Brics sofre baixas em série e Lula tenta contornar cúpula esvaziada

No Rio, Lula participou de fórum empresarial do Brics | G1

Sem os principais líderes, reunião do Brics ficou desmotivada

Felipe Frazão
Estadão

Os negociadores do Brics concluíram neste sábado, 5, o debate para o grupo adotar uma manifestação de consenso na Cúpula do Rio. Eles contornaram impasses que dominaram discussão ao longo da semana sobre o comunicado que será emitido neste domingo, dia 6, em nome de suas lideranças políticas.

Diplomatas envolvidos nas discussões relataram que o Brics caminha para elevar o tom contra os ataques sofridos pelo Irã, mas não no teor que Teerã desejava. Insatisfeitos, diplomatas iranianos ouvidos pelo Estadão questionaram se esse era o momento para “moderação” do Brics, mas dizem que às vezes é preciso tempo.

QUESTIONAMENTO – Um dos iranianos chegou a mencionar que, se a Rússia estivesse à frente do Brics neste ano, em vez do Brasil, o entendimento seria outro, com maior enfrentamento aos Estados Unidos e a políticas de Donald Trump. Por sediar neste ano a COP-30, o Brasil inverteu a ordem com Moscou.

A versão final da Declaração de Líderes do Rio deve ser oficialmente adotada pelos líderes no primeiro dia da cúpula. O teor completo do documento ainda não é púbico. O principal entrave foi demover a pretensão do Irã de mencionar uma “condenação veemente” aos ataques aéreos realizados por “EUA e Israel”, além de criticar ataques apenas à infraestrutura civil iraniana, sem mencionar danos causados por seus mísseis balísticos em Tel Aviv, como antecipou o Estadão.

A delegação iraniana também manifestou insatisfação com o termo usado para se referir a Israel, que é classificado pela cúpula iraniana como “entidade” ou “regime” sionista – termos considerados ofensivos em linguagem diplomática, e que o Brics não adotaria.

MODERAÇÃO DIPLOMÁTICA – O Irã estava insatisfeito com o fato de o Brics ter emitido uma declaração que não citava Israel e os Estados Unidos, na semana passada, ao se pronunciar pela primeira vez sobre os ataques. O grupo expressou “profunda preocupação” com a ação militar, um termo moderado em linguagem diplomática.

O impasse com o Irã reforçou as dificuldades que Cúpula de Líderes dos Brics vem sofrendo, que reduzem seu peso político e podem afetar a repercussão de um dos eventos mais importantes da estratégia de inserção internacional do governo Lula. Durante a semana, o Palácio do Planalto admitiu a possibilidade de ausências, sobretudo de países do Oriente Médio, o que torna a reunião uma das mais esvaziadas dos últimos anos.

A diplomacia brasileira trabalhava para contornar o esvaziamento da reunião. Os negociadores tentavam evitar que a ausência dos principais líderes políticos atrapalhe consensos em temas sensíveis, como guerras, o tarifaço comercial e o acordo em torno da proposta de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. A intenção da chancelaria brasileira é mandar um recado global pela “preservação do multilateralismo”.

RECUPERAR APOIO – Neste sábado, a presidência brasileira trabalhava para recuperar um apoio mais explícito ao Brasil e à Índia, no capítulo em que o bloco faz uma proposta de reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas. Ambos países almejam ocupar uma vaga permanente.

Um negociador afirmou que seria possível avançar em relação ao que ocorreu na Cúpula de Kazan, no ano passado, quando houve um revés para o País, por resistências da Etiópia e do Egito à menção conjunta de Brasil, Índia e África do Sul.

O principal entrave foi demover a pretensão do Irã de mencionar uma “condenação veemente” aos ataques aéreos realizados por “EUA e Israel”, além de criticar ataques apenas à infraestrutura civil iraniana, sem mencionar danos causados por seus mísseis balísticos em Tel Aviv, como antecipou o Estadão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Depois da derrocada na política interna, com a progressiva queda de popularidade de Lula, termina também o sonho da política externa. Perseguindo o Prêmio Nobel da Paz, Lula conseguiu antecipar sua gestão do Brics para este ano, mas deu tudo errado e agora o criador do petismo mostra quem daqui para frente, tem um encontro marcado com o fracasso. (C.N.)

Lula tem paixão pelo erro e quer usar Supremo para encurralar Congresso

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Charge do Paixão (Gazeta do Povo)

J.R. Guzzo
Estadão

O governo Lula tem feito nestes dois últimos anos e meio um trabalho realmente notável para demonstrar que é possível, sim, cometer o erro perfeito. É mais ou menos como falam os meteorologistas quando precisam descrever uma daquelas tempestades em que tudo o que poderia acontecer de ruim com os elementos naturais acontece – e o resultado é a tormenta que chamam de “perfeita”, ou seja, pior não poderia ficar.

A última tempestade perfeita que o governo arrumou para si próprio, e que como sempre os brasileiros terão de pagar, é um golpe mal e porcamente planejado e ainda pior executado – o aumento do IOF.

TOLERÂNCIA ZERO – Conseguiram aí, mais uma vez, atingir um nível de tolerância zero com o acerto, como já tinha acontecido com a tentativa de “monitorar” o Pix e em geral acontece toda a vez que a “equipe econômica” resolve ter uma ideia.

O imenso tumulto que o governo Lula armou para aprovar o aumento do IOF, o que, aliás, não conseguiu até agora, é um case study em matéria de como não resolver um problema fiscal. Pense em alguma coisa errada que o governo poderia fazer; eles fizeram. Pense em alguma coisa certa, uma ao menos, que pudessem ter feito; eles não fizeram.

O governo quebrou o Brasil porque, muito simplesmente, gasta mais do que tem o direito de gastar – e, pior do que tudo, não gasta para melhorar nada, mas para enriquecer a máquina do Estado.

IMPOSTOS DEMAIS – Falta dinheiro no Tesouro Nacional não porque o governo esteja cobrando pouco imposto. Vai arrecadar mais de R$ 4 trilhões este ano. Tem feito um aumento de imposto a cada 40 dias. O brasileiro, hoje, tem de trabalhar cinco meses inteiros do ano só para pagar o Fisco.

Falta dinheiro porque o governo Lula executa hoje o maior programa de concentração de renda do mundo, transferindo o resultado da produção e do trabalho, cada vez mais, para os cofres do Estado.

É, ao mesmo tempo, uma estratégia de perpetuação da pobreza. O dinheiro que está entrando não é “redistribuído” para os pobres, como diz a extrema esquerda; nunca é. Serve apenas para enriquecer o Estado e quem vive às suas custas.

