O tarifaço de Trump e a tempestade no comércio internacional

Charge do Amarildo (amarildocharge.wordpress.com)

Pedro do Coutto

Na véspera da entrada em vigor das novas tarifas impostas pelo presidente Donald Trump, o mundo observa com apreensão um redesenho abrupto das regras do comércio internacional. A política tarifária agressiva adotada pelo governo norte-americano não apenas inaugura uma nova fase de protecionismo, mas também desencadeia uma série de reações em cadeia que prometem confundir preços, desorganizar cadeias produtivas e intensificar tensões geopolíticas.

A iniciativa de Trump parte da lógica de fortalecer a indústria e a economia dos Estados Unidos, protegendo empresas e empregos nacionais. No entanto, a aplicação diferenciada das tarifas — com percentuais variando de país para país — transforma o cenário internacional em um verdadeiro labirinto. Para o Brasil, a tarifa imposta chega a 50%, uma taxa considerada exorbitante e com potencial devastador para setores exportadores, sobretudo os de alimentos, minérios e manufaturados.

ARBITRAGEM TARIFÁRIA – Essa diferença de tratamento entre países parceiros cria um fenômeno conhecido no comércio exterior como “arbitragem tarifária”: empresas buscam formas alternativas de exportar seus produtos indiretamente via países menos tarifados, gerando relações triangulares e complexas. O resultado será um mercado com distorções severas, onde o preço final de um produto pode variar drasticamente dependendo da rota comercial adotada.

No caso brasileiro, as consequências são especialmente preocupantes. Exportadores nacionais, já fragilizados por variações cambiais e altos custos internos, enfrentam agora uma barreira quase intransponível. A tarifa de 50% inviabiliza a competitividade de diversos produtos nos Estados Unidos, principal mercado de destino de várias cadeias produtivas nacionais. O impacto será sentido não apenas no faturamento das empresas, mas também na geração de empregos e no saldo da balança comercial.

Paradoxalmente, o próprio mercado americano pode sofrer com a medida. Como alertam economistas do Peterson Institute for International Economics, tarifas elevadas tendem a aumentar os preços para o consumidor final, reduzir a oferta de determinados produtos e provocar reações retaliatórias de países afetados. Ou seja, em vez de proteção, os EUA podem estar plantando uma colheita amarga de inflação, desabastecimento e isolamento comercial.

ACORDOS  – A predominância do dólar como moeda de referência global ainda confere aos Estados Unidos uma posição privilegiada, mas não inabalável. Ao provocar um terremoto tarifário, Washington pode estar incentivando outras nações a fortalecerem acordos bilaterais e multilaterais que reduzam a dependência da economia americana. Nesse contexto, surgem novos blocos e alianças comerciais que tendem a enfraquecer a centralidade dos EUA no comércio mundial.

O cenário que se anuncia é o de uma “tempestade perfeita”: confusão de preços, reconfiguração de rotas comerciais, embates diplomáticos e um rearranjo global impulsionado por interesses nacionais conflitantes. Para especialistas da Organização Mundial do Comércio (OMC), trata-se de um momento crítico. Em pronunciamento recente, o diretor-geral da OMC afirmou que “ações unilaterais desestabilizam o sistema multilateral que sustentou décadas de crescimento”.

Frente a essa conjuntura, crescem as pressões sobre o governo Trump para que reveja, ou ao menos adie, a imposição dessas tarifas. Diversas associações empresariais, tanto americanas quanto estrangeiras, alertam que o efeito colateral será uma retração da atividade econômica e uma maior incerteza para os investimentos globais. No Brasil, entidades como a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e a ABIEC (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne) já articulam medidas diplomáticas e técnicas para tentar mitigar os efeitos.

DESEQUILÍBRIO – O comércio internacional, por sua própria natureza, exige previsibilidade, confiança e regras claras. Tarifas que mudam abruptamente esse equilíbrio criam uma atmosfera de insegurança, na qual os países, empresas e consumidores saem perdendo. O realinhamento será inevitável, mas poderá ser doloroso.

O tarifaço promovido por Trump inaugura um capítulo controverso nas relações comerciais globais. Resta saber se os danos colaterais serão suficientes para frear essa ofensiva protecionista ou se o mundo precisará, mais uma vez, se adaptar aos caprichos de um gigante que parece ignorar as lições da interdependência econômica.

Pena será muito polêmica, e Bolsonaro poderá pegar prisão entre 12 a 43 anos

Bolsonaro provoca mais para posar de vítima - TIJOLAÇO

Charge do Duke (O Tempo)

Arthur Guimarães de Oliveira
Folha

Caso seja condenado no STF (Supremo Tribunal Federal) pelos cinco crimes dos quais é acusado, Jair Bolsonaro (PL) pode, com base nos tempos previstos em lei, receber uma pena mínima de 12 anos e meio até uma máxima superior a 43 anos de prisão.

Parte dos especialistas ouvidos pela Folha avalia que a tendência é que a punição seja fixada em nível médio ou alto —mas há quem considere prematuro avaliar a dimensão das penas neste momento.

ALEGAÇÕES FINAIS – A PGR (Procuradoria-Geral da República) apresentou neste mês as alegações finais contra Bolsonaro e outros sete réus apontados como integrantes do núcleo central de trama golpista para mantê-lo no poder após a eleição de Lula (PT) em 2022. A peça foi encaminhada ao STF.

Advogados e professores de direito consultados pela reportagem consideram que a manifestação já oferece indicativos sobre a pena que pode ser imposta ao ex-presidente na hipótese de ele ser condenado com base nos crimes indicados e nos fatos narrados pela Procuradoria.

Bolsonaro compõe o grupo com Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin); Almir Garnier (ex-comandante da Marinha); Anderson Torres (ex-ministro da Justiça); Augusto Heleno (ex-ministro do GSI); Mauro Cid (ex-chefe da Ajudância de Ordens); Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa); e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).

AS ACUSAÇÕES – Todos são acusados de organização criminosa armada, abolição violenta do Estado democrático de Direito e golpe de Estado. Com exceção de Ramagem, cuja ação penal foi em parte suspensa pela Câmara, os demais também respondem por dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

As penas são as seguintes: Organização criminosa armada – 3 a 8 anos (com agravante e causas de aumento, mais de 17 anos no total); Abolição violenta do Estado democrático de Direito – 4 a 8 anos; Golpe de Estado – 4 a 12 anos; Dano qualificado – 6 meses a 3 anos; Deterioração de patrimônio tombado – 1 a 3 anos.

Ao descrever o crime de organização criminosa armada, a PGR indicou agravante e causas de aumento de pena (emprego de arma de fogo, participação de funcionário público e, no caso de Bolsonaro, exercício de liderança) que podem fazer a punição para esse delito superar os 17 anos de prisão.

PENAS ELEVADAS – Professor da FGV Direito Rio, Thiago Bottino afirma que as penas devem ser elevadas em situações como a de quem promove ou organiza a cooperação no crime ou dirige a atividade dos demais. Segundo ele, muitas dessas hipóteses estão presentes na acusação do chamado núcleo principal da trama golpista.

Bottino diz que parte dos denunciados pelo 8 de Janeiro também foi acusada de alguns desses crimes, mas sem que se aplicasse o entendimento de que tiveram papel de destaque. Assim, avalia que, se forem condenados pelos mesmos delitos, as penas do núcleo principal tendem a ser maiores.

Um balanço divulgado no início do ano pelo gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator dos processos do 8 de Janeiro no STF, apontou que a maioria dos condenados cujas ações foram classificadas como graves tiveram penas que variaram de três a 17 anos e seis meses de prisão.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGOs jornalistas parece que não têm o que fazer. Deus meu, querem 43 anos de cadeia por um golpe e um vandalismo em que ninguém se feriu, enquanto o exército do Stábile ficava incólume, ninguém foi condenado, nem mesmo o líder Bruno Maranhão, depois de depredar o Congresso e fazer 20 feridos em 2006, é uma inaceitável disparidade de tratamento. Mas quem se interessa? (C.N.)

