Se Trump expulsar todos os imigrantes, os EUA podem param de funcionar

Caravana de migrantes avança para os Estados Unidos | Agência Brasil

Os imigrantes são uma importante forca de trabalho

Leonardo Sakamoto
do UOL

Os Estados Unidos, apesar de adotarem políticas para barrar a imigração não-autorizada e deportar migrantes, sabem que dependem dela para ajudar a regular seu custo da mão de obra. Até porque é cômodo deixar uma massa de pessoas ao largo dos direitos, mas com muitos deveres. Mais cômodo ainda é perseguir essa massa, tornando possível pagar ainda menos a ela.

A perseguição contra os migrantes cria um inimigo externo, fonte de todo o medo, que é útil para a estratégia de Donald Trump. Até porque ele não consegue resolver os problemas de saúde, habitação e inflação no curto prazo. Com isso, vai empoderando fascistas e neonazistas que se sentirão livres para caçar pessoas pelas ruas. Afinal, elas são consideradas “ilegais”.

Não todos os migrantes, claro. Loiros de olhos azuis podem até ser pegos, mas não serão o alvo prioritário.

OS MAIS POBRES – Trump vai dificultar – e muito – a vida da parte mais pobre dos migrantes justamente em um país que se tornou o que é por conta dessas pessoas. Mas, em algum momento, declarará “vitória” sem ter atingido o seu objetivo. Porque toda essa mão de obra é fundamental para garantir o American Way of Life.

Vamos por partes. Não existe “imigrante ilegal”. Pois não existem seres humanos ilegais. O que temos, por força das fronteiras, são pessoas que não possuem os documentos de entrada ou de trabalho exigidos por um país ou um bloco de países.

Ou que estão em situação de migratória considerada irregular. Essa distinção parece uma “fresta” conceitual, uma “frescura do politicamente correto”. Contudo, esconde um abismo.

A FORÇA DAS PALAVRAS – Às vezes, esquecemos que a escolha das palavras que usamos, consciente ou inconscientemente, não é aleatória. Diz muito sobre a forma como vemos o mundo e nos relacionamos com ele. Ou como fomos ensinados, formados ou doutrinados a legitimar situações como se fossem algo normal. Afinal, se o diabo está nos detalhes, o inferno são as entrelinhas da nossa fala.

Por exemplo, o que é “migrante” ou o “refugiado”? O forasteiro que vem de fora roubar nossos empregos e destruir nossa cultura? Ou aquele que deixa sua casa tentando uma vida melhor ou mesmo sobreviver por desalento ou esperança?

Na maior parte dos países, eles encorpam as favelas e bolsões de miséria das grandes cidades ou vivem em acampamentos rurais e alojamentos nas grandes cidades, cumprindo o papel da necessária mão de obra barata e informal que ajuda a manter o preço em baixa e os lucros em alta.

PILHANDO E POLUINDO – Corporações de países ricos ou em desenvolvimento superexploram territórios na periferia do mundo, pilhando e poluindo, ou seus governos promovem conflitos armados em nome de recursos naturais ou interesses geopolíticos.

Comunidades inteiras sofrem com isso e são obrigadas a deixar suas casas. Daí, vão bater às portas de países ricos ou em desenvolvimento, que não os recebem de braços abertos, apesar de serem cúmplices do sistema que os expulsou.

Quantos casos vocês não viram na imprensa de multinacionais que expulsaram comunidades na África, Ásia e América do Sul, com a ajuda do governo local, para a utilização do território, levando a um êxodo que foi bater às portas do próprio país de origem da empresa? Ou seja, levam chumbo em sua terra natal e na fronteira do país de destino.

NÃO HÁ CULPA – Em todo o mundo, culpamos os migrantes por roubar empregos, trazer violência, sobrecarregar os serviços públicos porque é mais fácil jogar a responsabilidade em quem não tem voz (apesar de darem braços para gerarem riqueza e pagarem impostos para o lugar em que vivem) do que criar mecanismos para trazê-los para o lado de dentro do muro que os separa da dignidade.

