Sem revanches ou vinganças, Mujica soube conquistar o mundo civilizado

15 Frases célebres de Pepe MujicaVicente Limongi Netto

Ana Dubeux embala o coração com energia positiva. Reduz o frio com ventos caloroso e fraternos mandados por Deus e Maria. A exemplo da colunista dominical do Correio Braziliense que leitores e assinantes aprenderam e ler e admirar, também passei da fase de encobrir erros e rompantes. Grosserias deixam estilhaços na alma.

Sou mais feliz e iluminado lembrando das lições de amor, tolerância e ternura da minha sábia e eterna mulher, Wrilene, agora no céu. Tento colocá-las em prática. Como salienta Ana Dubeux (Correio – 18/05).

EXEMPLO ÍMPAR – Pepe Mujica plantou e cultivou sentimentos que engrandecem a existência. Ser humano maravilhoso, por dentro e por fora. Mujica cativou o mundo civilizado. Altivo Pepe não pisou em ninguém. “Aprendi a galopar para dentro”, destacou Dubeux.

Um breve parêntese, nessa linha, para lembrar um amigo, valoroso senador Renan Calheiros, ponderando ao me ver furioso: “Limongi, cisca para dentro”. 

Tento, mesmo sabendo que a humanidade nunca ficará livre da escória de pulhas e patifes.

ESCOLA-BASE – A crônica de Dubeux trata, também, de outro tema importante: a necessidade diária e permanente do repórter apurar detalhes, fatos e informações com isenção e cuidado. Erros podem acabar, literalmente, com a vida das personagens acusadas injustamente. Além de degradar o bom e verdadeiro jornalismo.

Dubeux cita o caso emblemático do calejado repórter paulista, Valmir Salaro, enfatizando que pisou feio na bola, na famosa matéria da Escola Base, em São Paulo.  Episódio triste e medonho que Salaro jamais esquecerá por mais que crave o próprio coração de flechadas.

Mas há um detalhe. O erro não foi do repórter, mas do delegado que passou a toda a imprensa informações sobre abusos sexuais que não eram verdadeiras.

DUDA HEROI – Duda Nagle pode soltar foguetes. Conseguiu a façanha de passar do primeiro round com o tetracampeão mundial, Popó. Mas não vai demorar a cair.  Talvez agora, no segundo round. Popó está cozinhando Dudu. Se divertindo. Caramba, luta do século indo para o terceiro round. Dudu é herói. Luta sério. Não sorri. Ao contrário de Popó.

Dudu aborrecendo Popó. Vai se arrepender. Quarto round. Dudu mostrando cansaço. Cambaleando. É herói da resistência. Quinto e penúltimo round. Dudu fugindo de Popó. Cansado. Caiu. Dudu sangrando. Último round. Popó olhou para Dudu, reconhecendo a fibra do adversário. Dudu se esborrachou no chão. Vai cair. Dominado. Não consegue mais revidar socos de Popó. Rosto inchado. Gelo é bom.

Popó ganhou por unanimidade, por pontos. Duda fez jus ao cachê. Público vibrou com ele. Revelou que agora tem boas histórias para contar aos netos. Tem mesmo. 

Bolsonaro reage às críticas de Cid e aliados a Michelle: “Falaram besteira”

Moraes torna públicos vídeos e áudios da delação de Mauro Cid - ICL Notícias

Mauro Cid reclamava da personalidade suja de Michelle

Paulo Cappelli
Metrópoles

Jair Bolsonaro reagiu ao tomar conhecimento de diálogos no WhatsApp entre seu ex-ajudante de ordens Mauro Cid e Fabio Wanjgarten sobre Michelle Bolsonaro. O ex-mandatário afirma que vai procurar Valdemar Costa Neto, presidente do PL, para definir se tomará alguma providência sobre o assunto. Bolsonaro disse à coluna que alguns auxiliares em seu entorno não gostavam da então primeira-dama por conta do rigor com que ela atuava.

“Diferentemente da atual primeira-dama, Michelle botava ordem na casa. Ela é quem botava ordem na casa, e o pessoal não gostava. Mas não justifica essa troca de mensagens, ainda mais em janeiro de 2023, quando eu estava elegível. Um falou besteira, o outro concordou. Vou conversar com o Valdemar sobre isso. Vamos ver o que fazer”, declarou Bolsonaro.

DISSE MAURO CID – Diálogos armazenados pela Polícia Federal no celular de Cid e revelados pelo jornalista Aguirre Talento mostram que o tenente-coronel Mauro Cid disse “preferir votar em Lula” a votar em Michelle. Na conversa, em 27 de janeiro de 2023, o ex-secretário de Comunicação da Presidência Fabio Wanjgarten encaminha uma reportagem com o título “PL cogita Michelle Bolsonaro como candidata à Presidência da República”. Cid, então, responde: “Prefiro o Lula Hahahhaaahahahah”. Wanjgarten concorda: “Idem”.

Dias depois, Wajngarten encaminhou, sem identificar a origem, mensagem que criticava o partido de Bolsonaro pelo salário de R$ 39 mil pago a Michelle pelo PL. “Em que mundo o Valdemar [Costa Neto, presidente do PL] está vivendo?”, dizia a mensagem, como o selo de “encaminhada”.

´PERSONALIDADE SUJA – O tenente-coronel respondeu em áudio. “Cara, se dona Michelle tentar entrar para a política, num cargo alto, ela vai ser destruída, porque eu acho que ela tem muita coisa suja […] não suja, mas ela né, a personalidade dela, eles vão usar tudo contra para acabar com ela”, disse.

Em dezembro de 2022, dias antes de Bolsonaro deixar o poder, Michelle suspeitou que Mauro Cid municiou uma matéria contra ela. A então primeira-dama encaminhou ao tenente-coronel uma reportagem do colunista Rodrigo Rangel, no Metrópoles, com o título: “‘Teimosa’, ‘medíocre’, ‘falsa crente’: os petardos de um auxiliar de Bolsonaro contra Michelle”.

Michelle escreveu: “Agiu rápido”. Cid leu a mensagem, mas preferiu não responder.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam que o nível das pessoas no entorno do poder é baixíssimo. É um milagre este país continuar crescendo sob administração dessa gentalha. A resistência do Brasil a tipos como Lula e Bolsonaro é impressionante, devemos constatar. (C.N.)

A simplicidade e genialidade da canção “Volta”, de Lupicínio Rodrigues

Morto há 50 anos, Lupicínio Rodrigues vive na música do Brasil pela  maestria ao versar sobre a inevitável sofrência | Blog do Mauro Ferreira |  G1

Lupe, grande nome da música brasileira

Paulo Peres
Poemas & Canções

O compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues (1914-1974), Lupe, como era chamado desde pequeno, sempre foi um mestre no emprego do lugar-comum, tal qual ele capta nos versos de “Volta” o imenso vazio das noites que a saudade as torna insones.  A música foi gravada por muitos intérpretes, inclusive Gal Costa, no LP Índia, em 1973, pela Phonogram.

VOLTA
Lupicínio Rodrigues

Quantas noites não durmo
A rolar-me na cama,
A sentir tantas coisas
Que a gente não pode explicar
Quando ama.

O calor das cobertas
Não me aquece direito…
Não há nada no mundo
Que possa afastar
Esse frio do meu peito.

Volta!
Vem viver outra vez ao meu lado!
Não consigo dormir sem teu braço,
Pois meu corpo está acostumado…

Seminários aumentam promiscuidade entre políticos, empresários e lobistas

Não existe tensão entre os poderes, apenas divergências', declara Luís  Roberto Barroso | Jovem Pan

Barroso e outros ministros participam da promiscuidade

Julia Chaib e Raphael Di Cunto
Folha

Empresários, lobistas, autoridades do governo, de tribunais e de agências reguladoras, governadores, deputados e senadores esvaziaram Brasília na última semana para uma série de eventos públicos, jantares e reuniões privadas em Nova York, em roteiro que ficou conhecido como “Brazil Week”.

A proposta era vender o Brasil para investidores, autoridades e empresários estrangeiros, embora a maioria dos eventos tenha reunido, majoritariamente, apenas brasileiros. Empresas como JBS, Banco Safra, BTG Pactual, XP Investimentos e Itaú organizaram encontros entre empresários e políticos.

OPORTUNIDADES – Esses encontros, de acordo com relatos, foram a oportunidade de empresários com interesses em medidas legislativas e regulatórias se aproximarem de políticos com poder decisório e levarem suas demandas. Também foi a chance de investidores terem contato com autoridades e discutirem temas como o patamar da taxa de juros e o que pensam os parlamentares sobre os projetos de cada setor.

A Gerdau, por exemplo, aproveitou um seminário que a tinha como patrocinadora para reclamar do que vê como lentidão do governo brasileiro para lidar com as tarifas impostas pelos Estados Unidos e ainda cobrar medidas contra a “competição desleal” de produtos chineses.

Uma das estrelas da Brazil Week foi o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que cancelou a agenda no Legislativo para participar dos seminários nos Estados Unidos. Ele, no entanto, só divulgou os compromissos em 1 dos 4 dias da viagem.