No palanque, Lula desdenha, ironiza e vê chegando a derrota arrasadora das tarifas

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao lado de Geraldo Alckmin empunha a bandeira do Brasil em palanque de evento do governo federal

Lula explora a bandeira de uma forma constrangedora

Eliane Cantanhêde
Estadão

Ao dizer, quatro dias antes do “dia D”, que vai esperar a sexta-feira para decidir sobre medidas de socorro aos setores e empresas mais duramente atingidas pelo tarifaço de Donald Trump, o presidente Lula deixou uma pergunta que não quer calar: o que ele está esperando? O resultado de alguma negociação sigilosa? Um recuo nos 50%, que Trump nega? Ou simplesmente o tsunami chegar?

Lula não desce do palanque, e não para de fazer provocações e ironias contra Trump e os EUA, desde que a Genial/Quaest com a ameaça de tarifaço e as cartas mal-ajambradas do presidente norte-americano. Logo, uma segunda dúvida é onde Lula quer chegar. À sexta-feira, com uma negociação bem-sucedida, ou às eleições de 2026, numa posição confortável? Uma coisa pode estar condicionada à outra…

NEGOCIAÇÕES INVISÍVEIS – Enquanto o chanceler Mauro Vieira, o vice Geraldo Alckmin, empresários brasileiros e americanos e a comissão de senadores que foi aos EUA conversam muito, articulam muito, não se vê um único sinal, à luz do dia, de que haja reais negociações e, portanto, chances de reduzir os 50%.

Essas negociações e chances deveriam ser até naturais, já que esse percentual é mais que o dobro na guerra de Trump contra o mundo, e o Brasil, apesar de estar no topo das sanções, é deficitário no comércio com os EUA, como Lula está rouco de tanto repetir.

Em tese, o tarifaço é para superavitários, não para deficitários. Se seriam tão naturais, por que inexistem negociações e ninguém acredita em recuo, por mais que Trump, que é um jogador, venha sempre baixando as tarifas no “dia D” com os demais países?

 
BRIGA POLÍTICA – Porque a birra com o Brasil não é por causa de comércio, mas sim de política: o processo contra Bolsonaro, bigtechs, o apoio de Lula a Kamala Harris, a camaradagem de Lula com China e Rússia, o Brics como adversário de Washington…Em sendo assim, nem Trump quer ceder, nem Lula age diplomaticamente. As portas e os ouvidos se fecham.

Antes de ir para Nova York, numa derradeira busca de pragmatismo e bom senso, o chanceler Mauro Vieira enviou um embaixador aos EUA para abrir canais.

 Até a noite de segunda-feira, porém, não havia motivos para comemoração, só para preocupação com o PIB, os exportadores, os produtos e os empregos.

CUSTARÁ CARO – Os 50% são arrasadores e estão chegando, com Lula saltitante, em campanha, e o Brasil cara a cara com uma derrota que vai lhe custar muito caro.
Na reta final, o único consolo é que sexta-feira não será o fim do mundo. A guerra continua e há muito o que negociar, se Trump e Lula adotarem o tom e a disposição de estadistas que não tiveram te agora. É possível? Só vai se saber depois do “dia D”.

Coronel diz que plano golpista era hipotético e dependia de fraudes na eleição

Tenente-coronel Hélio Ferreira Lima

Lima diz que não houve fraude e o golpe se esvaziou

Mariana Muniz
O Globo

Réu na ação penal que apura a tentativa de golpe de Estado, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o plano encontrado pela Polícia Federal, com sugestões de prisão de ministros da Corte, foi um exercício interno de simulação elaborado no âmbito da inteligência do Exército no Rio Grande do Sul — e não uma proposta operacional. O militar tem formação em Forças Especiais e integra o grupo chamado de “kids pretos”.

No interrogatório feito nesta segunda-feira, o militar disse que o chamado “Desenho Operacional Luneta”, encontrado em um pen drive apreendido em sua casa, fazia parte de um trabalho desenvolvido dentro da 6ª Divisão do Exército, em Porto Alegre. Segundo ele, tratava-se de uma antecipação de cenários, caso houvesse algum indício de fraude nas eleições presidenciais de 2022.

EM CASO DE FRAUDE — Se amanhã sair um relatório ou um pronunciamento falando ‘atenção, teve fraude sim’, eu não posso deixar meu comandante ser surpreendido. Eu tenho que ter alguma coisa para que a gente comece a discutir com o Estado-Maior — afirmou.

O documento previa, entre outras ações, a prisão de ministros do Supremo “considerados geradores de instabilidade” e a neutralização da atuação do ministro Alexandre de Moraes. O plano também mencionava a criação de gabinetes de crise e a realização de novas eleições.

Para Ferreira Lima, no entanto, a interpretação feita pela Procuradoria-Geral da República (PGR) é equivocada.

MISSÃO PROSPECTIVA – O tenente-coronel sustenta que sua função na área de inteligência envolvia justamente a produção de cenários prospectivos — e que o plano nunca foi validado por seus superiores.

— É um cenário totalmente hipotético. Ele não fala em eliminar ninguém. É amparado por normas legais — disse. — Eu não estava fazendo nada oculto. Surgiu de uma conversa com meu comandante. Quando fui apresentar para ele, a prioridade já era outra. Ele mandou eu abandonar isso. Nem abriu o computador.

De acordo com o militar, o plano foi deixado de lado após determinação do chefe da inteligência da 6ª Divisão, que teria orientado o foco para outras demandas, como o acompanhamento das manifestações em frente ao quartel em Porto Alegre.

É PROVA OU NÃO? – A PGR, por outro lado, afirma que o documento é prova de que havia planejamento prévio para a atuação do núcleo militar da tentativa de golpe. A denúncia sustenta que a proposta fazia parte de uma articulação maior, que ia da contestação do resultado eleitoral à execução de ações de ruptura institucional.

Ferreira Lima também afirmou ao STF que não despachou o plano com superiores e que qualquer eventual aplicação dependeria de chancela de um general, o que, segundo ele, nunca ocorreu.

Com formação em Forças Especiais, o tenente-coronel é apontado como integrante do grupo conhecido como “kids pretos”, formado por oficiais da ativa próximos do ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid. Ele virou alvo da Polícia Federal após a descoberta de mensagens consideradas golpistas trocadas com Cid.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGAs Forças Armadas engolem Lula da Silva muito a contragosto. Desde o início, apoiaram o golpe, caso ficasse provado que a eleição de Lula foi fraudada. Não se provou nada e assim o golpe simplesmente feneceu. Quase três anos depois, ainda se perde tempo e dinheiro discutindo esse golpe que nunca existiu. E chamam isso de justiça. Haja saco! Às vezes me  dá uma nostalgia do Brasil que eu amava. (C.N.)

Zambelli diz que se entregou, mas deputado italiano assume que a “dedurou” à Polícia

Casa de Carla Zambelli é alvo de busca e apreensão pela Polícia Federal

Zambelli tentou fazer a Piada do Ano e se deu muito mal

Deborah Sena e Gabriel Gatto
Terra

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) foi presa nesta terça-feira, 29, na Itália, confirmaram a Polícia Federal e o Ministério da Justiça. A parlamentar está no exterior desde que foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em maio passado, a dez anos de prisão.

Nas redes sociais, o deputado italiano Angelo Bonelli afirmou que a parlamentar brasileira foi localizada pela polícia em um apartamento em Roma. No X, Bonelli afirma ter alertado as autoridades sobre o paradeiro da deputada: “Carla Zambelli está em um apartamento em Roma. Forneci o endereço à polícia. Neste momento, a polícia está identificando Zambelli”, escreveu.

DIZEM OS ALIADOS – Ao Terra, interlocutores da deputada confirmaram a prisão, mas adotam a versão que foi ela quem procurou a Justiça italiana para se entregar.

O STF solicitou à Itália a extradição da deputada para que a pena seja cumprida no Brasil — por isso, Zambelli teve a prisão cumprida em Roma. No entanto, a Justiça italiana deverá analisar o caso e, então, decidir se a deputada, que tem cidadania italiana, será extraditada.

