Vice-presidente Kamala Harris desponta como possível candidata pós-Biden

Kamala Harris discursa durante evento na Universidade de Maryland

Kamala Harris tem chance de ser a primeira mulher eleita nos EUA

Guga Chacra
O Globo

Assim como muitos eleitores nos Estados Unidos e pessoas que acompanham a política americana, fiquei decepcionado com o desempenho de Kamala Harris como vice-presidente. Após a vitória de Joe Biden em 2020, a expectativa era de que ele permanecesse apenas um mandato, abrindo espaço para essa política se candidatar quatro anos mais tarde e tornar-se a primeira mulher eleita para a Presidência.

Esta possibilidade se esvaiu com a queda na popularidade dela ao longo do mandato e passou a ser algo improvável.

APÓS O DEBATE – Passada uma semana do catastrófico desempenho do atual ocupante da Casa Branca no debate contra o ex-presidente Donald Trump, e após uma série de nomes serem sondados para uma possível desistência de Biden, o nome de Kamala disparou nas bolsas de apostas desde terça como o mais provável para encabeçar a chapa democrata. Antes disso, claro, depende da desistência da cada vez mais inviável candidatura de Biden.

A pressão para o presidente abrir mão da candidatura cresce, embora ainda não possamos descartar que ele queira seguir mesmo diante de uma provável derrota para Trump, que não esconde seus desejos de enfraquecer a democracia americana.

A pergunta que fica é sobre o motivo de escolher Harris e não um dos populares governadores e governadoras democratas em diferentes estados.

OUTRA MULHER – Para citar uma mulher, há Gretchen Whitmer, que governa Michigan, um dos mais importantes estados-pêndulo, como são conhecidos aqueles sem predomínio democrata ou republicano. Reeleita, desfruta de enorme popularidade. Sem dúvida, poderia ser uma alternativa, assim como uma série de outros governadores.

Como não houve primárias, no entanto, fica difícil saber da viabilidade de cada um destes nomes ou para que surjam figuras inesperadas, como foi o caso de Jimmy Carter em 1980 e de Bill Clinton, em 1992.

Um democrata popular que governa um estado conservador atualmente é Andy Beasher, do Kentucky.

SOLUÇÃO SIMPLES – Kamala Harris, embora longe de ser uma candidata ideal como Barack Obama em 2008, não pode ser descartada apenas porque decepcionou. Cabe aos democratas decidirem, claro.

Mas podemos delinear alguns pontos para indicar que talvez a atual vice-presidente seja a solução mais simples diante do caos que o Partido Democrata se colocou ao insistir na candidatura do Biden em vez de realizarem primárias abertas sem a participação dele — o atual presidente deveria ter se colocado como estadista e uma figura de transição de uma era pós-Trump para figuras mais jovens.

Em primeiro lugar, Harris tem legitimidade. É vice-presidente. Ganhou uma eleição na chapa com Biden. Poderia ter assumido o cargo, como Lyndon Johnson assumiu depois do assassinato de John Kennedy. Em segundo lugar, tem experiência. Além da Vice-Presidência, foi senadora pela Califórnia e serviu em uma série de comissões no Senado.

MUITA EXPERIÊNCIA – Antes disso, exerceu o cargo de procuradora-geral da Califórnia. Terá acesso ao dinheiro doado para a chapa dela com Biden, o que não ocorre no caso de outro candidato — e estamos falando de centenas de milhões de dólares. As diferentes alas do partido, incluindo a esquerda e a mais moderada, não impõem resistência ao nome dela.

Por último, não há absolutamente nenhum escândalo contra a atual vice-presidente. Insisto, está longe de ser uma candidata perfeita. Mas, no atual cenário, talvez seja a solução mais óbvia e “menos pior” do que Biden.

Na véspera do debate, Biden contava com 35,5%, mas caiu em seguida para 19,2%. Desde então, seu nome praticamente não voltou a subir no mercado de apostas. O governador da Califórnia, Gavin Newson, chegou a disparar após o debate, mas seu nome caiu após um breve pico.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O artigo de Guga Chacra foi premonitório. No dia seguinte, Kamala Harris disparou e já passou o presidente Joe Biden como nome democrata favorito. Biden, em queda acentuada desde o debate da semana passada contra Donald Trump, está com 9,7%, enquanto Harris disparou e marca 17,5%.  Os dados são do agregador Real Clear Politics, que usa diversas pesquisas. (C.N.)

Privilégios da elite do serviço público drenam os recursos para investimento

Charge do Brum (Arquivo Google)

Deborah Bizarria
Folha

Em 1980, a Assembleia Legislativa da Paraíba determinou que as viúvas de desembargadores, governadores e deputados estaduais deveriam receber, além da pensão, 50% da remuneração do falecido enquanto estava na ativa. Quatro anos depois, esse benefício foi ampliado para incluir as viúvas e dependentes dos juízes.

Este privilégio, inalcançável para a maioria dos cidadãos, perdurou até ser considerado inconstitucional pela ministra Rosa Weber em 2021. Esse e outros casos de regras especiais para a elite do funcionalismo público são detalhados no livro de Bruno Carazza: “O país dos privilégios – Volume 1: Os novos e velhos donos do poder”.

GASTANDO DEMAIS – Para demonstrar a dimensão do problema, Carazza apresenta dados específicos do Judiciário. No Brasil, os gastos com todos os ramos de Justiça representam 1,6% do PIB. Em países emergentes, o custo do Judiciário é, em média, 0,5% do PIB, e em países ricos é de 0,3%. Esse 1% a mais que gastamos com o Judiciário seria suficiente para financiar o atual formato do Bolsa Família.

Além disso, outras pequenas elites concentram salários e benefícios em várias áreas, como fiscais da receita, cartorários, militares e procuradores.

ACIMA DO TETO – Como várias carreiras conseguem chegar não só próximo, mas até ultrapassar o teto de remuneração? Parte da resposta está na “comparação para cima” e no efeito âncora, que ocorre quando indivíduos usam uma informação de referência em suas decisões, mesmo que de forma desconexa.

Na prática, a Emenda Constitucional nº 19/1998, que visava limitar os rendimentos no setor público e coibir abusos, virou uma meta salarial, não mais um teto.

Para ilustrar esse mecanismo, Carazza cita um caso mencionado no livro “Previsivelmente Irracional”, de Dan Ariely. O governo americano pretendia expor a política salarial das grandes empresas para, através da divulgação dos salários de presidentes e diretores, constrangê-las a cortar excessos. Contudo, o efeito foi contrário.

CASO DO CEO – Em 1993, um CEO americano ganhava, em média, 131 vezes mais do que a mediana dos empregados de sua empresa. Em 2008, essa diferença saltou para 369 vezes.

Segundo Ariely, fatores psicológicos e comportamentais, como inveja e a necessidade de comparação, explicam esse resultado.

As pessoas tendem a se preocupar mais com sua posição relativa do que absoluta, avaliando-se em comparação com seus pares e superiores, raramente considerando os menos favorecidos. Com a divulgação, os CEOs passaram a se comparar com os de outras empresas, gerando uma corrida para obter benefícios superiores. Em vez de reduzir a média salarial, a decisão incentivou uma escalada rumo ao topo. Similarmente, o teto do funcionalismo parece ter ancorado as expectativas salariais das carreiras que têm alto poder de barganha.

REFORÇAR A REGRA – Isso não significa que a regra deveria ser abandonada, mas sim reforçada. Atualmente, há muitos furos decorrentes da adição dos “penduricalhos” – auxílios e benefícios monetários que não são limitados pela regra nem sujeitos ao imposto de renda. Os mais conhecidos são os juízes e membros do Ministério Público, que frequentemente recebem auxílio-moradia, auxílio-alimentação, auxílio-saúde e outras “verbas indenizatórias” pagas com dinheiro público.

Vale destacar que esses luxos não são concedidos a todos os funcionários públicos, mas sim a uma elite que se aproveita de suas posições e influência política para pressionar por maiores salários ou, ao atingir o limite constitucional, obter mais penduricalhos.

Qual é a solução, então? O livro destaca a necessidade de uma discussão séria sobre o pacote de benefícios do funcionalismo público.

REVER TUDO – Revisar os adicionais que frequentemente permitem que servidores do topo ganhem mais que o presidente da República e os ministros do Supremo exige coragem. Além disso, é crucial debater os incentivos negativos que desestimulam os trabalhadores do setor público a oferecer um serviço de qualidade à população.

A discussão sobre uma reforma administrativa deve ser pautada por uma avaliação criteriosa, que valorize a contribuição real dos servidores para a população. O papel da sociedade civil é fundamental nesse processo, para enfrentar os interesses concentrados de elites estabelecidas.

