Os maus sonhos que traziam tanto sofrimento a poesia de Cecília Meireles

CECILIA MEIRELES - Brasil Sempre - Poesia - Cecília MeirelesPaulo Peres
Poemas & Canções

A professora, jornalista e poeta carioca Cecília Meireles (1901-1964), no poema “Noturno”, mostra  sofrimento que muitas vezes os sonhos nos trazem, às vezes, noite após noite.

NOTURNO
Cecília Meireles

Suspiro do vento,
lágrima do mar,
este tormento
ainda pode acabar?

De dia e de noite,
meu sonho combate:
vem sombras, vão sombras,
não há quem o mate!

Suspiro do vento,
lágrima do mar,
as armas que invento
são aromas no ar!

Mandai-me soldados
de estirpe mais forte,
com todas as armas
que levam à morte!

Suspiro do vento,
lágrima do mar,
meu pensamento
não sabe matar!

Mandai-me esse arcanjo
de verde cavalo,
que desça a este campo
a desbaratá-lo!

Suspiro do vento,
lágrima do mar,
que leve esse arcanjo meu longo tormento,
e também a mim, para o acompanhar!

PF considera irrelevante o pen drive encontrado no banheiro de Bolsonaro

Pen Drive apreendido na casa de Bolsonaro continha músicas gospel 💻  Confira a matéria completa no nosso site. 📲 www.nocentrodopoder.comAguirre Talento
Estadão

A Polícia Federal (PF) realizou uma análise preliminar no pen drive encontrado no banheiro da residência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante busca e apreensão na última sexta-feira, 18, e considerou seu conteúdo irrelevante para as investigações.

Ainda não foi produzido um relatório apresentando os detalhes do conteúdo do aparelho, mas essa análise inicial feita pelos investigadores descartou a importância do item para a investigação.

Bolsonaro havia dito, em entrevista após a ação da PF, desconhecer o pen drive e chegou a insinuar que o item poderia ter sido plantado pelos agentes da Polícia Federal. O cumprimento das buscas, entretanto, foi filmado por câmeras corporais dos agentes.

FALTA O CELULAR – Agora a PF deve analisar com mais profundidade o conteúdo do aparelho celular do ex-presidente, que também foi apreendido na ação.

Um dos focos vai ser analisar os diálogos dele com seu filho, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), para verificar se houve alguma orientação do ex-presidente em relação às ações nos Estados Unidos para pressionar o governo de Donald Trump a impor sanções ao Brasil por causa do julgamento da ação da tentativa de golpe.

Não há prazo, porém, para que essa análise seja concluída.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes usa a Polícia Federal como se a corporação não tivesse mais a fazer do que servi-lo em plantão de 24 horas, com exclusividade. O ministro deveria cair na real e admitir que está prejudicando demais as relações com os Estados Unidos, desde que passou a perseguir as chamadas big techs aqui e no exterior, vejam a que ponto chega a pretensão desse simulacro de jurista. (C.N.)

As investidas de Trump e a erosão da imagem dos EUA no mundo

PL quer prorrogar licença e manter o mandato de Eduardo Bolsonaro

Eduardo Bolsonaro anuncia que ficará nos EUA e se licencia de mandato: o que se sabe - BBC News Brasil

Se continuar morando nos EUA, Eduardo será cassado

Jussara Soares
da CNN

O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), quer mudar o regimento interno da Casa para permitir a renovação da licença parlamentar de 120 dias para tratar de assuntos particulares. A proposta busca manter o mandato do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que desde março está nos Estados Unidos.

A licença parlamentar de 120 dias de Eduardo termina neste domingo (20). Com isso, ele começará a tomar faltas não justificadas se não retornar ao Brasil. Caso se ausente por mais de um terço das sessões do plenário da Câmara, o parlamentar poderá perder o mandato.

APÓS O RECESSO – “Vamos trabalhar para o Eduardo manter o mandato após a volta do recesso”, disse Sóstenes à CNN. Nesta semana, o Congresso Nacional está em recesso, e as atividades legislativas serão retomadas no dia 4 de agosto.

O Projeto de Resolução da Câmara dos Deputados, apresentado pelo líder do PL, propõe uma alteração no Regimento Interno da Câmara para permitir a prorrogação, uma única vez por sessão legislativa, da licença não remunerada para tratar de interesse particular. Se aprovado, um deputado poderia ficar até 240 dias afastado do cargo.

Sóstenes justifica a proposta argumentando que no serviço público licença não-remunerada pode ser concedida por até três anos e afirma que a alteração busca equidade para os parlamentares.

OUTRO PROJETO – O deputado Evair de Melo (PP-ES) também apresentou um projeto para mudar o regimento da Câmara na tentativa de beneficiar Eduardo Bolsonaro. A proposta quer permitir que o parlamentar exerça o mandato mesmo estando no exterior. Protocolado em junho, o texto não avançou.

Em março deste ano, Eduardo solicitou afastamento do cargo por 120 dias por “interesses pessoais” e outros dois dias para “tratamento de saúde”.

Na ocasião, ele publicou um vídeo dizendo que permaneceria nos Estados Unidos para articulação política. Alegou ainda que, no país norte-americano, iria “buscar as devidas sanções aos violadores de direitos humanos”.

NO SUPREMO – Em maio, o deputado se tornou alvo de um inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), a pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República), por atuar contra o Judiciário brasileiro nos Estados Unidos.

No pedido, o Ministério Público Federal cita coação no curso do processo, obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.

Segundo o procurador-geral, Paulo Gonet, o parlamentar tem utilizado um “tom intimidatório” para tentar atrapalhar o julgamento técnico da ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela tentativa de golpe de Estado.

GONET ACUSA – “A busca por sanções internacionais a membros do Poder Judiciário visa interferir sobre o andamento regular dos procedimentos de ordem criminal, inclusive ação penal em curso contra o sr. Jair Bolsonaro”, afirma Gonet na petição.

Foi dentro desse inquérito que foram aplicadas medidas cautelares contra Jair Bolsonaro na sexta-feira (18), por decisão do ministro Alexandre de Moraes (STF).

O ex-presidente está monitorado por tornozeleira eletrônica, tem horário restrito para sair de casa e está proibido de usar as redes sociais. Além disso, está impedido de manter contato com o filho Eduardo e com réus por tentativa de golpe de Estado, além de não poder se aproximar de embaixadas nem falar com embaixadores. O descumprimento dessas medidas pode levar o ex-presidente à prisão, de acordo com a decisão de Moraes.

Lula errou feio ao acreditar que China e Rússia apoiariam o Brasil contra Trump

Brics chega a sua 17ª com dilema entre apostar na multipolarização ou ser voz anti-Ocidente — Foto: Prime Ministers Office/ZUMA Press/picture alliance

BRICS deixou Lula falando sozinho contra Trump

Roberto Nascimento

Para fazer a América Grande novamente, Trump precisa apequenar os países concorrentes dos EUA, como a União Europeia, a China, a Rússia, o Brasil e a Índia, não exatamente nesta ordem de importância comercial e estratégica.

Primeiro, tentou a tática de escalar, aumentando as tarifas dos produtos da China em 150 por cento. Pressionado pelos empresários americanos, que iriam perder muito dinheiro e com risco de falência, Trump recuou e ficou no zero a zero com Xi Jinping, o líder chinês.

