Silvio Santos temia ser preso por fraudes no Panamericano, diz Lula

Lula diz que Silvio Santos 'não morreu' e 'não gostava de falar mal do  governo' | O Tempo

Lula gastou R$ 7 bilhões para tirar Silvio da falência

Renato Machado
Folha

O presidente Lula da Silva, do PT, afirmou neste domingo (18) que o apresentador e dono do SBT, Silvio Santos, morto neste sábado aos 93 anos, uma vez o procurou para manifestar medo de ser preso por causa das fraudes no banco Panamericano. Lula também lembrou que fez um pedido para que Silvio desistisse da corrida presidencial em 1989 e voltou a elogiar a trajetória do comunicador, afirmando que ele foi o maior apresentador da história brasileira, ao lado de Chacrinha. “Tem pessoas que não morrem”, disse o presidente.

As declarações do presidente foram dadas logo após visita à sala de situação do Dataprev, onde é feito o monitoramento da execução do CNU (Concurso Nacional Unificado), o chamado Enem dos Concursos. O presidente havia afirmado que só daria uma declaração sobre o concurso, mas abriu uma exceção para comentar a morte do apresentador.

SERIEDADE? – Lula elogiou a “seriedade” de Silvio Santos ao relatar a crise no banco Panamericano, oferecendo o seu patrimônio como garantia, e então mencionou que ele o procurou, em seu segundo mandato, para manifestar o medo que tinha de ser preso.

“Eu posso contar uma coisa da seriedade de Silvio Santos. Quando teve aquele golpe no banco Panamericano, o Silvio Santos me procurou aqui, muito preocupado. Eu era presidente. Ele estava com medo de ser preso, e eu disse ‘Silvio, primeiro, não há por que te prender, nós vamos fazer investigação, o Banco Central vai ajudar a cuidar disso, o Ministério da Fazenda, e vamos ver como a gente resolve o problema'”, afirmou o presidente. “E o problema foi resolvido. Ele deu como garantia inclusive a televisão dele, coisa que muita gente não quer dar, o seu patrimônio. Mas ele deu.”

Lula também comentou a disputa presidencial de 1989, na sua primeira tentativa de ser presidente. Silvio Santos se apresentou como candidato, mas acabou desistindo. O petista lembrou uma conversa que teve com o apresentador, na qual pediu para que ele abandonasse a corrida.

“Tem pessoas que não morrem. Eu penso que ele não morreu. Ele foi fazer uma viagem. Como acredito na existência de um outro mundo, melhor e mais justo, eu acho que Silvio Santos deve estar direcionado para esse novo mundo”, afirmou o presidente.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Fantasioso, como sempre, Lula disse uma verdade é muitas mentiras. A verdade é que Silvio Santos o procurou no Planalto, em 2010, diante da pré-falência do Banco PanAmericano. O apresentador tinha medo de ser preso porque, se o banco fosse à falência, as fraudes já detectadas seriam investigadas em profundidade e ele seria incriminado. A maneira que Lula encontrou foi mandar a Caixa Econômica assumir o banco fraudado e falido. Isso evitaria os problemas de Silvio Santos, porque o Panamericano se tornaria estatal e juridicamente não poderia falir. Com medo da repercussão, a Caixa comprou apenas 49,9% das ações ordinárias, ou seja, o banco continuou sendo de Silvio Santos. Acredita-se que a Caixa tenha perdido cerca de R$ 6 bilhões nessa maracutaia, como Lula gosta de dizer. Sílvio Santos ficou felicíssimo, porque Lula ainda deu um jeito de a Caixa pagar a ele, em dinheiro, R$ 726 milhões, como se tivesse comprado um banco lucrativo. Por fim, Lula também mente ao dizer que pediu para Silvio Santo não concorrer em 1989. Ele não pediu nada, Silvio Santos estava animadíssimo, mas Roberto Marinho deu um jeito de o TSE anular a candidatura do concorrente, às vésperas do primeiro turno, porque Silvio Santos tinha condições de vencer, acredite se quiser. Lula é desse tipo que não pode ver um microfone e logo começa a mentir. Por isso, precisa de tradução simultânea. (C.N.)

Suspensão de emendas determinada por Dino acirra disputa entre Congresso e Supremo

Tribuna da Internet | Lula abre o cofre e acelera pagamento das emendas do  PT e da base aliada

Charge do Clayton (O Povo/CE)

Janio de Freitas
Poder360

Os inquéritos próximos de conclusão sobre atos de Bolsonaro e de parceiros seus, capazes de alguma repercussão nas eleições municipais de outubro, estão por isso ameaçados de adiamento dos seus términos para depois do pleito. A Polícia Federal quer evitar acusações de interferência eleitoral. Se a prevenção é apreciável, dois outros efeitos são tão ou mais danosos do que as acusações incertamente prevenidas.

O prazo para evitar o adiamento é o final deste agosto, informa Isadora Peron no jornal Valor Econômico. A PF trabalha para concluir em breve o inquérito sobre Bolsonaro e sua tentativa de golpe. É o inquérito que divide com o da cloroquina/covid a maior importância judicial e política.

Outro inquérito sujeito ao mesmo adiamento é o da Abin paralela. Investiga a espionagem ilegal montada para o golpismo pelo delegado Alexandre Ramagem, da PF e diretor da Abin oficial com Bolsonaro. É o candidato do bolsonarismo a prefeito do Rio. Em princípio, nenhum retardo nos inquéritos do golpismo é favorável à legalidade. Nos dois casos, o adiamento nega ao eleitorado informações sobre fatos de alta relevância, capazes de determinar o voto. Logo, adiar favorece possíveis acusados-candidatos e suas correntes políticas.

HAVERÁ ATAQUES – O adiamento não evitará ataques da banda investigada à PF, ao Ministério Público, a juízes e tribunais. Esse foi o eixo da campanha contra as urnas e as eleições, contra a posse do eleito, na tentativa de derrubá-lo no 8 de Janeiro, e será o componente comum a todas as campanhas de bolsonaristas. Falta-lhes o que mais dizerem todos para agitar emoções eleitorais. As acusações ao ministro Alexandre de Moraes já estão aí. Com todo o feitio que o modelo Dallagnol difundiu.

O seguinte é o ministro Flávio Dino, que já estava na mira quando, nesta semana, emitiu uma liminar-bomba merecedora do mais brasileiro aplauso. Ao suspender todas as emendas impositivas – as verbas com valor e destinação indicados por congressistas –, Flávio Dino também condicionou sua liberação: só quando atendido o requisito constitucional de sua transparência plena. Agora, sim, a excrescência apelidada de “orçamento secreto” entra em coma.

As emendas estão entre os fatores mais desconhecidos dos cidadãos e mais vorazes no desvio do dinheiro público, pela corrupção que costuma esperá-lo nos seus destinos estaduais e municipais. Se atingir essa desfiguração de um direito parlamentar acirra a desavença Congresso X Supremo, que venha mais desavença.

Moraes não aprende com os erros e está envergonhando o Supremo

A PRETEXTO DE COMBATER A "EXTREMA DIREITA" , MORAES INVENTA A "DEMOCRACIA DEFENSIVA" - Cariri é Isso

Charge reproduzida do Arquivo Google

Carlos Newton

Quando se pensava que os problemas de Alexandre de Moraes se resumiam no desrespeito a leis e ritos processuais e regimentais, cujos efeitos poderiam ser mitigados pela defesa cerrada que se fechou em torno dele, com o Supremo quase inteiro tentando justificar suas insanidades jurídicas, de repente o empresário americano Elon Musk volta à cena, para denunciar novos exageros do ministro Moraes na condução do chamado Inquérito do Fim do Mundo, sobre fake news e milícias digitais.

Na História da Justiça brasileira, jamais se viu nada igual. É impressionante a desorientação do ministro tríplice coroado, que se acha onipotente para atuar como vítima, relator e juiz. É uma irregularidade atrás da outra. No caso do Aeroporto de Roma, ele tentou ser também assistente de acusação, mas a Procuradoria-Geral da República, a muito custo, conseguiu convencê-lo a desistir, sob o argumento de que as provas poderiam se tornar nulas, como se nulas já não fossem desde o início da investigação.

