Malafaia e Macedo brigam dentro e fora da politica e da religiosidade

MALAFAIA X EDIR MACEDO: O BARRACO – Pedro Paulo Rasga a Mídia

Malafaia e Macedo disputam os fiéis e os políticos

Vinícius Sales
Gazeta do Povo

A disputa pela prefeitura do Rio de Janeiro está no radar dos pastores Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd). Ambos evangélicos, os líderes estão em grupos políticos opostos e se articulam nos bastidores para apoiarem o deputado federal Alexandre Ramagem (PL) e o prefeito Eduardo Paes (PSD).

A disputa entre os dois teve impacto decisivo na escolha do vice na chapa encabeçada por Ramagem. O nome da deputada estadual Tia Ju (Republicanos) chegou a ser cogitado para o cargo, mas foi vetado por Macedo, que controla o Republicanos. Nos bastidores da política carioca, a decisão foi vista como parte do embate que o presidente da Igreja Universal tem com Malafaia, um dos principais apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e da candidatura de Ramagem. Com a negativa, o PL escolheu montar uma chapa “puro-sangue” e anunciou a deputada estadual Índia Armelau (PL) como vice.

PAES E CRIVELLA – Por outro lado, a preferência de Edir Macedo por Paes, mesmo que de forma implícita, também é vista no mundo político como estratégica. Apesar de Marcelo Crivella (Republicanos-RJ) ter sido adversário do atual prefeito na última eleição municipal, o favoritismo de Paes na disputa pode levar o bispo da Universal a negociar posições e cargos dentro da prefeitura do Rio.

No último dia 28 de julho, o prefeito do Rio chegou a participar de um evento com Macedo no Templo de Salomão em comemoração aos 10 anos de existência do edifício, considerado a sede da denominação religiosa. Apesar da movimentação, a aproximação entre os dois não está sendo bem vista, já que Paes tem o apoio de Lula. Na visão de analistas, a preferência pode causar incômodo no eleitorado evangélico, que é contrário a pautas defendidas pela esquerda, como aborto e legalização de drogas.

Além das eleições municipais, o embate entre Malafaia e Macedo respinga na sucessão pela presidência da Câmara dos Deputados, marcada para fevereiro de 2025. Até o início do ano, o deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) tentava apoio junto à oposição, encabeçada pelo PL, para a sucessão de Arthur Lira (PP-PL).

DIVISÃO NO PL – Parte da bancada do partido de Valdemar Costa Neto chegou a cogitar apoiar Pereira pela posição como pastor evangélico e por ver no parlamentar uma possibilidade de avançar com pautas mais conservadoras na Casa Baixa do Legislativo.

No entanto, outra parte mais ligada a Bolsonaro ainda tinha reservas quanto ao nome do parlamentar. Parte desse sentimento, segundo observadores da sigla, seria gerada pela desaprovação de Malafaia. Após o deputado do Republicanos apoiar publicamente a regulação das redes sociais, em maio deste ano, a cúpula do PL decidiu não apoiar a candidatura de Pereira.

O conflito entre os dois pastores também foi registrado em outros pleitos. Em 2020, Malafaia acusou Macedo de fazer um “jogo estratégico nojento” ao trocar o apoio à indicação de Kassio Nunes Marques ao STF pelo apoio de Bolsonaro a Marcelo Crivella (Republicanos) na eleição municipal do Rio de Janeiro.

ACUSAÇÕES MÚTUAS – “Essa conversinha fiada da Igreja Universal é por interesse político, tá? Um jogo estratégico nojento, político, para agradar, porque Bolsonaro está apoiando Crivella e Russomanno. A Universal que é isolada. Representa 4% dos evangélicos. Isso é onda, puríssima”, disse Malafaia em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo na época.

Na eleição presidencial de 2010, Macedo publicou um artigo em blog pessoal defendendo a candidatura de Dilma Rousseff (PT) e criticou Malafaia por trocar o apoio de Marina Silva (PV) por José Serra (PSDB).

“Veja o que aconteceu com o pastor Silas Malafaia, que iniciou a campanha política apoiando a candidata Marina Silva e depois, usando o argumento frágil de que o partido dela, o PV, apoiava o aborto, mudou de lado e, para justificar que não apoiaria a candidata Dilma, acusou o PT de ser a favor do aborto e apoiar o casamento de homossexuais. Pronto, o caminho estava aberto para, sabe-se lá com que interesse, apoiar o candidato Serra”, disse Macedo.

FALSO PROFETA – Em resposta, Malafaia acusou Macedo de “falso profeta”, afirmando que o adversário mentiu contra ele. O pastor da ADVEC afirmou que nunca disse que Marina apoiava o aborto, mas que mudou de ideia sobre seu apoio porque a candidata do PV não teria tido uma posição firme sobre o tema. “Ela ficou em cima do muro”, disse.

Avaliando o cenário político, o cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, aponta que figuras como Edir Macedo adotam uma postura mais pragmática, enquanto líderes como Silas Malafaia, mais alinhados ao conservadorismo clássico, assumem uma postura agressiva e combativa, especialmente em defesa de valores morais e na aproximação com o liberalismo econômico. “Malafaia é aquele evangélico raiz, mais ligado aos valores tradicionais, o que o coloca em uma posição de proximidade com figuras como Bolsonaro”, comenta Cerqueira.

Ele também disse que, apesar da aproximação de Eduardo Paes com Edir Macedo e o Republicanos, a tendência é que o conservadorismo tradicional, representado por figuras como Malafaia, tenha maior influência na mobilização desse eleitorado. “Não creio que o movimento ligado a Edir Macedo tenda a prosperar como força política dominante. Acredito que o discurso do conservadorismo clássico agregue mais as diversas denominações evangélicas”, pontuou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGInteressante matéria, enviada por Mário Assis Causanilhas, mostrando os bastidores da ligação das seitas evangélicas com a política partidária. O Estado é laico, mas o povo é lacaio. (C.N.)

Câmara e Senado sabem como barrar novos abusos de Alexandre de Moraes

A jogada de mestre de Alexandre de Moraes – Opinião – CartaCapital

Não faltam provas para aprovar o impeachment de Moraes

Marcel van Hattem
Gazeta do Povo

Parece que acordamos de um profundo sono coletivo. Acordamos, não. Acordaram. Enquanto a Gazeta do Povo e meia dúzia de outros meios de comunicação noticiavam e denunciavam os abusos de autoridade e vilanias praticadas por Alexandre de Moraes e seus cúmplices, a maior parte dos meios de comunicação brasileiro silenciava. Pior: muitos apoiavam. Como São Tomé que só acredita vendo – ou só passa a deixar de apoiar o arbítrio quando ele se trata escancarado demais, indefensável demais – foi apenas nesta semana que a maré parece ter virado.

As matérias de Glenn Greenwald, na Folha de São Paulo, são uma verdadeira bomba. O mesmo jornalista que há poucos anos foi o xodó da esquerda com a Vaza Jato, agora revela de forma seriada como funciona o gabinete da perseguição e da censura de Alexandre de Moraes.

JUSTIÇA FRAUDADA – Sem nenhum pudor, o juiz auxiliar Airton Vieira e o servidor Eduardo Tagliaferro, responsável pela orwelliano Assessoria de Enfrentamento à Desinformação do TSE, trocam mensagens de texto e de áudio, por Whatsapp, absolutamente reprováveis e criminosas. Ao sabor de um juiz – que, inclusive, em muitos casos é vítima – são orientados a investigar supostos acusados, pressionados a forjar laudos e provas e, até mesmo, discutidos sobre como jogar para baixo do tapete as ilegalidades que sabem estar cometendo.

É tão cristalina a maracutaia, tão suprema a inconstitucionalidade das ações dos capangas de Alexandre de Moraes que nem os grandes grupos da mídia brasileira, a começar pela própria Folha, conseguiram deixar de reproduzir. E criticar. O inicial silêncio de Alexandre de Moraes foi sepulcral. A primeira manifestação do servidor Tagliaferro, de que apenas “cumpria ordens”, fez lembrar a defesa dos oficiais nazistas que tentaram escapar à punição pelo que fizeram ao povo alemão (judeu, não?) na Segunda Guerra Mundial. No entanto, na quarta-feira a corporação reagiu.

Em um espetáculo de bajulação interminável, durante o qual a vergonha alheia de quem tem bom senso e amor à Justiça é inevitável, colegas ministros do Supremo Tribunal Federal faziam elogios e desagravos a Alexandre de Moraes e a seus métodos espúrios. A confirmação de que ele não age sozinho ou, pelo menos, que não age com o conhecimento, a conivência e até mesmo o consentimento e apoio de seus pares, é evidente. O problema, portanto, é muito maior!

CONSTATAÇÃO – Temos um Supremo Tribunal Federal que não representa mais a Justiça do Brasil. É um órgão político autoritário. Uma instituição cuja prioridade maior é defender-se a si mesma, não à sociedade. Um tribunal que mais se assemelha a uma bancada partidária extremista, cujos métodos não se coadunam em nada com um regime democrático. Trata-se hoje de um corpo estranho à nossa democracia e sua depuração é, portanto, absolutamente urgente.

É por esse motivo que se faz indispensável a realização de três importantes trabalhos, todos de responsabilidade do Legislativo brasileiro. O único verdadeiro representante da soberania nacional pela representação mais fiel possível do povo que vota a cada eleição nos seus deputados e senadores.

O Senado da República, inerte e omisso até aqui como Casa fiscalizadora do Supremo, precisa dar andamento ao impeachment de Alexandre de Moraes bem como, também, dos demais ministros que já cometeram crimes de responsabilidade às pencas. O Senador Rodrigo Pacheco, atual presidente da Câmara Alta brasileira, precisa apenas despachar um dos inúmeros e bem fundamentados pedidos que repousam sobre sua mesa.

TEMOS A CPI – A Câmara dos Deputados já têm uma CPI do Abuso de Autoridade do STF e do TSE, protocolada por mim com o apoio de 171 parlamentares. Agora depende apenas do despacho do presidente Arthur Lira para que finalmente seja instalada e inicie os trabalhos de investigação dos crimes cometidos pelos ministros, de ambas as cortes, para a consequente responsabilização de cada um dos delinquentes de toga.

O Congresso Nacional, portanto, Câmara e Senado em conjunto, precisa tratar da inadiável Reforma do Poder Judiciário, a exemplo da excelente Proposta de Emenda à Constituição (PEC) do meu colega Luiz Philipe de Orléans e Bragança, para recolocá-lo no seu devido quadrado constitucional.

