Tucanos são piores do que os petistas, porque demonstram ter mais cinismo

charge tucano pt | Jornal Ação Popular

Charge do Latuff (Arquivo Google)

Rodrigo Constantino
Gazeta do Povo

Preciso confessar ao leitor: tenho, atualmente, mais implicância com tucanos do que com petistas. Petistas são mais escancarados, toscos, flertam abertamente com ditadores comunistas, estampam ao mundo sua ambição pelo poder. Já os tucanos são dissimulados, afetam ar de refinamento, falam em “mercado”, mas acabam fazendo o L para “salvar a democracia”. São, enfim, mais cínicos.

“Brasil sobe a escada e, em um ano, recupera grau de investimento”, diz Luiz Carlos Mendonça de Barros ao Globo. Quando o jornal menciona o risco fiscal apontado pela S&P, o economista tucano responde:

“O problema fiscal é mundial, e só os mais conservadores olham isso. A elevação da nota surpreendeu e foi um tapa com luva de pelica naqueles que são pessimistas com o Brasil, inclusive o Banco Central, que deu um azar danado em sua última ata adotando um tom mais duro. Todos os pessimistas agora estão fazendo sua autocrítica. É um erro achar que tudo vai dar errado apenas por conta da questão fiscal. Não se viu essa força da recuperação da economia. O pessoal errou o ano todo nas previsões”.

ROMBOS FISCAIS – No modo ironia, essa mania chata que os “mais conservadores” têm de fazer conta é mesmo uma bobagem! Onde já se viu se preocupar com os rombos fiscais crescentes e insustentáveis, num país que já tem carga tributária escandinava e endividamento japonês? Tudo vai ser uma maravilha com Haddad, o novo “queridinho” dos tucanos.

Já na parte institucional, vamos apostar na conduta ilibada da turma indicada por Lula! O editorial do Estadão até levanta os riscos, diz que a missão de Paulo Gonet na Procuradoria-Geral será árdua, mas o jogo de cena não pode ser mera ingenuidade: é cinismo mesmo! Diz o jornal tucano:

“Seja qual for o discurso, há uma hostilidade contra a independência do Ministério Público. Não cabe puerilidade. A condução responsável e autônoma da PGR é incompatível com a lua de mel que o PT almeja ter com o órgão. Se Paulo Gonet deseja cumprir, de forma técnica e independente, suas atribuições constitucionais, ele certamente vai contrariar Lula da Silva e sua legenda, cujo histórico é de empedernido negacionismo em relação a toda e qualquer corrupção e mau uso de recursos públicos”.

FALA SÉRIO! – O editorial do Estadão repete a ladainha petista contra a Lava Jato, tenta uma falsa equivalência entre Lula e Bolsonaro e ainda elogia o arbítrio supremo na “defesa do Estado Democrático de Direito”.

Como levar a sério esse tipo de premissa? Tucanos servem para trampolim de comunistas!

Por falar nisso, um jornalista gaúcho e tucano diminui o risco comunista de Flavio Dino no STF: “O tom de Lula não deixa margem para dúvida. Estava fazendo galhofa com bolsonaristas. Ainda assim, foi pouco prudente. Forneceu munição aos adversários, colocou um alvo em Dino e provocou um debate ideológico estéril, mesmo que limitado a uma bolha que só reverbera pela estridência. No mundo real trata-se de um não assunto, como é de costume uma indicação ao STF, seja de que presidente for. As preocupações objetivas da população são outras, e tratam de temas menos dogmáticos e mais práticos”.

DEFENDENDO DINO – O jornalista tucano insiste nas dubiedades: “Dino, é verdade, foi filiado ao Partido Comunista do Brasil, mas isso é insuficiente para defini-lo como um militante ativo das teses de Karl Marx”.

Com “adversários” e “críticos” como esses tucanos, os comunistas que clamam por censura, aparelhamento institucional e controle total do estado não precisam perder um minuto do sono mesmo.

O avanço petista jamais seria possível sem a cumplicidade cínica desses tucanos.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Congresso Nacional e a velha política: um museu de grandes novidades

Charge do Frank (Arquivo do Google)

Marcelo Copelli

Em seu artigo na Folha de S. Paulo desta quarta-feira, o jornalista Hélio Schwartsman aborda a igual legitimidade representativa entre o chefe do Poder Executivo e os parlamentares do Congresso, dominado, há anos, pelo Centrão.

Como bem destaca, as escolhas feitas pela população se dá da mesma forma em ambos os casos, através de um processo democraticamente livre e limpo, ainda que muitos questionem a confiabilidade das urnas eletrônicas, mesmo tendo os seus pares alçados aos postos de deputados e senadores justamente por esse meio.

TRADUÇÃO – Schwartsman segue, ainda sob a ótica de representatividade, afirmando que o Parlamento traduz de forma mais fiel as preferências da população. A precisão se dá até pelo fato de o presidente da República ser apenas um, e muitas vezes escolhido por aversão ao seu adversário. Ou seja, as ideias defendidas podem ser subjugadas a um segundo ou mesmo terceiro plano.

Já os parlamentares, num total de 597, são eleitos num cenário em que pesa o voto proporcional, através do qual ecoam as vozes das mais diversas tendências. Afinal, esse é o processo democrático, ainda que não agrade ao mesmo tempo gregos e troianos. E, neste cenário, ainda que o Congresso seja divergente à estrutura demográfica do país, afinal a deficiência quanto à presença de mulheres e negros é notória, infelizmente, os critérios do eleitos são individuais e singulares. E é aí que reside a democracia, na livre escolha.

Mas, percebe-se que a atuação deste mesmo Congresso que consegue frear o acúmulo de poderes desproporcionais pelo chefe do Executivo, ao mesmo tempo torna-se a faz tornar uma Casa de manipulação, na qual a aprovação de projetos não é feita tendo em vista o bem ou as necessidades coletivas, mas os interesses dos próprios políticos.

TROCA-TROCA – Ao barganhar os seus votos e serem atendidos com mais cargos, benefícios e, consequentemente, mais poder, os parlamentares separam uma pequena parcela de suas benfeitorias aos seus currais eleitorais, intervindo na colocação de um poste aqui e outro acolá, pavimentando uma rua esburacada, ou ainda promovendo projetos atrelados aos seus próprios nomes. Tem alguns que colocam faixas de agradecimento, como se fossem de autoria da população, aos seus próprios feitos, que seriam na verdade obrigações !

Nesse círculo vicioso, a população se contenta ainda com pouco, prefere votar nos que pouco fazem, com receio de sair de suas zonas de (des) conforto e mantendo o mínimo daqueles que elegeram.  Os velhos políticos e seus herdeiros, novos donos das capitanias, permanecerão fazendo dos seus mandatos moeda de troca com o Executivo para em suas cadeiras se eternizarem. E, nesse sistema de freios e contrapesos, o Centrão se perpetua, sorrindo não para a população, mas do semblante sofrido dos que os elegem, gestaõ após gestão.

Governo vai “comemorar” a condenação de “terroristas” em solenidade no Senado

Dino mostra sintonia com pautas evangélicas. Por que, então, os senadores evangélicos o rejeitam? – Diálogos da Fé – CartaCapital

Flávio Dino está orgulhoso por ter sido convidado por Lula

Deu no Poder360

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse nesta quinta-feira (dia 21) que o ato para relembrar o 8 de Janeiro com os chefes dos Três Poderes será realizado no Senado, às 15 horas, em 8 de janeiro de 2024.

Dino afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o “honrou” ao mantê-lo no cargo até a data do evento que recordará o episódio em que extremistas invadiram e depredaram as sedes do Legislativo, do Executivo e do Judiciário.

Na quarta-feira, o presidente petista já havia anunciado que estava organizando o evento, porém, não havia definição do local ainda. Dino assumirá como ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) em 22 de fevereiro.

NATAL DOS CATADORES – O presidente Lula e a primeira-dama Janja da Silva vão participar do “Natal dos Catadores” nesta sexta-feira (dia 22), a partir das 10h, no estádio Mané Garrincha, em Brasília.

