Governo tem mais poder que a oposição, mas não sabe o que fazer… 

Sidônio vai se virar para reverter queda de popularidade

Dora Kramer
Folha

Posse de chefe da comunicação oficial com a presença do presidente da República e o ministério em peso não é algo habitual, muito menos trivial. Muitos ministros não tiveram a mesma deferência ao assumir seus cargos.

Claríssimo o recado de Lula na sinalização de que Sidônio Palmeira está autorizado a dar as cartas à equipe toda. Foi só um detalhe, mas não fugiu às imagens da cerimônia o semblante sisudo da normalmente sorridente Janja da Silva.

EFEITO PIX – O tamanho da importância foi logo abalroado pela enormidade da derrota do governo na área, logo na largada com a trapalhada do Pix.

O cancelamento da normativa da Receita Federal sobre o monitoramento da ferramenta nas transações acima de R$ 5.000 piorou a coisa do ponto de vista político, mas não havia outro jeito a não ser estancar a sangria da qual o governo viu-se vítima de si próprio. Reconheceu a incapacidade de reagir.

No discurso de posse, Sidônio Palmeira apontou como o principal entrave à falta do devido reconhecimento das boas ações do governo por parte da população: as mentiras difundidas pela “extrema direita” nas redes sociais.

CORTINA DE FUMAÇA – Segundo ele, esse pessoal manipula os fatos, cria uma “cortina de fumaça” que impede a correta e real percepção das eficientes ações governamentais.

Sidônio Palmeira se propõe a dissipar essa névoa e alerta que a tarefa deve ser compartilhada por toda a Esplanada no entendimento das novas demandas da sociedade.

Espera aí, mas a culpa não era dos radicais, não está tudo bem, bastando que se combata a desinformação para ficar melhor? Não parece que seja bem assim.

HÁ ALGO MAIS – Nas entrelinhas, nas quais citou de raspão a necessidade de se aliar política e gestão eficientes, o novo ministro passou a mensagem de que há algo mais a ser vencido além da batalha da comunicação.

É verdade, como ele disse para exemplificar, que os pais “precisam saber que há vacina no posto para seus filhos”. Ocorre, porém, que ficam sabendo também do aumento de 400% nos casos de dengue e da confusa atuação da Saúde na epidemia.

Pais e filhos tampouco percebem, porque não há uma disposição de enfrentar o tema da segurança pública à altura da ameaça do crime organizado à soberania nacional. Não foge, no entanto, à percepção das famílias a alta da inflação dos alimentos.

CRISE DE CONFIANÇA – O governo dá pouca atenção a isso ao não reconhecer sua participação na crise de confiança no equilíbrio das contas e põe peso maior em secas e enchentes. Maquiagem da verdade é grave na oposição, mas não rende grandes danos.

Quando parte de governos o bem solapado é a credibilidade que bate direto na popularidade. É este o fator que desconcerta o Palácio do Planalto e o faz despertar com atraso de dois anos para o fato de estar perdendo no debate público. As pesquisas de opinião dizem isso.

Levantamentos de sete institutos —Datafolha, Poder Data, Ipec, Quaest, CNT/MDA, Paraná e Atlas/Intel— mostram contínua perda de aprovação e constante aumento de desaprovação do governo e do desempenho do presidente Lula, das primeiras às mais recentes consultas.

REVERTER ISSO – Da inversão dessa curva depende o sucesso do PT em 2026. E não se trata só da disputa pela Presidência, com reeleição ou não. Há as eleições de governadores, senadores e deputados. Tarefa difícil à luz do desempenho da esquerda em 2024.

Já que atribui o panorama adverso às invencionices de internet, Lula poderia ter-se dado conta antes, pois não são exatamente uma novidade.

Além disso, o governo detém maior poder e mais instrumentos e visibilidade frente à oposição para emplacar a chamada narrativa que por ora não tem soado convincente.

Sinto vergonha alheia ao ouvir que Donald Trump seria o demônio

A charge faz referência à posse do presidente nos Estados Unidos

Charge de Peter Brookes (Arquivo Google)

Luiz Felipe Pondé
Folha

Assistir à reação infantil de grande parte da inteligência pública à vitória e posse de Donald Trump é uma humilhação. Sinto vergonha alheia. Trump é o grande demônio. Trump é a reencarnação de Darth Vader. Elon Musk é neonazista. Vivemos o apocalipse. Oh, céus, oh, azar! Parecem personagens de antigos desenhos animados que amaldiçoavam o mundo por terem perdido uma corrida para um coelho com pernas longas.

O que teria acontecido para essa classe intelectual ter virado café com leite? Professores ruins e gurus? Má alimentação na primeira infância? Apanhou muito dos pais? Ou foi mimada demais em casa e na escola? Depois de virar adulta, continuou a acreditar em bicho papão?

SENSO COMUM – Não ocorreu a nenhum desses intelectuais se perguntar, por exemplo, o que Trump quis dizer no seu discurso, cheio de hipérboles e blábláblá como todo discurso de político, com “revolução do senso comum”?

Não ocorreu a nenhum desses gênios do bem se perguntar, afinal de contas, qual a razão de a maioria dos americanos ter dado a vitória a ele e ao seu partido? Um conjunto de razões, sem dúvida, entre elas, os costumes, estúpido! Ou seriam todos membros do lado sombrio da força?

Estariam de saco cheio do Partido Democrata que se transformou numa agremiação de riquinhos das elites letradas americanas e, por isso mesmo, alienado da realidade do senso comum para quem só existe homem e mulher no mundo e bandido bom é bandido na cadeia?

ESTRAGO CULTURAL – Para a maioria, o mundo sempre foi um palco em que a contingência assola todos a cada dia e não tem tempo para os delírios que, infelizmente, destruíram a inteligência acadêmica americana que vive no seu chiqueirinho?

Como disse um comediante americano recentemente, o Partido Republicano, depois do estrago cultural causado pela agremiação citada aqui, acabaria por ter de decidir que nos Estados Unidos um mais um são dois, e não 2,5 ou 1,5, na dependência da raça ou gênero de quem fizesse a conta.

Nem mesmo a matemática está a salvo depois da devastação que essa cultura da esquerda Nutella tem causado no mundo das ciências humanas.

IDEIAS ABSURDAS – Na teologia, uma hora dessas dirão que Cristo era gênero fluído e Madalena uma mulher trans. Como você pensa que o senso comum cristão reagiria a uma “teologia progressista” como essa? Você não precisa ser supremacista, fascista, nazista ou comedor de criancinhas —no sentido antigo da expressão— para achar uma ideia dessa um abuso.

Para quem quer entender o que se passa no mundo hoje, em vez de ficar nesse “mimimi” de fascismo, neonazismo, Darth Vader, o retorno, como crianças mimadas que não ganharam do Papai Noel o “presidente do mundo” que queriam, o primeiro passo é prestar atenção nessa aparente revolta do senso comum. Isso pode ser um caminho.

Se aqui no Brasil a esquerda abusar demais dessas bobagens que transformaram as ciências humanas num lixo, uma revolta como essa poderá ocorrer.

CULTURA HERDADA – O que a esquerda americana quer fazer é criar um “novo” senso comum. O problema é que o senso comum não é algo que a engenharia social, paradigma da esquerda, consegue fazer acontecer. Valeria a pena estudar mais, talvez.

O filólogo irlandês E. R. Dodds (1893-1979), especialista na religião grega antiga, fazia uso de um conceito que fora cunhado por seu professor Gilbert Murray (1866-1957), também especialista em língua e história da religião grega antiga, que se chama “conglomerado cultural herdado”.