A tripartição de Poderes de uma República não admite que um seja instrumento de instabilidade do outro, colocando-se acima e até mesmo no lugar dele. O reequilíbrio institucional brasileiro é prioridade máxima.

SEM DELONGAS – As receitas, portanto, estão todas dadas. É certo que grande parte da solução passará por melhores configurações das Casas parlamentares, uma vez que o voto popular de 2022 acabou sendo insuficiente para termos um Parlamento majoritariamente de oposição à bandalheira atual. Não podemos, porém, aguardar até 2026. A mobilização popular, única capaz de pressionar os políticos em seus mandatos correntes, precisa ser intensificada exatamente agora.

O Brasil precisa voltar às ruas para que os parlamentares brasileiros convençam-se da necessidade de ação imediata, nem que seja pelo medo de não serem reeleitos, caso não obedeçam à vox populi. É hora de mobilização total e de apoio incondicional às três principais iniciativas listadas acima.

Só assim poderemos voltar a viver num país em que tenhamos a tranquilidade de chamar democrático, justo e livre – algo hoje muito distante da realidade que Alexandre de Moraes e seus comparsas estão escancaradamente construindo diariamente no Brasil.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Marçal  sobe em pesquisa com estratégia agressiva que atrai o “bolsonarismo raiz”

Pablo Marçal depende da Justiça para assumir como deputado; entenda

Objetivo de Marçal é se tornar um novo Bolsonaro

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

Não olhe para cima: o candidato Pablo Marçal (PRTB) disparou e está tecnicamente empatado com Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB) nas intenções de voto para a prefeitura da cidade de São Paulo, de acordo com a mais recente pesquisa Datafolha. Ele chegou a 21%, no mesmo patamar do deputado do PSOL, que oscilou de 22% para 23%, e do prefeito, que foi de 23% para 19%. Numericamente, porém, deixou Nunes para trás.

O autodenominado ex-coach é um exemplo do que há de mais repulsivo no contágio da política pela bizarrice do populismo de extrema direita. Marçal é um padre Kelmon mais perigoso, uma trollagem bolsonarista que tem, por isso mesmo, atraído o apoio do rebanho do “capitão” – como ele se refere ao ex-presidente.

APROPRIAÇÃO – Uma espécie de Milei do cerrado brasileiro, caricatura do inconformado antissistema, Marçal se aproveita do perfil burocrático e tradicional de Ricardo Nunes, que tem o apoio formal de Bolsonaro, para se apresentar como um representante raiz do bolsonarismo.

Ignora e ataca as estratégias menos extravagantes do prefeito e do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), em sua versão engravatada de governador de São Paulo. Não poupa tampouco o próprio ex-presidente pelo apoio a seu ver equivocado a Nunes —e já armou um barraco com o filho Carlos Bolsonaro. Será que a pesquisa pode mudar essas relações?

Marçal leva à risca o receituário do populismo fascistoide de nossos tempos, cujo exemplo emblemático é Donald Trump: o caminho é caluniar e mentir. Se seu nariz crescesse a cada vez que faltasse com a verdade, já não caberia num palco de debate. Para Marçal todo mundo é comunista, Nunes, Boulos, Tabata. O prefeito, além de tudo, seria um comuna “banana”. Já o candidato do PSOL é acusado reiteradamente de ser usuário de cocaína, numa campanha sórdida que tem desafiado a própria atuação da Justiça. O candidato não parece preocupado com eventuais reprimendas de tribunais — ele que tem passado nebuloso, com condenação e atividades por esclarecer.

TIPO GROTESCO – Estúpido, agressivo, espalhafatoso, Marçal faz lembrar o livro clássico “A Comunicação do Grotesco”, de Muniz Sodré. À época, o professor se referia ao universo de programas de TV que exploravam a estética do grotesco para atrair audiência. Continua valendo, com alguma adaptação, para o mundo da comunicação digital.

A professora Yasmin Curzi, da FGV Direito Rio, referiu-se à campanha como “apocalíptica”, contra tudo e contra todos. Não haverá um limite para essa atuação entrópica? Será possível que a degradação do debate público tenha nos condenado a patamar tão baixo de campanha eleitoral? Sugeriria o bom senso e a razão (a essa altura espancados pelos fatos) que apesar do crescimento ruidoso, Marçal não teria condições de vencer ou chegar ao segundo turno das eleições. Agora já não se pode contar com isso. Ele tornou-se o bolsonarismo na disputa paulistana, mesmo que sem Bolsonaro. Não é improvável que venha a polarizar com Boulos, deixando Nunes fora do combate.

Em perspectiva histórica, o personagem mais extravagante que já ocupou a prefeitura paulistana foi, provavelmente, Jânio Quadros, um ícone do velho populismo de direita, a quem, aliás, conheci e por quem fui, com muita satisfação, processado. Perto de Marçal, Jânio era um sujeito equilibrado.

Eleitores que detestam Trump, mas não dizem em público, devem decidir eleição

A imagem mostra um homem com cabelo loiro e terno escuro, sentado em frente a uma bandeira dos Estados Unidos, que tem listras vermelhas e brancas e um campo azul com estrelas. O homem parece pensativo e está olhando para baixo.

Trump pode sofrer rejeição do eleitor envergonhado

Rodrigo Zeidan
Folha

Se a diferença nas pesquisas dos estados mais importantes for pequena, Trump vai perder. E pelo mesmo motivo que o levou à vitória quando as pesquisas indicavam que estava atrás de Hillary Clinton: o voto dos envergonhados. Na primeira eleição de Trump, muitos tinham vergonha do seu discurso, mas ainda assim queriam votar nele. Quando lhes foi perguntado, seja por amigos, seja em pesquisas de intenção de voto, em quem votariam, simplesmente mentiam ou diziam que estavam indecisos. Esse efeito também explica por que os partidos europeus de extrema direita normalmente conseguem mais votos que as pesquisas indicam.

Só que agora é o contrário. Donald Trump é hoje o dono do Partido Republicano; ninguém ousa se opor publicamente a ele. No passado, o partido tinha até uma corrente chamada “Trump Nunca”, pois acreditavam que esse culto de personalidade seria um desserviço a nação. Desse grupo, fazia parte até mesmo J.D. Vance, recentemente escolhido por Trump para compor sua chapa como vice-presidente.

JÁ ESTÃO FORA – Todavia, os que criticavam Trump dentro do partido perderam primárias para candidatos mais extremistas, mudaram seu discurso ou se aposentaram. J.D. Vance chegou a bradar que Trump seria o Hitler americano, enquanto Mitch Romney, um dos poucos que continuaram a criticar abertamente o então presidente, perdeu qualquer capital político dentro do partido que ainda tinha depois de ser o candidato a presidente derrotado em duas eleições presidenciais.

Muitos eleitores republicanos detestam Trump, mas não podem dizer isso em público (e às vezes nem mesmo em suas residências) sem serem vistos como traidores. Esses eleitores devem decidir a eleição, assim como aqueles que tinham vergonha de votar em alguém que acusava o México de mandar estupradores para os EUA e que o certo era agarrar mulheres pelas partes íntimas.

Hoje, a retórica é ainda pior, já que Trump disse que iria acabar com esquerdistas que viviam como vermes ou que imigrantes estariam envenenando o sangue dos americanos, imitando expressões nazistas. Para seus fiéis seguidores, Trump poderia até matar alguém em plena luz do dia na Quinta avenida que não perderia votos, como ele mesmo disse, mas retórica nazista pode jogar muita gente no colo dos democratas.

MUNDO REAL – As bolhas de internet não são o mundo real, não porque as pessoas são diferentes, mas pela forma como a comunicação se dá nesse meio. Os extremos chamam a atenção, enquanto comportamento ou debate normal é jogado para escanteio. A mídia tradicional também às vezes funciona assim. Jornais não reportam as centenas de assassinatos diários no Brasil. Já nos acostumamos com a barbárie. Ainda assim, a maior parte dos jornais ainda é sobre fatos importantes do cotidiano político, econômico e esportivo.

Mas isso não quer dizer que, entre as dezenas de milhões de pessoas que vivem sua vida normalmente, sem ficar na internet por horas, esse tipo de comportamento vá ser validado. Alguns estudos indicam que a polarização tem realmente aumentado, com 75% da base de eleitores apoiando qualquer absurdo dos seus candidatos e a polarização sendo alimentada pelos próprios aspirantes à Casa Branca, que assim conseguem mais doações para suas candidaturas.

É a economia, estúpido, disse James Carville em 1992. Estudos indicam que não necessariamente mais, o que torna os resultados mais incertos. Ainda assim, os 25% que faltam devem decidir a eleição. Quietos.

Romário só apoia Eduardo Paes se ele contratar seus parentes e amigos

Ibope RJ: Paes tem 32%, Romário, 20%, Indio e Witzel, 12% - ISTOÉ  Independente

Romário despreza Bolsonaro e diz que apoiará Paes

Roberta de Souza
O Globo

Apesar de pessoas próximas a Eduardo Paes (PSD) negarem que o apoio do senador Romário (PL) na corrida pela prefeitura esteja relacionado à indicação para cargos no município, o ex-jogador é um articulador em secretarias do Rio há anos. Sua atuação inclui a indicação de secretários e a nomeação de familiares e amigos para funções na gestão municipal.

Em 2016, em seu movimento mais transparente em relação às negociações políticas por cargos, Romário, na época filiado ao PSB, chegou a emitir uma nota dizendo que “devolveu” a Secretaria de Esportes e Lazer ao prefeito, apesar de não ocupar formalmente nenhum cargo no município. A pasta foi comandada por Marcos Braz por pouco mais de um ano após indicação do ex-jogador.

DISSE ROMÁRIO – “Acabei de sair do gabinete do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Devolvi a ele a Secretaria de Esporte do município, administrada no último ano pelo secretário Marcos Braz. Com mais de 20 anos de militância no esporte, Braz foi indicado por mim para liderar um trabalho social que antecedeu às Olimpíadas e Paralimpíadas na cidade. Sua atuação no município teve o objetivo de complementar minha atuação no Senado Federal. A saída da secretaria, no entanto, não me afastará da defesa do esporte na minha cidade”, escreveu em nota publicada em 10 de março de 2016.