CORTAR GASTOS – Num País em que o salário médio da magistratura é de R$ 60.000 por mês, e em que a Força Aérea não tem dinheiro para encher o tanque de seus aviões, a única saída é cortar gasto – e o que há de gasto a ser cortado neste País não tem tamanho. Mas Lula aumenta o imposto. Perde por 383 a 98 a votação que bloqueia o aumento. Usa uma dúzia de deputados do Psol para anular a vontade desses 383. Põe a culpa de tudo nos “ricos”. Faz o pior discurso do ódio que há hoje na praça. Chama o STF para fechar, na prática, o Poder Legislativo. Aposta na violência. É a obsessão pelo erro.

Por que o Fluminense realmente foi o melhor dos brasileiros nesta Copa

Web se rende a Renato Gaúcho após nova vitória do Flu no Mundial |  Metrópoles

Renato soube armar uma equipe realmente competitiva

Tostão
Folha

Fluminense x Chelsea farão uma das semifinais do Mundial de Clubes. O Chelsea foi um pouco melhor que o Palmeiras na vitória por 2 a 1. O brasileiro João Pedro, recém-contratado pelo Chelsea, entrou no segundo tempo após chegar dois dias antes nos Estados Unidos e mostrou seu talento. Provavelmente, terá mais uma chance na seleção brasileira. Richard Rios foi novamente o melhor jogador do Palmeiras.

Fluminense e Al Hilal fizeram tudo igual. Utilizaram o mesmo esquema tático com uma linha de cinco (três zagueiros e dois alas), três no meio campo e dois no ataque, a mesma intensidade e estratégia, sem recuar nem avançar a marcação. Os dois times mostraram a mesma qualidade individual e coletiva, criaram as mesmas chances de gol, mas quem ganhou foi Fluminense por 2 a 1, nos detalhes técnicos e na explosão emocional.

TUDO IGUAL – Quase todos os times do mundial têm atuado com três zagueiros, o que não é habitual nas equipes brasileiras. As diferenças dos times na Copa do Mundo estão nos detalhes. O terceiro zagueiro do Real Madrid, Tchouaméni, quando o time recupera a bola, se adianta e se torna um meio-campista.

Uma equipe com três zagueiros pode ser defensiva ou ofensiva. Vai depender dos posicionamentos, da marcação mais adiantada ou mais recuada. Penso que a melhor estratégia de marcação é ainda a tradicional duas linhas de quatro, com poucos espaços entre as duas linhas. Cada defensor tem um protetor a sua frente. Muitos times jogam com uma linha de cinco atrás, mas com apenas dois ou três no meio campo para auxiliá-los. Isso facilita para o adversário trocar passes na intermediaria e chegar com a bola dominada perto da área para finalizar.

DEIXAM ESPAÇO – As equipes que jogam com três zagueiros e com os alas avançados, costumam deixar muitos espaços nas costas dos alas. Os zagueiros tentam sair na cobertura e, com frequência, chegam atrasados e deixam muitos espaços pelo centro.

No passado, o terceiro zagueiro jogava atrás dos outros dois para fazer a cobertura. Hoje, os três atuam em linha. É preciso separar também o zagueiro do passado que ficava atrás dos outros dois, do líbero que, além de fazer a cobertura, avançava e se tornava um meio-campista quando o time recuperava a bola. Beckenbauer foi o melhor dos líberos e um dos maiores jogadores da história.

Um dos recentes avanços do futebol é a mudança de estratégia de acordo com o adversário e, às vezes, em uma mesma partida, por situações inesperadas que acontecem e que não foram ensaiadas. Os grandes elencos e as atuais cinco substituições facilitam as trocas de jogadores e de esquemas táticos.

LEMBRANDO CLODOALDO – No Mundial de 1970, contra o Uruguai, o Brasil perdia por 1 a 0 e o meia Gérson, muito marcado individualmente, conversou com o volante Clodoaldo durante o jogo e sem falar com o técnico Zagallo, trocaram de posições.

Logo após, recebi uma bola na lateral e Clodoaldo partiu em velocidade, sem marcação, para recebê-la dentro da área e fazer o gol, o que não era habitual na função de volante.

Como o futebol mudou bastante e ficou muito mais veloz, penso que os treinadores deveriam abandonar o mito de que eles são essenciais durante as partidas nas laterais do campo para falar e gritar com os jogadores. Eles deveriam assistir ao jogo de cima de onde se enxerga melhor e daí conversariam com os auxiliares no campo.

Para o PL, só há um cenário em que Lula desistiria de tentar a reeleição

Lula decepciona lideranças do movimento negro que o apoiaram durante a  eleição

Crescimento de Tarcísio faz Lula até pensar em desistir

Bela Megale
O Globo

Lula vem reforçando o discurso de que será candidato à reeleição e que vai ser o primeiro presidente eleito quatro vezes no Brasil. O PL, de Jair Bolsonaro, avalia, no entanto, que existiria um cenário capaz de tirar o petista da disputa.

No grupo do ex-presidente, a candidatura do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-PB) ao Palácio do Planalto é vista como o único caminho com potencial para fazer com que Lula desista da corrida pela Presidência em 2026.

LULA NÃO DESISTE – Integrantes do governo relataram à coluna que não veem hoje disposição do petista para desistir da reeleição contra qualquer nome da direita. Eles também colocam dúvidas sobre a possibilidade de Tarcísio concorrer ao Palácio do Planalto.

Os próprios ministros de Lula consideram a reeleição dele sacramentada ao governo de São Paulo e avaliam que seria um erro Tarcísio entrar numa disputa contra Lula. Para eles, a derrota para o presidente, que tenta a reeleição, poderia “enterrar” o futuro político do pupilo de Jair Bolsonaro.

Já os bolsonaristas acreditam que, se Tarcísio se lançar, terá apoio dos demais governadores de direita que hoje trabalham para se cacifar como presidenciáveis, como Ratinho Júnior, do Paraná, Romeu Zema, de Minas Gerais, e Ronaldo Caiado, de Goiás.

APOIARÃO TARCÍSIO – No PL existe a expectativa de que, mesmo todos eles sendo de siglas distintas, esses governadores abrirão mão de concorrer contra o governador de São Paulo e até integrarão sua campanha.

O cenário traçado, inclusive, é que alguns deles façam parte de uma eventual gestão de Tarcísio como ministros, caso ele seja eleito.

No PL, a avaliação é que, se houver um apoio em massa em torno de Tarcísio, tanto de partidos do centrão como dos governadores, Lula pensaria duas vezes antes de arriscar ser derrotado na última vez que concorrerá à Presidência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– A essa altura do campeonato, especular é preciso. Mas deve-se levar em conta que Lula está com prazo de validade vencido e será um risco concorrer com 81 anos. Quanto a Bolsonaro, mais moço, terá 72 anos, mas está inelegível e com a saúde abalada. Ao invés de imbrochável, ele agora está imprestável. (C.N.)

