Todo mundo que morre em serviço ou por causa dele estaria usando botas

Maria Lenk morreu na piscina, dando uma aula de natação

Ruy Castro
Folha

Outro dia, passei para mim em DVD o clássico “O Intrépido General Custer” (1941), de Raoul Walsh, com Errol Flynn. Conta a história do massacre de um regimento da cavalaria americana pelos sioux e cheyennes em 1876 —o único filme em que os índios ganham no fim. O título original, “They Died With Their Boots On”, se refere ao fato de que os soldados morreram de botas, ou seja, em missão.

Mas não é preciso ser soldado americano para morrer de botas. Todo mundo que morre em serviço ou por causa dele morre, metaforicamente, de botas.

MUITOS EXEMPLOS – O fabuloso artista gráfico J. Carlos, o maior capista da imprensa, enfartou na prancheta, desenhando, com a pena na mão, em 1950. Outro grande capista brasileiro, só que de livros, Enrico Bianco, em 2013, sentiu que ia morrer e pediu que lhe dessem uma pena para segurar. Deram e ele expirou.

A nadadora Maria Lenk, glória do esporte nacional, morreu na piscina, dando uma aula, em 2007. Portinari morreu envenenado pelo chumbo contido em suas tintas, em 1962. E Gilberto Cardoso, presidente multicampeão do Flamengo, morreu de enfarte provocado por uma cesta rubro-negra, a três segundos do fim de um jogo de basquete no Maracanãzinho, em 1955.

MAIS, AINDA – O cientista Alvaro Alvim, pioneiro da radiologia, morreu horrivelmente de exposição à radioatividade, em 1928. Houdini, o homem das mil façanhas, morreu de apêndice rompido pelos socos no abdômen que aceitou receber de um desafiante, em 1926.

Há quem acredite que o padre Bartolomeu de Gusmão, o “Padre Voador”, tenha morrido ao saltar de um penhasco com um par de asas grudado com cera ao seu corpo. Ao se aproximar do sol, a cera teria derretido e ele caiu lá de cima. Mas quem morreu assim foi Ícaro, herói da lenda grega. Gusmão era um inventor de balões, mas morreu prosaicamente em terra firme, em 1724.

E Jesus Cristo —com todo respeito— também morreu durante o trabalho.

Lula diz que não é serviçal de ricaços, mas sabe servir a Joesley e Wesley Batista

Wesley e Joesley Batista: os campeões nacionais do calote

Com ajuda de Lula, o dinheiro da JBS logo se multiplica

J.R. Guzzo
Estadão

O presidente da República, num dos seus últimos acessos de autoadoração em público, disse que não tem de prestar contas “a nenhum ricaço deste país”. É mais um momento extremo de confusão de identidade. Estava falando de si próprio, mas descreveu uma pessoa que não é ele, o presidente Lula – e que não faz, no mundo das realidades, o que ele está fazendo desde o começo do seu governo.

A verdade é o contrário do que diz. Se há alguém neste país que presta conta a ricaço é ele mesmo, em pessoa e o tempo todo. São os fatos. Seu último presentão aos bilionários amigos, e amigos dos amigos, é o ato de doação que fez para o Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.

MEDIDA PROVISÓRIA – Foi nada menos que uma medida provisória que cobre pagamentos devidos pela Amazonas Energia a termelétricas compradas há pouco pela Âmbar, uma empresa do grupo no setor de energia. O custo vai ser pago nas contas de luz do público em geral durante os próximos quinze anos.

Medida provisória, para ajudar a vida de uma empresa privada – e ainda por cima enrolada até o talo em processos por corrupção na justiça? É coisa que só se faz em urgências que afetam gravemente o interesse nacional. Mas a J&F, como outras empresas amigas desse grande arco que vai da Odebrecht à Sete Brasil, faz parte do bioma natural de Lula e de seus operadores no governo.

É ali que se dá o grande encontro de águas entre os interesses privados e o Tesouro Nacional – e esse caso do socorro às necessidades da Âmbar é mais uma demonstração prática do que acontece na vida real do “Brasil Que Voltou” quando Lula se senta para conversar a sério com os ricaços.

TUDO ÀS CLARAS – Não se procura, nem mesmo, cuidar das aparências mais constrangedoras. Na história das termelétricas, diretores da J&F estiveram dezessete vezes no Ministério das Minas e Energia ao longo dos onze meses que precederam a edição da medida provisória – sempre fora da agenda oficial, o que não melhora a coisa em absolutamente nada.

Agora em maio, inclusive, os próprios irmãos Batista e o próprio presidente da República se encontraram em tête-à-tête no Palácio do Planalto. Nove dias antes da medida provisória, para completar, o ministro das Minas e Energia e o presidente da Âmbar tiveram uma reunião extraoficial.

O ministro, depois que a história veio a público, teve a bondade de explicar que uma coisa era uma coisa, outra coisa era outra coisa, e que nenhuma das duas tinha nada a ver entre si.

NADA A VER – Segundo ele, as dezessete visitas reservadas que os diretores da Âmbar fizeram ao Ministério das Minas e Energia não têm relação com a medida provisória que o mesmíssimo Ministério elaborou em favor da empresa.

Foi tudo uma coincidência, diz o ministro. Outra coincidência, pela narrativa oficial, foi que a J&F fechou o negócio de compra das usinas termelétricas, por R$ 4,7 bilhões, logo após a apresentação da medida provisória em seu benefício.

O mais bonito da história, como de costume, é que o dinheiro necessário para isso tudo não caiu da árvore. Vai sair, mais uma vez, diretamente do bolso do cidadão para o bolso dos favorecidos – podem ficar dizendo “veja bem” pelo resto da vida, mas o fato objetivo é esse. No seu manifesto contra “os ricos” (no qual foram incluídos nominalmente “os banqueiros”), Lula disse que tinha de “prestar contas ao povo pobre”.

TUDO AO AVESSO – O presidente é herói histórico dos grandes bancos; não há ninguém que admirem tanto neste país. E as “contas ao povo pobre” de que Lula falou só podem ser as contas de luz – são elas que terão de ser aumentadas durante os próximos quinze anos para ajudar a vida da J&F.

Conta de luz nunca é problema para quem tem dinheiro; rico, aliás, nem sabe dizer quanto pagou no último boleto. Mas é um tormento real, permanente e inevitável para os pobres que Lula diz defender. Quem ele defende mesmo, como se vê mais uma vez na prática, são os bilionários. Os pobres de verdade ficam com as esmolas – e mais o problema da conta de luz.

É coisa de escroque. O escândalo da Âmbar não é um acidente isolado num governo de justos. É único resultado possível da opção que Lula tomou desde sua entrada na política. Para empreiteiras, banqueiros e gente como os irmãos Batista, tudo que o dinheiro público pode fazer. Para a pobrada, mentira serial e as migalhas que caem da mesa dos paxás.

Ultradireita assusta na França, mas no Brasil é normalizada e avança mais fácil

O que podemos aprender com a vitória da esquerda na França – Opinião –  CartaCapital

Há décadas a direita francesa ainda tenta chegar ao poder

Vinicius Torres Freire
Folha

Alguns brasileiros estão entretidos com as reviravoltas da política francesa. Alguns estiveram alarmados com as ameaças à liberdade, à igualdade, à fraternidade e à dignidade humana em geral, postas em risco pela possibilidade de vitória do partido Reunião Nacional, de Marine Le Pen, de ultradireita ou o nome que se dê.

Um rótulo político qualquer não vai esconder que se trata de um partido adversário da república, ideia para a qual jamais demos muita bola, mas que na França ainda comove muita gente. A república envolve princípios e direitos reais e muito caros para massas de pessoas; sua instituição periclitou por um século e meio e custou muito sangue e guerra civil.

TENTATIVAS – Faz menos de dois anos, vimos aqui no Brasil assaltos até contra o direito de termos um sistema eleitoral democrático, que é um meio para se chegar a uma democracia substantiva e à verdadeira república.

O líder do golpe contra as eleições é o maior líder político do país além do presidente da República. Trata-se, claro, de Jair Bolsonaro, que proclamou em público que cancelaria eleições —e muito mais. Quanto ao caráter republicano do presidente das trevas, basta lembrar sua pregação do genocídio, da guerra civil, da tortura, o preconceito criminoso contra indígenas, mulheres etc.