EFEITO DÓLAR – Trump escalou contra o Brasil, por causa dos BRICS. O mafioso americano não gostou da última reunião no Rio de Janeiro, quando lançaram a ideia da moeda própris para as transações do grupo, fora das amarras do dolar. Foi a gota de água transbordada do copo. Realmente, Lula não foi pragmático nem cauteloso ao citar a possibilidade de uma moeda nas transações comerciais somente entre os membros do BRICS. Ponto.

Outra coisa errada é o Brasil acreditar no apoio incondicional da China e da Rússia. Talvez, isso sirva de lição para Lula. O Embaixador russo, que representou Putin no Rio de Janeiro, se apressou em dizer que foi ideia de Lula a moeda entre os países do BRICs.

Essa discussão da moeda universal, remonta ao passado, quando o Lord John Maynard Keynes propôs o padrão ouro, mas voltou atrás pela pressão americana para manter o dólar como moeda universal nas transações comerciais. Ninguém mais ousou tocar nesse assunto, até Muamar Kadafi, presidente da Líbia e Saddam Hussein, presidente do Iraque, tocarem nesse assunto, propondo a moeda russa nas transações da venda de petróleo de seus países.

GUERRAS E EXECUÇÕES – Resultado: os dois países foram invadidos e seus liwderes assassinados. Kadafi esquartejado a caminho do Sudão, fugindo do bombardeio que destruiu o palácio onde vivia em Tripoli, a capital. Saddam foi encontrado em um buraco, retirado de lá, em estado de mendicância e quase moribundo e depois enforcado em praça pública.

Lembrando a guerra fria e o secretário de Estado John Foster Dullers, países não têm amigos, apenas interesses. Nada mais do que isso. Assim, é preciso cautela na política internacional. Negociar ao invés de escalar.

Com Trump, não adianta partir para o confronto e a China sabe muito bem disso. Usou a reciprocidade na questão tarifária, mas, depois negociou com Trump, porque os dois países sairiam perdendo, se as tarifas recíprocas passassem a valer.

SEM SOFRIMENTO – Tem uma coisa, que até Trump sabe: Suas ações não podem causar sofrimento ao povo, como inflação, juros altos e desemprego.

As ações de Eduardo Bolsonaro, junto a Trump e deputados republicanos, para prejudicar o Brasil, resultaram nas sanções atuais sobre a Economia brasileira. Tudo para salvar o pai, no processo do Golpe de Estado.

O Brasil vai sangrar, com as tarifas de 50 por cento. O povo vai pagar por causa dessa ação impatriótica do clã Bolsonaro. O desemprego e a inflação atingem preferencialmente os pobres e a classe média.

Mais Vexame! Eduardo Bolsonaro diz que Moraes bloqueou suas contas bancárias

Eduardo Bolsonaro em entrevista ao podcast Inteligência Ltda.

Eduardo deu entrevista para relatar suas dificuldades

Ivan Martínez-Vargas e Rafaela Gama
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou o bloqueio das contas bancárias do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), segundo relato do parlamentar. A decisão está sob sigilo, de acordo com fontes ouvidas pelo GLOBO, e tem o objetivo de dificultar que o parlamentar continue com ações que atentariam contra a soberania brasileira nos Estados Unidos.

— Ele acabou de bloquear as minhas contas bancárias— afirmou o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista ao podcast Inteligência Ltda, na noite desta segunda-feira.

EM NOME DA DEMOCRACIA – Na ocasião, ele estava ao lado do jornalista Paulo Figueiredo, que é réu junto ao ex-presidente no processo da trama golpista. Eduardo confirmou o teor da decisão emitida por Moraes e a ironizou ao dizer que o bloqueio foi “em nome da democracia”.

A decisão, antecipada pelo site Metrópoles, ocorre no âmbito das investigações da Polícia Federal sobre as ações do deputado e de seu pai para obter o apoio do presidente americano Donald Trump à tese de que o bolsonarismo seria perseguido pela Justiça brasileira.

Trump usou a justificativa política da suposta perseguição a Jair Bolsonaro para defender o tarifaço de 50% sobre exportações brasileiras aos Estados Unidos.

CULPA DE MORAES – Durante a entrevista, o parlamentar também disse que, “se nada for feito”, não devem ocorrer eleições no Brasil, e atribuiu a responsabilidade do anúncio das novas taxas ao ministro do STF.

— Na verdade, se nada for feito, a gente não vai ter uma eleição no ano que vem, vai ter um teatro das tesouras. O PL, meu partido, é recordista de ações dentro do STF, a maioria delas por falar. O Gustavo Gayer tem problema, Nikolas sofre condenação, e eu também estou lá dentro — disse ao complementar a fala de Paulo Figueiredo, que defendeu a imposição como “um remédio amargo para restaurar a democracia brasileira”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Moraes está ultrapassando todos os limites fixados pelas leis. Eduardo Bolsonaro é deputado federal e não há motivos para prendê-lo. Eduardo está protegido por seu mandato. No entanto, Moraes não quer nem saber e sai atropelando o parlamentar. O país está esculhambado e encagaçado, como dizem no Nordeste. (C.N.)

Estadão ataca a imprudência de Lula e pede que Brasil saia do grupo Brics

Análise: Lula assiste a China engordar Brics com ditaduras - 24/08/2023 -  Mundo - Folha

Estadão aponta a irresponsabilidade de Lula no Brics

Deu no Estadão

Muito ainda pode ser dito sobre a irresponsabilidade de Jair Bolsonaro, que, para se livrar da cadeia e continuar com seu projeto golpista, fez lobby nos EUA para que o presidente Donald Trump viesse em seu socorro, ao custo de inestimável prejuízo para a economia brasileira, ameaçada por um tarifaço americano.

Só por isso, o nome de Bolsonaro já está gravado no panteão dos maiores traidores da pátria que este país já viu.

CONTRA O BRICS – Contudo, à medida que novas punições são anunciadas pelo governo americano contra o Brasil, torna-se óbvio que o objetivo de Trump vai muito além de ajudar Bolsonaro – de resto um sujeito absolutamente insignificante para os projetos de poder do presidente americano.

Está ficando cada vez mais evidente que o crescente ataque de Trump ao Brasil é, na verdade, parte de uma ofensiva contra o Brics – bloco que, a despeito das fantasias lulopetistas sobre alternativas de desenvolvimento, se presta exclusivamente a projetar o poder da China em contraste com os EUA e o Ocidente, tendo como subproduto o respaldo ao imperialismo da Rússia de Vladimir Putin.

Isso ficou claro quando Mark Rutte, secretário-geral da Otan, a aliança militar ocidental ainda liderada pelos EUA, avisou que os países do Brics podem sofrer sanções por parte do governo americano caso continuem a fazer negócios com a Rússia.

TRÉGUA NA UCRÂNIA – A intenção de Washington é obrigar os parceiros russos no Brics a pressionar Moscou a aceitar uma trégua na sua guerra contra a Ucrânia, como deseja Trump.

Como se sabe, Trump ameaça castigar a Rússia com tarifas de 100% caso Putin não interrompa seus ataques à Ucrânia. A medida incluiria sanções secundárias contra países que fazem negócios com a Rússia. A ideia aqui é sufocar economicamente a Rússia, que conseguiu contornar as sanções aplicadas por EUA e Europa graças à manutenção do comércio com os parceiros do Brics.

