Mônica Bergamo
Folha
Um dos maiores apoiadores de Jair Bolsonaro (PL), o pastor Silas Malafaia está decepcionado com o ex-presidente. Ele acusa Bolsonaro de se omitir nas eleições municipais de São Paulo por medo de ser derrotado por Pablo Marçal (PRTB) caso o ex-coach vencesse o prefeito Ricardo Nunes (MDB), com quem o ex-presidente firmou aliança e até indicou um vice na chapa.
Malafaia diz que não é papel de um líder guiar-se exclusivamente pelas redes sociais. “Que porcaria de líder é esse?”, questiona. Afirma que enviou mais de 30 mensagens “duríssimas” para ele. E diz que o ex-presidente só não teria respondido porque recebeu o apoio dele em momentos cruciais da vida — como no dia em que, “perto de ser preso”, chorou por cinco minutos ao telefone sem parar.
Mas uma pessoa o encheu de alegria: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), a quem pretende apoiar para presidente da República caso Bolsonaro siga inelegível até 2026.
Que balanço faz das eleições?
Eu tive duas alegrias e quatro decepções. A primeira alegria foi com a postura do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. [Ele mostrou que um líder não anda atrás do povo. Um líder guia, anda na frente. Você não é um verdadeiro líder até que não ande sozinho. Tarcísio ganhou muito comigo. Liderança é sobre propósitos. Um líder não está preocupado com redes sociais, se vai perder ou se vai ganhar seguidores. Sofri um bombardeio dos robôs e da milícia digital do Pablo Marçal como ninguém mais sofreu. Não foi uma brincadeira. Eu perdi 1,5% de seguidores.
E a segunda alegria?
Foi com a posição do deputado federal Gustavo Gayer [PL-GO]. Ele estava apoiando indiretamente o Marçal. Mas quando o documento médico forjado [referindo-se ao laudo falso que o ex-coach fez contra Guilherme Boulos, do PSOL] foi divulgado, ele disse: “Aí, não”. Ele dá um passo atrás. É neste momento que um homem mostra o seu caráter.
E quais foram as decepções?
Eu vou começar da menor para a maior. Primeira decepção: Magno Malta [senador do PL-ES]. Um cara guerreiro, um cara do pau, da guerra. Eu o bombardeava, “você tem que posicionar, você tem que falar [contra Marçal]”. E ele ficou calado, “essa guerra não é minha”. Eu respondia: “Como assim? O que está em jogo é 2026. Esse cara vai rachar a direita. Vai rachar os evangélicos, que você representa”. Mas ele não tomou atitude. Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável? O que ele fez em São Paulo e no Paraná foi uma vergonha. E por quê? Medo? Rede social! Nós estamos vivendo hoje um processo em que as pessoas agem conforme as redes. Todo mundo apoia? Eu vou nessa. Todo mundo critica? Bem, eu não vou nessa.
E qual foi a sua segunda decepção?
Com o deputado Marco Feliciano [PL-SP]. Um dia desses ele pregou na minha igreja. Disse: “Malafaia é como um pai que me dá conselhos, que me puxa a orelha”. Conversei com ele. Detalhei quem é Pablo Marçal. E esse cara faz um vídeo tentando me desmerecer, apoiando Pablo Marçal.
A terceira decepção?
Na ordem de grandeza, foi com o deputado federal mineiro Nikolas Ferreira. Você sabia que nós temos agora bolsominions e nikolominions? É! O Nikolas, um garoto bom, um garoto de futuro, teve uma atitude de politiqueiro velho. Ele pertence ao PL. Ele tem que, no mínimo, ficar de boca fechada sobre a eleição em São Paulo, porque o líder dele estava apoiando o prefeito Ricardo Nunes. E ele vem com uma história de que são dois copos: um [Ricardo Nunes] está cheio de veneno, e o outro [Marçal] você não sabe, “então vou arriscar”. O Nikolas querer disfarçar para esse bandido que merece a cadeia foi uma decepção total. Não teve dignidade. Mandei mensagem para ele. Não deu nem pelota.
Agora vamos para a maior decepção…
Jair Messias Bolsonaro.
E por que a decepção?
Um político é reconhecido por seus posicionamentos. Qual foi a sinalização que o Bolsonaro passou? “Eu não sou confiável em meus apoios políticos”. Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável? O que ele fez em São Paulo e no Paraná [onde se comprometeu anteriormente com alianças] foi uma vergonha. Em São Paulo ele ficou em cima do muro. No Paraná, tendo candidato [indicado pelo PL] a vice [de Eduardo Pimentel, que concorre a prefeito], declarou para a mulher lá [Cristina Graeml, que concorria contra Pimentel] “pode usar meu nome”. Sinalizou duplamente. Gente! Isso não é papel da direita de nível maior.