A ação é uma iniciativa da Associação Nacional dos Catadores de Matérias Recicláveis e terá cerimônia de encerramento da 10ª edição da Expocatadores. O governante mantém a tradição desde que assumiu a Presidência pela 1ª vez em 2003. Durante os anos que não ocupou o cargo, continuou frequentando a celebração, exceto quando estava preso e durante a pandemia.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Este Ato Público é plenamente dispensável, quando se sabe que os verdadeiros terroristas e vândalos, que viajaram a Brasília para insuflar a multidão, não foram sequer investigados. Muitos réus que estão sendo condenados não depredaram nada, apenas entraram nos palácios, o único delito cometido foi “invasão de prédio público”, que nem crime verdadeiramente é, pois trata-se de uma infração sem gravidade, punível com detenção de um a três meses, ou multa. Geralmente, o juiz manda fazer um serviço comunitário, não condena a 21 anos de prisão, suja a ficha para sempre e estraga a vida da pessoa. Será cabível “comemorar” essas condenações de falsos terroristas? (C.N.)

“Enfeite a árvore de sua vida com guirlandas de gratidão!”, recomenda Cora Coralina

Pin De Lucas Oliveira Em Mensagens Lindas | Frases De Cora | Frases  inspiracionais, Citações sábias, Frases de cora coralinaPaulo Peres
Poemas & Canções

A poeta goiana Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889-1985), mulher simples, doceira de profissão, tendo vivido longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, conforme este “Poema de Natal”, no qual reflete a importância das festividades religiosas em nossas vidas.

POEMA DE NATAL
Cora Coralina

Enfeite a árvore de sua vida
com guirlandas de gratidão!
Coloque no coração laços de cetim rosa,
amarelo, azul, carmim,
Decore seu olhar com luzes brilhantes
estendendo as cores em seu semblante

Em sua lista de presentes
em cada caixinha embrulhe
um pedacinho de amor,
carinho,
ternura,
reconciliação,
perdão!

Tem presente de montão
no estoque do nosso coração
e não custa um tostão!

A hora é agora!
Enfeite seu interior!
Sejas diferente!
Sejas reluzente!

Ao suspender a multa bilionária da J&F, Toffoli ajuda a mulher e o bolsonarismo

Não é o Toffoli, mas a mulher! Ah, bom! — Conversa Afiada

A mulher de Toffoli, Roberta Rangel é advogada da J&F

Ricardo Rangel
Veja

O ministro Dias Toffoli, do Supremo, suspendeu monocraticamente uma multa de mais de 10 bilhões de reais contra a J&F, empresa de Joesley Batista e seu irmão Wesley. A multa havia sido aceita pelos irmãos como parte do acordo de leniência fechado durante a Lava-Jato.

A mulher de Toffoli, Roberta Rangel (sem relação de parentesco com este colunista), é advogada da J&F e atua diretamente em um litígio com a empresa indonésia Paper Excellence. Parte dos 10 bilhões era ligada à causa de que consta esse litígio — essa parte, Toffoli não concedeu, e talvez por isso não tenha se considerado impedido de julgar o restante.

CONFLITO DE INTERESSES – Mas há quem considere que havia, sim, conflito de interesses e que o ministro deveria se ter eximido de julgar uma ação com a qual, mal ou bem, sua mulher tem ligação.

Antes de ser nomeado ministro por Lula, Toffoli foi advogado do Partido dos Trabalhadores. Sua nomeação foi muito criticada: além de ser advogado do PT, muita gente não via no indicado, duas vezes reprovado no concurso para juiz, o “notável saber jurídico” que um ministro deve ter.

Em 2018, a revista Crusoé publicou que Toffoli receberia uma mesada de 100 mil reais da mulher. No ano seguinte, a mesma revista publicou uma matéria afirmando que “o amigo do amigo do meu pai” a que Marcelo Odebrecht se referira em um e-mail era Toffoli.

CENSURA EXPLÍCITA – O ministro, então presidente do Supremo, abriu (de ofício) um inquérito e o entregou a Alexandre de Moraes, que mandou a Crusoé e o Antagonista tirarem a matéria do ar.

A direita bolsonarista construiu uma narrativa de que haveria um conluio entre o PT, o STF, boa parte do Congresso e empresários desonestos para saquear os cofres públicos e implantar no Brasil uma ditadura comunista. A narrativa é fantasiosa — mas é construída em cima de fatos. E fatos que eventualmente geram constrangimento.

O PT nomeou 8 dos 11 ministros do STF, e Lula indicou o advogado de seu próprio partido para o tribunal. A Lava-Jato descobriu um enorme esquema de corrupção e bilhões de reais foram recuperados.

LULA DESCONDENADO – O Supremo anulou o julgamento de Sergio Moro contra Lula e declarou o juiz suspeito. O Tribunal Superior Eleitoral cassou Deltan Dallagnol e está no caminho de cassar Moro.

Ministros do Supremo vêm tomando, monocraticamente, inúmeras decisões controversas e/ou fortemente criticadas. E sua reação à limitação das decisões monocráticas foi fortemente negativa. Lula nomeou alguém que definiu como “comunista” para o Supremo e o Senado acatou. E, agora, Toffoli, suspendeu essa multa bilionária contra uma das principais personagens da Lava-Jato.

A narrativa bolsonarista é fantasiosa, mas convence muita gente por aí. Seria desejável se os principais alvos da narrativa parassem de fornecer combustível para essa narrativa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Artigo irrespondível de Ricardo Rangel, da Veja. Demonstra que o Supremo “revogou” as leis sobre suspeição de juízes, mas fê-lo na moita, não comunicou a ninguém, e a tal “revogação” só é do conhecimento dos ministros do próprio Supremo e só vale para eles. (C.N.)

Congresso demonstra a Lula que o semipresidencialista já está no comando 

Os outros coronéis, filhos do general Cunha - TIJOLAÇO

Charge do Laerte (Folha)

Thiago Resende
Folha

O Congresso Nacional avançou na aprovação do projeto que amplia o Fundão Eleitoral e as emendas parlamentares em 2024. Isso expande o poder dos partidos políticos, dos deputados e dos senadores em ano de eleição municipal. A verba turbinada está prevista no Orçamento do próximo ano, cujo texto-base foi aprovado pela CMO (Comissão Mista de Orçamento). Ainda serão votadas sugestões de mudança no projeto. Depois, o texto seguirá para análise em sessão conjunta do Congresso.

Após uma disputa entre a Câmara dos Deputados e o Senado, o valor do fundo que financia as campanhas eleitorais foi fixado em quase R$ 5 bilhões, o que é praticamente o dobro do último pleito municipal, em 2020.

ARTICULAÇÃO – Os presidentes de partidos e a cúpula da Câmara articularam para repetir o valor do fundão da eleição de 2022, que também foi de aproximadamente R$ 5 bilhões. Mas no ano passado, a corrida era para a Presidência da República, governos estaduais e cargos de deputado estadual, federal e senador.

Na avaliação de senadores, não haveria justificativa plausível para distribuir a candidatos a prefeitos e vereadores —que percorrem apenas seus municípios— o mesmo montante usado em uma corrida para presidente, governadores, senadores e deputados federais.

O Senado, porém, evitou um embate direto com a Câmara na votação desta quarta em relação ao valor para financiamento de campanha —a eleição municipal tem mais peso para os deputados.

RECORDE EM EMENDAS – A principal discussão na votação desta quinta-feira, assim, foi em torno da expansão das emendas parlamentares, aqueles recursos que deputados e senadores enviam para obras e projetos em seus redutos eleitorais e, com isso, colhem capital político.

O projeto aprovado prevê o patamar recorde de R$ 53 bilhões para emendas em 2024. Atualmente, no primeiro ano desse governo Lula (PT), foram reservados R$ 46,3 bilhões para atender aos parlamentares.

Além disso, há um cronograma para o Palácio do Planalto fazer alguns desses repasses. Essa medida é vista como uma forma de tirar poder da articulação política do Executivo.

NA MÃO GRANDE – “Na verdade, os investimentos do governo vão ser inferiores às emendas parlamentares”, disse o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ). “Os senhores tiraram R$ 17 bilhões do Executivo na mão grande”, afirmou.

O petista se referia ao corte que foi feito no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e de outros projetos dos ministérios do governo Lula para que o Congresso conseguisse expandir as emendas. “O governo deveria ter mandado no Orçamento essas emendas e não mandou. Então a comissão teve que decidir de onde ia tirar”, respondeu Motta.

O líder do governo na Comissão Mista de Orçamento, deputado Carlos Zarattini (PT-SP), disse que o acordo costurado foi necessário para balancear as agendas de Lula e do Legislativo. “É muito contraditório. A gente enfrenta dificuldades enormes. O governo tem um foco. O Parlamento tem outros focos que, muitas vezes, têm que ser equilibrados. É isso que estamos fazendo, avançamos naquilo que é essencial”, declarou Zarattini.

TIPOS DE EMENDAS – Existem três tipos de emendas: as individuais (que todo deputado e senador têm direito), as de bancada (parlamentares de cada estado definem prioridades para a região), as de comissão (definida por integrantes dos colegiados do Congresso).