O senso comum é parte desse conglomerado herdado. O processo de constituição de um fenômeno histórico dessa monta se dá ao longo de muito tempo. Nada linear, planejado, ou racional, um conglomerado herdado se constitui a partir de fontes e experiências psicológicas, sociais, políticas, econômicas ou religiosas acumuladas, que comportam, inclusive, componentes no seu corpus que entram em frontal contradição uns com os outros.

NÃO EXISTE MODELO – Isso significa que não há “modelo” de engenharia social que “compreenda” a totalidade interna ao conglomerado. Formam-se camadas que se superpõem ao longo dos séculos, desenhando um relevo que não responde a projeto específico nenhum.

A aposta da esquerda tem sido usar os meios de comunicação e a educação para destruir esse senso comum e criar o seu que todos, “democraticamente”, deverão aplaudir. A modernidade é uma “tentativa” de ruptura radical, que, aliás, não vai nada bem como projeto iluminista —eurocêntrico?— diante de um tempo geológico que lhe escapa.

Não há critério objetivo de bem e mal num conglomerado herdado —nem no senso comum, parte do conglomerado. Aliás, é ele quem cria a sensação ilusória de que exista uma moral no mundo.

Confiança e legitimidade são as verdadeiras crises do governo Lula

Janja reclama que está incomodada, mas quando Lula vai ouvi-la? | Blogs |  CNN Brasil

Janja explica a Lula que assim não dá mais para levar

Carlos Andreazza
Estadão

O governo Lula recuou – decisão nada técnica – porque sem meios de lidar com uma crise que, para muito além dos problemas de comunicação, tem fundamento na desconfiança. Porção gigantesca da sociedade não acredita no governo, sobretudo quando a matéria sugere-projeta o tema impostos. É uma crise de confiança.

Isso tem origem – carregando a memória popular – no episódio “taxa das blusinhas”. Mudou-se a tributação para importações miúdas. Em vez de se explicar as razões tributárias da mudança e justificar suas implicações no bolso das gentes, botou-se o bloco oficial na rua para defender que o consumidor não pagaria mais pelos produtos. O consumidor passou a pagar mais pelos produtos.

TOMAR DINHEIRO – Crise também de identidade. Lula não conhece mais as pessoas; não lhes consegue tomar o pulso. E as pessoas, cujos interesses o presidente desconhece, estão convictas de que o governo se move para lhes tomar o dinheiro.

As pessoas não estão erradas. Sabem que o Pix não será taxado. (Ainda.) Sabem que a CPMF (ainda) não voltou. Não estão sendo enganadas pela exploração política – legítima – do caso pela oposição. (Ainda não é crime.)

Entenderam que se trataria de acirramento de controle sobre suas movimentações financeiras e – subsidiadas pela história – estão convencidas de que esse monitoramento resultaria na imposição de imposto de renda sobre a economia informal.

É A INTENÇÃO – As pessoas estão certas. Essa é a intenção, que o governo sonega. O governo não derrubou a instrução normativa da Receita Federal porque distorcida-minada pela indústria fascista das fake news.

Derrubou a norma porque sentiu o peso da impopularidade encarnada na certeza popular de que o cerco expandido do Fisco – que parece ter metas – jogaria imposto no lombo do trabalhador que vende almoço para poder jantar, esse sonegador.

A certeza popular está certa. O governo que reage acusando mentiras recuou porque é ele – o governo – o entendido como enganador.

SEM LEGITIMIDADE – É uma crise de legitimidade. Rejeita-se a natureza do governo Lula. Questão estrutural. Rejeita-se o esquema materializado no arcabouço (natimorto) fiscal.

O governo – que se jacta de sucessivos recordes de arrecadação – é percebido como catador voraz de moedas, raspador de qualquer resto de dinheiro esquecido. Gasta muito e mal. Endivida-se. Não consegue equilibrar as contas. Donde se lança com tudo para cavar receitas. Também – e especialmente – sobre os mais pobres. Governo injusto.

A sociedade despreza essa estratégia covarde. A do governo que, incapaz de se articular e fazer carga para cortar a farra de benefícios fiscais aos ricaços, aponta o seu apetite sobre o ganho curto do ferrado.

BC de Galípolo esquece Lula e eleva os juros a 13,25% ao ano

Juros

Charge do J.Bosco (O Liberal)

Nathalia Garcia
Folha

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cumpriu o plano traçado em dezembro e elevou nesta quarta-feira (29) a taxa básica de juros (Selic) em um ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano. Essa foi a primeira reunião sob o comando de Gabriel Galípolo – nome de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A decisão foi unânime entre todos os membros do colegiado.

No comunicado, o comitê reafirmou a sinalização de que pretende fazer mais uma alta da mesma intensidade na próxima reunião, em março, citando a “continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação”. No entanto, evitou se comprometer com qualquer ritmo de ajuste em maio.

POLÍTICA DE CONTRAÇÃO

O Copom também voltou a defender a necessidade de uma política de juros mais contracionista, ou seja, uma atuação que ajude a frear a força da atividade econômica de forma a controlar o avanço da inflação.

Entre os fatores, citou a piora adicional das expectativas de inflação, a elevação de suas próprias projeções, a força da atividade econômica e as pressões inflacionárias vindas do mercado de trabalho.

A decisão veio em linha com a expectativa consensual do mercado financeiro. Levantamento feito pela Bloomberg mostrou que a elevação da Selic em um ponto percentual era a projeção unânime entre 33 economistas consultados.

ALTAS SEGUIDAS – A Selic está agora no mesmo patamar observado entre agosto e setembro de 2023. Mas, na época, a taxa básica seguia em trajetória de queda. Após quatro altas consecutivas, os juros já acumulam elevação de 2,75 pontos percentuais.

O atual ciclo de alta de juros teve início em setembro do ano passado, na reta final da gestão de Roberto Campos Neto no BC. No ponto de partida, a taxa básica estava em 10,5% ao ano. A primeira elevação foi gradual, de 0,25 ponto percentual. No encontro de novembro, o comitê acelerou o passo pela primeira vez, com um aumento de 0,5 ponto.

O Copom, então, optou por um movimento mais agressivo em dezembro e deu um choque de juros. Além de subir a Selic em um ponto percentual, prometeu mais duas altas da mesma intensidade nas reuniões seguintes, em janeiro e março. Agora, concretizou a primeira parte da estratégia.

PIORA ADICIONAL – O choque de juros reflete um cenário de piora adicional das expectativas de inflação. O risco fiscal seguiu no radar dos economistas e a incerteza no cenário externo, com a volta de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, deixou o câmbio volátil.

Sobre a questão fiscal, o colegiado do BC foi um pouco mais breve do que no comunicado da reunião anterior. Dessa vez, repetiu que segue acompanhando “com atenção” os impactos sobre a política monetária e os ativos financeiros.

“A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vivemos em clima de irresponsabilidade total. O presidente não se incomoda com o fato de o Brasil ser o país que mais paga dívida pública. É também o que cobra os mais elevados juros nos cartões de crédito e que paga os mais altos juros reais, descontada a inflação. Tem alguma coisa estranha nisso. Ah, Carlos Lessa, que falta você nos faz… E ninguém comenta esse desvio na conduta da economia. É como se não existissem economistas no país. (C.N.)

“Lula hoje perderia reeleição e Haddad é muito fraco”, avalia Kassab

Kassab afirma que Lula perderia se eleição fosse hoje, e chama Haddad de  'fraco' - Portal 98 FM Natal

Kassab elogia Tarcísio, que não disputará a Presidência

Gustavo Uribe
da CNN

O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, disse nesta quarta-feira (29) que vê o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com dificuldades de se “impor no governo”. Segundo ele, ter um ministro “fraco” no comando da equipe econômica é um indicativo negativo para o governo.

“Hoje, o que a gente vê é uma dificuldade do ministro Haddad de comandar. Ele prioriza convicções, projetos, que não acabam se tornando realidade porque ele não consegue se impor no governo. Um ministro da Fazenda fraco sempre é um péssimo indicativo”, disse em evento com investidores em São Paulo.