Naquele mesmo ano, o jornal EXTRA revelou que amigos e parentes de Romário foram nomeados para cargos na secretaria enquanto Braz estava a frente da pasta. Entre eles, a irmã Zoraidi Faria, o sobrinho Leonardo Faria e a namorada do senador à época, Daiane Cattani.

Segundo uma fonte próxima a Romário, sua influência ainda é forte na Secretaria de Esportes, mas é ainda mais intensa na Secretaria da Pessoa com Deficiência, onde a própria ex-mulher de Romário está lotada. Danielle Favatto Grijó Costa, mãe de uma das filhas do ex-craque, ocupa um cargo em comissão desde agosto de 2021. No último contracheque disponível no portal da prefeitura, ela recebeu remuneração de R$ 5.652,50.

AGRADECIMENTO – Em uma publicação em seu Instagram sobre uma ação da pasta no Dia Mundial da Conscientização do Autismo, ela marca o senador e escreve: “Senador Romário, obrigada pelo apoio à nossa secretaria”. Ela também tem feito publicações de apoio ao irmão de Romário, Ronaldo Faria (PL), candidato a vereador.

Na Secretaria da Pessoa com Deficiência, Romário teria participado até da escolha de Helena Werneck para o comando da pasta. Helena foi, inclusive, homenageada pelo senador no ano passado, quando foi indicada por ele ao Prêmio Brasil Mais Inclusão.

Na semana passada, o Globo questionou o prefeito Eduardo Paes quanto à indicação de Helena Werneck para o cargo. Paes afirmou que, embora Romário seja muito ligado à causa das pessoas com deficiência, a decisão de deixar a secretaria com ela não passou pelo senador. Perguntado se Romário possui outras indicações para cargos na prefeitura, Paes não respondeu.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Como jogador, Romário era o máximo. Como político, é um tremendo cabeça de bagre, como se dizia antigamente, e ainda bota a maior banca. Agora, rompeu com o governador Claudio Castro, por causa da nomeação de seus apadrinhados. Quanto a Bolsonaro, está furioso com Romário e diz estar sendo traído. (C.N.)

Supremo não pode fazer pactos, pois tem de julgar os dois outros Poderes

Tribuna da Internet | Brasil hoje é governado com base no rancor e vingança  entre os Poderes

Charge do Duke (O Tempo)

Merval Pereira
O Globo

Sempre que o Supremo Tribunal Federal (STF) faz parte de pactos políticos, como já aconteceu algumas vezes nos últimos anos, é sinal de que algo vai mal no nosso arcabouço institucional. Nos “pactos” anteriores, o tema central era sempre “a favor da democracia”. Agora, são as emendas parlamentares, uma intromissão direta em questões de outros Poderes, não apenas conceitual.

O STF não pode fazer pactos, pois provavelmente será chamado a julgar casos que envolvam os dois outros Poderes da República. Por isso não toma iniciativas sobre os temas a analisar, só atua quando solicitado por integrantes de outros Poderes ou pelas poucas instituições autorizadas a fazê-lo.

REUNIÃO ANOMALIA – A reunião sobre as emendas parlamentares ocorrida na sede do STF em Brasília, portanto, é uma dessas anomalias a que nos acostumamos. O Supremo, por meio do ministro Flávio Dino, cuja decisão foi aprovada por unanimidade no plenário, entrou na disputa sobre as emendas instado por partidos políticos e as suspendeu enquanto não cumprirem as exigências constitucionais de transparência, impessoalidade e rastreabilidade.

Sua tarefa deveria ter se encerrado naquele momento. Legislativo e Executivo deveriam ter se sentado para negociar entre si, para atender às exigências do STF. No entanto estavam na mesa os 11 ministros do Supremo, o que fez com que o presidente da Câmara, Arthur Lira, dissesse que lá estavam dois Poderes contra o Legislativo, reforçando a desconfiança de que Judiciário e Executivo se uniam para retirar do Congresso o poder sobre as emendas e dando caráter político à decisão de Dino, ex-ministro de Lula.

No acordo entre Congresso, governo e Judiciário que saiu do encontro sobre emendas parlamentares, alguns pontos foram bons, outros nem tanto. A verba das emendas não foi reduzida. Deveria ter sido, pois é absurdo o que o Legislativo tem de parte do Orçamento, a mesma quantia deixada para o governo central fazer seu planejamento.

TRANSPARÊNCIA – Ao mesmo tempo, a exigência de transparência e rastreabilidade fará com que muitas emendas não sejam usadas, ou pelo menos sejam usadas em coisas mais palpáveis e necessárias. O mais importante é que o Executivo passou a ter lugar de fala quando se tratar de emendas que não sejam individuais, mas de comissão ou bancada. Umas terão de ter caráter de interesse nacional ou regional, outras serão para projetos “estruturantes”. Dessa maneira, o Executivo passará a ter de volta parte do dinheiro hoje investido da maneira e onde os parlamentares querem, sem que tenham de dar satisfação sobre seus atos.

Várias investigações em órgãos fiscalizadores, como o Tribunal de Contas da União (TCU), já estão em andamento, provocadas por denúncias de políticos prejudicados ou anônimos cidadãos. Pode-se, a partir de agora, fazer uma combinação com o governo para financiar obras necessárias, pois, se o deputado tiver de explicar para onde foi o dinheiro, boa parte não terá explicação. Foi um avanço. Não é o que seria ideal, mas permite que o governo continue governando.

Porque a brigalhada toda de STF contra Legislativo, de Legislativo contra Executivo, pedindo ajuda ao Judiciário para protegê-lo, era qualquer coisa, menos um governo republicano. Veremos como conseguem agora montar o caminho para o equilíbrio voltar. Ficará mais difícil explicar razões de obras apenas para favorecer amigos. Sentar junto para negociar já mostra uma convivência saudavelmente democrática

Obama faz discurso a favor de Kamala Harris: “Sim, ela pode”

O ex-presidente resgatou um slogan da própria campanha

Pedro do Coutto

A convenção do Partido Democrata está sendo marcada por atmosfera de otimismo partidário, reforçado pelo discurso do ex-presidente Obama que empolgou as manifestações nesta semana. Nota-se uma disposição da candidata Kamala Harris fora do comum e que deixa longe as ações republicanas contidas num limite comum.

Barack Obama e a ex-primeira-dama Michelle Obama discursaram na terça-feira na convenção em apoio à candidatura Kamala Harris à Presidência. Os democratas fizeram da contagem dos votos dos delegados para Kamala Harris uma celebração da diversidade americana; cada estado do seu jeito. Kamala, que fazia um comício no estado de Wisconsin, apareceu no telão para agradecer a festa de confirmação do nome dela como candidata do Partido Democrata à Presidência.

ATAQUES – Michelle disse que ela e Obama sofreram os mesmos ataques que Trump tem feito contra Kamala: “A visão de mundo dele, limitada e estreita, o fazia se sentir ameaçado pela existência de duas pessoas trabalhadoras altamente qualificadas e bem-sucedidas, que por acaso são negras. Ficar reiterando mentiras feias, misóginas e racistas é uma muleta para a falta de ideias e soluções reais que, de fato, ajudariam a melhorar a vida das pessoas”. Em referência a um slogan da campanha de Obama de 2008, afirmou:“América, a esperança está de volta”.

No momento mais esperado da noite, o ex-presidente Barack Obama subiu ao palco e lembrou que, há exatos 16 anos, ele era a pessoa com um nome diferente a aceitar a indicação para ser o candidato do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos. Obama elogiou o presidente Joe Biden por defender a democracia americana em um momento de grande perigo e criticou a forma como o Partido Republicano se rendeu a Donald Trump.

LIDERANÇA – “Quando o outro partido virou um culto à personalidade, precisávamos de um líder que fosse firme, unisse as pessoas e fosse altruísta o suficiente para fazer o que há de mais raro na política: deixar de lado as próprias ambições pelo bem do país”, afirmou.

Obama resgatou outro slogan da própria campanha, “Sim, nós podemos”, com uma pequena adaptação para Kamala: “Sim, ela pode”. E também falou sobre como vê a sociedade americana de hoje: “Vivemos em uma época de tanta confusão e rancor, com uma cultura que valoriza as coisas que não duram: dinheiro, fama, status, curtidas. Corremos atrás da aprovação de estranhos nos nossos celulares. Construímos todo o tipo de muros e cercas à nossa volta e depois nos perguntamos por que nos sentimos tão sozinhos. Não confiamos muito uns nos outros porque não dedicamos tempo a nos conhecermos. E, com esse espaço entre nós, os políticos e os algoritmos nos ensinam a caricaturar uns aos outros, a trollar uns aos outros e a temer uns aos outros”.

REFLEXO – É claro que a visão de uma vitória nas urnas reflete-se nos componentes do partido que tem o êxito bem próximo de sua realidade. O Partido Democrata, ao que parece, está numa arrancada para o sucesso nas urnas. Vale destacar que não foram ainda explorados os erros baixos ao longo do governo Donald Trump, a começar pela tentativa de golpe em 2020 que deixou a opinião pública mundial perplexa.

A carga negativa que Trump carrega é demasiadamente pesada, envolvendo vários casos que já estão na justiça. Trump tem tantos fatos contra si que é difícil que o quadro possa se inverter até novembro. O otimismo está do lado democrata.

Moraes delira e alega que vazamento de mensagens é conspiração para fechar STF 

Petição pelo impeachment de Moraes chega a 1 mi de assinaturas

Moraes inventou uma tremenda “teoria conspiratória”

Ana Pompeu
Folha

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), relacionou o vazamento e a publicação de mensagens que expuseram ações fora do rito de seu gabinete a uma organização criminosa que teria o objetivo de desestabilizar instituições, fechar a corte e conseguir “o retorno da ditadura”. Os termos foram usados no documento que abriu o inquérito para apurar o caso.

O magistrado retirou nesta quinta-feira (22) o sigilo da investigação aberta na última segunda (19). Esse novo inquérito foi aberto após a Folha revelar que o gabinete do ministro no Supremo ordenou por mensagens e de forma não oficial a produção de relatórios pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para embasar decisões do próprio Moraes contra bolsonaristas no inquérito das fake news.

TEORIA CONSPIRATÓRIA – A nova investigação é também relatada por Moraes porque é tratada, no processo, como relacionada ao inquérito das fake news, sob sua responsabilidade.