Você não o apoia mais?
Eu apoio Bolsonaro. Mas já disse: sou aliado, e não alienado. Bolsonaro foi covarde, omisso. Para ficar bem sabe com quem? Com seguidores. Que político é esse, meu Deus? No domingo, eu mandei um “zap” [mensagem de WhatsApp] para ele: “Como você apoia um canalha que falsificou documento, que quer dividir a direita e o voto evangélico, que ora fala bem de você, ora fala mal?”. Ele [Bolsonaro] não é criança. Sabe o que ele fez [na eleição de SP]? Jogou para os dois lados. Eu desafio: entra nas redes de Bolsonaro e dos filhos dele. Não tem uma palavra sobre a eleição de São Paulo. É como se ela não existisse. Que porcaria de líder é esse?
Que líder ele foi nas eleições?
Covarde, omisso, que se baseia em redes sociais e não quer se comprometer. Fica em cima do muro. Para ficar bem sabe com quem? Com seguidores de redes sociais. Que político é esse, meu Deus? Que tem que estar onde o povo quer? Eu disse para ele: “Bolsonaro, você está esquecendo de uma coisa: o mesmo povo que diz Hosana [para adorar Jesus Cristo], um pouquinho lá na frente diz ‘crucifica-o'”. Falaram isso para um homem, Deus perfeito, que só curava e que só abençoava, chamado Jesus Cristo. A palavra “líder” vem da língua viking, e significa o capitão de um navio, o cara que dá o rumo. Como é que um cara que foi presidente da República, que é o maior líder da direita, dá sinais dúbios e confusos? É por isso que eu elogio o Tarcísio.
O senhor não falava sobre isso com Bolsonaro durante a campanha?
Eu não posso mostrar conversas minhas com ele, porque faz parte da intimidade, eu seria leviano. Mas vou dizer para você: nesses últimos 15 dias eu bati em Bolsonaro com tanta força no “zap”! E sabe por que ele não me bloqueou? E por que não me xingou? Porque ele reconhece que eu sou um cara honesto, que eu sou um apoiador de primeira hora, que defendi ele nos momentos mais cruciais e críticos. Ele estava chorando depressivo [na casa de praia que tem] em Mambucaba [em Angra dos Reis, no Rio], perto de ser preso. Liguei pra ele e falei: “Vai ficar chorando aí? Vamos para a rua, cara!”. Ele chorou por cinco minutos comigo no telefone antes de abrir a boca, no visor [chamada de vídeo] como estou agora com você.
Ele estava com medo de ser preso?
Estava depressivo porque as pessoas em volta dele foram todas presas [em fevereiro]. Estava angustiado. Eu falei: “Vamos para a rua!”. Ele estava desnorteado. [Perguntou] “Mas como é que vai ser?” Eu falei: “Deixa comigo. Eu só preciso que você grave um vídeo para convocar o povo”. O Bolsonaro tem defeitos. Mas tem duas coisas: ele é humilde, isso é uma coisa dele. E é honesto. Ele já falou para todo mundo, para a imprensa, que se não fosse o Malafaia não ia ter manifestação no dia 25 de fevereiro [deste ano, na avenida Paulista]. Então ele me respeita. Quem defendeu esse cara diante do ministro Alexandre de Moraes? Agora, eu o questionei durissimamente [na campanha]. Mandei mais de 30 “zaps” para ele. Mais de 30! E não era “zap” de brincadeira, não.
E ele respondia o quê?
Ele não responde. Ele encontrou um deputado da minha igreja e disse: “O seu pastor está me ofendendo”. E o deputado perguntou: “O senhor conhece alguém que o defenda mais que o Malafaia?”. Ele respondeu: “Não. E eu tenho que me dobrar. Por isso que não respondo a ele”.
E o senhor, mantém o respeito por ele?
Eu mantenho. Aprendi com meu sogro e com meu pai, que foram dois caras extraordinários, pastores que eu não chego nem no fiapo da unha deles, e que diziam: “Silas, um homem tem o direito de errar. Você não pode destruir a história dele por causa de um erro”. Ele tem o direito de errar. Mas foi uma decepção, de qualquer forma. E não estou falando nada para você que não tenha dito a ele. Eu seria um covarde.