Partidos de esquerda vivem momento complicado em vários países do mundo

Charge do JCaesar | VEJA

Charge do JCaesar | VEJA

Hélio Schwartsman
Folha

O fraco desempenho do PT e de legendas que lhe são próximas nas eleições municipais está levando muita gente a falar em crise da esquerda e a cobrar desse campo político uma espécie de reforma ou atualização de agenda. Reluto um pouco em extrair uma mensagem inequívoca de um amontoado de pleitos locais que são, em sua maioria, decididos mais por questões de zeladoria do que de posicionamento ideológico.

 Mas, se olharmos para uma série histórica mais ampla de eleições e para o que está acontecendo em outros países, acho que dá para falar que a esquerda vive um momento complicado.

CERTO E ERRADO – Gostaria de destacar dois elementos que podem estar contribuindo para essa situação, um que eu classificaria como erro e outro como acerto.

O erro, a meu ver, é que a esquerda pendeu demais para o lado das questões identitárias e com isso matou ou ao menos enfraqueceu sua bandeira maior, que era a igualdade política de todos os cidadãos.

Não estou obviamente afirmando que racismo e discriminações variadas não sejam um problema. São. Mas penso que precisamos abordá-lo com uma pegada universalista. As diferenças que existem entre as pessoas são, para usar um vocabulário aristotélico, acidentais, não essenciais como o discurso identitário parece sustentar.

DEMOCRACIA – O acerto é que a maior parte da esquerda dá sinais de ter aderido de verdade ao jogo democrático. Até os anos 1980 ainda era comum ouvir de esquerdistas que a democracia burguesa era uma farsa e que eles só participavam de eleições para ter uma chance de assumir o poder.

Essa desejável institucionalização da esquerda, contudo, acabou cedendo para a extrema direita o espaço de discursos de contestação e ruptura, que, talvez por uma questão hormonal, têm forte apelo estético para parte dos jovens.

Em 2022, os jovens penderam para Lula, mas neste ano eles ajudaram a impulsionar a votação de Pablo Marçal. É o que vemos em outros países. O voto dos mais novos foi fundamental para a eleição de Milei e explica os números crescentes de partidos de extrema direita em países europeus.

Piada do Ano! Brasil pede que o G20 avance em sua agenda anticorrupção

G20 discute sustentabilidade, qualificação profissional e investimentos em  Belém do Pará Editorial JP Turismo

A Piada do Ano brasileira está fazendo enorme sucesso no G20

Emilly Behnke e Renata Varandas
CNN, Brasília

Países do G20 assumiram o compromisso, nesta quinta-feira (24), de incentivar empresas a adotarem medidas efetivas de combate à corrupção e de respeito ao meio ambiente.

A relação da agenda anticorrupção e o enfrentamento das mudanças do clima foi um dos temas abordados em nota conjunta.

Na declaração, divulgada após o encontro em Natal (RN) do grupo de trabalho anticorrupção, os países reconheceram que a integridade das empresas envolve o respeito às questões ambientais e aos direitos humanos e trabalhistas.

DIZ O BRASIL – A sugestão sobre o tema foi feita pelo Brasil, que exerce a presidência do G20 até o fim do ano. A Controladoria-Geral da União (CGU) atua na coordenação do grupo e articulou para que houvesse um entendimento conjunto sobre o assunto.

Os países também defenderam que as ações de combate à corrupção priorizem a garantia de transparência e prestação de contas da atuação dos governos na resposta a eventos climáticos extremos.

Segundo o grupo, a corrupção representa uma ameaça maior em tempos de crise, incluindo as causadas por eventos climáticos extremos, em que há gastos emergenciais. As nações integrantes do grupo se comprometeram a aplicar medidas eficazes para aumentar a transparência e a responsabilização durante os períodos de respostas a essas situações.

GRUPO DE TRABALHO – A CNN apurou que as definições acordadas são vistas internamente como uma vitória da atuação da CGU no grupo de trabalho temático, que até a véspera do encontro não tinha firmado um entendimento.

Além da questão ambiental, os países também destacam que a corrupção é um obstáculo significativo ao desenvolvimento, tanto em relação à gestão de recursos públicos quanto ao impacto potencial do investimento privado.

No documento, os países reafirmam que a promoção de iniciativas anticorrupção e de integridade pode contribuir para “construir um mundo justo e um planeta sustentável”, conforme o lema escolhido pela presidência temporária brasileira do G20.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Brasil liderando o mundo no combate à corrupção? Esta é SuperPiada do Ano, que bate a declaração de Lula sobre seu tesão sexual de 20 anos e todas as as outras possíveis concorrentes. Como o Brasil é o único país de mundo que não prende corrupto após condenação em segunda instância, a SuperPiada está fazendo um tremendo sucesso internacional. (C.N.)

Suspensão do X foi apenas teste para censura na eleição de 2026

Moraes estava apenas testando como será a aceitação à censura

André Marsiglia
Poder360

A rede social X ficou suspensa durante as eleições de 2024. Não teve um pingo de boa vontade do Supremo para que retornasse, mesmo a plataforma tendo se esmerado para cumprir as exigências faraônicas da Corte.

Visto pelos ministros como uma rede tóxica, por dar voz a políticos e discursos de direita, o X foi tratado como um instrumento capaz de influenciar eleições para o lado que o establishment brasileiro não quer. 

EXPERIÊNCIA – É um fato grave, mas não é tudo, pois não vai ficar só nisso. Parece bastante possível que tenha se tratado de um primeiro experimento de laboratório no qual nossa reação ao chicote do STF molda a força da próxima chibatada. E a reação ao chicote foi doce e cordial.

Muitos brasileiros se sentiram felizes com o bloqueio, até mesmo mais saudáveis mentalmente, como cavalos acalmados por antolhos. Jornalistas e grandes veículos comemoraram, esquecidos de que sua relevância se devia à audiência advinda da plataforma.

Também advogados, que um dia se disseram garantistas, apoiaram a medida de força.
OAB ACORDA – Somente quando o chicote cantou no lombo de todo mundo, punindo com R$ 50 mil qualquer usuário que entrasse no X bloqueado, a OAB saiu de seu coma profundo e ajuizou uma ADPF (Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), muito depois da ADPF ajuizada pelo Partido Novo, – essa, sim, robusta –, e que eu assinei junto com os advogados do partido.

Mas talvez seja tarde, as pessoas se acostumaram ao arbítrio. Como o X foi suspenso sem muita resistência nestas eleições, será logo suspenso de novo, quando for novamente conveniente aos donos do Brasil.

A pergunta não é “se”, mas “quando”. O porquê a gente já sabe – dependerá do quanto a direita se mostrar forte e, portanto, ameaçadora. 

VAI DEPENDER – Se nas eleições municipais deste ano tivemos uma imensa agressividade com as redes sociais, imagine em 2026, em que o frágil governo petista tornará real a chance de a direita chegar ao poder. Certamente, suspender o X será um coelho na toga. 

E, como foi fácil desta vez, quem sabe não será ampliado o rol dos suspensos, encontrando-se uma ou outra lei que este ou aquele veículo de imprensa não cumpriu, encontrando-se uma ou outra opinião de jornalista a ser considerada antidemocrática.

E tudo isso porque sempre haverá um bando de escova-botas que aplaude todo e qualquer desmando cometido por poderosos, claro, sempre em nome da democracia. Assistamos aos próximos capítulos. Não serão bons, nem terão um final feliz. 