A mobilidade não deveria ser criminalizada. Afinal, se o capital não vê fronteiras, os trabalhadores também não deveriam morrer afogados ou à bala enquanto tentam ultrapassá-las.

Qualquer pessoa que estuda migração sabe que o fluxo de gente pobre e indocumentada tem sido fundamental para a economia do centro rico do mundo.

TAMBÉM NO BRASIL – No Brasil, não são muitos os que defendem o fechamento total de nossas fronteiras para refugiados e a expulsão sumária de migrantes sem documentos de permanência por aqui. Por outro lado, é crescente a quantidade daqueles que acreditam que eles roubam empregos e pioram a crise. Ou que caem no conto da notícia falsa que diz que o Brasil vai gastar bilhões com Bolsa Família para refugiados, tirando da boca dos nativos.

Pouco antes da sanção da nossa Lei de Migração, grupos de extrema direita realizaram microprotestos em cidades como São Paulo, usando os mesmos argumentos que reduzem migrantes pobres a ladrões e traficantes.

Diziam que o país se transformaria no caos com a mudança da lei, seguindo o que há de pior na narrativa nacionalista ultraconservadora, que tenta fazer com que a Europa e os Estados Unidos se tornem uma sucursal do inferno.

6 thoughts on “Se Trump expulsar todos os imigrantes, os EUA podem param de funcionar

  1. Sakamoto parece gostar muito de ouvir a própria voz. É outro da seção de Passatempo.

    _____________

    Bolsonaro inelegível e enfraquecido por investigações

    Acossado pelas investigações da Polícia Federal e pela possibilidade de ser condenado e preso, Bolsonaro vê diluir seu poder de comandar a oposição a Lula.

    Bolsonaro viu emergir várias lideranças políticas incômodas para seu clã.

    Pablo Marçal e Nikolas Ferreira são dois dos exemplos mais destacados de figuras que sugiram para rivalizar por atenção e votos com Bolsonaro. E eles não estão sozinhos.

    Marcos Pontes lançou candidatura própria à presidência do Senado à revelia de Bolsonaro, e manteve o projeto de pé mesmo diante de pesadas críticas públicas do clã Bolsonaro, mais preocupado no momento com a divisão de poder no Congresso Nacional.

    Além disso, outros aliados já admitem, em caráter reservado, que podem iniciar um movimento de desembarque daquilo que o Brasil se acostumou a chamar de bolsonarismo.

    Com Bolsonaro inelegível até 2030 e acossado por uma série de investigações policiais, também despontam como alternativa Tarcísio de Freitas, e até Gusttavo Lima, que lançou no ar a ideia de disputar a Presidência em 2026. A fila é ainda mais longa.

    Ronaldo Caiado é outro que disputa seu quinhão e promete circular o país a partir de março, de olho nessa faixa do eleitorado.

    Além de possível candidatura presidencial do governador do Paraná, Ratinho Júnior, e do governador de Minas Gerais, Romeu Zema, mais discreto.

    Fonte: O Antagonista/Cruzoé, 31.01.2025 10:10

    • O comentarista político Sakamoto parece boa gente, de boa índole, ‘bom rapaz’ diria Wanderley Cardoso.

      Mas, malfadadamente, “a política é a guerra continuada por outros meios”, afirmou Foucault.

  2. Discursinho mequetrefe de típico passador de pano pra Velha República Tardia.

    Os deportados não são supostos, mas criminosos mesmo. Pelo menos pelas leis de lá. Este foi um trunfo do Trump contra a reação dos presidentes bananeiros corruptos.

    Trump fez chacota comcas algemas dizendo se um piloto sentiria-se seguro num avião lotado de criminosos livres, leves e soltos.

    Quanto ao impacto na oferta de mão-de-obra vai depender da extensão das deportações para além dos criminosos. Musk propõe manter a mão-de-obra especializada.