Longe de demonizar as carreiras públicas, Bruno Carazza propõe um diagnóstico baseado em dados sobre como parte do orçamento público é constantemente capturado por interesses privados. Vale a leitura acompanhada de uma xícara de chá de camomila, pois a descrição da busca descarada de agentes por privilégios certamente causará indignação no leitor.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
As elites brasileiras do serviço público, especialmente o Judiciário, simplesmente conseguiram aperfeiçoar a famosa exploração do homem pelo homem. E o pior é que até os militares entraram nessa mamata. Uma prática vexaminosa. E a desigualdade salarial aumenta a cada reajuste.  (C.N.)

Adeus, paz! Israel invade e usurpa mais 24 quilômetros quadrados na Cisjordânia

This picture taken on June 28, 2024 shows the the Israeli settlement of Maale Adumim in the occupied West Bank on the outskirts of Jerusalem. (Photo by AHMAD GHARABLI / AFP)

Este é o assentamento israelense Maale Adumim, na Cisjordânia ocupada

Deu na Veja

O grupo israelense Peace Now, um órgão de vigilância contra assentamentos judeus em territórios palestinos, afirmou em relatório divulgado nesta quarta-feira, 3, que Israel aprovou a maior usurpação de terras na Cisjordânia em mais de três décadas. A região povoada por palestinos é parcialmente controlada por israelenses, tanto militares quanto colonos civis encarregados de administrar assentamentos.

De acordo com o relatório, autoridades aprovaram a apropriação de 12,7 quilômetros quadrados de terras no Vale do Jordão. Os dados do Peace Now indicam que esta foi a maior cota individual aprovada desde os acordos de Oslo de 1993, no início do processo de paz entre palestinos e israelenses.

“ANEXAÇÃO” – A usurpação, que israelenses qualificam como “anexação” de terras, foi aprovada no final do mês passado. Ela ocorre após 8 quilômetros quadrados de terras na Cisjordânia serem invadidos em março e de 2,6 quilômetros quadrados em fevereiro. As terras são contíguas e localizadas a nordeste da cidade de Ramallah, onde está sediada a Autoridade Palestina, representação apoiada pelo Ocidente.

Ao declará-las como terras estatais, o governo israelense passa a permitir seu arrendamento a cidadãos de Israel e proíbe a propriedade privada por parte de palestinos. 

Segundo o Peace Now, isso faz de 2024, de longe, o ano de pico para a implementação do controle israelense na Cisjordânia.

CISJORDÂNIA OCUPADA – Ao todo, Israel já construiu mais de 100 colonatos em toda a Cisjordânia, alguns dos quais se assemelham a subúrbios totalmente desenvolvidos ou a pequenas cidades. Eles abrigam mais de 500 mil colonos judeus que têm cidadania israelense.

Os 3 milhões de palestinos na Cisjordânia vivem sob um regime militar israelense que tem poucos limites, apesar do governo da Autoridade Palestina (AP).

A AP administra partes do território palestino ocupado por Israel, mas está impedida de operar em cerca de 60% do território, onde estão localizados os colonatos.

AUMENTO DAS TENSÕES – A medida tem potencial de agravar as já crescentes tensões entre os povos, ligadas à guerra entre Israel e o grupo terrorista palestino Hamas em andamento em Gaza. A violência aumentou na Cisjordânia desde o início do conflito, com ataques militares israelenses quase diários, que muitas vezes desencadeiam tiroteios mortais com militantes palestinos.

Os palestinos consideram inaceitável a expansão dos colonatos na Cisjordânia ocupada, afirmando que esta é a principal barreira a qualquer acordo de paz duradouro no Oriente Médio. Além disso, a maior parte da comunidade internacional, incluindo os Estados Unidos, maiores aliados de Israel, considera os assentamentos judeus ilegais ou ilegítimos.

O atual governo israelense considera a Cisjordânia como o coração histórico e religioso do povo judeu, e por isso opõe-se à criação de um Estado palestino na área. Na guerra de 1967, Israel capturou a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e Jerusalém Oriental. Esses três territórios são reivindicados pelos palestinos para um futuro Estado independente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Para desespero dos israelenses pacifistas, que existem e são muitos, os extremistas liderados por Netanyahu seguem o plano sinistro de anexar a Cisjordânia, a Faixa de Gaza e qualquer outro território onde vivem palestinos. E assim Israel vai perdendo aliados, progressivamente. O resultado final, já se pode antever, será a guerra eterna entre os israelitas e os islamitas, fato que representa uma ameaça concreta à paz no Oriente Médio e no resto do mundo. (C.N.)

No jantar de Javier Milei e Bolsonaro, o prato do dia é Lula no meio do alvo

Bolsonaro e Milei terão encontro no Brasil durante evento conservador | CNN Brasil

Jair Bolsonaro e Milei vão se reunir neste final de semana

Fernanda Alves
O Globo

O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), está organizando um jantar neste fim de semana para o presidente argentino Javier Milei e ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. A expectativa é que os dois estejam em Balneário Camboriú no sábado e domingo para a Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC, na sigla em inglês).

De acordo com a assessoria de Jorginho, aliado do ex-presidente, a intenção é promover o encontro reservado, que depende da agenda do chefe de Estado argentino, apertada, segundo o governo catarinense.

BOLSONARISMO – O evento, em sua quinta edição no país, é encabeçado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), e reunirá ainda representantes do bolsonarismo de outros estados, como o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o senador Magno Malta (PL-ES) e o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite (PL).

Como o GLOBO mostrou nesta semana, a ideia é transformar o encontro em um palanque para líderes sul-americanos que têm verbalizado oposição ao presidente Lula. Além de Milei, o líder do Partido Republicano do Chile, José Antonio Kast, crítico declarado do petista, também manifestou intensão de participar da conferência.

O presidente argentino cancelou sua viagem para a cúpula do Mercosul no Paraguai, onde estarão Lula e os outros chefes de Estado sul-americanos. Milei alegou problemas de agenda para não comparecer à reunião. Ele enviará como representante a chanceler Diana Mondino, que tem mantido diálogo com o governo brasileiro sobre temas de interesse dos dois países, como a importação de gás natural da reserva de Vaca Muerta.

DINOSSAURO IDIOTA – Milei, que deve se reunir com Bolsonaro durante a conferência em Santa Catarina, chamou o petista de “dinossauro idiota” na terça-feira, horas após sua visita ao Brasil ser confirmada.

Segundo a colunista Malu Gaspar, um dos objetivos é discutir como aproveitar uma eventual vitória de Trump nos EUA para insuflar a direita no continente. Na América do Sul, além de Milei, apenas o equatoriano Daniel Noboa e o uruguaio Luis Lacalle Pou são vistos como exceções a uma onda recente de governantes de esquerda.

Lula, que tinha previsão de ir a Santa Catarina no mesmo fim de semana em que ocorrerá o CPAC, adiou na terça-feira a viagem. O presidente foi orientado por assessores a não reagir às provocações do argentino.

Keir Starmer, novo primeiro-ministro do Reino Unido, é trabalhista de verdade

O líder do Partido Trabalhista britânico Keir Starmer, discursa em Londres após a vitória histórica

De família classe média baixa, Stamer despontou para o sucesso

William Booth e Karla Adam
The Washington Post

Ele era um advogado de esquerda que defendeu anarquistas veganos antes de processar terroristas em nome da coroa britânica. Ele foi editor de uma revista trotskista na juventude, ainda assim agradou aos capitalistas ao colocar a “criação de riqueza” no coração da plataforma do Partido Trabalhista este ano. Ele era um antimonarquista que foi agraciado pelo então Príncipe Charles como “Sir Keir” e agora se encontrará com o rei uma vez por semana.

Tudo isso compõe uma história complexa, confusa e real. Também torna difícil antecipar que tipo de primeiro-ministro Keir Starmer será. Um de seus biógrafos confessou que Starmer é “difícil de definir” — e ele teve acesso total ao seu biografado.

AMBIGUIDADE – Starmer, 61 anos, usou essa ambiguidade a seu favor. As pessoas foram capazes de projetar nele aquilo em que queriam acreditar. Durante muito tempo, ele até se beneficiou do rumor de que era a inspiração para o personagem advogado de direitos humanos sofisticado Mark Darcy (interpretado pelo ator Colin Firth) nos livros e filmes de “Bridget Jones”. (Ele não era.)

Ser muitas coisas para muitas pessoas pode ter ajudado Starmer a obter uma grande vitória na quinta-feira. Seu Partido Trabalhista, social-democrata e de centro-esquerda, está voltando ao poder depois de 14 anos no deserto político, ao mesmo tempo em que os eleitores baniram os conservadores para a oposição.