“Pensando em Ti”, uma canção imortal, de David Nasser e Herivelto Martins

David Nasser era capaz de produzir uma letra de música em questão de  minutos - Jornal Opção

Herivelto Martins e David Nasser

Paulo Peres
Poemas & Canções

O  jornalista, escritor e letrista David Nasser (1917-1980), nascido em Jaú (SP), em parceria com Herivelto Martins, é autor de diversos clássicos do nosso cancioneiro popular, entre os quais “Pensando em ti “, cuja letra, através de hipérboles, destaca uma paixão desmesurada. Este samba-canção foi gravado por Nelson Gonçalves, em 1957, pela RCA Victor.

PENSANDO EM TI
Herivelto Martins e David Nasser

Eu amanheço pensando em ti
Eu anoiteço pensando em ti
Eu não te esqueço,
É dia e noite
Pensando em ti

Eu vejo a vida
Pela luz dos olhos teus
Me deixe ao menos
Por favor pensar em Deus

Nos cigarros que eu fumo
Te vejo nas espirais
Nos livros que tento ler
Em cada frase tu estás

Nas orações que eu faço
Eu encontro os olhos teus
Me deixe ao menos
Por favor pensar em Deus

Ao mandar ao Supremo o caso do IOF, Lula preferiu um jogo de perde-perde

A imagem mostra um grupo de pessoas em um evento. Em primeiro plano, um homem de cabelo grisalho e barba branca, vestindo uma camisa clara e um paletó escuro, parece pensativo. Ao fundo, outras pessoas estão visíveis, algumas com expressões neutras, e outras em conversação. A iluminação é suave e o ambiente parece ser interno.

Desorientado e sem assessoria, Lula comete erros sucessivos

Elio Gaspari
O Globo

Existe um mau espírito em Brasília e ele às vezes captura o presidente, fazendo com que exacerbe as crises que entram no Palácio do Planalto. Com Bolsonaro, o mau espírito fez a festa, levando-o a falar em “meu Exército”, louvar a cloroquina e demonizar as vacinas. Lá se foi o tempo de Fernando Henrique Cardoso, quando as crises entravam gordas no Planalto e saíam magras.

Lula decidiu levar ao Supremo Tribunal Federal a questão do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras. Seja qual for a decisão do STF, o governo de Lula perde.

TUDO ERRADO – Se perder, perdeu, se ganhar terá que lidar com um Congresso ferido. Tudo isso por causa de um aumento de imposto incentivado na sanduicheria do Ministério da Fazenda, sem que fossem ouvidos o Banco Central e ministros que cuidam da imagem do governo.

Se os çábios da Fazenda tivessem mais humildade, teriam tirado o combo do escurinho de Brasília, ouvindo colegas do governo buscariam outras ideias.

O aumento do IOF foi um “combo” (nas palavras do ministro Fernando Haddad), para compensar uma perda de arrecadação na busca de equilíbrio das contas públicas. No sanduíche viria também um corte de gastos. O “combo” desandou, e o governo tentou, sem sucesso, negociar uma gambiarra. Não conseguiu e resolveu ir para o tudo ou nada no plenário.

NADA OU NADA – Na realidade tratava-se de um nada ou nada, pois o presidente da Câmara tinha avisado que não havia votos suficientes para aprová-lo. Batido, o mau espírito convenceu Lula a zangar-se com Hugo Motta e a levar a crise para o Supremo.

Ao escalar Motta para bode expiatório, a turma da Fazenda e uma parte do Planalto resolveram ampliar a crise. Terão de lidar com um aliado ferido.

Na retórica oficial, a ida ao STF pretende defender uma prerrogativa constitucional do Poder Executivo. No recheio de um novo combo, enfiaram também uma hipotética defesa do andar de baixo.

E AS PROMESSAS? – Contem outra, doutores. Apesar da promessa de Lula na sua posse, a fila dos segurados do INSS chegou a 3,9 milhões. Desde 2019 (governo Bolsonaro) milhares de aposentados vinham reclamando das tungas que tomavam de entidades fraudulentas.

Até a metade deste ano os larápios tiveram mão livre e roubaram bilhões de reais de milhões de segurados.

Uma medida provisória publicada no último dia 11 mexeu no prazo do auxílio-doença concedido a partir de uma análise documental. O segurado podia receber seu benefício por 180 dias. Agora, só o receberá por 30 dias. Passado esse prazo, deverá conseguir uma perícia médica presencial ou ser atendido por um serviço de telemedicina.

CONGRESSO CONSERVADOR – Antes mesmo da sua vitória no segundo turno, Lula sabia que os eleitores haviam escolhido um Congresso conservador, com uma banda feroz. Ele prometia amortecer essa desdita conversando com parlamentares, mas jogou as palavras ao vento.

No perde-perde em que se meteu, o melhor resultado para a encrenca seria perder no tribunal. Ganhando, levará água para a banda feroz, às vésperas de um ano eleitoral, com um governo em viés de baixa junto à opinião pública. Uma receita para novos desastres.

Crédito imobiliário para classe média: promessa eleitoral ou armadilha econômica?

Mudança de regime no Irã é aceitável se ocorrer lá dentro e na direção certa

João Pereira Coutinho
Folha

Um espectro ronda o Oriente Médio — o espectro do neoconservadorismo. Com a guerra no Irã e os bombardeios americanos contra as centrais nucleares do país, não faltam especialistas em pânico: “Os ‘neocons’ estão de volta!” Será que os erros do Afeganistão e do Iraque vão se repetir? Só Deus sabe, meus filhos — e eu não ponho a mão no fogo por nenhum ser bípede.

Mas, até agora, há uma diferença entre impedir que a teocracia milenarista dos aiatolás consiga uma bomba nuclear e querer instalar em Teerã uma democracia ao estilo ocidental. Sim, em teoria, eu gostava que ambas fossem possíveis. Quem não gostaria?

INTERFERÊNCIAS – Mas também sei, na prática, que as interferências externas na política interna da região produziram mais desastres que triunfos. E não é preciso citar os casos óbvios do Afeganistão e do Iraque porque o mundo não começou ontem.

O historiador Fawaz Gerges, no seu “What Really Went Wrong: The West and the Failure of Democracy in the Middle East”, ajuda a compreender os fracassos democráticos do Oriente Médio pela ação direta que os Estados Unidos tiveram na região.

Não compro todas as teses de Gerges, que manifestamente subestima o antissemitismo brutal dos países árabes como causa dos seus infortúnios. Um exemplo: se, em 1947, a Liga Árabe tivesse aceitado o Plano de Partição da ONU para a Palestina, talvez o rio de sangue que corre desde então tivesse secado na origem.

LIÇÃO DO AVISO – Também não endeuso, como ele faz, líderes megalômanos como o egípcio Gamal Abdel Nasser, um dos principais responsáveis pela guerra de 1967. Mas os capítulos que Gerges dedica ao Irã são oportunos para o momento presente. Servem como lição de aviso.

Depois da Segunda Guerra Mundial, escreve o autor, o Irã poderia ter seguido um caminho diferente — mais democrático, mais justo, mais pluralista.