Líderes do Congresso admitem que as emendas de comissão vão funcionar como as extintas emendas de relator, que eram a principal moeda de troca nas negociações do governo Bolsonaro e do Legislativo. O mecanismo das emendas de relator, porém, foi derrubado pelo STF no fim do ano passado.

Em 2022, as emendas de comissão representaram apenas R$ 330 milhões. Para 2024, o Congresso prevê R$ 16,6 bilhões. De olho nessa verba, partidos políticos travaram um embate nessa quarta em relação à divisão desse dinheiro entre as comissões da Câmara e do Senado. Isso atrasou a votação do Orçamento.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
É uma derrota atrás da outra. O Congresso impôs a Lula um cronograma que exige liberação do dinheiro de emendas para as obras e municípios escolhidos pelos parlamentares. Isso reduziu a margem de manobra do governo para acordos em momentos decisivos no plenário. Outra mudança enfraquece o ministro Alexandre Padilha, da Secretaria de Relações Institucionais, porque as emendas parlamentares serão liberadas diretamente pelos ministérios. É o semipresidencialismo já vigorando na teoria e na prática. Os superpoderes do Executivo já eram, como se dizia antigamente. (C.N.)

Jantar que Lula pediu a Barroso não foi ilegal, mas inteiramente antiético

Lula e ministros do STF têm jantar “institucional” na casa de Barroso | Metrópoles

Fux fez questão de ir ao jantar em homenagem a Lula

Mario Sabino
Metrópoles

Não há nada de ilegal em Lula jantar com ministros do Supremo, na casa do presidente do tribunal, Luis Roberto Barroso, juntamente com o advogado-geral da União, Jorge Messias, e outros convivas. Mas a legalidade não abarca sempre o que é ética e politicamente recomendável.

Na manhã seguinte ao jantar, o STF divulgou uma nota para explicar o evento. Reafirmou o que já havia dito o ministro Luis Roberto Barroso: que o encontro na casa do presidente do Poder Judiciário foi a pedido de Lula. Mas houve a preocupação em sublinhar que “o presidente do STF mantém relação amigável com o presidente da República, embora atue com independência em relação ao governo. Durante o encontro, o Ministro Barroso confirmou a Lula que estará em Brasília para participar de atos referentes ao 8 de janeiro”.

TUDO DESNECESSÁRIO – Uma nota em que o presidente do STF se obriga a dizer que atua com independência em relação ao governo, apesar da sua relação amigável com o presidente da República, é um esclarecimento que deveria ser desnecessário, não tivesse o jantar suscitado dúvidas sobre a sua independência e a dos demais ministros — um jantar igualmente desnecessário.

Há quem tenha visto no encontro amigável uma volta à normalidade democrática, depois de quatro anos de bolsonarismo. No entanto, não é porque o STF foi constantemente atacado durante o inteiro mandato de Jair Bolsonaro que a normalidade seja um jantar particular que reuniu Lula, quase todos os ministros do tribunal e o advogado-geral da União. Não foi uma boa maneira de encerrar o ano judiciário.

Antes do jantar, Luis Roberto Barroso fez questão de frisar que se tratava de “conversa institucional de cortesia”. Ora, o que é uma conversa institucional? A definição pode abranger de uma troca de visões sobre o estado geral da República a temas do interesse específico da instituição governo, como a derrubada do veto de Lula ao marco temporal, por exemplo.

BASE DE APOIO – O assunto deve ser judicializado e sempre restará a impressão de que ele fez parte da conversa institucional, assim como outros que não deveriam ser comentados entre canapés e rodadas de whisky. Ainda mais porque é evidente que o governo tem no STF, tribunal que anda legislando, a base de apoio de que não dispõe no Congresso.

O jantar na casa do presidente Luis Roberto Barroso foi uma gentileza que não contribuiu para melhorar a imagem do STF junto ao grande número de brasileiros que desconfiam da mais alta corte do Judiciário. E deu mais argumento aos congressistas que procuram dar freio ao tribunal.

A normalidade democrática requer que conversas institucionais ocorram nos palácios, sobre temas previamente divulgados. O jantar na casa do presidente do STF não foi ilegal, nem necessariamente imoral, mas engorda suspeitas, quando não certezas.

Impasse constitucional no Chile marca uma era de inviável consenso político

Manifestantes contrários à Constituição mais conservadora

Bruno Boghossian
Folha

Os chilenos disseram não outra vez. Em 2022, a esquerda liderou a elaboração de uma nova Constituição com um carimbo progressista. O texto foi rejeitado por 62% dos eleitores. Um ano depois, a ultradireita tomou as rédeas e redigiu uma proposta notadamente conservadora. Resultado: 56% votaram contra.

O impasse tem a marca de uma era de poucos consensos políticos. Os dois lados disputaram aprovação com alguma euforia e a ilusão de que aqueles projetos exprimiam um desejo majoritário. A certeza de que suas ideias representavam mudanças necessárias lhes deu um excesso de confiança para mexer em temas historicamente divisivos.

RADICAL DEMAIS – A esquerda se confundiu na cacofonia do “estallido social”, que tomou as ruas do país em 2019. Propôs o direito à interrupção voluntária da gravidez, regras amplas de proteção ambiental, o reconhecimento de todas as formas de família e a transformação do Chile num Estado plurinacional. Muitos cidadãos consideraram o texto radical demais.

Com uma boa dose de arrogância, a ultradireita fez uma aposta errada num efeito bumerangue. Apresentou um vocabulário que poderia dificultar o acesso ao aborto legal e tentou facilitar a deportação expressa de imigrantes.

Analistas diziam que aquela proposta era mais conservadora que a Constituição atual, elaborada na ditadura militar.

REDES SOCIAIS – A câmara de eco das redes sociais estimula os políticos a buscarem conforto em seus próprios grupos, onde precisam fazer menos concessões.

O acirramento das disputas partidárias alimenta a falsa ideia de que, na democracia, o vencedor leva tudo. É uma fórmula que, em muitos casos, trava transformações relevantes —das nocivas às urgentes, a depender do ponto de vista.

O duplo não dos chilenos impede um passo atrás, mas também adia uma expansão de direitos sociais. Fica de pé a Constituição da época de Augusto Pinochet. “Sempre prefiro algo mau a algo péssimo”, disse a ex-presidente Michelle Bachelet ao votar contra o texto da ultradireita.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGFica demonstrado que, no caso do Chile, existe uma faixa do eleitorado que repele os dois extremos, mas na hora de votar acaba optando por um deles, exatamente como aconteceu no Brasil e na Argentina. A tendência é de que, mais para a frente, a terceira via acabe predominando. (C.N.)

“Falta o governo ouvir o agronegócio”, diz ex-ministro da Agricultura do PT

MBL pede à Justiça afastamento de Neri Geller do governo de transição -  Estadão

Neri Geller defende o Congresso no caso do marco temporal

Camila Turtelli e Jeniffer Gularte
O Globo

Um dos articuladores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o agronegócio, o ex-ministro da Agricultura Neri Geller afirma que o governo já melhorou a relação com o setor, mas reconhece que o grupo ainda precisa ser mais ouvido na tomada de decisões. Como um desses instrumentos para estreitar os laços, ele defende um aumento na concessão de crédito para os pequenos agricultores e empresas.

Ministro da Agricultura na gestão de Dilma Rousseff, Geller é cotado para a Secretaria de Política Agrícola, cargo na pasta da Agricultura, sob o comando de Carlos Fávaro. O caminho para a nomeação foi aberto na semana passada, após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) reverter a decisão que cassou seu mandato de deputado, o que impedia a entrada no governo. No posto, pretende atuar também na articulação política e aproximar mais os deputados do PP, seu partido, e da bancada ruralista à gestão petista.

O senhor disse na transição que o agronegócio já tinha aderido ao Lula. As dificuldades, no entanto, permanecem. Por quê?
Uma boa parte do agro já aderiu ao governo. O Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Ocepar), a Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) e a Aprosoja já estão mais acessíveis, estamos conversando mais. Tem alguns que são radicais por natureza, mas tudo o que nós prometemos em campanha cumprimos, como o projeto dos defensivos agrícolas (aprovado no Congresso). Não estão acontecendo invasões de terras. O governo vai fazer reforma agrária, mas dentro dos preceitos legais. Em 2006 e 2007, quando todos nós estávamos quebrados, quem renegociou todo o crédito foi o governo do PT. Isso nos dá um discurso. Vai dar resultado inclusive para dialogar mais com a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). Vou ajudar o (Alexandre) Padilha (ministro das Relações Institucionais) e o (Carlos) Fávaro (ministro da Agricultura) na articulação política.