Mas qual é, de fato, o mandato de Starmer, além de seu evidente slogan de campanha “Change” (Mudança)? Em uma pesquisa da Ipsos no mês passado, metade dos entrevistados disse que não sabia o que ele representava.

SEM COMENTÁRIOS – Starmer não deu entrevistas à imprensa estrangeira durante essa eleição. Isso é típico de líderes partidários britânicos. Mas colegas próximos também o consideram um “homem muito reservado”. Ele tem uma esposa, Victoria, e dois filhos adolescentes, cujos nomes ele nunca tornou públicos, e um gato, cujo nome ele estava disposto a revelar como Jojo. Ele expressou preocupação com o impacto que a mudança para Downing Street terá sobre sua família.

Ele não é um político de destaque. Como orador, não é nenhum Winston Churchill. Mas seus amigos dizem que ele pode ser implacável, talvez o que um Reino Unido claudicante precise.

“Ele é muito, muito determinado”, disse Tom Baldwin, jornalista e ex-médico do Partido Trabalhista, que recentemente publicou uma biografia bem recebida de Starmer. “Ele tem uma visão exagerada de sua capacidade de promover mudanças. Ele não vai inspirar as pessoas com grandes discursos. O que ele pode fazer é consertar as coisas”.

CLASSE TRABALHADORA – Starmer será o líder da classe mais trabalhadora do Reino Unido em uma geração – chegando depois de um primeiro-ministro que, segundo alguns cálculos, era mais rico do que a realeza.

Na trilha da campanha, Starmer se apresentou dizendo: “Minha mãe era enfermeira, meu pai era ferramenteiro”. Ele falou sobre o fato de ter crescido com contas atrasadas e o telefone cortado. Macarrão “era uma comida estrangeira” em sua casa, escreveu seu biógrafo Baldwin. A família não viajava para o exterior.

Starmer tirou boas notas em suas provas e conseguiu entrar em uma escola de ensino médio de elite. Ele foi o primeiro de sua família a frequentar uma universidade – Leeds, e depois um ano em Oxford.

CASA MODESTA – Ele disse que quer ajudar famílias jovens a obter a primeira hipoteca, sabendo que a modesta casa geminada de seus pais “era tudo para minha família – ela nos deu estabilidade, e acredito que toda família merece o mesmo”.

Ele cita o trabalho de sua mãe como enfermeira e os cuidados que ela recebeu por causa de uma síndrome inflamatória debilitante, para demonstrar sua reverência pelo Serviço Nacional de Saúde (NHS) do Reino Unido. Sua esposa também trabalha para o NHS, o que, segundo Starmer, lhe deu uma “visão” das dificuldades do sistema subfinanciado e cheio de atrasos.

Starmer diz que seu pai se sentia “muito desrespeitado” por trabalhar em uma fábrica e que era emocionalmente distante. Como pai, Starmer diz que tenta “reservar um tempo realmente dedicado para as crianças”. Ele tenta parar de trabalhar às sextas-feiras às 18 horas. Embora seja ateu, disse que costumam jantar no Shabat, em respeito à herança judaica de sua esposa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É a velha alternância do poder em funcionamento, uma das principais característica da democracia, um regime que todos deviam venerar, mas há quem o odeie. (C.N.)

Efeito Biden faz Lula dizer que tem “70 anos, energia de 30 e tesão de 20”

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu comentários de que estaria cansado

Será que o tesudo Lula esqueceu que completará 79 anos em outubro

Deu na CNN

Em evento no município de Osasco, em São Paulo, o presidente Lula da Silva disse nesta sexta-feira que tem visto “artigos de economistas” dizendo que ele está cansado. O petista então rebateu tais comentários citando uma intensa agenda de viagens nos últimos dias e dizendo que sua esposa, Janja da Silva, é testemunha de sua disposição.

“Quero ver quem fala que eu estou cansado, que está sentado com a bunda na cadeira escrevendo, se tem coragem de levantar e ir para a rua andar”, começou.

CHEIO DE TESÃO – “Quem achar que o Lulinha está cansado, pergunte para a Janja. Ela é testemunha ocular. Quando eu falo que eu tenho 70 anos de idade, energia de 30 e tesão de 20, eu estou falando com conhecimento de causa”, complementou.

Lula foi ao município participar da cerimônia de inauguração de um novo edifício do campus Osasco Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

À tarde, o presidente visitou obras do primeiro Centro Educacional Unificado (CEU) de Diadema, também na capital paulista.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Lula caiu na mesma armadilha de Joe Biden. Quando começaram a dizer que ele está idoso demais para mais quatro anos na presidência dos EUA, Biden decidiu demonstrar o contrário e fez duas longas viagens à França e à Itália, além de outras viagens internas. O resultado foi quase cochilar durante o debate. E agora Lula se sai com essa, alardeando ser o Lulinha garotão, que alega ter 70 anos, mas na verdade em outubro completará 79 anos. Portanto, na próxima eleição, em 2026, ele completa 81 anos antes do segundo turno, terá a mesma idade que Biden tem hoje. Será que Lula, esse garotão tesudo, não lembra que já tem 78 anos? Se esqueceu, a coisa é grave. (C.N.)

Trump lidera e amplia diferença para Biden após debate eleitoral, diz pesquisa

Joe Biden To Call For Congress To Place Limits On Concert Ticket Fees

Biden admitiu que quase dormiu durante o debate com Trump

Por g1

O ex-presidente dos EUA Donald Trump ainda lidera as intenções de votos para as eleições presidenciais, e a diferença percentual para o presidente Joe Biden aumentou após a realização do primeiro debate entre os dois, de acordo com uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (3) pelo instituto Siena e o jornal “The New York Times”.

De acordo com a pesquisa, Trump lidera agora a corrida eleitoral com 49% dos votos, ante 43% de Biden. Em relação à semana passada, antes do debate, Trump aumentou a vantagem, segundo o jornal americano: de três para seis pontos de dianteira.

AS PESQUISAS – Biden e Trump concorrem às próximas eleições dos EUA, em 5 de novembro. Antes do debate, Trump aparecia com 48% das intenções de voto na mesma pesquisa, contra 44% de Biden. Por uma questão de arredondamento, o jornal considerou a diferença entre os dois de três pontos percentuais.

Na comparação com eleitores já registrados para votar, o desempenho de Biden é pior, com 41% dos votos. Trump permanece com 49% nesse caso.

A sondagem ouviu 1.532 eleitores registrados — nos EUA, é preciso fazer um registro para votar — entre os dias 28 de junho e 2 de junho. O debate entre Biden e Trump, o primeiro da corrida presidencial de 2024, aconteceu em 27 de junho.

DEU EMPATE – Outra pesquisa divulgada na terça-feira (2), no entanto, pelo Instituto Ipsos e a agência de notícias Reuters, mostrou que os dois seguem empatados na disputa mesmo após o debate eleitoral. A sondagem, feita também após o debate, mostrou que Biden tinha 40% das intenções de votos e Trump, outros 40% entre os entrevistados.

A sondagem da Reuters e do Instituto Ipsos ouviu 1.070 eleitores nos EUA também após o debate.

Pressionado a desistir, Biden disse nesta quarta-feira (3) que não está pensando em abandonar a candidatura. “Eu estou concorrendo. Eu sou o líder do Partido Democrata. Ninguém vai me forçar a sair”, disse Biden, de acordo com um assessor seu.

TEM DÚVIDAS – Mais cedo, uma reportagem do jornal norte-americano “The New York Times” afirmou que Biden disse a aliados políticos que tem dúvidas sobre se deve continuar a disputar a reeleição.

Segundo fontes próximas a Biden ouvidas pelo jornal, o presidente tem dúvidas sobre se poderá se reerguer após o desempenho ruim no primeiro debate eleitoral contra o candidato republicano, o ex-presidente Donald Trump, na semana passada. Biden disse que quase adormeceu durante o enfrentamento.

Foi a primeira vez que fontes próximas ao candidato democrata revelam dúvidas por parte de Joe Biden sobre seguir ou não com sua candidatura.

Desde o debate, membros do Partido Democrata têm pressionado para que a sigla substitua Biden por outro candidato, segundo a imprensa dos EUA — pelas normas do partido, o próprio candidato deve retirar sua candidatura.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Muita espuma, pouco chope. A variação da pesquisa foi mínima. Mesmo assim, a indicação é de que Trump volta, se o Partido Democrata não substituir Biden por algum candidato mais jovem. (C.N.)

