Golpe de 1964 é imperdoável, mas precisa ser colocado no passado

Imagem em preto e branco de policial fardado, de costas, segurando um cassetete. Ao fundo, manifestantes contra a ditadura militar -- Metrópoles

Reprodução de foto de Orlando Brito 

Mario Sabino
Metrópoles

Como cidadão, o que tenho a dizer neste 8 de janeiro é que tanto a esquerda como a direita precisam colocar 1964 no passado. No passado da história que precisa ser lembrada para não ser repetida e não no passado do ressentimento que se retroalimenta de vingança.

Nenhuma atrocidade deve ser perdoada no plano pessoal, seria exigir o impossível dos que tiveram gente torturada, morta, desaparecida e as suas vidas despedaçadas, como a família de Rubens Paiva, assassinado covardemente e cujo corpo não teve direito a um enterro.

SEGUIR ADIANTE – A ditadura militar usou o poder do Estado brasileiro para cometer crimes, e isso continuará a ser inadmissível. Todos os seus delitos precisam ser reparados, embora não haja reparação total que dê conta da dor infligida a quem ficou.

É forçoso, porém, que haja compromissos políticos que permitam ao país seguir adiante sem solavancos. Se a Lei da Anistia não foi suficiente para tanto, que se faça uma repactuação sem vendetas de parte a parte.

A Lei da Anistia assinada pelo general João Baptista Figueiredo foi o resultado possível, imperfeito e injusto de uma campanha popular que abriu caminho para o fim da ditadura. Mas aquele era um país que buscava apaziguar-se, apesar de todas as feridas lancinantes, o avesso do que temos agora.

SOLUÇÃO ERRADA – Revogar a Lei da Anistia com simples canetadas ministeriais não colocará 1964 no passado que precisa ser lembrado para não ser repetido. Pelo contrário. Irá mantê-lo como espectro.

Há outro ponto vital para acalmar os ânimos: a democracia brasileira não pode ser monopólio de uns poucos, tem de valer a pena para todo mundo.

Nunca foi fácil fazer isso, mas parece cada vez mais difícil.

5 thoughts on “Golpe de 1964 é imperdoável, mas precisa ser colocado no passado

  1. Isto mesmo. Mas o apoio às atrocidades hodiernas, apesar de falas soltas de líderes do governo, sendo presente e não passado, é impossível de ser colocada na sacola da História, o que não é esquecimento.

    Um gesto fala o que as falas tentam esconder.

    https://www.cartacapital.com.br/cartaexpressa/lula-defende-postura-sobre-o-governo-de-maduro-a-venezuela-e-um-problema-dos-venezuelanos/

    https://www.cnnbrasil.com.br/politica/revogacao-de-honraria-concedida-por-lula-a-bashar-al-assad-avanca-na-camara/

    https://www.cnnbrasil.com.br/politica/deputado-federal-do-pt-aparece-em-foto-ao-lado-de-porta-voz-do-hamas/ versus https://pt.wikipedia.org/wiki/Pena_de_morte_na_Faixa_de_Gaza

    https://www.gazetadopovo.com.br/republica/tres-vezes-em-que-o-governo-lula-apoiou-a-teocracia-do-ira/ versus https://jovempan.com.br/noticias/mundo/mais-de-30-mulheres-foram-executadas-no-ira-em-2024-o-maior-indice-em-16-anos.html

    https://diariodopoder.com.br/brasil-e-regioes/lsf-brasil/lider-terrorista-do-houthi-elogia-lula-por-insultos-a-israel versus https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2024-03/houthis-condenam-homossexuais-morte-por-crucificacao-e-apedrejamento

    https://www.cnnbrasil.com.br/politica/abraco-da-democracia-veja-imagens-aereas-desse-momento-em-memoria-ao-8-1/ versus https://brasil.elpais.com/brasil/2021-11-10/pt-celebra-eleicao-fraudulenta-de-ortega-na-nicaragua-mas-volta-atras-e-tira-nota-do-ar.html

    E mais dezenas de apoio entusiastas de ditaduras anticivilizacional, uma das características do decrépito lulobolsonarismo..

    Não é hipocrisia, é esta posição mesma.

    • Golpes oriundos de uma mesma fonte, tem um só significado:
      Permitido avanço multilateral da maré vermelha, aparelhados por infiltrados e LOCUPLETOS mercenários, garantidos por prémios indenizatórios, anistias e pensões.

  2. No passado a Ditadura já está, como a Ditadura Vargas também.
    Esquecer jamais, porque pode voltar como farsa e muito mais letal.
    Tanto, que a versão: Ditadura Militar de 64 número 2, quase assombrou a sociedade brasileira, no final de 2022.

    Livros foram escritos aos borbotões, sobre o período medieval da Ditadura de 64. Cito dois emblemáticos: A versão da filha do general Olímpio Mourão, chamado pelos seus pares de ” vaca sagrada” e Ditadura Envergonhada, escrita pelo jornalista Élio Gaspari.

    A Ditadura planejada e iniciada sua execução, nos eventos de dezembro de 2022, com a desordem no dia da diplomação dos eleitos, em 12 de dezembro de 2022, em Brasília, a tocaia para assassinar o Ministro do TSE, em 15 de dezembro de 2022 e a bomba instalada num caminhão de combustível no aeroporto de Brasília, no dia 24 de dezembro, são três exemplos clássicos de que não se tratou de tentativa, como querem nos fazer crer.

    O filme : Ainda Estou Aqui, jogou uma luz na escuridão.
    O enredo muito bem elaborado pelo cineasta Walter Salles, nos dá uma prévia, do que seria executado por generais e coronéis, alguns presos, que estavam com sangue nos olhos.
    Entrariam nas nossas casas para levar o pai, a mãe e filhos, sem nenhuma culpa formada, sem decisão judicial, e jogariam em celas imundas para serem torturados, mortos e seus corpos desaparecidos, jogados ao mar, enterrados em vala comum, para nunca mais aparecer, nem vestígios ver seus corpos.

    No filme, a família do deputado cassado e engenheiro Rubens Paiva, foi destruída, arrasada, destroçada. Desde o desaparecimento, no governo do general Garrastazu Medici ( 1970-1974), o atestado de óbito, só foi concedido pelo Estado, no governo Fernando Henrique Cardoso.

    Não podemos esquecer, nem viver novamente essa tragédia, que destrói famílias e divide a nação brasileira.

    Nenhuma Ditadura é boa. Todas as Ditaduras são sanguinárias, e não respeitam as Constituições e as Leis.

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