BARROSO E MOTTA – O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Luís Roberto Barroso, também participou. Em uma dessas confraternizações, Motta antecipou a Barroso pessoalmente que entraria com recurso no STF contra a decisão da Primeira Turma da Corte de rejeitar a votação da Câmara para suspender a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ).

Dois deputados contam que Motta recebeu o apoio de empresários no embate com o STF. Ouviram que o Congresso não pode se apequenar e que deve reafirmar suas prerrogativas.

Na segunda-feira (12), jantar promovido pelo grupo Esfera Brasil reuniu boa parte das autoridades que foram a Nova York. Num coquetel, encontraram-se parlamentares, empresários, governadores e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

PROMISCUIDADE – A reunião colocou no mesmo espaço figuras diretamente envolvidas na polêmica compra do Banco Master: os empresários Joesley e Wesley Batista (da JBS, PicPay e Banco Original), André Esteves, do BTG, e Paulo Henrique Costa, presidente do BRB. O presidente do Master, Daniel Vorcaro, foi aconselhado por empresários a não comparecer.

O ex-presidente Michel Temer (MDB), que foi convidado para eventos na cidade, não participou dos encontros em que estavam os Batistas.

Estavam lá também uma comitiva de deputados que acompanhou Motta, o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI), o presidente do TCU (Tribunal de Contas da União), Vital do Rêgo, o ministro Renan Filho (Transportes) e Dario Durigan (secretário-executivo do Ministério da Fazenda).

MAIS PRESENÇAS – Governadores também marcaram presença nos eventos, como Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO), Ibaneis Rocha (MDB-DF), Renato Casagrande (PSB-ES), Eduardo Leite (PSD-RS), Raquel Lyra (PSD-PE) e Cláudio Castro (PL-RJ).

Todos, à exceção de Tarcísio, estiveram no fórum organizado pelo Lide no dia seguinte. O Governo do Rio de Janeiro foi um dos patrocinadores do evento. Na ocasião, Caiado e Leite se colocaram como pré-candidatos à Presidência.

Tarcísio de Freitas , um dos protagonistas da semana pela expectativa de que seja candidato a presidente, não foi a dois eventos para os quais seu nome estava anunciado: além do promovido pelo Lide, do ex-governador de São Paulo João Doria, não esteve no da revista Veja, que também ocorreu na terça (13).

MÁ COMPANHIA… – Aliados disseram que ele decidiu faltar ao evento da Veja por causa de um dos patrocinadores, a Refit, Refinaria de Petróleo de Manguinhos, controlada pelo empresário Ricardo Magro.

A refinaria foi a patrocinadora master da conferência, que também contou com dinheiro do Governo do Rio de Janeiro. O Fisco estadual cobra R$ 8,9 bilhões da refinaria, como mostrou o UOL. O Governo de São Paulo cobra R$ 9,5 bilhões. Procurada pela Folha, a empresa não se manifestou. Outros apoiadores do evento foram a JBS e a Cedae, companhia de saneamento do Rio de Janeiro.

No mesmo dia, a JBS promoveu um almoço no restaurante Fasano, que reuniu cerca de 200 pessoas. À noite, as autoridades se dividiram entre jantares do site Congresso em Foco, XP e Banco Safra.

ORGANIZAÇÃO GLOBO  – Na quarta (16), as mesmas autoridades se reuniram em evento promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico, que, desta vez, teve a presença de Tarcísio.

Motta e Barroso também estiveram no evento. Depois das palestras, o deputado conversou com representantes da SpaceX, empresa de Elon Musk. O presidente da Câmara afirmou que os empresários americanos querem ampliar os investimentos no país.

Com Brasília esvaziada diante do cancelamento das sessões da Câmara e uma pauta fraca no Senado, outros grupos de parlamentares viajaram aos Estados Unidos.

OUTROS ENCONTROS – A bancada ruralista participou da Sugar Week, que reúne grandes empresas do setor sucroalcooleiro, e congressistas de direita conversaram com autoridades e instituições americanas, além de encontrarem o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que se licenciou do mandato para morar nos EUA alegando perseguição do STF.

Questionados sobre a razão de ir até Nova York para participar de eventos majoritariamente com a presença de brasileiros, Caiado, Castro e Leite disseram que é a oportunidade para vender seus estados e se apresentar a investidores estrangeiros.

A governadora Raquel Lyra disse, em nota, que cumpriu missão internacional, com agendas como participação em seminários e a assinatura de um contrato para ampliar a capacidade de armazenamento de gás natural liquefeito no Complexo de Suape.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Para que servem esses encontros no exterior? Bem, a única e exclusiva motivação é reforçar a promiscuidade entre políticos, empresários e governos, numa boca livre gigante, armada por lobistas. Apenas isso. O pais ganha o quê com isso? Nada, rigorosamente nada. (C.N.)

Até senadores do PT já estão apoiando a CPMI do escândalo que atinge INSS

Fabiano Contarato | Partido dos Trabalhadores

Contarato é um dos petistas que apoiam a Comissão

Caio Junqueira
da CNN

Uma ala do Partido dos Trabalhadores (PT) está contrariando o governo ao apoiar a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para investigar fraudes no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O senador Fabiano Contarato (PT-ES) foi o primeiro representante do partido a assinar o requerimento para a instauração da comissão.

A decisão de Contarato reflete uma divisão interna no PT e no governo em relação à abertura da CPMI. Enquanto alguns membros do partido defendem a investigação como forma de minimizar danos à imagem do governo e demonstrar comprometimento com a apuração dos fatos, outros se opõem à medida.

CARVALHO, TAMBÉM – O líder do PT no Senado, Rogério Carvalho, também se posicionou favoravelmente à CPMI. No entanto, na Câmara dos Deputados, o líder Lindbergh Farias se opõe à iniciativa, alinhando-se à posição da ministra da Articulação Política, Gleisi Hoffmann, que é contrária à comissão.

A falta de uma posição oficial do governo Lula sobre o assunto tem gerado incertezas e tensões entre os parlamentares petistas. Alguns membros do partido argumentam que uma investigação que abranja um período mais amplo, incluindo governos anteriores, poderia diluir as responsabilidades e contextualizar as fraudes identificadas.

A possível instalação da CPMI representa um desafio para o governo, que teme perder o controle sobre a narrativa e a condução das investigações. A composição da comissão e a definição de sua relatoria são pontos cruciais que podem influenciar o rumo e o impacto político das apurações.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Os parlamentares do PT têm a ilusão de que conseguirão convencer o eleitor de que os descontos são culpa do governo Bolsonaro, embora tenham sido autorizados em 2003, no primeiro governo Lula, quando foram criados os empréstimos consignados para aposentados. Até então, o desconto em folha era proibido, lembram? (C.N.)

Igualdade perante a lei e liberdade de expressão serão derrotadas pelo Supremo

Charge do Zé Dassilva (NSC Total)

Demétrio Magnoli
Folha

A igualdade perante a lei e a liberdade de expressão enfrentam julgamento no STF. Há fortes sinais de que os dois princípios constitucionais serão derrotados. O caso específico é a arguição de descumprimento de preceito fundamental para derrubar o artigo 141, inciso II, do Código Penal, que determina aumento de pena para culpados de crime contra a honra de servidor público.

Na sessão inicial, o relator Luís Roberto Barroso votou pela derrubada parcial, mas foi seguido apenas por André Mendonça. Flávio Dino abriu divergência, sendo acompanhado por Cristiano Zanin, Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes.

CASO DE SERVIDOR – Segundo Barroso, “funcionários públicos devem tolerar um maior nível de exposição, escrutínio social e críticas, ainda que injustas”. Só excetuou a calúnia, tipo penal que, por admitir a exceção da verdade, protege a crítica legítima da criminalização. Seu argumento, razoável, é que a calúnia pode ameaçar a atuação institucional do agente público.

“Chamar um servidor de louco ou incompetente pode ser injusto, mas não justifica uma pena maior só por ele ser servidor”, adicionou Mendonça, enfatizando o óbvio. Não convenceu seus pares, pois a casta exige o privilégio de casta.

Dino e Zanin saíram em defesa da lógica da casta: a desigualdade perante a lei. O bem protegido pelo aumento de pena, disseram, não é o servidor, mas a “dignidade da função pública”.

MUITOS REIZINHOS – No fundo, afirmaram que o servidor personifica o próprio Estado, o que sugere uma pretensão de substituir a República por uma monarquia coletiva, na qual cada agente estatal seria um reizinho.

Na monarquia o trono é sagrado, pois representa o Estado. O monarca, que não é eleito e reina pela vida inteira, teria dois corpos: o físico (“natural”) e o político (“espiritual”). O segundo corpo é o trono vivo, o que justifica sua elevação ao plano dos objetos intocáveis.

Os ministros do STF que operam como sentinelas do artigo 141, inciso II, invocam a teologia política medieval para preservar privilégios da casta de políticos, desembargadores e burocratas brasileiros.

DISSE XANDÃO – Alexandre de Moraes, o juiz que arrogou-se às atribuições da extinta Divisão de Censura de Diversões Públicas da ditadura, apontou uma “leniência” na punição como causa das ofensas sofridas por funcionários públicos nas redes sociais.