Ademais, a ofensiva contra o Brics insere-se no objetivo maior de Trump que é minar o poder da China. Para isso, escolheu o Brasil como saco de pancadas – um alvo fácil, dada a sua limitada capacidade de reagir e de arregimentar influência contra os EUA. Tudo isso só evidencia a imprudência do presidente Lula da Silva de alinhar o Brasil à China e à Rússia a pretexto de fortalecer o Brics contra os EUA de Trump.

ABANDONAR O BLOCO – A única forma de poupar o Brasil dos efeitos deletérios dessa decisão seria abandonar esse bloco, que se presta unicamente aos projetos chineses e russos, sem qualquer ganho concreto e de longo prazo para o País.

Com isso, o Brasil retornaria ao terreno seguro do não alinhamento, onde ficam os países com vocação para se relacionar com o mundo inteiro, independentemente de orientação ideológica.

Essa sempre foi a tradição brasileira, um patrimônio que seria especialmente relevante no momento em que o mundo se reorganiza não mais em relações multilaterais, e sim em blocos de poder.

ANTIAMERICANISMO – Não é prudente, portanto, que o Brasil escolha um desses blocos, dado que o País não tem nem capacidade militar nem poderio econômico para ser protagonista no novo arranjo global. Mas Lula nunca foi prudente.

Sempre que pode, movido por suas fantasias megalomaníacas e por suas convicções terceiro-mundistas, Lula põe o Brasil em situações potencialmente danosas – sobretudo quando apoia autocracias só porque estas se dispõem a desafiar os EUA.

Em seu discurso na mais recente cúpula do Brics, Lula reforçou seu antiamericanismo e sua vassalagem à China ao tornar a defender o fim do uso do dólar como moeda comercial global – como se a adoção da moeda americana para esse fim fosse fruto da vontade de alguém, e não resultado de condições geopolíticas e de mercado.

ASSINATURA VERGONHOSA – Ademais, deveria causar vergonha a assinatura do Brasil no comunicado final da cúpula, que reservou nada menos que oito parágrafos aos atuais conflitos no Oriente Médio e míseros dois à guerra na Ucrânia – um dos quais, pasme o leitor, dedicado a criticar a Ucrânia por “deliberadamente” atacar áreas e infraestrutura civis na Rússia, sem qualquer menção à brutal e sistemática agressão russa aos ucranianos, inclusive com bombardeios contra civis.

Assim, russos e chineses devem ter saído muito satisfeitos desse rega-bofe antiamericano. Já o Brasil, como se vê agora, ficou com a conta.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Estadão havia sido o primeiro grande jornal brasileiro a desancar o Supremo, num extraordinário editorial, que foi logo seguido pela Folha e, mais timidamente, por O Globo. Agora, o mais antigo jornal brasileiro cai de novo na realidade e ataca a subserviência de Lula aos Brics. Realmente, para os interesses do Brasil, só existe uma posição, o não-alinhamento, maior característica da política externa brasileira, que o PT de Lula da Silva desgraçadamente abandonou. (C.N.)

Moraes proíbe transmissão e retransmissão de entrevistas de Bolsonaro em rede social

Relembre quem nomeou Alexandre de Moraes para o STF e como foi escolha de ministro - PontoPoder - Diário do Nordeste

Ao isolar Bolsonaro, Moraes está tentando atingir Trump

Eduardo Simões
Reuters

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu, em decisão publicada nesta segunda-feira, a transmissão e retransmissão de entrevistas dadas pelo ex-presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais.

“A medida cautelar de proibição de utilização de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros, imposta a Jair Messias Bolsonaro inclui, obviamente, as transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiros, não podendo o investigado se valer desses meios para burlar a medida, sob pena de imediata revogação e decretação da prisão”, escreveu Moraes em sua decisão.

DEFESA PROTESTA – A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro afirma ter sido surpreendida com o cumprimento de mandados de busca e apreensão e a aplicação do que classificou como “severas medidas cautelares”, como monitoramento por tornozeleira eletrônica, a proibição de comunicar-se com outros investigados e a proibição de entrevistas.

“As graves medidas cautelares foram impostas em função de atos praticados por terceiros, circunstância inédita no direito brasileiro. As frases destacadas como atentatórias à soberania nacional jamais foram ditas por Bolsonaro. E não parece ser justo ou mesmo razoável que o envio de dinheiro para seu filho, nora e netos possa constituir motivo para impor medidas cautelares como estas, especialmente porque feito muito antes dos fatos ora sob investigação”, afirmaram os advogados de Bolsonaro.

SEM RISCO – Segundo os juristas, chamou atenção o fato de que, apesar de determinar o recolhimento noturno e o uso de tornozeleira, a decisão do Supremo Tribunal Federal não utiliza como fundamento qualquer indício de risco de fuga.

“Também causa espécie que, dentre as medidas cautelares, se inclua a proibição de conversar ou ter qualquer contato com seu próprio filho, um direito tão natural quanto sagrado. O Presidente sempre compareceu a todos os atos das investigações e da ação penal a que responde na 1ª Turma do STF, sem causar qualquer embaraço ou atraso, não se justificando as restrições impostas à sua liberdade de ir e vir”, afirmaram os advogados.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Todas as decisões que partem do ministro Alexandre de Moraes são exageradas e injustas. Mas quem se interessa? Os sete ministros do Supremo que entraram na mira de Trump só agora começaram a ficar preocupados. Afinal, como suportar a proibição de viajar para a Disneylândia? (C.N.)

Justiça manda retirar post chamando Michelle de “ex-garota de programa”

CdB | Pesquisa mostra Michelle à frente de Marçal, na corrida ao

Família de Michelle era pobre e morava numa favela

Raquel Lopes
Folha

O TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios) determinou a remoção de publicações do Instagram contra a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, chamando-a de ex-garota de programa e associando sua família a pessoas que teriam antecedentes criminais.

A decisão foi proferida pelo desembargador Álvaro Ciarlini, da 2ª Turma Cível, em ação movida contra Teonia Mikaelly Pereira de Sousa e Francisco de Paiva Vasconcelos. Neste domingo (20), as postagens já haviam sido retiradas do ar.

CONFLITO DE DIREITOS – Inicialmente, o pedido foi negado pelo Juízo da 1ª Vara Cível da Circunscrição Judiciária de Brasília. Ao reavaliar o caso, o desembargador Ciarlini ponderou o conflito entre dois direitos à liberdade de expressão e a proteção à honra e à imagem, ambos garantidos pela Constituição.

O TJDFT entendeu que as publicações tinham o claro propósito de atacar e violar a esfera jurídica de Michelle, apresentando ainda um conteúdo marcado por misoginia e sexismo.

A decisão publicada no dia 11 de julho foi tomada após o advogado Marcelo Bessa, que faz a defesa de Michelle, solicitar urgência para a remoção imediata de duas postagens publicadas no Instagram, sob a alegação de que continham conteúdo difamatório.

ABUSO DE DIREITO – Na petição, a defesa sustentou que as publicações extrapolavam os limites da liberdade de expressão, configurando abuso de direito por meio de afirmações falsas e ofensivas à honra da ex-primeira-dama.

A petição ressaltou que os vídeos alcançaram mais de 1,9 milhão de visualizações em menos de um mês, o que, segundo a defesa, contribuiu para perpetuar e intensificar os danos à sua honra e imagem.

