Eleições municipais exibem um Brasil rumo ao “conservadorismo de direita”

AVANÇO DO CENTRÃO NA MÁQUINA ESTATAL, TORNA SITUAÇÃO DE LULA DIFÍCIL E PREOCUPANTE - Cariri é Isso

Charge do Erasmo (Arquivo Google)

Malu Gaspar
O Globo

As pesquisas indicaram que Jair Bolsonaro teria derrotas importantes neste domingo, e a esquerda, minguadas chances de vitória. Mas, independentemente dos resultados e de algumas surpresas que sempre ocorrem em disputas acirradas, o quadro que se forma ao final deste ciclo eleitoral é o de um Brasil de direita sim, mas principalmente conservador.

O grande número de reeleições – oito em cada dez prefeitos se reelegeram no primeiro turno – é um indicativo disso. O crescimento dos partidos do Centrão, na esteira da despudorada distribuição de emendas, é outro.

DIREITA ORGANIZADA – O fato de que o PL de Jair Bolsonaro fez o maior número de vereadores em capitais no Brasil e de que o PSD de Gilberto Kassab, que flerta mais com a direita que com a esquerda, ter feito o maior número de prefeituras, demonstram que a direita aprendeu a se organizar.

Essa organização se reflete na possibilidade de vitória nas 15 capitais onde haverá segundo turno. Em todas elas, de Norte a Sul, há um representante da direita ou da centro-direita. Já a esquerda ficou encolhida, e está na disputa em apenas seis capitais – onde não lidera, mas está em empate técnico ou em segundo lugar.

No primeiro turno e agora, estão vencendo os prefeitos bem avaliados e o discurso da direita não-extremada.

CONSERVADORISMO -Debates sobre costume estiveram, em maior ou menor grau, presentes nas disputas, em geral onde o bolsonarismo precisava se contrapor à esquerda de forma mais enfática. Sentindo o conservadorismo do eleitorado, até candidatos de esquerda, como Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá (MT), adotaram um discurso mais conservador, e procuraram ou demonstrar moderação ou evitar ao máximo temas como legalização das drogas, aborto, Venezuela, ideologia de gênero.

Chama a atenção, porém, que candidatos que representavam rupturas radicais ou surfaram em um discurso muito extremado também tenham tido dificuldades de se impor.

Tudo isso indica que componente ideológico tem seu peso – especialmente o antipetismo e antiesquerdismo genérico –, mas até um certo ponto. Ao que parece, o eleitor está fazendo por conta própria uma espécie de retrofit do conservadorismo em que se mantém o direitismo, mas se abandona a caricatura.

2 thoughts on “Eleições municipais exibem um Brasil rumo ao “conservadorismo de direita”

  1. Há bastante confusão em termos de ideologia. O essencial é saber o que a maioria da população quer.

    Os extremos estão fadados a ter pouca representatividade, a não ser em nichos específicos. Podem até ter sucessos fugazes que não resistem ao tempo.

    A maioria da população é conservadora nos costumes, portanto pautas progressistas estão perdendo espaço cada vez mais.

    A informalidade dos trabalhadores está bastante alta e a ilusão de que a vida está melhor ou que vai melhorar nessa condição de emprego é grande. Os benefícios sociais que essa parte da população tem, muitas vezes sem contrapartida alguma, os deixam em condição confortável. A ideia de taxar alguma coisa nos rendimentos desses trabalhadores para manter os benefícios sociais ou ter alguma proteção no futuro, causa ojeriza.

    E a ter emprego formal, com carteira assinada, com horários a cumprir e muitas vez ganhando menos não é um chamativo que atraia.

    E não é só no Brasil, os empregos bem remunerados estão cada vez mais escassos, gerando insatisfação geral e é preciso culpar alguém por essa situação.

    Por fim, a enorme insegurança no Brasil faz com que a população, com razão, repudie qualquer discurso que pareça justificar ou beneficiar ações dos criminosos.

    Pautas vencedoras:

    – melhorar os benefícios sociais;
    – diminuir impostos;
    – combater sem trégua os criminosos, sem perdão;
    – defender a família tradicional e a fé (principalmente a dos evangélicos);
    – ser contra a liberalização de qualquer droga;
    – prometer aumento da renda;
    – prometer melhorar a infraestrutura;
    – prometer a diminuição dos preços dos produtos.
    – combater pautas identitárias;
    – combater qualquer tipo de política que remeta a menor desigualdade social (isso é chamado de comunismo);
    – criticar regimes ditatoriais considerados de esquerda.
    – ser contra a imigração dos oriundos de países pobres.

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