MINISTROS FORTES – Na conversa, Kassab mencionou ministros anteriores, como Antonio Palocci, Henrique Meirelles e Paulo Guedes. “Eu acredito no sucesso da economia quando você tem ministros da economia fortes”, declarou.

A CNN procurou a assessoria de Haddad sobre as declarações de Kassab e aguarda resposta.

No evento, Kassab foi questionado sobre as perspectivas para as eleições presidenciais de 2026. Segundo ele, a possibilidade de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) “hoje não é fácil”. Apesar disso, não descartou uma “reviravolta” que fortaleça o chefe do Executivo até a campanha eleitoral.

REVIRAVOLTA – “O Lula, como eu disse, acho que se fosse hoje perderia a eleição, mas sempre é um candidato forte. Tem muita experiência, pode haver uma reviravolta no seu governo”, afirmou.

Kassab mencionou a última pesquisa Genial/Quaest, que mostrou queda na popularidade do governo petista. De acordo com ele, o fato de o apoio ao PT ter caído no Nordeste – tradicionalmente um reduto petista – é um “indicativo muito grande de que o PT, se fosse hoje, entraria na campanha, não na condição de favorito, [mas] na condição de derrotado”.

Segundo Kassab, para vencer as eleições, um candidato à Presidência precisará necessariamente do apoio de partidos de centro. “

APOIO DO CENTRO – Eu acho muito difícil ganhar a eleição de presidente quem não tiver com o centro. Seja um candidato de esquerda, seja de direita ou do próprio centro”, disse.

Atual secretário de Governo e Relações Institucionais do estado de São Paulo, Kassab afirmou que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) seria o nome mais forte da oposição para a disputa à Presidência.

Ele indicou, no entanto, que Tarcísio não deve se candidatar para presidente e ainda prefere buscar a reeleição ao governo do estado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Por sua extraordinária esperteza política, Kassab e tornou uma espécie de Oráculo de Delfos nos tempos modernos. Criou um partido para chamar de seu e está sempre no poder. Não apoia nenhum candidato na campanha, fica estrategicamente em cima do muro, e depois participa do governo apoiando quem ganha a eleição. É um velho malandro de cabelos pintados que analisa contextos como ninguém. Por isso, o PSD é o partido que mais cresce no país. (C.N.)

Simone Tebet intervém no IBGE, suspende fundação e humilha Pochmann

Simone Tebet afirma que gastos sociais não são problema no orçamento |  Radioagência Nacional

Simone Tebet colocou Pochmann em seu devido lugar

Fernanda Trisotto e Daniela Amorim
(Broadcast)

O Ministério do Planejamento e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgaram nesta quarta-feira, 29, nota conjunta em que decidem, “em comum acordo”, suspender temporariamente a iniciativa da fundação privada IBGE+. O IBGE tem autonomia administrativa, mas é subordinado ao Planejamento, por isso receberá apoio, via lei orçamentária, para a formulação do Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola.

Como o Estadão/Broadcast vem mostrando, há meses o IBGE vive uma crise interna provocada por inúmeras razões, incluindo a criação da fundação de direito privado IBGE+.

MANIFESTAÇÃO – Contra o que apelidaram de “IBGE paralelo” e o “autoritarismo” de seu criador, Marcio Pochmann, servidores do órgão realizaram uma manifestação na manhã desta quarta-feira, 29, em frente à sede do instituto, na região central do Rio de Janeiro (saiba mais abaixo).

A suspensão foi anunciada poucas horas depois de Pochmann ter dado entrevista defendendo a criação da fundação como fonte para financiar as pesquisas.

Na nota conjunta, o Ministério do Planejamento e o IBGE informam que resolveram “em comum acordo, suspender temporariamente a iniciativa da Fundação de Apoio à Inovação Científica e Tecnológica do IBGE (IBGE+), proposta apoiada pelo MPO, para o desenvolvimento institucional e a ampliação das fontes de recursos para o IBGE”, diz o texto.

MODELOS ALTERNATIVOS – Os órgãos afirmam que, diante desse desafio, estão sendo mapeados modelos alternativos que podem implicar em alterações legislativas, “o que requererá um diálogo franco e aberto com o Congresso Nacional”.

O Planejamento e IBGE esclareceram ainda que “qualquer decisão que oportunamente for tomada seguirá o debate no IBGE e com o Executivo e o Legislativo”.

Sobre o aperfeiçoamento institucional, a nota ressalta que o IBGE foi reconhecido como Instituição de Ciência e Tecnologia (ICT). Por isso, vai elaborar sua Política de Inovação, conforme determinação da Lei de Inovação para ICTs, com a instituição de um comitê próprio, composto por servidores de todas as diretorias e membros das superintendências.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Em tradução simultânea, Pochmann foi desautorizado pela ministra Simone Tebet, que não participou da nomeação dele. Agora, tornou-se um presidente “pro tempore” – ou seja, por algum tempo, que não manda mais nada e precisa se demitir o mais rápido possível, cada ainda tenha alguma dignidade, ou vergonha na cara, como dizia o historiador Capistrano de Abreu. (C.N.)

Trump cria aliança ultraconservadora em ofensiva global contra aborto  

Trump oferece indenizações para que funcionários federais resistentes ao  trabalho presencial deixem serviço público nos EUA

Trump se mete em coisas demais, tudo ao mesmo tempo

Jamil Chade
do UOL

O governo de Donald Trump fará uma ofensiva diplomática para tentar impor políticas contrárias ao aborto em agências da ONU e outros organismos internacionais. Para isso, os EUA anunciam que vão retomar uma aliança ultraconservadora que tem como objetivo impedir qualquer avanço nas pautas de direitos sexuais e reprodutivos no âmbito mundial.

A aliança havia sido originalmente criada por Trump em 2020 e ficou conhecida como Consenso de Genebra. A derrota do republicano nas urnas, naquele momento, transferiu para o governo de Jair Bolsonaro a missão de liderar o processo, que passou a contar com cerca de 30 países.

NOVA REALIDADE – Mas a ausência americana e, depois, a derrota de Bolsonaro nas urnas, mudou a história do grupo. Joe Biden anunciou a ruptura com a aliança e Luiz Inácio Lula da Silva também seguiu no mesmo caminho.

O bloco passou a ser liderado pela Hungria, também governada pela extrema direita. Governos conhecidos por leis discriminatórias contra mulheres —como a Arábia Saudita e Bahrein— também faziam parte do bloco. Mas a aliança perdeu força e relevância no debate internacional.

Agora, numa carta obtida pelo UOL, a diplomacia americana informou às missões de governos na ONU que estava retomando sua adesão à aliança. Segundo o documento, o governo Trump quer “promover a saúde da mulher e as necessidades de mulheres, crianças e suas famílias em todos os estágios da vida”.

VAI MUDAR TUDO – A expectativa de diplomatas é de que, em resoluções e políticas criadas pela ONU e outros órgãos, o governo Trump pressionará por vetos ou mudanças substanciais no texto.

Trata-se da primeira medida concreta do governo americano na retomada de sua ofensiva contra o aborto. Documentos da ONU que lidem com esses temas serão rejeitados pelos EUA e recursos serão congelados para agências que promovam direitos reprodutivos.

No Brasil, a aliança havia sido uma das principais bandeiras do ministério liderado por Damares Alves e Ângela Gandra.