A Primeira Turma do STF condenou Zambelli, de maneira unânime, a dez anos de prisão e à perda do mandato parlamentar. A decisão, divulgada em 14 de maio, se deu no âmbito da investigação que apura a invasão a sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

HACKEAGEM – De acordo com a acusação do Ministério Público, Zambelli coordenou a invasão aos sistemas do Poder Judiciário com o objetivo de manipular dados oficiais, incluindo a emissão de um mandado de prisão contra o próprio ministro Alexandre de Moraes,assinado por ele mesmo.

O hacker Walter Delgatti Neto, por sua vez, seria o executor direto da ação criminosa, que teria ocorrido entre agosto de 2022 e janeiro de 2023. Ele está preso.

Além da pena de prisão em regime fechado, a deputada foi condenada à perda do mandato e ao pagamento de indenização, por envolvimento na invasão do sistema do CNJ e pelo crime de falsidade ideológica.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGCarla Zambelli gosta de piada, mas não sabe ser humorista. Para mostrar que a urna eletrônica é frágil, contratou um hacker para invadir o portal do Conselho Nacional de Justiça. Mandar Moraes prender Moraes era uma Piada era muito boa, admito, mas os ministros não gostaram e a condenaram com rigor demasiado.

O acordo entre EUA e União Europeia  não significa notícia boa para o Brasil

Ursula von der Leyen aperta mão de Trump

Trump fecha o acordo com Ursula, da União Europeia

Josias de Souza
do UOL

Anunciado às vésperas do início da vigência da sanção de Trump contra as exportações brasileiras, o acordo firmado entre Estados Unidos e União Europeia trouxe duas notícias para Lula. A notícia má é que não há notícia boa para o Brasil.

A notícia péssima é que o acerto do bloco europeu com o Mercosul, que Lula espera fechar antes do Natal, corre o risco de sofrer novo atraso.

GRANDE ACORDO – Trump referiu-se ao acerto tricotado neste domingo em encontro com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, como “o maior acordo de todos os tempos.” Além de absorver tarifa de 15%, a comunidade europeia comprometeu-se a investir US$ 600 bilhões nos Estados Unidos.

Antes do entendimento, Trump ameaçava impor tarifa de 30% à União Europeia, que cogitava retaliar. A discórdia estimulava a busca de novos mercados.

O Brasil animava-se com a hipótese de o bloco europeu anestesiar a resistência da França, apressando a concretização do acordo com o Mercosul. A nova conjuntura pode retirar o fator pressa da negociação cultivada por Lula.

MAIS PRESSÃO – De resto, a iminente entrada em vigor do tarifaço de 50% contra o Brasil, com início previsto para a próxima sexta-feira, tende a aumentar a pressão sobre o governo brasileiro pela abertura de um canal qualquer de comunicação com a Casa Branca.

Além da União Europeia, já fecharam acordos com Trump países como Japão, Reino Unido, Filipinas e Indonésia. A China obteve trégua de 90 dias, que vence em 12 de agosto. O que diferencia esses países do Brasil é que nenhum deles teve que lidar com sanções de viés político.

No caso brasileiro, Trump exigiu em carta uma mercadoria indisponível: a interrupção imediata do julgamento de Bolsonaro no Supremo.

ALCKMIN TENTA – Trump descartou a hipótese de adiar o tarifaço previsto para 1º de agosto. Foi ecoado pelo secretário de Comércio americano, Haward Lutnick. Lula chama seu vice Geraldo Alckmin de “conversador número um” do governo. Lamenta que “ninguém quer conversar com ele”.

O secretário Lutnick falou com Alckmin pelo telefone dias atrás. Neste domingo, esclareceu que não lhe cabe senão “preparar a mesa”. É Trump quem “lidera a mesa de negociações”, disse o secretário.

No caso do Brasil, que coleciona déficits comerciais com os Estados Unidos desde 2009, não há nem uma mesa, que dirá uma negociação.

Moraes viola a liberdade de expressão e cria censura à imprensa

Um homem careca, vestido com uma toga preta e uma camisa branca, está sentado em uma cadeira amarela em um ambiente de tribunal. Ele parece estar ouvindo atentamente, com uma expressão séria. Ao fundo, há outras pessoas, mas não estão claramente visíveis.

Moraes já ultrapassou todos os limites e nada ac333333333333333333333ontece

Lygia Maria
Folha

Em 1963, o governador do Alabama, George Wallace, foi convidado a dar uma palestra na Universidade Yale. Como ele se opunha à integração racial nos EUA, população e autoridades locais se mobilizaram contra a palestra.

Mas uma doutoranda do curso de direito em Yale, Pauli Murray, pediu ao reitor que Wallace fosse autorizado a discursar. Murray, uma mulher negra e ativista dos direitos civis, disse que “a possibilidade de violência não é razão suficiente, perante a lei, para impedir um indivíduo de exercer seu direito constitucional”.

VETO DO PROVOCADOR – Trata-se de crítica ao “veto do provocador”: quando uma pessoa ou grupo é silenciado porque suas falas podem causar reação negativa e até agressiva do público.

Tal postura corajosa mostra que uma perspectiva bastante ampla da liberdade de expressão, por si só, não significa falha moral ou apoio à infração de direitos das minorias —afinal, quem poderia acusar Murray de racista?

Ademais, apela à ideia de que opiniões políticas não devem ser silenciadas ou criminalizadas, mas sim colocadas em choque com opiniões contrárias. Tratar divergências discursivas por meio do debate público seria a forma menos autoritária de abordar a questão, dado que diminuem-se os riscos de violações à liberdade de expressão.

NO BRASIL ATUAL – Esse aprendizado é crucial no cenário brasileiro atual, onde defensores de um conceito amplo de liberdade de expressão são chamados de fascistas e o STF, por meio de decisões monocráticas do ministro Alexandre de Moraes, impede cidadãos, réus ou não, de postarem em redes sociais ou concederam entrevistas.

O argumento do magistrado é semelhante ao “veto do provocador”. Ao proibir entrevista de Filipe Martins —ex-assessor de Jair Bolsonaro e réu no processo sobre a trama golpista— para o Poder360, neste mês, alegou “risco de tumulto”. Em 2024, também vetou entrevista de Martins à Folha. Assim, o Supremo reinstitui a censura prévia no país. Que isso seja normalizado, até por alguns jornalistas, é aterrador.

Em matéria de liberdade de expressão, precisamos de mais Murray e menos Moraes.

Governo Lula quer excluir a Embraer e os alimentos do tarifaço de Trump

Sobre a Embraer - Embraer

Embraer compra nos EUA as suas peças principais

Catia Seabra, Nathalia Garcia e Mariana Brasil
Folha

A três dias da aplicação da sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelos Estados Unidos, o governo Lula (PT) negocia a exclusão de alguns itens do tarifaço de Donald Trump. Segundo integrantes do governo envolvidos com o tema, o vice-presidente e ministro Geraldo Alckmin (Desenvolvimento, Indústria e Comércio) tem conversado com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, na tentativa de poupar, por exemplo, alimentos da lista de produtos a serem sobretaxados pelo governo Trump.

O Brasil é hoje, por exemplo, o maior produtor e exportador de suco de laranja do planeta, vendendo 95% de sua produção para o exterior. Desse volume, 42% tem os Estados Unidos como destino. O país também é o principal fornecedor de café ao mercado norte-americano. Entre janeiro e maio de 2025, os EUA compraram 2,87 milhões de sacas, o equivalente a 17,1% de todo o volume exportado pelo Brasil, conforme dados do Cecafé (Conselho dos Exportadores de Café do Brasil).

ADIAMENTO – Além de buscar junto à gestão Trump o adiamento do anúncio, haveria ainda um pedido de exclusão das aeronaves fabricadas pela empresa Embraer, que tem o mercado norte-americano como principal comprador para a aviação regional. Um dos argumentos em favor da medida seria o de que a fabricante brasileira importa peças dos EUA.

Sem uma resposta concreta dos Estados Unidos, o governo brasileiro continua estudando cenários possíveis de reação e segura a divulgação do plano de contingência até que o tarifaço de Trump se concretize.