Mas o que ainda falta para o setor se aproximar ainda mais?
Temos que fazer com que as decisões e as discussões sejam mais próximas e precisamos melhorar ainda o crédito. Foi feita muita coisa pelo BNDES. O financiamento de armazém em dólar foi um avanço importante que o Fávaro conseguiu implementar junto com o Mercadante e a equipe dele. Mas a gente precisa, no ano que vem, discutir as linhas de crédito mais robustas, pré-custeio. No primeiro ano teve muita dificuldade em função do Orçamento já ter sido votado e não ter espaço fiscal para ampliar essa linha de crédito.

O senhor é do PP, que apesar de comandar um ministério, tem uma bancada ainda distante do governo. Como vai atuar nessa aproximação?
O senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS), por exemplo, nos ajudou muito em 2015. O deputado Luizinho (RJ), que é o líder do PP, é meu amigo. Nós ajudamos a coordenar a campanha do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Viajei vários estados junto com ele, articulando a eleição. Vamos fazer um trabalho para aproximar esses deputados que são ligados ao agro. Não estou falando que vai para a base, longe disso, mas a relação com o Partido Progressista é bastante forte.

Houve invasões do MST no primeiro semestre. O governo é complacente com o movimento?
O governo não abaixa a cabeça e ouve os movimentos sociais. Isso é virtude, não é defeito. Mas não apoia invasões irregulares, tanto que invadiram a Embrapa e foi desmobilizado. O governo não apoia de forma irregular a invasão de terra. Essa foi a ordem do presidente Lula.

O presidente Lula errou ao vetar o marco temporal?
Não, acho que é para isso que existe o Congresso Nacional. Eu, particularmente, sou a favor da regulamentação por emenda constitucional. O que é de direito é de direito, mas a demarcação de forma aleatória não dá para deixar. O marco temporal foi importante para o Congresso estabelecer sua autonomia.

A cassação do senhor foi revertida pelo TSE na semana passada. Sua nomeação no governo dependia disso?
Sim, 100%. O meu nome foi indicado e está na Casa Civil. Só não fui nomeado porque tinha essa pendência jurídica, que me inviabilizava do ponto de vista legal. Não pude disputar a eleição, de forma injusta, mas se estabeleceu a verdade. Eu poderia ter ajudado mais o governo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGSe tivesse mais habilidade e ouvisse o agronegócio, o governo não teria criado a crise do marco temporal. Mas falta raciocínio, é um governo que tenta viver de aparências. (C.N.)

Criança não foi feita para morrer nos escombros, por causa da insanidade dos homens

Número de mortes na Faixa de Gaza ultrapassa 5 mil de | Internacional

Ninguém consegue responder quando irá parar a barbárie

Vicente Limongi Netto

Criança simboliza amor, ternura, devoção, alegria, beleza, paz, otimismo. Criança é a luz da alma. É o sopro do infinito. O céu azul nos bons corações. Criança não foi feita para morrer em escombros, com bala perdida, atropelada, afogada. Criança não merece assistir ao pai desnaturado matar a mãe. Criança não foi feita para passar fome, para pedir esmola nas esquinas, para ser abusada por covardes.

Criança é para crescer feliz. Brincando, estudando, cantando, gritando, abraçando o carinho. Criança deveria ter assento na ONU. Para determinar ao mundo injusto e doente e aos marmanjos que é ser humano intocável e iluminado. Protegida pelos deuses da bondade. Merecedora de respeito e atenção. Criança deve ser protegida, ganhar presentes, todo ano, não apenas no Natal.

TAPA NO VEADINHO – Ecos da promulgação da reforma tributária: deputado petista chama de “veadinho” e agride com um tapa, no plenário da câmara, parlamentar que xingou Lula. Para conter a ira e tranquilizar o coração, o agressor, Washington Quaquá, vice-presidente do PT, terá que colocar luvas de box e sair estapeando metade dos brasileiros.

O presidente do Supremo, Luís Roberto Barroso, por sua vez, declarou que a Suprema Corte “é solução, não problema”.  Em 2024, Barroso e companhia terão que mostrar serviço dobrado, para que a esmagadora maioria da população volte a acreditar nas palavras dele.

INOCENTADOS – O ministro do STF, Dias Toffoli, anulou todos os processos da lava-jato contra o ex-governador e atual deputado federal, Beto Richa. Em 2023, outros ex-politicos também foram beneficiados com processos anulados na lava-jato.

Entre eles, José Dirceu, Sergio Cabral, Luis Fernando Pezão, Eduardo Cunha e André Vargas. O bom senso indica que nesse finalzinho de 2023, a justiça anule, também, todos os processos contra o ex-presidente Fernando Collor.

Por fim, mulher invadiu hospital com carro, para protestar contra o mau atendimento. Se a moda pega, hospitais e prontos-socorros públicos precisarão construir entradas com altas portas de ferro com imensas grades de aço.

Nascimento de Cristo é um dos temas favoritos na visão mágica dos pintores

Pintura “Adoração dos Pastores”, de El Greco

Paulo Peres

Na iconografia cristã, os grandes mestres da pintura sempre deram relevada importância em registrar com talento, criatividade e interpretações diversas, o episódio da Natividade (o nascimento de Cristo) com seus personagens – a Virgem Maria, São José, o Menino Jesus, os animais, os pastores e os Reis Magos.

Essas imagens, um dos temas mais comuns na arte cristã, mormente na Idade Média e no Renascimento, estão sempre impregnadas de símbolos, como ressaltam Emile Male e seu discípulo Louis Réau, em livros iconográficos que decodificam a poética dos artistas.

MUITAS VARIAÇÕES – A Virgem, o Menino Jesus e São José, personagens principais do ato passado na estrebaria, o Nascimento de Cristo, conforme a época e os pintores, a cena, bastante conhecida, sofre variações de um para outro artista. No Retábulo Portinari, do flamengo Reoger der Weuden, ou na Natividade, do alemão Hans Baldung, há uma inovação: a do Menino iluminado, adorado por seus pais e os pastores.

“Do corpo do pequeno Cristo irradia intensa luz que ilumina a face extasiada dos personagens”, diz Emile Male. “Não é apenas um menino comum, que jaz no chão ou na manjedoura, reverenciado por Reis Magos e Pastores, olhado e farejado com certa indiferença por dois animais principais: o asno e o boi”.

Neste painel, outros seres ainda podem ser acrescentados, como na pintura da brasileira Rosina Becker do Vale: pavões, leões, corujas, borboletas, além de anjos cantores. “E com tal fidelidade são estes seres representativos do Renascimento que, na Natividade de Piero Della Francesca, identificam-se as palavras do canto gregoriano que pronunciam pelo formato de suas bocas”, afirma Emile Male.

CARÁTER SIMBÓLICO – Os livros iconógrafos relatam que tudo na arte cristão medieval possui caráter simbólico, testemunhos da divindade de Cristo e das mensagens do Novo Testamento. E, por isso, existe um verdadeiro zoológico nos quadros primitivos flamengos, nos renascentistas e no de alemães e espanhóis.

Segundo os especialistas, as fontes dos animais no presépio vieram, principalmente, da Bíblia, dos Salmos e da Lenda Dourada, a hagiografia dos santos (história dos santos) tão consultada pelos artistas da Idade Média. Nelas os animais não são classificados por espécies, família e gênero, como fez Carlos Lineu, no início do século XVIII, e sim por suas virtudes ou malefícios morais.

“Na Idade Média”, diz Emile Male, “tudo é signo e o visível só vale porque esconde o invisível. Logo, temos o significado de alguns animais que sempre aparecem em quadros de mestres que pintaram o tema Natividade”.

OS SIGNIFICADOS – O Cordeiro (Agnus Dei), por sua mansidão ante a morte inevitável, geralmente, simboliza Cristo e seu sacrifício pela humanidade, sobretudo quando aparece imóvel, salienta Emile Male.

“Mas também pode significar a Ressurreição do Cristo. Todavia, devemos nos lembrar que Ele não simboliza, exclusivamente, a imagem de Jesus imolado ou ressuscitado. Ele pode ser o símbolo místico do Apocalipse que se aproxima, ou a inocência dos santos”.

O asno e o boi são animais inevitáveis em todas as Natividades. O asno, que mais tarde ajudará a Sagrada Família a fugir para o Egito, na iconografia do Natal tem vários significados. Humilde o doce, ele era chamado “o cavalo do pobre” e tem sempre um papel simpático na Bíblia. Na gruta natalina, ele esquenta com seu hálito o Menino Jesus na manjedoura.