“O vazamento e a divulgação de mensagens particulares trocadas entre servidores dos referidos Tribunais se revelam como novos indícios da atuação estruturada de uma possível organização criminosa que tem por um de seus fins desestabilizar as instituições republicanas”, escreveu Moraes na abertura do novo inquérito.

Segundo ele, essa articulação se dá principalmente contra órgãos que possam contrapor-se “de forma constitucionalmente prevista a atos ilegais ou inconstitucionais”, como o Congresso e o Supremo. De acordo com a decisão que abre o inquérito, essa organização se daria em uma rede virtual de apoiadores que atuam, de forma sistemática, para criar ou compartilhar mensagens com o objetivo final de derrubar a estrutura democrática e o Estado de Direito no Brasil.

FECHAR O SUPREMO? – “Essa organização criminosa, ostensivamente, atenta contra a Democracia e o Estado de Direito, especificamente contra o Poder Judiciário e em especial contra o Supremo Tribunal Federal, pleiteando a cassação de seus membros e o próprio fechamento da Corte Máxima do País, com o retorno da ditadura e o afastamento da fiel observância da Constituição Federal”, escreveu Moraes.

Na decisão, Moraes cita dois textos do site da revista Fórum, que, segundo ele, abordam “a inconsistência das informações relacionadas à posse do aparelho celular que é a provável origem do vazamento das mensagens divulgadas” pela Folha. O celular do ex-auxiliar do TSE Eduardo Tagliaferro havia sido apreendido, pela Polícia Civil de São Paulo, após ele ter sido preso por suspeita de violência doméstica, em 2023. O aparelho ficou sob guarda policial de 9 a 15 de maio de 2023. Segundo o documento da Polícia Civil, Tagliaferro restituiu o celular após reconhecer o objeto e constatar a integridade e a funcionalidade dele.

“Nas referidas publicações, ficou consignado o possível vazamento deliberado das informações, com objetivo de estabelecer uma narrativa fraudulenta relacionada à atuação de servidores”, escreveu Moraes.

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA – Na mesma decisão, ele já encaminha os autos à Polícia Federal e determina que em, no máximo cinco dias, Tagliaferro fosse ouvido. Também cobra a cópia integral do inquérito instaurado em Franco da Rocha (SP) no caso de violência doméstica.

Assim, a PF intimou o ex-chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE a depor nesta quinta-feira em São Paulo. A esposa do ex-assessor também foi intimada.

O perito teve também o novo celular apreendido. “Sempre tem uma surpresa”, disse Eduardo Kuntz, advogado dele, após ser questionado sobre a apreensão.

DEFESA PROTESTA – A defesa do ex-assessor do TSE criticou a condução da investigação pelo ministro. O advogado Kuntz afirmou que o cliente negou o vazamento das mensagens e disse que, “se ele não é vítima, é uma boa testemunha” para a investigação.

“Obviamente não consigo compreender e concordar com esse excesso de condução para quem é vítima, investigado, o juiz, promotor e delegado, mas é o momento que a gente está vivendo”, disse Kuntz.

Após as primeiras reportagens, na quarta (14), Moraes alegou, durante sessão no plenário do STF, que “nenhuma das matérias preocupa meu gabinete, me preocupa, ou a lisura dos procedimentos” e afirmou que tudo estava documentado. O presidente da corte, Luís Roberto Barroso, e o decano, Gilmar Mendes, acrditaram em Moraes e manifestaram apoio ao colega.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Caramba, amigos! O ministro Moraes inventou uma tremenda teoria conspiratória, só faltou culpar os judeus que não sofreram holocausto. É preciso ter piedade e mandar examiná-lo. Está claro que ele precisa de cuidados médicos, não pode continuar submetido a tamanha tensão. Está sofrendo um massacre e não entende os motivos. Pensem sobre isso. Moraes precisa de ajuda. Nem é preciso tocar o inquérito adiante. É um caso patológico, que requer cuidados. (C.N.)

A importância das flores na relação amorosa, segundo Limongi Netto

Entrevista – Página: 1071 – JP Revistas

Limogi, de bem com a vida

Paulo Peres
Poemas e Canções

O jornalista e poeta amazonense Vicente Limongi Netto, radicado há anos em Brasília, invoca elementos líricos neste poema sobre a importância das flores no relacionamento amoroso.

ALTIVEZ DAS FLORES
Vicente Limongi Netto

Flor no vaso
alimenta paixões
aduba sentimentos
e suas sementes
distribuem emoções

Flores embrulhadas
para presente
com aromas de romance
entregues nas mãos da amada
são corações falando alto
assobiando como lábios da conquista

Bolsonaro demorou a entender que Marçal quer “liderar” a direita

Bilionário que doou para Marçal também financiou Bolsonaro e Tarcísio |  Metrópoles

Marçal avisa que pretende disputar a Presidência

Bruno Boghossian
Folha

Quando Pablo Marçal era só um aproveitador que trazia no currículo uma condenação por participar de fraudes bancárias e jogava sujo na eleição pelo comando da maior cidade do país, Jair Bolsonaro dizia que aquele era um sujeito com virtudes. O capitão só mudou o tom depois de perceber que o ex-coach representava uma ameaça interna.

A reação tardia ao avanço de Marçal na eleição paulistana reflete antigos tormentos do ex-presidente: o medo de perder o monopólio da direita e o risco de ser substituído nesse campo. Trata-se de um pesadelo recorrente, que também deu as caras no rompimento com Sergio Moro e na adesão precoce a uma eventual candidatura de Tarcísio de Freitas.

DOMÍNIO DA DIREITA – O grupo do ex-presidente sempre acreditou que sua ascensão em 2018 havia inaugurado um longo ciclo de domínio da direita. Mesmo inelegível, Bolsonaro reivindica controle absoluto sobre a escolha de um sucessor que lhe deva obediência e, em caso de vitória, aceite exercer uma espécie de poder compartilhado.

O desempenho de Marçal ofereceu uma amostra de que esse roteiro pode ser quebrado. Ele não apenas pediu que eleitores de Bolsonaro ignorem a recomendação de voto do ex-presidente na capital paulista como também passou a dizer, com todas as letras, que apenas ele representava a verdadeira direita.

É CONCORRENTE – O capitão e seus aliados deixaram claro que não veem essa disputa apenas dentro dos limites do município. O vereador Carlos Bolsonaro declarou irritação com a pretensão de Marçal de representar “a nova direita”. Já o ex-presidente deixou de lado um patente desinteresse pela candidatura de Ricardo Nunes e decidiu agir em causa própria.

O que mais incomoda os bolsonaristas é o fato de que Marçal anda dizendo, a quem quiser ouvir, que tem planos de se candidatar a presidente em 2026. Ganhando ou perdendo a eleição em São Paulo, ele já mostrou que tem disposição de explorar uma fratura na direita para contestar o comando do ex-presidente sobre esse campo político.

Moraes mentiu, fazendo Gilmar e Barroso repetirem a mesma mentira à imprensa

O decisionismo desfundamentado de Alexandre de Moraes - Espaço Vital

Ilustração reproduzida do Espaço Vital

Carlos Newton

É impressionante a frieza do ministro Alexandre de Moraes, que vive o momento mais difícil de sua trajetória no Supremo Tribunal Federal. Relator do chamado Inquérito do Fim do Mundo, aquele que não acaba nunca e que se refere a fake news, milícias digitais e mais o que couber no balaio, Moraes já demonstrou que não tem condições de responder às pesadas acusações lançadas contra ele, desde que os jornalistas Glenn Greenwald e Fabio Serapião iniciaram a publicação de matérias sobre graves irregularidades na abertura de investigações no eixo TSE/STF.

Quando explodiu a primeira matéria-bomba, Moraes entrou no desespero e criou uma nota de defesa ardilosa, sem nenhuma base na realidade, mas funcionou. O ministro disse que não havia pedidos de “relatórios sob medida”, porque todos os envolvidos já eram investigados nos inquéritos das fake news ou das milícias digitais, ambos sob sua relatoria no STF.

MAIS MENTIRAS – Moraes tranquilizou os colegas, também asseverou que todos os agravos regimentais (recursos apresentados pelo alvo, Ministério Público ou outra parte do processo) foram levados por ele para análise no plenário do STF, com acompanhamento pela PGR (Procuradoria-Geral da República) de todas as movimentações do processo.

“Todos os documentos oficiais juntados à investigação correndo pela Polícia Federal, todos já eram investigados previamente nos inquéritos já citados, com a Procuradoria acompanhando e todos, repito, todos os agravos regimentais, todos os recursos contra as minhas decisões, inclusive de juntada desses relatórios. Todos que foram impugnados foram mantidos pelo plenário do Supremo Tribunal”, disse Moraes no plenário do STF na semana passada.

Eram mentiras deslavadas, mas Barroso, Gilmar e outros ministros não tinham como duvidar de uma afirmação tão peremptória. Por isso, saíram na defesa do colega, com disposição total, julgando que ele estivesse sendo caluniado. Em nenhum momento passou por suas cabeças que Moraes tivesse “inventando” essa defesa para justificar os excessos que vem cometendo, a pretexto de estar defendendo a democracia.

OUTRAS ACUSAÇÕES – Os jornalistas Gleen Greenwald e Fabio Serapião insistiram na denúncia, e Moraes achava que poderia se livrar das acusações, porque todos os inquéritos tramitam sob sigilo. Assim, os repórteres não teriam prova material, a não ser a gravação dos diálogos, as quais indicam que Moraes fazia exatamente o contrário do que afirma. Ou seja, ele realmente exigia relatórios ilegais sob medida, combinados entre suas equipes no TSE e no Supremo.

Os jornalistas da Folha tinham cartas na manga, porque existem muitas outras provas de que Moraes está mentindo. A principal evidência é o caso do então deputado Homero Marchese, do Republicanos do Paraná. Moraes move um processo em sigilo há quase dois anos contra Marchese, cujas redes sociais foram bloqueadas de forma abusiva e totalmente ilegal.

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O INCRÍVEL CASO DO DEPUTADO MARCHESE
Gleen Greenwald e Fabio Serapião
    /       Folha

O caso teve origem em um sábado, 12 de novembro de 2022, após o fim das eleições. Segundo mensagens a que a Folha teve acesso, naquela noite houve um diálogo entre o juiz auxiliar Airton Vieira, braço direito de Moraes no STF, e o perito Eduardo Tagliaferro, então chefe da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação, órgão do TSE.