PREPOTÊNCIA – Atrapalhado pela própria prepotência, Moraes dá tropeços diários, tem de ser socorrido pelos outros ministros, como Dias Toffoli, que manteve a proibição de a família Mantovani receber uma cópia da gravação no Aeroporto de Roma, num claro cerceamento de defesa que envergonha a Justiça brasileira. E quando representada por esses dois luminares – Moraes e Toffoli, apresenta uma dose dupla e mortífera de boçalidade.

Musk tem senso de oportunidade. Justamente quando o ministro do Supremo está todo atrapalhado pelo uso ilegal de investigadores e peritos do STF e do TSE para produzir incriminadores relatórios sob medida, desrespeitando leis e regras processuais, eis que Musk ressurge com outras denúncias graves contra Moraes, destinadas a fazer sucesso no Congresso americano.

Moraes não apreendeu nada com as recentes vicissitudes, o que é muito preocupante, pois pode indicar algum distúrbio de comportamento ou desvio de conduta, algo intolerável em magistrado de qualquer instância.

PROCESSO LEGAL – O fato é que, mesmo depois que a Câmara norte-americana exibiu seu retrato em público, ainda assim Moraes não mudou seu posicionamento e continuou sem respeitar o devido processo legal. A Justiça, no Brasil e no mundo, abre processo e pune. Moraes faz o contrário – primeiro, pune, para depois processar.

Isso significa que ele insiste em se recusar a proporcionar direito de defesa e de recurso, pois  mandou desativar os perfis do senador Marcos do Val (Podemos-ES), com bloqueio de R$ 50 milhões nas contas bancárias dele, algo inimaginável e intolerável na matriz USA e também aqui na filial Brazil.

Daqui para frente, diria Roberto Carlos, tudo vai ser diferente, porque Moraes terá de ficar se defendendo dos ataques aqui na filial e lá na matriz, porque suas irregularidades são múltiplas e repetitivas, comportando-se como um ditador do Judiciário, uma novidade em matéria de regimes autoritários. E isso pode transformá-lo num personagem tristemente famoso e que não tem medo do ridículo.

Morre em Brasília Henrique Gougon, jornalista e artista plástico

Uma cultura 360 graus - Revista Encontro

Henrique Gougon, jornalista e artista plástico

José Carlos Werneck

Morreu nesta sexta-feira, em Brasília, o jornalista Henrique Gonzaga Júnior, aos 78 anos. Henrique Gougon, como era mais conhecido, também se destacou pelas artes plásticas. Ele fez murais com que estão espalhados pelo DF com mosaicos de personalidades da capital.

Foram ilustradas por Gougon figuras como Juscelino Kubitschek, Anísio Teixeira e Ulysses Guimarães e JK. Nas redes sociais, amigos prestaram homenagens ao jornalista e mandaram mensagens carinhosas a seus familiares.

Guardo, com muito carinho, em meu escritório um exemplar autografado de seu livro de charges, “Que País é Este!”, onde ele escreveu:

“Ao Werneck, peso da Glória.

Um abraço dileto deste confrade, amigo de perto e de longe.

Gou Gon
Brasília, 28/036/77

No pluripartidarismo, eleição municipal não funciona como indicador ideológico 

Ideologia | PPT

Charge do Kipper (Arquito Google)

Maria Hermínia Tavares
Folha

Com o fim do bipartidarismo, a eleição municipal  perdeu a capacidade de dar o recado dos eleitores ao país e aos governantes

Em 1976, em pleno regime militar, o deputado Ulysses Guimarães, o combativo líder do MDB, procurou o Cebrap, centro de pesquisas paulista dirigido pelo sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Doutor Ulysses, como apreciava ser chamado, queria que o auxiliassem a fazer uma espécie de cartilha programática para alinhar o discurso dos candidatos que se aventuravam a disputar Prefeituras e cadeiras nas Câmaras Municipais pelo partido de oposição ao autoritarismo.

Nas conversas com o grupo de Cebrap disposto a apoiá-lo, ele não exibia otimismo. Estava ciente dos obstáculos criados pela ditadura à livre competição eleitoral. Mas perseverou por ver na disputa pelo voto um meio de ancorar seu partido nos municípios e tornar visível o difuso mal-estar com o autoritarismo.

BIPARTIDARISMO – O sistema bipartidário facilitava a tarefa, ao separar simpatizantes da ditadura dos descontentes com o regime. Com a volta à democracia e o surgimento de um sistema multipartidário fragmentado, o pleito municipal perdeu a capacidade de dar o recado dos eleitores ao país e aos governantes. Assim, os resultados das urnas são de difícil interpretação, dando margem a controvérsias sobre quais seriam os ganhadores ou os perdedores

A leitura fica mais fácil quando se olha para as capitais e maiores municípios e quando os partidos são agrupados em três frondas político-ideológicas: direita, centro e esquerda. Na mais recente disputa local, em 2020, candidatos das diversas siglas que formam a variada direita brasileira prevaleceram em 12 capitais, ante nove conquistadas pelos centristas e cinco pela esquerda.

BOA DE VOTO – Utilizando um agregador de pesquisas eleitorais, o IPESP-Analítica, voltado para o estudo da opinião pública, mostra que, na disputa de outubro próximo, os candidatos do bloco da direita lideram as intenções de voto em 73% das capitais e 63% das cidades com mais de 200 mil eleitores. Já a esquerda é a primeira opção dos prováveis votantes em 15% das capitais e pouco menos de 23% das grandes cidades. O centro, com o colapso do PSDB, encolheu desde a última eleição nos dois tipos de municípios. União Brasil e PSD são os partidos com maior número de candidatos que lideram as sondagens. O PL de Bolsonaro vem a seguir.

É claro que a corrida está apenas começando e que as campanhas podem mudar as preferências dos cidadãos. O que as pesquisas mostram é algo tão sabido quanto incômodo para os progressistas. A direita é boa de voto e dominante no andar térreo do edifício político. Vem daí o seu cacife em outras instâncias nacionais, a começar pelo Congresso – onde ela reina.

Piada do Ano! Credores do Twitter pedem bloqueio de contas de Musk

Musk x Moraes: Treta entre bilionário e STF pode acabar banindo "X" no  Brasil

Musk fechou a empresa e deixou Moraes falando sozinho

Guilherme Amado
Metrópoles

Credores do Twitter no Brasil foram surpreendidos pelo anúncio do encerramento das operações da empresa no país e já começaram a acionar a Justiça contra Elon Musk para garantir o pagamento das dívidas. O advogado João de Senzi, que representa influenciadores, apresentou um pedido à 9ª Vara Cível de São Paulo para bloquear as contas da empresa para que seja garantido o pagamento de uma condenação sofrida pelo X.

“A solicitação visa garantir as obrigações que o Twitter ainda possui no Brasil, principalmente para com nossos clientes”, afirmou Senzi.

SEM CONTATO – Também existe um incômodo entre credores sobre a dificuldade de contatar a representante legal apontada pela empresa na postagem feita anunciando o fim da operação no Brasil. Credores não conseguem contato com a advogada, cujo número que consta na OAB não atende. A única comunicação foi a nota da empresa X, nos seguintes termos:

“Na noite passada, Alexandre de Moraes ameaçou nosso representante legal no Brasil com prisão se não cumprirmos suas ordens de censura. Ele fez isso em uma ordem secreta, que compartilhamos aqui para expor suas ações. Apesar de nossos inúmeros recursos ao Supremo Tribunal Federal não terem sido ouvidos, de o público brasileiro não ter sido informado sobre essas ordens e de nossa equipe brasileira não ter responsabilidade ou controle sobre o bloqueio de conteúdo em nossa plataforma, Moraes optou por ameaçar nossa equipe no Brasil em vez de respeitar a lei ou o devido processo legal. Como resultado, para proteger a segurança de nossa equipe, tomamos a decisão de encerrar nossas operações no Brasil, com efeito imediato”, informou a empresa.