Flávio Dino, juiz nos dias pares e político nos ímpares, esclareceu tratar-se de uma questão tanto corporativa quanto pessoal:

“Eu não admito que ninguém me chame de ladrão. Porque esta tese da moral flexível que inventaram é a tese que desmoraliza o Estado”. Cortem a cabeça dos bolsonaristas que pregam em Lula a alcunha de ladrão –e dos petistas que qualificam Bolsonaro como genocida.

CHAMAR DE LADRÃO – Um pinga-fogo entre Mendonça e Dino iluminou a divergência. “Chamar de ladrão é uma opinião, não um fato específico”, esclareceu o primeiro. “E ministro do Supremo, pode?”, indagou o segundo, ouvindo a resposta democrática do mais conservador entre os magistrados: “Eu não sou distinto dos demais”.

Dino replicou, imaginando desferir a estocada definitiva: “Se um advogado subir nesta tribuna e disser que Vossa Excelência é ladrão eu ficarei curioso para ver a reação”. A tréplica: “Irá responder por desacato ou crime na mesma pena que qualquer cidadão”.

Qualquer cidadão? A casta não reconhece tal figura jurídica.

Ao invés de avançar, Lula faz o Brasil recuar em termos de política externa

A imagem mostra dois homens se cumprimentando com um aperto de mão. À esquerda, um homem de cabelo curto e claro, vestindo um terno escuro. À direita, um homem com cabelo grisalho e barba, também vestindo um terno escuro com uma gravata colorida. Ao fundo, há outras pessoas e bandeiras visíveis, sugerindo um ambiente formal, possivelmente uma reunião ou cúpula internacional.

Lula precisa aprender o que é neutralidade na diplomacia

Maria Hermínia Tavares
Folha

Imagine se, em 2022, o presidente chileno Gabriel Boric tivesse vindo ao Brasil para participar dos festejos do 7 de Setembro, organizados por Jair Bolsonaro com o propósito de mobilizar seus apoiadores contra a democracia e as instituições que a garantem. O visitante poderia argumentar que sua presença se justificaria pelos valiosos acordos de cooperação entre os dois países, a serem firmados na visita.

Ocorre que, eleito por uma coalizão da esquerda democrática, lhe seria para lá de difícil explicar o que fazia no meio da extrema direita disposta a degradar as costumeiras comemorações da data nacional brasileira em um pré-carnaval golpista.

ENCENAÇÃO – O presidente Boric não veio ao Brasil naquele 7 de Setembro, mas o presidente Lula foi a Moscou prestigiar a encenação de que o autocrata Vladimir Putin se serviu para perverter a comemoração da histórica derrota da Alemanha nazista pelos aliados, em 1945 —para a qual a União Soviética contribuiu com 27 milhões de mortos, entre civis e militares—, em exibição de seu vasto poder e legitimação de suas pretensões expansionistas sobre a Ucrânia.

A diplomacia presidencial, quando bem-feita, fortalece a ação externa de um país, agregando-lhe o peso da autoridade e o prestígio que a figura do primeiro mandatário suscita.

Funciona como lente de aumento da atuação, por definição, mais discreta e continuada dos diplomatas profissionais, tão mais eficaz quanto mais capaz de demonstrar coerência de objetivos e escolha adequada dos meios para alcançá-los.

EM BUSCA DA PAZ – Por uma combinação de escolha e necessidade, a política externa brasileira tradicionalmente apostou em soluções pacíficas para conflitos internacionais e na ação concertada em organizações e arranjos multilaterais.

À opção pelo multilateralismo somou-se uma orientação universalista na busca de parceiros para o comércio e para outras formas de cooperação. O país sempre esteve disposto a transacionar com todo o mundo e a se relacionar com todas as nações, fossem quais fossem seus regimes.

Com a Constituição de 1988, a defesa da democracia e o respeito aos direitos humanos vieram lustrar os princípios norteadores da atuação externa do país. Não por acaso, menos ainda por capricho, mas pela presumível convicção de que o regime de liberdades estaria mais bem garantido dentro de nossas fronteiras se também predominasse além delas.

DEMOCRACIA, SEMPRE – De toda forma, ao longo destas quase quatro décadas, o exercício da política externa brasileira ancorada no universalismo e no respeito à soberania alheia nem sempre esteve sintonizada com o compromisso democrático. Talvez sirva de consolo o fato de que essa tensão real marca não apenas a ação exterior brasileira, mas a de outras nações ocidentais.

As relações com regimes ditatoriais —como os da Rússia, Venezuela e China, entre tantos outros menos relevantes para nós—, assim como com países que perigam enveredar pelo mesmo caminho, como os EUA de Trump, colocam íngremes desafios para o país.

Requerem pragmatismo, sutileza e muita nitidez quanto ao que se quer alcançar. Dispensam uma diplomacia presidencial desorientada e constrangedoramente submissa aos autocratas de todos os idiomas.

Desanimado, deputado petista diz que “a direita entrou na mente das pessoas”

MP denuncia deputado mineiro por suposto esquema de corrupção em prefeitura

Deputado Luizinho lamenta as contradições de seu partido

Fabiano Lana
Estadão

A primeira frase do título deste artigo, na verdade, um lamento, é de um deputado do PT de Minas Gerais, Luiz Antonio da Silva, o Luizinho. Literalmente, disse o seguinte, , em encontro da bancada: “Nosso partido precisa voltar a disputar o pensamento das pessoas. Foi o que a direita fez. Entrou na mente das pessoas. Nós não, Estado, mais obra, mais obra, mais obra. Isso esgotou também”, segundo uma reportagem da rádio Itatiaia, de Belo Horizonte.

O deputado ainda cometeu uma heresia. Admitiu que está cansado de elogiar o PT e o presidente Lula, o que é uma determinação dogmática de seu partido. “Me cansa, às vezes, falar bem do Lula, falar bem da gente, falar bem do nosso partido, como se nós fôssemos donos da verdade”, admitiu Luizinho.

SEM DISCURSO – O deputado tocou na ferida. Neste Brasil de 2025, com o avanço de valores conservadores (e também reacionários), valorização de práticas empreendedoras, individualismo, repúdio à impunidade de criminosos sejam ricos ou pobres, crescimento da população evangélica, teologia da prosperidade, economia uberizada e “streaminzada”, ameaças da inflação, qual o discurso do PT para a população brasileira?

Não parece haver, neste momento, clareza de qual rumo a seguir neste campo político. A questão da ascensão social por meio de benesses do Estado parece ter chegado a certo esgotamento.

As bolsas assistenciais consolidaram um eleitorado fiel, mas há dificuldades de se chegar às mentes e corações de quem está acima das fronteiras da pobreza.

BARREIRA DE REJEIÇAO – Lula, é preciso recordar, só venceu Bolsonaro nas faixas de 1 a 2 salários mínimos da população brasileira na eleição de 2022. A partir da classe C encontra uma barreira de rejeição sempre crescente por faixas de renda.

O drama do PT é um problema mundial. Com o fim de grandes narrativas totalizantes, como o socialismo, a esquerda abraçou com força o chamado identitarismo – no sentido de focar na cor da pele e no gênero das pessoas. Sem julgar o mérito, não funcionou politicamente.

E deu mote para contra-ataques políticos a partir do uso de discursos como o de proteger a família, e até mesmo reacendeu um nacionalismo adormecido, por parte da direita e por aí vai – o deputado Nikolas Ferreira que o diga.

E TUDO MUDOU… – Por falar em Nikolas, vale citar as redes sociais. Elas acabaram revelando que a dimensão atual de antigos totens da esquerda brasileira, principalmente da classe artística, é imensamente menor do que uma gama de influenciadores, subcelebridades, artistas do sertanejo, que hoje apontam a seta para a direita.

Vídeos com cantores da antiga e da neo-MPB a favor de uma posição política qualquer nos dias de hoje não têm grandes relevâncias eleitorais.

Por outro lado, os vídeos do parlamentar mineiro parecem fazer o Planalto tremer – imaginem que distopia estão vivendo. Com medo de um rapaz com menos de 30 anos ligar um celular e soltar os cachorros no governo federal.

SEM SEGURANÇA – Falar de segurança pública é outra dificuldade da esquerda. A ideia de o infrator como vítima de uma sociedade injusta parece estar entranhada nos corações, no mínimo desde os livros como o “Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens”, de Jean-Jacques Rousseau, do século 18.

Enquanto isso, a direita não tem pudores em falar em redução da maioridade penal, liberação de armas, pena de morte, o que for.

Corrupção é outro tema tabu. Não só pela questão do INSS, na qual tomam uma surra nas redes na guerra de versões sobre quem é responsável pelo escândalo.

PARCERIA ESPÚRIA – Mas, novamente sem entrar no mérito, o desmantelamento da Lava Jato tem como consequência política a impressão – bastante comum no cidadão médio – de que há uma parceria da elite do Judiciário com o Partido dos Trabalhadores para poupar os figurões da legenda, antes em apuros.

Sobre questões como aborto e drogas, no Brasil, ao contrário de outras democracias liberais do mundo, os postulantes a cargos majoritários de esquerda costumam dar declarações envergonhadas favoráveis à proibição.

Restaria falar de democracia. Afinal, há indícios bastante veementes de que o maior líder da direita brasileira em todos os tempos, Jair Bolsonaro, tentou dar um golpe de Estado e seguirá para a cadeia.