Essa era, ao menos, a intenção do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, que começou a agitar os interesses britânicos ao nacionalizar o petróleo iraniano em benefício do próprio país. Foi seu primeiro “pecado”. O segundo foi a aproximação aos comunistas locais como forma de sobreviver politicamente à contestação crescente do exército e da monarquia Pahlavi contra ele.

COM EIKE NO PODER – No contexto da Guerra Fria, e com a mudança da guarda em Washington — Eisenhower substituindo Truman —, as ousadias de Mossadegh terminaram num golpe de Estado em 1953, orquestrado pela CIA. Os interesses econômicos e geoestratégicos estavam salvaguardados.

Como se não bastasse, os americanos continuaram apoiando a ditadura do xá Reza Pahlavi — que justificava seu autoritarismo com uma frase célebre: “Quando os iranianos aprenderem a se comportar como os suecos, eu vou me comportar como o rei da Suécia.” Nos entretantos, a repressão aumentava, o descontentamento social também —e, em 1979, quando o país estava pronto para uma revolução, foram os clérigos medievais de Khomeini, então no exílio, que colheram os frutos do desencanto. A oposição democrática ao xá estava na prisão —ou no cemitério.

MORAL DA HISTÓRIA? – O futuro do Irã, ontem como hoje, deve ser decidido pelos próprios iranianos. Se uma ação militar de Israel ou dos Estados Unidos acabar criando condições para que o povo se liberte de seus opressores, tanto melhor.

A chamada “mudança de regime” pode até ser desejável — desde que venha de dentro, e que vá na direção certa.

O neoconservadorismo que abalou o mundo no início do século 21, no entanto, era de outra natureza: uma espécie de trotskismo de direita, promovido por ex-trotskistas que jamais abandonaram o “universalismo revolucionário” da juventude. Substituíram o marxismo pela democracia liberal — mas mantiveram a fé na transformação global pela força.

IR ALÉM – Para eles, não bastava perseguir os responsáveis pelos atentados de 11 de Setembro ou os regimes párias que os acolhiam. Era preciso ir além. Ocupar militarmente o Afeganistão —e, pior ainda, o Iraque—, interferir em realidades sectárias das quais pouco ou nada compreendiam — e esperar, sentados, que a democracia florescesse nas areias do deserto como uma flor cheirosa e vistosa.

O resultado foi trágico. Pior ainda: foi irônico. O Irã emergiu como potência regional, o Iraque caiu na guerra civil latente e o Afeganistão recebeu de volta o Talibã para uma nova ronda de abuso e obscurantismo.

Remover a ameaça nuclear iraniana e, como bônus, permitir que os iranianos escolham seu próprio destino já é tarefa bastante ambiciosa. Pedir mais, na história do Oriente Médio, é sempre pedir demais.

Marcada para 2026, essa guerra de extermínio começou antes da hora

É Guerra! : r/brasil

Charge do Aroeira (Brasil 247)

Dora Kramer
Folha

Governo e Congresso não têm nada a ganhar com uma ruptura em tempo ainda de indefinição eleitoral. A fotografia do momento é de confronto sem solução boa à vista. Ocorre, porém, que há muito filme a ser rodado e por isso os personagens desse enredo eleitoral não devem ir agora ao tudo ou nada. Ainda não é hora.

Não interessa à direita nem à esquerda partir para um embate cujo desfecho depende de muitas variáveis. Luiz Inácio lula da Silva (PT) não tem certeza se vale a pena tentar a reeleição e Jair Bolsonaro (PL) precisa decidir o que fará quando e se vier a provável condenação por tentativa de golpe de Estado.

SEM URGÊNCIA – A base parlamentar desalinhada também não tem essa urgência toda em se definir pelo abandono de ministérios e demais cargos que bem ou mal lhe dão acesso a uma parte considerável da máquina pública.

Ao presidente tampouco convém fazer demissão em massa dos amigos da onça. Ainda precisa deles para aprovar as bondades eleitoreiras que aguardam votação no Congresso, das quais os adversários querem ser parceiros.

Da mesma forma como a então oposição ao governo anterior aprovou a gastança de Bolsonaro em 2022, por impossibilidade de dizer não a medidas populares.

MORDE E ASSOPRA – O mais provável é que daqui até o início da fase de definições, no início de 2026, sigam governo e oposição, direita e esquerda, em ritmo de morde e assopra. Atualmente a batalha se dá no Congresso, mais adiante a luta ocorrerá fora dele.

Quando se desenharem com mais nitidez as candidaturas, aí sim a luta começa de verdade. As posições, no entanto, estão marcadas.

Na boca de cena, atacam-se, mas no bastidor considera-se mais razoável que prevaleça a prudência política em prol de um entendimento provisório.

CPMI DO INSS – Nenhum dos lados está pronto para uma guerra de extermínio em que passos em falso podem dar vantagem ao campo adversário. Embora difícil, a recuperação da popularidade de Lula não é uma hipótese a ser descartada.

De outro lado, haverá a instalação da CPMI do INSS, cujo potencial de estrago em clima de conflagração será tanto maior para o governo quanto menor for o apoio que tiver no Congresso.

Só o Planalto não consegue perceber a total desorganização do governo

A imagem mostra uma sessão na Câmara dos Deputados do Brasil, com muitos deputados em pé e sentados ao redor de uma mesa central. Há uma bandeira do Brasil ao fundo. O ambiente é formal, com pessoas vestindo trajes sociais. Um cronômetro digital está visível, indicando 01:03. A cena é movimentada, com deputados conversando entre si.

As sucessivas derrotas no Congresso exibem a realidade

Dora Kramer
Folha

Não há governo que se sustente no passo de desconexão total com a instância de representação da sociedade. Se a essa ausência de sintonia com o Congresso é acrescentada uma persistente insatisfação popular, o quadro tende a se desenhar como um beco sem saída.

O presidente Luiz Inácio da Silva (PT), sua equipe no Executivo e lideranças no Legislativo demonstram que não entenderam a fragilidade em que se encontram e a gravidade da cena. Ou pior, optam por ignorar a situação.

FORA DA REALIDADE – Só esse alheamento da realidade explica a surpresa com que o Palácio do Planalto e adjacências receberam a decisão do presidente da Câmara de pautar o mérito do projeto de decreto legislativo para a derrubada do aumento do IOF.

Uma semana antes o aviso havia sido dado na forma dos 346 votos a favor da urgência do PDL. Hugo Motta (Republicanos-PB) segurou o ímpeto da oposição de votar de imediato o mérito, forneceu uma trégua de alguns dias, mas o governo preferiu dar interpretação alongada àquele tempo e não se preparou.

Lula mais preocupado em insistir na aposta da antecipação do embate eleitoral, qualificando todos os potenciais adversários como representantes da “extrema direita”, o ministro da Fazenda parecendo confiante num trânsito congressual nessa altura perdido e os líderes petistas atordoados, reclamando por terem sido surpreendidos.