A nota continua: “Estamos profundamente tristes por termos sido forçados a tomar essa decisão. A responsabilidade é exclusivamente de Alexandre de Moraes. Suas ações são incompatíveis com um governo democrático. O povo brasileiro tem uma escolha a fazer – democracia ou Alexandre de Moraes”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Calma, gente! Apesar do encerramento das atividades em território brasileiro, o X continuará disponível para a população e para os credores, sob os mesmos critérios de sempre. O empresário Elon Musk apenas reagiu contra o comportamento de Aristóteles Moraes, que age por meio de decisões sigilosas, tentando desviar as atenções do novo escândalo de Glenn Greenwald. E os norte-americanos não estão acostumados com esse tipo de Justiça sigilosa que a filial Brazil tenta criar. Apenas isso. (C.N.)

Na defesa do meio ambiente, grandes árvores caem e devem ser substituídas

Márcio Souza e a Amazônia dez anos depois

Márcio Souza, grande escritor da mata

Ailton Krenak
Folha

Grandes árvores também caem. Talvez por isso, temos o provérbio que alerta que quanto maior a árvore, maior o tombo. Grandes árvores da floresta amazônica estão apresentando fenômeno desconhecido até agora, quando foi verificado pela pesquisadora Luciana Gatti, que há mais de 20 anos observa a área de floresta com essa ocorrência, registrada na Flona (Floresta Nacional) do Tapajós.

Essa pesquisa foi apresentada na 11ª Conferência Internacional de Dióxido de Carbono) na última semana de julho, em Manaus. As árvores mais altas estão caindo sob impacto de uma chuva forte que, caindo em um trecho da floresta, causa o desmoronamento das centenárias árvores em efeito dominó.

CATASTRÓFICO. É assim que Gatti, do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), define o cenário atual da amazônia brasileira. Após quase uma década de estudos ao lado de 18 colaboradores, ela descobriu que a maior floresta do mundo não só tem perdido a capacidade de capturar dióxido de carbono como passou a ser fonte de emissão do gás responsável pelo aquecimento global.

Pode imaginar um fenômeno desse avançando, com as contínuas queimadas e o desmatamento para ampliação das áreas de cultivo e de criação de gado onde antes era domínio natural das florestas úmidas!

Nessa semana, outras duas árvores frondosas tombaram na paisagem amazônica. Seres árvores em sua humana anatomia, como a sábia Tuíra Kayapó, que deixa seu legado de mulher da floresta em lutas memoráveis contra a construção de barragens na bacia do rio Xingu, seu lar ancestral, e Márcio Souza.

Favela Amazônia - Estadão

Tuirá Caiapó. forte liderança indígena

DEIXARAM UM LEGADO – Tuíra foi decisiva na mudança de plano e programação da hidrelétrica de Kararaô, no mesmo lugar onde 20 anos mais tarde foi perpetrada a obra monumental de Belo Monte, com todas as consequências sabidas para as populações ribeirinhas e fluxos naturais da Volta Grande do rio Xingu. É preciso lembrar a escrita de Márcio Souza, de estilo inconfundível, com seus estudos amazônicos dedicados a decifrar o mundo de águas e florestas, vencendo a ambição humana, como em seus romances “Mad Maria”, “Galvez, Imperador do Acre”, além de dramaturgias e escritos para o cinema.

Deixam, esses grandes cidadãos da floresta, um vazio profundo para todos nós, que aprendemos com eles a amar as árvores em pé na maior floresta do mundo. Um solo frágil e rico de vida, como o tapete de húmus e vida constituída ao longo de séculos em contínua simbiose e colaboração interespécies, se desmancha em décadas de violenta ocupação por novas tecnologias e ambição desmedida.

As árvores estão em boa companhia também na literatura da ganhadora do Prêmio São Paulo de Literatura 2023, na categoria melhor romance, e autora do hipnótico “A Árvore Mais Sozinha do Mundo”, a escritora paulista Mariana Salomão Carrara, que nos leva ao encontro de outras vozes, além da desconfiada maquinação dos humanos — outras humanidades, onde segredos das relações das famílias humanas são desvelados em alternadas observações da onipresente voz da Árvore, que tudo vê e sabe da nossa indeterminação e miséria.

A História do Brasil é surpreendente, e às vezes pode nos assustar demais

Discurso raríssimo de Tancredo Neves em 1976

A pedido de Geisel, Tancredo convenceu Jango a voltar

Alexandre Garcia
Gazeta do Povo

Num 12 de agosto, há exatos 40 anos, o PMDB, reunido em convenção nacional, escolheu Tancredo Neves e José Sarney para concorrerem à Presidência da República, na sucessão de João Figueiredo. Tancredo me contou que, a pedido de Ernesto Geisel, tinha ido a Montevidéu convencer o então vice-presidente João Goulart a aceitar o parlamentarismo, para poder voltar ao país e assumir a Presidência, surpreendido que fora, enquanto estava na China, com a renúncia do presidente Jânio Quadros.

Já Sarney, o vice da chapa, tinha sido destaque na “banda de música” da UDN, partido da direita considerado reacionário pela esquerda; depois, ingressou no partido criado pelo movimento de 1964, a Arena, onde ficou por todo o governo militar, até a mudança de nome para PDS, de que foi presidente. No ocaso do governo militar, criou com o vice-presidente da República Aureliano Chaves e Marco Maciel a Frente Liberal, e filiou-se ao opositor PMDB, para ser candidato a vice e se tornar o primeiro presidente após o período militar.

TUDO SURPREENDE – Não sei se os leitores que não testemunharam isso tudo, como eu testemunhei, vão entender. Creio que não, porque até para quem viu há dificuldade de crer. Tenho uma vantagem: não me surpreendo com o que vejo hoje. No dia em que nasci, o ditador Getúlio Vargas baixava um decreto-lei para ele próprio nomear o presidente do Supremo. E o que ele nomeou, quando Getúlio foi derrubado e o Congresso inexistia, foi indicado pelos militares para ser presidente interino. Era José Linhares, que aproveitou para nomear tantos parentes que o trocadilho em voga era “os Linhares são milhares”.

Já não me surpreendo quando nem mesmo o nome do país é desrespeitado, porque “República Federativa do Brasil” é apenas um rótulo escrito na Constituição, como muitos outros, já que na prática é uma república unitária, pois os estados têm pouca autonomia e dependem da capacidade de pedir recursos para o governo federal. Aliás, se formos ampliar a exigência, vamos achar que “República” também é marca de fantasia. Tanto quanto a marca de “Nova República”.

Nova em quê? Liberdades? Com fiscal do Sarney prendendo gerente de farmácia e de supermercado? Polícia Federal entrando no pasto para prender boi gordo?

POUPANÇA BLOQUEADA – Depois veio Collor e congelou a poupança; metas de primeiro mundo e métodos de terceiro. Itamar, o nosso Truman, surpreendeu para o bem. Um ministro dele era suspeito, foi demitido, provou inocência e voltou. Itamar assinou o real, que já deixou de ser plano para ser cotidiano, no que foi a maior revolução desde a volta do poder aos civis. Ficamos, depois, entre tucanos e petistas, como tendo de optar entre Coca e Pepsi. E descobrimos que tínhamos anões no orçamento, vampiros de ambulâncias, mensalões tucanos e petistas, e uma grande Lava Jato. Juntaram-se mais drogas, com o crescimento do narcotráfico e milí

No despertar da reação dos que estavam passivos no berço esplêndido, resistimos ao teste da pandemia, que tentou matar o emprego, a economia, mirando no governo. A crueldade da época foi tanta que não queriam que as pessoas se tratassem e fossem curadas. Hoje pelo menos sabemos quem foi que conseguiu enganar a maioria. E vimos um grande engodo, o do fim da impunidade. Pobre Lava Jato da nossa desesperança!

Na Constituição, feita com ufanismo para o nosso futuro, está escrito que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; que é garantida a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à propriedade, que é livre a manifestação do pensamento. Mas, como fazia o ditador Vargas, está tudo cancelado, e só se ouve o silêncio medroso e cúmplice.

(Artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

Crise entre os três poderes é tão grave que pode nem ter solução

Globo comunica demissão de William Waack

Os poderes são geringonça que não funciona, diz Waack

William Waack
CNN Brasil

Às vezes, o presidente Lula fala sobre o Brasil com ar de surpresa. Isso aconteceu esta semana, ao comentar a suspensão das emendas impositivas do Congresso, decretada pelo STF.  “Uma loucura”, disse Lula sobre as emendas. “O Congresso sequestrou o Orçamento”, prosseguiu. Essa “loucura” a que ele se refere começou ainda sob o governo Dilma, criada por Lula, e cresceu em uma sucessão de presidentes que não souberam ou foram fracos na articulação política.

Entre os quais, agora, está o próprio Lula, a quem faltam votos no Congresso, mas, principalmente, uma agenda de apelo amplo. Ele espera que o Supremo resolva o problemão político que ele não conseguiu enfrentar.

CRISE DE PODERES – Ocorre que o Supremo, ao peitar o Legislativo, acirrou ainda mais um confronto que ninguém sabe como resolver. E talvez nem tenha solução, devido aos nossos sistemas político e de governo.

Os partidos se unem no Congresso para dividir verbas e anistiar suas multas por não terem cumprido a legislação eleitoral, diante de um Executivo sem força em votos e agenda política, que se socorre em um Judiciário aferrado a seus privilégios e que se acha obrigado a agir como uma espécie de “polícia da política”.

Congresso que se autoanistia, Judiciário que é visto como parte da briga política e Executivo fraco formam uma complicada geringonça política. Sim, “as instituições estão funcionando”, repetem sempre os chefes desses Poderes. Estamos torcendo para que dê certo.

Relator do orçamento no Congresso desafia STF: “Emenda Pix continua”

Senador Ângelo Coronel é relator do Orçamento e cobra que todos os Poderes sigam regras definidas pelo STF sobre transparência em emendas.

Relator do Orçamento sugere uma nova negociação

Augusto Tenório
Metrópoles

Relator do Orçamento de 2025, o senador Angelo Coronel (PSD-BA) reagiu à decisão do Supremo Tribunal Federal de suspender o pagamento das “emendas Pix“. Ele afirmou que os congressistas foram “jogados às traças” e que estuda alternativas para lidar com a nova crise entre Poderes.

Prontamente, ele garante que esse tipo de repasse continuará em uso no próximo ano e considera que uma das saídas para o Legislativo é submeter os gastos do Executivo e da própria Justiça aos mesmos parâmetros de transparência.

“Não vamos diminuir a emenda Pix, ela é um derivado das emendas impositivas. Podemos aprimorá-la, mas não perdê-la. Esse repasse dá celeridade, permite o início de uma obra em 90 dias após a indicação, enquanto as outras emendas demoram até dois anos”, disse Angelo Coronel em entrevista à coluna.

STF JÁ DECIDIU – No início do mês, o ministro do STF Flávio Dino suspendeu a execução de emendas impositivas até que o Congresso estabeleça novos procedimentos para garantir transparência.

Angelo Coronel afirma que as regras definidas por Dino em sua decisão, referendada nesta sexta-feira (16/8) pelo plenário da Corte, não podem ser executadas por limitações técnicas.

O senador argumenta que nem a Caixa, responsável pelo pagamento às obras, nem a Saúde, que controla a maior parte das emendas, possuem quadros suficientes para definir quais municípios estão aptos a receber cada emenda.

TRANSPARÊNCIA GERAL – “Se for para abrir tudo no Poder Legislativo, precisamos de transparência geral a todos os Poderes. O Congresso pode agir nesse sentido, pois somos os responsáveis por criar e editar as leis. Chegou a hora de todos os Poderes aplicarem a regra do Dino. Mas não há motivo para briga…”, disse o relator, acrescentando:

“O mais responsável e inteligente seria o Congresso, o Supremo e o Planalto se reunirem, para manter a harmonia e independência. Não adianta aprovar o Orçamento e ter um novo ajuizamento das emendas no futuro”, finalizou o senador Angelo Coronel.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Conforme era de se esperar, o Congresso vai reagir e negociar uma outra forma de aprovação da emenda PIX. Os parlamentares têm condições de tumultuar a vida dos outros poderes, mas não querem guerra e vão negociar. Podem apostar. (C.N.)

Nas mensagens, irritação com a proteção da Interpol a Allan dos Santos

Mensagens: Equipe de Moraes se irritou com EUA e Interpol - 17/08/2024 -  Poder - Folha

EUA consideram Allan como um “perseguido político”

Glenn Greenwald e Fabio Serapião
Folha

Uma conversa em 2022 entre dois juízes instrutores do ministro Alexandre de Moraes, um do STF (Supremo Tribunal Federal) e outro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), revela o descontentamento do gabinete do ministro com a postura da Interpol e do governo dos Estados Unidos no caso do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos. O influenciador é investigado nos inquéritos das milícias digitais e das fake news por causa de seus ataques às instituições e à democracia. Ele tem contra si um mandado de prisão preventiva expedido por Moraes e é considerado foragido da Justiça brasileira.

Na última quarta-feira (dia 14), foi alvo de nova ordem de prisão expedida por Moraes sob suspeita de crimes contra a honra, obstrução de Justiça e ameaça. Em outubro de 2021, Moraes também determinou a prisão, a inclusão na difusão vermelha da Interpol e a extradição de Allan pelos EUA —onde ele foi morar desde que foi alvo de buscas da PF no Brasil.

CONVERSA DE JUÍZES – A conversa entre os juízes Airton Vieira, braço direito de Moraes no STF, e Marco Antônio Vargas, do gabinete da presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), ocorreu em novembro de 2022 e é parte dos mais de 6 gigabytes de diálogos entre integrantes dos gabinetes de Moraes acessados pela Folha.

No dia 14 de novembro de 2022, o juiz Marco Antônio Vargas enviou no grupo em que estava Airton Vieira mensagens do ministro Moraes. O texto é acompanhado de um link de uma publicação em uma rede social com vídeo do blogueiro bolsonarista ofendendo um brasileiro na saída do hotel onde os ministros do STF estavam hospedados. “Peça para o Airton falar com a PF sobre o alerta vermelho”, diz o texto da mensagem enviada pelo juiz do gabinete de Moraes no TSE.

Airton Vieira afirmou ao colega em sua resposta já ter acionado o representante da Interpol no Brasil. Segundo ele, a Interpol em Washington e o adido brasileiro na organização também tinham sido procurados para que tomassem as providências em relação a Allan dos Santos.

ALERTA VERMELHO – Questionado pelo juiz Marco Antônio Vargas se a Interpol havia incluído o nome do blogueiro no alerta vermelho, o magistrado lotado no STF mandou um áudio explicando a situação. “A questão do alerta vermelho é uma longa história, mas em resumo é o seguinte: o pedido do alerta vermelho já foi feito há mais de ano, só que ele está em Lyon, que é a sede da Interpol. E o pessoal de lá até agora não atendeu, simplesmente se recusou a pôr e de nada adiantaram os pedidos reiterados feitos pela Interpol aqui do Brasil”, afirmou Airton Vieira.

Segundo ele, mesmo após vários pedidos, o escritório central da Interpol na França não incluiu o nome de Allan no alerta vermelho e deu a “entender que a questão poderia ter viés político”.

“Isso já foi feito há mais de ano, nós estamos pedindo, eles não colocaram. Isso fez com que, aliás, o Allan dos Santos não fosse preso até agora”, disse. O juiz também comentou no áudio que, até novembro de 2022, os EUA nem “sequer responderam oficialmente” o pedido de extradição. “O escritório central da Interpol, em Lyon, não coloca o nome dele no alerta vermelho, os EUA não respondem ao pedido de extradição, que já foi feito, com base até na prisão preventiva dele decretada, e a situação é essa”, afirmou.

ALLAN DOS SANTOS – Após o áudio, os dois juízes trocaram algumas mensagens ainda sobre o caso de Allan dos Santos. Explicitaram ainda mais o descontentamento com a postura da Interpol e do governo americano. Airton Vieira, no entanto, afirmou que o “pessoal da Interpol” acreditava que, com a troca de governo e posse de Lula (PT), a situação poderia ter alguma mudança. “Nem vou responder ao Ministro pq ele deve saber bem essa história”, disse o juiz Marco Antônio Vargas.