LULA DESPERDIÇA – Mas o que faz o presidente Lula com essa janela de oportunidade? Sucumbe ao vício de adular ditadores e vai se encontrar (e afagar) o russo Vladimir Putin em Moscou, numa espécie de conferência dos autoritários do mundo.

Deixou empatar um jogo em que poderia vencer de goleada. É desses deslizes da esquerda que a direita se aproveita.

Tanto Supremo quanto Congresso estão com suas credibilidades em queda livre 

iMaranhense | A charge desta quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025 é de Paulo Sergio. * As charges não representam necessariamente a posição do... | Instagram

Charge do Paulo Sergio (iMaranhense)

Merval Pereira
O Globo

Como diz um velho ditado, até um relógio parado está certo duas vezes ao dia. Assim também, até um Congresso esclerosado pelo fisiologismo ou patrimonialismo pode estar certo em algum momento. É o caso da proposta negociada pelos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, para equilibrar as penas dos indiciados na tentativa de golpe de 2023, reduzindo as dos “bagrinhos” e, quem sabe, aumentando as dos líderes.

Não é razoável que a imensa maioria de meros “inocentes úteis” recebam as mesmas penas e sejam acusados dos mesmos crimes que o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus asseclas, militares ou civis.

Mesmo que se entenda que ali não havia inocentes, não eram os financiadores e estrategistas que comandaram a depredação dos prédios públicos, mas uma “massa de manobra” incentivada a tal vandalismo pelos verdadeiros “estrategistas”, muitos deles infiltrados na multidão para facilitar a invasão.

TÁTICAS DE GUERRILHA – Quem teve a ideia de usar as grades como escadas para entrar no prédio do Congresso? Várias táticas de guerrilha foram empregadas, naturalmente instruídas por profissionais misturados à multidão.

O problema com esse Congresso é que, ao mesmo tempo que promove uma mudança de bom senso, também aprova uma alteração na legislação protegendo a imunidade parlamentar para tentar salvar Bolsonaro e demais envolvidos das punições que merecem.

Mesmo sem ser parlamentares, esses militares e o próprio ex-presidente tentam pegar carona na alteração para se livrar do julgamento. Mais ainda, nem mesmo acredito que a lei proposta tenha sido feita para proteger o deputado federal Alexandre Ramagem, na época do golpe chefe da Abin.

SALVAR BOLSONARO – A intenção sempre foi salvar Bolsonaro, como se com isso conseguissem que ele pudesse se candidatar à eleição presidencial do próximo ano.

Além de ser uma interpretação “teratológica”, como nossos jurisconsultos supremos gostam de classificar as propostas absurdas que fogem à lógica jurídica, Bolsonaro está inelegível por outros crimes, que não os da tentativa de golpe.

O Tribunal Superior Eleitoral o tirou do páreo por abuso do poder político e econômico de seu cargo de presidente da República na campanha que promoveu contra as urnas eletrônicas, em particular a reunião com embaixadores no Palácio da Alvorada meses antes do primeiro turno.

CRISE INSTITUCIONAL – Agindo dessa maneira, o Congresso cria uma crise institucional que não tem como ser resolvida sem que um dos lados ceda.

Ou o Supremo Tribunal Federal aceita acatar a interpretação do Congresso, abrindo mão de sua condição de ser a última palavra em constitucionalidade; ou o Congresso, diante da reafirmação já feita pelos cinco ministros da Primeira Turma de que a proteção legal só existe para os crimes cometidos depois que Ramagem foi eleito, acata a decisão do Supremo e esquece o assunto.

São percalços de uma democracia ainda em desenvolvimento, que só se consolidará quando os Três Poderes se convencerem de que é melhor para todos cada um cuidar de seu pedaço sem se intrometer no dos outros.

ERRAR POR ÚLTIMO – A prevalência do STF sobre os demais Poderes, pois é aquele que dá a última palavra ou, como definiu Rui Barbosa, aquele que tem o direito de “errar por último”, é fundamental para que nossa democracia se consolide. A frase de Rui Barbosa é irônica, mas fundamental para o entendimento dos freios e contrapesos democráticos.

É preciso, porém, que mesmo os derrotados por uma decisão do Supremo estejam convencidos de que o eventual erro não foi cometido por má-fé, ou por questões políticas, para beneficiar um dos lados.

Essa tarefa cabe ao STF, evitando que palavras fora dos autos, ações dúbias ou privilégios de seus ministros criem dúvidas nos cidadãos sobre sua credibilidade.

Oportunista, o Congresso age como sócio majoritário da ineficiência institucional

Como funciona a Câmara Federal? – Brasil de Fato

Os interesses do país ficam para segundo plano na Câmara

Janio de Freitas
Poder360

Os fatores permanentes contrários à democracia são tantos, e tão integrados na vida brasileira, que sequer são vistos pelo que de fato fazem. A prevista piora, nas últimas eleições, da composição de Senado e Câmara parece não se confirmar, mas o ranço antidemocrático deixado pelo Congresso bolsonarista está ativo, sob formas ilusórias.

O principal objetivo atual dos deputados bolsonaristas, explícitos ou disfarçados, é livrar de punições judiciais os seus correligionários envolvidos no golpismo.

Daí, a aprovação da medida para impor ao Supremo Tribunal Federal a exclusão de Alexandre Ramagem dos inquéritos do golpe: ele já estava eleito deputado no 8 de Janeiro golpista e, portanto, com imunidade.

O STF acatou a exclusão. Para os fatos posteriores à diplomação de Ramagem. Só. Este processado é ninguém menos do que o criador da Abin falsa, importante na conspiração golpista e nos planos da violência homicida pós-golpe.

Apesar disso, o recém-presidente da Câmara, Hugo Motta, assumiu, ele mesmo, a reação ao STF, acusado de ignorar a independência do Congresso. São aí duas mesmices.

Uma, o Congresso levado a mais um choque com o Supremo para servir a Bolsonaro e outros golpistas, também possíveis beneficiados pela medida dos deputados. Outra mesmice, a de um líder político nascente, com larga oferta de futuro político significativo, e já optando pelo corporativismo fuleiro para um carreirismo de ganhos pessoais.

Formado em medicina, Hugo Motta é o mais moço presidente da Câmara. Arrisca-se a ser o mais jovem exemplo da quase impossibilidade de renovação política.

A tentativa a pretexto de Ramagem foi precedida do confronto das emendas, ainda inconcluso. A destinação de dezenas de bilhões com sigilo de todos os dados, do proponente até o uso da verba – as tais emendas secretas – é talvez a mais audaciosa das imoralidades congressistas em tempos não ditatoriais.

A reação de deputados e senadores ao STF e em especial ao ministro Flávio Dino, pela sustação do assalto ao Tesouro Nacional, acompanha a imoralidade da prática vetada.

Com sucessivos artifícios para burlar o retorno à transparência legal, mais as ameaças até de impeachment no STF, o confronto dos dois Poderes chegou à iminência de crise institucional muito maior do que transpareceu.

E este é um problema em aberto, porque os interesses nas emendas, os escusos e os legais, continuam violentando o Orçamento. A voracidade congressista sobre essas verbas é demonstrável: de R$ 11,7 bilhões em 2018, último ano pré-Bolsonaro, o montante com destino indicado por congressistas saltou em 2022, último ano de Bolsonaro, para R$ 35,6 bilhões.

Com alterações do Congresso no Orçamento proposto pelo governo, as verbas destinadas por congressistas devem ir a R$ 50,4 bilhões.  É dinheiro gasto sem conexão com projeto ou programa algum do governo. Cada dotação tanto pode ir para uma obra municipal, como para um destinatário não oficial.

Tanto pode ter aplicação correta, como ser desviada em parte ou no todo. Entende-se que investigações policiais estejam detalhando até a venda de emendas. As benesses e concessões aos congressistas, às quais veio a juntar-se a “presença à distância”, já seriam bastantes para impedir a eficiência da Câmara e do Senado.

O jogo de interesses partidários e pessoais sujeita as pautas a uma ordem de trabalhos sem relação com a importância e o grau de premência das decisões. A realidade é clara: a Câmara e o Senado são ineficientes, são responsáveis por parte da ineficiência dos governos, e o são pelas carências que se mantêm no país como absurdos.

Uma realidade que se contrapõe, mesmo não sendo seu propósito, aos empenhos pela democracia. E a Câmara quer ser ainda maior: aprovou o aumento do total de deputados de 513 para 531. O Senado decidirá. Ou o corporativismo.

Com Bíblia, boi e bola, Eduardo Cunha tenta se eleger por Uberaba, em Minas

Cunha (de blazer) ao lado do presidente do Uberaba Sport Club, Rodrigo Alcino: patrocínio no futebol vem através de rádio gospel

Cunha (de blazer) ao lado do presidente do Uberaba

Bernardo Mello
O Globo

Após quatro décadas fazendo política no Rio, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha abriu uma série de frentes de atuação em Minas Gerais, estado em que avalia se candidatar a deputado federal em 2026. Cunha se tornou patrocinador de um clube de futebol em Uberaba, município do Triângulo Mineiro, onde também passou a marcar presença em leilões de gado e em cultos evangélicos neste ano.

