Maior absurdo de Trump é pretender expulsar os palestinos de Gaza

Enfurecido com impeachment, Trump diz que pedirá para China investigar Biden - Jornal O Globo

Assessores de Trump têm medo de contestar suas ideias

Thomas Friedman
Folha/New York Times

O plano do presidente Donald Trump de assumir Gaza, remover seus 2,2 milhões de palestinos e transformar a faixa costeira desértica num tipo de Club Med prova apenas uma coisa: como é curta a distância entre o pensamento fora da caixa e o pensamento desvairado.

Posso dizer com segurança que a proposta de Trump é a iniciativa de “paz” para o Oriente Médio mais absurda e perigosa jamais apresentada por um presidente americano.

APROVAÇÃO IMBECIL – Ainda assim, não tenho certeza do que é mais assustador: a proposta de Trump para Gaza, que parece mudar a cada dia, ou a velocidade com que seus conselheiros e autoridades do gabinete — quase nenhum informado sobre os planos com antecedência — balançaram a cabeça em aprovação à ideia, como uma coleção de bonecos bobbleheads.

Prestem atenção, senhoras e senhores: essa proposta não trata apenas do Oriente Médio. É também um microcosmo do problema que enfrentamos neste momento enquanto país.

Em seu primeiro mandato, o presidente Trump esteve cercado por mitigadores: conselheiros, secretários de gabinete e generais que muitas vezes evitaram e contiveram seus piores impulsos. Agora está cercado somente por amplificadores: conselheiros, secretários de gabinete, senadores e membros da Câmara que vivem com medo de sua ira ou de serem atacados por multidões online atiçadas por seu fiscal, Elon Musk, caso saiam da linha.

SEM AMARRAS – Essa combinação de Trump sem amarras, Musk sem restrições e grande parte do governo e do establishment empresarial vivendo com medo de ser tuitado por qualquer um dos dois,  é uma receita para o caos, domesticamente e no exterior.

Trump opera mais como o Poderoso Chefão do que como o presidente: “Belo pequeno território que vocês têm aí (Groenlândia, Panamá, Gaza, Jordânia, Egito). Seria uma pena se algo ruim acontecesse por lá…”.

Isso pode funcionar nos filmes, mas na vida real, se o governo Trump realmente tentar forçar a Jordânia e o Egito ou qualquer outro Estado árabe a aceitar os palestinos que vivem em Gaza — e fazer o Exército israelense prendê-los e deslocá-los, já que Trump disse que a transferência não envolveria tropas dos EUA e não custaria nenhum centavo aos contribuintes americanos.

DESEQUILÍBRIO — A transferência massiva desestabilizará o equilíbrio demográfico na Jordânia entre os habitantes da Cisjordânia e os palestinos, desestabilizará o Egito e desestabilizará Israel.

Por mais que os israelenses odeiem o Hamas, estou certo de que muitos soldados, fora os de extrema direita, se recusarão a fazer parte de qualquer operação que possa ser comparada à captura e transferência de judeus de suas casas durante a 2ª Guerra.

Conforme opinou o jornal israelense Haaretz: “Não há soluções mágicas capazes de dissolver simplesmente o conflito. A audácia de apresentar tal solução — que ecoa termos como transferência, limpeza étnica e outros crimes de guerra — é um insulto tanto aos palestinos quanto aos israelenses”.

REAÇÃO EM CADEIA – Trump também criará uma reação contra embaixadas e interesses dos Estados Unidos em todo o mundo árabe muçulmano, com muitos muçulmanos indo às ruas na Europa, no Oriente Médio e na Ásia se manifestar contra palestinos sendo forçados a deixar suas terras em nome de Trump, criando um resort litorâneo na Faixa de Gaza — que Trump disse que “possuirá” e para onde os palestinos não teriam direito de retornar.

Isso seria o maior presente que Trump poderia dar para o Irã se reerguer no Oriente Médio e envergonharia todos os regimes sunitas pró-EUA.

Empresas americanas como McDonalds e Starbucks, que já enfrentaram boicotes em razão do armamento fornecido pelos EUA a Israel na guerra de Gaza, seriam prejudicadas ainda mais duramente.

ALGUMA RAZÃO – Trump tem alguma razão? Bem, sim. Ele está certo ao afirmar que o Hamas é uma organização enlouquecida e perversa, que, ao massacrar de cerca de 1,2 mil pessoas em 7 de outubro de 2023 e sequestrar cerca de 250, desencadeou o impiedoso ataque israelense contra o Hamas, escondido no subsolo em Gaza, sem nenhum respeito aos civis de Gaza.

O Hamas transformou seus vizinhos palestinos em objetos de sacrifício humano com intenção de deslegitimar Israel em todo o mundo. Para muitos jovens que só recebem notícias por meio de vídeos no TikTok, funcionou, embora a estratégia não pudesse ter sido mais cínica.

Trump também está certo ao afirmar que, como resultado, Gaza transformou-se em um inferno. E também está certo ao afirmar que o problema dos refugiados palestinos foi mantido vivo durante muito tempo por cínicos, no mundo árabe e em Israel, e por líderes palestinos incompetentes.

SEM LIMPEZA ÉTNICA – Sair do 7 de Outubro para qualquer tipo de processo de paz não será fácil, a ideia de que tudo já foi tentado e a única opção que resta é limpeza étnica está errada.

Mas é isso que a direita israelense e o Hamas querem que todos acreditem.

Por fim, Egito e Jordânia reafirmam unidade contra plano de Trump para realocar em seus territórios os palestinos expulsos de Gaza.

5 thoughts on “Maior absurdo de Trump é pretender expulsar os palestinos de Gaza

  1. Estamos em “Fervereiro”, daí a temperatura e o que faz brotar em miolos moles e quase cosidos, principalmente em nossos tórridos e planaltinos e sem “tinos” quintais!

  2. Como a guerra da invasão da Rússia na Ucrânia está fazendo três anos e, nesse já longo período, tanto a Inglaterra, Alemanha e França como outros países europeus não tiveram competência para resolver o conflito e estabelecer a Paz na região, o recém-empossado presidente dos EUA, Donald Trump, se achou no pleno direito de se meter na história do seu jeito, sem dar satisfação a ninguém.

    • Líderes europeus, reunidos hoje em Paris para supostamente discutir a guerra na Ucrânia (coisa que não fizerem em três anos), demonstram na realidade grande preocupação com interesses de seus próprios países, após Trump anunciar corte no apoio militar à Europa e novas tarifas comerciais, além de negociar diretamente com Putin a questão da Ucrânia.

  3. Resumindo, assim como a humanidade, a informática despertou e evoluiu, adquiriu novos métodos e conhecimentos, se expandiu e democratizou, passou a adquirir os vícios dos humanos, se monetizou e prostituiu, e agora parte para dominar e escravizar o mundo, um mundo onde fanáticos acreditam serem dispensáveis os cérebros.

  4. SOCORRO!!!
    ALGUÉM PODIA ME AJUDAR A CANCELAR A MINHA ASSINATURA DO JORNAL “O ESTADO DE SÃO PAULO”?
    OS CARAS,QUE JÁ TIVERAM,MELHORES DIAS,NÃO QUEREM PERDER UM ASSINANTE,DE JEITO NENHUM!!!
    DECADÊNCIA TOTAL!

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