PAPEL HUMILDE – Já o boi tem um papel humilde de Natalidade. Seu hálito também ajuda a acalentar o Menino na noite de inverno natalino. Ele, iconograficamente, simboliza ainda o sacrifício de Jesus, assimila a ideia de reprodução humana e é a vítima nos sacrifícios religiosos. Por isso, o boi não tinha boa reputação na Bíblia, que condenava o sacrifício dos animais aos deuses.

Os cavalos dos Reis Magos, ricamente adornados, significam a riqueza do mundo em comparação à do Filho de Deus, explica Emile Male. “A este bestiário luxuoso, vários artistas como Ticiano, Rubens e Veronese, acresceram outros animais simbólicos: pomba, pavão, cervo, galo e leão, além dos anjos que evoluem como símbolos da pureza velando pela Sagrada Família”.

A pomba, símbolo da paz que reinará um dia sobre a humanidade após o Juízo Final, foi a emissária da Anunciação e do término do Dilúvio Universal. “Signo do Espírito Santo, da alma do penitente purificada pela morte, ela se opõe ao negro corvo, encarnação do Diabo. A pomba também simboliza a Igreja nascida no Pentecostes”, sustenta Emile Male.

OUTROS ANIMAIS – O cervo, segundo o Salmo 41, após beber no regato, brame pela presença do Messias. Ele é também o matador da serpente tentadora. Já o pavão de caudas é reverenciado pelos cristãos primitivos como símbolo da redenção e da vigilância contra o pecado. Mas em pintura, era também um animal que permitia vivas combinações de cores”, constata Emile Male.

O galo não significa apenas o símbolo da regeneração e do remorso de São Pedro, é também a imagem de Cristo que, no terceiro dia, ressurgiu das trevas para a Ressureição. Seu canto matinal não apenas acorda o homem para o trabalho, mas serve para lembrá-lo que mais um dia passou e a morte se aproxima.

E o leão, símbolo da coragem e da força, paradoxalmente, significa também a sepultura, onde um dia os restos mortais irão repousar. Além desses símbolos iconográficos da Natividade, outros foram adotados para significarem o bem ou o mal. “Na Idade Média e, desde a Arte Cristã Primitiva, o importante das imagens não eram suas qualidades físicas, mas seu conceito metafísico, pois a metafísica, no mundo medieval, era a única filosofia que explicava o Universo”, afirma Male.

Protestos contra megadecreto de Milei radicalizam a polarização na Argentina

Tensão sobe na Argentina com protesto e protocolo de Milei - 20/12/2023 - Mundo - Folha

Povo argentino passa um Natal de tristeza e de decepção

Mateus Camillo
Folha

O presidente ultraliberal Javier Milei anunciou nesta quarta-feira (20) em rede nacional um “megadecreto” que declara emergência e revoga ou altera mais de 300 leis para desregular a economia argentina, dez dias após assumir o poder.

As leis se referem a temas como controles de preços, aluguéis, indústria, privatizações de estatais e “modernização do regime trabalhista”.

BLOQUEIO DE RUAS – A tensão na Argentina já vinha crescendo desde a manhã desta quarta-feira (dia 20), quando entraria em vigor um novo protocolo de segurança de Milei, que não permite o bloqueio de ruas.

Com as medidas anunciadas, no entanto, uma nova onda de protestos tomou conta da Argentina. O Congresso Nacional, na região central de Buenos Aires, tradicional ponto de manifestação na capital, ficou tomado de pessoas.

A oposição ao governo Milei deverá ocupar as ruas mesmo sob as ameaças do presidente, como ocorreu em plena madrugada, que até lembra as apaixonadas torcidas de futebol do país vizinho. Os manifestantes pedem greve geral.

PROTESTOS – Houve panelaços contra as medidas adotadas por Milei em Buenos Aires e em outras províncias, como Santa Fe e Mendoza. E em cidades como La Plata.

Os argentinos têm um histórico de mobilizações, como na época da ditadura e em pautas sociais, o que ajuda a explicar o tamanho desta mobilização em apenas dez dias de governo Milei.

Assim como foi na posse, o assunto é tema dominante no X (ex-Twitter), no Brasil e na Argentina. Para alguns internautas brasileiros, a classe trabalhadora na Argentina possui mais “consciência de classe”. O que faz com que sintam vontade de ser argentinos.

REDES AGITADAS – A polarização argentina chegou ao Brasil. A esquerda brasileira apoia os críticos de Milei, enquanto bolsonaristas endossam o presidente recém-eleito. Isso faz com que os debates floresçam nas redes por aqui.

Nessa polarização, fatos passados da política brasileira aparecem o tempo inteiro. Não só fatos passados. As medidas de austeridade de Milei são vistas como prejudiciais às classes mais pobres.

Os liberais brasileiros, no entanto, veem como a oportunidade de a Argentina resgatar a força econômica do século 19, que teria sido destruída pelas forças peronistas e kirchneristas. O discurso de 15 minutos de Milei, em que anuncia o ‘megadecreto’, foi visto como histórico.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A grande surpresa é o fato de Milei ter um projeto para tirar o país da crise. Esse megadecreto pode mudar muita coisa, até porque nenhum país tem crises intermináveis. Basta lembrar o que já aconteceu na Alemanha antes de Hitler, no Brasil, a partir da derrocada do regime militar, e na recente bancarrota da Grécia. Vamos torcer pelos argentinos neste Natal. (C.N.)

Lula não quer sair mais do governo, como ocorre na Venezuela, Nicarágua e Cuba

O presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva durante reunião ministerial realizada na manhã  desta quarta-feira, 20, no Palácio do Planalto

O sonho de Lula: “O povo deveria me eleger para sempre”

J.R. Guzzo
Estadão

Lula não descobriu até hoje outra ocupação que não seja a de presidente da República; nada o atrai fora disso. Seus sonhos de não sair mais do governo acabam sendo, no fundo, os mais sinceros que ele pode apresentar. Um dia, mais cedo ou mais tarde, o homem do cafezinho vai entrar pela última vez na sala do presidente da República. Esse dia pode demorar muito. Pode não demorar tanto assim. É possível, também, que o presidente não queira sair nunca mais da cadeira.

Mas querendo ou não, e por mais esforço que faça, vai ter de acabar saindo, e alguém vai ficar no seu lugar. O presidente, na verdade, pode passar a vida inteira eliminando adversários potenciais e armando operações para não deixar o cargo. Pode até eliminar todos, menos um: aquele que realmente acabará ocupando o seu posto um dia.

HOMEM DE SORTE – São ideias de que Lula não gosta. Ao longo dos seus 40 e tantos anos de vida política, sempre preferiu a vida de presidente vitalício – Venezuela, Nicarágua, Cuba, Coreia do Norte, esse é o seu estilo. Está de volta agora ao tema, numa palestra que fez na televisão. Nessa ocasião cogitou que pode ser um “homem de sorte”, causa pela qual lhe atribuem suas vitórias eleitorais. Como o Brasil precisa de muita sorte nesse momento será um grande negócio para o Brasil ele ir ficando na presidência.

“Se é verdade que eu tenho sorte, o povo deveria me eleger para sempre,” disse o presidente. “Este país está precisando de tanta sorte, que a gente deveria não sair mais”.

É uma questão de livre opinião, ou costumava ser, e o presidente tem o direito à sua autoavaliação, como todo mundo. Lula acha que ela é extraordinária. E o povo brasileiro? Precisaria combinar com ele, para ver se acham mesmo que Lula é uma grande sorte – na última eleição 58 milhões de eleitores acharam, ao contrário, que foi um tremendo azar.

SEM FESTA – Seu primeiro ano de governo não está fazendo multidões saírem às ruas em delírio para celebrar o PAC, a eliminação da geladeira que custa abaixo de 4.000 reais e o Arcabouço Fiscal do ministro Haddad. É preciso saber se estão felizes com o novo salário-mínimo. Que obras receberam?

Mas talvez Lula saiba que não tem, como o PT e a esquerda nacional, a mais remota ideia de como melhorar as coisas. Durante um ano inteiro a soma total das suas realizações foi dar verbas do orçamento para comprar apoios no Congresso; seu programa para o ano seguinte é mais do mesmo. Sorte?

Lula não descobriu até hoje em sua vida outra ocupação que não seja a de presidente da República; nada o atrai fora disso. Seus sonhos de não sair mais do governo acabam sendo, no fundo, os mais sinceros que ele pode apresentar no momento.