No caso das joias, esse indiciamento de Fabio Wajngarten é Piada do Ano

Advogados Marcelo Bessa e Fábio Wajngarten durante entrevista coletiva na sede do PL - Metrópoles

Wajngarten denuncia ação arbitrária, injusta e persecutória

Maria Clara Matos
CNN São Paulo

Assessor e advogado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), Fabio Wajngarten criticou o fato de ter sido indiciado pela Polícia Federal (PF) por envolvimento no “caso das joias sauditas”. Ele foi indiciado pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Segundo Wajngarten, foi indiciado por de ter “cumprido a Lei”, e classificou a que havia orientado, como advogado, de que os presentes recebidos por Bolsonaro quando “fossem imediatamente retornadas à posse do Tribunal de Contas da União”.

NÃO É CRIME – “Conselho jurídico não é crime. Minha sugestão foi acolhida e os presentes entregues imediatamente e integralmente recolhidos ao TCU”, afirmou o assessor do ex-presidente no X (antigo Twitter).

Wajngarten também classificou a ação da PF como “arbitrária, injusta e persecutória”, e que pretende recorrer à OAB para continuar trabalhando.

O “caso das joias sauditas” foi investigado pela PF em parceria com o FBI e envolveu a venda de um conjunto de presentes do governo da Arábia Saudita a Jair Bolsonaro quando chefiava o Executivo. Segundo a instituição, os itens teriam sido omitidos do acervo presidencial e vendidos nos Estados Unidos.

BUSCOU INFORMAÇÕES – Fabio Wajngarten disse que à época buscou informações com alguns auxiliares e ex-auxiliares de Bolsonaro, mas sem “participar de qualquer tipo de negociação”.

“Como assessor de imprensa e advogado do ex-presidente da República, busquei informações com alguns auxiliares e ex-auxiliares dele sem jamais – repito, sem jamais – participar de qualquer tipo de negociação”, defende.

Apesar da decisão da Polícia Federal, a Procuradoria-Geral da República ainda precisa responder se aceita a denúncia, para que seja aberto processo ao Supremo Tribunal Federal (STF).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Há indiciamentos que funcionam como excelentes Piadas do Ano. O caso de Fabio Wajngarten é um deles. Como não teve nada a ver com a venda dos relógios, os diligentes policiais federais resolveram indiciá-lo por lavagem de dinheiro e associação criminosa, esquecidos de que, para lavar o dinheiro, é preciso ter contato com ele, e para fazer parte de uma associação criminosa, é preciso ter participado do cometimento do crime. Nesses dois casos, a figura de Wajngarten decididamente não se encaixa. (C.N.)

Cerco da Polícia Federal amplia ameaça de Bolsonaro sofrer prisão preventiva

Policiais federais voltam a protestar contra 'descaso' do governo

Prisão preventiva é desnecessária e indicaria perseguição política

Bruno Boghossian
Folha

O cerco da polícia amplia um antigo tormento de Jair Bolsonaro. O ex-presidente costumava desconfiar que poderia ser alvo de uma ordem de prisão preventiva. Ele iria para trás das grades, mas denunciaria a precipitação de seus acusadores. O avanço das investigações, por outro lado, dificulta essa cartada.

Num único dia, a Polícia Federal apresentou novos elementos de dois inquéritos contra Bolsonaro. Pela manhã, agentes deflagraram a segunda fase da operação que revelou a falsificação do cartão de vacina do ex-presidente. No fim da tarde, o capitão e mais 11 pessoas foram indiciadas pela venda ilegal de joias recebidas durante seu governo.

INVESTIGAÇÃO -Desde o início das apurações, investigadores juntaram elementos sobre a atuação de um grupo que operava a favor de Bolsonaro. Recolheram provas da fraude no sistema de informações sobre a vacina, rastrearam o caminho das joias e ouviram do tenente-coronel Mauro Cid uma série de depoimentos que implicavam diretamente o ex-presidente.

A coleta das informações reduziu o espaço de ação de Bolsonaro. Aos poucos, ele foi perdendo a capacidade de negar o envolvimento em cada acusação.

Restou um caminho um tanto estreito para brigar contra o enquadramento jurídico que deve ser dado aos crimes e, como de praxe, fazer barulho político.

DOIS ARGUMENTOS – Bolsonaristas apelaram para dois argumentos principais —um previsível e outro sincero. No primeiro caso, Flávio Bolsonaro falou em perseguição “declarada e descarada”. No segundo, Eduardo Bolsonaro exagerou na franqueza e afirmou que o pai continua sendo um político popular “porque ninguém acredita mais nessa porcaria”.

Ao longo dos anos, Bolsonaro investiu pesado na degradação da confiança nas instituições com o propósito de ampliar seu poder. O golpe fracassou, mas o ex-presidente foi relativamente bem-sucedido em alimentar aquela suspeição entre seus seguidores mais fiéis.

É deles que ele dependerá para se manter relevante, mesmo que acabe condenado.

Bolsonaro é defendido por Moro, mas base de Lula exagera e fala em prisão

Bolsonaro diz que tem de superar 2024 para conseguir chegar a 2026

Matheus Tupina
Folha

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi defendido pelo senador e ex-juiz da Operação Lava Jato, Sergio Moro (União Brasil-PR), e por outros congressistas aliados após ser indiciado pela Polícia Federal sob suspeita de peculato, lavagem de dinheiro e associação criminosa no caso das joias recebidas de governos estrangeiros.

A base de Lula (PT), por outro lado, comemorou o indiciamento e passou a falar nas redes sociais, em tom de ironia, na proximidade da prisão do ex-mandatário. Alguns líderes mais próximos ao petista, como André Janones (Avante-MG) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), comentaram o desfecho da investigação.

MAIS PRESSÃO – O indiciamento joga mais pressão sobre o ex-presidente às vésperas de conferência conservadora que reunirá neste final de semana aliados dele e o líder da Argentina, Javier Milei, em Balneário Camboriú (litoral de Santa Catarina).

Moro comparou a situação do ex-mandatário com a de Lula e disse que o petista não foi indiciado “por se apropriar de presentes” recebidos em seus mandatos anteriores.

“Mesmo durante a Lava Jato tudo foi tratado como uma infração administrativa dada a ambiguidade da lei. Os crimes foram outros. Há uma notável diferença de tratamento entre situações similares”, disse o senador em rede social.

PERSEGUIÇÃO POLÍTICA – Já o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), uma das principais lideranças evangélicas na política, afirmou que o ex-mandatário sofre perseguição política e disse que não há dano ao erário se o presente tenha sido devolvido à União, prestando irrestrita solidariedade ao ex-presidente.

“Alguém ganha um presente, uma comissão de servidores públicos decide que ele é seu. O TCU [Tribunal de Contas da União] questiona, e o presente é devolvido à União. Não há dano ao erário! Aí vem a Polícia Federal, escolhida a dedo para a missão, indicia a um ex-presidente”, ressaltou o congressista nas redes.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho “01” do ex-mandatário, seguiu na mesma linha e alegou perseguição política a seu pai. Acompanharam-no os irmãos Eduardo e Carlos.

PEDEM PRISÃO – Já entre a base do governo, Janones, que é investigado sob suspeita de “rachadinha”, chegou a afirmar que o ex-presidente “pode ser preso a qualquer momento”. O senador Humberto Costa (PT-PE) republicou a notícia do indiciamento e comentou “tic tac”, referindo-se a uma aproximação da hora da reclusão de Bolsonaro.

Já Gleisi, presidente nacional do PT, disse que o ato é um passo na busca da verdade e que a conclusão do inquérito representa “apenas uma das muitas contas que ele terá de prestar pelos crimes que cometeu contra o país”. “Quem está a caminho do banco dos réus é você”, falou a deputada.

Outro aliado de Lula, Lindbergh Farias (PT-RJ) publicou vídeo comentando o fim das investigações e afirmou que Bolsonaro será preso “por uma série de crimes”. “Aí é comprar a pipoca e ir para a frente da televisão para assistir esse primeiro julgamento”, disse. Em texto, ele ainda escreveu o “tic tac”, como Humberto Costa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os petistas fazem a festa, mas na verdade ainda nem há processo. Mesmo se houver, não houve prejuízo aos cofres públicos, diferente de Lula, que teve de devolver presentes caríssimos e complementar em dinheiro o que não foi encontrado. Auditoria do TCU constatou que 568 bens recebidos por Lula, no período de 2003 a 2010, deveriam ser localizados e devolvidos à União. A maioria dos bens foi encontrada num cofre de banco. Só ficou pendente a devolução de oito itens recebidos por Lula, que somavam R$ 11.748,40. (C.N.)