O ex-deputado ainda vem abrindo estações de rádio no interior de Minas, estratégia que tem semelhança com a origem de sua carreira parlamentar no Rio, quando ganhou notoriedade com participações diárias em uma rádio gospel.

CINCO RÁDIOS – Levantamento do Globo identificou a abertura de cinco rádios ligadas a Cunha em Minas desde o ano passado. Em Uberaba, o ex-presidente da Câmara adquiriu a estação Agora FM, que pertencia ao empresário local Hermany Andrade Junior, e a rebatizou em fevereiro como Rádio Maravilha — é o mesmo nome de uma estação, também ligada a Cunha, que foi aberta em 2024 no Rio, voltada à programação gospel.

Quando a aquisição da rádio mineira foi sacramentada, Cunha já havia sido anunciado, em dezembro, como patrocinador do Uberaba Sport Club, time de futebol que disputa a segunda divisão do Campeonato Mineiro.

Há um mês, o ex-presidente da Câmara gravou um vídeo para as redes sociais do clube desejando “todo o sucesso na luta pra chegar à primeira divisão”. A Rádio Maravilha transmitirá os jogos do Uberaba.

FEIRA DE GADO – O atual presidente do clube, Rodrigo Alcino, tornou-se um dos principais aliados de Cunha na cidade e ciceroneou uma visita do ex-deputado às instalações do Uberaba no fim de abril.

No mesmo dia, Cunha visitou a abertura da Expozebu, feira de gado que também recebeu o governador de Minas, Romeu Zema (Novo), e outro ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL).

Além da rádio em Uberaba, Cunha assumiu as estações Juventude FM, em Além Paraíba; Rádio Carangola, na cidade homônima; Rede Gerais AM 1460, em Raul Soares; e Rádio Maravilha, em Guarani. Todos os municípios ficam na Zona da Mata, região próxima à divisa de Minas com o Rio — estado em que Cunha hoje tem participação em outras três rádios, nos municípios de Casimiro de Abreu, Rio Bonito e São Fidélis.

DANI CUNHA – Em Minas, as estações a cargo de Cunha estão em nome de Daniel Cardoso Sá, genro do ex-deputado e casado com a deputada federal Dani Cunha (União-RJ).

A interlocutores, o ex-presidente da Câmara afirma que não disputará eleição no Rio para não concorrer contra a filha, mas que ainda não bateu o martelo se lançará candidatura por Minas ou por São Paulo — estado no qual já se candidatou em 2022, mas não foi eleito.

O genro de Cunha também atuou na Sudeste Rádio Atividades de Comunicação, empresa instalada em janeiro deste ano na Savassi, bairro de Belo Horizonte. O objetivo é estruturar uma rádio na capital mineira.

FÉ EM VALDOMIRO – Na peregrinação para criar raízes fora do Rio, Cunha vem se escorando no apóstolo Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial do Poder de Deus.

O ex-presidente da Câmara participou no início de abril de um culto evangélico conduzido por Valdemiro em Araxá (MG), município do Triângulo Mineiro a cerca de 100 quilômetros de Uberaba. No palco, Valdemiro sentou-se ao lado de Cunha e fez alusões a seu período à frente da Câmara, quando conduziu o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

— O deputado Eduardo Cunha, para mim, é eterno deputado, é um dos melhores que já vi até hoje. As decisões que ele tomou no passado, sabendo o que ia sofrer, foram muito importantes, foi pela nação — disse Valdemiro.

COM TARCÍSIO – No último fim de semana, Cunha voltou a ser recebido em um culto de Valdemiro, desta vez no Brás, bairro popular de São Paulo. O ex-presidente da Câmara dividiu o altar com o governador Tarcísio de Freitas, seu correligionário no Republicanos, partido que segue sob a alçada de Cunha no Rio — embora o grupo do ex-deputado esteja sob risco de ser desalojado da sigla, devido à pressão da Igreja Universal para retomar o comando partidário.

No início da trajetória, Cunha se tornou conhecido no meio evangélico através da Rádio Melodia, do ex-deputado Francisco Silva. Na rádio, Cunha fazia comentários sobre questões políticas e religiosas, e criou o bordão “o povo merece respeito”, que depois levou para campanhas eleitorais.

Um possível correligionário de Cunha, o senador Cleitinho Azevedo (Republicanos-MG), que é pré-candidato ao governo de Minas, afirmou recentemente que irá “rodar o estado inteiro fazendo campanha contra” o ex-presidente da Câmara caso ele se candidate.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Cunha ficou rico na política desde o governo Collor, quando assumiu a estatal Telerj no Rio. Tornou-se evangélico e conseguiu se eleger sucessivamente. Na Lava Jato, foi preso e cumpriu pena por corrupção. Ficou fora na política, mas o dinheiro continuou rendendo e ele voltou à vida de antes. No Brasil, a Justiça às vezes prende o corrupto, mas sempre esquece de retomar os bens. (C.N.)

Para esculhambar de vez, a única coisa que o Brasil precisava era uma dona Janja…

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Charge do Jindelt (Arquivo X)

J.R. Guzzo
Gazeta do Povo

Já passou pela sua cabeça, ou pela cabeça de alguém que você conhece, ir a uma reunião de trabalho da empresa e levar a sua mulher junto? E, caso você mesma seja mulher, dá para levar o maridão? Pior ainda, nessa reunião a sua mulher toma a palavra, que ninguém ofereceu, e dispara a falar direto com o presidente da empresa, querendo que ele tome providências sobre coisas que estão acontecendo na sua própria casa. Parece uma dessas piadas de “marido banana”. Mas é exatamente assim que anda o Brasil de Lula e Janja.

É uma humilhação, para o Brasil e para os brasileiros, que a mulher do presidente da República se meta como penetra numa reunião oficial. Fica mais constrangedor ainda quando o presidente concorda, em público, com o que a mulher fez – ou é obrigado a dizer que concorda.

CRETINICE DE JANJA – Mas foi isso o que aconteceu nessa última viagem de Lula à China, já a quinta que faz ali como presidente. Janja se intrometeu numa reunião com o presidente chinês e disse uma cretinice de “400 talheres” – mais uma do seu vasto repertório.

Janja, desta vez, pediu que o presidente Xi Jinping, um dos seres humanos mais ocupados deste mundo, fizesse “alguma coisa” para resolver uma situação que a incomoda – não na China, mas no Brasil.

Anda irritada pessoalmente com o Tik Tok, que o seu marido não consegue censurar, e achou uma grande ideia pedir que Xi Jinping faça a censura em seu lugar, já que a plataforma é de origem chinesa. O Tik Tok, segundo ela é “de direita”. Não pode, portanto, existir.

FEZ TUDO ISSO – Janja não podia ir à reunião com o marido-presidente. Tendo se metido ali, deveria ficar de boca fechada. Tendo aberto a boca, não podia dizer uma coisa tão burra.

Como ela vai pedir a intervenção de uma potência estrangeira em assuntos do Brasil? Como pode pedir censura, que é vetada pela Constituição do seu próprio país? Como pode achar que “a direita” é ilegal, e tem de ser reprimida como se fosse um crime – e pelo presidente da China? Pois então: ela conseguiu fazer isso tudo.

Janja, naturalmente, recebeu a resposta adequada: Xi Jinping lhe disse que se a plataforma estava fazendo algo de errado, cabe apenas ao governo do Brasil, e obviamente não ao governo da China, tomar as providências que julgar cabíveis. Lula e os ministros presentes não abriram o bico.

VADIAGEM MENTAL – O analfabetismo maciço de Lula, como o Brasil tem sentido nos quase vinte anos de seus governos, tem sido uma desgraça para este país. De um lado da mesa, havia 5.000 anos de cultura. Do outro havia Janja. Só podia mesmo dar nisso.

A última coisa que a população precisava, a essa altura, era uma Janja – que leva a ignorância de Lula a extremos nunca atingidos antes, com a interação intensa entre a sua vadiagem mental e a do marido. Já não bastava Lula? Pois agora, com Janja, temos Lula ao quadrado. Aí fica difícil.

O resto é o mesmo enredo de filme catástrofe. Janja, mecanicamente, se declarou vítima de “machismo”: todas as críticas, disse ela, foram feitas porque ela é “uma mulher” – e não porque cometeu uma estupidez em estado bruto.

MARIDO VELHO – Lula, numa tentativa fútil de fugir à imagem de marido velho que vive fazendo o papel de palhaço por causa da mulher mais nova, veio com a fábula que foi “ele” quem pôs o Tik Tok no meio – e ficou resmungando contra os seus ministros, por terem vazado a história.

Para rematar a performance, anunciou na frente de todo o mundo que pediu a Xi Jinping uma pessoa de “sua confiança” para vir ao Brasil e resolver o problema do Tik Tok – isso mesmo, o presidente brasileiro pediu a um governo estrangeiro que mande um dos seus funcionários para solucionar um problema do Brasil.

Tudo isso aí fica terrivelmente mais ridículo quando Lula ainda finge uma intimidade que não tem com o presidente da China. Chama o homem de “companheiro Xi Jinping” – uma coisa feia, quando está na cara de todo mundo que Xi Jinping não é “companheiro” dele coisa nenhuma, e nunca vai ser.