No Brics, Brasil denuncia “genocídio” em Gaza e a conivência do Ocidente

Ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, fala com a imprensa após reunião do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova York, em 2023

Chanceler Mauro Vieira bateu pesado nos países ocidentais

Jamil Chade
do UOL

O chanceler brasileiro, Mauro Vieira, usou seu discurso nesta quinta-feira (24) na cúpula do Brics para criticar os governos ocidentais. O chefe da diplomacia brasileira, sem citar o nome dos norte-americanos ou europeus, alertou para envolvimento de potências fora do Sul Global nos ataques contra Gaza.

Ele ainda qualificou a situação como um “genocídio contra o povo palestino”.

ELEVOU O TOM – O discurso ocorreu durante a reunião dos governos do Brics com países convidados, em Kazan, na Rússia. Vieira participou do encontro no lugar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que sofreu um acidente doméstico e não pôde viajar.

No primeiro dia do encontro, no início da semana, Lula participou por vídeo conferência e também denunciou a situação em Gaza. Mas Vieira elevou o tom das críticas contra as potências e contra Israel.

O chanceler lembrou que, em outubro de 2023, foi o Brasil quem propôs pela primeira vez uma resolução no Conselho de Segurança da ONU sugerindo um cessar-fogo, rejeitada “pelo veto de um único país”. A referência era aos EUA.

CONIVENTE – Vieira ainda listou as ações dos países do Sul Global pela paz no Oriente Médio. “Enquanto isso, o papel desempenhado por outros países tem sido no mínimo decepcionante, para não dizer conivente”, disse.

“Os que se arrogam os defensores dos direitos humanos fecham os olhos diante da maior atrocidade da história recente”, afirmou, numa referência indireta aos europeus, norte-americanos e outros governos ocidentais.

“Deixam, assim, desmoronar a autoridade do Conselho de Segurança e a integridade do direito internacional humanitário”, alertou. Segundo ele, “não haverá paz enquanto não houver um Estado palestino independente”.

STF está quase resolvendo o gravíssimo problema de abuso em revistas íntimas

Proibida a revista íntima em presídios da região de Campinas/SP

Supremo já formou maioria contra a vistoria à visita de preso

Wálter Maierovitch
do UOL

Uma das conquistas do direito criminal moderno foi estabelecer que a pena não passe da pessoa do condenado. Outra conquista humanitária consistiu na proibição de pena perpétua.

Por meio dessa doutrina, pode-se chegar à ressocialização do condenado, pela compunção realizada em adequados “penitenciários” (esse era o termo canônico para o estabelecimento com celas monásticas para a compunção, a volta analítica do interior e o opção regeneradora).

PENA MÁXIMA – A nossa Constituição proíbe a pena de prisão perpétua. A pena tem a finalidade ética de reeducar, ressocializar. O prazo máximo de encarceramento não podia ultrapassar os 30 anos. Mas agora já pode.

Por mudança legislativa sugerida pelo ministro Alexandre de Moraes, o prazo máximo da pena foi elevado para 40 anos. Mais tempo de encarceramento sem, no entanto, nenhuma preocupação com a ressocialização.

E nem com reformas em estabelecimentos prisionais que, como já entendeu o STF, tornaram o sistema penitenciário brasileiro desumano, o que ofende garantias pétreas da Constituição.

SOCIALIZAÇÃO – Sem a prisão perpétua, volto a frisar, a pena, pela Constituição, tem a finalidade ética de emendar. Daí a importância das visitas, das saídas temporárias, da remição (abate) da pena por dias trabalhados ou de leitura de obras adequadas e da remissão (perdão) por institutos indulgentes.

Atenção, de novo. São importantes na ressocialização as visitas ao preso, àquele privado da sua liberdade de locomoção, de familiares, amigos, companheiras e companheiros.

No Brasil, que não investe na ressocialização, o percentual de reincidência (volta ao crime) é superior a 85%.

FAZER DISTINÇÃO – Duas coisas importantes a lembrar, com base na experiência de já ter sido juiz da Vara das Execuções Criminais do estado de São Paulo, corredor dos presídios e da polícia judiciária paulista.

O apenado é o preso, e não o visitante. O visitante não pode ser também presumido criminoso.

No caso de o estado ou a União (caso de presídios federais) não contarem com equipamentos adequados para a revista nos presídios —o velho scanner, igual ao empregado nos aeroportos—, os serviços de inteligência carcerária devem ser aprimorados.

SUSPEITA ABUSIVA – Não se deve partir para a suspeita discriminatória, que já é abusiva por si própria. Muitas vezes, acontecem ações humilhantes, abusivas e criminosas. Por exemplo, verificações em orifícios de vias de regra e anal, por mera suspeita de porte de drogas proibidas.

Já vivemos o tempo de revista íntima realizada por agentes penitenciários do sexo masculino. Passou-se, depois, a agentes mulheres, sem que os abusos e as importunações sexuais terminassem.

Quando Tiradentes foi condenado à morte, houve a imposição da pena acessória do “salgamento” (improdutividade) das terras dos seus familiares por várias gerações.

PENAS DO REI – Na nossa história, tratou-se de caso típico de pena passando da pessoa do infrator, e por várias gerações. Tal previsão contava das Ordenações do Reino de Portugal.

Coube ao humanista e filósofo milanês Marquês de Beccaria, Cesare Bonesana, revolucionar o direito penal. No seu opúsculo intitulado “Dos Delitos e das Penas” (1764), condenou o fato de a pena passar da pessoa do condenado para seus familiares, por diversas gerações. Nasceu, assim, a garantia do princípio da personalização da pena.

Com base no princípio da pessoalidade, e para estancar abusos nas revistas íntimas, vários estados da federação, pelas suas secretarias de Justiça e de Assuntos Penitenciários, suspenderam a revista íntima realizada por agentes, nas quais a humilhação era flagrante.

OBSCURANTISMO – Lógico, tudo sob a grita de obscurantistas que sustentavam que drogas e armas ingressavam nos presídios em face da suspensão das revistas.

Como ressaltou editorial do jornal Folha de S.Paulo, edição de 22 de outubro, 97,7% dos visitantes submetidos às revistas eram do sexo feminino. Quanto aos familiares submetidos às revistas, 70% eram pessoas negras.

Ao examinar ação proposta em 2020, o STF (Supremo Tribunal Federal) já formou maioria, no início de outubro, vetando revista íntima a familiares de custodiados em estabelecimentos prisionais ou assemelhados (celas de polícias). Como a revista é ilegal, o STF, com acerto, concluiu que toda prova coletada, por decorrência, deve ser considerada prova ilícita.

###
P.S.
O julgamento encontra-se pendente no STF. Embora seja tecnicamente possível, a maioria formada não será alterada. O STF está resolvendo esse gravíssimo problema de abuso e desrespeito nas revistas íntimas. E continua a esperar do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, a humanização do sistema penitenciário. (W.M.)

Cinco desembargadores de MS são afastados e devem usar tornozeleira

Desembargador Sideni Soncini Pimentel — Tribunal Regional Eleitoral de Mato  Grosso do Sul

O futuro presidente do Tribunal é um dos afastados

Deu no Migalhas

Cinco desembargadores do TJ/MS foram afastados nesta quinta-feira, 24, em investigação que apura venda de decisões. Entre os afastados, está o presidente do TJ/MS, Sérgio Fernandes Martins, e o futuro presidente da Corte, Sideni Pimentel, eleito para assumir em 2025. Os desembargadores foram afastados pelo prazo inicial de 180 dias.

Os afastamentos foram determinados pelo STJ na operação Ultima Ratio, deflagrada pela PF para investigar possíveis crimes de corrupção em vendas de decisões judiciais, lavagem de dinheiro, organização criminosa, extorsão e falsificação de escrituras públicas no Poder Judiciário de Mato Grosso do Sul.