“Vou pelas minhas madrugadas a cantar, esquecer o que passou”, cantava Candeia

Candeia e a outra Filosofia do Samba | revista piauí

Candeia, um dos maiores mestres do samba

Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor e compositor carioca Antônio Candeia Filho (1935-1978), na letra de “Minhas Madrugadas”, em parceria com Paulinho da Viola, afirma que canta pela noite para esquecer o passado, do qual só restou a saudade de uma vida de ilusões. Esse samba foi gravado por Candeia no LP Raiz, em 1971, pela Equipe. Paulinho da viola também gravou, com grande sucesso.

MINHAS MADRUGADAS
Paulinho da Viola e Candeia

Vou pelas minhas madrugadas a cantar
Esquecer o que passou
Trago a face marcada
Cada ruga no meu rosto
Simboliza um desgosto

Quero encontrar em vão o que perdi
Só resta saudade
Não tenho paz
E a mocidade
Que não volta mais

Quantos lábios beijei
Quantas mãos afaguei
Só restou saudade no meu coração
Hoje fitando o espelho
Eu vi meus olhos vermelhos
Compreendi que a vida
Que eu vivi foi ilusão

Lula viu risco desta crise acabar transbordando para o humor do eleitorado

Charge Clayton | Charges | OPOVO+

Charge do Clayton (O Povo)

Bruno Boghossian
Folha

Lula ouviu uma mensagem pragmática durante um jantar com economistas que falam sua língua. Na conversa, nomes como Guido Mantega e Luiz Gonzaga Belluzzo fizeram um alerta: o presidente pode ter razão na crítica a investidores e ao Banco Central, mas o custo do embate ameaça ficar alto demais para o governo.

A pressão do dólar sobre a inflação virou um risco imediato para o petista. O que poderia ser um choque de visões sobre a economia se transformou rapidamente num problema que fatalmente transbordaria para o humor geral dos eleitores.

INFLAÇÃO – Em outras palavras: se o preço da comida subir, pouca gente vai ligar para quem tem razão na história. A maioria, sem dúvida, vai procurar culpados por uma crise que não existia antes daquele conflito.

Qualquer presidente entra nesse tipo de julgamento em desvantagem. O desânimo com a inflação recai quase sempre sobre o governo. No caso específico, Lula ainda absorveu um prejuízo adicional no momento em que investidores passaram a reagir a cada uma de suas declarações sobre equilíbrio fiscal ou juros.

Mesmo que uma fatia de eleitores tome o lado do petista, o grosso da população só estará mais insatisfeito por pagar mais caro por alguns produtos como consequência da briga. Como o pugilista mais famoso e o único que depende de votos para sobreviver, Lula tende a ficar com a fatura mais amarga.

CORTES PROFUNDOS – A disputa dificulta a vida do governo também na busca por uma agenda de redução de despesas. Sem estresse na praça, o governo poderia satisfazer investidores com um bloqueio razoável. Agora, as dúvidas sobre o futuro deixam o pedágio mais caro e exigem cortes mais profundos.

Lula mediu as palavras ao falar de economia nesta quarta-feira (dia 3). Disse que investirá em transferência de renda e gastará o que for preciso, mas acrescentou que seguirá um compromisso de responsabilidade fiscal. Reforçou sua plataforma e deu um sinal de previsibilidade. Se o tom fosse este desde o início, poderia ter evitado turbulências custosas.

“Estou passando por isso por ser advogado e defender Bolsonaro”, argumenta Wassef

Advogado da família Bolsonaro, Wassef aparece no Senado em dia de CPI

A lealdade a Bolsonaro está custando caro para Wassef

Maria Clara Matos
CNN São Paulo

O advogado Frederik Wassef, defensor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), afirmou que está “passando por tudo isto apenas por exercer advocacia em defesa de Bolsonaro”. Nesta quinta-feira (4), ele foi indiciado pela Polícia Federal (PF) no caso das joias sauditas pelos crimes de lavagem de dinheiro e associação criminosa.

“Como advogado de Jair Messias Bolsonaro, venho a público reafirmar que não foi Jair Bolsonaro e nem o Coronel Cid quem me pediram para comprar o Rolex. Eu estava em viagem nos Estados Unidos por quase um mês e apenas pratiquei um único ato, que foi a compra do Rolex com meus próprios recursos”, comunicou o advogado em nota.

PRESENTE SAUDITA – O Rolex, um relógio de luxo, foi dado a Bolsonaro pelo governo da Arábia Saudita. Segundo a PF, os itens foram omitidos do acervo presidencial e vendidos no exterior.

Wassef defende que a compra do relógio foi feita para que ele fosse devolvido ao governo federal, e que entregou provas disso à PF. O advogado também afirma que nem ele nem o resto da defesa do ex-presidente tiveram acesso ao relatório final da investigação.

Além dele, Jair Bolsonaro e mais outras dez pessoas foram indiciadas, como o assessor e ex-secretário de Comunicação Fabio Wajngarten.

ENCAMINHAMENTO – Agora, o indiciamento precisa ser encaminhado pela Procuradoria-Geral da República ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF).

Lista completa de indiciados no caso das “joias sauditas”: Jair Bolsonaro; Bento Albuquerque; José Roberto Bueno Júnior; Julio Cesar Vieira Gomes; Marcelo da Silva Vieira; Marcos André dos Santos Soeiro; Mauro Cesar Barbosa Cid; Fabio Wajngarten; Frederick Wassef; Marcelo Costa Câmara; Mauro Cesar Lourena Cid; e Osmar Crivelatti.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Salta aos olhos que Wassef não tem nada a ver com a venda dos relógios, até porque foi fazer o favor de recomprá-las. Se ele tivesse agido como advogado, jamais estaria sendo indiciado. Comportou-se como amigo e tiete de Bolsonaro. Ao depor, se tivesse dito a verdade, que Bolsonaro lhe pedira para ir aos Estados Unidos recomprar os relógios, talvez não estivesse sendo indiciado. Mas deve ter inventado alguma história para preservar o mito, e o resultado é esse, enrolou-se todo e está sujo na rodinha. (C.N.)

Procuradoria vai decidir se Bolsonaro será processado pela venda das joias

Tribuna da Internet | FBI pode investigar Bolsonaro por lavagem de dinheiro  com peculato e ocultação de valores

Charge do Jean Galvão (Folha)

Daniel Gullino
O Globo

O indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro na investigação sobre um suposto esquema de venda de presentes e joias recebidos pela Presidência da República é baseado em uma série de provas reunidas pela Polícia Federal (PF) e até mesmo pelo FBI. A apuração foi facilitada pelos próprios envolvidos, que deixaram diversos “rastros”, incluindo o reflexo em foto, registros de localização nos aplicativos Waze e Uber e conexão na rede Wi-Fi de uma loja de relógios.

Ao longo da apuração da PF, a defesa de Bolsonaro chegou a afirmar que ele agiu dentro da lei” e “declarou oficialmente os bens de caráter personalíssimo recebidos em viagens”. Esses itens, na visão dos advogados, deveriam compor seu acervo privado, sendo levados por ele ao fim de seu mandato.

OUTRAS JOIAS – Em 29 de dezembro de 2022, antepenúltimo dia do governo de Bolsonaro, o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva tentou retirar da alfândega do aeroporto de Guarulhos um outro conjunto de joias, que foi entregue ao governo brasileiro pela Arábia Saudita e não chegou a ser vendido.

Jairo foi enviado por tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, para a tarefa e argumentou com o auditor responsável que a retirada era “de urgência”, porque, devido à troca de governo, “não pode ter nada do antigo para o próximo”. O conjunto, no entanto, não foi liberado e continuou com a Receita Federal.

O reflexo do rosto do general do Exército Mauro Lourena Cid, pai de Mauro Cid, aparece no reflexo de uma foto de uma escultura. Lourena Cid tirou o retrato para pedir uma avaliação do valor do item em lojas especializadas.

VIAGEM OFICIAL – Em junho de 2022, o tenente-coronel Mauro Cid aproveitou uma viagem oficial de Bolsonaro aos Estados Unidos para vender dois relógios que haviam sido recebidos pelo então presidente, das marcas Rolex e Patek Philippe. Cid guardou um comprovante da compra em seu armazenamento de nuvem. O documento mostra que os relógios foram vendidos por US$ 68 mil.

O dinheiro da venda foi depositado em uma conta de Mauro Lourena, pai de Cid. No dia anterior à venda, Lourena enviou ao filho dados da conta que seria utilizada na transação.