PROJETOS À CHINESA – Só faltava, a essa altura, anunciar como uma grande vitória da sua viagem que o governo brasileiro vai mandar antecipadamente para a China os seus “projetos de infraestrutura” do PAC, caso os chineses queiram “investir” aqui. E ele fez exatamente isso, acredite!

Que PAC? Que projetos? Que obras? Mais ainda: imaginem a China enviando com antecipação ao Brasil os seus planos de infraestrutura, para as empresas brasileiras irem investir na China.

Pode um negócio desses? É tudo uma comédia gigante, que as elites nacionais fingem levar a sério – e que os brasileiros têm de pagar.

Bolsonaro quer lançar Michelle para seguir no jogo político rumo a 2026

Bolsonaro decide boicotar qualquer candidato de direita

Marcela Mattos e José Benedito da Silva
Veja 

Bolsonaro aposta em Michelle para continuar no jogo político rumo a 2026 Bolsonaro aposta em Michelle para continuar no jogo político rumo a 2026 Bolsonaro aposta em Michelle para continuar no jogo político rumo a 2026

Durante quase todo o mandato do marido, Michelle Bolsonaro fez questão de se manter uma primeira-dama discreta. Avessa à imprensa e aos holofotes, não dava entrevistas, não participava de reuniões ministeriais, não tinha ingerência sobre o governo e não fazia uma superexposição da rotina familiar nas redes sociais.

Com um gabinete no Palácio do Planalto, ela tinha atuação restrita à condução de programas destinados à população vulnerável e à inclusão de pessoas com deficiência, temas centrais de seus raros pronunciamentos.

TUDO MUDOU – Em meados de 2022, a postura mudou radicalmente. A campanha de Jair Bolsonaro detectou que a resistência das mulheres, uma massa de 53% do eleitorado nacional, era um dos fatores que colocavam em risco a reeleição do então presidente, acusado frequentemente de misoginia.

Era necessário um choque de imagem para reverter a situação. Foi aí que Michelle saiu das sombras e emergiu como um trunfo eleitoral pela primeira vez. Na época, ela foi a estrela da convenção que sacramentou a candidatura de Bolsonaro para mais um mandato.

O desfecho da campanha é conhecido. Bolsonaro não se reelegeu, recolheu-se em profunda tristeza no Alvorada e, ao invés de passar a faixa para Lula, embarcou para uma temporada nos Estados Unidos.

RUMOS DIFERENTES – Desde então, as carreiras dos dois tomaram rumos diferentes. Ele ficou inelegível, tornou-se réu por tentativa de golpe e corre o risco de ser condenado à prisão. Ela está em franca ascensão, consolidou-se como um ativo eleitoral e aparece com bom desempenho nas pesquisas, inclusive em cenários em que duela com Lula.

Ciente de suas dificuldades pessoais e do potencial da esposa, Bolsonaro resolveu lançar mão de Michelle mais uma vez como trunfo eleitoral. Por enquanto, apenas como uma forma de ele mesmo continuar com as rédeas do jogo.

Pressionado por aliados a escolher logo um substituto na corrida à Presidência e incomodado com as movimentações de líderes do centro e da direita para colocar uma candidatura alternativa na rua, o ex-presidente e alguns de seus principais aliados estão disseminando a versão de que Bolsonaro pode lançar Michelle ao Planalto.

EFEITO TEMER – Essa possibilidade ganhou força nos últimos dias, depois de o ex-presidente Michel Temer revelar que negocia com cinco governadores de oposição a Lula a formação de uma chapa única na corrida presidencial de 2026, que não teria como candidato, obviamente, o inelegível Bolsonaro. Na lista estão Tarcísio Gomes de Freitas (São Paulo), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Ronaldo Caiado (Goiás), Romeu Zema (Minas Gerais) e Ratinho Jr. (Paraná). Bolsonaro viu na articulação uma tentativa de tirá-lo do jogo desde já, não gostou e reagiu, incensando o nome da própria mulher.

Seu ex-ministro, advogado e eterno porta-voz Fabio Wajngarten foi o primeiro a externar o incômodo do chefe com as conversas em andamento. Ele chamou de “palhaçada” o projeto “Direita sem Bolsonaro” e ameaçou trabalhar por uma chapa em 2026 composta apenas por quadros do PL. “Eleição é voto e o bolsonarismo é a usina geradora deles”, escreveu Wajngarten em uma rede social.

MALAFAIA APOIA – Na sequência, o pastor Silas Malafaia publicou que o nome de Michelle aparece como o mais bem avaliado depois do ex-presidente. “O Bolsonaro vai dar um xeque-mate de mestre: ‘Vocês não me querem? Então engulam a minha mulher’. Aí eu quero ver quem vai se candidatar pela direita”, disse Malafaia a Veja.

“A Michelle está disposta a ir para o sacrifício. Eu digo e repito: ela tem a força das mulheres, a força dos evangélicos, a força dos bolsonaristas e de gente da direita. Ela é uma potência”, acrescentou.

Como o ex-presidente é considerado o maior cabo eleitoral no campo da direita, políticos envolvidos em conversas sobre candidaturas alternativas à do ex-presidente correram para contemporizar. Ninguém quer ser visto como um traidor do capitão nem arcar com as consequências de suas temidas desforras.

REPERCUSSÃO – De Nova York, Tarcísio de Freitas declarou que não existe direita sem Bolsonaro. Já Temer afirmou que sua articulação pode envolver também o ex-presidente, apesar de ele achar que no momento deve ser discutido um projeto, e não o nome que vai representá-lo nas urnas.

Comandando ofensivas em várias frentes para não ser preso e poder disputar a eleição em 2026, o que ele mesmo diz depender de um milagre, Bolsonaro não aceita ser considerado carta fora do baralho. Por ora, o plano Michelle é um tiro de alerta do capitão. Mas o que parece hoje improvável pode ganhar tração caso ele não sinta confiança na lealdade de políticos que lhe fazem a corte.

Um episódio ilustra bem o papel da ex-primeira-dama como trunfo eleitoral. Horas antes da manifestação pró-anistia realizada em Brasília no último dia 7, o pastor Silas Malafaia foi à residência do casal Bolsonaro e fez um diagnóstico sobre a situação de cada presidenciável. Após citar problemas de cada um deles, deu um veredicto aos dois: “Sobrou você, Michelle”.

ORANDO JUNTOS – Sem saber como reagir diante da constatação, ela o convidou a fazerem uma oração juntos. Quando questionada sobre seu futuro político, a ex-primeira-dama costuma dizer que entrega sua vida para o controle divino. Até recentemente, ela admitia uma candidatura pelo Distrito Federal ao Senado, Casa que o bolsonarismo quer dominar a partir de 2027, para tentar aprovar o impeachment do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Até pouco tempo atrás, o próprio ex-presidente sinalizava que o caminho de Michelle seria o do Legislativo. Nas últimas semanas, no entanto, quem esteve com ele garante que o capitão pode mesmo escalar a mulher para um projeto político mais ambicioso.

É uma mudança e tanto, impulsionada pelas circunstâncias atuais.

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NOTA DE REDAÇÃO DO BLOG
Não faltam exemplos. Depois de Isabelita Peron, inventaram Cristina Kirchner na Argentina, com resultados catastróficos. Agora, aqui no Brasil, só falta lançarem Janja contra Michelle, para transformar o Brasil numa gigantesca Argentina, como era antes de Itamar Franco, aquele presidente que não tolerava corrupção. A gente era feliz e não sabia. (C.N.)

Mujica personalizava uma “esquerda” de ateus que seguem Cristo e Gandhi

PIB será bom no primeiro trimestre, com risco de apagão no final do ano

Mas… | Brasil 247

Charge do Miguel Paiva (Brasil 247)

 

Vinicius Torres Freire
Folha

A economia deve ter crescido pelo menos 1,5% no primeiro trimestre de 2025, em relação ao trimestre anterior, o final de 2024, dizem estimativas melhores do PIB (Produto Interno Bruto). Recorde-se que o crescimento do primeiro trimestre de 2023, forte, foi de 1,4%. Desde fins de março, as estimativas vêm sendo revisadas levemente para cima.

Sim, o resultado deve ser engordado por um bom desempenho da agropecuária. Ainda assim. No crescimento anual (primeiro trimestre de 2025 ante início de 2024), o agro contribuiria com um quinto do total do avanço. Serviços e indústria ainda teriam resultados positivos.

ENCOLHIMENTO – Sim, há expectativa de que o segundo semestre seja de encolhimento do PIB. O Índice de Confiança Empresarial do Ibre da FGV desceu a níveis de 2023, influenciado por expectativas. A avaliação da situação atual continua razoável, pois a economia se reanimou depois de uma virada de ano mais fraca.

No fim das contas, o ano de 2025 terminaria com crescimento em torno de 2%. Seria bem pior do que os 3,4% de 2024. Mas o Brasil cresceu em média 1,4% ao ano de 2017 a 2019, depois da Grande Recessão, antes da epidemia.

O resultado do primeiro trimestre ainda seria bom inclusive para o investimento (em novas instalações produtivas, máquinas, equipamentos, softwares etc.). O crescimento seria próximo de 4%. Pelo indicador do Ipea, a alta no trimestre encerrado em fevereiro foi de 4,4%.

