Roberto Nascimento
Em relação à polêmica sobre os juros, entendo que o presidente do Banco Central está equivocado. Não se justifica elevar a taxa de juros ou mesmo mantê-la nesse patamar alto, quando a inflação está pouco acima da meta. Há evidências de que o economista Roberto Campos Neto (sim, ele mesmo, que prefere investir nos paraísos fiscais do que em sua pátria) perdeu as condições de credibilidade para permanecer como comandante da política monetária.
Campos Neto deveria pedir para sair, quando Bolsonaro perdeu as eleições. Mas se aferra ao cargo, está se lixando para os preceitos éticos e morais, já que fez campanha para Bolsonaro, saindo fora da curva da isenção para continuar no novo governo.
AUTONOMIA ACERTADA – Não está em questão a Independência do Banco Central, votada pelos representantes do povo, no Senado e na Câmara, e que, a meu juízo, foi uma decisão acertada.
Deixo aqui, uma sugestão para que seja estipulado um mandato de quatro anos, a partir da eleição do novo presidente a quatro anos. Se o presidente errar na escolha, o problema é dele.
Na verdade, no esquema atual o sistema financeiro manda nos presidentes do Banco Central. Esse Campos Neto só faz obedecer a ciranda financeira, provocada pelos juros altos, que interferem em toda a cadeia produtiva.
SEM DEMANDA – Nada justifica os juros elevados sem que haja o processo de alta demanda no comércio e na indústria. Se poucos brasileiros estão comprando, evidente que a inflação não é o problema.
O então ministro da Economia, Paulo Guedes, e o próprio Campos Neto fizeram campanha para Bolsonaro. Portanto, se fosse um cidadão ético, o presidente do Banco Central deveria pedir demissão do cargo, por incompatibilidade ideológica com o novo governo.
Mas, ele não irá pedir demissão. Deveria ter saído lá atrás, pois fez algo ainda pior e continuou no governo Bolsonaro, e me refiro ao escândalo Pandora Papers, com a descoberta de investimentos de Campos Neto e de Paulo Guedes nas Ilhas Virgens Britânicas, para não pagar impostos no Brasil. A desculpa deles era de que investir lá fora não é crime. Pode até ser legal, mas, seria ético para um servidor público de tamanho destaque e influência na política econômica? Só no Brasil, mesmo…