Em menos de dois meses, começa a campanha eleitoral municipal. Não é possível saber ainda, quantos dos candidatos serão liderados ou vão aderir a Bolsonaro, tal como o fez o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes. Sabe-se que a maioria do centrão direitão que domina prefeituras e Congresso já sustentou o governo Bolsonaro, é adepto do seu programa ou vai se valer de seu apoio.

EM ALTA – O centrão direitão e suas alas mais bolsonaristas tiveram sucesso em 2020 e 2022, base do seu domínio e expansão políticos. Não têm programa quanto a questões essenciais: gasto público e impostos, transição energética, saúde pública, devastação ambiental etc.

No essencial, não importa muito se as coisas continuarem como estão desde que tenham mais poder sobre o Orçamento (emendas gastas à matroca) e fundos para feudalizarem a política. São pontas de lança do movimento que vai esgotar todo o Orçamento até que governo e Estado se tornem inviáveis, daqui a um lustro, talvez.

Quanto à ideia maior de república, jamais foi uma preocupação nacional explícita, se foi preocupação. Agora, se trata de acabar com a possibilidade de que tenhamos uma, dado a liderança normalizada de um golpista e do avanço de suas tropas contra os direitos mais elementares.

FEDERAÇÃO – República, aqui, fazia parte do nome do golpe militar que derrubou o império agrário escravista de Pedro 2º e é parte do nome oficial do país, República Federativa do Brasil. Por falar nisso, diga-se, de passagem, que tratamos mais de “federação” do que de república, pois está em jogo o interesse de elites regionais e dos centrões.

República está longe de haver, pois os direitos mais básicos, como os civis ou mesmo o direito à vida não se estendem a massas de pobres, ainda menos se pretos e pardos. São pessoas largadas em calabouços sem processos ou advogados, assassinadas aos montes pelo crime privado ou estatal, discriminados negativamente até por serem discriminados (sic), pois condenados à pobreza e outras opressões.

A república depende de direitos sociais. Um dos mais básicos é o direito universal à escola, que não havia na prática faz meros 30 anos e, substantivamente, ainda não há, dada a educação péssima e muito desigual. Enfim, deu para entender. A democracia e a república estão sob ataque contínuo e despercebido. O maior cabo eleitoral do país é golpista. Como se fosse normal.

Indiciamento de Bolsonaro deve influir muito pouco nas eleições municipais

Bolsonaro indiciado: saiba o que acontece a partir de agora | Metrópoles

Bolsonaro responderá a processo se a Procuradoria determinar

Deu na CNN

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no caso das joias não será um divisor de águas para definir as eleições municipais, avaliou nesta sexta-feira (5) ao programa WW, da CNN Brasil, o cientista político Cristiano Noronha, vice-presidente da consultoria Arko Advice.

Na quinta-feira (4), a PF indiciou Bolsonaro e outras 11 pessoas por associação criminosa, lavagem de dinheiro e apropriação de bens públicos pela venda de joias da Arábia Saudita, presenteadas ao governo brasileiro e, posteriormente, negociadas nos Estados Unidos.

PARTE DA QUESTÃO – “Então, eu acho que esse indiciamento é uma parte da questão, mas ele não é, vamos dizer assim, o divisor de águas para definir as eleições nos municípios brasileiros”, disse Noronha.

De acordo com o cientista político, o tema será apontado pelos adversários dos candidatos apoiados por Bolsonaro, e eles terão que responder.  “O ex-presidente Jair Bolsonaro ainda permanece com capital político muito expressivo. Vale dizer que essa questão das joias, por exemplo, que é de fácil compreensão do eleitorado. Mas tudo isso já foi muito abordado, isso já foi muito tratado pela imprensa”, prosseguiu.

“A gente continua percebendo que alguns institutos, em simulações de voto para um presidente da República, inclusive mostra um ex-presidente Jair Bolsonaro liderando as pesquisas. Então, isso deve ter um efeito limitado. O prestígio de Bolsonaro ainda continua muito alto”, explicou.

PROTOCOLADO – Integrantes da Polícia Federal (PF) estiveram na tarde desta sexta no Supremo Tribunal Federal para protocolar o relatório final do inquérito.

O material será digitalizado e enviado ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso. Moraes então pedirá a manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR) sobre o relatório da PF.

O programa WW vai ao ar de segunda a sexta-feira, às 22h, com edição especial aos domingos no mesmo horário. O programa debate os temas mais relevantes e complexos dos noticiários de uma maneira objetiva e, ao mesmo tempo, aprofundada.

Desde que se aboliu o escândalo, é possível até acreditar na inocência de Lula…

Lula diz que não se pode falar de sua corrupção porque foi “absolvido”, mas  isso é uma mentira - Flávio Chaves

Charge do Duke (O Tempo)

Mario Sabino
Metrópoles

Desde que se aboliu o escândalo no Brasil, tudo é possível. Tudo, aqui, não se resume ao presente e ao futuro, dos quais foram eliminadas as punições de poderosos por grandes esquemas de corrupção. Inclui o passado, como demonstra o companheiro José Dirceu.

Em entrevista recente a um canal de televisão, o pensador petista afirmou o seguinte: “Eu disse, e alguns me criticaram por dizer, que até por justiça, eu mereço voltar ao Congresso Nacional. Eu fui cassado por ter sido chefe do mensalão. O Roberto Jefferson foi cassado porque não provou o que era o mensalão. E o Supremo me absolveu de formação de quadrilha. Então basta ver quem é o Roberto Jefferson hoje e quem sou eu. A primeira grande fake news no Brasil foi o mensalão. Não o caixa-dois na campanha eleitoral, mas a história de que existiu o mensalão e que eu era o responsável.”

REVISIONISMO -A declaração de que o mensalão foi a primeira grande fake news no Brasil combina revisionismo e cancelamento do passado semelhante ao que se fazia na época do camarada Stálin, quando personagens que caiam em desgraça perante o ditador soviético eram completamente apagados dos registros históricos e até de fotografias.

Sejamos equânimes na distribuição de responsabilidades: José Dirceu só pode fazer essa afirmação porque o escândalo foi abolido no Brasil pelas sucessivas ordens judiciais que exterminaram a Lava Jato.

A Lava Jato tinha viés político, procuradores e juízes fraudaram os processos, a roubalheira na Petrobras foi perpetrada exclusivamente por diretores da empresa, os delatores foram torturados psicologicamente para dizer mentiras, a operação anticorrupção que colheu grandes empreiteiras é responsável pela crise econômica nacional: todo esse discurso (ou narrativa, palavra mais ao gosto hodierno) tem como base decisões emanadas dos tribunais superiores.

VIROU FAKE NEWS -Elas agora agem retroativamente para que o PT revise na memória nacional tudo o qu\e lhe é danoso. Além de o mensalão ter sido a primeira grande fake news no Brasil, martela-se que o impeachment de Dilma Rousseff foi golpe, assim como se tratou de golpe sequencial a prisão de Lula e a consequente impossibilidade de ele concorrer à Presidência em 2018, deixando o caminho aberto para o direitista Jair Bolsonaro.

As ordens judiciais servem como base para a versão e o aparato educacional tratará de fixá-la historicamente como verdade (já o faz nas universidades), transmitindo à posteridade que este trecho da vida nacional foi marcado pelo golpismo reacionário contra um líder popular impoluto e o seu partido de vestais.

Há, contudo, uma questão a ser resolvida: se a Justiça, em sua última instância, primeiramente condenou mensaleiros, avalizou o impeachment de Dilma Rousseff, confirmou acusações no âmbito da Lava Jato e chancelou a prisão de Lula, ela foi golpista ou ingênua? A segunda opção também não é boa. Talvez José Dirceu, que tem inteligência bem acima da média (não vai nenhuma ironia neste aposto), possa ajudar a resolver um ponto essencial para que a história seja reescrita de maneira minimamente plausível.

A importância dos blogs independentes, à luz da liberdade e da democracia

Liberdade de imprensa e liberdade de expressão: Saiba a diferença

Ilustração reproduzida do Arquivo Google

José Dantas Montalvão

Em consonância com as palavras do jornalista Carlos Newton, em recente artigo sobre liberdade de expressão, subscrevo plenamente a importância da existência de blogs independentes na internet. Estes espaços virtuais, livres de amarras ideológicas ou partidárias, assumem um papel crucial na preservação da democracia e na promoção de um debate plural e diverso.

Blogs como a Tribuna da Internet, por exemplo, servem como plataformas abertas ao diálogo franco e à troca de ideias, independentemente da filiação política ou crença pessoal de cada indivíduo. Essa pluralidade de vozes é fundamental para o bom funcionamento de uma sociedade livre e democrática, onde todos os cidadãos têm o direito de se expressar e de serem ouvidos.