SALÁRIO MÉDIO – O bom crescimento do crédito e do emprego ajudaram. Até março, o salário médio continuava a crescer 4% ao ano acima da inflação; a soma de todos os rendimentos do trabalho (“massa salarial”) crescia a 6,6% ao ano.

Mas, apesar do melhor desempenho em mais de década, o ambiente parece de mau humor difuso, que transparece na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e nas expectativas, “de mercado” ou da população.

Um motivo, vez e outra lembrado nestas colunas, é o fato de que o salário não aumentou muito nos últimos cinco anos, apesar da forte melhora recente: do momento anterior ao início da epidemia até agora, 6,5%. Não é lá grande coisa.

COVID E INFLAÇÃO – O desastre econômico da Covid e a inflação subsequente ainda pesam no bem-estar material, aqui e alhures (o que foi piorado pelo repique da carestia desde meados de 2024).

A gente se ocupa daquele meio ponto percentual da Selic e esquece do médio e do longo prazo, se esquece desses freios do ânimo, por exemplo um motivo importante da volta de Donald Trump, que vira o mundo do avesso.

Juros nos EUA, o valor do dólar, preços de commodities continuam a ter peso grande nas idas e vindas do crescimento do país. No curto prazo, um gasto maior do governo coloca mais lenha na fogueira, por vezes de modo excessivo, como desde 2023.

PERDER DE VISTA – Não importa muito o que o Banco Central faça: enquanto não se der jeito “no fiscal”, os juros de mercado continuarão altos a perder de vista, encarecendo o investimento, prejudicando a concorrência (criação de novos negócios) e atrasando o país.

Sim, há os problemas de funcionamento da economia. Apesar de reformas importantes (tributação, crédito etc.), ainda há muito a fazer e o efeito dessas mudanças leva tempo, como o investimento em pesquisa (falta), planos de inovação (faltam), escola.

Afora isso, temos de cozinhar um bom arroz com feijão macroeconômico, tecnicamente o mais simples, politicamente muito difícil. E assim continuaremos a discutir uns poucos décimos de porcentagem nos juros, no PIB etc.

Supremo mantém sigilo total sobre uso de jatos da FAB pelos ministros

COLUNA ESPLANADA] Presidente do STF solicita jatinho da FAB para palestra na Argentina | NACIONAL | Mossoró Hoje - O portal de notícias de Mossoró

Charge reproduzida do Arquivo Google

Mateus Vargas e Géssica Brandino
Folha

O STF (Supremo Tribunal Federal) descumpriu prazos da LAI (Lei de Acesso à Informação) e omitiu dados sobre viagens de ministros em aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) após dois pedidos feitos pela Folha. O tribunal nem mesmo informou por quanto tempo deixará sob sigilo as listas de passageiros das viagens.

O Supremo respondeu aos recursos apresentados pela reportagem mais de um mês depois do prazo definido pela lei e não revelou quais ministros solicitaram os deslocamentos nos aviões oficiais. A resposta só foi dada após a assessoria de comunicação do tribunal ser questionada sobre o atraso.

CINCO ANOS OU… – O Ministério da Justiça, autor de solicitações de parte dos voos para uso dos ministros do STF, já informou que deixará essas informações sob sigilo por cinco anos. A pasta, no entanto, disse que a decisão não se aplica às viagens solicitadas pelo próprio tribunal. Cabe ao Supremo definir esse prazo para os voos que mobiliza.

O governo Lula (PT) passou a emprestar aeronaves não apenas ao presidente do Supremo, mas também aos demais ministros, o que era incomum antes de 2023. A justificativa é que os ataques de 8 de janeiro deixaram as autoridades sob maior risco.

A FAB identifica em seu site apenas as viagens do presidente do STF, cargo hoje ocupado pelo ministro Luís Roberto Barroso. Ainda assim, apresenta horários dos voos, locais de origem e destino e previsão de passageiros, mas não mostra a lista de quem acompanhou o chefe do tribunal. Essa relação é apresentada apenas para as viagens de ministros do governo federal, entre outras autoridades.

À DISPOSIÇÃO – Os voos dos demais magistrados são classificados como “à disposição do Ministério da Defesa” e autorizados com base na brecha de um decreto de 2020 que permite ao ministro da Defesa liberar “o transporte aéreo de outras autoridades, nacionais ou estrangeiras” por motivos de segurança.

Nesses casos listados como “à disposição”, porém, a FAB não especifica se o voo foi feito por uma autoridade do Supremo ou de outro órgão. Questionado por meio da Lei de Acesso à Informação, o STF não apontou quantas vezes os ministros usaram essa categoria de voo.

A informação foi confirmada pelo Ministério da Defesa por meio da Lei de Acesso. A pasta apontou que os ministros do STF usaram ao menos 154 voos da FAB de janeiro de 2023 a fevereiro de 2025, sendo que mais de 70% deles levaram apenas um magistrado. Os números referem-se apenas aos voos classificados como “à disposição” do Ministério da Defesa e não consideram as viagens do presidente da corte.

NÃO HÁ PADRÃO – O advogado Bruno Morassutti, da ONG Fiquem Sabendo, avalia que não há padrão no STF sobre a divulgação dos voos.

“Infelizmente, há entendimentos diferentes entre os ministros sobre a divulgação de viagens. O STF perde muito em não dar transparência adequada para essas informações. Prejudica a imagem da instituição desnecessariamente num momento politicamente sensível”, afirma.

Morassutti afirma que o Supremo é obrigado a seguir a Lei de Acesso, mas não o regulamento que se aplica aos órgãos do Executivo federal.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
“É importante destacar que todas as requisições de uso de aviões da FAB para o Presidente do STF se fundamentam em razões de segurança institucional”, disse o Supremo nas respostas iniciais, para concorrer à Piada do Ano. O que há é que os ministros têm medo de viajar em aviões de carreira e serem xingados pelos passageiros, como já aconteceu várias vezes. (C.N.)

Infelizmente, Lula e o PT não têm um Nikolas Ferreira para chamar de seu

Deputado federal Nikolas Ferreira repete estilo de vídeo do Pix e pressiona por CPI do INSS - TV Pampa

Nikolas domina a comunicação moderna e enlouquece o PT

Mario Sabino
Metrópoles        

Depois de viralizar com o vídeo divulgado em janeiro sobre a tentativa de monitoramento do PIX — 330 milhões de visualizações até o momento —, ele voltou a causar pesadelo entre os petistas com um vídeo sobre a fraude bilionária no INSS, revelada pelo Metrópoles.

O filminho do deputado Nikolas Ferreira já tem mais de 100 milhões de visualizações. O alcance nos primeiros dias foi menos da metade do que o do PIX, mas humilhou todas as tentativas de resposta da tropa de choque governista. Juntas, elas não alcançaram 6 milhões de visualizações.

NA ZONA CINZENTA – Nikolas Ferreira é, em si, um fenômeno. Muito bem articulado, ele é hábil para situar o seu discurso na zona cinzenta entre verdade comprovada e possibilidade avançada, algo muito natural na guerra política, embora os seus adversários se apressem em tachar tudo de fake news e queiram censurá-lo e até mesmo cassá-lo, já que cassação de parlamentar virou algo tão fácil quanto roubar celular.

O deputado é a ponta do iceberg. É divertido ver como os petistas estão comendo poeira nas redes sociais. Logo eles, os inventores das milícias digitais no primeiro mandato de Lula.

Logo eles, que pagavam blogueiros sujos com dinheiro público para emporcalhar a reputação de adversários políticos e de jornalistas independentes que revelaram o esquema do mensalão (como eu).

RUIM DE RODA – O início promissor não teve continuação, pois é. A esquerda, e não apenas a nacional, é ruim de redes sociais. A sua forma é antiga, a sua linguagem é ultrapassada e o seu tempo de reação é lento.

Dá para entender. Com o seu ideário socialista empoeirado, a esquerda ainda arrebanha os seus quadros em grêmios e diretórios estudantis.

A direita, por sua vez, agrega jovens nas redes sociais, atraídos pela ideologia individualista do enfrente o sistema e faça você mesmo. Ter militantes que nasceram nas redes é bem mais eficaz do que contratar influenciadores que só fazem frila em política. É que o sujeito precisa ter alguma convicção, e quando a convicção se casa ao talento comunicativo excepcional, tem-se um Nikolas Ferreira.

JANONES RACHADISTA – O PT ainda tentou suprir a sua carência nas redes sociais, cooptando André Janones. O sujeito infernizou por algum tempo os bolsonaristas, mas o mundo dele caiu quando veio à tona que fazia rachadinhas.

Foi salvo de ser cassado por Guilherme Boulos e teve de fazer acordo com a Procuradoria e devolver o dinheiro surrupiado, para não ser processado criminalmente. André Janones foi aposta com data de validade.

A velhice da esquerda fica evidente nas redes, e é por isso que ela tenta censurá-las. Já que a esquerda não tem um Nikolas Ferreira para chamar de seu, melhor calar o Nikolas Ferreira com o porrete judicial.

Farra no INSS! Presidente da Conafer omite seu salário e alega “sigilo oficial”

Foto colorida de homem de terno e chapéu estilo Panamá em plenário

Lopes imita Lula? Ou é o presidente que imita o sindicalista?