“Sim, conhece essa história em detalhes. Não se conforma, com toda a razão. Mas nada podemos fazer quanto a essa questão da Interpol, assim como com a questão da extradição. Tudo o que podíamos fazer foi feito, seguimos todo o trâmite. Mas a Interpol em Lyon engavetou o pedido de alerta vermelho e os EUA não resolvem a questão da extradição. Difícil.”

Em um outra mensagem, o juiz do TSE classificou a postura da Interpol e do governo dos EUA de “sacanagem”. Airton, em seguida, afirmou: “Com certeza. Por isso esse idiota do Allan dos Santos se sente livre para fazer o que faz…”.

PEGAR NA MARRA – “Dá vontade de mandar uns jagunços pegar esse cara na marra e colocar num avião brasileiro”, afirmou Marco Antônio Vargas. Após as mensagens, Airton Vieira ainda mandou um último áudio sobre o tema. Na mensagem, além de repetir a situação na Interpol, ele elevou o tom das críticas ao governo dos EUA.

“Se eles quiserem te mandar embora porque não gostaram dos seus olhos, eles inventam um pretexto qualquer e colocam você no primeiro avião de volta e deportam, extraditam, dão pé no traseiro, o nome que você quiser, mas eles fazem o que eles bem entenderem com quem eles quiserem. Do contrário, não há governo no mundo que determine o que eles têm que fazer”, disse. “Eles têm o tempo deles, os interesses deles, esse é o problema todo, essa é a questão.”

O juiz ainda reforçou a leitura de que a mudança de governo no Brasil poderia facilitar o processo de extradição. “Porque, se pra nós o Allan dos Santos tem alguma importância, pra eles a importância é zero. Então eles não vão comprar uma dor de cabeça com o governo do Brasil, em que pese o governo do Brasil ser de outra orientação. Talvez a partir de 1 de janeiro a coisa mude, não sei”, afirmou.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Os EUA dão asilo e protegem quem é perseguido por delitos que os americanos veem como crimes de opinião, que estariam garantidos no direito à liberdade de expressão. Aqui no Brasil é que não existe mais o direito de opinião e de livre expressão. (C.N.)

 

Em confronto com o Congresso. o Supremo mantém suspensão de emendas

Dino interrompeu repasse de emendas impositivas

Pedro do Coutto

O panorama político do país está, sem dúvida, afetado pela decisão do Supremo Tribunal Federal que, por unanimidade, 11 votos a zero, decidiu manter a decisão individual do ministro Flávio Dino que suspendeu a execução das emendas impositivas de deputados federais e senadores ao Orçamento da União. A decisão também valida a suspensão das chamadas “emendas Pix”.

Na última quarta-feira, o ministro Flávio Dino decidiu que os repasses das emendas impositivas deverão ficar suspensos até que os Poderes Legislativo e Executivo criem medidas de transparência e rastreabilidade das verbas. Esse tipo de emenda obriga o governo federal a enviar os recursos previstos para órgãos indicados pelos parlamentares.

MOTIVAÇÃO – A decisão foi motivada por uma ação protocolada na Corte pelo PSOL. O partido alegou ao Supremo que o modelo das emendas impositivas individuais e de bancada de deputados federais e senadores torna “impossível” o controle preventivo dos gastos.

O ministro entendeu que a suspensão das emendas é necessária para evitar danos irreparáveis aos cofres públicos. Pela decisão, somente emendas destinadas para obras que estão em andamento e para atendimento de situação de calamidade pública poderão ser pagas.

“EMENDAS PIX” – No início deste mês, Dino suspendeu as chamadas “emendas Pix”. Elas são usadas por deputados e senadores para transferências diretas para estados e municípios, sem a necessidade de convênios para o recebimento de repasses.O ministro entendeu que esse tipo de emenda deve seguir critérios de transparência e de rastreabilidade. Pela mesma decisão, a Controladoria-Geral da União (CGU) deverá realizar uma auditoria nos repasses no prazo de 90 dias.

Mas a questão não terminou ainda, pois o Congresso tem colocado em pauta um projeto de emendas constitucionais que efetivamente colide com a decisão do Supremo e dá nova forma para o problema. De um lado, portanto, temos o Supremo mantendo a suspensão do pagamento das emendas e de outro temos uma investida do parlamento para anular a decisão da Corte Suprema, estabelecendo uma nova confusão legal.

O presidente Lula, apesar de distante do choque, será por ele atingido, uma vez que torna-se difícil administrar o país em meio aos confrontos envolvendo o STF e o Congresso Nacional. Afinal de contas, quem tem a chave do cofre é o Executivo. Logo, qualquer decisão contrária levará Lula a um impasse: ou atende ao Congresso ou coloca-se ao lado do Supremo Tribunal Federal. É difícil governar assim. Falta sensibilidade à classe política para conviver com o regime atual e com o fortalecimento do Poder Judiciário.

Cantando como os pássaros, no voo libertário de Menotti Del Picchia

MENOTTI DEL PICCHIA – FRASES – Pão de Canela e ProsaPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, tabelião, advogado, político, romancista, cronista, pintor, ensaísta e poeta paulista Paulo Menotti Del Picchia (1892-1988), no poema “O Voo”, nos fala da importância do voo que devemos realizar diante dos obstáculos que o cotidiano nos impõe, semelhantes aos pássaros. É um poema que também pode ser interpretado como “uma lição de vida”.

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O VOO
Menotti Del Picchia

Goza a euforia do voo
do anjo perdido em ti
Não indagues se nossas estradas,
tempo e vento desabam no abismo.
que sabes tu do fim…
Se temes que teu mistério seja uma noite,
enche-o de estrelas,
conserva a ilusão de que teu voo
te leva sempre para mais alto
no deslumbramento da ascensão

Se pressentires que amanhã
estarás mudo,
esgota como um pássaro as canções
que tens na garganta
canta, canta para conservar
a ilusão de festa e de vitória
talvez as canções adormeçam
as feras que esperam
devorar o pássaro

Desde que nasceste
não és mais que um voo
no tempo rumo ao céu?
Que importa a rota
voa e canta enquanto resistirem as asas.

Existe uma incômoda semelhança nos casos de Sérgio Moro e Moraes

Relator do processo de cassação de Moro pede data para julgamento

Moraes pensava (?) que um dia iria julgar Sérgio Moro

Hélio Schwartsman
Folha

Sim, há diferenças entre os casos de Sergio Moro e de Alexandre de Moraes, mas também há uma incômoda semelhança. A ideia de um julgador imparcial, indissociável do princípio do devido processo legal, sai abalroada após a divulgação, por esta Folha, de mensagens trocadas entre dois auxiliares de Moraes.

Diga-se em favor de Moraes que parte de suas atribulações resulta da combinação de percalços históricos com falhas de desenho institucional. O pecado original é o chamado inquérito das fake news. Ele nasceu em 2019 com recurso a uma interpretação criativa do regimento interno do STF e foi entregue ao magistrado sem distribuição por sorteio.

TRÊS PAPÉIS – Nunca foi boa ideia dar a um só indivíduo, os papéis de vítima, acusador e juiz. Parte dos ministros do STF viu o problema e ensaiou uma tímida reação, que logo se desfez diante da inércia do então procurador-geral da República, Augusto Aras, em responder aos ataques que o STF vinha sofrendo nas redes sociais.

Apesar de suas teratogenias, o inquérito não só foi normalizado pelo plenário como também se converteu, sob o tacão de Moraes, numa das principais ferramentas de defesa da democracia contra as investidas golpistas de Bolsonaro e aliados.

Como Moraes acumulou o cargo de ministro do STF encarregado do inquérito com o de presidente do TSE, órgão que detém poder de polícia, a promiscuidade se tornou irresistível. Moraes passou a atuar simultaneamente como vítima, policial, acusador e juiz. E, em vez de exercer a autocontenção e restabelecer os ritos normais após a derrota de Bolsonaro nas urnas, preferiu continuar com o malfadado inquérito.