PRINCÍPIO BASILAR – A defesa da liberdade editorial, como bem ressaltado no texto, é um princípio basilar para a existência de blogs independentes. Essa independência garante que os conteúdos publicados sejam frutos de análises e reflexões genuínas, sem a interferência de agendas externas ou de pressões ideológicas.

Nesse sentido, a Tribuna da Internet demonstra um compromisso exemplar com a liberdade editorial. Ao se recusar a adotar uma postura editorial única e defender a multiplicidade de ideias, o blog se consolida como um espaço verdadeiramente democrático, onde o debate de ideias se desenvolve de forma autêntica e transparente.

A publicação da denúncia sobre a “Ditadura do Judiciário”, mencionada no texto, é um exemplo eloquente da importância dos blogs independentes em dar voz a temas relevantes e de interesse público.

DEBATE PÚBLICO – Ao trazer à tona essa questão crucial, a Tribuna da Internet cumpre seu papel de informar e conscientizar a sociedade, contribuindo para o debate público e para a construção de uma sociedade mais justa e democrática.

Em suma, a existência de blogs independentes como a Tribuna da Internet é fundamental para a preservação da liberdade de expressão, a promoção do debate plural e a construção de uma sociedade mais justa e democrática. É com grande entusiasmo que acompanho a atuação desse blog e de outros espaços virtuais que defendem os valores democráticos e a liberdade de pensamento.

Que a Tribuna da Internet continue trilhando esse caminho de compromisso com a verdade e com a liberdade, inspirando outros a se unirem à luta pela construção de uma sociedade cada vez mais justa e plural.

O caso das joias de Bolsonaro perde de goleada do caso da conta de luz de Lula

Nani Humor: O PERDÃO JUDICIAL DOS IRMÃOS BATISTA

Charge do Nani (Nanihumor.com)

Mario Sabino
Metrópoles

A maioria dos jornalistas continua muito entretida com as joias sauditas que Jair Bolsonaro teria tentado surrupiar no final do seu mandato. A Polícia Federal primeiramente disse que elas valeriam, no total, R$ 25 milhões. Horas depois da divulgação dessa cifra, veio uma correção: na verdade, elas valeriam R$ 6,8 milhões. A Polícia Federal, como se vê, está cada vez mais científica, e a diferença pouca fala muito da qualidade da investigação.

Em matéria de escândalo, porém, há um incomensuravelmente maior. Ele é que não deveria sair das manchetes, mas que vai ficar por isso mesmo, porque ficou combinado que o único vilão que existe na nossa pitoresca democracia é Jair Bolsonaro.

FORA DA AGENDA – O jornalista Daniel Weterman, do Estadão,  publicou que “executivos da Âmbar Energia, empresa do Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, foram recebidos 17 vezes no Ministério de Minas e Energia fora da agenda oficial antes da edição da medida provisória que beneficiou um negócio da companhia na área de energia elétrica e repassou o custo para todos os consumidores brasileiros.

O ministério e a Âmbar afirmam que não trataram da medida provisória nas conversas, mas não informam o conteúdo dos encontros”.

A derradeira reunião foi entre o presidente da Âmbar, Marcelo Zanatta, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e ocorreu apenas uma semana antes do texto da medida provisória, um presentão do governo Lula para Joesley e Wesley, sair do ministério para a Casa Civil.

PLAY VIDEO – Dez dias após desse encontro, o grupo J&F comprou a Âmbar — que, dois dias depois, seria agraciada com a assinatura da MP. A medida provisória socorreu o caixa da Amazonas Energia para ela poder pagar as termelétricas da Âmbar que são suas fornecedoras. E de quem o grupo J&F comprou a Âmbar? Da Eletrobras. O governo vendeu a empresa para os irmãos Batista e pagou pela sua compra.

Quer dizer, não foi o governo que pagou. Fomos nós. Porque o dinheiro que irá para a empresa dos irmãos Batista, após fazer pit stop no caixa da Amazonas Energia, sairá da conta de luz de todos os brasileiros durante quinze anos. Repetindo: quinze anos. Especialistas no setor calculam que o custo total para os consumidores poderá chegar a R$ 30 bilhões. Agora, vo pode voltar a ler sobre o caso das joias de Bolsonaro. O último a sair, apague a luz.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Mario Sabino tem toda razão. O escândalo das joias não é nada em comparação a essa trama sinistra da energia elétrica. Os irmãos Joesley e Wesley Batista agem como verdadeiras aves de rapina. Mas são amigos especiais de Lula e têm de ser tratados como vice-reis na gatunagem de recursos públicos. O governo (qualquer governo) está curvado diante deles – como dizia Michel Temer, tem de manter isso, viu? (C.N.)

Milei é um agente provocador e Lula caiu na armadilha do argentino

Milei rebate acusação de 'usar substâncias': 'Calúnia e difamação'

Milei faz carreira de maluco e gosta de provocar os rivais

Elio Gaspari
O Globo/Folha

Lula perdeu tempo na segunda-feira ao responder às provocações do presidente argentino, Javier Milei, mesmo sem citá-lo. Foi diplomaticamente elíptico, mas, mesmo assim, era isso que Milei queria. O presidente hermano tornou-se uma ausência relevante na reunião do Mercosul em Assunção. Sua ausência teve um peso superior a uma eventual presença. Para um presidente performático, melhor negócio não há.

As relações do Brasil com a Argentina sempre tiveram altos e baixos mas, pela primeira vez, numa das pontas está um provocador interessado em tirar proveito do tumulto. Caso típico de fanático sem causa.

PERÓN BARRADO – O Brasil já se meteu nos assuntos argentinos impedindo que o ex-presidente Juan Perón descesse em Buenos Aires, em 1964. Já a Argentina, nos anos 70, dedicou-se à tarefa impossível de barrar a construção da hidrelétrica de Itaipu. (As duas ditaduras só se entenderam quando colaboraram para sequestrar e assassinar brasileiros e argentinos.)

Lula respondeu a Milei com tintas de cientista político, condenando o que chamou de “nacionalismo arcaico”. Gastou seu latim. Guardadas as proporções, Milei precisa de um Lula, como Lula precisa de um Roberto Campos Neto.

Noves fora os aspectos pessoais da dissidência de Milei, o Mercosul tornou-se uma bola de ferro presa ao tornozelo da diplomacia brasileira. O bloco está estiolado a ponto de não conseguir consensos para os comunicados conjuntos da rotina diplomática.

ACORDO COM UE – Desde o século passado o Planalto persegue o sonho de um acordo do Mercosul com a União Europeia. O profissionalismo do Itamaraty consegue manter viva uma negociação natimorta, mas a França não quer o acordo e de nada adianta chamá-la de protecionista. (Até porque Lula condena um “nacionalismo arcaico” enquanto seu governo ergue barreiras contra os carros elétricos da China, protegendo montadoras septuagenárias.)

O Uruguai já disse que pretende assinar um acordo comercial com a China. O Brasil não gosta da ideia, mas ela parece a cada dia mais inevitável. Essa é uma questão teoricamente relevante, mas as birras de Milei em torno do Mercosul são ridículas.

 Ele bloqueia iniciativas de gênero, metas ambientais e até mesmo o funcionamento de dois centros de estudos. Nada disso tem a menor importância, pois os países continuarão funcionando (ou não) à revelia do bloco.

RESPEITOSO SILÊNCIO – Há aspectos das relações entre a Argentina e o Brasil que independem dos humores dos governantes. O pior que se pode fazer numa situação dessas é fingir não polemizar, indo-se para condenações elípticas. Se o Brasil prefere não cair nas provocações de Milei deve honrá-lo com um respeitoso silêncio. Afinal, se ele acreditava tirar dividendos de uma ida ao Balneário Camboriú para encontrar-se com Jair Bolsonaro, deu com os burros n’água.

Lula foi exaustivamente aconselhado a esquecer Milei, mas sua compulsão falou mais alto e ele acabou aceitando o desafio para ensinar que “Eu acho que quem perde é que não vem”.

Essa lógica funciona para chefes de Estado convencionais, coisa que Javier Milei não é. Sendo um provocador, ganhou não indo à reunião do Mercosul e ganhará sempre que conseguir chamar a atenção para suas excentricidades.