Em caso de descumprimento da decisão, foi fixada multa diária de R$ 5 mil, limitada ao teto de R$ 300 mil, sem prejuízo da aplicação de outras sanções penais cabíveis por ato de desobediência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É assim que funciona. Você se sente atingido, entra na justiça, manda suspender a postagem e pede indenização. Aliás, faltou a repórter informar se houve pedido de ressarcimento da perda de danos morais. No entanto, o ministro Moraes insiste em desconhecer essa lei e sai multando, bloqueando bens e suspendendo também a rede social, causando essa confusão toda com Elon Musk e Donald Trump, mas botando a culpa em Bolsonaro. (C.N.)

Lula acha que pode deixar de negociar com Trump, mas não conseguirá

Donald Trump

Nenhum país deixou de negociar tarifas com Trump

Carlos Alberto Sardenberg
O Globo

O presidente Donald Trump já manifestou seu desconforto com o Brics e, sobretudo, com a proposta do grupo de usar moedas locais — e não o dólar — em suas transações comerciais. Quando o Brics estava reunido no Rio de Janeiro, ameaçou aplicar tarifas de 10% sobre os países que de algum modo desafiassem a posição do “poderoso dólar”.

Na última quarta-feira, a ameaça se concretizou, mas só contra o Brasil. Ele impôs uma tarifa absurda de 50% sobre todas as exportações brasileiras aos Estados Unidos, aplicada a partir de 1º de agosto.

APENAS AO BRASIL – Por que a sanção não foi imposta, pelo menos não ainda, a outros integrantes do Brics, como China e Índia, as duas maiores economias do grupo?

A primeira resposta é o fator Bolsonaro, como Trump deixou explícito na carta ao presidente Lula, publicada em rede social. Isso tornou a ação econômica — a tarifa — ainda mais absurda e autoritária. Para apoiar um aliado político processado pela Justiça brasileira, Trump impõe uma punição unilateral ao Brasil, passando por cima de todas as normas do comércio internacional.

Mas, procurando informações nos bastidores do governo Trump e do movimento Make America Great Again, jornalistas do New York Times e do site Politico encontraram algumas histórias interessantes. A primeira: bolsonaristas e trumpistas pediam menos.

ATINGIR MORAES – Os bolsonaristas queriam algum tipo de sanção que atingisse o ministro Alexandre de Moraes e o Supremo Tribunal Federal. Seria uma reação tanto ao julgamento de Bolsonaro quanto à decisão do STF impondo limitações às big techs, americanas.

O tarifaço, dizem os relatos, foi ideia exclusiva de Trump, por entender que outras sanções não teriam efeito político pretendido. Qual efeito? Livrar Bolsonaro da cadeia.

E por que a medida foi aplicada neste momento, se já faz tempo que os bolsonaristas e seus aliados americanos pedem as sanções? Sempre segundo as reportagens do Times e do Politico, publicadas ontem, Trump mirou o alvo Lula. Por causa de declarações mais duras do presidente brasileiro, nos encontros do Brics, contra Trump e o império do dólar.

CRÍTICAS DIPLOMÁTICAS – Aqui, convém notar que a China não deixa de criticar as tarifas de Trump, mas crÍtica de maneira diplomática, mais contida, tendo como porta-vozes funcionários do segundo escalão. No primeiro escalão, o presidente Xi Jinping já falou pelo telefone com Trump, quando acertaram os procedimentos para negociações, feitas em nível ministerial.

Do mesmo modo, o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, modera suas declarações (ficou mudo aqui no Brasil) e foi a Washington para abrir negociações diretas com Trump. Claro, eles não têm lá o fator Bolsonaro. Mas é bem explícita a diferença no comportamento entre os líderes das três maiores economias do Brics.

A China vai além. Se Lula fala há muito tempo sobre comércio no Sul Global com moedas locais, os chineses fazem na prática. Já montaram um sistema de transações comerciais e financeiras em sua moeda, o yuan, e com moedas de mais de cem países, especialmente da Ásia. Aqui, não se usam as moedas locais nem no Mercosul.

JÁ FUNCIONANDO – O Banco do Povo da China (o banco central deles) criou, em 2014, uma instituição que hoje se chama Companhia de Pagamentos Interbancários Internacionais. Presente mundo afora, com vários bancos associados, chineses e outros, encarrega-se das operações financeiras que apoiam as trocas comerciais entre a China e seus parceiros.

Mas o governo chinês não sai por aí esculhambando o dólar americano. É que a China tem as maiores reservas do mundo, US$ 3,2 trilhões, boa parte em dólares mesmo e títulos do Tesouro americano. Não interessa o colapso desses ativos. O Brasil tem reservas de US$ 342 bilhões.

Trump é um líder autoritário dentro e fora de seu país. Ofendeu as instituições brasileiras, o que mereceu resposta firme. Mas, neste mundo de hoje, como mostram tantos países importantes, incluindo China e Índia, ninguém pode escapar de negociações comerciais com Washington. Nem mesmo Lula.

Punições a Bolsonaro são monumento ao desprezo da lei e à perversão das tiranias

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Charge do Seri (Arquivo Instagram)

J.R. Guzzo
Estadão

O regime Lula-STF dá a impressão, a cada dia que passa, de gostar mais e mais do seu último brinquedo: se fazer de inimigo-chefe dos Estados Unidos e de Donald Trump. É uma briga à distância e, portanto, segura.

Sai de graça para os gatos gordos de Brasília: quem vai pagar até o último centavo da conta, que tem tudo para sair pelos olhos da cara, é o povo brasileiro, e não eles. Em suma: você finge que é valente e não corre risco nenhum.

RECIPROCIDADE – A última salva de artilharia leve disparada pelo governo (o Brasil não tem artilharia pesada) não acertou ninguém em Washington, mas pegou em cheio o pomo da discórdia – ou pelo menos da discórdia na sua fase atual.

Jair Bolsonaro, condenado antes da sentença por “tentativa de golpe” e transformado por Trump numa causa mundial dos Estados Unidos, foi ferrado por Alexandre Moraes com uma tornozeleira, expulso da internet e proibido de falar com o próprio filho.

Tome essa Trump, e mais essa – e fique sabendo, de uma vez por todas, que a cada pressão sua para ajudar Bolsonaro, o Brasil vai bater direto de volta. É de potência a potência. Tarifa de 50% nas exportações brasileiras? Pois então o Brasil vai socar tarifa nas importações que faz de lá. Temos 1% do comércio mundial dos americanos, e eles provavelmente nem vão perceber que foram taxados – mas reciprocidade é isso.

DESIGUALDADE DE CONDIÇÕES – É uma dessas brigas em que, se os contendores chegarem às vias de fato, o Brasil deve passar metade do tempo por baixo; na outra metade os Estados Unidos vão estar por cima.

Do GPS aos equipamentos de tomografia, da Apple à Microsoft, das peças de avião às tecnologias do agro, o Brasil precisa importar pesado dos americanos; vai ter aumento de custo direto na veia. Nos Estados Unidos a guerra não fará subir nem o preço do cafezinho.

Não há nenhum aspecto nessa disputa, nem um que seja, capaz de dar ao cidadão brasileiro um único e miserável benefício concreto. Se estava à procura do melhor jogo de perde-perde disponível hoje na praça, o governo Lula encontrou – uma guerra comercial com a maior potência do mundo e o seu PIB de US$ 30 trilhões.

HEROIS DO PLANALTO – Mas o presidente e a sua propaganda nunca pareceram tão felizes. Acabaram-se, em suas cabeças, todos os problemas. Estamos brigando com Trump; somos heróis.