O desenho geral do plano para proteger empresas exportadoras foi concluído pela equipe técnica na semana passada e aguarda aval de Lula, segundo o ministro Fernando Haddad (Fazenda). Nesta segunda-feira (28), o chefe da equipe econômica se reuniu com o presidente no Palácio do Planalto. Alckmin também participou do encontro. Após a reunião, Haddad afirmou ter levado a Lula “todas as possibilidades que estão à disposição do Brasil e dele à frente da Presidência da República”. O ministro disse, no entanto, que o “foco do Brasil é negociar”.

NEGOCIAÇÃO – Segundo Haddad, o vice-presidente Alckmin está em contato e “à disposição permanentemente” das autoridades americanas. “Tem havido conversas. Então, aquilo que foi dito semana passada, [semana] retrasada, de que o Brasil não vai deixar a mesa de negociação em nenhum momento, está valendo e vai continuar valendo.”

O ministro da Fazenda deixou claro que Lula não tomará decisão antes de conhecer o ato executivo dos EUA com o detalhamento das decisões sobre o comércio com o Brasil. Questionado se o presidente já havia decidido qual será a reação a uma sobretaxa americana, Haddad respondeu que não. Não sabemos nem a decisão que vai ser tomada. Possivelmente, a gente espera que não seja unilateral no dia 1º. Então, nós vamos insistir de que a medida não seja unilateral por parte dos Estados Unidos”, disse ele.

FUNDO PRIVADO – Como mostrou a Folha, entre as medidas de contingência há a possibilidade de se criar um fundo privado temporário para facilitar a concessão de crédito a empresas ou setores afetados pelo tarifaço. O governo também avalia incluir ações de preservação de empregos em modelo similar ao programa emergencial de manutenção de trabalho e renda criado na pandemia.

Em conversa com jornalistas, Alckmin elogiou a elaboração do plano de contingência, mas afirmou que a prioridade do governo é avançar na negociação com os americanos. “O plano de contingência é um plano que está sendo elaborado, bastante completo, bem feito, mas todo o empenho agora nessa semana é para a gente buscar resolver o problema. Quero dizer a vocês que nós estamos dialogando neste momento pelos canais institucionais e sob reserva”, afirmou.

Questionado sobre a possibilidade de o presidente Lula ligar a Trump para uma negociação direta, Alckmin disse não ter tratado do assunto com o chefe do Executivo. “Eu não conversei com o presidente Lula sobre isso, mas o presidente Lula é o homem do diálogo. Ele sempre defendeu o diálogo, que é o que nós fazemos permanentemente”, disse. Neste domingo (27), Trump confirmou a aplicação de sobretaxas, que no caso do Brasil foram definidas em 50%, a partir de 1º de agosto. Se confirmada, a tarifa será uma das maiores do mundo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A negociação não existe, é uma obra de ficção. Tudo depende diretamente de Trump, um exibicionista imprevisível. Se depender da perseguição a Bolsonaro no Supremo, o Brasil está liquidado. (C.N.)]

Carlos Pena Filho captou os desejos e sonhos frustrados no Bar Savoy

Poesia dos Brasis - Pernambuco - CARLOS PENA FILHO -  www.antoniomiranda.com.brPaulo Peres
Poemas & Canções

O advogado e poeta pernambucano Carlos Pena Filho (1929-1960), no poema “Chopp”, mostra os desejos e os sonhos frustrados no refrão do famoso Bar Savoy, no Recife.

CHOPP
Carlos Pena Filho

Na avenida Guararapes,
o Recife vai marchando.
O bairro de Santo Antonio,
tanto se foi transformando
que, agora, às cinco da tarde,
mais se assemelha a um festim,
nas mesas do Bar Savoy,
o refrão tem sido assim:

São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados.

Ah, mas se a gente pudesse
fazer o que tem vontade:
espiar o banho de uma,
a outra amar pela metade
e daquela que é mais linda
quebrar a rija vaidade.
Mas como a gente não pode
fazer o que tem vontade,
o jeito é mudar a vida
num diabólico festim.

Por isso no Bar Savoy,
o refrão é sempre assim:
São trinta copos de chopp,
são trinta homens sentados,
trezentos desejos presos,
trinta mil sonhos frustrados

General relata desabafo que Bolsonaro lhe fez após perder a eleição para Lula

General Estevam Cals Theóphilo Gaspar de Oliveira - Comandante CMA Metrópoles

General diz que Bolsonaro não falou em golpe na reunião

Deu no Metrópoles

O general Estevam Theophilo Gaspar de Oliveira, réu na ação penal da suposta trama golpista contra o resultado das eleições de 2022, afirmou que se reuniu com o ex-presidente Bolsonaro em novembro de 2022 e ouviu do ex-mandatário um desabafo sobre os motivos que o levaram a ser derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Theophilo foi interrogado no Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde desta segunda-feira (28/7), e afirmou que esteve com Bolsonaro em uma reunião, a pedido do então comandante do Exército, Freire Gomes, para conversar com o ex-presidente. O general negou que tenha tratado de uma tentativa de golpe.

RECLAMAÇÕES – “Ele reclamou de problemas no processo eleitoral, reclamou até algumas coisas dele próprio. Ele achava que podia ter agido diferente, que poderia ter minorado a sua veemência em algumas coisas”, disse o general, que é um dos réus do núcleo 3, dos kids pretos.

O general salientou que Bolsonaro disse no encontro — que, segundo ele, era oficial — que ficava incomodado, porque não “podia falar nada”, “não podia transmitir live de não sei onde”, dizendo que o “outro lado podia”.

“Então, o que ele desabafou foi isso. E, como eu já falei, no prosseguimento ele também conversou sobre o governo dele: o que tinha feito, o que não tinha feito, o que ele poderia, também dentro desse aspecto, ter melhorado para evitar o resultado que acabou tendo nas eleições. Então foi nesse aspecto esse desabafo — situação, particularmente, durante o processo eleitoral”, completou Theophilo.

CARTA GOLPISTA – A acusação aponta que, em 28 de novembro de 2022, após a vitória de Lula na eleição presidencial, os réus se reuniram para discutir a elaboração de uma carta de teor golpista a ser enviada aos comandantes das Forças Armadas.

Além disso, afirma a PGR, o grupo planejava ações para provocar um fato de forte impacto e mobilização social, o que permitiria a Bolsonaro e seus aliados avançarem no plano golpista.

Contra o general Estevam, só existe essa acusação de que foi chamado a palácio por Bolsonaro para disponibilizar tropas para o golpe.

Lula busca retomar popularidade com pacote social em meio ao tarifaço

Pacote de programas sociais deve ser lançado no 2º semestre

Pedro do Coutto

O presidente Lula da Silva prepara um amplo pacote de investimentos sociais para o segundo semestre, numa tentativa de reconquistar índices de popularidade que sofreram queda desde o início do ano. O projeto, que deve incluir habitação, transporte, educação e combate à fome, surge como resposta tanto às demandas internas quanto ao cenário de tensão internacional.

Lula aposta que um plano robusto de inclusão social pode consolidar apoio político e reafirmar sua liderança num momento em que pressões externas começam a influenciar a agenda doméstica. Essas pressões ganharam corpo após Donald Trump anunciar tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, condicionando a redução das taxas à concessão de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

IMPASSE – A iniciativa foi interpretada como uma tentativa direta de ingerência na política interna brasileira, criando um impasse diplomático sem precedentes. Para Lula, essa postura não apenas fere a soberania nacional, como também fortalece uma narrativa de resistência diante de uma ameaça estrangeira.

Em meio à crise, a estratégia norte-americana parece ter produzido o efeito inverso. Em vez de enfraquecer o governo, a pressão externa começou a gerar uma onda de solidariedade interna, inclusive entre setores conservadores que até então orbitavam a base bolsonarista. A opinião pública, sensível ao discurso de defesa nacional, passou a enxergar em Lula um contraponto firme à tentativa de condicionamento político por parte da Casa Branca.

Lula reagiu com um tom assertivo, deixando claro que a independência do Judiciário não será colocada em xeque para satisfazer exigências externas. Em pronunciamentos recentes, o presidente destacou que o Brasil não aceitará nenhuma forma de tutela internacional e sinalizou que poderá aplicar medidas retaliatórias caso as tarifas sejam efetivamente implementadas.