Nova operação contra “Abin paralela” é mais um duro golpe em Bolsonaro

UM POUCO MAIS DO DE SEMPRE: uma Polícia Federal fardada. – IBSP

Polícia Federal diz ter provas do envolvimento do Planalto

Eduardo Gonçalves, Paolla Serra e Patrik Camporez
O Globo

A Polícia Federal prendeu na tarde desta quinta-feira o quinto alvo da Operação Última Milha – Rogério Beraldo de Almeida. Segundo as investigações da PF, ele mantinha um perfil nas redes sociais que “propagava fake news”. As notícias falsas disseminadas por ele eram repassadas por servidores da chamada “Abin paralela”, segundo a PF.

A nova fase da operação deflagrada nesta quinta-feira mira na relação entre a suposta estrutura clandestina montada dentro da agência de inteligência e os integrantes do chamado “gabinete do ódio”. Esse grupo teria operado entre 2019 e 2022 durante o governo Bolsonaro com o objetivo de monitorar e produzir dossiês contra adversários da gestão passada, segundo a PF.

OUTROS PRESOS – Além de Beraldo, foram presos preventivamente nesta quinta-feira Giancarlo Gomes Rodrigues e Marcelo Bormevet, ex-servidores cedidos para a Abin; o influenciador Richards Dyer Pozzer; e ⁠Matheus Sposito, que foi assessor da Secretaria de Comunicação Social (Secom) no governo passado.

Os cinco mandados de prisão preventiva e os sete de busca e apreensão foram cumpridos nas cidades de Brasília, Curitiba, Juiz de Fora (MG), Salvador e São Paulo. As ações foram autorizadas pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Os alvos são suspeitos dos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.

ABIN PARALELA – Segundo a PF, o objetivo da operação é desarticular uma organização criminosa responsável por monitorar autoridades públicas de forma ilegal e produzir notícias falsas utilizando os sistemas da Abin.

O relatório que fundamentou a fase da operação Última Milha, realizada nesta quinta-feira (11) pela PF, aponta ainda que ministros do Supremo (Moraes, Toffoli, Barroso e Fux), deputados e pelo menos um ex-governador — João Doria (na época do PSDB, hoje sem partido) — e servidores do Ibama e da Receita também foram alvo dos monitoramentos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É duro acreditar nesse tipo de procedimento e operação, quando não se exibem provas e elas ficam em segredo. Sinceramente, chamar isso de Justiça é Piada do Ano. Vejam a prisão de Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro. Até hoje, o advogado Sebastião Coelho não conseguiu ter acesso aos autos e as provas. O ministro Moraes parece ter incorporado o espírito de Franz Kafka e tenta criar no Brasil uma Justiça kafkiana. Vamos ver se esse caso da Abin é falso como o de Filipe Martins ou se tem mesmo sustentação jurídica. Não é possível aceitar que exista acusação e prisão sem defesa.  (C.N.)

Lula fez ‘acareação’ do Ibama com ministros que sonham com licenças ambientais

O presidente Lula e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, durante a coletiva de imprensa do Dia Mundial do Meio Ambiente.

Lula não consegue esconder sua decepção com Marina

Eduardo Gayer
Estadão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) promoveu uma “acareação” da ala ambiental com a ala desenvolvimentista do governo. Em reunião realizada nesta quarta-feira, 10, no Palácio do Planalto, Lula deixou frente a frente o presidente do Ibama, Rodrigo Agostinho, e ministros que têm reclamado nos bastidores de uma suposta letargia proposital do órgão nos licenciamentos ambientais federais, inclusive para o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Estiveram presentes os ministros Marina Silva (Meio Ambiente), Rui Costa (Casa Civil), Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos). O secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, representa a pasta nas férias do ministro Renan Filho. O secretário executivo do Ministério do Meio Ambiente, João Paulo Capobianco, fecha a lista de convocados para a reunião.

DEMANDAS EXCESSIVAS – Ministros ouvidos pela Coluna do Estadão afirmam que o Ibama tem feito “demandas excessivas” e tem um processo regulatório “pouco claro”, que atrasa as entregas do governo Lula. A cúpula do Ibama, por sua vez, assegura que há normalidade no fluxo de trabalho à luz da legislação vigente. O presidente foi eleito em 2022 com a bandeira de proteção ao meio ambiente.

A maior pressão sobre o Ibama neste momento é sobre a exploração de petróleo pela Petrobras na Margem Equatorial. Lula é pessoalmente favorável à iniciativa, assim como Silveira e a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, mas o Ibama ainda não liberou a empreitada.

Auxiliares palacianos dizem que Rodrigo Agostinho travou o processo de licenciamento, que tem ocorrido a conta gotas, por ser contrário à iniciativa do governo.

ESTRADA NA SELVA – Outra polêmica que opõe as alas desenvolvimentista e ambiental do governo é o asfaltamento da BR-319, rodovia que liga Porto Velho (RO) a Manaus (AM) e cruza a floresta amazônica.

A obra é defendida por parlamentares da região Norte e ventilada como uma marca desejada por Renan Filho para sua passagem pelo Ministério dos Transportes.

O Ibama está impedindo a construção e pediu documentos adicionais ao Departamento Nacional de Infraestrutura Terrestre (DNIT), vinculado à pasta, para liberar o início das obras.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Conforme assinalamos nesta quarta-feira, o Brasil precisa de petróleo, mas a ministra Marina Silva opõe os maiores obstáculos à exploração da Margem Equatorial, que é um novo Pré-Sal. Sua atuação é totalmente equivocada, pois está impedindo o desenvolvimento do país. Lula está por aqui com Marina Silva, mas reluta em demiti-la. (C.N.)

Democracia e moderação salvaram a França hoje, mas logo haverá um amanhã

Presidente francês, Emmanuel Macron e o novo primeiro-ministro, Gabriel Attal

Macron mantém o jovem premier Gabriel Attal até fechar a coalizão

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Macron e todos os que acreditam numa sociedade aberta e plural respiram aliviados com o mau resultado do Reunião Nacional nas eleições legislativas francesas. Foi —é preciso lembrar— o melhor resultado de sua história, mas ficou aquém da esperada maior bancada e ainda mais de uma maioria de parlamentares.

Apesar disso, não parece que o discurso nacionalista, anti-imigração e anti-integração global (ou, no caso da UE, continental) vá desaparecer. Ele segue forte e, se seus adversários não conseguirem entregar resultados e narrativas mais persuasivas, crescente. Marine Le Pen declarou que sua vitória foi “apenas postergada”. Está nas mãos de Macron e da coalizão entre esquerda e centro enterrar ou cumprir essa profecia.

COALIZÃO DEMOCRÁTICA – Macron, que depois do primeiro turno parecia o grande derrotado, emerge agora não como o vencedor triunfante, mas como um líder que ao menos conseguiu se manter. A frente partidária vencedora —a Nova Frente Popular, de esquerda— não tem maioria para indicar um primeiro-ministro sozinha. Terá que negociar com os centristas, formar coalizão, algo tão normal para nós. Assim, o próximo primeiro-ministro será alguém de esquerda, mas não um radical.

Isso, mais a realidade das regras fiscais da UE e dos movimentos do mercado, deve proteger o país do terraplanismo econômico de um Mélenchon, líder do França Insubmissa, partido mais radical da NFP. Um parlamento fragmentado, que ao menos depende dos centristas é melhor para o presidente do que um no qual direita ou esquerda pudessem governar sozinhas.

DOIS ELEMENTOS – Analisando essa vitória de esquerdistas e centristas, dois elementos saltam aos olhos. O primeiro é a importância das regras eleitorais. A eleição em dois turnos incentiva a moderação e a formação de alianças. Vimos isso no Brasil em 2022: Lula ganhou por um fio, graças à aliança com Simone Tebet e com a pequena parcela de eleitores liberais da “terceira via”.

A diferença é que a aliança na França cobrava um preço mais alto: diversos candidatos tiveram que abrir mão de suas candidaturas. E assim chegamos ao segundo elemento: uma disposição inédita, tanto de centristas quanto de esquerdistas, de colocarem suas diferenças de lado para juntos combaterem a direita nacionalista. Esse tipo de abnegação virtuosa não se vê todo dia. A estratégia deu certo.

Do outro lado do Canal da Mancha, em 4 de julho, a esquerda também teve uma vitória avassaladora. O Partido Conservador caiu de podre depois de 14 anos no poder. Nesse meio tempo, os trabalhistas expulsaram sua ala mais radical e deram uma guinada ao centro.

