o reconhecimento da diversidade humana e seus direitos e de largar os mais pobres à própria sorte.

PINOCHETADAS – É como aquela gente que elogia o ditador assassino Pinochet por ter “colocado a economia do Chile no rumo certo”, como já disseram tanto economista e empresário que andam por aí a falar de déficit e reformas.

Podendo-se matar e torturar gente por tempo suficiente, muito programa econômico pode dar certo, por tentativa e erro sob terror.

Parte da elite se engajou nisso. Quase deu certo, plano prejudicado também por parte menor da elite, mais civilizada, que se levantou, enfim, em agosto de 2022. Mas a ideia do vale tudo está viva, forte e sacudida, esperando para ressuscitar. Vide a reação ao 8 de Janeiro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Uma pergunta que não quer calar. Será que não dava para enfrentar os golpistas respeitando a Constituição? Como se sabe, os vândalos tinham direito de serem processados na primeira instância, sem cumprimento antecipado da pena e com todas as garantias que os demais réus têm no Direito Brasíleiro. Por que o Supremo (leia-se: Moraes) atropelou a Constituição e ninguém diz nada? (C.N.)

Piada do Ano! Múcio apoia a punição de militares pela tentativa de golpe

Entrevista: 'Precisamos achar os culpados para tirar essa nuvem de  desconfiança sobre Forças Armadas', diz José Múcio - Agenda Capital

Múcio acha que a prisão de envolvidos relaxaria o clima

Vera Rosa
Estadão

O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, quer que as investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro cheguem ao fim o mais rápido possível. Um ano depois dos ataques às sedes do Planalto, do Congresso e do Supremo, os mentores e financiadores da tentativa de golpe ainda não foram totalmente descobertos e, de lá para cá, a imagem dos militares sofreu muito desgaste.

“Precisamos achar os culpados para tirar essa nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas”, disse Múcio ao Estadão. Em entrevista concedida na quinta-feira, 4, em seu gabinete na Defesa, o ministro parecia medir cada palavra ao ser questionado sobre o envolvimento de militares na tentativa de solapar a democracia.

O governo vai fazer um ato para marcar um ano da tentativa de golpe em 8 de janeiro. Mas aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro prometem organizar protestos. O senhor não teme novos ataques?
O verbo não é temer. Eu torço para que nada aconteça. Acredito que nada será como foi o dia 8 de janeiro de 2023. Não vai acontecer nunca mais aquilo. Ficamos sempre de orelha em pé.

O senhor propôs, à época, que o presidente Lula recorresse a um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e foi muito criticado.
Eu não propus, embora não ache que teria havido problema. O presidente disse assim: “É bom botar o Exército na rua”. Alguém atrás de mim falou: “O Exército só pode ir para a rua com GLO”. Aí o presidente respondeu: “Com GLO, não!”. Algumas pessoas achavam que a GLO daria condições a quem queria dar um golpe. Mas eu defendo a tese de que quem quer dar golpe não precisa de GLO. Golpe não tem regra. O golpista é um infrator.

Imagens do Planalto mostram o ministro da Justiça, Flávio Dino, hoje prestes a assumir uma cadeira no Supremo, discutindo com o senhor. O que ele disse?
Não estávamos discutindo. Quem estava ali eram os ministros Rui Costa (Casa Civil), Waldez Góes (Integração), o senador Randolfe Rodrigues (líder do governo no Congresso) e eu. Flávio Dino estava dizendo para nós que tinha de punir, tinha de prender. Durante a explanação que fazia, ele balançava os braços, mas não era para mim.

O senhor chegou a dizer que os acampamentos de bolsonaristas em frente aos quartéis eram manifestações democráticas. Não era possível prever ali um risco iminente de ataque?

Não. Até o dia 8 de janeiro eram manifestações democráticas, tanto que em momento nenhum a Justiça mandou tirar as pessoas de lá. Foi muito melhor eu dizer que tinha parentes bolsonaristas nos acampamentos do Recife do que mentir e dizer que não tinha. Em Brasília também havia familiares de gente do Exército. Acho até que aquilo foi a forma encontrada pelo Exército para conviver com as partes contrárias que havia intramuros. Eu admito que havia algumas pessoas ali de dentro que torciam pelo golpe. Mas a instituição, o Exército, não queria o golpe.

E quem queria o golpe?
Sei de muita gente que desejava, mas não apareceu o líder. No momento em que o então presidente da República (Jair Bolsonaro) tomou um avião e foi embora, ficou todo mundo órfão.