IMPACTOS – A Lei de Reciprocidade Comercial, aprovada pelo Congresso no primeiro semestre, dá ao governo brasileiro instrumentos para responder proporcionalmente a ações consideradas hostis. Os impactos econômicos, no entanto, não podem ser ignorados.

O aumento tarifário ameaça setores estratégicos da economia, como exportadores de café, suco de laranja, aço e autopeças, que têm nos Estados Unidos um de seus principais mercados. Pequenos e médios produtores, especialmente do agronegócio, já expressam preocupação com perdas significativas, caso a crise não encontre solução negociada.

Por outro lado, esse cenário adverso pode ser politicamente útil para o governo. Ao se colocar como defensor da soberania e, ao mesmo tempo, propor medidas de proteção social, Lula constrói uma narrativa que mistura resistência externa e compromisso interno. Essa combinação, se bem administrada, pode inverter a curva negativa da popularidade presidencial, transformando a crise em oportunidade de fortalecimento político.

MOBILIZAÇÃO – A história recente mostra que governos sob pressão internacional costumam utilizar o sentimento nacionalista como combustível para mobilização social. Foi assim no Canadá, no México e na Austrália, diante de sanções comerciais impostas por grandes potências. Lula segue essa trilha, reforçando sua imagem de líder que não se dobra diante de pressões e, ao mesmo tempo, garantindo que o povo brasileiro não será penalizado por disputas políticas externas.

O pacote social, previsto para os próximos meses, é mais do que um conjunto de medidas econômicas: é uma resposta simbólica à tentativa de condicionamento político. Programas como o Minha Casa, Minha Vida, obras de infraestrutura e investimentos em educação básica devem compor o núcleo dessa iniciativa, reforçando a mensagem de que o governo está focado em melhorar a vida da população, mesmo em um ambiente internacional hostil.

AUTONOMIA – Para Lula, esse momento é uma encruzilhada histórica: ou sucumbe às pressões, sacrificando princípios democráticos, ou reafirma a autonomia institucional e retoma o protagonismo social que marcou sua trajetória política. Tudo indica que o presidente optou pelo segundo caminho, ancorando sua estratégia na defesa da soberania e na ampliação dos direitos sociais.

Se bem-sucedido, esse movimento poderá não apenas recuperar a popularidade perdida, mas também consolidar um novo pacto político em torno da ideia de que o Brasil não se curva a imposições externas. Em tempos de crise global e disputas de poder, transformar adversidade em oportunidade é uma habilidade reservada a poucos líderes — e Lula parece disposto a jogar essa partida com todas as cartas na mesa.

Michelle assume agenda de Bolsonaro e entra de cabeça na disputa eleitoral

Michelle em evento do PL Mulher no Acre: além dos encontros com o segmento feminino, ex-primeira-dama assumiu agendas do marido

Alvos de Michelle são os conservadores e os evangélicos

Luísa Marzullo
O Globo

“Vou casar com você”, repetia o então deputado federal Jair Bolsonaro sempre que cruzava os corredores do Anexo 3 da Câmara dos Deputados, onde Michelle de Paula trabalhava como secretária parlamentar. O flerte insistente virou convite para um jantar e, em apenas seis meses, os dois estavam casados.

Passadas duas décadas, a ex-primeira-dama emerge como peça-chave no xadrez bolsonarista, impulsionada pelas restrições judiciais que hoje limitam a atuação de seu marido.

PROTAGONISMO – Impedido de deixar Brasília por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro vê a mulher ganhar protagonismo ao intensificar conversas de bastidores para fortalecer seu grupo político.

Sem alarde, ela passou a ocupar espaços, discursar em nome do ex-presidente e comandar a interlocução com lideranças partidárias, religiosas e conservadoras. Procurada, Michelle não comentou.

Na sexta-feira, por exemplo, enquanto Bolsonaro se mantinha recluso em casa para evitar descumprir as ordens de Moraes, Michelle esteve na Paraíba.

EM CAMPANHA —”Todos nós, sob a liderança do presidente Bolsonaro, que está parcialmente impedido de exercer sua liderança em toda sua plenitude, iremos nos guiar por Michelle Bolsonaro, que é uma figura excepcional” — disse o ex-ministro Marcelo Queiroga, presidente estadual do PL.

Desde que Bolsonaro foi proibido de deixar Brasília, Michelle passou a assumir viagens que seriam dele, como a prevista para Rondônia em agosto, e intensificou postagens nas redes sociais em nome do casal. O resultado foi imediato: após a operação da Polícia Federal na sede do PL e na casa de Bolsonaro, em 18 de julho, ela ganhou 138 mil seguidores no Instagram.

Além da exposição pública, Michelle reforçou a segurança ao redor do ex-presidente. Seu irmão de criação, Eduardo Torres, tem acompanhado Bolsonaro em todas as saídas. Interlocutores próximos dizem que a escolha tem como motivação manter uma pessoa de confiança por perto.

TOM MESSIÂNICO – Embora evite citar seu futuro político em discursos públicos, Michelle tem adotado um tom messiânico nos bastidores. Em reuniões fechadas com aliados, ela se coloca como “voz profética” de um novo tempo. Afirma que “a batalha é contra o sistema” e que “Deus a levantou para essa hora”.

A atuação ativa dos últimos meses contrasta com a postura que a ex-primeira-dama teve até então. Na campanha de 2018, exerceu um papel discreto, focado em pautas como inclusão de pessoas com deficiência e doenças raras. Mesmo no governo, mantinha-se fora do foco, limitando suas aparições a eventos religiosos e institucionais.

O ponto de virada veio em julho de 2022, quando discursou na convenção do PL no Rio de Janeiro. A performance empolgou a militância e fez acender, dentro da legenda, a percepção de que ali havia um ativo eleitoral em potencial.

PELO PAÍS – Após a derrota de Bolsonaro em 2022, esse capital político foi aproveitado. Na presidência do PL Mulher, Michelle percorreu o país e ajudou a sigla a ampliar sua base, especialmente entre candidatas evangélicas. Ao mesmo tempo, intensificou a articulação com pastores, cantoras gospel e influenciadoras cristãs.

Na semana passada, esteve em reunião reservada com Valdemar Costa Neto na sede do PL, um gesto que, para aliados, simboliza sua ascensão à cúpula partidária.

— Eu vou conversar com ela. A gente não vinha discutindo política por aí, mas é uma pessoa séria e de confiança — declarou Bolsonaro recentemente, ao ser questionado sobre o protagonismo da esposa.

EM FAMÍLIA – Embora esteja consolidando apoio interno no partido, Michelle ainda enfrenta resistências dentro da própria casa. A relação com dois dos quatro filhos do ex-presidente — Carlos Bolsonaro e Jair Renan — sempre foi marcada por tensão. Por anos, Carlos a chamava de Xuxa, em tom pejorativo, nos bastidores, insinuando que ela buscava os holofotes.

Segundo aliados, no entanto, o distanciamento entre os dois começou a diminuir neste ano, durante uma internação de Bolsonaro. Michelle assumiu os cuidados do marido, o que teria comovido Carlos. Ainda assim, há incômodo no clã sobre o espaço que ela vem conquistando.

O pastor Silas Malafaia, aliado histórico da família, vocaliza parte dessa resistência: “Tem várias vozes que falam por ele, mas não uma única pessoa. Ele não está preso, não está mudo. Uma pessoa só vai representar o quê?”

DOIS PÚBLICOS – Para integrantes do PL, contudo, Michelle é hoje o elo mais eficaz com dois pilares centrais do bolsonarismo: o eleitorado evangélico e o público feminino conservador.

Nos bastidores, cresce a avaliação que, caso Bolsonaro permaneça inelegível, ela deva ser considerada para integrar uma chapa majoritária em 2026.

— Jair Bolsonaro é único. Ninguém vai substituí-lo, mas com as restrições a ele, a possibilidade de lançar Michelle vai amadurecendo mais e mais — resume o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ).