NULIDADES – Se as revelações bastarão para produzir nulidades processuais é algo que depende mais do clima político que irá pairar sobre Brasília do que de uma análise estritamente técnica.

Moraes tem as costas mais largas do que Moro. O desgaste extra para a imagem do Judiciário já são favas contadas.

Grande imprensa transforma em herói um pilantra vulgar como Silvio Santos

Silvio Santos convida Lula para o Teleton e pede R$ 12 mil. 22/09/2010 - YouTube

Lula evitou a falência do amigo e lhe deu R$ 726 milhões

Carlos Newton

Foi inacreditável e inaceitável a cobertura da TV sobre a morte de Silvio Santos. A disputa pela audiência levou a exageros emocionais que transformaram o famoso apresentador num personagem. humanitário e quase santificado. É assim no Brasil, sempre que algum personagem famoso morre, mas com Silvio Santos a mídia extrapolou qualquer limite, com uma cobertura irreal e bajulatória, que deixou no chinelo a repercussão da morte de um herói nacional como Pelé.

Silvio Santos não foi herói em nada do que fez. Seu maior mérito foi ser um vendedor nato, que na juventude morava em Niterói e trabalhava como camelô no centro do Rio. No dia-a-dia nas ruas, percebeu que poderia se tornar um grande comunicador, quando essa palavra ainda nem era usada como definidora de função profissional.

ESPERANÇA – Entre os “depoimentos” sobre Silvio Santos, muitos deles falavam que ele teria levado esperança a milhões de brasileiros, mas foi tudo ao contrário. Ele soube enriquecer justamente explorando a esperança dos brasileiros de classe média, através de seus empreendimentos empresariais, com o Baú da Felicidade, um negócio que comprara de Manuel da Nóbrega, criador da versão original de “A Praça é Nossa”, que o filho Carlos Alberto manteve no ar.

O programa “Tudo por Dinheiro” foi uma espécie de logomarca da carreira do apresentador-empresário. Tudo o que ele fazia era por dinheiro.

No governo Figueiredo, para vencer a concorrência pelo Canal de TV contra o Jornal do Brasil e outros concorrentes, ele contratou o jornalista Carlos Renato, primo-irmão da primeira-dama Dulce Figueiredo para resolver as coisas em Brasília, digamos assim.

BAJULAÇÃO TOTAL – Depois de colocar no ar seu primeiro canal, no Rio de Janeiro, passou a servir a qualquer presidente que estivesse no poder, entregando parte de seu programa dominical para enaltecer “A Semana do Presidente”. Ele próprio quis ser presidente, mas sua candidatura oportunista foi brecada pelo TSE pertinho da eleição.

Na onda do “Tudo por Dinheiro”, Silvio Santos foi abrindo cada vez mais empresas, nas mais diversas áreas, inclusive  reflorestamento. O maior erro foi abrir um banco, o PanAmericano, cuja gestão entregou a parentes e amigos. Foi um fiasco colossal, que ameaçou a saúde financeira do grupo.

Em 2009 o PanAmericano estava quebrado, com prejuízos de R$ 2,39 bilhões. Segundo o Banco Central, enquanto o banco de Silvio Santos informava um total de R$ 1,60 bilhão em carteiras de crédito cedidas, os bancos compradores dessas carteiras elevavam esse total para espantosos R$ 5,59 bilhões. Além disso, no balanço do PanAmericano havia “ativos inexistentes” que somavam R$ 1,4 bilhão.

AMIGO LULA – Era o fim do império de Silvio Santos, que já tinha investido nos Estados Unidos o que restara de sua fortuna. Mas quem tem amigos não morre pagão. Bastou uma visita ao presidente Lula da Silva no Planalto, em 2010, para o chefe do governo resolver com apenas um telefonema todos os problemas do empresário-comunicador. Do outro lado da ligação estava a petista Maria Fernanda Ramos Coelho, que presidia a Caixa Econômica Federal e resolveu o problema.

A Caixa assumiu o caixa furado do PanAmericano, mas a gestão continuou com Silvio Santos, que se livrou dos bilhões de prejuízos e ainda levou R$ 739,2 milhões em dinheiro, para se recuperar do susto, pois Lula sabe ser amigo dos amigos, como foi revelado por seu relacionamento com a família Odebecht.

O negócio da Caixa foi um crime de lesa-pátría, mas ninguém foi processado, não houve nada, nada. E a ex-presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, continuou sua carreira no petismo e até janeiro deste ano estava trabalhando no Planalto. Pediu demissão, mas Aloizio Mercadante teve de nomeá-la para a diretoria do BNDES, porque ela é uma mulher que sabe demais, como diria Hitchcock.

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P.S. – Lamento ter decepcionado os admiradores de Silvio Santos, mas realmente não posso concordar com essas louvações a quem nada fez por este país e enriqueceu ilicitamente mediante tráfico de influência e exploração do povo brasileiro, através de armações como a TeleSena, uma loteria que o governo considera ser um título de capitalização, vejam bem a que ponto chegamos. Quanto à louvação da imprensa ao legado de Silvio Santos, tenho mais o que fazer. (C.N.)

Maduro mandou tomar chá de camomila, mas Lula não entendeu direito a mensagem

Lula, Biden e Maduro: a comédia das eleições infinitas na Venezuela |  Jornal de Brasília

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

Vicente Limongi Netto

Depois da tumultuada eleição na Venezuela, Nicolás Maduro mandou Lula tomar chá de camomila para esfriar a cabeça. Passados 10 dias, Lula trocou o chá pela cachaça e afirmou que Maduro ganhou as eleições no tapetão, sugerindo novas eleições. Não se sabe, agora, o que Maduro aconselhou Lula a tomar. Mas a desconfiança é imensa.

Aqui no Brasil, depois de mandar o ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federa l(STF), nomeado por ele, intimidar e provocar o Congresso, com decisões contra emendas parlamentares, Lula tornou-se motivo de gracejos e boas gargalhadas, no mundo inteiro, propondo novas eleições na Venezuela. Piada tosca e infantil, de extremo mau gosto que deslustra a chefia da nação e, sobretudo, apequena a importância e o respeito do Itamaraty, aos olhos do mundo.

Se a infeliz intenção era para aclamar os ânimos, a fervura da panela explodiu a tampa de vez.  Lula com o prosaico Celso Amorim, que não desencarna nunca, jogaram no lixo o manual do necessário bom relacionamento com países vizinhos. Mesmo aqueles, como a Venezuela, dominados por ditadores.

FUTEBOL E TV – Dorival Junior poderia ter o bom senso de convocar Paulo Henrique Ganso para os jogos do Brasil, em setembro. Não se trata de alegar idade avançada, o importante é que Ganso joga muito. Está em ótima fase, física e técnica. É o atleta ideal para compor e impor um meio de campo inteligente e envolvente, na nossa seleção. meio desacreditada ultimamente.

Dois gênios: Pelé no futebol, Silvio Santos, na televisão. Foram inigualáveis e eternos. Apenas para constar: postei esta minha comparação, nas redes sociais, por volta das 13 horas, de hoje, sábado. Um emocionado e respeitado Milton Neves, seguiu minha tônica, por volta das 16h30. registre-se e afixe-se. Ou seja, estou em boa companhia.

Musk fecha a X no Brasil para evitar prisão de representante por Moraes

Alexandre de Moraes: as principais controvérsias do ministro nos últimos  anos - BBC News Brasil

Moraes fez decisão “sigilosa” para prender a representante

Hugo Henud
Folha

Após o X (antigo Twitter), do bilionário Elon Musk, anunciar neste sábado, 17, o fechamento de seu escritório no Brasil, surge agora um novo capítulo sobre como será a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em futuros embates com a rede social. Especialistas ouvidos pelo Estadão apontam que, embora o cumprimento de sanções se torne mais difícil daqui em diante, o Supremo ainda pode solicitar o bloqueio da plataforma por outras vias, como por meio das operadoras de telecomunicações, situação que já ocorreu em casos anteriores.