TORNOZELEIRA – Os cinco magistrados terão de usar tornozeleira eletrônica e estão proibidos de acessar as dependências dos órgãos públicos e de se comunicar com outras pessoas investigadas.

Também foram afastados o Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de MS, Osmar Domingues Jeronymo, seu sobrinho, também servidor do TJ/MS, Danillo Moya Jeronymo, e o juiz de Direito Paulo Afonso de Oliveira, da 2ª vara Cível de Campo Grande.

São, ainda, alvos da operação os desembargadores aposentados Júlio Roberto Siqueira Cardoso e Divoncir Schreiner Maran, dois ex-secretários municipais na gestão de Gilmar Olarte, Rodrigo Gonçalves Pimentel e Fábio Castro Leandro, e a vice-presidente da OAB/MS, Camila Cavalcante Bastos Batoni.

EM FAMÍLIA – Rodrigo Pimentel foi secretário municipal de governo e é filho do desembargador Sideni Pimentel, eleito presidente do TJ a partir de 2025.

Fábio Castro Leandro foi procurador-Geral do município e é filho do desembargador Paschoal Carmello Leandro, ex-presidente do TJ – que não está entre os investigados. Camila Bastos é atual vice-presidente da OAB/MS e filha do desembargador Alexandre Bastos.

A operação é fruto de três anos de investigação da Polícia Federal e foi batizada de “Ultima Ratio”. A expressão vem do latim e significa “Último Recurso” ou “Última Razão”. Ela é usada em contextos em que uma medida ou ação é considerada a solução final, após todas as outras alternativas terem sido esgotadas ou se mostrado ineficazes.

OUTROS ALVOS – Estão sendo cumpridos 44 mandados de busca e apreensão expedidos pelo STJ em Campo Grande/MS, Brasília/DF, São Paulo/SP e Cuiabá/MT.

São alvos servidores públicos, 9 advogados, além de empresários suspeitos de se beneficiarem do esquema. Participam da operação 220 policiais federais, além de servidores da Receita Federal do Brasil.

A ação é um desdobramento da Operação Mineração de Ouro, deflagrada em 2021, na qual foram apreendidos materiais com indícios da prática dos referidos crimes.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em matéria de formação de quadrilha e crime organizado, a Justiça brasileira se mostra muito mais eficiente e organizada do que os criminosos comuns. E a vitoriosa macrooperação da PF nos dá a falsa ilusão de que a corrupção pode ser combatida no Brasil. Será uma ilusão à toa, como dizia o genial compositor Johnny Alf. (C.N.)

Loyola Brandão esclarece o debate sobre Jacinto de Thormes e Ibrahim

ignacio-de-loyola-brandao | Conto Brasileiro

Loyola Brandão era amigo de Jacinto de Thormes

Vicente Limongi Netto

Em mensagem que me encaminhou nesta semana, o jornalista, escritor, cronista e crítico cinematográfico Ignácio de Loyola Brandão, entra no debate sobre o colunismo social no Brasil, cujos principais nomes foram Maneco Müller, que escrevia sob pseudônimo de Jacinto de Thormes, em homenagem a um personagem de Eça de Queiroz, e seu seguidor no estilo, Ibrahim Sued.

Neste primoroso texto, Loyola Brandão, que é membro da Academia Brasileira de Letras nos dá uma aula sobre esse capítulo da história da Imprensa brasileira.

Antiguinho: 06/11/17

Maneco Müller, criador do colunismo social

###
EU, JACINTO DE THORMES E IBRAHIM SUED
Ignácio de Loyola Brandão

Tive oportunidade de ser amigo pessoal do Jacinto de Thormes, isto é, de Manuel Bernardes Müller. Em certo momento, em seus últimos anos de vida, ele e eu fizemos juntos uma bela edição especial da revista Vogue, (da qual fui editor) sobre Carmem Mayrink Veiga.

E ela – Carmem, do alto de suas seguidas consagrações nas listas das mais elegantes e locomotivas sociais do Rio (quanta frescura…), me contou como Maneco mandava, comandava, regia a sociedade, pontificando do alto de sua coluna.

E lembro dele no final da vida como tranquilo na sua obscuridade. esquecido por todos que ele tinha tornado célebres.  Um homem digno e simples no final da vida. Apesar de ser um os raros plebeus que cochichou aos ouvidos da rainha Elizabeth, sentado ao lado dela no Maracanã e traduzindo as manifestações da torcida, que a encantaram, numa sensacional partida entre Rio e São Paulo, como Pelé e Gérson em campo.

FUI AO GOOGLE – Para falar sobre o famoso Jacinto de Thormes, nem precisei consultar o trabalho clássico de Nelson Werneck Sodré sobre a história da imprensa brasileira. Fui ao Google, mesmo.

Existe muito material sobre os dois homens que criaram o moderno colunismo social. Há semelhanças e diferenças. Mas fica demonstrado como Ibrahim foi  na onda revolucionária do Jacinto, que trouxe para ele os atalhos.

Jacinto de Thormes, pseudônimo de Maneco Müller, filho de um diplomata brasileiro e homem de estudos e cultura, nascido em 1923, um ano antes de Ibrahim,  começou a trabalhar em 1943 na “Folha Carioca” (Depois “Diario Carioca”) , tendo provocado uma revolução no colunismo.

NOTAS SOCIAIS – Até então, esse tipo de jornalismo era feito de notas sociais, nascimentos, aniversários, batizados, casamentos, etc. Maneco Müller foi um assombro.

Ele espantou os jornalistas, porque mudou tudo, baseado nos colunistas americanos do The New York Times e do Washington Post, que misturavam sociais com política, economia, arte, cultura, e também potins, ou fofocas, mexericos, etc. Enfim, abrangia todos segmentos da sociedade.

Aumentou a extensão dos interesses, modificou, eliminou a mesmice, o rotineiro. E de repente, aquele canto de página esquecido, desprezado e chato, ganhou força, com uma repercussão incrível.

FORÇA IMENSA – A crônica começou a ter força, muitas vezes uma nota política ou econômica virava manchete do jornal. Jacinto tornou-se um personagem único, admirado, bajulado, invejado, o grande astro da mídia. Mas também era atacado, como acontece com toda celebridade.

Ibrahim Sued teve uma trajetória diferente, porque veio de uma família de imigrantes, não teve a chance de adquirir profundidade cultural. Começou no jornalismo como fotógrafo, mas conseguiu convencer Roberto Marinho a lhe dar um espaço cultural no segundo caderno.

No início, era humilhado, desprezado, mas contratou jornalistas talentosos para auxiliá-lo na coluna e assim se tornar poderoso e virou uma celebridade como Jacinto de Thormes, que havia abandonado o colunismo social e passara a trabalhar no jornalismo esportivo na Ultima Hora, escrevendo crônicas diárias sobre futebol.

MESMA FÓRMULA – Ibrahim recebeu a fórmula do Jacinto e a usou. Aprendeu com ele a criar termos novos, a fazer lista de mais elegantes, inclusive homens. Arranjou informantes de alta categoria. Criou até bordões de linguagem.

Sua coluna começou em 1954 no “Globo”. Portanto, começou onze anos depois do Maneco Müller, que lhe abriu o caminho. Ibrahim aplainou a estrada, recebeu um público específico e diversificado. Tornou-se tão importante quanto seu precursor. Mas o formato já tinha sido montado, explorado e preparado o público. Ibrahim recebeu de mão beijada. Essa a diferença. Mas isso não diminui em nada Ibrahim Sued, pois ele simplesmente seguiu a mesma trilha de Maneco Müller, com o mesmo sucesso.