Enfim, a imprensa comprova que Moraes tem vocação para censor

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Charge do Santiago (ExtraClasse)

Luís Ernesto Lacombe Heilborn
Postagens

Talvez fosse preciso fazer uma grande campanha nacional… Pichar o país inteiro com a frase: “Liberdade não se fatia; ou todos têm, ou ninguém tem”. Espalhar cartazes pelas ruas, fazer campanha no rádio, na televisão, nos jornais, portais de notícias, nas redes sociais. Talvez fosse preciso sacudir cada maluco que ainda está por aí apoiando uma tirania “para salvar a democracia”.

Olhar nos olhos de cada um, e falar em tom firme, em voz alta: “Chega! Não há país livre, se apenas um lado pode existir, se apenas um grupo pode defender suas ideias, emitir suas opiniões”. E os jornalistas desorientados fariam fila, uma fila quilométrica, para passar por esse exorcismo.

AS COISAS MUDAM – A turma da imprensa que desistiu de ser imprensa já não está tão fagueira com Alexandre de Moraes. Demorou muito para que abrisse ligeiramente um dos olhos. O outro continua cerrado, e sem perspectiva de abertura mínima…

A pouca luz que os jornalistas desgarrados de sua profissão percebem ilumina, por enquanto, apenas o seu mundinho. Poxa, a censura chegou àqueles que sempre foram tão fiéis ao todo-poderoso Moraes… Eles estão por aí, em veículos tradicionais de comunicação, e sempre fizeram questão de não ver nada de anormal nos inquéritos ilegais e intermináveis do ministro, na perseguição implacável contra os conservadores.

DA PIOR ESPÉCIE – A turma da imprensa aprendeu com o “dono do STF” a tratá-los como extremistas, radicais, nazistas, fascistas, terroristas, golpistas, gente da pior espécie.

Censurar Jair Bolsonaro, tirar dele suas redes sociais, aplicar contra ele uma série de medidas cautelares absurdas, isso foi, de certa forma, aceito de bom grado pelos jor-na-lis-tas, que formam o suprassumo da inteligência…

Até que veio o aviso: ninguém pode veicular falas, depoimentos, discursos, entrevistas do ex-presidente. A turma entendeu que a medida era um ataque à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, era censura prévia. E, imediatamente, passou a se perguntar o que havia feito para merecer tal castigo.

TUDO EM VÃO – Toda a devoção ao tirano Alexandre de Moraes – que a revista Veja chegou a tratar numa capa como “a muralha em defesa da democracia” – tinha sido, de repente, ignorada.

A imprensa fajuta passou a defender o que considera a sua liberdade particular, que, obviamente, não é liberdade, nunca foi. E agora faz editoriais em telejornais, “análises” em programas jornalísticos, escreve artigos de opinião em jornais, em portais de notícias, afirmando o seguinte:

“Moraes não respeita a Constituição, impondo censura e censura prévia”; “Proibir entrevista é indevido e inoportuno”; “Supremo não pode atropelar direitos fundamentais, como a liberdade de expressão e a liberdade de imprensa”; “A imprensa deve ser livre e não pode trabalhar sob cerceamento”.

E MAIS – “É um caso escandaloso de censura”; “O Supremo, convencido de que salvou a democracia, se acha em condições de fazer o que quiser”; “É um perigo ter uma instituição que é a última palavra em tudo exorbitando das suas prerrogativas”…

A imprensa não tinha desistido de ser imprensa? Só agora percebeu que temos um Estado de exceção no Brasil? Só porque “esbarraram” nela… Não ouviu falar da censura contra O Antagonista, a Revista Crusoé, a Brasil Paralelo, o Terça Livre, os jornalistas Allan dos Santos, Rodrigo Constantino, Guilherme Fiuza, Paulo Figueiredo? A Gazeta do Povo, a Revista Oeste, a Jovem Pan, a Revista Timeline…

Daria para encher algumas páginas com todos os que foram e são perseguidos pela tirania do Judiciário, enquanto a imprensa que se acha a dona da verdade atua em delírios durante um sono profundo.

CANETA TORTA – Na verdade, essa gosma de jornalistas não acreditava mesmo que Alexandre de Moraes era um grande defensor da democracia, mas ele atuava contra inimigos comuns seus com a gangue da caneta torta.

Para se dar conta de que os jornalistas espúrios sabiam que Moraes era um tirano, um rasgador da Constituição, basta verificar a quantidade de artigos e editoriais que difundiram o seguinte pedido ao ministro:

“Agora que a democracia foi salva, que Bolsonaro foi ‘derrotado’, é hora de voltar a cumprir as leis”.

FATIA DE LIBERDADE – Sim, esse “muco das notícias” defendeu a tirania como forma de “restabelecer a democracia”, e arrastou nessa os incautos, os ingênuos, os ignorantes.

Meus “coleguinhas” estão esperneando, querendo de volta sua fatia de liberdade, algo que jamais existirá, para fingir que está tudo bem no Brasil. Abram os olhos de uma vez, os ouvidos, busquem o exorcismo…

Porque nunca será livre a imprensa que não tem humildade, que não tem compromisso com os fatos, com a busca pela verdade. Nunca será livre a imprensa que é refém dos seus próprios interesses. 

(artigo enviado por Mário Assis Causanilhas)

A 4 dias do tarifaço, Amorim provoca Trump em entrevista a jornal inglês

Lula e Celso Amorim -- Metrópoles

 Amorim é o condutor da política externa do país

Máro Sabino
Metrópoles

Se alguém ainda tem dúvida de que Celso Amorim  é um desastre ferroviário para as relações exteriores do Brasil, precisa ler o que ele disse ao jornal inglês Financial Times.  O título da reportagem é sugestivo da encrenca em que nos meteram: “Brasil vai dobrar a aposta no Brics em desafio a Donald Trump”.

A partir do título, só piora. Enquanto empresários tentam estabelecer um canal de diálogo com o governo de Donald Trump para tentar adiar ou atenuar o tarifaço sobre a importação de produtos brasileiros, visto que não existe conversa nenhuma do governo brasileiro com a Casa Branca, o ideólogo que guia o país para a marginalidade internacional comparou os Estados Unidos à finada União Soviética, em desfavor dos americanos.

DISSE AMORIM – A provocação está lá no jornal: “Amorim disse que a interferência de Trump nos assuntos internos do Brasil era algo não visto ‘nem mesmo na era colonial’. ‘Acho que nem mesmo a União Soviética teria feito algo assim’, disse ele.”

De fato, não. Se fosse desafiada pelo Brasil e pudesse fazer algo a respeito, a União Soviética, que Deus não a tenha, invadiria o país, fuzilaria todos os integrantes do governo e colocaria um fantoche no Palácio do Planalto.

A comparação fica tão mais cínica porque o governo Lula aliou-se desavergonhadamente a Vladimir Putin. O tirano russo sonha reviver o império soviético, anexando, em um primeiro momento, a Ucrânia — criticada duramente no comunicado final da última cúpula do Brics, como se fosse ela a grande agressora na guerra patriótica contra a invasora Rússia.

Na sua entrevista alucinada ao Financial Times, o ideólogo ainda afirma que, no último ano de governo Lula, o Brasil “provavelmente terá um maior foco na América do Sul, cujos países comercializam menos entre si do que em outras partes do mundo”.

Ao final, Celso Amorim repete a máxima segundo a qual “países não tem amigos, apenas interesses” para criticar Donald Trump, que não teria “nem amigos, nem interesses, apenas desejos”. Não é pior, convenhamos, do que ter os amigos errados e defender apenas os interesses dos outros.

Isto aqui não tem jeito, não. O negócio é jogar truco e esperar pela próxima eleição, sempre tendo em mente que o problema no Brasil nunca foram as urnas eletrônicas, mas os eleitores.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGImportante entrevista, enviada por Duarte Bertolini. Mostra a esculhambação em que está nossa política externa, que já foi considerada modelo, quando o Itamaraty ainda não havia sido tomado pelos barbudinhos de Lula, que é o apelido da geração de Amorim, que aos 83 anos continua prestando belos serviços à Rússia e à China. (C.N.)