O tenente-coronel Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro, disse à Polícia Federal que o então presidente se reuniu com a cúpula das Forças Armadas, após ter perdido as eleições, e discutiu detalhes de um plano para tomar o poder. O sr. falou com Mauro Cid?
Eu nunca falei com Mauro Cid. Toda a investigação é presidida pelo ministro Alexandre de Moraes. Não tive acesso nem às pessoas com as quais o hacker (Walter Delgatti Neto) disse ter falado no Ministério da Defesa. Eu solicitei por escrito e não obtive.

Qual foi o momento mais difícil naquele 8 de janeiro?
O mais difícil foi que nós amanhecemos no dia 9 sob a égide da suspeição e contrariando todos os lados. A esquerda, contrariada, porque achava que as Forças Armadas tinham interesse no golpe. E a direita, muito zangada, porque as Forças Armadas não deram o golpe. Eu não tinha nem com quem conversar.

E por que o comandante do Exército caiu, menos de duas semanas depois?
Se você me perguntar qual o dia mais importante, digo que foi o 21 de janeiro de 2023, um sábado, quando nós substituímos o comandante do Exército (general Júlio César de Arruda). Ele foi substituído porque o clima de confiança do presidente com o comando do Exército tinha acabado. Houve uma fratura.

O mal-estar entre o presidente e as Forças Armadas foi superado?
Sim. O presidente, hoje, tem uma relação estreita com os comandantes. São próximos, se telefonam, resolvem as coisas de forma direta. Não precisam mais de intermediário. Precisamos apenas achar os culpados para tirar de vez essa nuvem de desconfiança sobre as Forças Armadas.

O PT nunca teve boa relação com as Forças Armadas. Quando o senhor assumiu, qual foi o pedido que o presidente lhe fez?
Quando ele disse “Olha, Múcio, eu preciso que você vá para a Defesa”, eu não entendi, porque não sou homem ligado à área militar. Minha área sempre foi a política. Passei a entender depois, porque no governo anterior se misturou muito o militar e o político. Todos os ministérios estavam ocupados por militares da reserva. Ali havia um interesse na manutenção do status quo. Foi quando nós começamos a negociar para acabar com essa história de militar fazer política, ser candidato. Pode fazer fora de lá, não dentro das Forças Armadas. Foi a partir daí que se começou o trabalho de saneamento.

Não são poucos os petistas que querem a sua saída do ministério. Como o senhor enfrenta essa hostilidade do PT?
O cargo é do presidente Lula. A decisão é dele e eu estar aqui, ou não, jamais vai interferir na nossa relação de afeto e amizade.

Quando houve a CPMI dos atos golpistas, o senhor tentou evitar a convocação de generais. Tinha algum receio?
Tínhamos a CPMI no Congresso e as investigações do ministro Moraes no Supremo. Ninguém está livre de ser investigado. Mas você conhece muito bem como são as CPIs. Ali tem um pouco da política, da emoção. Eu estava preocupado.

O senhor estava preocupado com a desmoralização das Forças Armadas?
De quem não tinha culpa. Naquele momento, para quem você apontasse já era culpado.

Então, o senhor queria blindar os militares…
Eu não estava querendo blindar. Estava querendo apenas que não houvesse uma desmoralização, uma provocação, porque a gente, quando mexe com um, está mexendo com não sei quantos. Não estou protegendo nada, mas não quero condenar inocentes. Quero punir culpados.

O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) diz que o senhor é o ministro da defesa dos militares. Como rebate isso?
Não rebato. Eu sou ministro do governo Lula e ao governo Lula interessa que os militares estejam pacificados. O mundo militar e o mundo político são completamente diferentes. O meu papel aqui é conciliar, pacificar. Eu sou o ministro do “deixa-disso”. A gente tem que fazer com que todo mundo toque o Brasil para frente.

O senhor sempre disse que os ataques golpistas são página virada. Não acha que essa página somente será virada depois da punição de todos, incluindo militares?
Principalmente os militares, no meu caso. A pior coisa do mundo é você trabalhar sob suspeição. Interessa às Forças Armadas legalistas que tudo seja absolutamente esclarecido e os culpados, punidos. Ninguém quer mais a punição do que as Forças Armadas.

Embora executores da tentativa de golpe tenham sido condenados, ainda não está claro quem foram os financiadores e os autores intelectuais desses atos…
Eu continuo achando que aquilo foi uma grande baderna. Um bando de vândalos que foi arrebanhado por empresários irresponsáveis, alguém pagou os ônibus (e disse): ‘Vamos para Brasília’.

Não é o que diz o ministro Alexandre de Moraes. Encontraram uma minuta do golpe na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e secretário da Segurança do Distrito Federal, e foram descobertas mensagens sobre isso no celular de Mauro Cid. Isso não é tentativa de golpe?
Olha, não foi por parte dos militares nem das instituições. Havia pessoas que desejavam o golpe, mas o Exército, a Marinha e Aeronáutica, não. Como são os golpes no mundo? Vai a Força e o povo vem apoiando atrás. Aqui, o povo foi na frente. Não tinha um líder. Se eles (Forças Armadas) quisessem golpe, era um conforto. Eu via daqui da janela (do Ministério da Defesa). Era gente correndo para todo canto. Não apareceu esse coordenador.

Se houver a participação da cúpula militar na montagem desse plano, o que será feito?
Se for comprovado, serão punidos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Múcio gosta de fazer piada. Nenhum militar envolvido no golpe será punido. Serão condenados apenas os pés-de-chinelo que estavam no 8 de Janeiro. É o primeiro golpe de estado na História Universal sem líderes, sem militares e sem armamentos, tipo Piada do Ano. (C.N,)

Gleisi é apenas boneca do ventríloquo Lula na guerra com Fernando Haddad

Em vídeo à rede Al Jazeera, Gleisi Hoffmann pede apoio por liberdade de Lula | O Popular

Gleisi está sempre à disposição, para atacar Haddad,

Mario Sabino
Metrópoles

Gleisi Hoffmann trocou de alvo: sai Roberto Campos Neto, o presidente do Banco Central, entra Fernando Haddad, que a presidente do PT acha que se converteu ao neoliberalismo, que é como petista chama a racionalidade econômica capitalista. Ela e a sua turma acusam o ministro da Fazenda de cometer “austericídio”, por sua austeridade fiscal.

A presidente do PT quer que o governo gaste ainda mais para encher pobre de esmola governamental e levar remediado a fazer um monte de carnezinho gostoso, assim como aconteceu no primeiro mandato de Lula, quando se inventou que o Brasil tinha uma “nova classe C”. Crescimento econômico bom, para Gleisi Hoffmann, é crescimento baseado em consumo insustentável.

SEM MEDIDAS – Não basta que o déficit primário do governo, em 2023, deva ter chegado a 177 bilhões de reais, sem contar os 95 bilhões de reais para pagamento de precatórios que o STF permitiu que ficassem fora da meta fiscal. Não basta a sanha arrecadatória para depenar os pagadores de impostos na miragem (ou lorota) de ter déficit zero em 2024. Gleisi quer arrombar de vez os cofres públicos para Lula ser reeleito em 2026.

Fernando Haddad está magoado com o bombardeio de Gleisi Hoffmann et caterva. Em entrevista ao jornalista Alvaro Gribel, ele disse:

“Olha, é curioso ver os cards que estão sendo divulgados pelos meus críticos sobre a economia, agora por ocasião do Natal. O meu nome não aparece. O que aparece é assim: ‘A inflação caiu, o emprego subiu. Viva Lula!’ E o Haddad é um austericida. Então, ou está tudo errado ou está tudo certo. Tem uma questão que precisa ser resolvida, que não sou eu que preciso resolver. Não dá para celebrar Bolsa, juros, câmbio, emprego, risco-país, PIB que passou o Canadá, essas coisas todas, e simultaneamente ter a resolução que fala ‘está tudo errado, tem que mudar tudo’.”

MENTIRA É MATO – Depois da entrevista, o namorado de Gleisi Hoffmann, o deputado Lindbergh Farias, disse que não era bem assim e coisa e tal, que Fernando Haddad entendeu errado, mas mentira é mato no PT.

O meu colega de Metrópoles, Rodrigo Rangel, publicou ontem que Gleisi Hoffmann anda dizendo que o ministro da Fazenda tem “prazo de validade”.

Segundo Rodrigo Rangel, “o veneno parte de um raciocínio segundo o qual, a partir de 2026, Lula terá de se livrar da austeridade do ministro na economia se quiser ampliar as chances do PT na corrida presidencial e que, para isso, será preciso substituí-lo por alguém mais talhado para essa missão”.

SERVIÇAL DE LULA – O que ninguém está dizendo, mas eu digo aqui (aliás, repito) é que Gleisi Hoffmann é boneca do ventríloquo Lula nessa exigência de o governo ter de estourar os cofres públicos. Por meio de Gleisi, Lula avisa Fernando Haddad de que ele não vai durar no cargo se continuar com essa história de responsabilidade fiscal (que já não existe).

Como a hipocrisia é a senhora da política, Lula não vai demorar a fazer um afago público no ministro da Fazenda, dizer que ele está realizando um ótimo trabalho etc. É o padrão.

Mas Fernando Haddad vai acabar fazendo tudo o que o seu mestre mandar. É outro padrão. Acima do interesse do país, está o interesse do chefão petista.