Quanto a Jacinto de Thormes, voltou a pertencer à obra eterna de Eça de Queiroz, “A Cidade e as Serras”.

Já ficou óbvio que Boulos X Nunes não é reedição de Lula X Bolsonaro

2º turno: Pesquisa mostra Nunes com 54% e Boulos com 37% | Brasil |  Pleno.News

Afirmar que Nunes é tão radical como Bolsonaro não funcionou

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

Não colou a estratégia de o PSOL associar Nunes ao extremismo bolsonarista. Outro dia, numa mesa de bar, discutíamos a eleição para a Prefeitura de São Paulo. Alguns defendiam o voto em Boulos, apenas um em Nunes. Perguntaram a esse uma proposta do prefeito que ele achasse boa. Não soube dizer. Então foi ele que perguntou aos demais quais propostas de Boulos os tinham convencido. Também não conseguiram citar nem sequer uma.

E são todas pessoas bem informadas, que assistiram a vários dos debates em que cada candidato empilhou proposta em cima de proposta. Mesmo assim, não sobrou nada. Uma verdade que insistimos em esquecer: não votamos em propostas, votamos em pessoas.

SEM DONO – Proposta boa não tem dono. O candidato vencedor pode tranquilamente incorporar propostas de um derrotado. É o que Boulos fez com algumas das propostas de Marçal e de Tabata. Assim como pode, no dia da posse, jogar no lixo o tal “plano de governo” com que se elegeu. Quem governa não são ideias, e sim a pessoa que foi eleita, mesmo que mude de ideia.

Caminhamos para um segundo turno que, pelas pesquisas, deve reeleger o atual prefeito. Boulos deve repetir o desempenho de 2020: foi muito bem no primeiro turno, mas naufragou no segundo.

Em 2022, a cidade de São Paulo deu mais votos a Lula que a Bolsonaro. Não duvido que, nesses dois anos, o eleitorado tenha caminhado um pouco para a direita. Mas não é isso que explica a provável vitória tranquila de Nunes.

MAIS SIMPLES – A explicação é mais simples: Boulos X Nunes simplesmente não é uma reedição de Lula X Bolsonaro. Nunes é um político de centro-direita, tem pouco a ver com o extremismo bolsonarista, por mais que Boulos insista no contrário. Não colou.

Também pesam sobre Nunes acusações de corrupção —baseadas principalmente no número de licitações em caráter emergencial, o que levanta dúvidas justificadas— e a ideia de que é um prefeito inoperante, que nada faz.

Em meio a tantas acusações para todo lado no primeiro turno —inclusive de proximidade com o PCC—, talvez todas elas tenham se neutralizado.

REALIZAÇÕES – Quanto a não fazer nada como prefeito, Nunes  apresenta os números e obras de seu governo. Apenas o incumbente pode mostrar ao eleitorado uma lista dos projetos, das obras e das realizações nos mais de três anos de mandato.

Os demais, por definição, estão fora do poder e, portanto, nada têm a mostrar naquele cargo. Quanto ao que Nunes mostrou: é muito? É pouco? Ninguém fez questão de comparar de forma objetiva.

Boulos, mais uma vez, não conseguiu transmitir uma imagem de mudança desejável para boa parte dos eleitores. Ainda pesa sobre ele a pecha de radical. Ele seria um radical de esquerda que colocou paletó e aparou a barba para passar uma imagem de moderado. Também não me parece uma descrição justa, mas em política o que importa é a percepção.

BOULOS MUDOU? – O candidato do PSOL se vendeu como alguém que sempre foi moderado, sem fazer uma defesa clara de seu passado de militância no MTST e nos protestos de rua e mostrar exatamente em que ele mudou —se é que houve alguma mudança substancial.

Mesmo sem clareza das propostas, grande parte da população diz preferir o prefeito visto como insosso e pouco conhecido ao político de esquerda com promessas de mudança, mas visto como radical.

Num país que dá passos consistentes para a direita, talvez isso guarde alguma lição para a esquerda.

Inelegível, Bolsonaro força o comando da direita, mas está encontrando resistências

É bom ser útil", diz Bolsonaro em churrasco com Nunes

Bolsonaro tenta ostentar uma liderança que está se esvaindo

Bruno Boghossian
Folha

O desejo de liberar Jair Bolsonaro para disputar a eleição de 2026 começou a ser soprado por aliados assim que o TSE condenou o ex-presidente. O assunto aparecia como uma questão de fé. O objetivo era evitar que sua influência despencasse e permitir que ele mantivesse o controle da própria sucessão.

Os choques internos na direita durante as eleições municipais deste ano fizeram com que a campanha ganhasse ares de ação orquestrada.

SOBREVIVÊNCIA – Com a contestação à liderança do ex-presidente em seu campo político, a defesa da reversão da inelegibilidade passou a ser encarada como uma questão de sobrevivência.

A sensação de ameaça levou Flávio Bolsonaro a queimar a largada. Num balanço do primeiro turno, o senador escreveu que o resultado representava o endosso a um projeto conservador “liderado por Bolsonaro”.

Afirmou ainda que o “sistema político” deveria permitir que seu pai fosse testado nas urnas, “conforme o desejo da maioria do povo”.

EXAGEROS – Há muita propaganda, um pouco de torcida e quase nada de verdade nestas palavras. Se as disputas municipais contam uma história sobre a direita, elas dizem que vários eleitores não veem Bolsonaro como líder único e indispensável nesse campo.

A onda de Pablo Marçal e a disposição de Ronaldo Caiado e Ratinho Júnior para enfrentar candidatos bolsonaristas em seus estados ofereceram sinais nessa direção.

O cálculo de Bolsonaro mudou. O ex-presidente acreditava que, mesmo fora do jogo, seria capaz de determinar candidatos, alianças e compromissos da direita. Agora, ele parece considerar que só terá todos esses poderes caso consiga incluir seu nome na urna.

ÚNICO NOME? – Na semana passada, Valdemar Costa Neto fez uma correção de rota nesse sentido. Dias depois de citar possíveis sucessores na direita, o presidente do PL afirmou que Bolsonaro era o único nome para 2026. O ex-presidente disse o mesmo nesta terça (22).

Boa parte do raciocínio tem relação com o futuro de Bolsonaro nos tribunais. Seus desafiantes, incluindo Marçal, já mostraram alguma resistência a um enfrentamento radical com o STF.

O ex-presidente seria o único interessado em manter esse ponto no centro da agenda da direita.

Avançar no Seguro-Desemprego é uma covardia social ardilosa

(Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

Em artigo publicado nas edições de ontem do O Globo e da Folha de São Paulo, Elio Gaspari condena fortemente um projeto que tramita nos bastidores do governo de reduzir os recursos para o seguro desemprego. “A ideia é ardilosa. Trata-se de pagar menos a pessoas demitidas sem justa causa que, por isso, recebem do empregador um adicional de 40% sobre o valor do Fundo de Garantia”, destaca.

Não há dúvidas que o jornalista tem razão, pois não faz sentido reduzir recursos para quem está no desemprego. Essa articulação só pode ter partido de uma posição extremamente conservadora que, por vezes, predomina nas ações governamentais.

ALTERAÇÃO – Dentro do pacote de medidas de corte de gastos preparado pelo Ministério da Fazenda e do Planejamento, avalia-se alterar o desenho das políticas de proteção ao trabalhador: a multa de 40% do FGTS para demissões sem justa causa e o seguro-desemprego. Além de oneroso para os cofres da União, a avaliação é que a sobreposição de benefícios acaba desestimulando a permanência no emprego, principalmente quando o mercado de trabalho está aquecido.