Quem quer calar a crítica embasada e ponderada de Conrado Hübner?

Conrado Hubner

Conrado Hübner é perseguido por manifestar opinião

Roberto Livianu
Poder360

A liberdade de crítica é considerada uma das vertentes da liberdade de expressão, consagrada universalmente e no Brasil constitucionalmente como um dos mais caros direitos fundamentais. É de conhecimento público que um dos mais cultos e corajosos professores de nosso país, Conrado Hübner, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, que ministra suas aulas na cátedra de Direito Constitucional e simultaneamente é articulista da Folha de S.Paulo e diretor do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo, tem se posicionado publicamente acerca de temas espinhosos com rara coragem.

É fato notório que o professor Conrado tem criticado ministros do STF e o ex-procurador-geral Augusto Aras. Sofreu, em virtude disso, representação oferecida pelo advogado Carlos Henrique Bastos Silva Mendes, na qual requereu que a Promotoria de Justiça do Patrimônio Público Social da capital denunciasse Conrado por improbidade administrativa ao supostamente violar o regime de dedicação integral da universidade nos últimos cinco anos.

QUESTIONAMENTO – Além do trabalho como articulista da Folha, o professor teve outras três atividades questionadas: a sociedade minoritária em uma empresa de prestação de serviços, a realização de uma palestra remunerada no Iree (Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa) e o fato de integrar a diretoria do Centro de Análise da Liberdade e do Autoritarismo.

O inquérito civil, depois da devida investigação, teve arquivamento corretamente promovido e depois confirmado pelo Conselho Superior do Ministério Público. A íntegra da discussão pode ser acompanhada por meio da gravação da 79ª Reunião Ordinária do Conselho Superior do Ministério Público.

Assim, o Conselho Superior, sem acolher qualquer tipo de pedido do representante, só determinou o retorno dos autos à origem, a fim de que se manifeste a Faculdade de Direito da USP quanto à atividade de articulista de jornal de seu professor.

UNIVERSIDADE APOIA – Sobre o exercício da função de articulista, é preciso registrar que a Comissão de Ética da Universidade de São Paulo, em razão de representação formulada pelo ex-procurador-geral da República, Augusto Aras, lavrou parecer arquivando a referida representação, com o fundamento de que a função articulista é compatível com a sua função de professor e valorizada pela Universidade:

“(…) a atuação do prof. dr. Conrado Hübner Mendes no debate público se coaduna às suas competências como pesquisador, especialista no âmbito do Direito Constitucional, das Teorias da Democracia e da Justiça, que incluem a análise e averiguação das decisões do Ministério Público contra o interesse público; todas essas são matérias de suas teses e publicações acadêmicas, que repercutem em suas atividades de extensão universitária, valorizadas e incentivadas pela universidade.” …

Por causa do texto “O estado de coisas inconstitucional do lobby advocatício”, publicado em abril na Folha, Conrado foi acusado pela prática de crimes contra a honra.

VIRIA A GALOPE… – No artigo, Conrado critica os partidos Psol, PC do B e Solidariedade por terem ajuizado uma ação no Supremo pedindo a suspensão do pagamento de multas e revisão de acordos de leniência firmados entre o Estado brasileiro e as empresas que praticaram ilícitos.

Antes de acionar o Judiciário, os advogados publicaram um artigo de opinião afirmando que Conrado não havia poupado calúnias contra o grupo e que o acionamento pela via judicial “viria a galope”.

Vale registrar sobre o fato objeto da crítica do professor Conrado que o acordo atacado pelos três partidos na ação movida foi devidamente homologado pelo Supremo Tribunal Federal e as empresas celebrantes se viam representadas pelas maiores bancas de advocacia do país.

SEGURANÇA JURÍDICA – Nenhuma dessas empresas anuiu o ajuizamento dessa ação pelos partidos se dizendo prejudicada pelos acordos. Uma ação que desrespeita acordo homologado pela Suprema Corte implica em quebra de segurança jurídica.

O artigo 5º da Convenção da OCDE é categórico: não se pode deixar de punir a corrupção sob pretexto de dano à economia, discurso utilizado na ação. Não parece razoável esse verdadeiro processo de retaliação promovido ao professor Conrado Hübner pelo simples fato de ter opiniões críticas divergentes, o que é natural numa democracia.

Deve-se saber lidar com a crítica embasada, científica e ponderada. Conrado jamais ofendeu pessoas, e sim teve pontos de vista distintos, o que deve ser aceito num sistema democrático. Afinal, quem quer calar e por que calar Conrado Hübner?

No Rio, empreiteiras constróem e milícias se beneficiam, antes e depois das obras

Charge do Quinho (Arquivo do Google)

Marcelo Copelli

Por meio de informações provenientes da Operação Dinastia, o Ministério Público do Rio de Janeiro revelou que empreiteiras envolvidas em construções na Zona Oeste da Cidade estão sendo alvo de extorsão por parte de milicianos, liderados, inclusive, por um criminoso de estreita ligação com parlamentares da Casas Legislativas do Rio. Os alvos da criminalidade foram não somente as obras realizadas por empresas privadas, mas também, e a que ponto chegamos, as da alçada da própria Prefeitura.

E não foi difícil encontrar o caminho das pedras da atuação da marginalidade, até porque são casos de notório conhecimento da sociedade. Somente as autoridades  (ir) responsáveis aparentam não saber. Através da quebra de sigilo de indivíduos ligados ao bando que acharcava os empreiteiros, os investigadores conseguiram acessar as tabelas de controle da “taxa de segurança”. Uma velha prática que se aproveita da insegurança da Cidade , a exemplo de tantas outras, para tornar o medo uma moeda rentável.

FONTE DE RENDA – De acordo com os documentos obtidos, algumas empresas chegam a desembolsar aproximadamente R$ 13 mil mensais para os criminosos. Mas não para por aí. A fonte de renda, agora, é que começa a produzir “lucros” fantásticos, pois após a conclusão das obras, a extorsão passa a ser direcionada aos condomínios, que repassam os valores aos moradores. As tabelas de controle da milícia contêm informações detalhadas sobre as datas de pagamento e os montantes recebidos.

Tudo organizado no crime e desorganizado na atuação do poder público. O desvio tornou-se espaço comum nos noticiários e na aceitação da população que protagoniza apenas o papel de eleitor dos que nada fazem e de vítimas da própria inoperância governamental. Isso em todos os planos do poder.

“TAXA DE SEGURANÇA” – Somente em fevereiro, o MPRJ constatou que a milícia atuante na Zona Oeste arrecadou mais de R$ 308 mil advindos com as cobranças das “taxas de segurança” às construtoras. E a Prefeitura do Rio ? Bem, essa afirmou estar ciente das intimidações perpetradas tanto pelo tráfico quanto pela milícia, orientando as empresas a denunciarem tais práticas. Piada de fim de ano ? De denúncias a sociedade está transbordando. Falta é solução concreta.

E, para fechar o pacote, para quem não se recorda, em agosto, funcionários que trabalhavam nas obras do Bairro Maravilha Sandá, em Bangu, foram agredidos por criminosos, sendo o incidente registrado na delegacia. A Prefeitura declarou ter adotado medidas, como a retirada do valor investido das placas de obras. Ou seja, traído, o marido vendeu o sofá. Problema resolvido. Ou não.

Cristãos de esquerda tentam promover, durante a guerra, um “Natal antissemita”

Charge do Latuff (Brasil 247)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Sempre existiu no cristianismo aqueles que afirmavam que “os judeus mataram Cristo”. Pois bem, essa forma de antissemitismo está de volta, carregada no colo pela esquerda, e não passará despercebida. O pessimismo é um desafio num mundo à deriva como o nosso. Há um motivo para ele ser um desafio nesse Natal. O Natal antissemita está de volta. Aparentemente, esse fenômeno tinha sido deixado para trás pela teologia cristã. Graças a Deus.

Mas os recentes eventos do conflito israelo-palestino trazem à luz o fato que persiste no fundo do poço de alguns luminares cristãos, um resto do velho antissemitismo de “os judeus mataram Cristo”.

CASOS ESPECÍFICOS – Disclaimer: refiro-me a casos específicos, óbvio, mas significativos, quando vêm regados à credibilidade do combate histórico pela liberdade e pelo bem político e social.