Às 22h02 daquele dia, Airton Vieira enviou por meio do aplicativo WhatsApp três arquivos para Tagliaferro relativos a manifestações convocadas contra ministros do STF que participariam, em Nova York, nos dias 14 e 15 daquele mês, de um evento privado promovido pelo Lide, grupo do ex-governador João Doria.

 Os arquivos continham um vídeo em que era destacada a localização do hotel onde os ministros do STF se hospedariam e dois posts, um com o endereço do hotel e outro com o anúncio sobre o evento acompanhado da expressão: “Máfia Brasileira”.

PEDIDO DE BLOQUEIO – “Eduardo, por favor, consegue identificar? E bloquear? O Ministro pediu… Obrigado“, escreveu o braço direito de Moraes a Tagliaferro. “Urgente, em razão da data”, acrescentou brevemente.

O assessor do TSE avisou que estava retornando de São Paulo para Brasília e que faria o relatório. Às 23h09, Tagliaferro mandou uma mensagem para Airton Vieira ressaltando o fato de as postagens não terem relação com o processo eleitoral. “Só não sei como bloquear pelo TSE pq não fala nada de eleições“, disse ele. No mesmo minuto, o juiz instrutor respondeu, sem tratar da dúvida, mas perguntando se os autores das postagens tinham sido identificados. Tagliaferro disse ter conseguido identificar “apenas um candidato do Paraná”.

Entendi. Pode enviar para mim um relatório simples, inclusive dizendo não ter como identificar os outros dois? Bloqueio pelo STF…“, pediu Airton Vieira.

DENÚNCIA ANÔNIMA – Às 23h54, Tagliaferro enviou um relatório. Em vez de registrar oficialmente que o pedido havia sido feito pelo próprio gabinete de Moraes, o documento do TSE afirmou que o material fora recebido de forma anônima e que o relatório tinha sido produzido a pedido de Marco Antônio Vargas, juiz auxiliar de Moraes no TSE.

No momento do pedido do relatório, no entanto, o juiz Vargas estava em um voo. Ele só voltou a responder a mensagens às 23h11, quando é avisado por Tagliaferro: “Estou fazendo um relatório para o STF”.  

O pior é que o documento do TSE também foi enviado com um erro sobre a autoria das postagens. Ao analisar as três imagens objeto da demanda, Tagliaferro disse que não tinha conseguido identificar o autor de duas delas, que tratavam das hospedagens dos ministros, e apontou Homero Marchese, então deputado estadual pelo Republicanos do Paraná (hoje no Novo e não mais deputado), como responsável pela terceira imagem.

ERRO FATAL – No entanto, a postagem de Marchese limitava-se a um panfleto de chamado à comunidade brasileira nos EUA, dizendo que os ministros do STF estariam em NY palestrando na Harvard Club — o local do evento havia sido divulgado pelos organizadores no site oficial. Em cima desse card, uma terceira pessoa, não identificada, fez uma montagem com a mensagem de Marchese acrescentando os dizeres: “máfia brasileira”.

No documento, no entanto, Tagliaferro relatou que a montagem era de autoria de Marchese — deputado estadual., advogado e ex-servidor do Tribunal de Contas do Paraná, atuante nas redes sociais e com forte discurso de combate à corrupção.

Oficialmente, o relatório do TSE chegou ao STF aos 8 minutos da madrugada do dia 13 de novembro. A Folha teve acesso ao processo. Com base no relatório montado a pedido, Moraes então determinou o bloqueio integral das páginas de Marchese no Twitter, Facebook e Instagram.

TUDO ERRADO – Segundo o juiz Airton Vieira escreveu no grupo de WhatsApp, a decisão de ofício saiu naquela mesma madrugada. O Ministério Público não foi ouvido e não houve pedido de diligências à Polícia Federal.

Além disso, as três afirmações se chocam com os dados do processo ao qual a Folha teve acesso. O então deputado Homero Marchese não era investigado anteriormente nos inquéritos sob relatoria de Moraes. O ministro também não analisou nem levou ao plenário do STF os agravos regimentais apresentados pelo Twitter, pela Procuradoria-Geral da República pelo próprio Marchesa, alvo das medidas.

O processo mostra que o ministro bloqueou as contas do então deputado com base na identificação equivocada de Tagliaferro. O argumento da decisão é que o então deputado havia divulgado o endereço do hotel em que os ministros ficariam hospedados — dado que não constava no relatório do TSE e que se encontrava nas postagens cujos autores Tagliaferro não conseguira identificar.

 MAIS MENTIRAS – “Conforme se verifica, Homero Marchese utiliza as redes sociais para divulgar informações pessoais dos ministros do Supremo Tribunal Federal [localização de hospedagem], o que põe em risco a sua segurança e representa indevido risco para o fundamento do Poder Judiciário“, escreveu o ministro ao determinar os bloqueios.

No seu entendimento, a divulgação poderia configurar os crimes de “incitar, publicamente, a prática de crime” e o de “tentar, com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito”.

As medidas de bloqueio foram implementadas no mesmo dia 13 de novembro pelas plataformas —que tiveram duas horas para executar a ordem, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. O deputado teve seu Instagram bloqueado por quase seis meses. Permaneceu por quase um mês e meio sem Twitter e Facebook.

 ERA SOB SIGILO – As certidões do processo mostram que a PGR só teve acesso ao caso no dia 16 de novembro, três dias após a decisão de bloqueio de Moraes. Marchese só teve acesso em 1º de dezembro.

 No dia 21 de novembro, a PGR protocolou um agravo regimental (recurso) em que pedia a anulação da decisão e o trancamento da investigação. A então vice-procuradora-geral Lindôra Araújo apontava no recurso o erro na decisão de Moraes, além de afirmar ser ilegal o uso do órgão de combate à desinformação para investigação criminal.

 “Assim, ao contrário do que foi consignado na decisão judicial recorrida, não se depreende que o investigado tenha veiculado informações pessoais relacionadas ao local de hospedagem dos ministros do Supremo Tribunal Federal, uma vez que tais dados constam de publicações de autor desconhecido“, escreveu Lindôra.

MORAES NÃO ERRA… – Os recursos da PGR e do ex-deputado não foram analisados por Moraes. No dia 23 de dezembro, em outra decisão monocrática, ele desbloqueou Twitter e Facebook de Marchese. A decisão, porém, não analisou os agravos, que segundo ele estavam prejudicados com a determinação do desbloqueio.

Para dar essa nova determinação, Moraes mencionou um ofício de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara, em que ele solicitava a revogação de bloqueios de contas de deputados federais ordenadas com base na resolução que aumentou o poder de polícia do TSE –embora Marchese nunca tenha ocupado o cargo de deputado federal (foi deputado estadual de 2019 a 2023).

Na decisão, Moraes não se manifestou sobre o bloqueio no Instagram. Segundo a defesa do ex-deputado, esse é o seu principal canal de comunicação. Por esse motivo, Marchese recorreu novamente ao STF em 1º de março. Moraes não analisou o pedido e mandou o caso para a Justiça de primeira instância, sob argumento de que ele não era mais deputado. A prerrogativa de foro especial no STF, porém, alcança deputados federais, não os estaduais.

FIM DOS BLOQUEIOS – O Instagram do agora ex-deputado voltou a ser ativado em 2 de maio, após decisão da Justiça do Paraná. Marchese tomou conhecimento sobre os motivos de bloqueio de suas redes cerca de 15 dias após o fato.

Na ocasião, não houve explicação oficial. Apenas o Twitter afirmou se tratar de decisão judicial. O político entrou na Justiça do Paraná com pedido para que as plataformas reativassem suas redes.  Segundo consta no processo, ao ler notícias sobre decisões de Moraes bloqueando bolsonaristas por postagens sobre Nova York, Marchese procurou, então, o gabinete do ministro, por meio do seu advogado. Obteve então a confirmação de que havia sido alvo de Moraes e pediu acesso aos autos.

Nas redes sociais, Marchese fez uma publicação na tarde desta quarta na qual diz que a reportagem “revela que o caso da minha censura não foi apenas julgado pelo ministro Alexandre de Moraes, como também foi criado por ele“, e classifica isso como “ato criminoso“. Ele afirma, em vídeo, que foi “impedido de trabalhar como parlamentar” e se manifestar como cidadão ao ter contas bloqueadas.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
O festival de mentiras continua, como se Moraes tivesse sólidos argumentos de defesa. Resta saber se os ministros do Supremo, especialmente Barroso e Gilmar, pretendem continuar repetindo as alegações falaciosas de um ministro que está emporcalhando cada vez mais a imagem de seriedade da Justiça brasileira. Mas quem se interessa? (C.N.)

No Brasil, a Constituição é defendida por autoridades que a desrespeitam

Ministro Alexandre de Moraes, do STF, nega liberdade para o 'Faraó do Bitcoin' da GAS Consultoria

Ilustração reproduzida do portal CoinTelegraph

Alexandre Garcia

Há 90 anos, em 19 de agosto de 1934, o chefe de governo da Alemanha – por lá chamado “chanceler”, Adolf Hitler, com o falecimento do chefe de Estado, o presidente Von Hindenburg, decidiu assumir também a chefia de Estado e se intitulou Führer – o “condutor”.  A partir de então, todos conhecemos a história. Passou a ser condutor, legislador, dono das vidas e direitos de todos. E levou a Alemanha à sua maior tragédia.

Outro alemão, Karl Marx, já havia avisado que, quando a história se repete, produz tragédia, e na segunda repetição produz apenas uma farsa. Passados 90 anos, as pessoas envolvidas na política, os chamados homens públicos, tomados pelos seus desejos e carências pessoais, continuam a semear, sobre seus semelhantes, tragédias e farsas.

A LUGAR NENHUM – Aqui no Brasil, sem que tenhamos nos dado conta de quantas dessas figuras já povoaram nossos dias, continuamos testemunhando esses condutores do país, a nos levarem a lugar nenhum. Desde que nasci, convivi com alguns. Terminaram em tragédias, como Vargas, ou farsas, como Jânio.

Agora estamos vivendo mais um capítulo de nossa história, outra vez com a Constituição desprezada, como em tempos do ditador Vargas, e com caraterísticas de comédia, como nos rompantes de Jânio. E vamos repetindo, como se fosse a primeira vez, como se fosse a novidade que surgiu do nada.