Em comunicado, a rede social justificou o fim das operações no País alegando ameaças e censura por parte de Moraes, que conduz inquéritos sobre a atuação de Musk em campanhas de desinformação contra as instituições brasileiras.

Na avaliação de Francisco Brito Cruz, jurista e diretor executivo do InternetLab, centro de pesquisa sobre direito e tecnologia, mesmo com o fim das operações do X em território nacional, a plataforma continuará obrigada a seguir a legislação brasileira, conforme estabelece o Marco Civil da Internet.

NADA MUDA? – Brito também pontua que a rede social poderá continuar prestando serviços no Brasil, já que não há uma previsão expressa que obrigue as redes sociais a terem representantes legais no país. “A obrigação da empresa é seguir a lei brasileira. Ela pode até continuar atuando apenas com advogados aqui, como faz o Telegram”, diz.

O jurista explica que, em caso de descumprimento das medidas judiciais estabelecidas por Moraes, como multas, bloqueios de perfis ou violações de regras relacionadas à legislação eleitoral, a rede social poderá ser suspensa temporariamente por meio de determinações judiciais enviadas às operadoras de telecomunicações, como ocorreu com o Telegram.

“Se não seguir a lei brasileira, a plataforma poderá enfrentar sanções, como o bloqueio, pois o Judiciário tem o poder de enviar ordens às operadoras para que não permitam que sua infraestrutura seja utilizada para acessar o serviço por parte dos usuários brasileiros”, explica.

ESCALADA DA TENSÃO – Para o pesquisador de Direito e Tecnologia do ITS (Instituto de Tecnologia e Sociedade) Rio, João Victor Archegas, será mais difícil, a partir de agora, que a plataforma cumpra eventuais determinações judiciais, o que, em sua avaliação, levará a uma escalada de tensão entre a plataforma e o Judiciário brasileiro, especialmente em relação a Moraes.

“A relação já era turbulenta e extremamente complexa. O X vinha se recusando, por exemplo, a cumprir certas ordens ou, então, cumpria essas ordens e, depois, Elon Musk vinha a público dizendo que essas ordens violavam o ordenamento jurídico brasileiro. Agora, o cumprimento de ordens judiciais, a tentativa de citação dessa empresa em novos casos, novas ações na justiça—todas essas ações, todos esses trâmites—vão ficar ainda mais difíceis de serem executados”, pontua.

O pesquisador também destaca o risco de que o eventual descumprimento de medidas judiciais possa levar, em último caso, ao bloqueio permanente da plataforma no Brasil.

PRÓXIMOS CAPÍTULOS – “Será que essa plataforma pode continuar oferecendo seus serviços no Brasil se não estiver se submetendo à legislação brasileira como deveria? Eventualmente, podemos chegar até a uma discussão sobre se o X deve ou não ser bloqueado no Brasil. Podemos chegar a esse extremo, então vamos ver quais serão os próximos capítulos dessa novela”, completa.

Após comunicar o fechamento dos escritórios, o perfil de Governança Global do X compartilhou uma decisão sigilosa de Moraes. No despacho, o ministro afirma que a representante legal da rede social, Rachel de Oliveira Villa Nova, agiu de má-fé para evitar intimação judicial e por descumprir ordens anteriores. Moraes então determinou o cumprimento da decisão em 24 horas, sob pena de prisão de Rachel por desobediência a decisões judiciais, além de aplicar uma multa de R$ 20 mil por dia e ordenar o seu afastamento da direção da empresa.

A decisão de Moraes, no entanto, agora deverá ser cumprida por entidades representativas do X fora do país, conforme explica Marcelo Crespo, doutor em direito penal pela USP e coordenador do curso de Direito da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). “Uma situação que traz ainda mais dificuldade para o seu cumprimento, pois a lei brasileira, como regra, se aplica ao Brasil e não a jurisdições internacionais”, diz.

SEM PRISÃO – Quanto à possibilidade de prisão expedida por Moraes, Crespo esclarece que, como Rachel não é mais funcionária da plataforma no Brasil, ela deixa de ser responsabilizada pelos efeitos da decisão do ministro.

“Ela só responderia enquanto funcionária representante da plataforma. Na medida em que foi desligada, ela pessoalmente não responde mais por essa situação. Na verdade, não havendo mais qualquer funcionário da plataforma no país, não haverá uma pessoa física a ser responsabilizada por qualquer tipo de desobediência. Então, o que Elon Musk fez foi uma estratégia para, justamente, dificultar o cumprimento das decisões judiciais, na medida em que não há mais um escritório e pessoas que possam ser responsabilizadas pessoalmente pelo descumprimento de uma ordem judicial”, pontua .

O jurista pondera, no entanto, que o argumento adotado pela plataforma de Musk não se sustenta juridicamente. Em sua avaliação, uma decisão judicial deve ser respeitada e cumprida, com eventuais contestações sendo debatidas no curso do processo. “Não é dado a nenhuma empresa, instituição, pessoa física ou jurídica, governamental ou não, declarar o que entende como lícito, honesto e adequado para ser cumprido. A decisão judicial deve ser cumprida, independentemente de ser considerada autoritária ou não. É assim que funciona o Estado Democrático de Direito, e essa decisão deve ser questionada perante o tribunal. Afinal de contas, ainda que a decisão seja de Alexandre de Moraes, o tribunal pode acabar referendando-a ou não em seu órgão pleno”, completa.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A explicação de Marcelo Crespo é Piada do Ano. A reclamação do X é justamente contra a falta de devido processo legal, sem possibilidade de recurso às decisões de Moraes. O que Musk fez, ao fechar a empresa, foi proteger de prisão a funcionária. Achei uma medida bonita, que dificilmente alguma empresa tomaria. Posso estar errado, mas prefiro estar errado do que compactuar com um ditador tipo Alexandre de Moraes. (C.N.)

Enfim, surge uma excelente proposta que poderá acabar com o orçamento secreto

Bolsonaro defende orçamento secreto, mas deve sofrer derrota no STF

Charge do Nando Motta (Arquivo Google)

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Deputados e senadores pretendem retaliar o governo pelo questionamento que o Supremo vem fazendo à falta de transparência de emendas do relator e “emendas Pix”. Confronto entre Poderes não é um problema; é parte do desenho da divisão de poder e exige que governo e Congresso entrem em algum acordo que funcione para ambas as partes. Essa é a lógica da política. Cada lado defende pautas que estão de acordo com seus interesses na busca do poder.

Na relação Executivo-Congresso, às vezes um e às vezes o outro defenderá aquilo que seria melhor à sociedade. E às vezes ocorre de um dos lados da disputa política defender algo que afronta diretamente os princípios básicos da nossa Constituição.

SEM DEMONIZAR – É um erro demonizar as emendas parlamentares. Há uma justificativa para sua existência: um deputado provavelmente sabe mais de necessidades locais de seu estado do que um gestor federal. Assim, é razoável que ele possa destinar algum recurso para projetos que ele sabe ser importante.

A questão é o “quanto” e o “como”. Em 2024, o Orçamento federal contempla R$ 52 bilhões em emendas parlamentares. Num momento em que o Executivo está severamente limitado em seus gastos, os deputados nunca tiveram tantos recursos à sua disposição.

É bom que um deputado possa direcionar recursos para, por exemplo, tocar um projeto de educação em municípios de seu estado. Mas a sociedade tem o direito de saber que é ele quem patrocina essa iniciativa e qual o projeto que irá receber o dinheiro, para que possa também ser fiscalizado. Que isso seja encampado pelo Executivo nem vem ao caso; é uma demanda elementar de transparência.

AO CONTRÁRIO – É o caso agora: os deputados defendem uma prerrogativa sua que afronta os princípios básicos de transparência no uso de recursos públicos.

Não está claro como o governo se beneficia do combate ao orçamento secreto e suas derivações. Afinal, foram essas modalidades que deram mais liberdade ao Executivo para negociar apoio junto aos deputados, uma vez que as emendas individuais e de bancadas foram tornadas impositivas em 2015 e 2019.

Mais do que saber quem vence no cabo de guerra, é preciso ter um um plano para chegar num estado de coisas melhor. A cientista política Beatriz Rey traz uma proposta que sanaria esses desafios: manter apenas as emendas individuais e acabar com todas as outras.