Governo não percebe a nova crise de credibilidade que vem do IBGE

Da colonização portuguesa ao contexto neoliberal atual - Jornal da Unicamp

Pochmann quer usar as estatísticas para favorecer Lula

Sergio Denicoli
Estadão

Há uma crise pronta e embalada para explodir nas redes sociais, arrancando mais um pedaço da credibilidade do governo, que anda em baixa. É a crise IBGE. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, que sempre foi uma espécie de guardião dos números que moldam o Brasil, está no meio de uma tempestade política, que se tornou evidente ainda no ano passado, quando foi anunciada a criação da Fundação IBGE+, pelo presidente do órgão, Márcio Pochmann.

A fundação tem como objetivo captar recursos da iniciativa privada para apoiar as atividades do Instituto. No entanto, essa iniciativa gerou preocupações entre servidores, que temem que o financiamento privado possa comprometer a autonomia e a credibilidade da instituição.

IBGE PARALELO – Eles, inclusive, passaram a chamar a fundação de IBGE paralelo e acusar o presidente de tomar medidas autoritárias, que poderiam comprometer o instituto.

Pochmann chegou a ser alvo de uma carta aberta dos servidores do IBGE, que expressaram preocupações com a falta de planejamento e diálogo, mediante medidas que consideram autoritárias.

Houve ainda pedidos de demissões de diretores, insatisfeitos com a forma de gestão do presidente. Essa situação tem sido explorada pela oposição, que não perdeu tempo em usar o episódio para buscar corroer, mais uma vez, a credibilidade do governo.

IPCA EM QUESTÃO – A narrativa mais recente das redes tem colocado em questão os dados do IPCA – o principal indicador de inflação no Brasil, que monitora o aumento ou a queda do custo de vida no País.

Como a inflação dos alimentos tem se tornado uma pedra no caminho do governo que vislumbra permanecer no poder, os dados do IBGE passaram a ser alvo de ampla contestação.

Os números que compõem a prévia da inflação e formulam o IPCA-15 foram anunciados nesta sexta-feira, mostrando uma desaceleração da alta de preços. Algo que já está envolvido em dúvidas e questionamentos, diante da percepção nítida nas redes de que os produtos alimentícios subiram muito mais do que o divulgado oficialmente.

CPI DO IBGE – Nas redes sociais, há perfis que já pedem, inclusive, a instauração de uma CPI do IBGE no Congresso Nacional.

Enquanto isso, seguindo o mesmo modelo que vigorou durante a recente crise do Pix, o governo segue inerte, esperando talvez um novo vídeo da oposição para tomar uma atitude, depois que a crise escalar.

A inércia, na política feita na era das redes, custa muito caro e causa danos que podem ser irreversíveis. Se o governo perder de vez a capacidade de dar esperança às pessoas, pode começar a se preparar para passar o bastão para seus opositores.

E Carlos Drummond de Andrade um dia descobriu que Deus é triste…

HIPÓTESE E se Deus é canhoto e criou... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, no poema “Deus é Triste” expõe sua visão sobre a tristeza divina diante da realidade da vida na terra, com tanta desigualdade e miséria.

DEUS É TRISTE
Carlos Drummond de Andrade

Domingo descobri que Deus é triste
pela semana afora e além do tempo.

A solidão de Deus é incomparável.
Deus não está diante de Deus.
Está sempre em si mesmo e cobre tudo
tristinfinitamente.

A tristeza de Deus é como Deus: eterna.

Deus criou triste.
Outra fonte não tem a tristeza do homem.

Pochmann devia pedir logo para sair e deixar o IBGE em paz

homem branco de cabelo preto, camisa branca e paletó, segura os óculos com expressão compenetrada

Pochmann não tem a menor condição de ficar no IBGE

Elio Gaspari
O Globo

Com a credibilidade de Lula em baixa, o melhor que o economista Marcio Pochmann tem a fazer é sair da presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ele é um antigo quadro do PT e, em menos de dois anos, envenenou sua gestão com a proposta de criação de um IBGE +. Em tese, a novidade abriria uma janela para que o instituto firmasse parcerias com empresas privadas.

Quando interesses privados se misturam com a academia, coisas horríveis podem acontecer. Professores de Harvard e da London School of Economics meteram-se com o falecido ditador líbio Muammar Gaddafi. No Brasil, um braço da Fundação Getulio Vargas meteu-se com o então governador Sérgio Cabral.

IBGE PARALELO – Servidores e diretores do projeto de Pochmann batizaram-no de “IBGE Paralelo”. Ironia da vida: em 2007, quando o doutor presidiu o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada era acusado de cumprir a tarefa de “estatizar” o Ipea. (Em 2010, o instituto abriu um escritório na Caracas de Hugo Chávez.) Agora, acusam-no de querer privatizar o IBGE.

O estatuto da Fundação IBGE + tem trechos idênticos ao da malfadada similar da saúde do Rio. Até aí pode ter sido preguiça, mas prever que certas matérias exigiriam a aprovação de dois terços de um Conselho Curador de cinco membros foi uma demasia para um texto do IBGE. Dois terços de cinco dão 3,333.

Nas últimas semanas, duas diretoras do instituto pediram demissão, e 134 servidores (125 dos quais em cargos de chefia) assinaram uma carta condenando o IBGE + e o estilo de chefia de Pochmann. Na semana passada, demitiu-se o diretor-executivo da Fundação IBGE +.

ESTILO POCHMANN – É por causa do estilo que Pochmann deve pedir para sair. Ele assumiu em julho de 2023, e seu projeto de um IBGE + foi criticado em setembro de 2024. Em novembro, Pochmann pediu ao Ministério Público que apurasse supostas irregularidades e conflito de interesses de funcionários do órgão.

Seriam serviços privados de consultoria prestados a uma instituição parceira do instituto. Só Deus conhece os labirintos das consultorias, mas chamar o Ministério Público para investigar dois meses depois das críticas cheira a revide.

Pochmann é uma flor do jardim da Unicamp e um petista raiz. Disputou duas vezes a Prefeitura de Campinas e tentou se eleger deputado.

GOSTA DE DISSENSO – Quando sua gestão no Ipea gerou chuvas e trovoadas, ele se defendeu: “Tenho mais de duas décadas de atividade acadêmica. Sou polemista, gosto da polêmica”. “Não estou lá [no Ipea] para organizar o consenso, mas para organizar o dissenso.”

Desde que começou a crise no IBGE, a presidência do instituto fala por meio de notas, sempre altaneiras. Numa delas, acusou os críticos de moverem “uma campanha de desinformação”. Desinformação foi o doutor que estimulou, em outubro de 2020, ao dizer que o Pix do Banco Central era “mais um passo na via neocolonial”.

Pochmann parece ter perdido gosto pela polêmica e, se em algum momento quis organizar o dissenso, só conseguiu ampliá-lo.

Desaprovação de Lula supera aprovação e assusta o Planalto

Levantamento já capta efeitos da ‘crise do Pix’

Pedro do Coutto

A pesquisa do Instituto Quaest vem acender o sinal de alarme para o presidente Lula da Silva, pois pela primeira vez o índice dos que desaprovam o governo, 49%, é maior dos que aprovam, 47%. É a primeira vez na série histórica do levantamento que a avaliação negativa supera a opinião positiva. As porcentagens se encontram dentro da margem de erro, de um ponto percentual. O levantamento foi encomendado pela Genial Investimentos e entrevistou 4,5 mil pessoas presencialmente.

Na última pesquisa Genial/Quaest, realizada em dezembro do ano passado, a aprovação do trabalho de Lula estava em 52%, e a desaprovação, em 47%. Ou seja, enquanto a desaprovação subiu dois pontos, a aprovação do governo caiu cinco pontos. Em ambos os casos, os movimentos foram acima da margem de erro da pesquisa. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%.

BOA INTENÇÃO – Apesar disso, o percentual dos eleitores que acredita que Lula é bem intencionado ainda supera o daqueles que acreditam que ele tem más intenções, por 47% a 46%. No entanto, 65% dizem que ele não tem conseguido fazer o que prometeu em campanha, e só 20% acham que tem conseguido.