ERRAR E CORRIGIR – A ala do Partido Conservador que defendia o brexit teve sua chance. Depois de todas as promessas, chegou o momento de entregar a melhora na qualidade de vida, que não veio, e a população se cansou. Democracia é também a possibilidade de errar, aprender e corrigir os erros.

Regras do jogo racionais —que estimulam a moderação— e respeitadas e disposição de fazer política para construir frentes amplas deram conta do desafio de hoje. Mas ele continua posto no amanhã. E, aí, não haverá mera estratégia eleitoral que dê conta. Será preciso mostrar à sociedade que a direita nacionalista não tem respostas para os problemas que ela própria foi pioneira em apontar.

E isso passa por reconhecer esses problemas —os custos da imigração e da integração regional—, implementar soluções concretas e traçar uma narrativa que vença o pessimismo reacionário. Na falta disso, chegará uma hora em que essa direita também terá sua chance no poder. Democracia tem dessas.

Em São Paulo, Tarcísio de Freitas mostra que se tornou irredutivelmente autoritário

Tarcísio de Freitas é eleito governador de São Paulo

Tarcísio demonstra seu autoritarismo ao internar viciados à força

Hélio Schwartsman
Folha

Deu na Folha que o número de internações involuntárias de usuários de crack na capital paulista disparou no último ano. Ao que tudo indica, isso é um reflexo da política de combate às drogas adotada pelo governo de Tarcísio de Freitas.

Há poucas coisas tão complexas e difíceis quanto os transtornos mentais. Se, em condições normais, a marca do ser humano já é a diversidade, ela ganha escala logarítmica quando falamos de doenças mentais.

IMENSO DESAFIO – Aí, cada caso é um caso. O que funciona para um paciente ou mesmo para muitos pacientes não funciona para outro grupo, de modo que o sistema precisa ter abertura para lidar com múltiplas situações.

Mesmo com esse considerando, penso que é um erro abraçar uma política pública que amplie as internações involuntárias. Há muito poucas vagas para tratamento de dependentes de álcool e drogas no SUS e a procura é grande. A maior parte das pessoas que deseja uma internação não a consegue.

Os índices de sucesso desse tipo de tratamento, que já não são brilhantes quando o paciente quer submeter-se a ele, pioram significativamente quando ele é imposto contra sua vontade. Parece óbvio, portanto, que as escassas vagas devem ser destinadas àqueles que têm maiores chances de utilizá-las bem.

LEI DITATORIAL – Outra objeção é de ordem jurídica. A lei nº 10.216, que disciplina as internações involuntárias, é um escândalo. Ela permite que um indivíduo seja privado de sua liberdade, em tese sem limite de tempo, por determinação de um psiquiatra (e não de juiz) e sem direito a segunda opinião médica ou revisão judicial, o que é assegurado até a assassinos confessos.

Na forma em que está, a lei funciona não só para promover intervenções genuinamente sanitárias, mas também, e aí de forma deturpada, como ferramenta de controle policial. Não é uma coincidência que governos irredutivelmente autoritários como o de Freitas morram de amores pelas internações involuntárias.

Legalizar cassinos é solução e há como mitigar os riscos associados à atividade

Roleta | Casino Estoril

Há cassinos no mundo todo, abrindo empregos e oportunidades

Deu em O Globo

Desde 1946, quando cassinos e jogos de azar foram proibidos no Brasil, nada impediu que a jogatina se expandisse na clandestinidade — basta lembrar a popularidade do jogo do bicho. O Estado se tornou o único banqueiro autorizado com as loterias, mas o poder público deixou de exercer sua função de regulador.

Com a internet, o brasileiro passou a apostar em sites no exterior, sem ter a quem reclamar caso enganado. Só com a recente regulamentação das apostas esportivas a situação começou a mudar.

PROJETO DE LEI – Um novo passo é o Projeto de Lei que legaliza cassinos, bingos e o jogo do bicho, aprovado na Câmara e na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado.

Passados 78 anos da proibição, está claro que a melhor alternativa é legalizar o jogo. É preciso tomar cuidados para mitigar riscos como lavagem de dinheiro ou dependência dos apostadores. Mas há formas de punir responsáveis por manipulações criminosas.

E sobram exemplos no mundo para inspirar a regulação de cassinos e outras modalidades de apostas. “Os indicadores econômicos e sociais dos países melhoraram, não houve aumento da violência nem da evasão fiscal”, diz o senador Irajá (PSD-TO), relator so projeto na CCJ do Senado.

BONS EXEMPLOS – Ao legalizar o jogo, o Brasil seguirá o exemplo de países como Estados Unidos, China, Índia, Alemanha, Japão, França, Itália, Reino Unido ou Austrália. Só em solo americano há mais de mil cassinos em 40 estados, empregando 1,7 milhão e movimentando US$ 240 bilhões anuais.

Numa amostra de 200 países analisados pela revista médica britânica The Lancet, 164 permitem algum tipo de aposta. De 50 europeus, 48 convivem com jogos de azar. Nas Américas, o Brasil está em minoria: 33 de 37 países não proíbem o jogo, preferem regulá-lo e taxá-lo.

No estado americano de Nevada, onde fica Las Vegas, duas agências licenciam, regulam e fiscalizam o setor. Quem detém mais de 10% do capital das empresas de jogos passa por escrutínio rigoroso e tem de preencher 65 páginas de formulários.

OUTRAS SALVAGUARDAS – Também são avaliados produtores e distribuidores de equipamentos como caça-níqueis.  E a legislação contra lavagem de dinheiro equipara cassinos a instituições financeiras para efeito de fiscalização.

No Reino Unido, a Comissão de Jogos de Azar protege os interesses dos apostadores. No final de abril, multou uma operadora em £ 582 mil por falhar nos cuidados contra lavagem de dinheiro.

Em Macau, a Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos exige que o principal responsável por cassinos tenha residência permanente e detenha pelo menos 15% do negócio. Executivos são submetidos a testes de aptidão. A concessão vale por dez anos, mas há fiscalização e renovações a cada três.

OUTROS CUIDADOS – No Brasil, o projeto limita a quantidade de cassinos por estado e tenta integrá-los a resorts e polos turísticos. Entre os cuidados, há medidas para evitar endividamento e lavagem de dinheiro. Não será permitido apostar em espécie.

Cria-se também uma autoridade nacional, que precisa ter plenos poderes para coibir os abusos. A expectativa é uma movimentação inicial de R$ 14 bilhões anuais e, no futuro, arrecadação de R$ 20 bilhões em impostos.

Um mercado fortemente regulado com medidas inspiradas nas melhores práticas internacionais é preferível à situação atual. A proibição jamais funcionou na prática. Tomados os devidos cuidados, legalizar o jogo será melhor.

Polícia Federal descreve espécie de ‘caixa dois’ que desviava joias para Bolsonaro

Joias valiam R$ 7 mi e venda dos itens custeou Bolsonaro nos EUA, conclui  PF – Band AM

PF faz o que pode para agravar a questão das joias e relógios

Bruno Boghossian
Folha

A Polícia Federal descreve no inquérito das joias o funcionamento de uma máquina que reproduz marcas conhecidas da relação de Jair Bolsonaro com o poder. Uma delas é o uso das estruturas oficiais do governo para fins particulares. Outra é a confusão deliberada entre bens públicos e patrimônio privado.

Esses dois desvios aparecem no que poderia ser descrito como uma espécie de “caixa dois” de presentes recebidos pelo então presidente. Segundo a PF, o departamento responsável pela catalogação desses bens deixava de registrar certos itens quando Bolsonaro manifestava interesse neles.

LISTA OFICIAL – Pelas regras, o Gabinete Adjunto de Documentação Histórica tinha o dever de produzir uma lista de presentes entregues a Bolsonaro. Em seguida, eles poderiam ser incorporados ao acervo público ou ao acervo privado do presidente, a partir de uma análise técnica.

Mas o militar da Marinha que chefiava o órgão, dizem os investigadores, “dava tratamento aos presentes conforme os interesses do chefe do Executivo”. Numa troca de mensagens de áudio com um funcionário do setor administrativo do Palácio da Alvorada, o capitão de corveta Marcelo Vieira recomenda que alguns itens não sejam catalogados.

“Se o presidente falar: ‘Eu quero agora sem registro’, não manda para o GADH registrar, não preenche a papeleta”, disse. Vieira afirmou que esse procedimento deveria ser feito para objetos que Bolsonaro gostaria de “usar na vida cotidiana”. Nesses casos, determinou: “Você pode guardar lá, só que isso não dá entrada oficialmente”.