BASE ALIADA – Os governistas reagiram como se tivessem sido traídos, indiferentes ao fato de que não havia acordo firmado diante de um recado dado com clareza: o aumento do imposto não passa e as medidas alternativas não serão aceitas em contrapartida do corte de gastos.

Mais ou menos o que tem dito o STF, na figura do ministro Flávio Dino, a respeito da transparência no uso das emendas parlamentares. Na comparação, depreende-se que para mau entendedor nem as palavras completas bastam.

Os espaços de negociação não estão fechados, é verdade, mas os termos das tratativas são dados por quem tem a força e dita o ritmo do jogo

Quem responde pelo mau uso do dinheiro público nas emendas?

Teto de gastos de Lula e as emendas | Charges | O Liberal

Charge do J. Bosco (O Liberal)

Lara Mesquita
Folha

O assunto da última semana foi a votação para derrubar o decreto que regulamentava a alíquota do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Os impactos, as causas e, sobretudo, o que isso significa para a relação entre o Executivo e o Legislativo e para os 18 meses que o governo Lula 3 tem pela frente.

O governo precisa reduzir despesas ou aumentar a arrecadação. Não está claro se deputados e senadores não aceitarão nenhum tipo de corte de despesas ou apenas se não aceitam aqueles que atingem o setor produtivo, como o fim das desonerações da folha de pagamento.

MENOS CONTROLE – Em todo caso, o resultado é que o Executivo tem menos controle sobre o Orçamento da União e sobre as despesas discricionárias — aquelas alocações financeiras que o governo pode decidir como e onde gastar —, que estão crescentemente concentradas nas mãos dos legisladores, dado o aumento do montante reservado para a destinação por deputados e senadores através das emendas ao Orçamento, sejam individuais, de bancadas ou comissões.

Em 2025, o Orçamento reserva R$ 59,5 bilhões para serem alocados segundo a preferência dos parlamentares. Para se ter uma ideia, as emendas individuais, no período de 2018 a 2025, passaram de R$ 8,8 bilhões para R$ 24,6 bilhões.

Quero destacar duas questões que podem ser associadas à concentração de tantos recursos nas mãos de deputados e senadores. A primeira, diz respeito à responsabilização fiscal. A responsabilização —jurídica, política ou mediante a opinião pública— recai sempre sobre o Executivo, nunca sobre o Legislativo.

E O LEGADO? – A segunda questão é sobre o legado que a destinação de um volume tão grande de recursos deixa para o país. Isabella Montini, aluna de doutorado em Berkeley, e Alison Post, professora no Departamento de Ciência Política da mesma universidade, exploram como a distribuição de emendas orçamentárias individuais impositivas no período 2015 a 2023 se concentram em pequenos municípios, que recebem desproporcionalmente mais fundos e projetos per capita, especialmente para infraestrutura.

Um destaque do trabalho é que deputados e senadores priorizam projetos mais simples e baratos nessas cidades, contribuindo para disparidades infraestruturais no longo prazo.

Enquanto a pavimentação de ruas é abundante nas pequenas cidades, projetos mais complexos e essenciais, como redes de esgoto e tratamento de água, acabam sendo negligenciados.

RESPONSABILIZAÇÃO – Não se trata aqui da criminalização do uso das emendas orçamentárias pelos legisladores, nem da defesa de um planejador central onisciente. Mas, se deputados e senadores querem continuar a definir os rumos da política orçamentária do país — tanto em relação ao foco do ajuste fiscal quanto à alocação de parcela maior dos recursos discricionários, buscando controlar fatia maior que a do próprio Executivo —, é preciso discutir a responsabilização do Legislativo pelo legado que deixarão.

Seja o legado da redução do investimento em políticas sociais e de mitigação da pobreza, seja o legado para a infraestrutura, que em breve será um gargalo ao desenvolvimento do país. Quanto maior for o controle do Legislativo sobre o Orçamento, maior deverá ser sua responsabilidade.

Fluminense faz uma apresentação heróica e Renato dedica o jogo à torcida

Renato Gaúcho abre o jogo e revela qual é o melhor time do mundo - Fluminense: Últimas notícias, vídeos, onde assistir e próximos jogos

Renato homenageia a torcida e os craques  tricolores

Vicente Limongi Netto

Fluminense machão. Time unido, sabe ter paciência. Não se abate. Não se desespera. Vitória que mostra e enfatiza a trajetória de time grande. Com jogadores valorosos, dignos de vestir o manto tricolor das Laranjeiras. Felipe Melo,  ex-jogador do fluminense, de times estrangeiros e da seleção brasileira, antes do jogo declarou bem ao seu estilo corajoso: “É o Flu do coração contra adversários dos milhões”. 

A caminhada prossegue. Estamos perto da final. Time guerreiro é isso. Trabalho competente do técnico Renato Gaúcho. Foi excelente jogador e guerreiro, sabe tratar os atletas. É admirado pelo elenco. Passa respeito, ardor e tranquilidade para os jogadores.

HERCULES EM AÇÃO – Martinelli fora do próximo jogo. É um monstro no meio de campo. Mas o Fluminense conta com o menino Hercules. Também gigante. Foi perseguido, quando chegou no Rio vindo do Ceará, filho de familia humilde.

Parvos da imprensa esportiva jogaram as patas no rapaz, com intrigas maldosas que nenhum atleta profissional merece, idiotas desrespeitosos que quebraram a cara. Renato Gaúcho dedicou a vitória aos torcedores. Fez muito bem. Torcida maravilhosa, vibrante em todos os momentos dos jogos.

Foi consagradora a comemoração do time do Chelsea à chegada do craque Estevão, que está deixando o Palmeiras, em transferência para o clube britânico.

Taxação tipo BBB leva a velha luta de classes ao reality show da crise

Charge reproduzida do Arquivo Google

Marcos Augusto Gonçalves
Folha

A crise entre Executivo e Congresso, em torno da derrubada do decreto do Executivo que aumenta o Imposto Sobre Operações Financeiras (IOF), acabou por reforçar a estratégia do governo Lula de se reapresentar como defensor dos pobres contra os abastados.

Nesse reality show da política que tenta antecipar o paredão de 2026, surge nas redes lulistas a “taxação BBB”, que reivindica justiça tributária com aumento de impostos sobre bancos, bets e bilionários. A ideia, discutível como estratégia, é colocar uma pitada de luta de classes no debate e colar no Congresso a pecha de defensor de privilégios.

BAIXARIAS GERAIS – Nessa coreografia polarizada entrelaçam-se verdades, mentiras, ditos e não ditos, em sacrifício da complexidade dos problemas que estão na mesa.