Além do documento, a PF também comprovou que Cid esteve no local por dois rastros que ele deixou. Na data, ele buscou no aplicativo Waze — utilizado para direções — um endereço do shopping onde fica a loja, especializada em vendas de relógios novos e usados. Depois, utilizou a rede de Wi-Fi da loja.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Nada de novo. Tudo isso já era sabido. Resta saber se a Procuradoria da República fará a denúncia, que abrirá o processo. E tudo indica que vai mesmo processar. O mais incrível é Bolsonaro estar sendo indiciado apenas por ser sovina. Ele tem um alto patrimônio rachadista declarado (cerca de 20 milhões) e pode-se imaginar que haja um outro não-declarado, em dólar, ouro etc. Mesmo rico assim, ficou com medo de ter de pagar caro a advogados e começou a vender os presentes recebidos. Já fora do governo, abriu um PIX para doações e recebeu R$ 17,2 milhões, que a essa altura já passaram de R$ 20 milhões. Mas quem enriquece ilicitamente jamais está satisfeito. O resultado é a difamação, o nome sujo na praça, a ficha criminal. E um homem como esse, um mau militar, ainda quer voltar a ser presidente. Vida que segue, diria João Saldanha, um homem simples e que não se importava com dinheiro.  (C.N.)

Revista “The Economist” ridiculariza Biden ao sugerir que desista de sua candidatura

Capa da revista 'The Economist' de 4 de julho de 2024. — Foto: Reprodução

A manchete da revista: “Sem condições de comandar um país”

Deu no g1

A revista britânica “The Economist” pediu nesta quinta-feira (4) em editorial e em sua capa que o presidente dos EUA, Joe Biden, retire sua candidatura às eleições de 2024 pelo Partido Democrata. A capa da edição da revista estampa a foto de um andador com o selo da presidência dos EUA e diz: “sem condição de comandar um país”. Biden tem 81 anos e, se reeleito, deixaria o segundo mandato com 86 anos.

Na semana passada, a revista e uma série de outras publicações dos Estados Unidos, como os jornais “The New York Times” e “The Wall Street Journal”, pediram em editorial que Biden desistisse de concorrer, após seu desempenho ruim no debate eleitoral contra o candidato republicano, o ex-presidente dos EUA Donald Trump.

PIOR A RESPOSTA – No novo editorial, desta quinta, a “The Economist” alegou que a resposta de Biden e de sua campanha ao debate e aos apelos para que ele fosse substituído por outro candidato democrata foi ainda pior que o enfrentamento contra Trump.

“O debate presidencial foi terrível para Joe Biden, mas o encobrimento foi pior. A desonestidade da sua campanha provoca desprezo. Ele deve retirar a candidatura”, escreveu a publicação. “Joe Biden merece ser lembrado por suas conquistas e sua decência, não por seu declínio.

A revista acha que a campanha de Biden “encobriu” as falhas de memória e falta de capacidade do presidente para governar por mais quatro anos. “Foi uma agonia ver um idoso confuso lutando para lembrar palavras e fatos”, diz a publicação.

BIDEN INSISTE – Na quarta-feira (3), respondendo às pressões, o presidente dos EUA voltou a dizer que não desistirá da corrida à Casa Branca.

“Eu estou concorrendo. Eu sou o líder do Partido Democrata. Ninguém vai me forçar a sair”, disse Biden, de acordo com um assessor seu.

A Casa Branca também afirmou que o presidente “não está pensando em desistir”. Questionada em uma entrevista à imprensa na Casa Branca sobre se o presidente estava considerando a possibilidade de abandonar a corrida eleitoral, a porta-voz do governo Biden, Karine Jean-Pierre, respondeu: “Absolutamente, não!”.

ESTARIA NA DÚVIDA – Também na terça, uma reportagem do jornal norte-americano “The New York Times” afirmou que Biden disse a aliados políticos que tem dúvidas sobre se deve continuar a disputar a reeleição. Jean-Pierre negou a informação.

Segundo fontes próximas a Biden ouvidas pelo jornal, o presidente tem dúvidas sobre se poderá se reerguer após o desempenho ruim no debate da semana passada. Biden disse que quase adormeceu durante o enfrentamento.

Foi a primeira vez que fontes próximas ao candidato democrata revelaram dúvidas por parte de Joe Biden sobre seguir ou não com sua candidatura.

MAIS PEDIDOS – Na reportagem desta terça, a “The Economist” pediu também que outros deputados democratas defendam abertamente a retirada da candidatura de Biden.

Pelas normas do Partido Democrata, o próprio candidato deve retirar sua candidatura. É possível que o partido a retire, mas isso implicaria em uma reunião extraordinária para, primeiro, mudar as regras internas, o que membros do partido veem inviável por conta da proximidade da data das eleições.

“JET LAG”- Biden atribuiu ao jet lag — como é chamado o distúrbio que costuma acometer quem faz viagens longas com diferenças de fuso horário — o mau desempenho no debate.

Dias antes do enfrentar Trump diante das câmaras, o presidente havia feito duas viagens internacionais, para a França e para a Itália. Em um evento de campanha no estado da Virgínia, ele disse que ignorou apelos de sua equipe para que evitasse viagens e, como consequência, “quase adormeceu no palco” do debate.

“Decidi viajar pelo mundo algumas vezes, passando por cerca de cem fusos horários antes do debate”, disse o presidente dos EUA. “Não dei ouvidos à minha equipe e voltei e quase adormeci no palco. Isso não é desculpa, mas é uma explicação”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É claro que Biden vai desistir. Está apenas procurando uma saída honrosa. Falta saber que será o substituto (ou substituta, porque a vice atual Kamala Harris é mulher, experiente, e está defendendo Biden só para constar e mostrar desapego. (C.N.)

Efeito Biden vai batendo em Lula, que completará 81 anos durante a eleição

Lula Checagem Agência Lupa

Mesmo com a plástica, Lula está visivelmente envelhecido

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

A onda já começou: depois do naufrágio de Biden no debate contra Trump, Lula, que fará 81 anos em 2026, torna-se alvo de questionamentos com vistas à sua candidatura à reeleição. É fato que a idade avançada por si não é parâmetro para estimar a capacidade de alguém assumir postos de comando. É evidente, porém, que pode pesar.

No caso de um candidato em regime democrático, o julgamento virá dos eleitores, expostos a um ambiente de disputa de versões e guerra digital.

NOVO E VELHO – O passar dos anos nos ensina muito, mas o único defeito que realmente não piora com a idade é a inexperiência. Lula é bastante experiente, mas não basta. A fadiga de constatar anos a fio a repetição do que já se viu ou já se sabe –ou se imagina que saiba– pode dar lugar a comportamento ranzinzas e irascíveis.

 Além disso, os mais velhos tendem em certos casos a perder de vista ou a não dar muita bola para novas tendências, novas tecnologias, novas formas de pensar.

Nos últimos dias, Lula falou pelos cotovelos, como que sob efeito de a uma espécie de viagra verbal. Tem seus motivos para criticar o presidente do Banco Central e desconfiar de eventuais especuladores no processo de disparada do câmbio. Daí a sair distribuindo bengaladas no mercado, em banqueiros e nas elites empresariais vai uma longa distância.

SOU UM MENINO– Não tranquiliza muito a resposta que Lula deu em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador, sobre o risco de ser vítima de etarismo: “Do ponto de vista de saúde, eu me sinto um menino, pode perguntar à Janja”.

Já comentei aqui, em maio, que a candidatura de Lula para 2026 parecia estar subindo no telhado, entre outros motivos, pelo seu comportamento de aitolá do progressismo:

“A própria personalidade autocentrada do petista, numa fase já mais avançada da vida deixa dúvidas no ar. Lula, em muitos aspectos, faz um bom governo. Em outros, não. Comete erros dispensáveis e vive a tropeçar nele mesmo. O status de aiatolá do progressismo não ajuda. Favorece um comportamento ególatra, irritadiço e avesso a críticas”.

SEM SUCESSORES – Ruy Castro, esta semana, comentou muito bem as semelhanças entre Biden e Lula e concluiu com maestria ao dizer que ambos não estão dispostos a fazer sucessores: “Dinastias que começam e terminam com seus titulares não vão muito longe”.

O debate na CNN despertou preocupação com a decadência da política e da democracia dos EUA. E tocou mais uma vez numa ferida que ultrapassa fronteiras, a crise de lideranças no Ocidente liberal.

A gritaria para que Biden abdique da candidatura, ainda mais se der resultado, não favorece Lula, embora em seu caso nada na realidade tenha acontecido que se possa se comparar aos lapsos do democrata e muito menos à sua performance no debate.

BAIXANDO A BOLA – Não sabemos ainda como as coisas vão andar. Depois de passar dos limites, o presidente acabou, enfim, baixando a bola e foi citado como defensor do arcabouço fiscal, do contingenciamento de despesas orçamentárias e do ajuste das contas.