TER CUIDADO – A recomendação veio acompanhada de um alerta: a omissão dos bens só deveria ser feita quando a entrega dos presentes não fosse pública. “Teve registro fotográfico? Quem deu, foi uma autoridade?”, questionou. “Tem que ter todo um cuidado pra que a gente não exponha o presidente”.

A conversa de Vieira com o funcionário do Alvorada ocorreu em setembro de 2021 e tratava de um conjunto de seis facas recebidas por Bolsonaro.

A PF, porém, afirma que o modus operandi foi usado para ocultar o relógio Patek Philippe que Bolsonaro recebeu em visita ao Bahrein e seria vendido no ano seguinte.

CONTRADIÇÃO – O diálogo contradiz o depoimento de Vieira aos investigadores. Na ocasião, ele disse que a avaliação dos bens não levava em conta o valor ou o “gosto do presidente”.

Afirmou ainda que todos os presentes seriam direcionados ao acervo público ou ao acervo privado

O advogado de Marcelo Vieira afirma que o indiciamento é resultado “de uma desmedida tentativa de perseguição a outras pessoas” e que as atividades de seu cliente no Gabinete Adjunto de Documentação Histórica “foram realizadas no sentido de manter total zelo e cuidado” com bens públicos.

Por se considerar “o melhor presidente do mundo”, Lula deve odiar pesquisas

Pesquisa Quaest: 36% avaliam positivamente o governo Lula; gestão é  negativa para 29% | LIVE CNN - YouTubeFabiano Lana
Estadão

Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira, dia 10, mostra que Lula conta com 36% de ótimo e bom, 30% de regular e 30% de ruim e péssimo. Embora indiquem um avanço, o presidente Lula deve estar achando péssimo o resultado, diante de suas recentes declarações em visita a Diadema (SP), este mês, na qual foi explícito no messianismo e afirmou que ele é “o povo na presidência da República”.

O que se viu no pronunciamento de Lula foi um longo autoelogio no qual argumenta que, por sua trajetória única, pode se considerar o dirigente mundial mais capaz de conduzir sua população – talvez em todos os tempos.

MELHOR MOMENTO – Para a plateia favorável, ele afirmou que vive o melhor momento de sua vida política, mesmo que não viva a fase mais popular de sua trajetória.

“Quando deixei dia 31 de dezembro o meu mandato, eu tinha 87% de bom e ótimo. Eu tinha 10% de regular e eu tinha 3% de ruim/péssimo. Nunca antes na história do país um presidente terminou tão bem. Agora o mundo político mudou. A coisa está mais polarizada”, lamentou.

Logo depois ele lembrou que no começo de seu mandato, em 2003, foi convidado para ir à cidade de Evian, na França, para a cúpula do G7, o grupo de países mais ricos do mundo. “Eu fui o primeiro presidente do Brasil e da América Latina a ser convidado a participar da reunião em Evian”, se gabou.

CHEGA BUSH – No dia do encontro, segundo o relato do presidente, todos os mandatários se levantaram para receber o então presidente americano George Bush, menos ele.

“A gente não vai levantar. Por respeito a nós mesmos. Ninguém levantou quando nós chegamos. Por que que a gente vai levantar para o Bush?”, teria dito ao então chanceler Celso Amorim. “Aconteceu uma coisa fantástica. O Bush sai da mesa de cumprimento dos outros e vai sentar exatamente na mesa que eu estava com o Celso Amorim e com o Kofi Annan (secretário geral da ONU). Qual é a lição que eu tenho disso? Ninguém respeita quem não se respeita. Se você se respeitar, todas as pessoas te respeitam”.

Mas o grande aprendizado, segundo Lula, veio mais tarde. O presidente brasileiro teve uma espécie de epifania no evento. Entre todos os chefes de Estado lá presentes, da Inglaterra, da Itália, da Arábia Saudita, da Alemanha, ninguém contava com uma vivência tão significativa como ele próprio das dificuldades da população.

DISSE LULA -“Porra, eu tô vendo esses presidentes, tudo gente famosa na televisão. Tô vendo todo mundo lá. Será que alguns caras desses já passaram fome? Será que algum cara desse já ficou desempregado? Será que um cara desse já viu a casa dele encher d’água e colocar sanguessuga na sua canela e lesma na parede? Veio cocô boiando, barata tentando se salvar e rato? Não, nenhum deles. Eu já tinha”.

Daí, após essa declaração imponente, o presidente Lula concluiu o discurso com o aforismo que pode ficar célebre como um dos grandes momentos do populismo brasileiro:

“Porque eu descobri que eu não sou eu. Eu descobri que eu sou vocês. E é vocês que estão na Presidência da República desse país. É o povo. É o povo que pela primeira vez teimou, teimou”.

O NÚMERO UM – O que Lula deixou revelar sobre si mesmo em Diadema? Que tem a completa convicção do que a população brasileira (e talvez a mundial) precisa e como lidar com isso. Que ninguém pode ser melhor que ele. Não tiveram sua vivência, não tiveram sua trajetória, não sabem como vivem os mais miseráveis de seus povos.

Em certo sentido Lula tem razão. Seu itinerário de vida do agreste pernambucano, das periferias de Santos, das lutas sindicais até a presidência da República, da prisão, e novamente presidência, é realmente admirável, talvez inigualável.

Mas Lula não é o primeiro da história mundial que prosperou politicamente chegando de muito baixo. Há até casos paradoxais que o contradizem. Em Cuba, Fidel Castro, de família próspera, derrubou um ditador mestiço de origem humilde, Fulgêncio Batista, que havia sido cortador de cana antes de se tornar sargento.

Já Franklin Roosevelt, o presidente que enfrentou e venceu não só a II Guerra, mas também a depressão americana, retirando milhões da pobreza, era um nova-iorquino de família abastada com outra passagem na Casa Branca.

OUTROS EXEMPLOS – Mesmo no Brasil já tivemos presidentes de origem humilde, como Nilo Peçanha, também mestiço (alguns o consideram o nosso primeiro presidente negro), descendente de pequenos agricultores, e mesmo Juscelino Kubitschek. Sua terra natal, Diamantina, era decadente e isolada no começo do século 20.

A presunção de Lula é achar que ninguém pode ser comparado a ele, ninguém pode superá-lo. E, mais perigoso, em seu terceiro mandato, é pensar que ninguém pode confrontá-lo, contraditá-lo, questioná-lo.

Ter vivido o que viveu não o torna infalível porque ninguém o é. Como sonha em ter de volta a quase unanimidade já obtida em 2010, e não tem nem a metade daqueles números, que a soberba não prenuncie a ruína.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caraca! Além de ter um Supremo inerrável, que pela Súmula 606 eliminou qualquer possibilidade de recurso contra decisão errada dos ministros, mesmo que seja monocrática, agora temos também um presidente inerrável, o melhor do mundo, primus inter pares, como se dizia na Roma Antiga, que nem consegue resolver os problemas do Brasil, mas não permite ser comparado a outros governantes daqui e do exterior. Em matéria de vaidade, portanto, Lula realmente é o número um. Mas como ser humano, é apenas um ex-presidiário, condenado dez vezes por corrupção e lavagem de dinheiro, cujo desequilíbrio mental é cada vez mais evidente. (C.N. 

Moraes recebe documento que o obriga a enfim soltar ex-assessor de Bolsonaro

Moraes dá 15 dias para PGR avaliar se denuncia Bolsonaro no caso das joias  | VEJA

Moraes cometeu vários erros e manteve uma prisão ilegal

Paolla Serra
O Globo

A operadora de telefonia Tim encaminhou ao ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), a geolocalização de Filipe Martins, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mostrando que ele esteve no Paraná e em Brasília, no final de 2022. Martins tenta provar ao magistrado que não viajou a bordo do avião do governo brasileiro, burlando o sistema migratório dos Estados Unidos, nesse mesmo período.

O documento foi juntado na tarde desta quarta-feira ao inquérito em que Martins é investigado. O ex-assessor de Assuntos Internacionais foi preso preventivamente pela Polícia Federal, em 8 de fevereiro deste ano, durante a deflagração da Operação Tempus Veritatis, que apurava uma suposta organização criminosa que teria atuado para manter Bolsonaro no poder por meio de uma tentativa de golpe Estado e abolição do Estado Democrático de Direito.

MINUTA DO GOLPE – A trama, segundo o inquérito, teria envolvido a entrega da minuta e a preparação para realizar um golpe de Estado “com apoio de militares com conhecimentos e táticas de forças especiais em ambiente politicamente sensível”.