Na verdade, surgiu da nossa complacência de deixar que os tais homens públicos decidam, com a sua incompetência emocional, os nossos destinos, de nossa família, de nossas empresas. Somos a massa de manobra que eles usam, para fingir que falam e agem por nós.

TUDO PELA CONSTITUIÇÃO – Logo depois do grito da Independência, fizemos uma Constituição. Durou até a da República. Os paulistas morreram por uma Constituição; Vargas fez e desfez; os militares de 1964 precisaram de uma em 1967. E nós fizemos a cidadã, de 1988. Quem a desrespeitasse seria traidor da pátria, como praguejou o Doutor Ulysses. Nossos direitos e liberdades alicerçaram-se nela. Censura nunca, cala-boca já morreu; quem for pessoa pública tem de aceitar crítica e sátira. Beleza de democracia, só que não: quem precisava zelar pela Constituição foi quem permitiu desprezá-la. Quem jurou defender a Constituição, como presidente da República, não reagiu, não defendeu.

Agora estamos à mercê de uma única pessoa, o presidente do Senado. Da decisão monocrática do presidente do Senado, para “voltar aos quadros constitucionais vigentes”, como eu tanto ouvi na minha adolescência. Desrespeito à Constituição não é novidade para quem nasceu em 1940, mas continuo querendo respeito, porque a Magna Carta é o marco civilizatório de uma nação. Fora dela é nação fora da lei, é a lei da selva, campo aberto para um Führer ou Duce –  um condutor, vista toga ou farda. De Gaulle não disse, mas a frase atribuída a ele – de que não somos um país sério – é verdadeira enquanto não tivermos o devido processo legal, o respeito aos direitos e garantias fundamentais, a liberdade de informação e de expressão, a vedação à censura e a inexistência de ambiente para surgirem “condutores” que nos conduzam à tragédia.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Devido processo legal é tão intricado que pode impedir a busca da justiça

Charge do Kayser (Arquivo Google)

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

Não é apenas que se tolera a coisa errada para alcançar resultado que se considera certo. É pior. O que sobra do debate em torno dos fatos da semana é o seguinte: no sistema jurídico e político brasileiro, só dá para fazer a coisa certa pelos métodos errados. E, se é assim, vamos mal. E não é de hoje.

O gabinete do ministro Alexandre de Moraes fez muitas coisas erradas. Mas o que queriam? — dizem seus defensores. Se fosse para seguir tudo direitinho, não haveria como combater a tempo e com a força necessária a ameaça de golpe contra a democracia.

Tudo direitinho, no caso, seria assim: a polícia investiga, o Ministério Público denuncia, o tribunal julga. Alexandre de Moraes acumula as três atribuições porque — é o argumento de seus apoiadores — a polícia não investigava, e o Ministério Público não fazia nada. E o golpe estava ali na esquina. Ou seja, teria sido necessário fazer um desvio pelo caminho errado para dar no lugar certo.

PROVAS ILEGAIS – Mesmo assim, a produção de provas pelo duplo gabinete de Moraes — no STF e no TSE — foi, no mínimo, irregular. As conversas entre os assessores, combinando formas de ajustar provas a pedido do ministro, são, no mínimo, constrangedoras. E uma confissão. Eles sabiam que faziam a coisa errada, ou “descarada”, por isso pensaram em meios de burlar as aparências. Fica implícito que perderiam tempo e oportunidade de pegar os golpistas se seguissem o devido processo legal.

Foi, portanto, pior do que na Lava-Jato. Nesta, promotor e juiz combinaram suas atuações. A justificativa também era fazer a coisa certa: combater a grossa corrupção. Também tomaram atalhos que se revelaram eficientes. Por exemplo: perguntar informalmente a uma autoridade estrangeira se tinha alguma conta escondida por ali. Tinha? Ok, então segue o ofício solicitando o acesso oficial a essa informação. Muitas autoridades policiais e jurídicas, aqui e em países de sólida democracia, defendem essa informalidade. E deu certo, não é mesmo? A corrupção foi apanhada e o golpe impedido.

TERRÍVEL CONCLUSÃO – O que nos leva a uma terrível conclusão: o devido processo legal no Brasil é tão intricado que praticamente impede a busca da justiça. Daí os atalhos. O que piora o quadro. O recurso aos atalhos depende da política, que muda como as nuvens.

A Lava-Jato foi “legalizada” pelos tribunais superiores, inclusive o STF, em diversas decisões. O atalho mostrou-se largo e certeiro. Levou a grandes empresas, ao Parlamento, aos governos nacional e regionais, chegou muito perto de outras autoridades — uma sangria que saía do controle. Os alvos reagiram, fechou-se o atalho, a operação foi considerada ilegal. Mudou a lei? O processo? A jurisprudência? Nada. Apenas se formou um outro arranjo político, com a participação do STF.

Foi também um arranjo político que permitiu a instalação, no Supremo, do inquérito em que Alexandre de Moraes investiga, denuncia e julga. A tentativa de golpe de Bolsonaro foi tão “tabajara”, tão escrachada, que facilitou a formação de uma frente contrária a tal movimento. A necessidade de eficiência contra forças poderosas — Bolsonaro ainda era o presidente — justificou os atalhos.

E OS LIMITES? – Tudo bem, não é mesmo? Lula se elegeu, assumiu, está governando, teremos eleições municipais livres. Mas até onde pode ir a superautoridade de Moraes e do STF? Até alcançar quem mais?

A Corte entrou na política naquele e noutros casos — como na disputa entre o presidente Lula e o Congresso em torno das emendas parlamentares impositivas. O presidente gostou da intromissão do STF, mas o Congresso retaliou negando verbas ao Judiciário. Tudo por atalhos travestidos de formalidades.

Todos os Poderes se diminuem nesse ambiente. O Supremo deixa de ser a Suprema Corte constitucional. O Executivo governa para os seus. O Congresso quer o dinheiro, público, para fazer campanha e distribuir entre os correligionários.

É, não dá mesmo para fazer tudo isso pelo devido processo legal.

Na Câmara Legislativa de Brasília, há honrarias de mais, trabalho de menos

Câmara Legislativa do DF deve ouvir ex-secretário de | Política

Câmara Legislativa do DF é um brlo exemplo de supérfluo

Vicente Limongi Netto

Licença para pontos e vírgulas: o leitor Evanildo Sales (Correio Braziliense – 22/08) protesta com razão,  contra a concessão de títulos honorários e beneméritos para figuras que nunca ergueram um tijolo para o desenvolvimento de Brasília. Que jamais fizeram nada de bom para os brasilienses mais necessitados. Aliás, a meu ver, os títulos concedidos pelos deputados distritais ficaram banalizados, desnecessários e inúteis. Como a própria Câmara Legislativa do Distrito Federal. Que não deveria nem existir, já que Brasília tem representantes eleitos, no Senado Federal e na Câmara dos Deputados.

Todo santo dia anunciam fornadas de patéticos novos títulos. Apenas para graúdos. É muita falta do que fazer. Como lembrou o leitor Evanildo, as vestais grávidas distritais nunca lembraram de homenagear um trabalhador humilde. O pior e mais patético, decidem conceder as medonhas honrarias para pessoas que já partiram. Bolas, porque não lembraram de homenagear estes cidadãos, em vida?

Por fim, o engomado medonho Davi Alcolumbre estrila contra um aspecto do acordo firmado entre o Congresso e o Supremo Tribunal Federal (Correio Braziliense – 22/08). Se Alcolumbre reclama, é porque é saudável para a coletividade e republicano o que foi acertado entre os dois poderes.

LEIS MAIS DURAS – São frequentes e pomposos seminários, reuniões e debates protestando contra os crescentes feminicídios no Brasil. Muito lero-lero e nenhuma decisão política e governamental que realmente intimide a avassaladora e trágica progressão dos assassinatos. O fato é que de nada valem as medidas oficiais existentes de proteção às mulheres agredidas e ameaçadas por patifes e covardes. A lei Maria da Penha não tem mais utilidade. Triste e necessária constatação.

O Brasil precisa, urgente de leis realmente duras que intimidem os canalhas. Legisladores mexem tanto na Constituição que deveriam ter coragem para acrescentar parágrafos na Carta Magna adotando prisão perpétua ou pena de morte para a famigerada escória de canalhas. Penas igualmente justas para estupradores e pedófilos.

Nos Estados Unidos, apenas para ilustrar a necessidade do rigor para bandidos, um jovem de 12 anos foi condenado à prisão perpétua, por matar o pai. 

Decisão de Toffoli que anulou processos da empresa Odebrecht vai a julgamento

O amigo do amigo do meu pai pediu essa charge | Metrópoles

Charge do Kacio (Metrópoles)

Rayssa Motta
Estadão

A decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), que derrubou todos os processos e investigações contra o empresário Marcelo Odebrecht na Operação Lava Jato vai a julgamento na Segunda Turma. Os ministros vão decidir se mantém ou não a liminar, que vigora há três meses. O julgamento está previsto para ocorrer no plenário virtual entre 30 de agosto e 6 de setembro.

Na modalidade virtual, não há debate entre os ministros. A votação é assíncrona, ou seja, não acontece em tempo real. Os ministros apenas registram os votos na plataforma online e não são obrigados a apresentar justificativas por escrito. Se houver pedido de destaque, o julgamento é transferido para o plenário físico.

ANULOU TUDO – Dias Toffoli atendeu a um pedido da defesa do empresário e anulou todas as decisões da 13.ª Vara Federal Criminal de Curitiba – base e origem da Operação Lava Jato -, relativas à Odebrecht. O ministro também mandou trancar todos os inquéritos e procedimentos penais que atingiam o empresário.

A decisão afirma que houve “conluio processual” entre o ex-juiz Sérgio Moro e a força-tarefa de Curitiba e que os direitos do empresário foram violados nas investigações e ações penais.

Toffoli preservou apenas o acordo de delação de Marcelo Odebrecht, que continua válido, segundo o próprio ministro. O empresário terminou de cumprir a pena da colaboração com a Lava Jato, por corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro, em 2023. Manter o acordo de delação era a decisão que mais favoreceria ao empresário.

PGR RECORRE – A Procuradoria-Geral da República (PGR) entrou com recurso para tentar reverter a decisão. O procurador-geral Paulo Gonet alega que a anulação generalizada dos processos é irregular.

