Mudanças climáticas indicam: o homem é um bicho pequeno destruindo a Terra

Charge: Mudanças Climáticas - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Blog do AFTM)

Ailton Krenak
Folha

Avista-se daqui, neste início do século 21, um horizonte que nos interroga acerca da curta, mas acidentada viagem da nave humana no planeta, que avança feito cabra-cega sobre o ecossistema terrestre, feito astronauta perdido em Marte que ainda não encontrou água.

Apesar dos anúncios cheios de expectativa, água assim, na superfície, somente no planeta azul. Água que brota das fontes e abraça as águas que descem do céu em pura simbiose criadora de vida alimentando o organismo Terra, essa sim, nave-mãe de incontáveis organismos vivos: só aqui.

QUANTO AINDA TEMOS? – Nossos biólogos contemporâneos estão se debruçando no horizonte tomados pela seguinte pergunta: quanto planeta ainda temos? Pois a biologia é uma ciência da vida, que não poderia seguir refém do pensamento utilitário (que andou sequestrando o campo das ciências). Ela ocupa-se do organismo vivo, que nós humanos também integramos dentro da teia da vida.

Menos de três décadas nos elevaram à marca de 1,5 ºC sobre o limite do clima viável no planeta. Lembremos que, até década de 1990, ou seja, anteontem, ainda havia a possibilidade de manobrarmos as nossas escolhas, como humanidade, para contar com o clima necessário à manutenção da diversidade biológica dessa nave-mãe, mas perdemos a chance.

PASSOU DA HORA – Perdemos a ocasião de trabalhar a favor da teia da vida, com as condições necessárias para restaurar os ecossistemas danificados.

Com a perda da diversidade e da base resiliente dos muitos organismos da Gaia, chegamos rápido à condição de mitigação de danos. Essa é a nossa realidade global hoje, alcançando todos os continentes e tornando a base natural de reprodução da vida insustentável.

Sustentabilidade tornou-se um lema corporativo, descolado da condição material necessária à produção da vida em abundância.

É fato que a base de resiliência dos sistemas da vida para todos os seres mudou, mesmo que o animal sapiens insista em progredir em sua fúria cartesiana, prospectando futuros.

DIZIA NIEMEYER – Como menciona o mestre Oscar Niemeyer: “A força da inteligência do ser humano, que nasceu animal, outro animal qualquer, hoje pensa e, daqui a pouco, está andando entre as estrelas, está conversando com os outros seres que estão por essas galáxias. […] Sou otimista que o mundo pode melhorar, mas o ser humano, não.”

O mestre que fez da vida um labor incessante de criar mundos possíveis nada esperava desse animal que teve origem com todos os outros e que, dentro do ciclo evolutivo, “deu de pensar”.

Esse humano, que se divorciou da teia da vida, precisa escapar da ilusão do ego narcisista e experimentar, no dizer do poeta Carlos Drummond de Andrade, “a viagem de si a si mesmo” ao “pôr o pé no chão do seu coração”. Somos enfim, bicho pequeno da Terra.

3 thoughts on “Mudanças climáticas indicam: o homem é um bicho pequeno destruindo a Terra

  1. Um governo sem competência para governar: em vez de 25, governo Lula deveria ter duas prioridades

    Executivo e Legislativo precisam se unir para conter gastos públicos e limitar emendas parlamentares

    Fernando Haddad apresentou uma relação com 25 projetos que considera prioritários para a economia. Ora, quem tem 25 prioridades, na realidade, não tem nenhuma. O problema é ainda mais grave.

    Estão fora da lista de Haddad as duas prioridades a que Executivo e Legislativo deveriam se dedicar. Primeira: um ajuste fiscal capaz de estabilizar a dívida pública. Segunda: impor transparência e limites à farra das emendas parlamentares, as maiores do mundo.

    A dívida pública brasileira cresce sem parar. Até agora, o governo finge que o problema não existe.

    A outra prioridade do governo deveria ser impor limites às emendas parlamentares. É preciso garantir total transparência, como exige a Constituição e tem determinado STF, e reduzir a fatia sem paralelo no mundo que elas ocupam no Orçamento.

    Fonte: O Globo, Opinião, 08/02/2025 00h10 Por Editorial

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