De acordo com o relato da delação premiada de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Martins elaborou uma suposta minuta golpista após o resultado das eleições em 2022 que previa a prisão de Moraes e uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com informações levantadas pela PF, o ex-assessor esteve no Alvorada nos dias 18 de novembro e 16, 20 e 21 de dezembro de 2022.

No pedido de prisão encaminhado pela PF a Moraes, os investigadores apontam que Martins viajou “sem realizar o procedimento de saída com o passaporte em território nacional” para “se furtar da aplicação da lei penal”.

MARTINS NEGA – Desde que o mandado foi cumprido na casa de sua namorada, em Ponta Grossa, no Paraná, ele nega que tenha deixado o Brasil e que tenha atuado para elaborar uma minuta golpista.

O ex-assessor já enviou a Moraes faturas do cartão de crédito com despesas em aplicativos no Brasil, como Uber e iFood, além de passaporte, certidão do órgão encarregado pela segurança nas fronteiras americanas. No mês passado, ele apresentou novas certidões em que contesta um comprovante obtido pela PF junto ao site do U.S. Customsand Border Protection (CBP) — que atesta sua entrada em Orlando em 30 de dezembro de 2022.

“A Polícia Federal poderia ter requerido acesso à lista oficial e definitiva de passageiros do vôo diretamente na Presidência da República, mas preferiu ficar com um rascunho de suposta lista, um documento extra-oficial (pois encontrado apenas nos aparelhos eletrônicos do delator Mauro Cid, e não corroborado pelos órgãos pertinentes, pelos arquivos oficiais ou pelos canais próprios), meramente rascunhado, editável, o que é pior ainda, pois poderia ter sido editada pelo próprio delator – e foi com base nisso, nessa prova imprestável, que a Polícia Federal, demonstrando toda a sua diligência, requereu a prisão do peticionante, a qual foi aceita e já dura quatro meses”, afirmou a defesa do ex-assessor.

COMPROVAÇÃO – Na petição, o advogado Sebastião Coelho relatou que o documento formalmente emitido pelo órgão de proteção de fronteiras do governo americano atesta que Martins entrou no país pela última vez em setembro de 2022.

Na ocasião, ele estaria acompanhando Bolsonaro na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque.

A admissão teria acontecido para a classe de visto G-2, fornecido a “representantes do governo viajando temporariamente para participar de reuniões em organizações internacionais”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, o ministro Moraes errou feio e repetidamente, em especial porque preferiu acreditar em acusação leviana da Polícia Federal, ao invés de se submeter às múltiplas provas apresentadas. Agora, Moraes vai ter de soltar Filipe Martins, depois de deixá-lo preso ilegalmente por cinco meses, o que evidencia a existência de uma ditadura do Judiciário, pois os ministros do Supremo se comportam como se estivessem acima da lei. É lamentável. (C.N.)

Controlar gastos parece difícil, porém é mais eficiente do que elevar receitas

Charge do Bruno (Arquivo Google)

Henrique Meirelles
Estadão

As próximas duas semanas serão decisivas para o Brasil, com a tramitação do primeiro projeto que regulamenta a reforma tributária. Como já disse aqui, o maior avanço é a simplificação do sistema de cobrança de impostos, que aumenta a produtividade e pode atrair mais investimentos. Mas é preciso que seja feito um bom trabalho na Câmara até o dia 18 (prazo dado para a votação) para que a alíquota básica seja a mais baixa possível e a mais justa para todos.

O tema é complexo. O texto tem 335 páginas e será muito discutido e modificado, pois seu objetivo é fixar as alíquotas que incidirão sobre todos os produtos e serviços do País. As projeções do governo indicam que a alíquota-base ficará entre 26% e 27%, uma das mais altas do mundo.

LOBISTAS EM AÇÃO – Todos os grupos econômicos vão trabalhar para que seus negócios paguem uma alíquota menor. Já há notícias de movimentações neste sentido, como tentativas de incluir carne entre os produtos da cesta básica (isentos de impostos) ou reclamações pela inclusão de jogos de azar e carros elétricos no Imposto Seletivo, com alíquota mais alta.

É natural do mercado e da democracia que isso ocorra. Mas é preciso ter em mente que, quanto mais forem os beneficiados por descontos na alíquota-base, mais todos os outros terão de pagar, pois a arrecadação tem de se manter no nível atual.

E este é o ponto mais importante: a reforma tributária sozinha não será capaz de proporcionar a arrecadação desejada por este governo ou pelos futuros. Por isso, é preciso cuidar de reduzir despesas.

CONTROLAR DESPESAS – Se quiser voltar a crescer no nível que precisa para atrair mais investimentos, gerar crescimento, emprego e renda, o Brasil precisa de um sistema tributário mais simples e racional.

Mas necessita, na mesma proporção, de um sério controle de despesas, não há dúvida.

O governo precisa avaliar a eficiência de seus gastos, revisar programas, recalcular benefícios fiscais e, assim, limitar o avanço dos gastos. Afinal, no Brasil, este avanço é praticamente inercial.

REFORMA ADMINISTRATIVA – Se o Brasil conseguiu produzir a reforma tributária depois de 30 anos de discussões e impasses, é plenamente capaz de fazer uma reforma administrativa que reduza os custos da máquina pública, ainda mais com dois projetos em andamento.

A oportunidade de agir nas duas pontas – da arrecadação e do gasto – não deve ser desperdiçada.

Controlar gastos é difícil e trabalhoso, requer definir prioridades, dizer muitos “nãos”, porém é mais eficiente do que buscar receitas extraordinárias o tempo todo para fechar as contas. Política social se faz com política fiscal responsável.

“Passando vergonha”, diz o editorial do The New York Times sobre Joe Biden

The New York Times', 'The Wall Street Journal' e 'The Economist' pedem que  Biden desista da candidatura à presidência dos EUA | Eleições nos EUA 2024  | G1

New York Times pede mais uma vez que Biden desista

Laura Braga
Metrópoles

O jornal The New York Times voltou a defender que o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (Partido Democrata), desista de se candidatar à reeleição. Ele tem afirmado que disputará as eleições do país contra o republicano Donald Trump, em 5 de novembro.

No editorial publicado nessa terça-feira (9/7), o jornal americano disse que o presidente dos EUA, de 81 anos, está “passando vergonha, “colocando seu legado em risco” e aponta que Biden “parece inapto” ao manter a candidatura.

FEZ PROMESSA – Biden se comprometeu a cumprir um segundo mandato inteiro se for reeleito, afirmou sua porta-voz, Karine Jean-Pierre. Um segundo mandato terminaria em 2028, quando o democrata terá 86 anos.

Desde o último dia 27 de junho – data do primeiro debate eleitoral –, aumentou a pressão para que Biden desista de concorrer ao pleito, em razão do mau desempenho dele.

Na ocasião, o presidente se mostrou confuso, hesitante e pouco reativo. Depois, admitiu não ter ido bem, mas vem insistindo que tem capacidade para seguir na disputa.

DOIS INAPTOS – The New York Times chama Biden e Trump de inaptos. O editorial destaca pontos polêmicos e que circulam nos bastidores das eleições. Diz, por exemplo, que políticos democratas “que querem derrotar Trump” devem “falar claramente” com Biden para que ele desista.

Também iguala os candidatos republicano e democrata, ao dizer que uma vitória de Trump, “um inapto a ser presidente”, colocaria em risco a democracia e que ainda há tempo de convencer os eleitores a esse respeito.

“Mas os democratas terão dificuldade (…) enquanto seu próprio representante for um homem que também parece inapto para servir como presidente pelos próximos quatro anos”, afirma.

INSISTÊNCIA – Foi o segundo editorial do NYT sobre o assunto. Em 28 de junho, um dia após o debate, o jornal já havia defendido a desistência do presidente.

Outros veículos também já se manifestaram nesse sentido: na semana passada, a revista britânica The Economist mostrou um andador na capa para dizer que o presidente não tem condição de comandar o país.

O agregador de pesquisas do site americano 538 aponta que Trump é escolhido por 42,1% dos eleitores; Biden tem 39,9%. Em uma carta enviada na segunda-feira (8/7) a deputados, Biden confrontou membros do Partido Democrata e recusou novamente o pedido para que decline da ideia de disputar à Casa Branca. Ele pediu ainda que os deputados deixem de pressionar por sua desistência.