Réu confesso, Marcelo Odebrecht admitiu propinas a centenas de agentes públicos e políticos de diferentes partidos. Ele era presidente da construtora que leva o sobrenome da família quando a Lava Jato estourou em 2014 e prendeu os principais executivos do grupo. A defesa agora alega que o empresário foi forçado a assinar a delação.

Seus advogados usaram mensagens hackeadas da força-tarefa, obtidas na Operação Spoofing, que prendeu os responsáveis pela invasão ao Telegram dos procuradores, para recorrer ao STF. A defesa pediu a extensão da decisão que beneficiou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É evidente que, na forma da lei, Toffoli nem poderia participar desse julgamento, por estar identificado como “Amigo do Amigo”, na lista de autoridades corruptas que recebiam propinas da Odebrecht. Mesmo assim, o ministro Dias Toffoli foi em frente. Ia anular até o acordo de delação que foi confirmado por depoimentos de cerca de 80 diretores e executivos da empreiteira, mas os advogados pediram encarecidamente que não o fizesse, porque Marcelo Odebrecht acabaria sendo prejudicado. E Toffoli mudou a decisão. Seis entre cada dez brasileiros rejeitam a decisão de Toffoli a favor de Odebrecht, mas o “Amigo do Amigo” não está nem aí. E a esculhambação e a impunidade aumentam cada vez mais. (C.N.)

Moro, Moraes, corruptos e golpistas estão todos errados ao mesmo tempo

GZH - Esta é a charge do Iotti da segunda-feira. Reveja... | Facebook

Charge doero Hora)

Fabiano Lana
Estadão

O Brasil parece viver um período histórico em que todo mundo discute entre si, mas ninguém realmente tem razão. São casos, não necessariamente simétricos, que envolvem a existência de crimes de um lado e juízes acusados de cometer abusos de outro. Mas a questão é que no ambiente em que vivemos, a visão dos acontecimentos se torna fantasticamente maniqueísta e sem sutilezas. Como se o erro de um juiz levasse à absolvição imediata dos acusados. Não é o caso.

A verdade é que a hipótese de o ex-juiz Sérgio Moro ter provavelmente extrapolado suas funções não significa que os desvios bilionários descobertos no âmbito da Lava Jato não tenham ocorrido. Isso vale também para o último episódio dessa série de desencontros: a revelação da Folha de S. Paulo das ordens algo heterodoxas do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, nos inquéritos que apuram o uso das fake news e dos antidemocráticos. O fato de Alexandre de Moraes ter exacerbado de seus poderes não tem como consequência que os movimentos golpistas do ex-presidente Jair Bolsonaro e de parte de seus assessores e apoiadores sejam uma mera elucubração.

A BEL PRAZER – Entretanto, por mais que sempre haja juristas, políticos, militantes e colegas a defender as ações de Alexandre de Moraes, houve a impressão – e nesse caso a intuição vale muito – de que o juiz é bastante seletivo e mesmo subjetivo na condução dos inquéritos. Ficou comprovado que ele escolhe os alvos a bel prazer, investiga e pune – em alguns casos, por mera opinião, por mais repugnante que seja.

E mesmo o pior criminoso merece ser ouvido e ter algum grau de proteção do Estado. Atualmente há uma condição assimétrica. Se a lei ou mesmo o regimento interno do STF permite as ações do ministro, deveriam ser corrigidos, para melhor balanceamento da democracia.

Mas na prática o que temos hoje, com a existência desses inquéritos presididos pelo STF, é a reinstaurarão da censura prévia no Brasil e mesmo, em algum nível, perseguição política.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO – Hoje, o limite da liberdade de expressão no Brasil é a cabeça do ministro Alexandre de Moraes. O resultado deletério disso – reforçado por quem omitiu ou apoiou – é que uma extrema-direita golpista, hipocritamente, tem se colocado como bastião da luta pelo livre expressar – causa de grandes pensadores liberais como John Locke ou Stuart Mill. Não ajuda nada terem se passados quase dois anos das eleições e os inquéritos continuarem por aí, como uma assombração.

É fundamental que o processo de investigação e punição contra os autores de uma tentativa de golpe de Estado sejam investigados e julgados de maneira transparente, objetiva, impessoal. Até também para não oferecer argumentos jurídicos e políticos para o campo que tentou cometer os crimes.

Da maneira como os inquéritos têm sido conduzidos, são um presente para os seguidores de Jair Bolsonaro alegarem que são perseguidos políticos.

ARES DE VÍTIMA – Como sabemos, quando alguém consegue se posicionar como vítima, ganha empatia, ganha militância. Nesse caso, o maior exemplo foi o próprio presidente Lula, que soube transformar sua condenação num dos maiores exemplos de ir do inferno de uma prisão em Curitiba para o céu do Palácio do Planalto em apenas quatro anos – após a revelação das conversas pouco republicanas de Sérgio Moro com os deslumbrados procuradores da Lava Jato.

Curioso como quem aplaude a revelação contra Moraes vaiou quando era contra Moro e a recíproca é verdadeira.

Bolsonaro já sabe qual caminho trilhar: se fazer de vítima, tentar deslegitimar a Corte, eleger o máximo de senadores possível para pressionar ainda mais o STF e buscar sua absolvição. Os atos revelados de Alexandre de Moraes só ajudaram nesse caminho. Se vai dar certo é outra história, provavelmente não, pela configuração da Corte suprema, mas terá elementos para tentar fazer prevalecer a sua visão da história.

Denúncia contra Moraes é reação do bolsonarismo, segundo José Dirceu

Com pneumonia, José Dirceu está internado no Hospital Sírio-Libanês -  Agenda do Poder

Dirceu fez harmonização no rosto e voltou à política

José Dirceu
Folha

Causa estranheza o destaque dado pela Folha à denúncia de que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, teria agido fora dos ritos ao solicitar, por meio de auxiliares, que o Tribunal Superior Eleitoral —do qual à época era presidente (ele dirigiu a corte de agosto de 2022 a junho de 2024)— produzisse relatórios para embasar o inquérito das fake news. O inquérito foi aberto por ele ainda em 2019, contra jornalistas e comunicadores que insistiam em disseminar notícias falsas contra o sistema eleitoral, os tribunais superiores e seus ministros, pregando o discurso do ódio.

Estranheza porque, como bem disse o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do STF, não fazia sentido o ministro Moraes oficiar a si mesmo. A fundamentação da denúncia é tão pueril que Moraes recebeu o apoio de todos os seus pares, do procurador-geral da República, Paulo Gonet, de muitos políticos e até de expoentes da ultradireita, como o jurista Ives Gandra Martins e a ex-deputada Janaina Paschoal.

BEM EMBALADA – É importante notar que a denúncia foi muito bem embalada para ter ampla repercussão. A reportagem que a sustenta tem coautoria de Glenn Greenwald, jornalista estadunidense responsável pela denúncia da Vaza Jato, cujos documentos foram fundamentais para anular os processos contra o presidente Lula, reconhecer sua inocência e restituir seus direitos políticos.

Imediatamente, os bolsonaristas passaram a pedir o impeachment de Moraes e defender que todas as punições dadas por ele sejam revistas. Querem, ainda, anistia para os golpistas de 8 de janeiro de 2023 e para o próprio ex-presidente Jair Bolsonaro —tanto em torno dos primeiros quanto do segundo o cerco vai se fechando.

A denúncia foi publicada na mesma semana em que se inicia a campanha eleitoral de prefeitos e vereadores e, como o Brasil não aprovou a regulamentação das plataformas digitais e redes sociais, que hoje são um importante veículo de propaganda eleitoral, todo o controle da disseminação das notícias falsas estará em mãos do TSE. Fragilizar a figura do ministro Alexandre de Moraes, que conduz o inquérito das fake news e que à frente do TSE criou o Centro Integrado de Enfrentamento à Desinformação e Defesa da Democracia (Ciedde), que vai atuar pela primeira vez nestas eleições, é importante para a estratégia eleitoral bolsonarista, pois ela depende da disseminação de mentiras para manter suas bases estimuladas e alinhadas. Se o TSE for muito ativo, ela perde pontos. Se acuar o TSE, pode agir mais livremente nas redes.

MUSK NA PARADA – Também chama a atenção que a denúncia tenha repercutido nas redes de direita no exterior e tenha sido comentada por Elon Musk, dono do X (ex-Twitter) e crítico de Moraes, a quem acusa de cercear a liberdade de expressão com seu inquérito das fake news, através do qual determinou a suspensão de contas de extremistas em redes sociais. Musk, um sul-africano que se fez bilionário nos Estados Unidos e é dono de várias empresas de tecnologia, é apoiador declarado de Donald Trump, que, como Bolsonaro e seus seguidores, é adepto da disseminação de mentiras nas redes sociais.

Musk foi além. Neste sábado (17), o Global Government Affairs, do X, anunciou na rede do microblog que estava encerrando sua operação no Brasil para “proteger a segurança de sua equipe”, e atribuiu a decisão às ações determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes (no âmbito do inquérito das fake news). Melodramaticamente, encerra o comunicado com a seguinte frase, que bem evidencia que Musk se pretende dono do mundo: “O povo brasileiro tem uma escolha a fazer —democracia ou Alexandre de Moraes”.

EXTREMA-DIREITA – Não resta dúvida de que a denúncia, que já começou a refluir, mostrou que a extrema direita está muito ativa e atenta a todos os movimentos de que possa se aproveitar para fortalecer sua posição em direção ao seu projeto de poder para 2026.

Mostrou também o quanto setores da sociedade e da mídia tentam se alinhar com a nova face do bolsonarismo, que responde pelo nome do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas —a “suíte” [no jargão jornalístico, reportagem que explora os desdobramentos de um fato noticiado]aiu da Polícia Civil paulista.

Tarcísio é aquele que vendeu a Sabesp a preço de banana, fazendo a alegria dos rentistas, e promete, se chegar à Presidência, privatizar a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa e, quiçá, o BNDES. A Faria Lima já faz fila para apoiá-lo. Não podemos permitir que isso aconteça.

Elon Musk é um herói por oferecer à direita uma rede social que é livre

X de Elon Musk responsabiliza Moraes e anuncia fechamento de escritório no Brasil

Elon Musk conseguiu colocou Moraes em xeque

Pedro Doria
O Globo

Alexandre de Moraes está pondo em risco sua vitória mais importante. Por mais que muitos desejem negar, no último sábado Elon Musk, o bilionário dono do X, o colocou em xeque. Ao fechar os escritórios da plataforma no Brasil, recusando-se a obedecer a ordens judiciais, Musk desafia Alexandre. Pede que o Supremo mande interromper o acesso à rede em todo o território nacional. Se e quando a Corte fizer isso, estará de fato censurando, para milhões de brasileiros, uma rede social inteira.