A mesma conclusão é possível quando a pergunta é sobre a avaliação do governo – e não só do trabalho do presidente. De dezembro para cá, o percentual dos que avaliam o governo de forma negativa subiu de 31% para 37%, superando pela primeira vez a avaliação positiva. Esta caiu de 33% para 31%. Já os que avaliam o governo de forma “regular” eram 34% em dezembro, e agora são 28%.

O levantamento é o primeiro a captar os efeitos da crise do Pix sobre a avaliação do governo. Na semana passada, a oposição usou as redes sociais para acusar o governo de ampliar a coleta de informações de pagamentos via Pix para cobrar mais impostos. Um vídeo do deputado federal Nikolas Ferreira sobre o assunto ultrapassou a marca de 300 milhões de visualizações no Instagram.

IMPACTO – Na pesquisa Quaest, o impacto do assunto é perceptível, já que a “regulação do Pix” foi a notícia negativa mais citada, de longe, com 11% – a segunda colocada foi mencionada por 3%. São 66% os brasileiros que acham que o governo errou em sua atuação sobre o tema.

O governo tem que agir rapidamente para conter os números em queda, uma vez que o declínio pode estabelecer um processo de maior duração. É muito difícil inverter uma tendência dessa, mas é viável, bastando a execução de ações concretas, não ficando apenas nas palavras. É necessário que a opinião pública veja o empenho do governo e a execução das ideias.

Colômbia mostra que é praticamente impossível enfrentar abusos de Trump

Petro anuncia que Colômbia romperá relações com Israel | Internacional

Petro, da Colômbia, tentou enfrentar Trump e se deu mal

Hélio Schwartsman
Folha

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, até que tentou peitar Donald Trump na questão dos voos de repatriação em que os deportados viajam algemados e são submetidos a outros tratamentos degradantes absolutamente desnecessários. A valentia do colombiano não durou um dia.

Como resposta à negativa de Bogotá de receber os voos, a Casa Branca anunciou que iria impor uma tarifa alfandegária de 25% a produtos colombianos, que passaria a 50% na semana seguinte. Petro rapidamente recuou e Washington suspendeu as sanções.

TRUMP TROGLODITA – Em relações internacionais, Trump age como um troglodita. A questão que se coloca para o mundo então é a de como lidar com um valentão não cooperativo. Não é um problema novo.

Como descendentes de primatas gregários, convivemos com esses dilemas há milhões de anos. Eles já estão bem mapeados pela biologia matemática.

Simplificando a história, a cooperação só é possível se conseguirmos disciplinar quem não sabe viver em grupo. E o modo de fazê-lo é através de respostas que envolvem algum tipo de reciprocidade, direta ou indireta. Na literatura, as estratégias vencedoras ganham nomes como “tit-for-tat” e “win-stay, lose-shift”.

PUNIR TRAPACEIROS – Uma das marcas dessa teoria dos jogos que já vem embutida em nossas mentes é a disposição que temos em punir trapaceiros mesmo que precisemos pagar um preço por isso. Vários experimentos psicológicos mostram que temos essa tendência.

Basicamente, Petro teve a intuição correta, mas só a Colômbia não basta. Para enquadrar Trump, vários países teriam de agir de forma coordenada. Imagine todas as nações latino-americanas bloqueando as deportações, o Panamá fechando o canal para navios americanos, a Dinamarca e a Groenlândia mandando Washington desativar a base aérea de Thule, e vários países impondo taxas a produtos americanos.

É mais ou menos zero a chance de isso acontecer. Os próximos anos serão marcados pelo bullying diplomático. Minha aposta, porém, é a de que a democracia americana mais uma vez sobreviverá a Trump.

Logo saberemos se Trump é apenas fanfarrão ou tem problemas mentais

Trump Renomeia Golfo do México para 'Golfo da América'. Veja o Que Ele Pode  — e Não Pode — Fazer

Trump exibe seu decreto ilegal que só durou 48 horas

Carlos Newton

Conforme temos afirmado aqui na Tribuna da Internet, Donald Trump é um excelente ator, que no momento faz o papel de presidente dos Estados Unidos, podendo se sair bem ou mal, depende das circunstâncias. Lembrem que seu primeiro governo não foi lá essas coisas e ele até perdeu a reeleição em 2020.

Agora está de volta, aos 78 anos, e resolveu entrar no palco de maneira apoteótica, surpreendendo o mundo de todas as maneiras possíveis e imagináveis, inclusive assinando um decreto inconstitucional logo após assumir, a pretexto de estar “reinterpretando” a Emenda Constitucional 14, que garante cidadania norte-americana a quem nascer no país.

UM PSICOPATA – Ao assistir a esta cena pela TV, fiquei de tal modo surpreso que levantei a hipótese de Trump estar desequilibrado. Afinal, se age como psicopata e se fala como psicopata, só pode estar “variando”, como se diz no Nordeste.

Mas nem tudo que reluz é ouro. Fica bem mais fácil entender o furacão Donald Trump quando se tem conhecimento do método usado por ele para fazer sucesso como empresário e apresentador de TV.

Em artigo na Folha, o cientista político Marcus André Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco, publica um trecho de um livro escrito por Trump há duas décadas, no qual Trump revela sua estratégia de vida.

DISSE TRUMP – “A chave final para a maneira como eu consigo as coisas é a bravata. Eu jogo com as fantasias das pessoas. Elas nem sempre pensam grande, mas ainda podem se entusiasmar muito com aqueles que pensam. É por isso que um pouco de hipérbole nunca faz mal. As pessoas querem acreditar que algo é o maior, o melhor e o mais espetacular. Eu chamo isso de hipérbole verdadeira. É uma forma inocente de exagero — e uma forma muito eficaz de se conseguir o que quer”, revela Trump em “The Art of the Deal” (“A Arte da Negociação”).

Em tradução simultânea, o presidente americano admite que tem por costume fazer bravatas que soam como ameaças, que ele tenta amaciar dizendo tratar-se de “hipérboles verdadeiras”.

SEM JUSTIFICATIVA – Esse jogo de palavras serve para explicar, mas não pode servir de justificativa para o destrambelhado comportamento de Trump, porque uma coisa é fazer bravata numa reunião empresarial, para fechar um negócio; outra coisa muito diferente é se portar assim na presidência da mais importante potência mundial.

A política não pode ser conduzida assim. No primeiro mandato, Trump até se comportou de maneira bem diferente, mais contido e cauteloso.

Agora, sem nenhum motivo, resolve chutar o balde, desnecessariamente. O decreto inconstitucional somente durou 48 horas. Foi suspenso liminarmente e o juiz federal ainda ironizou o governante, ao indagar onde estavam os advogados do Planalto…

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P.S. –
Mais para a frente, saberemos o estado mental de Trump. Não é difícil perceber o que é bravata e o que passa a ser insanidade. Até porque todo excesso de bravata representa uma insanidade, especialmente quando o fanfarrão mostra não ter limites e está sentado no Salão Oval da Casa Branca(C.N.)

Rombo na Eletros de R$ 1 bilhão leva seus aposentados à miséria

Fundo de pensão da Eletrobrás.

Aposentados agora são obrigados a cobrir o rombo

Liane Thedim
Valor Econômico

Cerca de 630 aposentados da Eletros, fundo de pensão da antiga estatal Eletrobras, começam a receber nesta semana contracheques com descontos de quase a totalidade do benefício. Essas pessoas, com idade média de 80 anos, estavam amparadas por uma liminar que suspendeu em 2020 a cobrança de parcelas extraordinárias para cobrir déficits do plano de benefício definido da fundação em 2011, 2013, 2015, 2020 e 2021.

