Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)
Luiz Felipe Pondé
Folha
Haveria algum ganho na experiência de humilhação? Difícil dizer. Na academia, durante muito tempo, foi comum se assumir que humilhar os alunos e orientandos seria uma forma de formá-los para a vida do conhecimento. Esta formação começaria de fato quando você perceberia o quanto insignificante você é diante do que já foi produzido em termos de conhecimento muito antes de você.
Lembro-me dos primeiros dias da graduação de filosofia na USP, nos anos 1980, quando um dos grandes professores que tive – todos eles foram grandes professores – nos disse de forma direta: não pensem que vocês estão aqui para ter opinião; qualquer coisa que você pense, muitas pessoas já pensaram, e melhor, antes de você, portanto, calem a boca e leiam os textos. A famosa conversão aos textos. O professor tinha razão.
“NINAR” OS ALUNOS – Difícil imaginar falas como essas hoje quando a universidade caiu para a condição de “casa do pais dos alunos” por conta da necessidade de os fidelizar num mundo competitivo com cada vez menos jovens. E as públicas também ninam os alunos por razões ideológicas.
O marketing é a viga mestra da educação nas escolas privadas hoje. E a ideologia e os convescotes políticos nas públicas. Muitos dos professores que tive seriam processados hoje por pais preocupados em manter seus filhos com aulas convertidas em canções de ninar.
A grande humilhação hoje é a humilhação do conhecimento, e não uma humilhação como parte de uma iniciação ao conhecimento consistente e sistemático. Humilhação no sentido do senso comum mesmo.
UMA FERRAMENTA – O conhecimento hoje converteu-se em ferramenta da barbárie das vendas. As pessoas só querem fórmulas de sucesso, de felicidade, de controle sobre tudo. Imagino um futuro em que todos os cursos de ciências humanas terão dois tipos de modelo.
Ou se converterão em igrejas radicalizadas à esquerda —já estão quase lá—, perseguindo colegas professores e alunos que não rezem na cartilha do consórcio ideológico. Ou terão se transformado em departamentos de marketing, conteúdos motivacionais e autoajuda.
No primeiro caso, o discurso será, como já é, mas o será de forma mais evidente e descarada, a universidade em prol do combate à desigualdade social e de gênero, ao aquecimento global e em defesa das minorias “subalternizadas”. “Morte a quem não nos acompanhar!”
EMANCIPAÇÃO – No segundo caso, aparentemente à direita, mas inteiramente integrado ao primeiro caso, como já o é, o discurso será de emancipação do indivíduo, direito a realização de todos os seus desejos e da Inteligência Artificial.
Anote aí no seu caderno para dicas de sucesso profissional: é mais chique falar “ei-ai”, como em inglês, do que “ih-ah”, como em português— a serviço de nossos delírios de saúde, longevidade e ganhos financeiros. Logo logo, suas fezes e vômito serão commodities. Uma das marcas da psicose de mercado em que vivemos é que tudo deve ser monetizável.
Uma humilhação sistemática. Provavelmente, aqueles que mais percebem essa humilhação não existirão mais ou estarão já institucionalmente neutralizados.
AUTORITARISMO – Um dos efeitos desse processo é a transformação da atual democracia num regime cada vez mais autoritário, ainda que falando o tempo todo em “defesa da democracia e do estado de direito”.
A grande diferença entre os idiotas dos bolsonaristas e esse mundo a vir é que os agentes da dissolução da democracia tal como conhecemos virão das hordas acadêmicas, do marketing, das redações da mídia e do poder judiciário.
Os reacionários tentam destruir a democracia com planos decadentes, cafonas e estúpidos, arrombando a porta dos fundos. Os progressistas o farão pela entrada social e com palmas emocionadas dos bonitinhos e inteligentinhos, em nome do bem social e político.
IDIOTAS DO PROGRESSO – Um dos modos dessa humilhação do conhecimento virá pelas mãos dos idiotas do progresso. Aquele tipo de pessoa que desfila pelo mundo desde o século 19 e que agora tomou o poder por completo. Mede-se se seu coração está do lado certo ou não – como se fala no judaísmo – se você se sente mal ou não diante de um idiota do progresso.
Para além do fato inegável dos ganhos em ciência e tecnologia, o idiota do progresso se divide em duas categorias. O primeiro é aquele que vende avanços mirabolantes das ciências e tecnologia como algo já à venda na prateleira do outlet. O segundo é o que paga caro por essas mentiras. Qual tipo você é?
Suspeito que esse segundo tipo paga por essas mentiras porque, em tendo dinheiro para fazê-lo, imagina que fará parte de um grupo seleto de visionários que estará na nave espacial do Elon Musk quando chegar a hora de ir passar férias em Marte.
Nunca antes na história deste país (e deste planeta) esteve tão nítido:
Uma esquerda cínica, canalha e hipócrita ao extremo.