O que era esse antissemitismo cristão? Explico para os iniciantes. Durante muito tempo, muita gente dizia que “os judeus mataram Cristo”. Essa afirmação corria boca a boca por séculos. Graças aos esforços de muitos teólogos e líderes do cristianismo e do judaísmo, essa afirmação mentirosa perdeu força no Ocidente e, hoje, a imensa maioria dos cristãos apoia o direito de Israel se defender do terrorismo. Mas persiste na alma de alguns essa ideia antijudaica, ainda que velada. Vejamos.

Se alguém afirma que nesse Natal, o Cristo é uma criança palestina morta por Israel – entendo a metáfora teológica de longo alcance –, essa pessoa comete um pecado típico dos antissemitas cristãos do passado quando, inclusive, ignoravam a “nacionalidade” do Jesus de Nazaré.

ARAFAT JÁ DIZIA  – Por isso, essa metáfora não é inocente e deixa transparecer que Jesus seria palestino e não judeu. Arafat tentou dar esse golpe de marketing em 2000 quando defendia que Jesus fora o primeiro palestino perseguido por um estado judeu.

Lembremos: Jesus de Nazaré era tão judeu quanto Barrabás, Bibi Netanyahu, Golda Meir, Yitzhak Rabin , Einstein, Marx, Freud. Ser judeu não é garantia de caráter, óbvio, como tampouco o é ser de esquerda – de direita, todo mundo está cansado de saber que não é.

Tampouco, Jesus ser de qualquer “nacionalidade”, incluindo palestinos ou brasileiros. Se Jesus vivesse na Europa da primeira metade do século 20, teria sido fritado na cara de todo mundo.

COMO METÁFORA – Nesse sentido, seria mais historicamente fundamentado dizer, no plano das metáforas, que as crianças mortas intencionalmente e as mulheres estupradas e arrastadas pelos cabelos pelo Hamas são o Cristo nesse Natal – já que Jesus de Nazaré era tão judeu quanto elas, não?

Mas o atávico antissemitismo em setores da esquerda religiosa é mais forte. Ou, se fôssemos ser mais “inclusivos”, deveríamos, talvez, dizer, metaforicamente, que nesse Natal, todas as crianças que são mortas no mundo são o Cristo – inclusive, as que morrem no nosso quintal aqui no Brasil, mas não dão ibope. Quando se diz que apenas as crianças de Gaza são o Cristo, a hipótese que a precede – atenção! – é que os judeus estão matando o Cristo de novo.

O que os antissemitas ainda não perceberam é que o odor que eles exalam, hoje, é reconhecido imediatamente. Um caso gritante é o das universidades progressistas de ricos nos EUA.

LICENÇA PARA MATAR – A simples possibilidade de ver um judeu armado, que também pode matar, e que os enfrentam, causa horror, não? Judeus agora podem matar, tanto quanto aqueles que os matam. Durmam com um barulho desse.

Outro argumento do antissemitismo atávico de alguns cristãos é o que dizia que Jesus de Nazaré havia sido recusado, além de morto, pelo seu próprio povo. A metáfora de que, nesse Natal, apenas as crianças mortas em Gaza seriam o Cristo – e, portanto, Ele estaria sendo, de novo, recusado e morto pelo seu próprio povo – faria qualquer antissemita do passado se sentir em casa, não? Esse é o tipo de gente que ama a humanidade, mas detesta judeus.

Espero que aqueles entre nós que afirmam que o Hamas é resistência anticolonial adotem um terrorista para si. Levem-no para casa nesse Natal. O antissemitismo de esquerda disfarçado de amor a humanidade grassa no mundo das ciências humanas.

Anjos morenos festejam o Natal do mestre do surrealismo na poesia

Murilo Mendes, grande poeta mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O notário e poeta mineiro Murilo Monteiro Mendes (1901-1975), mestre do surrealismo no Brasil, destaca no poema “Natal” o abrasileiramento do tema, com a presença de “anjos morenos” e a busca da paz de espírito anunciada pelo nascimento de Jesus.

 NATAL
Murilo Mendes

Meu outro eu angustiado desloca o curso dos astros, atravessa
os espaços de fogo e toca a orla do manto divino.
O ser dos seres envia seu Filho para mim, para os outros que
O pedem e para os que O esquecem.
Uma criança dançando segura uma esfera azul com a cruz:
Vêm adorá-la brancos, pretos, portugueses, turcos, alemães,
russos, chineses, banhistas, beatas, cachorros e bandas de música.
A presença da criança transmite aos homens uma paz inefável
que eles comunicam nos seus lares a todos os amigos e parentes.
Anjos morenos sobrevoam o mar, os morros e arranha-céus,
desenrolando, em combinação com a rosa-dos-ventos,
grandes letreiros onde se lê: GLÓRIA A DEUS NAS
ALTURAS E PAZ NA TERRA AOS HOMENS DE BOA
VONTADE. 

Haddad ganhou o primeiro round, mas a luta contra Lula será longa e inglória

Eu sou Haddad. Eu sou Lula. Por Pataxó

Charge do Pataxó (Portal DCM)

Carlos Newton

Neste final de ano, Fernando Haddad ganhou uma força extraordinária, ao conseguir aprovar o esboço da reforma tributária, que veio se somar à façanha anterior de instituir o arcabouço fiscal. Nesse ponto, é interessante notar que o ministro da Fazenda vem atuando na contramão do presidente Lula da Silva desde o início do governo, quando se dedicou à preparação do projeto do arcabouço, em parceria com a ministra do Planejamento, Simone Tebet.

Na época, Lula pretendia apenas que o Congresso aprovasse o arrombamento do teto de gastos proposto e aprovado na gestão de Michel Temer. Ou melhor, na gestão de Henrique Meirelles, então ministro da Fazenda, que tirou o Brasil de sua mais longa recessão após a tragédia de Dilma Rousseff, agora escolhida como Economista do Ano pelos petistas luláticos do Conselho Nacional de Economia, numa das maiores piadas institucionais da História Republicana.

LULA NÃO GOSTOU – É claro que Lula não gostou da desobediência de Haddad e Tebet, sua resposta foi colocar os dois no freezer e seguir em frente rumo à reeleição, que passou a ser sua maior meta, ainda no primeiro ano de governo.

A primeira vingança de Lula foi nomear o ultrapetista Marcio Pochmann para manipular as estatísticas do IBGE, passando por cima de Simone Tebet, que foi obrigada a ficar na dela, sem reação. A primeira façanha de Pochmann foi acabar com o desemprego no Brasil, de uma hora para outra, num passe de contorcionismo estatístico, e ele é mestre nisso.

O caso de Haddad é mais difícil. Lula tentou desestabilizá-lo, criticando abertamente a política defensiva da Fazenda, que tem como mentor o experiente Bernardo Appy, que comandou a Secretaria de Política Econômica no primeiro governo Lula e é especialista em reforma tributária.

NA MUDA – Haddad e Appy imitaram Simone Tebet e não reagiram. Ficaram na muda, negociando direto com o Congresso, enquanto Lula e petistas como Gleisi Hoffmann, o namorado Lindbergh Farias e o líder José Guimarães, conhecido com o deputado dos dólares na cueca, vociferavam contra a atual  política econômica.

Em meio a esses embates, o Congresso aprovou o esboço da reforma tributária e a dupla Haddad/Appy ganhou um belíssimo presente de Natal, concretizado pelo apoio irrestrito do mercado interno e externo, com a Bolsa batendo recorde, enquanto o dólar e o risco Brasil caíam.

Neste final de ano, o ministro da Fazenda ganhou uma força enorme, ficou indemissível e Lula se viu obrigado a homenageá-lo na última reunião ministerial, nesta quarta-feira, vejam a que ponto chegam a desfaçatez e o cinismo na política.

SEGUNDO TURNO – Agora, vem a trégua de Natal e no Brasil tudo se interrompe, para voltar após o carnaval, quando começa o segundo turno da reforma tributária, é a hora da verdade para Haddad e Appy, a fase mais importante.

Neste ano, o Congresso já se vendeu por 30 dinheiros e prorrogou as desonerações que quebraram a Previdência. Depois do Carnaval, vai votar o que é mais importante do que a reforma – as alíquotas dos impostos.

Haddad e Appy terão de se virar para impedir a volúpia arrecadatória de Lula, que precisa de receita adicional para pavimentar seu percurso rumo à reeleição, embora ainda sinta dores nos quadris, conforme revelou esta semana, e esse desconforto pode até se tornar permanente.