As punições a Bolsonaro, que no Brasil de hoje tem menos direitos que um tamanduá-bandeira, são um monumento ao desprezo da lei, à mesquinharia e à perversidade das ditaduras. Vem junto com a anulação do Congresso – a vontade de 383 deputados na derrubada do IOF foi extinta por 1 voto.

A censura das redes sociais acaba de ser imposta pelo regime. O governo é uma ruína. Mas sempre teremos Trump.

Pombas poéticas de Raymundo Corrêa sempre voltam, mas a juventude, não

Se se pudesse o espírito que chora Ver através da máscara da face, Quanta gente, talvez, que inveja agora Nos causa, então piedade nos causasse.... Frase de Raimundo Correia.Paulo Peres
Poemas & Canções

O magistrado, professor, diplomata e poeta maranhense Raymundo da Motta de Azevedo Corrêa Sobrinho (1859-1911) no soneto “As Pombas” cria uma relação entre a rapidez da adolescência e o tempo.

Logo, trata-se de um soneto pessimista, já que aparece a angústia do autor perante a passagem rápida do tempo, tendo em vista os tempos bons da adolescência. O coração no caso representa as coisas boas, as paixões, os desejos e os sonhos que, entretanto, ficaram para trás. A movimentação é constante, percebe-se que as pombas vão e vêm, mas a juventude se vai para sempre.

AS POMBAS
Raimundo Corrêa

Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada…

E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada…

Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;

No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais…

Romeu Kiihl, “pai da soja”, ajudou o Brasil a se tornar o maior produtor

O engenheiro agronômo Romeu Afonso de Souza Kiihl desenvolveu mais de 150 variedades de sementes adaptadas às diferentes condições de produção do Brasil

Romeu Kiihl desenvolveu 150 variedades de sementes

Márcia de Chiara
Estadão

O engenheiro agrônomo Romeu Afonso de Souza Kiihl, considerado o “pai da soja tropical”, foi trabalhar com soja por acaso. Natural de Caconde, município localizado no noroeste do Estado de São Paulo e maior produtor paulista de café, ele queria se dedicar à pesquisa sobre esse grão, a sua paixão de infância. Mas, pelas circunstâncias, foi parar na soja, inexpressiva no País nos anos 1960.

Formado pela USP, com mestrado e doutorado em melhoramento genético pela Mississippi State University, dos EUA, Kiihl, hoje com 83 anos, desenvolveu durante 60 anos de profissão mais de 150 variedades de sementes de soja adaptadas a várias regiões do País, que transformaram o País no maior produtor e exportador de soja do mundo.

PRINCIPAL PRODUTO – Na safra 2024/2025, a produção brasileira bateu o recorde de 168,3 milhões de toneladas. Isoladamente, a soja é hoje o principal produto de exportação do agronegócio brasileiro em volume e receita e um dos pilares do saldo da balança comercial do País.

Apesar de ter conseguido, por meio da pesquisa científica sobre melhoramento genético, espalhar a produção de soja pelo País, Kiihl, é modesto.

Para ele, o pulo do gato para sucesso da soja no Brasil central foi a combinação de três fatores: a genética do grão, a correção do solo e o agricultor brasileiro.

Por que o sr. decidiu ser agrônomo?
Fui fazer agronomia porque eu fiquei muito interessado em ser pesquisador na área de tecnologia de alimentos, e engenharia de alimentos fazia parte da agronomia. Em 1960, li uma notícia no jornal que o recém-criado Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital) havia contratado alguns agrônomos recém-formados e os estava enviando para os Estados Unidos para fazer pós-graduação. Aquilo me deixou extremamente entusiasmado, e falei: ‘É isso que eu vou querer fazer’. Além do mais, em Caconde, cidade onde nasci, nós tínhamos uma bolsa de estudos para quem terminasse o colegial em primeiro lugar e quisesse fazer agronomia ou medicina veterinária. Fui fazer agronomia com essa intenção de me especializar em tecnologia de alimentos. No segundo ano da escola, quando cursei a disciplina de genética, descobri o que eu realmente gostava. Decidi que iria ser melhorista de plantas.

Com qual planta o sr. queria trabalhar?
Decidi pelo café, a planta da minha cidade. Quando eu era criança, nas férias na fazenda do meu tio, eu gostava muito de café. Mas, no quinto ano da faculdade, optei pelas plantas anuais, não plantas perenes, como o café. Trabalhando com as anuais, achava que as coisas seriam muito demoradas. Escolhi arroz. Eu nem conhecia a soja.

E como o sr. foi parar na soja?
Quando eu me formei, tive muitas propostas de trabalho. Uma delas foi para trabalhar com soja, na seção leguminosas do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Queria trabalhar com arroz. Mas, como um jovem meio, assim, eu diria meio convencido, queria ser convidado. E, como eu não recebia esse convite, terminei aceitando trabalhar com soja.

Foi por acaso que o sr. foi trabalhar com a soja?
Sim. Um colega, uma vez, encontrou-se comigo e falou: ‘Poxa vida, você foi tão bom aluno, e a gente imaginava que fosse ter um futuro brilhante em pesquisa’. Isso porque eu iria trabalhar com soja, uma cultura sem expressão alguma. Naquele ano, 1965, o Estado de São Paulo inteiro plantava 20 mil hectares de soja, e o Brasil produzia 490 mil toneladas. Mas a soja logo me entusiasmou porque é uma leguminosa que fixa o nitrogênio no solo por meio de uma simbiose com uma bactéria. Não é preciso usar adubo nitrogenado no cultivo, é uma coisa maravilhosa.

E como o sr. foi fazer pós-graduação nos EUA?
Eu aguardava nomeação no IAC. Fazia dois anos que o então governador de São Paulo, Adhemar de Barros (governou São Paulo entre 1947–1951 e 1963 –1966), não liberava os recursos. Aceitei uma bolsa de estudos no Instituto de Relações Internacionais (IRI) da USP, que tinha uma parceria com a Fundação Rockefeller. Por meio de um convênio com a seção de leguminosas, a fundação norte-americana mantinha um centro de pesquisas espetacular em Mattoon, no Estado de Wisconsin (EUA), que fazia pesquisas no Cerrado. Mas conheci o doutor Edgard Emerson Hartwig, que era o melhorista de soja da Universidade do Mississippi (EUA). Ele estava de passagem pelo Brasil, acompanhado pelo doutor Francisco de Jesus Vernetti, que foi fundamental na minha vida. Vernetti me aconselhou a ir para o Mississippi trabalhar com Hartwig, que estava desenvolvendo o tipo de soja de que o Brasil precisava, a adaptada ao Sul do País. É para lá que você tem de ir, disse ele.

O sr. saiu do Brasil já focado a estudar melhoramento genético de soja?
Saí do Brasil pra fazer o mestrado em melhoramento de soja. Hartwig me preparou para entender a importância da latitude na adaptação da soja. Estudei alguns cruzamentos nas condições de Stoneville (EUA), a 33 graus de latitude. Simulamos as condições de Campinas, onde eu ia trabalhar, que era 23 graus de latitude. Então, era um trabalho de chinês. Todo dia ia a campo: de tardezinha cobria as plantas, nove horas da noite ia lá e descobria, mas aprendi muito. Voltei para o Brasil, trabalhei por oito anos no IAC e depois fui para o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar). Voltei para os Estados Unidos para fazer PhD (o mais alto grau acadêmico).