A decisão, no entanto, foi cassada em 2024 e, agora, tudo que deixou de ser pago no período, o equivalente a R$ 170 milhões, será descontado em percentuais levando em conta a expectativa de vida de cada um.

DÉFICIT-MONSTRO – O quadro do plano é grave. De acordo com balancete de 26 de dezembro de 2024, se todos os déficits forem somados, o total chega a R$ 1,04 bilhão, o equivalente a 63% do patrimônio de 1,667 bilhão. Em 2023, o resultado acumulado ficou no negativo em R$ 78 milhões e em 2024, até novembro, em R$ 234 milhões.

Cristina Almeida, da Associação dos Assistidos dos Planos Previdenciários da Eletros (AABD), diz que a rentabilidade do plano de benefício definido em 2024 foi de 0,2% para uma taxa atuarial de 10,2% no ano de 2024. Ou seja, outro plano de equacionamento terá de ser feito em breve, se nada mudar nas regras.

“A gestão não é eficiente. É um plano que está entrando em colapso e precisa de ajustes estruturais e financeiros”. afirma.

ALTOS DESCONTOS – A AABD reúne 142 participantes do plano de benefício definido, com idade média de 76 anos, que não foram à Justiça e desde 2020 estão pagando as parcelas extraordinárias. Os valores hoje correspondem a 30,35% dos proventos brutos. Somados às contribuições correntes (que garantem pensão após a morte do beneficiário), os descontos levam mais de 40%, sem contar o Imposto de Renda e, quando é o caso, plano de saúde e pensão alimentícia em folha.

A entidade que obteve a liminar em 2021 suspendendo os descontos foi a Associação dos Aposentados Participantes da Eletros (Apel). Agora, essa associação aguarda a decisão do recurso ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), que pode sair até abril.

O presidente da Apel, Paulo Roberto Silveira, conta que, nesse meio tempo, mais de cem participantes morreram. Atualmente, são 635, sendo 570 assistidos e 65 pensionistas.

FACE VISÍVEL – Os dois grupos de aposentados são a face visível de um problema que se arrasta desde 2005, quando Eletros e Eletrobras decidiram criar um plano de contribuição definida.

O déficit era uma questão de tempo. No entanto, na ocasião da migração, foi incluído no estatuto do plano de benefício definido um artigo que garantia que rombos futuros seriam totalmente cobertos pela Eletrobras para os já aposentados, apelidados pela Eletros de “blindados”.  A Eletrobras chegou a pagar os primeiros déficits, mas entrou na Justiça e se livrou do pagamento.

Jany Mosso, 77 anos, está na Justiça contra a Eletros e há sete meses vive um pesadelo com os descontos, que agora ficarão ainda maiores com os atrasados. “Estou vivendo das poucas economias que tenho e que terminarão em breve”, diz. Aposentada há 30 anos, Mosso conta que os cálculos indicam mais 13 anos de descontos. “Tenho colegas que não tinham reserva e estão sem a mínima condição de viver.”

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGReportagem enviada por Mário Assis Causanilhas. Mostra o que significa pagar por uma aposentadoria e depois perder o direito, devido a erros de gestão. É uma situação injusta e deprimente.  (C.N.)]

Na História, a colonização é sempre feita com perseguição étnica

A imagem retrata uma cena de conflito entre colonizadores e indígenas em uma praia. No fundo, há um navio à vela. Os colonizadores estão armados e em pé, enquanto os indígenas estão em uma posição mais vulnerável, alguns no chão e outros em pé. A cena é colorida, com predominância de tons terrosos e um céu cinza.

Ilustração de Anette Schwartsman (Folha)

Hélio Schwartsman
Folha

Como sempre ocorre quando o João Pereira Coutinho elogia um livro, corri para adquiri-lo e lê-lo. Não foi diferente com “On Settler Colonialism” (sobre o colonialismo de assentamento), de Adam Kirsch. O livro é bom.

Confesso que não conhecia essa moda ideológica universitária. Se seus proponentes se limitassem a reconhecer que várias nações foram forjadas a partir de um processo de colonização que resultou na subjugação ou eliminação de populações que já viviam naquelas áreas, eu seria o primeiro a subscrevê-la. Não dá para negar a história.

BEIRA O DELÍRIO – Os adeptos dessa escola interpretativa, porém, vão mais longe. Para eles, o processo de formação dessas nações carrega uma mácula que só seria sanada com a devolução das terras aos povos originários e a retirada dos invasores.

E isso beira o delírio. Dos mais de 300 milhões de norte-americanos, menos de 3% descendem dos indígenas. Algo parecido vale para Brasil, Austrália etc.

Na congestionada Eurásia, a coisa fica pior. Lembro o caso da Crimeia. De 700 a.C. para cá, a península foi controlada por cimérios, búlgaros, gregos, citas, romanos, godos, hunos, cazares, bizantinos, venezianos, genoveses, kipchaks, otomanos, tártaros, mongóis, russos, alemães e ucranianos. Pode ser desafiador distinguir invasores de invadidos. O colonizador de ontem tende a ser a vítima da invasão subsequente.

ANTISSEMITISMO – O propósito de Kirsch ao escrever a obra é explicar a mais recente transfiguração do antissemitismo, que ganha adeptos nas universidades. Seria legítimo lançar os judeus ao mar porque eles seriam os novos colonizadores, que roubaram a terra da população palestina originária.

Não é um raciocínio que passe no teste da historiografia. Não se trata por óbvio de negar que Israel comete crimes contra os palestinos. Eles se dão à vista de todos.

Mas não dá para esquecer que, em algum momento da história, os judeus foram a população invadida daquela região. E houve outro momento em que os palestinos apareceram ali como invasores, desalojando algum outro povo. Essa é mais ou menos a história de todas as nações.

Penduricalhos levam ministros do TST a receber R$ 419 mil num mês

Que justiça é essa - por Siro Darlan - Tribuna da Imprensa Livre

Charge do Alpino (Yahoo Notícias)

Arthur Guimarães de Oliveira
Folha

Penduricalhos garantiram a ministros do TST (Tribunal Superior do Trabalho) rendimentos líquidos de até R$ 419 mil em dezembro, segundo dados do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Embora os pagamentos de verbas extras a magistrados tenham alcançado valores vultosos em diferentes instâncias do Judiciário pelo país, os valores recebidos na corte trabalhista se destacam entre os tribunais superiores —e com benefícios que se estendem a quase todos os seus integrantes.

Dos 27 ministros do TST, 26 receberam em dezembro uma remuneração acima de R$ 240 mil líquidos. A média por magistrado, já com os descontos, chegou a R$ 357 mil —em valores brutos, R$ 514 mil.

PENDURICALHOS – O cálculo inclui salário fixo (remuneração fixa e mensal de magistrados, que não chega a R$ 42 mil), pagamentos retroativos e benefícios como abonos e auxílios, após os descontos de previdência, Imposto de Renda e retenção pelo teto constitucional (correspondente a R$ 44 mil).

Os dados relativos à folha de pagamento constam em painel mantido pelo CNJ com base em informações disponibilizadas pelos próprios tribunais.

Quem liderou o ranking pelo rendimento líquido no período foi o ministro Sergio Pinto Martins, que obteve R$ 419 mil livres (ou R$ 533 mil brutos). Já com base no rendimento bruto foi o vice-presidente da corte, Mauricio Godinho Delgado (R$ 394 mil líquidos e pouco mais de R$ 706 mil brutos).

STJ E STM – No STJ (Superior Tribunal de Justiça), a remuneração de maior valor de um ministro no período foi de R$ 119 mil líquidos. De acordo com dados do painel, a média de dezembro entre os magistrados da corte ficou em R$ 88 mil. Já no STM (Superior Tribunal Militar), a maior quantia chegou a R$ 318 mil —e a média, R$ 286 mil.

