Henriqueta, retratada por Nássara
Paulo Peres
Poemas & Canções
A poeta mineira Henriqueta Lisboa (1901-1985), em 1963, foi a primeira mulher eleita membro da Academia Mineira de Letras. Em 1984, recebeu o Prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras pelo conjunto de sua obra. Intelectual sensível, dedicou sua vida à poesia e sustentava que “O Tempo é Um Fio” e com bastante fragilidade precisa ser sustentado e vivido.
O TEMPO É UM FIO
Henriqueta Lisboa
O tempo é um fio
bastante frágil
Um fio fino
que à toa escapa.
O tempo é um fio.
Tecei! Tecei!
Rendas de bilro
com gentileza.
Com mais empenho
franças espessas.
Malhas e redes
com mais astúcia.
O tempo é um fio
que vale muito.
Franças espessas
carregam frutos.
Malhas e redes
apanham peixes.
O tempo é um fio
por entre os dedos.
Escapa o fio,
perdeu-se o tempo.
Lá vai o tempo
como um farrapo
jogado à toa.
Mas ainda é tempo!
Soltai os potros
aos quatro ventos,
mandai os servos
de um pólo a outro,
vencei escarpas,
voltai com o tempo
que já se foi!…
“Passar tempo é o meu fito,
Ideal que só me resta:
Pra mim não há melhor festa,
Nem mais nada acho bonito.”
Do poema “Cinco Horas”, de Mário de Sá-Carneiro.