Graças, diga-se, às gestões do entorno palaciano, Haddad à frente, para tentar conter o que se chamou de erros de comunicação.

Há, contudo, uma crescente impaciência e um certo cansaço com Lula, mesmo em nichos progressistas. Valeria que começasse a dar mais apoio e a sinalizar o nome do ministro da Fazenda para 2026? É uma possibilidade a se considerar.

Governo federal quer ter mais poderes e instrumentos contra o crime

Charge do Correio Braziliense trata com humor crimes de políticos

Charge do Cícero (Correio Braziliense)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Os governos vêm perdendo a guerra contra a violência há décadas, com as organizações criminosas, as milícias e o tráfico de drogas derrubando fronteiras e cooptando agentes do Estado, e uma das fragilidades da União é a falta de instrumentos, legais e policiais, para entrar na linha de frente. É para corrigir essa falha e atualizar o modelo de combate que o Ministério da Justiça enviou ao Congresso uma proposta de emenda à Constituição (PEC), se autoconcedendo mais poderes, ou mais instrumentos de ação.

A intenção básica é equiparar os sistemas de Segurança Pública (SUSP), criado no governo Michel Temer, ao Sistema Único de Saúde (SUS), que, como modelo, é um dos sucessos do Brasil. Quanto à execução? Bem, são outros quinhentos. A diferença entre os dois sistemas é que o SUS está na Constituição e o SUSP, até agora, não.

PADRONIZAÇÃO – A ideia é padronizar procedimentos, dados e estatísticas para possibilitar estratégias nacionais, como para os boletins de ocorrência, mandados de prisão, antecedentes criminais, contingente do sistema prisional, além de criar regras para separar os presos por idade e grau de periculosidade, e definir quantos metros quadrados cada um tem de ter na cela.

Como nacionalizar tudo isso e ter algum tipo de informação e controle se são 26 estados, mais o DF, e cada um tem suas regras e modelos?

Área da segurança pública, que no governo federal é comandada por Ricardo Lewandowski, é hoje o principal desafio enfrentado pela sociedade brasileira

CRIME EXPORTAÇÃO – A violência explode, o crime deixou de ser nacional para se transformar em transnacional, compra setores inteiros, opera até, literalmente, debaixo d´água, e mata sem dó nem piedade. Os governadores batem no Planalto e no Ministério da Justiça e… a resposta é sempre aquém da pergunta e os recursos e soluções, aquém, muito aquém, do necessário.

A União está de mãos atadas, porque se trata de uma função atribuída pela Constituição aos Estados. O governo não pode impor regras e diretrizes, mas fica com o ônus político, de popularidade. Num regime presidencial forte, a culpa é sempre “do governo”, ou seja, do presidente.

Os ministros Flávio Dino e Ricardo Lewandowski, que inverteram posições – um saiu da Justiça e foi para o STF e o outro, fez o sentido oposto – enfrentaram essa situação, ou essa impotência.

POUCO A FAZER – Além da falta de autoridade constitucional para intervir, ou por causa dela, a União tem pouco o que fazer. Aos números: são 12.900 policiais federais e outros tantos policiais rodoviários federais, além de 405.000 PMs e 95.000 policiais civis.

E não é só: a PF é uma instituição de investigação e inteligência, não para subir morros e trocar tiros com bandidos comuns, enquanto a PRF é, como o nome diz, focada nas rodovias federais. Com o tempo, e a necessidade clamorosa, isso vem mudando e a PRF está cada vez mais dentro das cidades e de operações comuns. Mas é preciso dar legalidade a essa transição.

Até lá, os seguidos presidentes e ministros da Justiça se viram no que um especialista em segurança define como “gestão de cooptação”, ou “gestão de varejo”. Explica-se: como o governo federal não tem como impor nada, usa os recursos como moeda de troca. “Quer recursos da União? Ok, mas tem de cumprir nossas diretrizes”.

AÇÃO CONJUNTA – Exemplo: o Estado recebe lotes de câmeras de uniformes policiais, desde que siga o que Brasília definiu para o uso. É hora de unificar o sistema e enfrentar essa guerra com governo federal, Estados e municípios, com cobertura legal, constitucional e de legitimidade.

Os três principais problemas do Brasil, segundo as pesquisas e, portanto, o governo, são (falta de) segurança pública, saúde e educação, e isso não é apenas causa, mas principalmente resultado da perversa distribuição de renda, com os pretos e pobres no fundo do poço e os brancos e ricos ou de classe média nadando de braçada – e sempre reclamando.

Mas essa é outra história. Na emergência, o fundamental é atualizar e dar funcionalidade e eficácia aos sistemas, com o governo federal assumindo, não só o papel de coordenação, mas também de responsabilidade. E, como sempre, as entidades da sociedade civil e a sociedade não podem lavar as mãos: “não é comigo!”. É, você é tanto vítima como parte do problema.

Lula precisa ouvir Chico Buarque e criar o Ministério do Vai Dar Merda

Há um ano começava sessão do impeachment: Lula e Chico no Senado - Orlando Brito - Os Divergentes

Chico avisa a Lula sobre os muitos escândalos, mas Lula não ouve…

Paulo Celso Pereira
O Globo

A ideia foi imortalizada no primeiro governo Lula, por sua pertinência e autoria: deveria ser criado um Ministério do “Vai dar Merda”. A proposta vinha de Chico Buarque, entusiasta da chegada do PT ao poder, temeroso do desgaste que os tropeços poderiam causar ao projeto de esquerda. Passados 18 meses de seu terceiro mandato, Lula deveria pensar seriamente na sugestão.

Nos últimos meses, uma série de episódios nebulosos tem provocado déjà-vu em quem acompanhou de perto os escândalos das últimas gestões petistas.

CASO JUSCELINO – Primeiro, foram as acusações contra o ministro Juscelino Filho, indiciado por organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção passiva. Trata-se de um clássico do patrimonialismo nacional: quando era deputado, ele destinou emendas para construir estradas no Maranhão que beneficiaram propriedades suas e de sua família.

No celular do empreiteiro responsável pela obra, a Polícia Federal identificou uma troca de mensagens em que Juscelino pede ao empresário que realize depósitos para terceiros, e este responde com os comprovantes dos repasses.

Numa conversa paralela, o empreiteiro diz que o valor seria descontado da obra de pavimentação. Apesar dos indícios, Lula optou por não demitir o aliado. O caso de Juscelino é apenas o mais avançado.

LEILÃO DE ARROZ – Em meio à tragédia do Rio Grande do Sul, o governo decidiu importar 263 mil toneladas de arroz. O leilão foi vencido por empresas que faziam de tudo, menos trabalhar com o cereal — eram de locação de veículos, produção de queijos e polpas de fruta. As vendas seriam parcialmente intermediadas por companhias de um ex-assessor do secretário de Política Agrícola do governo federal. Foi preciso o escândalo dominar as redes sociais para o Planalto cancelar a compra.

Não foi a única movimentação nebulosa envolvendo a tragédia gaúcha. No último domingo, o colunista do Globo Lauro Jardim revelou que um grão-petista, o ex-presidente da Câmara Marco Maia, tem visitado prefeituras sugerindo a contratação de certas empresas para tocar obras emergenciais.

Ele integra a equipe de Paulo Pimenta na Secretaria de Reconstrução do RS. Maia foi alvo de delações na Operação Lava-Jato, e seu processo foi arquivado por falta de provas.

REABILITADOS – O grupo dos reabilitados da Lava-Jato que voltaram a flanar em Brasília é grande. Os irmãos Joesley e Wesley Batista, que de investigados se converteram em bombásticos delatores, estão com tudo. Semanas atrás, chamaram a atenção por um lance intrigante.

Arremataram, por R$ 4,7 bilhões, 12 usinas térmicas da Eletrobras na região amazônica. Elas estavam à venda havia um ano, mas não despertavam interesse de nenhum grupo. O motivo: a principal cliente delas é a distribuidora Amazonas Energia, que está inadimplente, com dívida acumulada de R$ 9 bilhões.

O mercado só compreendeu a decisão dois dias depois, quando o governo editou uma Medida Provisória para socorrer a Amazonas Energia, cobrindo os pagamentos que ela deveria fazer às usinas recém-compradas pelos Batistas. Os custos da operação serão pagos por todos os consumidores.