TRANSPARÊNCIA – A emenda individual é a que permite a maior transparência e a maior responsabilidade: cada deputado é dono dos recursos que destina a suas localidades para determinados projetos. E se for identificado algum problema nesses projetos, já sabemos para onde olhar.

É o que ocorre nos EUA. Lá o equivalente às nossas emendas parlamentares são as “Congressionally Directed Spending Requests” ou “earmarks”. Elas também são alvo de críticas e já chegaram a ser suspensas, mas hoje há um crescente entendimento de que têm seu papel legítimo.

A construção de uma sociedade livre passa por estar a todo momento reequilibrando os poderes, de modo que ninguém se sobreponha sobre os demais. Ao longo dos últimos governos, Congresso e Supremo vêm se tornando cada vez mais importantes. E quem saiu perdendo foi o Executivo, que se vê tolhido a todo momento pelo Judiciário e tendo que negociar o uso dos recursos junto aos parlamentares. Limitar as emendas é parte dessa agenda de reequilíbrio dos Poderes e, na medida em que traga mais transparência, será também um avanço de toda a sociedade.

Ministros dizem que acusações a Moraes vão alimentar novos ataques ao Supremo

Moraes defende atos para investigar apoiadores de Bolsonaro

Sem saída, Moraes alega que o TSE tem poder de polícia

Vera Rosa
Estadão

Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) avaliam que as acusações envolvendo o colega Alexandre de Moraes vão recrudescer os ataques à Corte e mostram preocupação com os desdobramentos do caso. Embora em público os magistrados defendam Moraes, nos bastidores mais da metade acha que ele deveria concluir logo os inquéritos das fake news e das milícias digitais, que atingem o ex-presidente Jair Bolsonaro, e não esticar mais a corda.

Reportagem do jornal Folha de S. Paulo revelou que Moraes usou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) como braço investigativo de seu gabinete no STF nas diligências contra bolsonaristas. À época, Moraes presidia o TSE e as mensagens trocadas entre ele e juízes auxiliares indicam um procedimento fora dos canais oficiais.

SOLIDARIEDADE – O assunto foi tratado na noite desta terça-feira, 13, até mesmo em rodas de conversa de um jantar na casa do ministro do STF Gilmar Mendes para comemorar o aniversário de sua mulher, a advogada Guiomar Mendes. Moraes compareceu à festa e recebeu a solidariedade dos pares.

Um dos magistrados presentes criticou declarações de Nelson Jobim, ex-presidente do STF, para quem os métodos empregados por Moraes são “próximos” ao da Operação Lava Jato. A avaliação ali foi a de que Jobim não deveria ter atacado o ministro, mesmo porque todas as críticas públicas a ele expõem ainda mais o Supremo.

A oposição já começou a pedir a abertura de processo de impeachment contra Moraes e uma das representações foi enviada ainda na noite desta terça-feira pelo partido Novo à Procuradoria Geral da República. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), avisou a interlocutores que não levará adiante esses pedidos.

PRESSÃO POPULAR – O receio dos ministros do STF, no entanto, é que, se houver pressão popular mais adiante, Pacheco não consiga segurar o assunto.

Sob reserva, um deles disse ao Estadão que, embora uma ala do Senado seja solidária a Moraes, muitos no Congresso vão fazer “marola” com o tema para transformá-lo em nova crise com o Supremo.

Além disso, aliados de Bolsonaro estão convencidos de que podem agora aprovar a anistia política para condenados pelos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.

PODER DE POLÍCIA – Foi a conselho de pelo menos um ministro do STF que, antes de ir para o jantar em homenagem a Guiomar Mendes, nesta terça-feira, Moraes divulgou uma nota na qual sustentou que o TSE tem “poder de polícia”.

Disse, ainda, que todos os procedimentos adotados foram “oficiais, regulares e estão devidamente documentados nos inquéritos e investigações em curso no STF, com integral participação da Procuradoria Geral da República”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Ter poder de polícia não significa licença para adotar procedimentos aéticos contra parlamentares, jornalistas e cidadãos em geral. (C.N.)

Moraes usou TSE para levantar ficha de contratado para obra em sua casa

Urgente: Alexandre de Moraes usou TSE pra investigar contratado que faria  obra em sua casa

Moraes não tem noção do que é obedecer  a limites

Fabio Serapião e Glenn Greenwal
Folha

Mensagens obtidas pela Folha mostram que Wellington Macedo, policial militar lotado no gabinete de Alexandre de Moraes no STF (Supremo Tribunal Federal), utilizou o órgão de combate à desinformação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para levantar informações sigilosas sobre uma pessoa que faria uma obra na casa do ministro. Foram acessados dados como endereço, telefone, filiação e histórico criminal do prestador de serviço.

As conversas entre o PM, responsável pela segurança de Moraes, e Eduardo Tagliaferro, então chefe da AEED (Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação) do TSE, indicam o uso de banco de dados da Polícia Civil de São Paulo para as pesquisas de informações que não podem ser obtidas em plataformas de acesso público.

MAIS RELATÓRIOS – Como mostrou a Folha, o PM também fez pedidos para a produção de relatórios ao setor de combate à desinformação do TSE. O uso da assessoria especial do TSE para questões relacionadas à segurança de Moraes está fora do escopo de atuação da estrutura do órgão.

A proteção de ministros do STF é de responsabilidade da Secretaria de Segurança do STF, formada por policiais judiciais e, quando necessário, reforçada com agentes de segurança de outras corporações, como a Polícia Federal.

No caso de ameaças a ministros, a praxe é que essa Secretaria de Segurança receba as informações e repasse para as autoridades competentes, seja a Polícia Federal ou as estaduais. Há a possibilidade de o próprio gabinete do ministro acionar a polícia diretamente com pedido de investigação por se tratar de suspeita de crime.

DADOS SIGILOSOS – As mensagens que abordam o levantamento das informações indicam que os dados acessados eram sigilosos, o que contradiz a fala de Moraes no plenário do STF na quarta (14) quando ele afirmou que os dados solicitados pelo seu gabinete a AEED eram todos públicos.

Em 24 de fevereiro de 2023, o segurança do ministro encaminha o nome de uma pessoa e solicita que Tagliaferro levante a ficha criminal dele. “Apenas se tem ou não passagem pela polícia”, pede o PM. “Boa tarde. De qual estado ele é? SP?”, responde Tagliaferro. “Ele é uma das pessoas que fará reforma no apt do Min”, afirma Wellington Macedo durante a conversa.

Cerca de uma hora depois do pedido, por volta das 16h30, Tagliaferro enviou um relatório intitulado “Consulta – Polícia Judiciária SP” e outro nomeado de “Registro Civil”. Em seguida, ele encaminha também cópias de boletim de ocorrência em nome da pessoa indicada pelo segurança de Moraes.

PASSAR AO CHEFE… – Após encontrar um registro sobre um suposto homicídio na ficha criminal e levantar a possibilidade de ser um homônimo, Tagliaferro faz outras buscas e encontra informações sobre o processo e o cumprimento de pena pelo prestador de serviço. “Excelente. Agora sim. Vou passar ao chefe”, diz o PM após receber as informações.

As mensagens que mostram os pedidos de investigação de Macedo ao órgão de combate à desinformação estão nos mais de 6 gigabytes de mensagens e arquivos trocadas via WhatsApp por auxiliares de Moraes, entre eles Airton Vieira e Eduardo Tagliaferro.

Os diálogos revelam um fluxo fora do rito envolvendo o STF e o TSE. O órgão de combate à desinformação da corte eleitoral foi utilizado como um núcleo alternativo de investigação para abastecer um inquérito do outro tribunal, o STF, em assuntos relacionados ou não com a eleição de 2022. Em vários casos os alvos de investigação eram escolhidos pelo ministro ou por seu juiz assessor.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Cai por terra a argumentação de Moraes se que seguia a normas e obedecia aos ritos. Como se vê, ele usava o TSE até para buscar informações sigilosas que nada tinha a ver com eleições. É patético e vexaminoso. (C.N.)