Quando retornou?
Voltei para o Brasil em 1977. Tínhamos montado um programa de pesquisa de melhoramento de soja no Iapar, muito bonito, muito bem organizado. O programa de soja do Iapar foi absorvido pela Embrapa, onde fiquei por 25 anos. Embrapa é o sonho do sonho. O Centro Nacional de Pesquisa de Soja hoje deve ter ao redor de 70 pesquisadores, todos com PhD nas melhores universidades do mundo. Não existe lugar nenhum no mundo um grupo tão grande, tão bem treinado como nós temos aqui no Brasil. Na Embrapa fizemos variedades de soja adaptadas para o Brasil inteiro. Quando a soja entra numa região, leva muita coisa além dela: tecnologia, progresso e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)

Na sua avaliação, qual foi o pulo do gato que houve na soja para se ter variedades que possam ser cultivadas praticamente no País todo?
O sucesso da soja no Brasil central é a combinação de três coisas. A genética, que fez a soja com o período juvenil longo; os solos, que foram corrigidos através de calagem e fertilização; e o agricultor brasileiro. Eu sou admirador do agricultor brasileiro porque a coragem que esse pessoal tem, eu acho incrível.

Como assim?
O pessoal que saiu do Rio Grande do Sul e foi para um lugar que não tinha condição alguma, que ficou morando sob lonas amarradas no caminhão. Bem no começo da minha vida, passei por um lugar chamado Chapadão dos Gaúchos. Era um posto de gasolina. Hoje é a cidade Chapadão do Sul, no norte de Mato Grosso do Sul. É uma cidade enorme, com grande progresso. Quando a soja entra numa região, leva muita coisa além dela: tecnologia, progresso e IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) para a região. Pode pegar as cidades do Brasil central, vai para Sinop (MT), vai para Lucas do Rio Verde (MT), Primavera do Leste (MT), Chapadão do Sul. É uma maravilha. Sou um admirador desse pessoal.

Quando começou a vida como pesquisador de soja, o sr. acreditava que o Brasil teria esse desempenho na produção do grão? Acreditava que o País seria o celeiro do mundo?
É engraçado, acho que era uma coisa de sonho, sim. Bem no começo da minha vida, achava que, como nós não tínhamos nem fósforo nem potássio, deveríamos comprar o máximo que houvesse desses elementos e fazer montanhas e montanhas de adubos, guardados no Cerrado para poder recuperar o solo. Sempre quis recuperar o Cerrado.

E a questão de ser o celeiro do mundo?
Acontece o seguinte na produção de grãos. Os Estados Unidos praticamente já utilizaram o que tinham de utilizar da área. Para plantar mais soja, têm de plantar menos milho. E milho é muito importante para eles. Então, quem vai produzir soja para o mundo é Brasil, Argentina, Paraguai, um pouco do Uruguai. Tem gente que fala que a China pode crescer muito, mas eu não acredito. Se eu fosse um chinês e tivesse uma área para produzir, plantaria arroz, trigo ou milho. A produtividade dessas lavouras é muito maior por hectare comparada à produtividade da soja. Onde você produz cinco toneladas de soja por hectare, você produz 12,5 toneladas de milho. E é muito mais barato transportar, por navio, uma tonelada de soja do que uma de milho. Então, todos os outros países que puderem produzir soja e milho, darão preferência para milho. A soja pode estar em rotação, mas não vai ser a grande cultura. O Brasil, ao contrário, consegue produzir soja e milho no mesmo ano. Isso é um negócio que ninguém tem. É só a América do Sul. Imagino que parte da África poderia fazer isso, mas as dificuldades da África seriam muito grandes.

Atualmente é possível plantar soja em todas as regiões Brasil, praticamente. Qual é o próximo desafio para soja na sua opinião?
Eu não diria desafio, mas diria oportunidade. Hoje a edição de genes é uma ferramenta muito poderosa que vai permitir que gente faça muitas modificações. Então, por exemplo, o óleo de soja pode ser modificado para ficar um óleo tão bom quanto o óleo de canola, por exemplo, ou tão bom quanto o óleo de oliva. Hoje é mais fácil manipular esses genes por meio da edição do que seria por meio de um melhoramento tradicional. Não digo que não se possa fazer por melhoramento tradicional, mas a edição facilita, acelera. Acho que vamos ter muito avanço.

Como é que o senhor vê a evolução da agricultura e a preservação do meio ambiente? É compatível ter uma agricultura de larga escala com preservação do meio ambiente?
Totalmente compatível. O agricultor não quer destruir o meio ambiente, não. O agricultor quer preservar. Precisamos usar a expressão agricultura regenerativa. A ideia é você entregar para a próxima geração algo melhor do que você recebeu. O sistema de plantio direto, mantendo a cobertura vegetal do solo o tempo todo, é uma coisa maravilhosa. E, além do mais, nós temos vários casos caminhando para a integração da lavoura com a pecuária, da lavoura, com a pecuária e a floresta. O Brasil é modelo para o mundo. O pessoal fala mal da gente, mais por questões comerciais, na minha opinião. No caso da soja, você consegue produzir o grão sem precisar de nenhum nitrogênio vindo do petróleo. O Brasil resolve e é eficiente para produzir. Então, ecologicamente, a soja é uma cultura que está a favor do meio ambiente.

Qual é a nova fronteira agrícola da soja?
A grande expansão mesmo é Matopiba (região formada pelos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Além da expansão para área de renovação de pastagem. Se você recuperar a pastagem com soja, a produção de soja paga a recuperação da pastagem e a pastagem dura mais do que duraria se não tivesse soja no sistema. A soja é vantajosa na recuperação de pastagens.

A expansão da soja para a África pode ser uma ameaça para o Brasil?
Não, só se levar o produtor brasileiro para lá. O agricultor brasileiro é o exemplo do empreendedorismo corajoso. Nós demos sorte. Os imigrantes, principalmente alemães e italianos, que vieram para cá, eram de origem agrícola. E as propriedades se tornaram muito pequenas, porque as famílias eram grandes. Então, a única solução que tinham era sair do Rio Grande do Sul e procurar áreas maiores. O pessoal cresceu bem para o oeste do Paraná, depois foi para Mato Grosso do Sul e foi subindo. Hoje a soja está no Brasil todo.

Qual seria o conselho que o sr. daria para os novos agrônomos que estão chegando à profissão?
Estudar o máximo possível. Hoje as escolas oferecem muitas opções de estudo. Acompanho muito o pessoal de Mato Grosso e fico impressionado com o bom nível da nova geração que está chegando ao mercado, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos. Nos Estados Unidos, os agricultores estão envelhecendo. E a nova geração não está querendo estudar agronomia. Acompanho bastante os trabalhos científicos. Uma parte dos trabalhos tem um ou dois americanos e meia dúzia de chineses. Uma parte da universidade está infestada de chineses que foram para lá e se tornaram professores.

Por que eles estão ocupando esses cargos?
Porque não tem americano. E aqui no Brasil tem muito brasileiro fazendo bom trabalho. Alguns, espetaculares.

A escalada antidemocrática nas relações Brasil-EUA é preocupante

Charge do Aroeira (brasil247.com)

Pedro do Coutto

O gesto do governo dos Estados Unidos de aplicar sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal brasileiro representa um dos episódios mais graves e inéditos na história das relações diplomáticas entre duas das maiores democracias do hemisfério ocidental. Ao denunciar com firmeza essa afronta, o presidente Lula da Silva faz não apenas a defesa da soberania nacional, mas também do princípio da separação dos poderes — um alicerce das democracias modernas e do pacto constitucional brasileiro.

