Bolsonaro observa desgaste gradativo e luta para não ser abandonado

Bolsonaro reuniu bem menos gente que nos atos anteriores

Pedro do Coutto

No último domingo, em Copacabana, o ex-presidente Jair Bolsonaro, do alto de um trio elétrico, declarou que “Ainda dá tempo”, logo após afirmar que: “Se algo, na covardia, acontecer comigo, continue lutando”. Entretanto, se a intenção da mobilização era demonstrar força ou sugerir que sua possível prisão poderia desencadear o caos social, o resultado ficou muito aquém das expectativas bolsonaristas que, inicialmente, previam um público de um milhão, que depois foram reduzidas para 500 mil.

No fim das contas, porém, no fundo da questão, o Monitor do Debate Político do Cebrap/USP apontava que o ato contou com apenas 18,3 mil participantes — bem abaixo dos 45 mil da Avenida Paulista em 7 de setembro, dos 185 mil em fevereiro e dos 32,7 mil que compareceram a Copacabana em abril de 2023. Até a audiência online refletiu essa queda: a transmissão oficial atingiu no máximo 29 mil espectadores simultâneos, um número inferior ao que Bolsonaro costumava alcançar no passado.

DESGASTE – Esse cenário pode indicar um certo desgaste entre seus próprios apoiadores, possivelmente refletindo um distanciamento das preocupações mais urgentes da população. O evento foi pautado, oficialmente, por dois temas principais. De um lado, a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro, questão destacada por Bolsonaro na abertura de seu discurso.

O segundo era o “Fora Lula em 2026”, já que o ex-presidente descartou apoiar um pedido de impeachment imediato, preferindo deixar o governo enfrentar dificuldades sem interferência direta. Assim, seu tom em relação a Lula foi moderado, assim como o da maioria de seus aliados. O principal alvo dos ataques permaneceu sendo Alexandre de Moraes.

Uma das poucas exceções foi Flávio Bolsonaro, que chamou Lula de ladrão. Já Tarcísio de Freitas, embora tenha feito uma defesa veemente da anistia, focou nas dificuldades econômicas do país, especialmente a inflação dos alimentos. Como em atos anteriores, Silas Malafaia adotou o discurso mais agressivo contra o STF e, em especial, contra Moraes, a quem chamou de “criminoso” e “ditador”. Ele também alertou que uma eventual prisão de Bolsonaro poderia gerar consequências imprevisíveis, insinuando um cenário de instabilidade.

CRÍTICA –  Após receber o microfone das mãos de Malafaia, Bolsonaro mencionou as mulheres presas pelos atos de 8 de janeiro e criticou as penas impostas pelo STF. Pouco depois, porém, desviou o foco para sua própria situação, repetindo argumentos já utilizados em discursos anteriores para denunciar o que considera uma perseguição por parte do TSE e relembrar o processo eleitoral de 2022.

Em determinado momento, Bolsonaro deu sinais de que tem poucas esperanças de reverter seu quadro jurídico, que pode levá-lo à prisão.  Os eventos recentes indicam uma queda na capacidade de mobilização do ex-presidente. A cada nova manifestação, o público diminui, ainda que ele continue a ser recebido com entusiasmo por seus apoiadores mais fiéis. Diante da velocidade dos processos judiciais que podem levá-lo a uma condenação ainda este ano, Bolsonaro decidiu intensificar suas convocações. Em uma espécie de ‘tour final’, tenta, sob a bandeira da anistia, proteger a si mesmo.

No palco, o que se viu foi Bolsonaro tentando transmitir, tanto em suas palavras quanto nas entrelinhas, um apelo para não ser abandonado. Talvez um dos últimos, antes de enfrentar o que parece ser um destino inevitável.

13 thoughts on “Bolsonaro observa desgaste gradativo e luta para não ser abandonado

  1. Comício de Malafaia mostra fraqueza de Bolsonaro

    Foi um fracasso a tentativa de mobilizar as massas em torno de uma pauta que só interessa a Jair Bolsonaro – a anistia aos golpistas

    Fiasco do ato no Rio, que deveria servir para Bolsonaro exibir força popular em favor do projeto para livrá-lo da prisão, mostra que essa pauta só interessa ao ex-presidente, e não ao País

    Bolsonaro fracassou miseravelmente ao convocar um ato em Copacabana que reuniria “1 milhão de pessoas”, segundo sua projeção, com o evidente propósito de demonstrar força política às vésperas do julgamento da denúncia oferecida contra ele ao STF.

    Passaram pelo comício entre 18 mil e 30 mil pessoas, no máximo, número muito abaixo do que o bolsonarismo costumava mobilizar, sobretudo no Rio, seu reduto.