NO PLANALTO – Até mesmo a Secretaria de Comunicação da Presidência, que deveria trabalhar para melhorar a imagem do governo, passou a desgastá-la. Na semana passada, o Tribunal de Contas da União identificou indícios de “graves irregularidades” na licitação que contratou quatro empresas de assessoria e gestão de redes sociais. O resultado do pregão, com gastos de até R$ 197,7 milhões, era conhecido antes da abertura dos envelopes.

Os seguidos escândalos que atingiram os governos Lula e Dilma foram o principal motor do antipetismo que viceja no país. Ainda que Lula evite o tema, passar a impressão de que há preocupação com o combate à corrupção é importante para um pedaço do eleitorado que o apoiou em 2022 e foi determinante para derrotar Bolsonaro.

A onda recente de casos heterodoxos mostra que, se nada for feito, o governo terá apostado mais na sorte que na sensatez para não ser atingido por um grave escândalo. Depois, não adianta culpar o juiz.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Moraes proíbe que os juízes recebam ações que denunciem erros do STF

Leia decisão de Moares que autorizou ação da PF contra Bolsonaro - Gilberto  Léda

Moraes manda calar o juiz que teve coragem de apontar erro do STF

Deu no Poder360

O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes determinou a cassação de decisão do juiz federal da 1ª Vara Federal de Maringá (PR), José Jácomo Gimenes, que havia condenado a União a pagar R$ 20 mil de indenização ao ex-deputado estadual Homero Marchese (Republicanos) por conta do bloqueio de suas contas em rede sociais, determinado pelo próprio Moraes no inquérito das fake news.

A decisão de Moraes, que acolheu uma reclamação de União, foi tomada sob o argumento de que houve “usurpação” de competência do Supremo. Moraes também extinguiu o processo e determinou a remessa integral dos autos ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para “as providências cabíveis” em relação a Gimenes.

AÇÃO INDENIZATÓRIA – A reclamação foi protocolada pela AGU (Advocacia Geral da União) contra decisão do juiz da 1ª Vara de Federal de Maringá que condenou a União ao pagamento de indenização por danos morais a Marchese por suposta censura praticada pelo STF ao determinar a exclusão de suas contas de redes sociais, como o Facebook, Instagram e Twitter.

As redes de Marchese foram bloqueadas por Moraes em 2022. Pouco depois, os perfis do então deputado no X (ex-Twitter) e no Facebook foram liberados, mas sem menção ao Instagram – cujo perfil foi desbloqueado apenas em 2023, seis meses depois.

O juiz federal entendeu, então, que houve “erro de procedimento” por não constar na decisão do STF uma determinação expressa sobre o Instagram e também viu “excessiva demora” no encaminhamento do caso ao juízo competente.

INTERFEREM NO INQUÉRITO – Na reclamação da AGU, o órgão argumenta que “críticas e desavenças” presentes em decisões processuais, em trâmite em ações judiciais em 1º grau de jurisdição, “interferem diretamente na condução do Inquérito 4.781 [das fake news], ainda em curso, o que vem a desafiar as competências dessa Suprema Corte”.

Ainda, afirma que a manutenção da decisão reclamada possui “efeito multiplicador”, na medida em que sinalizaria um modelo de conduta aos julgadores de inúmeras demandas de igual teor.

Na decisão de Moraes, que cassa a decisão de Gimenes, o ministro diz que ao qualificar e julgar as deliberações que compete “exclusivamente” ao STF, no âmbito do inquérito das fake news, “o Juízo de 1ª instância desafia, não só a competência deste Tribunal, como também o modo de condução de processo que tramita na Corte”.

“IMPENSÁVEL” – “Em suma, é impensável afirmar que decisão proferida em âmbito de Juizado Especial possa julgar o modo de condução e a legitimidade de atos judiciais tomados em processo em regular trâmite neste Supremo Tribunal Federal”, diz o documento.

Para o advogado constitucionalista e articulista do Poder360, André Marsiglia, é “lamentável” que o Supremo conclua que a decisão “fundamentada e legítima” de um juiz interfira nas investigações dos inquéritos.

“Esse entendimento, a meu ver, pode configurar abuso de poder, pois o STF constrange o magistrado no exercício regular de sua função de decidir de forma livre, como prega a Constituição e exige a democracia”, afirma o advogado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, o ministro está proibindo que o cidadão-contribuinte-eleitor recorra à Justiça contra qualquer erro judiciário cometido pelo Supremo, o que, realmente, é impensável, palavra usada pelo próprio ministro para definir a possibilidade de um erro seu ser motivo de recurso judicial. (C.N.)

Descontrolado, Lula cria problemas desnecessários para Haddad e o BC 

Jornalista Polibio Braga: Cai doente outro membro do governo Lula da Silva. Desta vez, foi o chefe da Casa Civil

Charge do Schmock (Revista Oeste)

Vinicius Torres Freire
Folha

No dia 12 de março deste ano, a taxa de juros de um ano baixara a 9,75%. Foi a menor desde 2021, em pleno governo das trevas. O dólar custava R$ 4,98. A taxa real de juros de um ano estava na casa de 5,8% ao ano. Nas contas de “o mercado”, o Banco Central levaria a Selic até 9% no final deste 2024 e para 8,5% no final de 2025.

Nesta terça, taxa de juros de um ano subiu a 11,39%. A taxa real de juros de um ano, para 7,4%. Prevê-se Selic em 10,5% ou mais até o final do ano. O dólar anda em níveis inflacionários, triscando os R$ 5,70.

CLIMA DE OTIMISMO – O que houve entre os quatro meses daquele março risonho e franco e este junho em que o país parece estar em crise? O outono quente e seco em São Paulo mexeu com os miolos dos mercadores e donos do dinheiro?

Na terceira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em outubro de 2022, havia um “clima de otimismo” na praça financeira. “Clima de otimismo” é o nome fofinho, por assim dizer, de expectativa de ganhar dinheiro. A inflação caía.

Parecia que Lula 3 não botaria fogo no parquinho, no circo ou no hospício fiscal, o nome que se dê. Isto é, havia expectativa de queda de juros, com o que seria possível embolsar um tutu bom. Juros em queda quer dizer exatamente preços de título em alta (vendem-se os papeis baratos, dos juros altos, e assim se ganha algum).

HAVIA TOLERÃNCIA – Mesmo com o plano fiscal de Lula 3, que daria problemas mais adiante, fraco, mas passável, os donos do dinheiro estavam tolerantes, mais do que seus economistas.

Houve outras ondinhas otimistas, em setembro de 2023 ou até março deste 2024. Mas “deu ruim”, como diz o povo, e se perdeu dinheiro bom nestas reviravoltas.

Houve uns fatos da vida, em meados de abril: mais importante, a perspectiva de juros mais altos por mais tempo nos EUA, sobre o que Lula 3 ou o presidente X nada poderiam fazer, e a mudança de metas de redução de déficit do governo no Brasil, bem ruim, mas que ainda dava (ou dá) para remendar.

CONSPIRAÇÃO – Desde maio, pelo menos, o governo diz que há uma conspiração de “o mercado”. Mas por que teria havido mudança tão grande de humor em dois meses, de março para maio? “Ah, o mercado não gosta de Lula?”. Não gostam, não gostavam e não gostarão. Difícil uma constante explicar uma variável.

Fernando Haddad falou de “fantasminhas” em maio, uma conspiração rumorosa contra bons indicadores econômicos, segundo o ministro da Fazenda.

Na verdade, o caldo azedara mais um pouco em relação a abril porque o Banco Central votara dividido, reforçando suspeitas de que diretores lulianos do BC baixariam juros na marra e dane-se a inflação. A suspeita é reforçada semanal ou diariamente por Lula, que diz de modo temerário que, quando tiver maioria no BC, a “filosofia” vai mudar.

TIROS NO PÉ – Desde novembro de 2022, quando Lula soltou uns rojões no parquinho, se observa que o presidente dá tiros no pé ou na testa quando diz que vai fazer o que der na telha quanto a gastos. Basta ver o que se passou com juros e dólar.

Faz duas semanas, Lula está em campanha desvairada de tiroteio no pé. Desautoriza continuamente os planos de Haddad. Chama seus adeptos para uma guerra santa contra o BC, ricaços etc. Apela ainda mais a demagogias, quando diz que há centenas de bilhões de benefícios tributários e financeiros para empresas e ricos, boa parte das quais foram concedidas por governos petistas e ainda o são, agora, por ele mesmo (que quer conceder ainda mais).

Pior de tudo, nada disso trata dos problemas maiores de crescimento de médio e longo prazo. Enfim, não havia motivo para tamanho desarranjo, apesar do vento ruim que vem dos EUA. O país vinha em crescimentozinho melhor; ainda dá até para colocar uns esparadrapos na situação fiscal ruim. Qual o motivo de tamanha burrice?