Israel bloqueia alimentos e a fome já atinge meio milhão de palestinos

O bebê Muhammad e sua mãe em uma tenda em Gaza. Ele tem ossos aparentes e usa um saco plástico como fralda

O bebê e a mãe lembram os campos de concentração

Jamil Chade
do UOL

Informes preparados pela ONU revelam que quase 500 mil palestinos em Gaza vivem uma situação de “fome catastrófica”. O principal motivo, segundo a entidade, é o bloqueio realizado por Israel para que a ajuda internacional não possa entrar em Gaza.

De acordo com levantamentos obtidos pelo UOL, entre 19 e 25 de julho, o Programa Mundial de Alimentação da ONU solicitou a entrada de 138 comboios com alimentos em Gaza. Apenas 76 deles foram aprovados.

SEM ACESSO – Mesmo aqueles caminhões que podem passar enfrentam obstáculos. Alguns chegam a ter de esperar 46 horas antes de seguir viagem. Nessas horas, verdadeiras multidões se concentram nos locais onde estão os caminhões, gerando tensão e violência.

Uma vez autorizados, cada comboio leva pelo menos doze horas para conseguir fazer as entregas e apenas duas passagens têm sido autorizadas pelo governo de Israel.

Outro obstáculo tem sido a recusa do governo Netanyahu em aprovar um número maior de motoristas de caminhões que possam fazer os trajetos dentro de Gaza. Hoje, apenas 60 homens receberam o sinal verde.

IMPOSIÇÃO DA FOME – O Programa Mundial de Alimentos indicou que, desde o dia 23 de julho, o governo de Israel tem dado sinais de acelerar a aprovação dos comboios. Mas o ritmo é ainda muito distante do que será necessário para reverter a fome que atinge, segundo a entidade, “níveis surpreendentes”.

A estimativa é de que pelo menos cem caminhões por dia seriam necessários para atender à população de Gaza. Atualmente, Uma a cada três pessoas ficam sem alimentos por dias.

O resultado tem sido uma deterioração acelerada da situação humanitária. “Pessoas estão morrendo devido à falta de assistência humanitária”, alertou o informe. “Quase uma em cada três pessoas não está se alimentando por dias seguidos”, indicou.

FOME CATASTRÓFICA – O documento revela que 470 mil pessoas estão enfrentando condições semelhantes à “fome catastrófica”, o nível mais agudo numa escala criada pela ONU para avaliar a desnutrição. Segundo a entidade, 90.000 crianças e mulheres precisam” urgentemente de tratamento”.

O governo de Netanyahu rejeita a acusação de que esteja deliberadamente usando a fome contra a população palestina. O argumento das autoridades é de que seria o Hamas que estaria desviando mantimentos e ampliando a crise como forma de criar pressão.

Mas juízes internacionais têm outra percepção. Os dados ampliam a pressão internacional sobre Israel, justamente num momento em que a ONU se prepara para uma conferência a partir desta segunda-feira e que tem como objetivo acelerar o reconhecimento da Palestina como um estado soberano.

COMO ARMA DE GUERRA – No Tribunal Penal Internacional, a acusação que pesa contra o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu é o de ter implementado um plano para usar a fome como método de guerra.

“Os efeitos do uso da fome como método de guerra, juntamente com outros ataques e punição coletiva contra a população civil de Gaza, são graves, visíveis e amplamente conhecidos, e foram confirmados por várias testemunhas entrevistadas pelo meu Gabinete, inclusive médicos locais e internacionais”, disse Karim Khan, procurador do TPI, no final de 2024.

Elas incluem desnutrição, desidratação, sofrimento profundo e um número crescente de mortes entre a população palestina, incluindo bebês, outras crianças e mulheres.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Se o nome dessa tática de guerra não é genocídio, só pode ser holocausto. Se encontrarem outra denominação, por favor, nos avisem…
(C.N.)

No eixo São Paulo/Brasília, um negócio que cheira mal envolve a Multilaser

Charge do Ivan Cabral (Sorriso Pensante)

Vicente Limongi Netto

A Multilaser foi a grande vencedora do edital que o FNDE publicou em maio, para contratação de equipamentos eletrônicos que serão instalados em escolas públicas de todo o país. Uma contratação de R$ 153,5 milhões. Que traz de volta a questão sobre o Secretário de Educação do Estado de São Paulo, Sr. Renato Feder, que é sócio da empresa e parente de outros sócios. 

O FNDE e a Sra. Leilane Mendes Barradas, a responsável pela publicação e execução do edital, precisam responder se o Sr. Renato Feder poderá fazer a contratação dos produtos de sua própria empresa.

Há também um outro problema, que pode ser mais grave – a Multilaser venceu o edital mesmo sem ter fornecido todas as certidões exigidas para a participação no certame. Inclusive a certidão que comprova o cumprimento das exigências de reserva de cargos para pessoa pessoas com deficiência.

DESPREZÍVEL – Bêbado e irresponsável, o juiz aposentado Fernando Augusto Fontes Rodrigues Junior, 61 anos, atropelou e matou, uma ciclista.  A tragédia causada pelo infame magistrado foi na cidade de Araçatuba, São Paulo. O patife saia da boate com uma mulher. Dentro do carro ela ficou nua, no colo dele. Foi quando o veículo começou a andar e atingiu a ciclista, Thais Bonatti. O asno pagou fiança de 40 mil reais e foi solto.

Mais um episódio degradante que vai para as estatísticas humilhantes dos cidadãos que não têm recursos para lutar pela justiça isenta. Brasileiros sem melhores chances de vida são presos e espancados por roubar mercado para dar algo de comer aos filhos. Outro é morto pelos seguranças porque roubou um chocolate.

O juiz calhorda e cretino Fernando Augusto é membro de uma justiça vergonhosa e ultrajante que protege marginais abonados e engomados. 

TRISTEZA EM CAMPO – Algo ruim entre o cerebral meia Ganso e o técnico Renato Gaúcho. É imperdoável Ganso ficar na reserva, estando em boa fase física, como está no momento.

A inteligência de atleta com as qualidades técnicas de Ganso supera a correria. Com Ganso em campo, o ânimo dos jogadores muda para melhor. O Fluminense desabando no brasileirão. A reação precisa ser urgente. Quarta já reinicia outra batalha, a Copa do Brasil.

Num ponto Renato Gaúcho tem razão: o Fluminense continua sendo prejudicado pela arbitragem e pelo Var. É o fim da picada. O Fluminense e o torcedores merecem e exigem respeito. 

GAZA AGONIZA – Mãos estendidas. Trêmulas. Quase esmagadas entre o sol avassalador. Nuvens parecem descer comovidas. A poeira, o choro entre empurrões e gritos. Latas, baldes, panelas misturam-se com vozes miúdas de rostos sujos e aflitos.

Crianças compõem o cenário dantesco da fome em Gaza. A sinfonia da dor, da sede, do desespero e da fome reflete a intolerância dos adultos. Quase impossível não entregar a alma ao desânimo, diante de tanta brutalidade. 

Moraes tumultuou a ordem jurídica brasileira e agora tem contas a pagar

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participando de culto na Igreja Catedral da Benção, em Taguatinga (DF)

Bolsonaro tornou-se exemplo de perseguido político

J.R. Guzzo
Estadão

O último decreto apostólico do STF, do governo Lula e do Alto Comissariado da esquerda brasileira determina que o ex-presidente Jair Bolsonaro, seu filho que milita em sua causa nos Estados Unidos e quem admite a noção geral de que a justiça poderia estar cometendo ilegalidades contra ele sejam declarados, já, traidores da pátria. São inimigos da soberania nacional, colaboracionistas e agentes de potência estrangeira.

É uma sorte, para todos eles, que o Brasil não esteja atualmente em tempo de guerra. Se estivesse, estariam sujeitos à pena de morte – o crime de traição, segundo artigo 5º da Constituição Federal, é o único que pode ser punido com o fuzilamento do réu.

CASO DAS SANÇÕES – No caso, a traição de Bolsonaro, seu filho e políticos da oposição é ter incentivado a adoção de sanções comerciais contra o Brasil por parte dos Estados Unidos, em represália ao tratamento que têm recebido do STF.