A equipe que trabalha no pacote de revisão de gastos mira um corte de R$ 30 bilhões a R$ 50 bilhões em despesas. Na última semana, a jornalista Míriam Leitão afirmou que o governo tem a intenção de retomar o combate aos supersalários no serviço público, que já é discutido no Congresso. Atualmente, alguns adicionais, conhecidos como penduricalhos, impedem que seja cumprido o teto salarial do funcionalismo. Segundo a colunista, esse deve ser o primeiro item a ser cortado e deve possibilitar uma economia entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões por ano.

Em relação ao FGTS, uma das opções avaliadas é usar parte da multa de 40% paga pelo empregador para “financiar” o seguro-desemprego. Nesse sentido, o governo gastaria menos com o benefício para os desempregados. A dotação orçamentária do benefício saiu de R$ 47,7 bilhões no ano passado, para R$ 52,1 bilhões na atualização do orçamento de 2024 feita em agosto, mesmo com a taxa de desemprego nas mínimas históricas atualmente.

IMPOSTO – O governo também estuda reverter a multa para o trabalhador em um imposto para a empresa, uma vez que o intuito da política é punir o comportamento do empregador que demite muito. Dessa forma, as empresas ou setores com maiores índices de demissão pagariam uma alíquota maior de imposto. É uma maneira de evitar que se tenha incentivos para demitir, mas sem estimular que o trabalhador “cave” sua própria demissão.

Gaspari destaca que em tese, a medida pegaria só trabalhadores que ganhavam mais de quatro salários mínimos (R$ 5.648). Num exemplo hipotético, o trabalhador demitido sem justa causa receberia R$ 6.900 em razão da multa sobre seu FGTS e teria direito a cinco parcelas de R$ 2.300 de seguro-desemprego. Com a mudança, ficaria só com duas parcelas do seguro-desemprego. “Tomaria uma tunga equivalente à multa, que saiu do bolso do empregador. Com a mágica, o governo economizaria R$ 5,6 bilhões”, afirma, acrescentando que avançar no dinheiro dos desempregados é uma covardia social.

Não creio que Lula possa adotar tal alternativa para reduzir o déficit dos recursos públicos, pois isso causaria um declínio em sua popularidade. É incrível que se pense em ações desse tipo com os empregados sofrendo dupla taxação, uma que é a perda dos salários e outra, o próprio seguro desemprego. É impressionante como há pessoas que defendem soluções desse tipo.

A bem-humorada propaganda eleitoral do poeta Belmiro Braga

CULT Belmiro Braga1 1

Belmiro Braga, grande poeta mineiro

Paulo Peres
Poemas & Canções 

O poeta Belmiro Ferreira Braga (1872-1937), nascido em Vargem Grande (MG), fez através deste soneto a sua “Propaganda Eleitoral” e, por incrível que pareça, foi eleito, mas não assumiu, embora, em sua homenagem, seu local de nascimento tenha recebido seu nome após ser elevado à categoria de município, passando a ser chamado Belmiro Braga.

PROPAGANDA ELEITORAL
Belmiro Braga

Meu caro Coronel Martins Ferreira,
candidato extrachapa a deputado
ao congresso da Câmara Mineira,
desejo ser aí o mais votado.

A minha fé de ofício é de primeira.
Vale por um programa o meu passado,
e no congresso não direi asneira
todas as vezes…que ficar calado.

Fui caixeiro, depois fui negociante,
e do torrão natal, representante,
agora aspiro a ser como escrivão;

E, eleito, espero, mas que maravilha!
ser pai da Pátria e receber da filha
todo o subsídio, quer trabalhe ou não…

Lula busca o Nobel e bagunça a política externa: “Foi sem querer querendo”

Charge por @izanio_charges 

Charge do Izânio (artigo

Carlos Newton

A volta do famoso personagem Chaves à televisão coincide com as novas façanhas externas do presidente Lula da Silva e sua equipe, liderada formalmente pelo chanceler Mauro Vieira e informalmente pelo incansável assessor internacional Celso Amorim, que vive pelo mundo a mando de Lula, que se julga merecedor do Prêmio Nobel da Paz.

A grande surpresa do nobélico Lula foi ter levado o Brics a rejeitar que Venezuela e Nicarágua entrassem na lista de possíveis países parceiros do Brics. A decisão coincide com o desejo expressado pelo Brasil, que não quer os dois países no bloco.

AGRADO E DESAGRADO – Assim, do outro lado do mundo e com a cabeça quebrada, o presidente conseguiu agradar alguns parcos países democráticos do Brics, como África do Sul e Bolívia.

Ao mesmo tempo, desagradou os demais parceiros do bloco, especialmente China, Rússia, Irã, Uganda e Cuba, países que ainda se mantém como ditaduras, mas fazem eleições simuladas para manter as aparências.

Maduro engoliu a decisão do ex-amigo Lula e seguiu em frente. Foi recebido nesta quarta-feira pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, que deixou tudo às claras.

DISSE PUTIN – “A Venezuela é um dos parceiros antigos e confiáveis da Rússia na América Latina e no mundo em geral”, afirmou Putin durante a reunião na cidade russa de Kazan, transmitida ao vivo pela televisão estatal.

“As relações de associação estratégica entre os dois países continuam a se fortalecer”, dizem Putin, acrescentando que “os volumes de comércio bilateral estão crescendo, temos muitos projetos nos setores de energia, produtos farmacêuticos, transporte, conquista do espaço e novas tecnologias”.

Disse que a Venezuela ficará na fila de espera dos Brics, junto com a Nicarágua. E Maduro emendou: “A Venezuela pratica os princípios do Brics por convicção, o Sul Global só pode existir com o direito de ter o futuro, de ter igualdade, de ter liberdade, de ter prosperidade”.

DESGASTE À TOA – Em tradução simultânea, isso significa que Lula se desgastou à toa, porque o Brics é um bloco econômico que se antepõe à Alca americana e à União Europeia, mas também há objetivos políticos. Assim, em breve Venezuela e Nicarágua serão novamente convidadas a participar.

O pior de tudo é o Brasil abandonar sua estratégica política de neutralidade internacional, adotada com sucesso desde o final do século 19. Essas circunstâncias internacionais prejudicam o ingresso do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e o fechamento do acordo comercial do MercoSul com a União Europeia.

E se alguém perguntar a Lula como ele consegue se meter em tanta confusão na política externa, ele responderá imitando o personagem Chaves: “Foi sem querer querendo”.

PT não tem forças para competir, mas influirá na eleição da Câmara

O jeito PT de combater a corrupção – PSDB – PE

Charge do Cabral (Arquivo Google)

Dora Kramer
Folha

Vejam vocês como a política é mesmo aquela nuvem do clichê: muda ao sabor dos ventos —e aqui já abusando do lugar-comum porque é assim que a banda toca nesse ambiente cheio de chavões.

Até outro dia a presidência da Câmara dos Deputados era uma questão a ser resolvida por obra exclusiva da vontade do deputado Arthur Lira (PP-AL), que, não se duvidava, faria o sucessor. O PT, a despeito de ocupar o posto máximo da República, estava fora do jogo.

SEM CACIFE – Minoritário na correlação de forças internas —e externas, se considerarmos o resultado do primeiro turno das eleições municipais—, o PT em tese não teria cacife para influir na disputa, muito menos para impor um nome como ocorreu no primeiro governo de Luiz Inácio da Silva.

Neste terceiro mandato estava Lula aparentemente conformado à espera da composição das peças no tabuleiro desse xadrez (outra vez o clichê), quando as coisas mudaram e o partido dele passou a ser cortejado, visto como crucial para a decisão final.

Funciona mais ou menos como o centro democrático nas eleições: não concorre, mas faz a diferença no resultado.