O STM diz que a remuneração dos ministros ficou acima do vencimento mensal normal em razão de pagamentos de indenizações de exercícios anteriores.

Foram pagos valores relativos a, por exemplo, adiantamento de gratificação natalina, remuneração antecipada de férias e terço constitucional de férias, além de direitos eventuais, incluindo licença compensatória, gratificação por exercício cumulativo de jurisdição e verbas de exercícios anteriores.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Será que nenhum desses ministros tem noção do mal que fazem a este país e da decepção que provocam aos brasileiros por agirem com essa ganância que chega a parecer insana? Será que não têm espelho em casa? Merecem o título de ministros? Ah, Capistrano de Abreu, se você vivesse nos dias de hoje, certamente conseguiria aprovar o artigo constitucional de que “todo brasileiro precisa ter vergonha na cara”. (C.N.)

 

Morre aos 87 anos Marina Colasanti, grande nome da literatura brasileira

Marina Colasanti Morre Aos 87 Anos: Escritora De Mais De 70 Obras Deixa Legado Literário

Marina Colasanti era uma das mais cronistas do país

José Perez

A jornalista, escritora e apresentadora de TV Marina Colasanti, de 87 anos, morreu nesta terça-feira (28) em sua casa em Ipanema, no Rio. Autora de mais de 70 obras para crianças e adultos, Marina ganhou nove vezes o prêmio Jabuti. A causa da morte ainda não foi divulgada.

O velório será no Parque Lage, onde a escritora morou de 1948 a 1956. A cerimônia restrita a familiares e amigos acontece das 9h às 12h desta quarta-feira (29). Marina era sobrinha da cantora lírica Gabriela Bezansoni, dona do Parque Lage na Zona Sul do Rio.

NASCEU NA ERITRÉIA – Marina Colasanti nasceu na então colônia italiana da Eritreia. Viveu sua infância na Líbia e então voltou à Itália onde viveu onze anos. Por conta da difícil situação vivida na Europa após a Segunda Guerra Mundial, Colasanti e sua família emigram para o Brasil em 1948, fixando residência no Rio de Janeiro.

Em 2023, se tornou a 10ª mulher a conquistar o cobiçado Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras e considerado um dos principais prêmios literários do país.

Em nota, a Academia Brasileira de Letras lamentou a morte de Marina e exaltou o seu legado. “Escritora brilhante, autora de mais de 70 obras que encantam crianças e adultos, Marina deixa um legado inesquecível para a literatura e a cultura brasileiras”, diz o comunicado.

Marina era casada com o poeta Affonso Romano de Sant’Anna e deixa uma filha, a atriz, roteirista e diretora Alessandra Colasanti, e um neto.

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EU SEI, MAS NÃO DEVIA
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.
E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.
E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.
E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma acender mais cedo a luz.
E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.
A tomar café correndo porque está atrasado.
A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.
A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.
A sair do trabalho porque já é noite.
A cochilar no ônibus porque está cansado.
A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.
E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.
E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.
A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.
A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.
E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.
E a ganhar menos do que precisa.
E a fazer filas para pagar.
E a pagar mais do que as coisas valem.
E a saber que cada vez pagará mais.
E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.
A abrir as revistas e a ver anúncios.
A ligar a televisão e a ver comerciais.
A ir ao cinema e engolir publicidade.
A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.
As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.
À luz artificial de ligeiro tremor.
Ao choque que os olhos levam na luz natural.
Às bactérias da água potável.
À contaminação da água do mar.
À lenta morte dos rios.
Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.
Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.
Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.
Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.
E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.
Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.
A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

Trump arrisca trégua em Gaza ao propor “limpeza étnica” a Israel

Milhares de palestinos deslocados retornam ao norte de Gaza

Palestinos voltam a Gaza, como se a guerra tivesse acabado

Wálter Maierovitch
do UOL

O novo presidente americano começou o mandato com intenção de assustar o mundo. Para tanto, usou a truculenta “doutrina Trump”. Depois de mostrar os músculos ao presidente colombiano Gustavo Petro, que recuou no caso das deportações por real tratamento desumano a colombianos, Trump avisou:

“Os eventos de hoje [deportações] mostram claramente ao mundo que os EUA já estão sendo respeitados novamente”.

ESTILO MILOSEVIC – No embalo das deportações, Trump sente-se à vontade até para, na trégua de cessar-fogo por 42 dias celebrada entre Israel e Hamas, por meio da intermediação de Qatar, Egito e EUA, fazer vibrar na sepultura até Slobodan Milosevic, o ditador que tentou a limpeza étnica na ex-Iugoslávia, com a criação da Grande Sérvia e a expulsão de muçulmanos, croatas e bósnios.

Trump, sem mais, demonstrou, em face do incidente de sábado, com relação à combinada troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, a sua brutal irracionalidade.

Como decorrência do incidente, as forças de Israel (IDF) fecharam a passagem de Netzarim, uma linha militar que corta a faixa geográfica de Gaza de leste a oeste. Com isso, impediu-se o gigantesco fluxo migratório em direção ao norte, com a volta dos palestinos para suas casas (se ainda existirem).

CRISE CONTORNADA – O caso depois foi resolvido pela exitosa intervenção do Qatar e pelo receio de Netanyahu de não recuperar os reféns que estão há 15 meses em cativeiro do Hamas.

Nesta terça-feira, os jornais Folha de S.Paulo e Estado de S. Paulo mostram, nas suas capas, impressionante foto de milhares de palestinos em deslocamento ao norte. Lembrava um fotograma de deslocamento bíblico, mostrado no cinema. Segundo o Hamas, mais de 300 mil palestinos já retornaram ao norte de Gaza, o que representaria uma vitória da organização, no campo da resistência.

Como se fosse um estúpido ou um desinformado, Trump propôs o esvaziamento da faixa geográfica de Gaza. Ou seja, cerca de 2,4 milhões de palestinos migrariam para a Jordânia e o Egito.

LIMPEZA ÉTNICA – À luz do direito internacional público, o direito das gentes, tal proposta tipifica ilícito definido como “limpeza étnica”.

Trump recebeu um retumbante “não” dos governantes árabes da região, incluindo a autoridade nacional da Palestina, sediada na Cisjordânia, em faixa do território contemplado nos acordos de Oslo, ao tempo da presidência de Bill Clinton. Diante disso, Trump chamou Netanyahu para um futuro encontro.

Nem o sanguinário premiê israelense, que conhece a história da desocupação palestina para a instalação do Estado de Israel, a “nakba” (catástrofe em árabe), seria capaz de propor tamanho despautério.

TRÉGUA EM RISCO -A futura conversa com Netanyahu tornou-se uma incógnita. Por evidente, se Trump inventar algo, a precária trégua entre Israel e Hamas poderá ser rescindida.

O bloqueio militar do corredor de Netzarim ocorreu depois de o Hamas ter devolvido apenas quatro das cinco reféns. Faltou libertar a civil Arbel Yerud, de 29 anos.

As quatro mulheres libertadas, soldadas israelenses que estavam de plantão próximo à invadida linha de fronteira quando do ataque terrorista, foram entregues pelo Hamas à Cruz Vermelha Internacional. Tudo depois de uma encenação de deliberações e batidas de carimbos sob olhares de palestinos concentrados dando plateia. O Hamas pretendeu mostrar à população que ainda mantém o controle e o governo do território.

Arbel será devolvida ainda na primeira fase do acordo, que prevê a entrega de 33 reféns.

OITO MORTOS – Segundo noticiam os sites e jornais americanos, europeus e israelenses, há rumores de que, dos 33 nomes constantes da primeira lista de reféns, oito estão mortos. Assim, apenas os seus corpos serão devolvidos: os cadáveres, como se sabe, são moedas de troca. Por isso, são congelados e permanecem conservados.