Uma direita que assume o que é.
No fim, não passam de backyardigans se embolando e dançando no centro do fisiologismo do mesmo quintal, com uma pracinha cara e chicha nuclear, no Distrito Federal.
O articulista tirou no que viu e acertou no que não viu. Inclusive trata-se de um intelectual respeitável, minimamente fora da bolha
Até que do ponto de vista das Ciências Exatas, dado sua metodologia e possibilidade de verificação, o desastre não é tão grande quanto nas Ciências Sociais, cuja metodologia inclue o próprio observador e há um elevadíssimo grau para “visões personalíssimas” e, muitas das vezes, não são verificadas, por preguiça intelectual ou mesmo por uma impáfia corporativista.
Não querem humilhar os alunos, querem os anular enquanto seres pensantes, criativos, críticos e auto-críticos. A universidade tornou-se uma linha de produção fordista de gênios imbecilizados.
A tomada da Academia por este estorvo petista, que há arrancou das mãos do tucanato (covarde), que se auto-intitula esquerda progressista exterminou as nossas Ciências Sociais transformando-as em seita dogmática, fundamentalista, fanática, cultuadora de personalidades.
Alguém poderia me citar algum grande intelectual da atualidade que tenha revolucionado e pautado as Ciências Sociais que saia do campus e transforme a realidade e a nossa própria auto-visão, superando o bananismo acadêmico, econômico, político e social, que nos mantem no quinto Mundo?
Pagamos fortunas pra formar “intelectuais” para terem seus titulos de doutor afirmando excrescência que o impeachment da pior Presidente que já tivemos, Dilma, fora um golpe. Sim, senhores, há teses e dissertações aprovadas por bancas que aprovaram este estelionato científico. Isto é ideologia, politicagem da mais barata e vil.
O que esperar de seitosos fundamentalistas que têm “formado” nosos jovens? Mera dominação ideológica, conformando-os, por exemplo, a cultivar políticos corruptos e ter a corrupção como nosso apropriado sistema político. Além de adorarem ditaduras, grupos terroristas medievais misóginos e homofóbicos, de aderirem ao neoludismo, vendo em quem domina o avanço tecnológico verdadeiros demônios, expressão da decadência ocidental (qual a civilização que têm como modelo, ainda não detectei) tal como o têm , por exemplos bigs techs.
O que é nossa Academia? Uma linha de produção fordista de gênios imbecilizados, incapazes de moverem uma pedra pra que saimos do bananismo, da desigualdade e do subdesenvolvimento, antes os reforçam. Atuando como Aparelho Ideológico da Velha República Tardia cleptopatrimonialista.
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Isto não que dizer que entre uma Análise de Fourier e uma Integral Dupla, não possa o cientista exato fazer sua pregação política vil, barata, eleitoreita e a-crítica. Está-se em estado de metástase.
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Vejam bem a nossa Rainha da Filosofia, traidora de sua classe, ou melhor dizendo o que é:
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=marilena+chaui+odeio+a+classe+m%C3%A9dia#fpstate=ive&vld=cid:ab
A propósito da Classe Média, a quem a “esquerda progressista” representa e se alia:
https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/7-bilionarios-afetados-pela-lava-jato-tem-patrimonio-total-de-r-288-bilhoes.html
Tire a classe média e coloque a “esquerda progressista” na fala da Rainha que fará sentido.
Pesquisando no Google Acadêmico vejam a enorme coleção de estelionatos intelecto/científicos que assertivam que o impeachment de dilma fora golpe.
https://scholar.google.com.br/scholar?hl=pt-BR&as_sdt=0%2C5&q=golpe+dilma&btnG=
Isto é tudo, menos ciência.
Aí vai uma homenagem áo atual estágio de nossas Ciências Sociais, para as quais jogasse no lixo o suado imposto de todos nós.
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=march+funebre#fpstate=ive&vld=cid:44375135,vid:7-9wXQpzESo,st:0
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O missivismo pareceu-me afeito ao neoludismo como os que critica.
Um regime cada vez mais autoritário
“Um dos efeitos desse processo (de humilhação sistemática) é a transformação da atual democracia num regime cada vez mais autoritário, ainda que falando o tempo todo em ‘defesa da democracia e do estado de direito’.
A grande diferença entre os idiotas dos bolsonaristas e esse mundo a vir é que os agentes da dissolução da democracia tal como conhecemos virão das hordas acadêmicas, do marketing, das redações da mídia e do poder judiciário.
Os reacionários tentam destruir a democracia com planos decadentes, cafonas e estúpidos, arrombando a porta dos fundos. Os progressistas o farão pela entrada social e com palmas emocionadas dos bonitinhos e inteligentinhos, em nome do bem social e político.”
Marilena Chauí?
Hehehehe