GANHOU PESO – Embora não tenha força para competir, o PT tem a Presidência da República e pouco mais de 100 deputados sob sua área de influência.

Num cenário em que o centrão concorre dividido entre três candidatos — Hugo Motta (Republicanos-PB), Elmar Nascimento (União Brasil-BA) e Antônio Brito (PSD-BA) —, o PT ganhou peso para atuar como fator determinante na escolha de quem comandará o espetáculo congressual.

Lira enfrenta a discordância de Brito e Elmar, que neste segundo turno trabalham ostensivamente por candidaturas do PT na tentativa de atrair o apoio do Planalto, com empenho firme de Gilberto Kassab (PSD).

MAIS AMIGÁVEIS – A promessa é a de que seriam mais amigáveis que Motta, cuja proximidade com Ciro Nogueira (PP), tenaz adversário do governo, tem sido explorada.

O compromisso de alívio na relação, no entanto, é difícil de ser cumprido porque no frigir das composições internas prevalece o interesse coletivo de manter o poder hipertrofiado num Congresso comandado pelo centrão.

Com Mal de Alzheimer, Antonio Cicero se submete à morte assistida na Suíça

O escritor e poeta Antonio Cicero no programa 'Conversa com Bial' — Foto: Reprodução/ TV Globo

Antonio Cicero queria morrer mantendo a dignidade

Roberta Pennafort
TV Globo

O escritor e compositor Antonio Cicero, membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), morreu, na manhã desta quarta-feira (23), na Suíça. Ele sofria de Alzheimer e se submeteu a um procedimento de morte assistida.

O crítico literário e filósofo deixou uma carta explicando a decisão. “Espero ter vivido com dignidade e espero morrer com dignidade”, afirma Antonio Cicero em um trecho.

NA ACADEMIA – Ele era carioca e tinha 79 anos. A informação da morte foi confirmada pela Academia Brasileira de Letras, onde o autor ocupava a cadeira 27 desde agosto de 2017.

Na semana passada, Cicero foi para Paris com o companheiro, Marcelo Pies, e de lá para Zurique.

Marcelo revelou a amigos que Cicero vinha planejando há algum tempo a ida à Suíça, mandando documentos e informações à clínica – e não queria que ninguém soubesse.

DESPEDIR – “Passamos alguns dias em Paris para ele se despedir da cidade que tanto admirava”, disse Marcelo, que mandou aos amigos a carta de despedida.

O artista era irmão da cantora e compositora Marina Lima. Na voz dela, poemas seus ficaram famosos em todo o país. Entre as canções de sua autoria estão “Fullgás”, “Para Começar” e “À Francesa”.

Antonio Cicero também é coautor de “O Último Romântico”, célebre na voz de Lulu Santos. Ele também teve parcerias com Waly Salomão, João Bosco, Orlando Morais e Adriana Calcanhotto.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGPor que sofrer tanto e fazer sofrer a família e amigos? A morte assistida, com os exemplos do cineasta Jean-Luc Godard, do ator Alain Delon e agora do poeta Antonio Cícero, é uma maneira civilizada de partir. Aliás, todos os seres humanos deveriam ter direito de fazer essa opção, quando viver se torna uma fardo pesado demais para alguns de nós. (C.N.)

Economia alemã está de mal a pior e tão cedo não consegue se recuperar

Grüne Jugend zerlegt eigenen Minister Habeck - "Baut die Scheiße" -  DerWesten.de

Habeck, ministro da Economia, anuncia que haverá recessão

The Economist
(Estadão)

Muitos problemas da Alemanha são de origem interna, mas a mudança de padrões na demanda global também atinge as empresas locais Foi com um eufemismo teutônico que Robert Habeck observou que as condições econômicas “não eram satisfatórias”.

O ministro da economia da Alemanha estava falando em 9 de outubro, logo após as previsões oficiais para o ano terem sido revisadas de um crescimento de 0,3% para uma contração de 0,2%.

É RECESSÃO! – Isso se seguiria a um declínio de 0,3% na produção do ano passado, o que significa que a Alemanha enfrenta sua primeira recessão de dois anos em mais de duas décadas.

A maior economia da Europa quase não avançou desde o início da pandemia de covid-19, ficando atrás do resto do mundo rico. Isabel Schnabel, do Banco Central Europeu, observou que o crescimento da zona do euro, excluindo a Alemanha, tem sido “notavelmente resiliente” desde 2021 e mais rápido do que o de muitas outras grandes economias.

Mas falar sobre a economia da zona do euro sem a Alemanha é como falar sobre a economia americana sem a Califórnia e o Texas. O país, que já foi um motor do crescimento europeu, tornou-se um estorvo.

VÁRIOS FATORES – É difícil imaginar uma confluência de circunstâncias pior para a economia alemã, que é dependente de exportações e tem um alto índice de manufatura, do que as que ela vem enfrentando desde 2021.

O aumento dos preços da energia ocorreu após a invasão da Ucrânia pela Rússia; agora, o excesso de capacidade industrial da China está causando estragos no exterior. Por mais reconfortante que possa ser culpar fatores externos pela fraqueza econômica, no entanto, os problemas da Alemanha são mais profundos, muitos deles de origem interna. Além disso, uma coalizão tripartite e frágil está dificultando a resposta política.

O PIB alemão no final de 2021 era apenas 1% maior do que o nível de quatro anos antes, em comparação com o crescimento de 5% no restante da zona do euro e mais de 10% nos Estados Unidos

SETORES EM CRISE – A produção industrial tem enfrentado dificuldades nos últimos anos. Os setores com uso intensivo de energia, como o químico, metalúrgico e de fabricação de papel, foram atingidos de forma particularmente dura.

Esses setores respondem por apenas 16% da produção industrial alemã, mas consomem quase 80% da energia industrial. Muitas empresas reagiram ao aumento dos custos de energia interrompendo a produção.

A mudança de padrões na demanda global é um problema maior para a maioria das empresas. Como observou a Pictet Wealth Management, a relação econômica da Alemanha com a China mudou.

ALEMANHA E CHINA – Na década de 2010, o crescimento dos dois países era complementar: a Alemanha vendia carros, produtos químicos e máquinas para a China, que, por sua vez, comprava bens de consumo e insumos intermediários, como baterias e componentes eletrônicos.

Agora, a China é capaz de produzir por si mesma grande parte do que antes era importado e, em alguns casos, tornou-se um sério rival para os mercados de exportação, principalmente no antigo produto básico alemão, os carros.

As empresas de manufatura, em muitos casos, conseguiram mudar para a produção de itens de maior valor, mesmo quando perderam participação no mercado. E, no ano passado, com a contração da economia em geral, o comércio continuou a contribuir para o crescimento, algo que parece que se repetirá este ano.

EUA rejeitam extradição de Allan dos Santos por considerá-lo perseguido político

O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos teve sua prisão determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A ordem foi expedida pela ação do aliado do presidente Jair Bolsonaro na articulação, pelas redes sociais, de ataques às instituições democráticas. Apesar disso, ele ainda não foi preso porque está nos Estados Unidos, mas sua extradição já foi determinada.

Moraes insiste, mas os EUA não extraditam o blogueiro

Sarah Teófilo
O Globo

O blogueiro bolsonarista Allan dos Santos teve sua prisão determinada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. A ordem foi expedida pela ação do aliado do presidente Jair Bolsonaro na articulação, pelas redes sociais, de ataques às instituições democráticas. Apesar disso, ele ainda não foi preso porque está nos Estados Unidos, que não aceitou o pedido de extradição.

O pedido de extradição do blogueiro segue com o governo americano sem uma definição. A última atualização do processo foi um pedido de informações adicionais por parte da Justiça dos Estados Unidos, que analisa os possíveis crimes apontados pela Justiça brasileira.

EMBASAMENTO – Esta análise busca embasamento na legislação americana ao que a Justiça brasileira diz que foram os crimes cometidos por Allan dos Santos. O pedido em relação ao blogueiro chegou ao governo americano em novembro de 2021, ainda sob a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, que era amigo do blogueiro.

Na época, servidores do Ministério da Justiça, onde fica o departamento responsável por pedidos de extradição, afirmaram em depoimento à Polícia Federal que sofreram pressões durante o inquérito.

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a prisão e extradição de Allan dos Santos em outubro de 2021, após pedido da PF, por suspeitas de atuação em organização criminosa, crimes contra honra e incitação a crimes, além de lavagem de dinheiro.

CRIMES DE ALLAN – Na ocasião, o ministro pontuou que Allan dos Santos divulgava conteúdo nas redes sociais com o intuito de atacar integrantes de instituições públicas, como os ministros do Supremo, colocar dúvida sobre o processo eleitoral brasileiro e gerar animosidade dentro da sociedade, “promovendo o descrédito dos Poderes da República, além de outros crimes, e com a finalidade principal de arrecadar valores”.

Segundo o ministro, a representação da PF apontava que o blogueiro era integrante de uma organização criminosa que obtinha vantagem econômica por meio da monetização de vídeos e de doações.

No entanto, em março deste ano, a Folha de S. Paulo divulgou que o governo dos EUA informou que não poderia extraditar o brasileiro por ações que, para eles, tratam de opiniões amparadas pelo direito à liberdade de expressão. Assim, o Judiciário americano só poderia analisar o caso em relação a outros crimes, como lavagem de dinheiro e organização criminosa.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como se vê, o ministro Alexandre de Moraes, aplaudido como maior responsável pela “salvação da democracia” brasileira, não consegue entender que os Estados Unidos respeitam a liberdade de expressão e, por isso, consideram que Allan dos Santos é perseguido político pelo governo brasileiro. Para a Justiça americana, quem está cometendo crime é a Justiça brasileira (leia-se: o Supremo). E como diria o Délcio Lima, até agora o único robô que deixou saudades, essa bagaça não vai dar certo… (C.N.)

Lira defende no Supremo a proposta que diminui o poder dos ministros

A verdadeira sorte de Lula é a biografia de Arthur Lira | Jornalistas Livres

Charge do Schrobbeler (Arquivo Google)

Cézar Feitoza
Brasília

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), afirmou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que a Proposta de Emenda à Constituição que proíbe a derrubada de leis por decisão individual de ministros é um aprimoramento do Judiciário.

“[A proposta] alinha o funcionamento do Poder Judiciário às necessidades do Estado democrático de Direito, promovendo um equilíbrio salutar entre os Poderes, sem, contudo, prejudicar a função de controle de constitucionalidade do STF”, disse Lira.

NO SUPREMO – As afirmações foram feitas em um processo que tramita no Supremo. O tribunal analisa um mandado de segurança impetrado pelo deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP) contra a votação da proposta.

A PEC 8/2021 faz parte de um pacote de propostas na Câmara que limita poderes de ministros do STF. As propostas saíram da gaveta na Casa após o ministro Flávio Dino suspender, em decisão individual, a execução das emendas parlamentares por falta de transparência.

A proposta foi aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara por 39 votos a 18. A PEC 8/2021 proíbe que ministros do Supremo derrubem por decisão monocrática (individual) leis aprovadas pelo Congresso.

SEM AFRONTA – Na manifestação ao STF, Lira refuta a tese de que a proposta seria uma afronta ao Judiciário. Ele diz que a aprovação do texto “em nada prejudicaria a jurisdição do Supremo Tribunal Federal”.

“Ao invés de tolher sua atuação, a proposta reforça o princípio da colegialidade, um dos pilares do sistema judiciário brasileiro, ao assegurar que decisões de grande impacto político ou social sejam apreciadas pelo plenário da Corte, garantindo um processo decisório mais robusto e democrático”, afirmou.

O presidente da Câmara ainda disse que a proposta garante “maior transparência” ao Supremo. A afirmação é feita em meio à insatisfação dos ministros da corte com a obscuridade do processo de distribuição de emendas parlamentares, usadas pelo Congresso como barganha política.

DISSE LIRA – “A proposta de emenda [constitucional] apenas propõe a introdução de mecanismos que visam a tornar a atuação do STF mais transparente e alinhada com os preceitos da colegialidade e da eficiência jurisdicional”, disse Lira.

O ministro Nunes Marques é o relator do mandado de segurança no Supremo. Ele espera a manifestação de todas as partes, como a AGU (Advocacia-Geral da União) e a PGR (Procuradoria-Geral da República), antes de tomar uma decisão.

Paulinho da Força apresentou outro mandado de segurança ao STF, para pedir que a corte trave o andamento da PEC 28/2024, que permite ao Congresso derrubar decisões da corte.

BARROSO É CONTRA – O presidente do tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, é um dos principais críticos ao pacote em análise na Câmara. O principal motivo de insatisfação é o conteúdo dessa segunda PEC.

“Me parece relativamente impensável um modelo democrático em que o Congresso possa suspender decisão do Supremo. O que o Congresso pode fazer legitimamente —e já fez— é, ao discordar de uma decisão do Supremo, aprovar uma emenda constitucional em sentido diverso. E, se essa emenda constitucional não violar cláusula pétrea [da Constituição], ela vale”, disse em entrevista à Folha.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A proposta do Congresso é superválida, porque limita as decisões monocráticas verdadeiramente vexaminosas. Mas quem se interessa? (C.N.)

Lula e Bolsonaro têm mais citações negativas do que positivas em São Paulo

Lula chega à eleição com vantagem em grupos majoritários, como mulheres,  pobres, pretos e católicos; Bolsonaro vai melhor entre mais ricos e  evangélicos

As imagens de Lula e Bolsonaro estão cada vez piores, diz Datafolha

Ana Luiza Albuquerque
Folha

O presidente Lula (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) despertam mais associações negativas do que positivas entre os eleitores da capital paulista, mostra nova pesquisa Datafolha. Quando perguntados qual a primeira coisa que vem à cabeça quando pensam no petista, 48% dos entrevistados fazem menções negativas e 39%, positivas.

No caso de Bolsonaro, o resultado é ainda pior: 58% o associam a referências negativas e 30%, a positivas.

SEM INDUÇÃO – A pesquisa foi espontânea, ou seja, o entrevistado citou sua primeira memória sem ter sido apresentado a uma lista de opções.

O Datafolha realizou 1.204 entrevistas na cidade de São Paulo, com pessoas de 16 anos ou mais, do dia 15 a 17 de outubro. A margem de erro máxima é de três pontos percentuais, para mais ou para menos, dentro do nível de confiança de 95%. A pesquisa está registrada na Justiça Eleitoral com o número SP-05561/2024.

As associações negativas mais comuns para Lula foram: bandido ou ladrão (13%); corrupção ou fraude (3%); péssimo (2%); mentiroso ou que divulga fake news (2%).

MENÇÕES A FAVOR – Entre as citações positivas em relação a Lula, as principais foram: bom ou melhor presidente (5%); simpatiza ou gosta dele (2%); apoia a população mais pobre (2%); bom trabalho ou governo (2%); ajuda o povo ou o país (2%).

No caso de Bolsonaro, as referências negativas mais citadas foram: péssimo (5%); não gosta dele ou não deixou saudades (4%); não foi um bom presidente (3%); gestão ruim (3%); doido ou insano (3%); bandido ou corrupto (2%); não votaria nele (2%).

Já as principais associações positivas foram: bom ou melhor presidente (7%); votaria nele (2%); bom trabalho (2%).

EM SÃO PAULO – O mesmo levantamento foi realizado a respeito dos candidatos à Prefeitura de São Paulo —o prefeito Ricardo Nunes (MDB), apoiado por Bolsonaro, e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), endossado por Lula.

A gestão é a principal referência mencionada em relação ao emedebista —seja por uma ótica positiva ou negativa. Já Boulos é mais associado a um desejo de mudança e a invasão de propriedades.

O congressista reúne mais menções negativas (43%) do que positivas (36%), enquanto o emedebista é mais lembrado positivamente (45%) do que negativamente (35%).

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
A pesquisa espontânea é a mais confiável, porque os levantamentos com listas de opções podem induzir o entrevistado. Por exemplo, deve-se perguntar “em que você vai votar?”, ao invés de “entre esses candidatos, qual é o seu preferido?”. Essa pesquisa Datafolha é muito importante e merece ser analisada em profundidade. Depois voltaremos a ela. (C.N.)  

Corte de gastos reduz os direitos dos pobres e poupa supersalários das elites

Tribuna da Internet | Pagos para garantir a lei, juízes furam o teto para inflar seus próprios salários

Charge reproduzida do Arquivo Google

Elio Gaspari
O Globo/Folha

O escurinho de Brasília produz ideias malucas para arrecadar, condição necessária para gastar mais. Primeiro, soltaram a jogatina eletrônica, para que as empresas avaliassem o potencial do mercado. Esperavam arrecadar R$ 3,4 bilhões vendendo outorgas. Deu no que deu. Agora a novidade é um projeto de tunga no seguro-desemprego.

A ideia é ardilosa. Trata-se de pagar menos a pessoas que são demitidas sem justa causa e, por isso, recebem do empregador um adicional de 40% sobre o valor do fundo de garantia.

UM EXEMPLO – Em tese, pegaria só trabalhadores que ganhavam mais de quatro salários mínimos (R$ 5.648). Num exemplo hipotético, esse bilionário, demitido sem justa causa, receberia R$ 6.900 por conta da multa sobre seu FGTS e teria direito a cinco parcelas de R$ 2.300.

Com a mudança, ficaria só com duas parcelas do seguro-desemprego. Tomaria uma tunga equivalente à multa, que saiu do bolso do empregador. Com a mágica, o governo economizaria R$ 5,6 bilhões.

Avançar no dinheiro dos desempregados é uma covardia social. Misturar o FGTS e a multa, que são um pecúlio do trabalhador, com o seguro-desemprego, que é uma política social, beira a noção de confisco.

MOTIVO DE ORGULHO – Esse tipo de fúria fiscal levou a uma descoberta: o seguro-desemprego de quem ganha acima de R$ 2.824 custa R$ 15 bilhões. Isso deveria ser motivo de orgulho. É esse dinheiro que socorre o orçamento de milhões de pessoas quando perdem seus empregos. Nesse bloco de bilionários (para a ekipekonômica), estão 23% dos beneficiários do seguro-desemprego. Só 0,66% deles ganhavam acima de dez salários mínimos.

É um exagero supor que a classe média comece com rendimento acima dos R$ 2.824, mas vá lá. Arma-se uma tunga sobre os desempregados que ganhavam salários baixos e, em seguida, morde-se toda a classe média desocupada.

CONTEM OUTRA… – O governo quer equilibrar suas contas. Há duas maneiras: arrecadando mais ou gastando menos. Descobriram que gasta-se muito com os desempregados.

A gracinha foi posta em circulação, casada com a ideia de conter os supersalários de servidores públicos. Contem outra, doutores.

Uma boa ideia seria transformar em serviço gratuito a presença de hierarcas em conselhos de empresas estatais. Em março, 17 dos 38 ministros complementavam seus salários de R$ 41 mil caindo de paraquedas nesses conselhos, muitas vezes sem grande qualificação.

CEREJA DO BOLO – Quatro deles têm cadeiras na Companhia de Gás do Rio. A cereja desse bolo está na Itaipu Binacional. Lá, cinco ministros recebiam R$ 26 mil por mês por seis reuniões anuais. Em matéria de exemplo de austeridade, essa gambiarra é um primor.

A mágica da tunga em cima dos desempregados vem sendo cozinhada na periferia da ekipekonômica e depende da aprovação de Lula. É difícil que prospere, mas a seu favor sopra um vento de Brasília: toda vez que o governo pensa em morder o andar de cima, fracassa, mas quando pretende morder o andar de baixo, consegue.

No governo de Jair Bolsonaro, pensou-se em tungar os desempregados cobrando-lhes a contribuição previdenciária. Era tunga e, como a liberação de cassinos, não prosperou.

Supremo vai “legislar” sozinho para estabelecer censura às redes sociais

dedemontalvao: Supremo Tribunal Federal, da crítica à autocrítica feita pelo ministro Barroso

Charge do Nani (nanihumor.com)

André Marsiglia
Poder 360

Em 27 de novembro, o STF vai julgar ações que, na prática, legislarão sobre as redes sociais. Antecipo ao leitor o que acontecerá: o PL 2.630 de 2020, de Orlando Silva, chamado PL das fake news ou da censura, embora rejeitado pelo Congresso, foi adotado pelo TSE nas últimas eleições municipais, sob o nome de “Resolução 23.732 de 2024”.

Como TSE e STF são um casal moderno que se frequenta, embora more em casas separadas, é mais que óbvio que o PL das fake news adotado pela Corte eleitoral será o guia da regulação promovida pelo STF. 

PODER DE POLÍCIA – Se é isso que vai acontecer, pergunta o leitor, qual o risco? É total. No PL das fake news, por exemplo, o que era chamado “dever de cuidado”, passou a ser chamado na resolução de “poder de polícia”.

Ou seja, o recorta e cola da Corte é mais agressivo e, portanto, mais censório que o PL capitaneado por Orlando Silva.

Um dos artigos mais nocivos do PL 2.630 de 2020, replicado no artigo 9-E da resolução, obriga as plataformas a retirar sem ordem judicial conteúdos desinformativos.

E O MARCO? – O artigo simplesmente ignora o Marco Civil da Internet, que determina a exclusão de conteúdos só com ordem judicial.  Vale dizer que foram justamente pedidos de exclusão sem ordem formal que azedaram a relação de Musk com Moraes, resultando na suspensão do X, conforme noticiado nas reportagens da Folha de S.Paulo sobre mensagens vazadas do gabinete do ministro.  

Como se não bastasse, o conceito de desinformação não está legislado. Portanto, a plataforma obrigada a excluir desinformação, receando ser multada, preferirá excluir qualquer conteúdo: voilà, censura à vista!

Na verdade, será a terceirização da censura para plataformas amedrontadas por multas e suspensões. 

CASO DO X – Não deixa de ser curioso que o X foi suspenso sob o argumento de preservarmos nossa soberania, mas as Cortes entregarão a essas mesmas plataformas estrangeiras a função de fazer o trabalho de legislador e juiz a respeito da desinformação.   

Mas nada disso importa. O STF é um trator afobado que só enxerga inteligência na cabeça de seus próprios ministros. A regulação censória está feita.

Restará torcer para que ocorra sem pedidos de vista ou votos arrastados.  Assim, os legisladores poderão, em seguida, começar a trabalhar a sério em uma regulação que conserte erros, abusos e censuras, que certamente serão a tônica do julgamento de um Supremo que já demonstrou diversas vezes odiar a liberdade de expressão nas redes sociais.