Formada essa doutrina, que prevê excomunhão para quem não concordar que o “bolsonarismo” é o responsável por tudo o que acontecer de ruim se as medidas de Trump realmente forem executadas, fica uma pergunta no ar. Será que o ex-presidente, seu filho e todos os que apontam as ilegalidades cometidas pela justiça nos processos contra ele são, realmente, os únicos responsáveis pela intragável desordem que se criou com essa rixa?

O exame dos fatos disponíveis mostra que não. É por causa da condenação já praticamente anunciada de Bolsonaro, sem qualquer dúvida, que Donald Trump entrou na história. Mas porque, em primeiro lugar, ele anunciou as sanções?

FORA DA LEI – Porque, no caso, o processo da lei foi para o espaço. É certo também que Trump não foi o único que percebeu as violações em série da legislação brasileira nos processos conduzidos contra Bolsonaro no STF.

Ainda há pouco, 15 mil advogados assinaram um manifesto denunciando as ilegalidades. Editoriais da imprensa internacional acusam o STF em geral e Alexandre de Moraes em particular. O ex-ministro Marco Aurélio sugere que Moraes precisa de um divã psicológico.

Não é nenhum deles, nem Bolsonaro, que conduz há seis anos um inquérito ilegal que pode punir quem o ministro quiser. Não inventaram o flagrante perpétuo, o julgamento por lotes e a prisão temporária pelo resto da vida.

ÚLTIMA INSTÂNCIA – É Moraes que está julgando Bolsonaro direto no STF – e não na primeira instância, como se fez com Lula.

 É ele que proibiu o ex-presidente de ser entrevistado na imprensa; depois, jogou um facho de escuridão no próprio despacho.

É ele que pôs tornozeleira no réu e o proibiu de falar com o seu filho. Foi ele que tumultuou a ordem jurídica e provocou o confronto com Trump. Terá de ajudar com a conta.

Crise do jornalismo deixou terreno fértil para a erosão da democracia

Saiba como explorar imagens e charges na prova de redação do vestibular |  Guia do Estudante

Charge do Laerte (Folha)

Rodrigo Lara Mesquita
Folha

Derrocada da relevância social do jornalismo e explosão da cacofonia gerada pela internet nas últimas décadas, fatos intimamente interligados, nos levaram a uma crise civilizacional da qual temos sido reféns passivos. Esse cenário de terra arrasada, que beneficia poucas e poderosas empresas, virou um solo propício para a desinformação e o surgimento de políticos autoritários em todo o mundo. Restaurar os valores democráticos exigirá resposta enérgica para reimaginar o jornalismo e as plataformas digitas.

Estamos imersos em uma crise histórica de longa duração. Os pilares que sustentaram a democracia liberal do século 20 —representação política, jornalismo profissional, instituições reguladoras, pactos de coesão social— sofrem um processo de desestruturação progressiva.

SURGE  INTERNET – A explosão informacional trazida pela internet não produziu mais esclarecimento; ampliou o ruído, fragmentou consensos e corroeu formas tradicionais de mediação. O jornalismo, paralisado em sua arrogância institucional, não soube compreender a emergência do novo ambiente em rede.

As plataformas digitais, ao contrário, não hesitaram: capturaram rapidamente o centro da esfera pública, reconfigurando as formas de circulação de informação, opinião e afeto.

Embora a literatura crítica internacional acumule diagnósticos relevantes sobre a colonização algorítmica e o declínio das instituições intermediárias, é notável — e preocupante — o silêncio generalizado, inclusive no jornalismo, sobre a verdadeira dimensão dessa crise. Esta talvez seja a mais grave omissão pública do nosso tempo.

INCAPAZ DE LIDAR – O que proponho aqui não é apenas um diagnóstico, mas um esforço deliberado de nomear essa dissolução como uma crise estrutural e civilizacional, com a qual o jornalismo tradicional se mostrou, até aqui, incapaz de lidar.

Não relato apenas uma experiência pessoal, mas a trajetória de uma geração que acreditou na função pública do jornalismo e assistiu, perplexa, ao seu esvaziamento como mediador qualificado da opinião pública.

Minha trajetória —do Jornal da Tarde e da Agência Estado à criação da Broadcast e ao diálogo com o MIT Media Lab— revela que o caminho não está na nostalgia nem na resistência passiva, mas na reinvenção ativa do jornalismo como infraestrutura pública de articulação social.

TEMPO SOCIAL – Na virada do milênio, ao mergulhar nas pesquisas do Media Lab, compreendi que não vivíamos apenas uma revolução tecnológica, mas uma profunda e irreversível transformação epistemológica.

Foi Harold Innis, autor de “O Viés da Comunicação” e pai da Escola de Toronto, quem melhor formulou esta chave interpretativa: a forma como uma sociedade se comunica determina sua estrutura de poder.

Ao estudar a transição dos impérios orais para os escritos, dos registros em pedra à imprensa de massa, mostrou como o tempo social é moldado pelos meios de registro e transmissão da informação.

MEIO E MENSAGEM – Mais que isso: o meio técnico dominante molda o próprio ambiente social, delimitando as possibilidades de organização política, econômica e cultural. Marshall McLuhan, seu discípulo mais conhecido, levou essa ideia adiante. Ao afirmar que “o meio é a mensagem”, deslocou o foco do conteúdo para a forma da mediação. Televisão, rádio, jornal —cada meio conforma uma sensibilidade e uma lógica de organização social.

Hoje, a internet, com sua capacidade de retroalimentação em tempo real, constitui um novo sistema nervoso coletivo: um ambiente cognitivo global estruturado por tecnologias que transcendem fronteiras e operam em ritmo contínuo. Mas, pela primeira vez na história, essa infraestrutura técnica está concentrada nas mãos de poucos atores privados, sem mediação pública e sem projeto democrático correspondente.

Mesmo em crise, os jornais ainda exercem influência simbólica —citados por autoridades, lidos por formadores de opinião, referenciados por outras mídias. Mas é uma influência terminal, sem futuro, se não houver reconfiguração estrutural.

PAPEL DE MEDIADOR – O jornalismo precisa deixar de ser apenas um produtor de conteúdos e retomar seu papel como arquitetura informacional: organizador de fluxos, mediador de sentidos, articulador de redes. No século 20, os jornais foram centros de gravidade de comunidades, catalisadores de sociabilidades e pactos sociais. A travessia para o século 21 exige que reaprendam a desempenhar essa função em ambiente digital.

Essa função foi esvaziada não pela obsolescência de sua missão, mas pela incapacidade institucional de compreender e ocupar o novo ambiente em rede.

A internet, concebida nas décadas de 1960 e 1970 como uma infraestrutura descentralizada e resistente ao controle, foi rapidamente capturada por interesses corporativos. Google, Facebook, Amazon e outras empresas surgidas em garagens ocuparam o vácuo deixado por um jornalismo preso à lógica do broadcast, enquanto o mundo passava a se estruturar segundo uma nova lógica em rede.

Uma canção inesquecível em homenagem à beleza das mulheres

Astros em Revista: SADI CABRAL - COADJUVANTE DE OURO

Sadi Cabral, em cena com Regina Duarte

Paulo Peres
Poemas & Canções

O ator e compositor alagoano Sadi Sousa Leite Cabral (1906-1986) e seu parceiro Custódio Mesquita imploram o amor de uma “Mulher”, tendo em vista a beleza mágica que o corpo dela irradia. Este clássico fox-canção foi gravado por Silvio Caldas, em 1940, pela RCA Victor.

MULHER
Custódio Mesquita e Sadi Cabral

Não sei que intensa magia, teu corpo irradia
Que me deixa louco assim, mulher
Não sei, teus olhos castanhos, profundos, estranhos
Que mistério ocultarão, mulher

Não sei dizer
Mulher, só sei que sem alma
Roubaste-me a calma, e aos teus pés eu fico a implorar
O teu amor tem um gosto amargo e eu fico sempre a chorar nesta dor
Por teu amor, por teu amor, mulher

O cerco da indiferença: a infância morre de fome em Gaza