Paulo Peres
Poemas & Canções
O poeta e jornalista João da Cruz e Sousa (1861-1898) nasceu em Desterro, atual Florianópolis. Era filho de escravos e se tornou conhecido nacionalmente. Quando morreu de tuberculose, seu corpo foi transportado para sepultamento no Rio de Janeiro, onde tinha grandes amigos, como José do Patrocínio. No poema “Inefável”, Cruz e Sousa fala da invencibilidade de sua alma romântica.
INEFÁVEL
Cruz e Sousa
Nada há que me domine e que me vença
Quando a minha alma mudamente acorda…
Ela rebenta em flor, ela transborda
Nos alvoroços da emoção imensa.
Sou como um Réu de celestial sentença,
Condenado do Amor, que se recorda
Do Amor e sempre no Silêncio borda
De estrelas todo o céu em que erra e pensa.
Claros, meus olhos tornam-se mais claros
E tudo vejo dos encantos raros
E de outras mais serenas madrugadas!
Todas as vozes que procuro e chamo
Ouço-as dentro de mim porque eu as amo
Na minha alma volteando arrebatadas.
Licença… o grande poeta Cruz e Souza tinha um amplo domínio da ancípite, ou seja, a syllaba communis repleta de sonoridade e rima estava presente em seus versos.
1) A sílaba comunista (Latim: syllaba communis) ou ancípite. Faz parte dos estudos silábicos no final de cada verso*. (fonte: Dicionáro de Termos Literários, Massaud Moisés, Editora Cultrix, pág. 200).
2) Já pensaram se surgir por aí um Partido Ancípete da Syllaba Communis ?