Segundo informações confirmadas por veículos como a BBC Brasil e o The New York Times, a administração Trump tem atuado com viés ideológico explícito ao acolher e incentivar pressões vindas do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro, que busca minar instituições democráticas brasileiras por meio de articulações que ultrapassam todos os limites da razoabilidade diplomática.

ESTRATÉGIA – Não se trata apenas de uma ingerência externa, mas de uma tentativa deliberada de deslegitimar decisões de um tribunal supremo soberano, com o objetivo de alimentar tensões políticas internas no Brasil, forçando o país a responder não apenas com firmeza, mas com inteligência estratégica.

Ao sancionar magistrados que representam o mais alto tribunal do país, a Casa Branca rompe com a prática diplomática consagrada, colocando em xeque sua própria credibilidade internacional. Tais ações só são cabíveis — e mesmo assim sob forte debate jurídico e político — em contextos extremos, como em tempos de guerra ou em resposta a regimes de exceção que cometem violações sistemáticas dos direitos humanos.

O Brasil, por mais que enfrente turbulências políticas, permanece uma democracia funcional, com Judiciário ativo, eleições regulares e liberdades garantidas constitucionalmente. O gesto norte-americano, portanto, beira a ilegalidade e o arbítrio, e pode, inclusive, configurar abuso de poder de natureza extraterritorial.

DESCOMPROMISSO – No centro dessa crise está Eduardo Bolsonaro. Sua atuação, à margem do Itamaraty e em flagrante oposição ao governo legitimamente eleito, escancara o descompromisso de parte da extrema direita com os fundamentos republicanos. Trata-se de um comportamento que pode configurar “traição à pátria”, ainda mais grave por envolver conluios com potências estrangeiras em detrimento do interesse nacional.

Ao instrumentalizar seu sobrenome e a herança política do pai para pressionar uma potência estrangeira a intervir nas instituições brasileiras, Eduardo Bolsonaro ultrapassa os limites da liberdade parlamentar e entra no terreno pantanoso das ações antinacionais.

O pano de fundo disso tudo é ainda mais tenso. A política tarifária de Donald Trump contra o Brasil — o chamado “tarifaço” — impõe sérias restrições a setores estratégicos da economia brasileira, como o aço, o alumínio e os produtos agrícolas. Recuar agora, para Trump, significaria um sinal de fraqueza junto a sua base ultranacionalista.

RISCO – Avançar, por outro lado, representa um risco geopolítico de alta intensidade. É nesse contexto que Lula ganha pontos: ao se posicionar de forma firme, articulada e serena, reforça sua imagem de estadista diante de um cenário internacional polarizado e de um presidente norte-americano imprevisível.

Para além das disputas momentâneas, o que está em jogo é a soberania do Brasil e a integridade de suas instituições. Permitir que sanções arbitrárias vindas de Washington determinem os rumos da política interna brasileira seria um retrocesso histórico — e um grave precedente para o continente latino-americano, já marcado por ciclos de interferência e tutelagem estrangeira.

DESCONFORTO –  A comunidade internacional observa com atenção. Organismos como a Organização dos Estados Americanos (OEA) e o próprio Conselho de Direitos Humanos da ONU já demonstraram, em outras ocasiões, desconforto com atitudes semelhantes.

Cabe agora ao Brasil se unir em torno de suas instituições — independentemente de filiação partidária — para rejeitar qualquer tentativa de desestabilização promovida por interesses que não dialogam com os valores democráticos nem com o respeito ao direito internacional.

O futuro dessa crise dependerá não apenas da resposta do governo brasileiro, mas também da postura da sociedade civil, da mídia responsável e do Congresso Nacional. Afinal, não se trata apenas de política externa. Trata-se da preservação da nossa soberania, da integridade do sistema de Justiça e, sobretudo, da dignidade institucional do Brasil como nação.

Moraes poderia ter esperado um pouco, mas ele também não mede suas ações

Governo vê ato como 'ingerência' e avalia chamar embaixadora em protesto

Moraes e Trump não têm paciência e estão se atropelando

Merval Pereira
O Globo

Nós aqui quebrando a cabeça, tentando entender o que provocou a ira trumpista contra o Brasil, buscando um pouco de bom-senso nas decisões estapafúrdias tomadas, e tudo pode se resumir a uma questão pessoal.

O BRICS certamente irrita Trump, volta e meia ele bate nessa tecla, especialmente na questão da moeda que substituiria o dólar no comércio internacional. Mas Trump sabe também que o BRICS não é uma ameaça iminente, se é que será ameaça algum dia. Há as big techs, que não querem se responsabilizar pelo que transmitem. Essas são influentes no círculo trumpista e têm poder de fogo. Se equivocam, porém, se consideram que o Brasil não tem força política para regulamentá-las.

EM DÉFICIT – O comércio internacional não pode ser, pois ainda estamos em déficit com os Estados Unidos. Há quem ainda acredite que Bush filho só invadiu o Iraque para vingar o pai, que anos antes havia entrado em guerra com aquele país para defender o Kuwait de uma invasão. Pois Freud está novamente em campo, desta vez influenciando Trump a defender seu avatar brasileiro, como se defendesse a si próprio.

A confusão entre Bolsonaro, Trump e o Brasil piorou e está longe de terminar. É uma mistura de decisões políticas com pessoais, difíceis de negociar. Muitos fatores estão envolvidos, mas nada de concreto além da tentativa de criar um ambiente que propicie uma rendição do governo brasileiro.

Trump está cada vez mais apostando na liberação do ex-presidente Bolsonaro, e fez questão de demonstrar seu apreço ao mandar-lhe uma carta pessoal, enquanto não responde à carta institucional que o governo brasileiro enviou através do Itamaraty.

REAÇÃO DE MORAES – Está claro que as restrições do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes impostas a Bolsonaro vieram em resposta a esta tentativa de Trump de pressionar o STF, especialmente o próprio Moraes e demais ministros.

Acredito que Moraes poderia ter esperado um pouco, mas ele também não mede as reações. Tomar esta decisão em cima da carta de Trump para Bolsonaro deixa muito evidente que ele está participando desta disputa com o presidente americano. E se sentindo perseguido, dobra a aposta.

A tornozeleira era previsível, porque há muito tempo Bolsonaro deveria estar sendo acompanhado. Todas as razões alegadas para as medidas restritivas ao ex-presidente brasileiro existem há muito tempo.

PRISÃO PREVENTIVA – Poderia até mesmo ser decretada uma prisão preventiva. Que pode sair a qualquer momento, dependendo do que acharem no tal pendrive descoberto no banheiro da casa dos Bolsonaro. Ou do desenrolar do episódio, pois os bolsonaristas garantem que outras medidas virão, além da proibição de 8 ministros do STF de viajar para os Estados Unidos.

 Ainda teremos Paris, lembrou sarcasticamente um deles (Barroso?), repetindo a famosa frase de Humphrey Bogart no filme Casablanca.

Eduardo Bolsonaro e seus cupinchas estão em uma atuação internacional que prejudica o país. E não se pode deixar que Bolsonaro fuja de suas responsabilidades na tentativa de golpe, e se torne um exilado político vitimizado. Vejo o futuro imediato com muita preocupação.

BRIGAS PESSOAIS – O problema deixou de ser econômico; é muito mais pessoal, uma tentativa de interferência no sistema jurídico brasileiro que não tem o menor sentido. Seria importante começar a pensar em como dirigir nosso comércio para outros países, e fechar o acordo com a Europa. Freud pode explicar essa obsessão de Trump por Bolsonaro.