Economistas convergem para a conclusão de que, sim, o regime tributário brasileiro é iníquo e favorece os mais ricos, independentemente do emaranhado de taxas e alíquotas que a reforma tributária ajudará nos próximos anos a desfazer ou tornar menos exasperante.

O ministro Fernando Haddad também tem um ponto difícil de ser negado, ao se referir à montanha de isenções fiscais em vigor, alguma coisa, no plano federal, em torno de 5% do PIB. É o já famoso “gasto fiscal”.

SEM SENTIDO – Nem tudo possivelmente será absurdo nesse festival de favores, mas não resta dúvida de que parte significativa da cortesia não faz sentido. É um assunto a ser enfrentado com perseverança e maturidade.

Em sentido contrário, quando o debate se volta para as contas públicas, o governo se apressa em não reconhecer os efeitos problemáticos da indexação dos aumentos reais do salário mínimo a pagamentos previdenciários e a elevação insustentável das despesas obrigatórias no Orçamento.

“Ah, mas não vamos jogar o peso do ajuste nas costas do mais pobres”, dirão os defensores da taxação BBB. Mas a questão não é tão simples.

FLEXIBILIDADE – Especialistas de boa índole e sensibilidade social —ou seja, aqueles que não suspiram e reviram os olhinhos diante da motosserra de Javier Milei— acreditam ser possível equacionar a indexação e o avanço das despesas de maneira a encontrar maior flexibilidade orçamentária que permitiria, em tese, mais escolhas do governo e aperfeiçoamento na qualidade dos gastos.

Haveria ainda espaço para uma reforma administrativa na máquina pública – vamos começar pelos supersalários? –, e aumento de produtividade, em tempos de avanços tecnológicos.

Um passo nesse sentido ajudaria na gestão de expectativas.

EQUILÍBRIO FISCAL – Um país com sinalização de equilíbrio fiscal estaria mais bem preparado para deter o crescimento da dívida pública, inclusive por meio da redução do gasto com a Selic altíssima e contracionista. Não seria mal para Lula, que já tem, diga-se, bons indicadores da dita economia real a mostrar.

Parece difícil debater esses assuntos com espírito público num momento em que o Congresso aumenta o número de parlamentares e está fixado nas suas indefensáveis emendas.

E ainda assim, o presidente da Câmara, Hugo Motta, foi chamado de herói em jantar para figurões com a presença do presidenciável de seu partido (Republicanos), o governador Tarcísio de Freitas.

Entre bolhas de champanhe em Lisboa, ministros do STF tentam ajudar no “deixa disso” para desanuviar o reality show. A ver.

Guerra de ricos X pobres migra das redes petistas para as ruas

 

Renda dos pobres recua em 20%, e ricos ficam mais ricos

   Renda dos mais pobres cai 20% (Gráfico Jean Galvão)

Josias de Souza
do UOL

Mudou de patamar o movimento que deu ao embate entre governo e Congresso ares de guerra de ricos contra pobres. Deflagrada a partir de uma parceria da Secretaria de Comunicação do Planalto com o Partido dos Trabalhadores, a articulação saltou das redes sociais para as ruas. Nesta quinta-feira, dois lances tonificaram o embate.

Num, o PT lançou um site para cadastrar influenciadores governistas interessados em impulsionar na internet a bandeira da “justiça social”. Noutro, dois movimentos sociais de esquerda —a Frente Povo Sem Medo e o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto— ocuparam por duas horas o saguão do prédio do banco Itaú, na avenida Faria Lima, em São Paulo.

CHEGA DE MAMATA – Os militantes portavam faixas que ecoaram palavras de ordem da campanha avalizada por Lula. Coisas como “Chega de Mamata”, “O povo não vai pagar a conta” e “Taxação dos super-ricos já”. Cotado para assumir um ministério palaciano sob Lula, o deputado Guilherme Boulos festejou a ocupação numa postagem: “Pra cima!”, ele anotou. “O recado do povo é claro: o Brasil precisa de Justiça tributária.”

No Planalto, a ocupação da sede do Itaú foi recebida com uma ponta de preocupação. Pesquisas internas detectaram desde a semana passada que o embate com o Congresso alterou para cima o índice de popularidade de Lula.

O receio é que a movimentação de rua da militância escape a controle, produzindo revezes no Congresso e, sobretudo, no pedaço conservador do eleitorado.

PRECISA DE APOIO – Com um ano e meio de mandato pela frente, Lula precisa do Congresso para aprovar itens vitais da agenda do seu governo. Com a perspectiva de uma campanha que até os aliados preveem que será dura de roer, Lula não pode se dar ao luxo de rifar o voto não-petista.

Lula prevaleceu em 2022 por uma pequena margem: 1,8 ponto percentual. Venceu graças a uma minoria de votos conservadores que queriam mandar Bolsonaro mais cedo para casa.

A ressurreição do slogan “nós contra eles” representa uma guinada do governo à esquerda. Deu a Lula um mote de campanha, animou a bolha petista nas redes e levou a militância às ruas. A dúvida é se a manobra vai atrair ou afugentar em 2026 os votos apartidários de centro que levaram Lula a subir a rampa pela terceira vez.

Advogado comprova que a delação de Mauro Cid tem “mentiras descaradas”

Advogado de Bolsonaro acredita que acareação pode beneficiar ex-presidente

Vilardi quer incluir provas, mas Moraes mantém o sigilo

Ana Pompeu
Folha

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), indeferiu nesta segunda-feira (30) o pedido da defesa de Jair Bolsonaro (PL) sobre o perfil nas redes sociais que aponta ser do delator Mauro Cid. Os advogados do ex-presidente queriam que o relator incluísse no processo da trama golpista de 2022 documentos que provariam a vinculação do perfil ao ex-ajudante de ordens.

“Conforme já ressaltado inúmeras vezes, não será admitido tumulto processual e pedidos que pretendam procrastinar o processo. O curso da ação penal seguirá normalmente, e a Corte analisará as questões trazidas no momento adequado”, disse o ministro.

GABRIELA4702 – O advogado Celso Vilardi, que representa o ex-presidente, apresentou ainda nesta segunda os documentos para contestar a afirmação do tenente-coronel de que não usava o perfil “Gabrielar702” para se comunicar com pessoas no Instagram.

A equipe de Bolsonaro pedia a juntada das informações mencionadas aos autos do processo antes da apresentação das alegações finais da PGR (Procuradoria-Geral da República).

As informações indicariam que o perfil no Instagram está vinculado ao e-mail “maurocid@gmail.com” —que, por sua vez, foi criado em 2005 e está atrelado ao número do celular de Cid apreendido pela PF.

MENTIRAS DESCARADAS – A defesa de Bolsonaro tem questionado a validade da colaboração premiada de Mauro Cid De acordo com o advogado, a vinculação do número de celular de Cid ao e-mail que criou o perfil no Instagram prova que “as mentiras do delator não só têm se amontoado, como são cada vez mais descaradas e, aparentemente, envolvem destruição de prova”.