A trégua celebrada é muito frágil, segundo os especialistas em geopolítica e os 007 dos serviços de inteligência europeus.

A trégua prevê desenvolvimento em três fases. Ainda estamos no início da primeira. Além da fragilidade, um novo elemento de ruptura passou a ser considerado: o protagonismo de Trump.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGA trégua só existe por uma questão financeira – israelenses e palestinos estão exauridos e seus respectivos financiadores estão fazendo jogo duro, devido ao efeito Trump. O ódio entre as duas nacionalidades é eterno e corrosivo. Enquanto não existirem dois Estados, jamais haverá um só dia verdadeiro de paz. (C.N.)

Trump tem razão: o Brasil não é nada e os brasileiros nem se importam

Em visita a Trump, Bolsonaro cede aos interesses dos EUA e volta "de mãos abanando"

Charge do Paulo Batista (Brasildefato)

Mario Sabino
Metrópoles

Muitos brasileiros ficaram indignados com Donald Trump por causa da resposta que ele deu à pergunta sobre como seriam as relações, a partir de agora, dos Estados Unidos com a América Latina e com o Brasil.

“A relação é ótima. Eles precisam de nós muito mais do que precisamos deles. Não precisamos deles. Eles precisam de nós. Todo mundo precisa de nós”, disse o presidente americano à jornalista Raquel Krähenbühl.

No mundo animal, Donald Trump seria um carnívoro solto entre herbívoros — ou seja, todos nós, que obedecemos aos códigos tradicionais da diplomacia e acreditamos piamente que as nações podem colocar a solidariedade e o idealismo à frente de interesses econômicos e militares.

DISSE MACRON – A metáfora é de Emmanuel Macron, ao comentar a vitória do republicano. “O mundo é feito de herbívoros e de carnívoros. Se decidirmos continuar a ser herbívoros, os carnívoros vencerão e nós seremos um mercado para eles”, disse o presidente francês.

É uma imagem feliz. Donald Trump nos confronta com nós mesmos. A sua franqueza carnívora expõe as nossas fraquezas herbívoras. Expõe as nossas escolhas.

Somos nós, brasileiros, que escolhemos ser desimportantes para os Estados Unidos. O que é o Brasil, no contexto das nações? Um gigante bobão, comandado por uma fauna política sem projeto que não o de dilapidar a sociedade.

DESIMPORTÂNCIA – Os números estão aí. Como os brasileiros podem querer ser relevantes, se a sua participação no comércio mundial é de menos de 1%, a mesma que era em 1980? Se nos comprazemos em ser exportadores de commodities?

Qual pode ser a relevância de um país cuja bolsa de valores teve, em 2024, um dos piores desempenhos entre todas as outras dignas deste nome? Um país que representa ridículos 0,5% da carteira de investimentos do mundo e entre diminutos 6% e 7% nas carteiras de mercados emergentes?

Qual é a produção tecnológica do Brasil? Insignificante. No Índice Global de Inovação do ano passado, ficamos em 50º no ranking de 133 países. Para se ter ideia, em 2022, a China fez 70.015 pedidos de patentes, os Estados Unidos fizeram 59.056 e o Brasil, somente 548. Não mudou nada de dois anos para cá.

E A EUROPA? – Guardadas as devidas e enormes diferenças, provocada por Donald Trump, a Europa também se vê confrontada consigo própria.

O continente europeu tem excesso de regulação, com as suas escolhas enérgicas caras, com o seu modelo social impagável, com o envelhecimento da sua população, com o empobrecimento da sua classe média, com a sua dependência militar dos americanos.

Os europeus, no entanto, partem de um patamar de riqueza material e intelectual muito mais elevado do que o dos brasileiros para fazer frente aos Estados Unidos de Donald Trump.

QUANTO AO BRASIL… – O que o Brasil deveria fazer neste mundo de competição carnívora? O primeiro passo seria enxergar-se do tamanho que é. Isso não significa ser vira-lata, mas ter princípio de realidade e, a partir daí, seguir no caminho certo.

Somos desimportantes por culpa nossa. Por causa das nossas opções erradas desde sempre. Ninguém no mundo precisa do Brasil.

A julgar pela maneira com a qual se comportam, nem os brasileiros precisam do Brasil.

Por que a indignação com deportações de Trump se Biden fazia igual?

Homens em fila para embarcar em avião militar

Não há novidade alguma nas deportações acorrentadas

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

As deportações dos últimos dias foram basicamente iguais às feitas pelos EUA já há alguns anos. No governo Biden, por exemplo, mais de 7 mil brasileiros foram deportados para cá, inclusive com o uso das algemas. Os 88 brasileiros que chegaram na sexta-feira, aliás, tinham sido apreendidos no governo Biden e aguardavam a deportação.

O que mudou, então? Primeiro: agora foram aviões militares. Segundo: o presidente agora é Trump. Ele próprio alardeia seu combate contra a imigração como algo sem precedentes. Ele de fato promete aumentar substancialmente as deportações, mas o que vimos esses dias foi continuidade, não mudança.

TRUMP APROVEITA – As reações escandalizadas de agora, portanto, se devem a nossos vieses. E caem como uma luva para Trump, que quer ser visto como duro com a imigração. Deixar progressistas indignados é um ganho para ele. Foi para isso que foi eleito.

Assim, a reação do presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de proibir o pouso do avião de deportados foi um prato cheio para Trump. Primeiro, porque foi uma decisão completamente equivocada e, portanto, à qual foi fácil de se contrapor. Petro mandou o avião americano que já tinha sido autorizado dar meia-volta.

Mais grave ainda: impediu os cidadãos de seu próprio país de voltarem para casa, fazendo com que ficassem mais tempo presos em centros de detenção americanos. Armar um circo de ultraje moral performático às custas dos próprios cidadãos não é boa política.

DOSE DE WHISKY – Petro ainda subestimou o preço que a Colômbia pagaria. Trump reagiu à pequena ofensa colombiana com força brutal: tarifaço para todos os produtos colombianos e sanções diplomáticas a membros do governo e seus apoiadores.

Petro até tentou reagir: também ameaçou tarifas e ainda publicou um textão sentimental e patriótico na rede X em que citava “Cem Anos de Solidão” e sugeria a Trump a tomarem “uma dose de whisky”.

Imagino que seus assessores devem ter deixado claro ao presidente que a fantasia de ser um Aureliano Buendía numa guerra trágica fadada à derrota não faria nada bem ao país.

PETRO HUMILHADO – Em poucas horas, Petro voltou atrás e aceitou todos os termos dos EUA. Saiu humilhado. O governo Trump, por sua vez, pôde publicar que “os eventos de hoje deixam claro para o mundo que a América [ou seja, os EUA] é respeitada novamente”.

Tudo que Trump deseja é enfrentar a oposição no campo puramente moral. De um lado, o interesse do país, que ele representa; do outro, o respeito a direitos abstratos exigidos por uma classe de intelectuais e políticos de esquerda (e que, subentende-se, não servem ao interesse nacional).

Já o Brasil mostra mais inteligência. O confronto direto com Trump é um erro. Em cada conflito individual com países latino-americanos, ele provavelmente conseguirá o que quer, dada a disparidade de armas.

DISTÂNCIA DE TRUMP – Fica, contudo, a lição: não dá para contar com os EUA no futuro. Ele vai querer impor sua vontade de qualquer maneira, usando todos os meios à sua disposição. Portanto, também não dá para depender dele.

Cada arroubo de superioridade americana nos faz querer mais distância do valentão do parquinho. O saldo final, para os EUA, será afastar seus aliados cada vez mais. Precisaremos de novos parceiros.

O único jeito de convencer os EUA a serem cooperativos novamente é mostrar que o egoísmo excessivo é um mau negócio.