    Diante desse fiasco, foi comovente o esforço do governador do Rio, o bolsonarista Cláudio Castro (PL), de fazer parecer que havia mais gente – 400 mil pessoas, segundo o cálculo doidivanas da Polícia Militar fluminense.

    Havia muito menos gente em Copacabana do que Bolsonaro imaginou que haveria. O poder mobilizador de Bolsonaro está diminuindo, o que é uma péssima notícia para quem precisa de apoio político para escapar da prisão.

    Restou claro que aos golpistas, não é uma pauta nacional. Não é nem sequer pauta de uma direita responsável.

    A anistia é uma agenda que só interessa a Bolsonaro, uma espécie de boia para o encalacrado ex-presidente à beira de acertar suas contas com a Justiça.
    Sem êxito, tenta ludibriar seu próprio público com a falácia de que estaria preocupado com “as senhoras idosas” que teriam sido condenadas pelo STF por sua participação nos atos golpistas.

    É possível avaliar que, de fato, o STF pode ter sido excessivamente severo ao dosar as penas de determinados condenados pela insurgência violenta contra a eleição de Lula, algumas delas somando mais de 17 anos de prisão.

    Outra coisa, muito diferente, é pugnar pelo perdão dos que tentaram derrubar a ordem constitucional vigente desde 1988 como nunca se tentou desde a redemocratização do País.

    Fonte: O Estado de S. Paulo, Opinião, 18/03/2025 | 09h32 Por Editorial

    Malafaia já não está mais conseguindo levar tantos evangélicos aos comícios de Bolsonaro?

  2. ‘Fiasco de ato mostra que pauta da anistia a golpistas só interessa a Bolsonaro’

    ‘Povo brasileiro não apoiará quem tenta manipular a memória coletiva’.

    Editorial

  3. Uma queda da popularidade e poder de convocação do Bolsonaro, não deixa de ser uma nota de alívio e esperança para o país, porque é insofismável o grave risco que uma liderança absoluta desse personagem suporia para a nação.
    Agora, o que eu nunca conseguirei compreender é como milhões de brasileiros se identificam com um indivíduo da categoria moral e criminosas desse elemento.

  4. 1) “Devemos orar pelos políticos, pelos administradores da vida pública. A tentação do poder é muito grande. A omissão de quem pode e não auxilia o povo é comparável a um crime que se pratica contra a comunidade inteira…

    2) “Tenho visto muitos espíritos dos que foram homens públicos na Terra em lastimável situação na vida espiritual” = Chico Xavier, Agenda todo dia 2017, Editora Eme.

    • Abrólhos!
      Lembra aquela história: Um fanho era proprietário de um passarinho diferente e diante da insistência da mesma pergunta de cada possivel interessado e comprador sobre o que o bichinho comia, o fanho então já de saco cheio respondeu: Ele come alpiste, painço e o “c” da mãe!
      PS. Haddad, só falta taxar o alpiste, o painço e o “c” da mãe! https://oglobo.globo.com/economia/noticia/2025/03/17/governo-vai-propor-tributar-dividendos-para-compensar-aumento-da-isencao-do-ir-para-quem-ganha-ate-r-5-mil.ghtml

    • “Abrolhos!”

      ” Controle por Psicopatas. ”
      “Estima-se que entre 3% a 5% da população em geral seja constituída por psicopatas. Esses indivíduos ascendem às posições de liderança porque são profundamente insensíveis e têm corações de pedra. Estamos vivendo em um tempo em que os psicopatas ascenderam à liderança política, econômica e social em virtualmente todos os países desenvolvidos. Portanto, é natural que eles cooperem entre si, pelo menos por um tempo, em âmbito internacional, de modo a aumentar ainda mais seus poderes e influências. Se você tem dificuldade em acreditar que existe uma grande conspiração internacional, então pelo menos considere a possibilidade que os psicopatas mais influentes do mundo estejam trabalhando em conjunto para atingirem um objetivo comum. Se eles realmente estão, então a gigantesca perda de vidas que o plano globalista envolve será muito mais fácil de compreender.”

  5. Eduardo Bolsonaro pede licença do cargo de deputado

    Eduardo Bolsonaro (PL-SP) pediu nesta terça-feira, 18, licença do mandato na Câmara dos Deputados.

    Ele se encontra nos Estados Unidos há 19 dias, para onde teria fugido a fim de evitar que o STF apreendesse seu passaporte e decretasse sua prisão.

    Fonte: O Estado de S. Paulo, Política, 18/03/2025 13h28 Por Levy Teles e Guilherme Caetano
    Fonte: UOL, Política, 14/03/2025 05hh20 Por Felipe Pereira e Jamil Chade , em Brasília

    Teria dado um chapéu no Moraes, que ficaria na mão, com a hipótese de pedido de extradição?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *