Mário, retratado por Tarsila do Amaral
Paulo Peres
Poemas & Canções
O romancista, musicólogo, historiador, crítico de arte, fotógrafo e poeta paulista Mário Raul de Moraes Andrade (1893-1945), no soneto “Quarenta Anos”, faz reflexões poéticas sobre amar a morte com o semelhante engano que amou a vida.
QUARENTA ANOS
Mário de Andrade
A vida é para mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar…Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei. Foi meu pecado…Horrendo
Seria agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!…Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
Para o mau poeta é melhor ficar na prosa
E não usar versos com o fim de convencer
Pois poesia é arte, que não nasce do saber
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Pois é, já teve fama quem afirmou que “Tudo vale a pena se a alma nao é pequena”. Como rima é correta e completa, mas como verdade é facilmente desmentida. Dois exemplos: 1. Uma topada no dedo do pé! 2.A picada de uma cobra venenosa desde que não seja na sogra.
O nosso poeta do dia afirma :
“Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo”
Nem vou argumentar, basta ver a definiçao de gozo:
1. Acto de gozar.
2. Sensação ou emoção agradável. = deleite, prazer, satisfação.
3. Posse ou uso pleno de alguma coisa.
4. Atitude ou dito em relação a algo ou alguém, com intenção de provocar o riso. = CHACOTA, TROÇA
5. Coisa divertida. = DIVERSÃO, GRAÇA
6. Prazer sexual.
7. Orgasmo.
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Quod erat demonstrandum!