DISSE BIDEN – “Temos 42 dias para a Convenção Democrata e 119 dias para as eleições gerais”, disse Biden na carta, distribuída por sua campanha de reeleição. “Qualquer enfraquecimento da determinação ou falta de clareza sobre a tarefa que temos pela frente só ajuda Trump e nos prejudica. É hora de nos unirmos, avançarmos como um partido unificado e derrotar Donald Trump.”

Na terça, congressistas democratas se reuniram para discutir a situação de Biden. O presidente ganhou apoio de alguns parlamentares, embora ainda não haja consenso, segundo relato da Agência France Presse.

Nesta semana, Biden participa de reunião em comemoração aos 75 anos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). O evento pode oferecer uma trégua temporária — ou ser a última batalha do presidente, uma vez que qualquer deslize pode aumentar as resistências contra ele.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Com o mesmo problema de idade e de dizer bobagens em série, Joe Biden e Lula da Silva são dois velhos perdidos numa política suja, como diria o genial dramaturgo e ator Plínio Marcos. (C.N.)

No futuro, não será a História que julgará os tiranos, mas o riso das plateias

Como Stálin escondeu sua cooperação com os nazistas durante a 2ª Guerra  Mundial

Hitler e Stálin, retratados da maneira que realmente merecem

João Pereira Coutinho
Folha

É uma história que sempre me intrigou: em junho de 1934, o camarada Stálin telefonou ao escritor Boris Pasternak. O motivo do telefonema era inusitado: o que tinha Pasternak a dizer sobre o poeta Osip Mandelstam, preso um mês antes por ter recitado um poema satírico sobre o tirano?

Na versão contada anos depois por Isaiah Berlin, a única que conhecia, Pasternak foi esquivo nas respostas: alegou não ser íntimo de Mandelstam e depois tentou mudar o tema da conversa para assuntos mais metafísicos.

Stálin, antes de terminar abruptamente com o telefonema, criticou Pasternak por não defender o amigo.

NUNCA SE PERDOOU – A história correu Moscou e Pasternak nunca verdadeiramente se perdoou. Mandelstam, torturado em 1934, acabaria por morrer no exílio em 1938. Aprendo agora que essa não é a única versão. Existem, pelo menos, 13 versões, escreve Ismail Kadaré no seu derradeiro livro, “A Dictator Calls”, ou um ditador telefona.

Era inevitável que Kadaré, morto aos 88 anos, revisitasse esses três minutos de conversa entre Stálin e Pasternak. Na literatura europeia do nosso tempo, ninguém escreveu mais ou melhor sobre a relação entre o totalitarismo e a vida intelectual do que Kadaré.

Nenhuma das versões apresentadas iliba Pasternak. Em todas elas, o escritor não defende o colega. Em todas, Stálin critica Pasternak por não ser capaz de o fazer.

MAS POR QUÊ? – O interesse do livro, porém, está na busca obsessiva de porquês. Por que motivo Stálin telefonou a Pasternak? E por que motivo Pasternak falhou neste teste trágico?

Comecemos pelo autor de “Doutor Jivago”. Falhou por inveja, talvez. Como excluir esse veneno silencioso que corre livre entre a república das letras? Ou, então, falhou por medo, para não sermos tão cínicos.

Não foi apenas Mandelstam a parodiar Stálin no seu círculo de amigos —”o alpinista do Kremlin”, com “dez vermes grossos [como] seus dedos” e “enormes baratas risonhas no seu lábio superior” etc. Pasternak também o retratara em tempos como um anão em corpo de adolescente e com um rosto de velho.

TEMOR Á DENÚNCIA – Estaria Pasternak a pensar no seu próprio currículo? Ou temia que, sob tortura, Mandelstam o denunciasse como uma das testemunhas da sua ofensa poética?

Em caso afirmativo, a ambiguidade de Pasternak também pode ser vista como uma estratégia de defesa.

É legítimo especular. Mas é supérfluo também. As respostas de Pasternak —não somos íntimos, não pertencemos à mesma escola poética, falemos de outros assuntos— só revelam o terror do espírito perante a brutalidade do poder tirânico.

OUTRO EXEMPLO – O próprio Ismail Kadaré relata uma experiência semelhante: o dia em que o ditador albanês Enver Hoxha lhe telefonou inesperadamente para o congratular por um poema.

A reação de Kadaré, que era um crítico sutil do regime, foi uma mistura de pasmo e angústia, servida por sucessivos “obrigados”. Nenhum heroísmo.

Mas por que Stálin telefonou? Para testar a lealdade do escritor ao regime? Para saber até que ponto a paródia de Mandelstam se tornara conhecida entre a “intelligentsia” russa? Nesse último caso, não será a fragilidade do tirano, o seu medo do ridículo, o seu temor ante a perenidade da arte, mais patético do que as hesitações de Pasternak?

RICARDO III – Como lembra Ismail Kadaré, o rei Ricardo 3º da Inglaterra não terá sido o monstro pintado por Shakespeare, mas é como monstro que ele ficou.

E lembra mais: Lênin sempre temeu as caricaturas selvagens dos mais talentosos escritores russos, razão pela qual poupou e cortejou Maximo Górki.

Quando Stálin telefona a Pasternak, talvez estivesse interessado em saber a opinião do maior escritor do seu tempo sobre o lugar que ele, Stálin, ocuparia nas belas-letras.

PENA E ESPADA – Para usar o ditado célebre, a pena pode ser mais poderosa do que a espada. O comentário final de Stálin, criticando Pasternak pela sua falta de coragem na defesa de Mandelstam, é tão patética e descabida que apenas revela uma frustração mais profunda.

No fim das contas, é a frustração que habita o coração dos tiranos. Embriagados pelo poder, rodeados de lisonjas e mentiras, eles temem e invejam o talento dos criadores livres.

E sabem, inconscientemente que seja, que não será a história a julgá-los; serão os risos da plateia quando seus cadáveres forem expostos sem máscaras. É por isso que a obra de Boris Pasternak ou Ismail Kadaré perdurarão. A poesia de Mandelstam também. Stálin ou Enver Hoxha serão apenas piadas de mau gosto.

Lula defende a candidatura trôpega de Biden e diz que “votaria nele”

Em dia de julgamento no TSE, Bolsonaro aciona STF contra Lula | Metrópoles

Lula acha normal Biden forçar candidatura aos 81 anos

Karolini Bandeira
O Globo

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a comentar sobre a candidatura à reeleição do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, afirmando que “votaria nele” se fosse um eleitor do país. Em 27 de junho, Biden teve um desempenho desastroso em debate contra Donald Trump e justificou que estava doente.

O presidente brasileiro retomou os comentários feitos nas últimas semanas, sobre a decisão de concorrer ou não à Presidência americana caber somente a Biden.

DISSE LULA — “Somente o Biden se conhece bem, somente ele sabe se ele pode ou não pode (concorrer). Ele tem que tomar a decisão (…) mas se eu fosse eleitor americano, eu votaria nele” — declarou Lula a jornalistas em Assunção nesta segunda-feira.

Pressionado a abandonar a candidatura à reeleição nos EUA, Joe Biden reconheceu o mau desempenho no debate contra Trump em 27 de junho. Na primeira entrevista na TV desde então, disse na sexta-feira que “estava exausto” e “doente” no dia do embate, e que chegou a ser submetido a exames antes de entrar no palco.

Apesar da pressão, o presidente não parece disposto a abandonar a disputa, e afirmou, em sua primeira entrevista após o debate, que só desistiria “se Deus Todo Poderoso” pedisse diretamente para ele.

NÃO DESISTE – Em carta a aliados do Congresso, divulgada nesta segunda-feira, Biden reiterou que estava “firmemente comprometido em permanecer na disputa”, uma mensagem aos aliados no Capitólio que têm vindo a público pedir para que abandone a corrida presidencial.

 O presidente também ligou para o programa Morning Joe, da rede MSNBC, para afirmar que não se importava com nenhum dos “grandes nomes” que o pressionavam.

“Se algum desses caras acha que eu não deveria concorrer, concorra contra mim” — afirmou, desafiando: “Anuncie sua candidatura a presidente. Desafiem-me na convenção em agosto”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Joe Biden é uma derrota antecipada; Lula da Silva, também. A longevidade é inimiga da política. Nenhum governante se reelegeu com a idade que Biden e Lula pretendem: 81 anos. No caso de Lula, essa idade será completada antes do segundo turno, em 27 de outubro de 2026. Alegam que estão se sacrificando em nome do país, mas é apenas em nome da vaidade e da ambição. C.N.)