Não é assunto fácil de discutir. Nos polarizamos de uma forma tanto agressiva quanto infantilizada. As personagens da vida pública se tornaram vilões ou heróis, todos de forma caricata. Isso acontece faz mais de uma década com juízes em particular — Joaquim Barbosa, Sergio Moro, agora Alexandre de Moraes. Perdemos a capacidade de enxergá-los como funcionários públicos que às vezes erram, às vezes acertam e cujo acerto uma hora não os impede de errar na outra. É preciso ser irredutivelmente a favor ou contra.

POLARIZAÇÃO – Compreender a natureza agressiva e infantil da nossa polarização é essencial para navegarmos a democracia brasileira na direção de seu fortalecimento. A polarização digital é uma racionalização. Os dois grupos polarizados constroem a realidade em que vivem por meio das histórias que contam a si mesmos.

No cerne da história que a direita adota, está a ideia de que conservadores são calados pela elite progressista. Por políticos e juízes, professores e jornalistas, pelas redes sociais. Nessa história, Elon Musk é um herói por ter dado, para a direita, uma rede em que ela pode ser livre. E Musk reitera essa história a cada tuíte.

A verdade não é essa. Se um dono de rede social apoiasse ostensivamente a esquerda como Musk faz com autoritários de direita, os reacionários teriam uma síncope. Mas não importa que não seja verdade, porque o grupo se sente perseguido e, da maneira como vê, Musk é uma ilha num oceano de injustiças. O dono do X gosta desse papel. Esse forte sentimento de injustiça é o que galvaniza o grupo e dá solidez ao movimento.

MANOBRA ILEGAL – Os dois inquéritos abertos de ofício dentro do Supremo Tribunal Federal, comandados por Moraes, foram necessários e são legais. Foram necessários porque o presidente da República criava o ambiente para dar um golpe de Estado. Quem deveria representar os interesses da sociedade era o procurador-geral da República. Jair Bolsonaro neutralizou a PGR ao colocar em seu comando quem não hesitaria em fingir que não via nada. Restou ao Supremo essa manobra legal.

Ocorre que Bolsonaro não é mais presidente faz quase dois anos, e o comando da PGR já mudou faz um ano. Um inquérito em que o mesmo ministro do Supremo é juiz e procurador pode ser legal, mas eticamente não se sustenta mais.

Crimes foram cometidos contra a democracia brasileira. Precisam ser julgados. Mas devem ser julgados sob a luz do sol. Às claras. A investigação deve ser transparente. Caso seja necessário impedir que alguém tenha acesso às redes sociais por colocar em risco a democracia, algo cada vez mais difícil de defender, a sociedade tem o direito de saber quem, quando e por quê.

CENSURA INDEVIDA – Ordem de censura é coisa séria. Ideias ruins, desagradáveis ou mesmo ofensivas não devem ser censuradas numa democracia. A censura só é justificável se, no contexto em que sejam manifestadas, as ideias servirem também de incitação ao crime. Há dois anos era crível. Esse ambiente não existe mais.

Quem defende que o bolsonarismo deve ser calado para não ser fortalecido não compreende o judô em curso. Quanto mais se tenta calar esse movimento, mais forte ele fica. Quem saca o argumento do “Paradoxo da tolerância”, de Karl Popper, em geral na forma de cartum, deveria reler o autor urgentemente. Uma democracia se defende com democracia, com abertura, com transparência, com argumentos. No debate público. Não às escondidas.

Musk, ao fechar o escritório do X no Brasil, apresenta aos ministros do STF um desafio. Ele quer ser calado. Quer a ordem de proibição ao acesso à plataforma no país. Confirmará com clareza a perseguição imaginada. O Supremo se colocou nessa situação. O jeito de escapar à armadilha é abrir para todos os brasileiros esse inquérito, explicar por que cada decisão foi tomada, contar, enfim, a história do que se passou nos quatro anos do governo anterior.

É hora de sairmos do estado de exceção. A democracia sobreviveu. É hora de deixá-la agir.

Ministros do Supremo criticam Moraes por abrir inquérito contra ele próprio

Alexandre de Moraes deu tiro no pé do STF com censura contra redes sociais - 31/07/2020 - UOL Notícias

Moraes agora pode ter cometido seu maior erro

Luísa Martins e Teo Cury
CNN Brasília

O inquérito aberto pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar o vazamento de mensagens trocadas entre assessores e ex-auxiliares preocupa alguns de seus colegas de Corte. Ministros ouvidos reservadamente pela CNN avaliam que Moraes “dobrou a aposta” quando, na verdade, era preferível evitar novos desgastes neste momento.

A avaliação dessas fontes é de que as críticas a Moraes já haviam sido aplacadas nos últimos dias e que a abertura de uma nova frente de investigação as reaviva, na medida em que o ministro será o relator de um caso que envolve ele próprio.

ATINGE O STF – Internamente, a leitura é de que o desgaste sofrido por Moraes acaba atingindo todo o tribunal, o que não seria desejável justo no momento em que o Judiciário tenta selar a paz com o Congresso após a crise das emendas parlamentares.

O inquérito foi aberto depois de a “Folha de S.Paulo” revelar que o gabinete de Moraes no Supremo ordenou ao TSE, supostamente fora do rito, a produção de relatórios para embasar decisões do ministro no inquérito das “fake news”. O ministro afirma não haver ilegalidade nisso.

Uma das primeiras medidas tomadas foi a intimação do perito Eduardo Tagliaferro pela Polícia Federal (PF) para prestar depoimento sobre o vazamento de mensagens de seu celular.

A oitiva está marcada para acontecer às 11h desta quinta-feira (22) na superintendência da corporação em São Paulo. A defesa pediu acesso integral ao inquérito, que tramita sob sigilo no STF, foi atendida e o depoimento foi confirmado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGOs ministros têm razão. A abertura do inquérito pode ser um tiro no pé. Comprem pipocas. (C,N.)

Tudo que Moraes fez é nulo e pode garantir uma futura impunidade, diz Ciro Gomes

Ciro reforça fala de Bolsonaro e critica lucros da Petrobras: 'Tapa'

Ciro diz que erros de Ciro contaminam as acusações

Ana Pompeu
Folha

O ex-governador do Ceará e ex-presidenciável Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta quarta-feira (21) que os atos do ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), ao usar a Justiça Eleitoral, por meio de pedidos informais, para criar relatórios e abastecer inquéritos criminais supostamente em andamento contra bolsonaristas, geram nulidades nos processos.

“Desde 2019, Moraes resolveu transformar esse inquérito numa coisa que não tem fim, no inquérito do fim do mundo. Isso, data máxima vênia, não é direito. É incorreto. Está simplesmente produzindo nulidade para, inclusive, garantir a impunidade dos malfeitores”, disse Ciro, em referência ao início do inquérito das fake news, aberto há cinco anos.

ANÁLISE DO CASO – Os comentários foram feitos em vídeo publicado nas redes sociais para um programa online chamado O Brasil Desvendado. Na legenda, ele diz que muita gente pediu a opinião dele a respeito das reportagens da Folha que revelaram o caso e, por isso, fez a análise em pouco mais de seis minutos.

Segundo ele, os envolvidos nas investigações sobre fake news já deveriam ter sido indiciados, levados a julgamento, com as provas colhidas e direito à ampla defesa. Ciro Gomes lembrou a fala do próprio Moraes de que “seria esquizofrênico” o ministro, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral à época, se auto oficiar.

“Está tudo se perdendo. São quase seis anos já. Nesse ínterim, no rodízio natural, o ministro ficou com duas cadeiras. Ora, não importa que ele considere esquizofrênico isso, porque vão se passar anos daqui até o julgamento e esses ofícios é que ficarão com a memória das tramitações”, afirmou.

PERDENDO A ISENÇÃO – Nesse cenário, ainda segundo o pedetista, há um enfraquecimento da autoridade diante da opinião pública. “Como é ele mesmo o agredido, ele está, aparentemente, perdendo a isenção e o distanciamento”, disse.

No início do vídeo, quando ele faz uma explicação sobre o caso, Ciro diz que Moraes acumula funções e poderes e faz uma analogia com o futebol: “Ele bate lateral, faz o gol de cabeça, como juiz, valida, embora haja uma queixa de impedimento, e faz ele mesmo a perícia do VAR no lance”.

Por fim, o ex-presidenciável defende que o inquérito das fake news precisa ser encerrado para que, assim, “as coisas voltem à normalidade”.

MENSAGENS REVELADORAS – A Folha teve acesso a mais de 6 gigabytes de diálogos e arquivos trocados via WhatsApp por auxiliares de Moraes, entre eles o seu principal assessor no STF, que ocupa até hoje o posto de juiz instrutor (espécie de auxiliar de Moraes no gabinete), e outros integrantes da sua equipe no TSE e no Supremo.

As ordens solicitadas pelo ministro e por seus assessores ao ex-chefe do órgão de desinformação no tribunal eleitoral eram dadas de maneira informal. Os assessores de Moraes, segundo as mensagens, sabiam do risco dessa informalidade. Um deles, o juiz Airton Vieira, demonstrou em áudios essa preocupação. “Formalmente, se alguém for Tquestionar, vai ficar uma coisa muito descarada, digamos assim. Como um juiz instrutor do Supremo manda [um pedido] pra alguém lotado no TSE e esse alguém, sem mais nem menos, obedece e manda um relatório, entendeu? Ficaria chato.”

No início da semana, Moraes abriu um novo inquérito, desta vez para apurar o próprio caso de mensagens entre assessores de seu gabinete na corte e ex-auxiliares do TSE. O motivo da abertura e os crimes investigados estão sob sigilo. Como parte da investigação, a Polícia Federal intimou Eduardo Tagliaferro, ex-chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE, a depor nesta quinta-feira (22) em São Paulo. A mulher de Tagliaferro também foi intimada a prestar depoimento.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes se comporta de uma maneira estranha, bota tudo sob sigilo, para se preservar, mas já existem provas concretas de que ele está mentindo e levando outros membros do Supremo a repetirem as mesmas mentiras que ele propaga. Este assunto é importantíssimo e logo voltaremos a ele. (C.N.)