Ele incluiu documentos na petição ao STF que mostram que, segundo dados do Google e da Meta, dona do Instagram, o computador que administrava o e-mail ficava no endereço de Mauro Cid.”

A resposta do relator Moraes negando o pedido teve apenas uma página.

ALEGAÇÕES FINAIS – O ministro abriu a fase de alegações finais do processo contra o núcleo central da trama golpista na última sexta (27).

É a última etapa antes do julgamento de Bolsonaro e dos outros sete réus por integrar organização criminosa que supostamente tentou dar um golpe de Estado contra a eleição de Lula (PT) em 2022.

No caso da conta “Gabrielar702”, o advogado Luiz Eduardo Kuntz, defensor de outro réu, Marcelo Câmara, enviou Supremo fotos e áudios de conversas que ele diz ter mantido com o militar nas quais ele supostamente conta detalhes de seus depoimentos e faz desabafos, o que colocaria em xeque a delação.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O ministro Moraes conduz o inquérito de uma forma totalmente parcial e dirigida. Quando é apresentada uma prova para condenar qualquer réu, ele não aceita que também possa ser usada para defender outro réu. E o pior é que mantém a prova sob sigilo. E ainda há quem chame isso de Justiça. (C.N.)

Qualquer forma de amor vale a pena, na poesia de Manuel Bandeira

Manuel Bandeira, um dos poetas mais cantados de sua geração ...

Bandeira, um dos poetas mais amados do país

Paulo Peres
Poemas& Canções

O crítico literário e de arte, professor de literatura, tradutor e poeta Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (1866-1968), conhecido como Manuel Bandeira, no soneto “Desencanto”, diz que faz versos inspirados nas angústias do desamor.

DESENCANTO
Manuel Bandeira

Eu faço versos como quem chora
De desalento, de desencanto
Fecha meu livro se por agora
Não tens motivo algum de pranto

Meu verso é sangue, volúpia ardente
Tristeza esparsa, remorso vão
Dói-me nas veias amargo e quente
Cai gota à gota do coração.

E nesses versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre
Deixando um acre sabor na boca

Eu faço versos como quem morre.
Qualquer forma de amor vale a pena!!
Qualquer forma de amor vale amar!

O que explica a eleição de um socialista para prefeito de Nova York?

Who Is Zohran Mamdani? Meet the Democratic Candidate for NYC Mayor - WSJ

Zohran Mamdani é da ala socialista dos democratas

João Pereira Coutinho
Folha

Nunca levei a sério filmes de zumbis. Por que motivo eles estão sempre tão bravos? Na minha modesta opinião, é melhor estar meio-vivo que completamente morto. Eu próprio preferia andar por aí, meio cambaleante, mas ainda funcional, do que estar a sete palmos, imóvel, no caixão.

Se eu fizesse um filme de zumbis, o herói principal nunca fugiria deles. Ia tentar bater um papo. Eles vinham, todos tortos, e o personagem diria: “Que é isso? Calma, gente! Aproveitem a vida. Arranjem trabalho, botem uma pinturinha, passem um batonzinho.”

Mesmo os hábitos alimentares deles me parecem excessivos. Carne humana o tempo todo? Não é saudável. Tentaria diversificar a dieta com peixe, alguns legumes, alguma fruta.

EDUCAR O ZUMBI – Meu filme ideal seria sobre a educação de um zumbi. Ou como transformá-lo num membro útil da sociedade. Conheço casos de gente sem cérebro ou sem modos que conseguiu se dar bem na vida —por que não um zumbi?

Tentei explicar isso para minha esposa no meio do filme do Danny Boyle, “Extermínio”, mas ela pediu silêncio — e o resto do cinema aplaudiu. Meu reino já não é deste mundo. Mas insisto: como explicar a obsessão da cultura contemporânea com nossos amigos descerebrados?

Por tédio, talvez. Vivemos mais. Vivemos melhor. Nossas sociedades seriam irreconhecíveis para as vidas inseguras e precárias de nossos antepassados. Mas apesar disso, ou por causa disso, sentimos uma vontade animal de fantasiar nossa aniquilação física. Os zumbis são o apocalipse da classe média gentrificada.

SEMPRE EXISTIRAM – Especialistas no assunto, como o estimável Ian Olney, discordam. Mortos-vivos no cinema e na televisão sempre existiram, escreveu ele em seu livro “Zombie Cinema”. A questão é que houve uma explosão desse gênero na virada do milênio —e por motivos bem dramáticos.

O 11 de Setembro, o aquecimento global, a crise financeira de 2008, a crise dos refugiados no Mediterrâneo em 2015 e, claro, a pandemia de Covid —tudo isso só fez multiplicar o número de mortos andantes.

Seguindo esse raciocínio, os zumbis representam a ameaça terrorista, o colapso ambiental, o fim do capitalismo tardio, o medo do “estrangeiro” ou da contaminação viral —é só escolher. Eu me recuso.

VEM A PERGUNTA – Sempre que encontro um zumbi na tela, minha vontade é oferecer um banho, indicar um terapeuta, talvez um bom barbeiro. Estar meio-morto não é desculpa para abrir mão da higiene e do convívio social.

Era a pergunta de um milhão de dólares: como é possível que os mais pobres votem em Donald Trump? Não saberão eles que o partido republicano defende políticas —cortes fiscais para os mais ricos, desregulação, privatizações— que não os beneficiam?

Essa pergunta me dava bocejos. E então lembrava James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton em 1992, que resumiu o espírito da contenda com uma frase famosa: “É a economia, estúpido!”

É A CULTURA, ESTÚPIDO! – Em 1992, era a economia, de fato. Hoje? É a cultura, estúpido. Nem tudo é materialismo nessa vida. Os mais pobres votam na direita populista porque, entre outras razões, as causas culturais ou identitárias são mais importantes do que os benefícios econômicos.

Votam em Trump porque abominam as elites metropolitanas. Votam em Trump porque são mais conservadores em temas como o aborto ou as armas. Votam em Trump porque são mais patriotas.

O mesmo acontece na paradoxal relação entre as classes urbanas mais afluentes e a esquerda. Basta olhar para a eleição primária do partido democrata para a prefeitura de Nova York.

O NOVO PREFEITO – A vitória do socialista Zohran Mamdani, segundo o New York Times, também se deveu ao voto dos mais ricos e educados. Exatamente aqueles que mais têm a perder com as políticas socialistas do candidato — congelamento de aluguéis, impostos sobre a riqueza, restrições à especulação imobiliária etc.

O voto é cultural, não econômico. Para os apoiadores de Mamdani, “globalizar a intifada” é mais importante do que qualquer apoio à iniciativa privada.