Mirelle Pinheiro
Metrópoles

No centro de um dos maiores escândalos já registrados no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o presidente da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares (Conafer), Carlos Roberto Ferreira Lopes, tenta equilibrar sua imagem pública sobre uma linha cada vez mais tênue entre legalidade e omissão.

Ao prestar depoimento à Polícia Civil do Distrito Federal, em março de 2021, Çopes optou por não revelar quanto recebe da entidade e se refugiou em cláusulas de confidencialidade para evitar perguntas sobre a movimentação financeira da confederação. O escândalo foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023 (saiba mais abaixo).

SOB SIGILO – À época, confrontado pelos investigadores com dados que apontavam um salto vertiginoso na arrecadação da Conafer, de R$ 6,6 milhões para mais de R$ 40 milhões mensais em 2020, Carlos Roberto recusou-se a revelar seu salário, alegando que a entidade é privada e que, portanto, não estaria obrigada a prestar contas públicas.

Em outro momento, apresentou um “Termo de Confidencialidade” firmado com o INSS como justificativa para não detalhar informações sobre os beneficiários atingidos ou apresentar os documentos de autorização para os descontos, mesmo diante de mandados judiciais.

A alegação de sigilo respaldada na Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) causou estranheza entre os investigadores. Para os responsáveis pelo inquérito, o uso reiterado de cláusulas de confidencialidade funcionou mais como barreira à transparência do que como instrumento legal legítimo.

DADO CONCRETO – Mas o sigilo perde força diante de um dado concreto: 35% de toda a arrecadação com os descontos era destinada diretamente à Conafer nacional, equivalente a milhões de reais mensais. Associações de base ficavam com 50% e federações intermediárias com 15%.

Ao ser questionado sobre a contratação da empresa Target Pesquisas de Mercado, responsável por “validar” os cadastros, Carlos disse que o serviço visava apenas regularizar filiações preexistentes.

O contrato, porém, custou R$ 750 mil aos cofres da confederação e envolveu outras empresas subcontratadas, entre elas a Premiar Recursos Humanos, citada em depoimentos como responsável por falsificar assinaturas e manipular arquivos em PDF. Um dos operadores confessou ter sido pago para adulterar documentos com a finalidade de forjar autorizações.

DENÚNCIAS PONTUAIS – Durante o depoimento, ao ser confrontado com esses relatos e com a denúncia espontânea feita em junho de 2021 por um colaborador ameaçado pelo próprio esquema, Carlos negou envolvimento direto. Classificou as denúncias como “pontuais” e disse que a confederação sempre atuou com boa-fé.

Mas o avanço das investigações mostrou que em 2021 a Conafer saltou de 42 mil para mais de 279 mil filiados. O crescimento coincidiu com o auge da pandemia e com a redução no atendimento presencial do INSS, cenário que favoreceu a aplicação do golpe.

Milhares de aposentados e pensionistas descobriram os descontos apenas meses depois. Alguns, com benefícios próximos ao salário mínimo, tiveram até R$ 77 abatidos por mês, e a Conafer é uma das principais entidades envolvidas na fraude.

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NOTA REDAÇÃO DO BLOG
Como dizia o filósofo chinês Confúcio, uma imagem vale mais do que mil palavras. Essa fotografia de Carlos Lopes, por exemplo, exibe um homem vestido de cafajeste, e a gente fica sem saber se ele está imitando Lula ou se o presidente é que decidiu imitar o portentoso sindicalista. (C.N.)

Como “primeira-dama”, Janja da Silva não deveria acertar tiros no pé de Lula

Lula cobra ministros por vazamento sobre Janja em jantar com Xi Jinping |  Vero Notícias

Jamja pensa (?) que pode agir como cuidadora do marido

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

O vazamento de um suposto constrangimento causado pela primeira-dama Janja da Silva em jantar com o líder chinês Xi Jinping acabou por expor um pouco do ambiente palaciano de desavenças e intrigas do governo Lula. Não há novidade nesse jogo de rasteiras pelas costas, disputas e armadilhas no mundo do poder.

O episódio, até bastante ameno, desperta contudo algumas questões, a começar pela discussão sobre qual seria o papel público do “primeiro-cônjuge”, digamos assim, já que mulheres casadas também exercem funções de liderança de governo e Estado, e o mesmo vale para o arco-íris de gêneros e orientações — só para citar um exemplo próximo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, é gay assumido e casado.

PÚBLICA E PRIVADA – O ponto principal nessas situações deveria ser a separação republicana entre esfera pública e privada. O apropriado seria que a família presidencial, marido, mulher, filhos, mantivesse distância da manifestação pública naquilo que ela possa ter de governamental.

O casamento ou o parentesco não transformam ninguém em interlocutor ou representante oficial para assuntos de governo. Não se trata de ser cidadão de primeira ou segunda classe, trata-se de usar os canais adequados para se manifestar. Que exerçam sua cidadania e suas atividades em território nítido.

É verdade que muito depende de protocolos, dos assuntos, da ocasião… No caso em pauta, não se sabe ao certo o que aconteceu e exatamente que regras formais e culturais presidiam e orientavam as intervenções dos presentes no jantar oferecido por Xi Jinping e sua esposa.

ESTRITA FORMALIDADE – Segundo diplomatas consultados pela Folha, é rígido o protocolo que rege as visitas de Estado na China, em que tudo se passaria sob estrita formalidade. Pessoas que já interagiram nesses tipos de recepção afirmam que há pouco espaço para improvisação, e situações que fogem do previamente combinado seriam malvistas.

No encontro, Janja teria errado o tom? Deslizado no timing? Causou constrangimento de fato ou houve um exagero no relato vazado a jornalistas? Afinal, isso tem alguma relevância, além de recolocar o assunto da definição de funções?

Ao que tudo indica estamos no terreno mundano do “gossip” politiqueiro. Com um agravante: o vazamento só poderia ter ocorrido por intermédio de alguma autoridade presente.

LULA E O VAZAMENTO – O responsável não precisaria em tese ter entrado em contato com jornalistas, poderia ter comentado com alguém e este alguém ter soprado —com isso, após checagens, a história poderia ser contada. Não se sabe. Lula mostrou irritação com a quebra de confiança e afirmou que ele, não Janja, levantou o tema TikTok. Ela teria feito um comentário a seguir sobre conteúdos condenáveis veiculados pela plataforma.

Janja é vítima de preconceitos? Em alguns casos sim, mas também já deu motivos para questionamentos. Por exemplo: já mandou um “foda-se” público para Elon Musk (por mais que ele mereça) e fez no início da gestão de Lula uma denúncia redondamente equivocada a respeito do sumiço de móveis no Alvorada, em programa de TV, jogando a culpa nos Bolsonaros.

São casos que pelo menos dão margem a explorações políticas. Não deveria, além de tudo, ser função da primeira-dama atirar no pé do governo do marido.

Lição de Mujica que Lula e Bolsonaro não ouviram: poder público não é para ostentação

Ex-presidente do Uruguai, José Mujica em casa, em maio de 2014

Pepe Mujica era a imagem da sabedoria e da simplicidade

Roseann Kennedy
Estadão

A morte de Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, deixa recados silenciosos para líderes brasileiros, que precisariam ser ouvidos, por exemplo, pelo presidente Lula e pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Mujica soube desapegar-se do cargo quando deixou a presidência, em 2015, e respeitou a alternância de poder.

Analistas políticos apontam que, ao apostar em um diálogo harmonioso entre esquerda e direita, ele contribuiu para o país escapar da polarização radical.

FIGURAS RARAS – “Chegamos a um ponto em que tivemos pouquíssimas figuras que representavam essa expressão mais harmoniosa do viés político. Mujica é uma dessas figuras raras que o pensamento de esquerda produziu. Ou seja, o combate era pelas ideias, não pela força do poder político e muito menos das armas”, diz Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Para Guilherme Casarões, professor de política internacional da FGV-EAESP, o estilo “muito particular” de Mujica foi importante para mitigar a polarização em seu país. “Como presidente, ele teve um papel de colocar o Uruguai no rumo da estabilidade, consolidando o país, talvez o único da América do Sul, que não é vítima dessas alternâncias bruscas de poder que vimos em outros lugares.”

“O recado que Mujica deixa é que o papel principal do poder público é garantir o bem-estar da população, essa é a tarefa número um, e não ostentar o cargo que possui. Essa foi a grande marca dele”, complementa Ramirez, da Fesp.

CONTRA DITADURAS – Presidente do Uruguai entre 2010 e 2015, Mujica ascendeu à política após anos de atuação na guerrilha armada Tupamaros. Chegou a ser preso durante a ditadura militar uruguaia e se tornou símbolo da esquerda latino-americana.

Já no fim da vida, condenou os regimes ditatoriais de esquerda de Nicolás Maduro na Venezuela e Daniel Ortega na Nicarágua. Mujica morreu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, em decorrência de complicações de um câncer de esôfago.

“Grande amigo do Brasil, o ex-Presidente Mujica foi um entusiasta do Mercosul, da Unasul e da Celac, um dos principais artífices da integração da América do Sul e da América Latina e, sobretudo, um dos mais importantes humanistas de nossa época”, pronunciou-se o governo brasileiro, por meio de nota divulgada pelo Itamaraty.