P.S. – Bem, este é o quadro atual, que irá sendo alterado à medida que se aproxime a data da sucessão, em 2026.  No momento, Lula já conseguiu neutralizar dois importantes concorrentes – Flávio Dino, que ficará encarcerado no Supremo, e Simone Tebet, que está aprisionada no Ministério do Planejamento. Falta se livrar de Haddad, que está saindo melhor do que a encomenda, conforme se dizia antigamente. Lula vai tentar destruí-lo de todas as formas. Será uma briga de cachorro grande, e já comprei pipocas para assistir. (C.N.)

Capacidade de mediação do Brasil na disputa de Venezuela e Guiana é zero

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ditador venezulano Nicolás Maduro

Lula perde pontos no exterior por apoiar o ditador Maduro

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

Vamos imaginar que o governo brasileiro decidisse convocar um plebiscito para saber se a população apoia a anexação do Uruguai. Há precedente histórico. O Uruguai era a Província Cisplatina do Império do Brasil até 1825.

O Uruguai não tem petróleo, mas tem pecuária avançada, produção de vinhos melhores que os nossos, uma economia equilibrada. Supondo uma votação livre, difícil saber a escolha dos brasileiros. Digamos que seja “sim”. E que o governo brasileiro inclua a Cisplatina no nosso mapa, nomeie um dirigente do PT como interventor, substituindo o governo de centro-direita deles, e Fernando Diniz convoque Luis Suárez para a Seleção Brasileira (seria, aliás, nossa maior conquista).

ATO DE AGRESSÃO – Grossa provocação, não é mesmo? Nem precisaria haver movimentação de tropas, jatos voando sobre o território uruguaio, digo, da Cisplatina. O plebiscito já seria um ato de agressão.

O que faria o Uruguai? Chamaria os Estados Unidos, claro, já que brigar com o Brasil estaria fora de cogitação.

Agora, a Venezuela. Um plebiscito fajuto, e Maduro declara que a região do Essequibo é território venezuelano e que vai anexá-la. Sim, há precedentes, lá de trás, de disputa da região. Cavando na História, até as Coroas espanhola e britânica, dá para arranjar qualquer argumento. Só que a situação está pacificada há tempos. A Guiana tornou-se independente, formou uma nação de ampla diversidade, ocupou Essequibo com sua população, estava quieta no seu canto.

AGRESSOR E VÍTIMA – O modo de dizer importa muito em diplomacia. Falar em conflito entre os dois países é dar um desconto para Maduro. Do mesmo modo, o presidente Lula tergiversa quando diz não querer “confusão” na América do Sul. Deveria dizer diretamente a Maduro que ele precisa ficar nos seus limites em vez de agredir o vizinho.

Lula é amigo de Maduro. Quando assumiu a presidência temporária do Mercosul, em julho deste ano, disse que era seu objetivo trazer de volta a Venezuela, suspensa por descumprimento das regras democráticas. Para ele, não tem ditadura na Venezuela.

O presidente da Guiana, Irfaan Ali, declarou confiar na liderança e na maturidade do Brasil. Diplomático. Ele sabe que Lula tem lado. Por isso chamou os Estados Unidos, que enviaram caças para sobrevoar o Essequibo. Porta-voz da Casa Branca advertiu a Venezuela.

REAÇÃO NEGATIVA – Nos meios políticos e diplomáticos de Brasília, ouviram-se comentários negativos: a Guiana trouxe os Estados Unidos para nossa América do Sul. E isso traria para cá o conflito Estados Unidos x Rússia.

Ora, quem trouxe a Rússia para cá, há muito tempo, foi a Venezuela, armada com jatos russos de primeira linha, além de farto material militar terrestre. Aliás, Maduro acaba de marcar reunião com Putin.

Falemos francamente: a capacidade de mediação do governo brasileiro é zero. A menos que exerça pressão incisiva que leve Maduro a simplesmente voltar atrás. Sim, voltar atrás, anular o plebiscito fajuto e conversar nas Cortes internacionais. Lula não deu sinais de que pensa nisso. Ao contrário, parece se encaminhar naquela direção de considerar igualmente responsáveis o agressor e o agredido. Venezuela é Rússia, Guiana é Ucrânia.

PELO MUNDO – Só falta botar a culpa de tudo nos Estados Unidos. Falta? Lula dedicou seu primeiro ano a buscar protagonismo internacional. Meteu-se na questão da Ucrânia, no Oriente Médio, apresentou-se como líder do combate ao aquecimento global.

Falou muito, colecionou nada. Atuação zero nas guerras. Teve de pedir aos Estados Unidos e ao Catar para tirar brasileiros de Gaza. Aqui, prometeu fechar o acordo Mercosul-União Europeia. Não conseguiu. Culpa deles, claro.

Também não conseguiu reintegrar a Venezuela ao Mercosul. Os sócios não deixaram.

MEMBRO DA OPEP – Foi liderar a COP28 contra os combustíveis fósseis e voltou de lá com o Brasil integrante da Opep, aspirante a tornar-se um gigante da exploração de petróleo.

Enquanto isso, não faltaram problemas brasileiros que mereciam maior atenção do governo.

E mais uma palavrinha sobre Essequibo: não seria razoável perguntar a seus habitantes onde querem ficar?

Sempre generoso, Toffoli suspende multa de R$ 10,3 bilhões que a J&F devia pagar

Tribuna da Internet | Pateticamente, Dias Toffoli procura fazer as pazes  com Lula às custas da nação brasileira

Charge do Kácio (Portal Metrópoles)

Deu no Terra

O ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a multa de R$ 10,3 bilhões do acordo de leniência da J&F  (holding que controla a JBS) com Ministério Público Federal (MPF). O ministro autorizou a J&F a renegociar seu acordo diretamente com a Controladoria-Geral da União (CGU).

A decisão vale até que a empresa analise mensagens apreendidas na Operação Spoofing, segundo apurou o g1. Toffoli garantiu à J&F o acesso às mensagens hackeadas de procuradores da extinta força-tarefa da Lava Jato apreendidas na Operação Spoofing, que levou à prisão de Walter Delgatti Netto e outros acusados de invadir celulares de membros do MPF.

ATENDENDO A PEDIDOS – Toffoli atendeu a um pedido da defesa da J&F. A empresa alega que os diálogos mostram proximidade ilegal entre procuradores da força-tarefa e juízes responsáveis por analisar os processos da Lava Jato e indicam o uso ilegal de provas.

A empresa busca repactuar o acordo, QUE prevê o pagamento de R$ 10,3 bilhões, sendo que a empresa já pagou R$2,9 bilhões. A J&F já pede a correção dessa multa para R$ 24 milhões ou, no máximo, R$ 591 milhões. Após analisar as mensagens, a empresa vai decidir se vai requerer o cancelamento total da multa.

Toffoli herdou o processo relacionado ao acesso às mensagens hackeadas do ex-ministro Ricardo Lewandowski, que era relator do caso e também passou a advogar para a J&F nessa disputa empresarial, segundo o portal Metrópoles.

DECISÃO ATROPELADA – Uma grande parte da multa do acordo de leniência da J&F, no valor de R$ 6,8 bilhões, chegou a ser anulada dentro da Procuradoria-Geral da República (PGR), pelo subprocurador-geral Ronaldo Albo. À época, ele atropelou uma decisão da 5ª Câmara de Revisão Criminal da PGR, que havia mantido o acordo.

A decisão de Albo foi anulada pelo Conselho Institucional do Ministério Público Federal. Ele foi retirado da coordenação da 5ª Câmara pela então procuradora-geral interina Elizeta Paiva.

Depois disso, os irmãos Batista vêm se empenhando de todas as formas para anulação do acordo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Toffoli, sempre Toffoli, o mais magnânimo e bondoso dos ministros do Supremo, dá mais uma decisão surpreendente. Mesmo sabendo do dinheirão que rola em Brasília no lobby montado pelos irmãos Wesley e Joesley Batista para se livrar do pagamento que eles próprios propuseram na Lava Jato, Toffoli não se acovardou e foi em frente. Na terça-feira, já tinha liberado R$ 1 bilhão para pagar aos juízes federais um penduricalho do tipo zumbi, porque tinha sido extinto, mas ressuscitou. Na quarta-feira, o indômito ministro aumentou a conta, ao livrar os irmãos do pagamento bilionário de R$ 10,3 bilhões, uma quantia à toa para os maiores exportadores mundiais de carne. E assim Toffoli continua sendo o rei da decisão monocrática, mais eficiente do que o rival Ricardo Lewandowski, que aprontou este ano, antes de tirar o time de campo, como se dizia antigamente. Por fim, será mesmo que Lewandowski está mesmo advogando para os irmãos Batista. Se isso for verdade, é melhor fechar logo a República e restaurar a Monarquia, por ser muito menos corrupta.  (C.N.)