Significa isso que a esquerda americana finalmente encontrou a receita para derrotar Trump e o trumpismo? Não me parece. Se a maioria dos eleitores — especialmente nos estados-pêndulos — continuar sendo a classe trabalhadora branca (como ainda é o caso em Wisconsin, Michigan, Pensilvânia e Ohio), não vai ser com Mamdani que esse feitiço será quebrado.

Crise entre os Poderes: O caso IOF e os limites da governabilidade

Lula diz que houve o erro foi p descumprimento de um acordo

Pedro do Coutto

Por um fio tênue, balança a relação entre Executivo e Legislativo no Brasil. A recente ofensiva governista contra o deputado Hugo Motta, personagem central na derrubada do decreto presidencial sobre o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), escancara o quanto a articulação política do governo Lula tem patinado, deixando rastros de instabilidade institucional e incompreensão do papel dos Poderes.

O centro do embate gira em torno da anulação do decreto presidencial relacionado ao IOF. O Palácio do Planalto, em reação, decidiu acionar o Supremo Tribunal Federal (STF), numa tentativa de reverter a medida por meio da judicialização. Mas aqui reside o nó fundamental: o Supremo não é — nem deve ser — um espaço de negociação política, como o próprio ministro Gilmar Mendes lembrou ao qualificar o episódio como “a ponta de um iceberg”.

ERRO ESTRATÉGICO – Há, portanto, um erro estratégico que vai além do gesto jurídico. Tentar reposicionar o STF como árbitro de uma contenda eminentemente política expõe o governo a críticas sobre sua capacidade de articulação, além de provocar desconforto no próprio Judiciário, que se vê pressionado a arbitrar questões legislativas. A Constituição é clara quanto à separação entre os Poderes. Judicializar uma disputa que deveria ser resolvida politicamente fragiliza essa fronteira institucional.

Mesmo dentro do governo, não há consenso. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi claro ao defender a retomada do diálogo: segundo ele, foi o Legislativo que se afastou da mesa de negociação. Jorge Messias, advogado-geral da União, também não disfarça a natureza política da decisão de recorrer ao Supremo. E nesse cenário, Lula se vê diante de um dilema: manter a confiança em sua base congressual, mesmo que instável, ou recorrer à força judicial para garantir medidas que, em última análise, deveriam ser fruto de negociação parlamentar.

O presidente culpou abertamente Hugo Motta pela derrubada da medida, lembrando que o tema havia sido discutido previamente em reunião entre Executivo e Legislativo. Mas esse tipo de acusação pública não ajuda a recompor pontes — ao contrário, tende a dinamitar os poucos pilares de articulação ainda de pé. A narrativa do Planalto revela, mais uma vez, as dificuldades de um governo que, embora experiente, tem enfrentado resistências internas e externas ao tentar aplicar sua agenda econômica e fiscal.

RACHADURAS – Além disso, a imagem do governo começa a sofrer rachaduras também junto à opinião pública. A tentativa de judicializar a crise do IOF é percebida por muitos como uma fuga da negociação legítima, uma demonstração de fraqueza política diante de um Congresso que se mostrou disposto a exercer seu protagonismo. O STF pode até ser provocado formalmente, mas não aceitará de bom grado o papel de árbitro de impasses institucionais que o Executivo não consegue resolver no campo político.

O episódio, como bem sugeriu Gilmar Mendes, revela uma crise maior: a dificuldade do governo em estabelecer um pacto funcional entre os Três Poderes. Um iceberg, cujas pontas já começaram a emergir, ameaça afundar a governabilidade se não for contido a tempo. O presidente Lula, alertado por conselheiros próximos sobre os riscos de judicializar excessivamente questões políticas, ainda tem tempo para recalibrar sua estratégia. Mas isso exige um reconhecimento claro: governar, mais do que decretar, é negociar.

E negociar, no Brasil de 2025, não é mais tarefa simples. É preciso habilidade, escuta e, sobretudo, respeito pelas instituições. O IOF pode ser apenas um símbolo — mas um símbolo poderoso do que está em jogo: a própria capacidade de um governo democraticamente eleito conduzir sua agenda dentro das regras do jogo.

Lula parte para a briga em condição de inferioridade política

charge pesquisa lula impopularidade governo

Charge do Baggi (Jornal de Brasília)

William Waack
Estadão

É óbvio que o PT sem Lula corre o sério risco de resvalar para o ocaso. As últimas decisões políticas do chefão estão acelerando esse processo.

A causa principal é a perda de leitura da realidade por parte do próprio Lula. Leia-se: mudanças sociais no País, alteração das relações de força entre os poderes e enfraquecimento das capacidades físicas e intelectuais do líder.

SEM CHANCES – Têm remotas possibilidades de sucesso as mais recentes decisões “estratégicas” para ganhar as eleições de 2026 e reverter poderes do Congresso. De novo, pelo óbvio: não reúne a massa crítica política necessária nem para um nem para o outro.

Lula se encontra hoje vítima da tática “boa constrictor” (o nome científico da jiboia) do Centrão, e sua ida ao STF para anular o decreto legislativo que anulou o decreto executivo não vai folgar o aperto dos anéis dessa gulosa serpente. Ao contrário, qualquer que seja a decisão do Supremo.

Lula acelerou o emprego de uma tática política eleitoral que os velhos revolucionários chamavam de “salto adiante”. Repaginou a velhíssima “luta de classes” superada há muito por enormes transformações sociais, tecnológicas, culturais e econômicas – que ele e seu partido não conseguiram entender.

SEM POPULARIDADE – Parte para o embate quando sua popularidade é no mínimo sofrível, seu governo é mal avaliado, a diferença que lhe deu a vitória em 2022 diminuiu em vez de aumentar, a capacidade de mobilização tradicional (sindicatos e “movimentos sociais”) evaporou, as ruas quando ocupadas o são pelos adversários.

Como símbolo, Lula padece de óbvio desgaste de imagem – raivoso, reclamão, vociferante, repetindo os mesmos bordões e incapaz de exibir a malícia e o humor de antigamente.

Quando tenta, parece patético. E deixando transparecer a tutela de uma primeira-dama que é exatamente o retrato da classe média arrivista que o PT afirma detestar.

EX-PRESIDIÁRIO – Lula julga ter dado a volta por cima em relação à Lava Jato, condenação e prisão. Essa não é a percepção de vastíssima camada do eleitorado, incluindo quem votou nele em 2022 para se ver livre de Bolsonaro. Corrupção, má gestão das estatais, o apoio a ditadores amigos e o cansaço generalizado com um governo gastador que só pensa em arrecadar tem enorme peso político. Chama-se resistência social a Lula e ao PT.

Há personagens políticos que desembarcaram e preservaram ainda em vida certa graça e uma forte aura pessoal, como Mandela ou Pepe Mujica. Outros não souberam fazê-lo, e causaram danos ao partido e à própria imagem, como Joe Biden. Na velhice, Lula propaga ressentimentos, é vingativo e toma decisões estratégicas tresloucadas. Arrisca-se a ser lembrado assim.