
Charge do J.Bosco (oliberal.com)
Pedro do Coutto
O anúncio recente do presidente Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros — como aço, café, carne e alumínio — não apenas criou uma crise diplomática com o Brasil, como também desencadeou reações imediatas do governo Lula. Nesta terça-feira, o vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin, anunciará que o governo editará um decreto para regulamentar a resposta brasileira ao impacto dessas tarifas.
Como se esperava, a reação interna foi de coesão: Lula contou com apoio expressivo da indústria nacional e de diferentes setores políticos. O sentimento geral é de que o Brasil precisa, com urgência, formular uma estratégia clara e assertiva para proteger suas exportações e sua base produtiva. A preocupação da indústria é palpável — afinal, os Estados Unidos seguem sendo um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, sobretudo em segmentos industriais de alto valor agregado.
RETALIAÇÃO – O situação escancarou o desconforto diplomático e também expôs uma verdade incômoda: o tarifaço de Trump ameaça diretamente o desempenho da balança comercial brasileira e a confiança nos acordos multilaterais. Lula, porém, evita o caminho da retaliação desordenada. Segundo fontes da Câmara Americana de Comércio, a expectativa é de que a medida brasileira siga princípios legais, possivelmente apoiada pela recém-regulamentada lei de reciprocidade.
Essa resposta, que deve vir na forma de um decreto ainda hoje, pode representar um ponto de inflexão na relação comercial Brasil-EUA. A equipe econômica trabalha sob forte pressão para encontrar uma saída que preserve os interesses brasileiros sem incendiar de vez a relação bilateral.
CAUTELA – Especialistas como Monica de Bolle (Peterson Institute for International Economics) e Cláudio Frischtak (Inter.B Consultoria) apontam que a medida de Trump pode estar mais vinculada ao cenário interno americano — uma tentativa de galvanizar apoio de setores industriais em estados-chave para sua reeleição — do que a qualquer justificativa econômica sólida. O próprio mercado financeiro americano reagiu com cautela, indicando que o aumento de tarifas poderá afetar também a cadeia produtiva dos Estados Unidos, especialmente em setores que dependem de insumos brasileiros.
A partir de 1º de agosto, o Brasil pretende aplicar sua nova estratégia comercial, que está sendo construída com base em dados técnicos, diálogo com o setor produtivo e forte articulação diplomática. O objetivo é duplo: mitigar os danos imediatos e evitar que o episódio crie jurisprudência para novos ataques protecionistas no futuro.
A crise, por mais grave que pareça, também traz uma oportunidade: revisar e fortalecer a política industrial brasileira, apostar em acordos comerciais mais diversificados e diminuir a dependência de mercados voláteis. Em tempos de nacionalismos exacerbados, manter a sobriedade e a legalidade como guia pode ser a chave para preservar a soberania sem perder o bom senso.