    Como recordar é viver. Lembremos da socialista Cuba, lembrando que havia criminosos de todas as matizes neste êxodo.

    https://brasil.elpais.com/brasil/2015/09/13/internacional/1442113548_063090.html

  3. Ao contrário do faraó, “também egípcio”, Trump libera o êxodo de retorno dos que haviam desacreditado nos mentirosos e corruptos faraós de nossos quintais!
    Que voltem e exijam as mudanças!

  4. Se alguém tem a paciência e caridade de ler algum de meus pitacos, deve ter observado que quase sempre que comento ou critico a possibilidade de domínio mundial pela extrema direita, acostumo a questionar o que fariam com os pobres… o Trump está respondendo: Eliminem o problema!!!

  5. Trump cumpre o que prometeu. Cumpre normas, leis e Constituição. Coisa (conduta) que virou desinteressante no Brasil, onde tudo “está de ponta cabeça”. Não há e nunca houve perseguição a imigrantes. É preciso ordem, disciplina, como diria o Doutor Eneas Carneiro.

    E aplicar leis (justas) sempre será um começo ideal. Aqui, na filial, aplaudem quase tudo que contraria leis e CF. Muita gente aplaude. Quando depara com aplicação de lei (em outro país) ainda querem dar pitacos. São “opiniões” de intrometidos e de especialistas em coisa alguma, formados na FOCU – Faculdade de Olho do C*.

    Outra coisa importante: Kamala Harris (um exemplo), filha de imigrantes, quase virou 1ª mulher presidente dos EUA.
    “Registros da Imigração dos Estados Unidos revelam que, antes do nascimento do filho, o pai do presidente Barack Obama pensou em entregá-lo para adoção, segundo reportagem do jornal “Boston Globe”. Documentos relacionados ao caso foram obtidos pela repórter Sally Jacobs, autora do livro “The Other Barack, the Bold and Reckless Life of President Obama’s Father” (“O outro Barack: a obscura e imprudente vida do pai do presidente Obama”, em tradução livre)”.
    Barack Obama virou presidente em dois mandatos nos EUA.

    “Se Trump expulsar todos os imigrantes, os EUA podem parar de funcionar”. “Me ajuda aí…”, diria o Datena.

    Ninguém vai expulsar (todos) os imigrantes não, cara pálida. Dos 11 milhões de imigrantes ilegais que vivem em território dos EUA atualmente, cerca de 230 mil são brasileiros, segundo dados do Pew Research Center, um laboratório de ideias localizado em Washington, D.C., que fornece informações sobre questões, atitudes e tendências que estão moldando os EUA e o mundo. Ou seja, os dados revelam uma população como a de Cuba dentro do Estado Americano.
    Uma força de trabalho está nesse meio, que seguem regras, leis e Constituição Americana. Tudo bem pra eles. Os EUA possuem (e seguem) os mecanismos adequados (democráticos) para “separar o joio do trigo”, distinguindo o que é bom e ruim para o país. Como em muitas nações sérias, lá não é “casa da mãe Joana”, como também não deveria ser aqui. Entretanto, aqui, tudo confuso, onde tudo pode acontecer, onde a desorganização virou regra. Reina a baderna institucionalizada.

    Direito dos EUA e qualquer outra país.

    A pessoa que está no país sem a devida autorização, tanto nos EUA como no Brasil, ou com o visto vencido, convenhamos, está em situação irregular. Sem visto, piorou. Pronto, ponto pacífico, torna-se fundamental regularizar a situação e corrigir essa infração, que não é crime, mas se trata de uma irregularidade sanável. Desde de que o imigrante queira saná-la. Os Estados Unidos representa a liberdade e oportunidade, mas existem critérios. Siga-os e tudo estará bem.

    Desde de sua formação os EUA representa a maior democracia do mundo, com sólida Constituição e liberdades individuais e coletivas respeitadas. Na legenda da imagem na matéria: “Os imigrantes são uma importante forca de trabalho”. “Óbvio ululante”, como diria Nelson Rodrigues. Os EUA tem a maior democracia do mundo justamente pelas oportunidades para todo aquele que deseja vencer, prosperar, com respeito a lei, ordem e Constituição. Quem entrou e entra dentro das regras sempre será bem recebido.

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