Por falha da Justiça americana, Trump escapou da cadeia por ter sido eleito presidente da República. Vê em Bolsonaro sua cópia prestes a ser preso pelo mesmo crime: tentativa de golpe para impedir que o vencedor das eleições assumisse a presidência da República.

Brasil ficou sozinho no mundo, nenhum país aceita apoiar Lula contra Trump

Jornal - #charge de Thiago Lucas (@thiagochargista), para o Jornal do Commercio. #lula #trump #eua #usa #mundo #tarifas #economia #brasil #chargejc #chargejornaldocommercio #chargethiagojc #chargethiagolucas #chargethiagolucasjc | Facebook

Charge de Thiago Lucas (|Jornal do Commercio)

Carlos Newton

É uma situação jamais vista. Embora já esteja com a data de validade vencida, como o mais idoso governante de país tido como democrático, que realiza eleições consideradas livres, o presidente Lula continua empenhado em se reeleger no próximo ano e quer aproveitar a disputa com Donald Trump para conseguir votos. Só pensa nisso, tudo o que faz é motivado por essa obsessão, que a própria mulher incentiva.

Nesta segunda-feira, em Santiago do Chile, Lula faz mais uma tentativa de buscar que algum país apoie o Brasil nessa iniciativa, mas nenhum governante lhe estende a mão.

RESPOSTA CONJUNTA – Lula sonha (?) em  usar essa pequena reunião no Chile para articular uma resposta conjunta de governos democráticos contra os avanços da extrema direita. O presidente chileno, Gabriel Boric, será o anfitrião na reunião, que ainda contará com o uruguaio Yamandú Orsi, o colombiano Gustavo Petro e o espanhol Pedro Sánchez, além de Lula.

Segundo o excelente repórter Jamil Chade, do UOL, a iniciativa não tocará no nome de Donald Trump.  Mas é claro que Lula dará um jeito de fazê-lo. Mas não haverá o resultado pretendido.

Nenhum país pretende apoiar o Brasil nesta trapalhada. Lula tenta convencê-los de que o motivo são as tarifas, mas todos sabem que a perseguição movida pelo Supremo à extrema direita brasileira acabou atingindo as big techs americanas, com ordens nada democráticas, multas e aplicação de censura prévia por ordens do STF. E Trump está apenas revidando.

MÍDIA APOIA LULA – Em busca das verbas publicitárias, a quase falida grande mídia apoia Lula incondicionalmente. Depois de publicar candentes editoriais apontando as falhas grotescas do Supremo, a grande imprensa mudou de lado, agora tudo é defesa da soberania, o nacionalismo não é mais o último refúgio do canalha, deixem em paz o grande pensador inglês Samuel Jonhson.

Lula posa de grande herói nacional, o único a enfrentar Trump, como se o presidente americano não tivesse o dever de lutar em defesa dos interesses dos Estados Unidos. Aliás, esse direito de Trump aumentar ou diminuir tarifas é reconhecido internacionalmente, nenhum país o contesta.

Entre os países da ONU que mantêm relações comerciais com os Estados Unidos e realmente têm alguma importância, apenas o Brasil não conseguiu renegociar as novas tarifas fixadas. China, Vietnã e Rússia se apressaram em negociar.

P.S.Em tradução simultânea, Lula está completamente perdido. Depois de uma semana inteira de euforia, em que usou o nacionalismo piegas para ganhar apoio a um governo que inexiste, Lula enfim percebe que caiu numa armadilha. Quanto aos ministros do Supremo, passaram um fim de semana de tristeza. Deixaram Moraes descumprir leis importantíssimas, de âmbito internacional, e agora têm de aturar a humilhação. (C.N.)

“Supremacia cristã” — um livro devassa o antissemitismo e o racismo contra negros

Supremacia cristã - 19/07/2025 - Hélio Schwartsman - Folha

Ilustração de Annette Schwartsman – Folha

Hélio Schwartsman
Folha

“Christian Supremacy”, de Magda Teter, é uma obra de fôlego que mostra as origens comuns do antissemitismo e do racismo contra negros. O pecado original é a religião. Os primeiros cristãos queriam ao mesmo tempo uma religião que fosse nova, podendo expandir-se sem embaraços, e que gozasse da respeitabilidade de uma tradição mais longa.

A solução foi inscrever o cristianismo no judaísmo. O novo credo já estaria previsto nas profecias de uma fé bem mais antiga e teria vindo para substituir a antiga aliança por uma nova (supersessionismo).

TEOLOGIA PRODUZIDA – Rapidamente, pensadores cristãos, de Paulo, um judeu, a Lutero, passando por santo Agostinho e muitos outros, se puseram a produzir uma teologia de acordo com essa ideia. O irmão mais velho, o judaísmo, deveria submeter-se ao mais novo, o cristianismo, a exemplo de Ismael e Isaac e de Esaú e Jacó.

Essa discriminação religiosa logo se estendeu para o campo das leis e da cultura e depois “vazaria” para a questão racial.

Quando veio o comércio transatlântico e se tornou necessário justificar a escravização de negros, o caminho já estava pronto. As escrituras ofereceriam pretextos teológicos, como a maldição de Cam, que criavam uma hierarquia racial bíblica, a qual, por sua vez, autorizava diferenças no tratamento jurídico entre brancos e negros. Daí brotou a cultura de inferiorização dos negros, que perdura até hoje.

MUITOS EXEMPLOS – Teter mostra esses movimentos todos com razoável nível de detalhe. Relata também os percalços de judeus e negros para conquistar a igualdade formal de direitos. O texto traz muitas histórias, desde as mais conhecidas, como o caso Dreyfus ou dessegregação racial das escolas nos EUA, até outras menos, como o antissemitismo de resorts, pelo qual hotéis de luxo se recusavam a hospedar clientelas indesejáveis.

Uma das expressões-código então utilizadas na publicidade era “exclusivo”, que lembra muito os anúncios de emprego brasileiros que estampavam entre os requisitos “boa aparência”, a senha para que negros não se candidatassem.

Admiro os escritores que resistiram a escrever o livro que tinham dentro de si

As análises do ensaísta João Pereira Coutinho - Panorama Mercantil

João Pereira Coutinho descreve suas reflexões

João Pereira Coutinho
Folha

O verão corre na Europa e a imprensa se inunda de “Questionários Proust”, aquelas perguntas levemente pessoais, levemente filosóficas, que faziam sucesso nos salões parisienses do século 19. Até Marcel Proust, que batizou o gênero, se submeteu a eles, quebrando sua timidez habitual.

Já não temos Proust. Temos apenas um número infindo de “pessoas do bem” que aproveitam o momento para abrir as suas gabardines e exporem aos outros o tamanho da sua virtude.

Confrontado com a epidemia de questionários e usando o da revista Vanity Fair como modelo, vou escrevendo à mão sobre as respostas das celebridades e “influencers”, as minhas meditações instantâneas. Convido o leitor a fazer o mesmo e a partilhar o resultado. Como diria o médico lusitano Egas Moniz, o inventor da lobotomia: “Conhece-te a ti mesmo”.

PERGUNTAS DE SEMPRE“Qual é a sua ideia de felicidade perfeita?” “Um dia de verão com meus inimigos e eles saltando da prancha para uma piscina vazia.”

“Qual é a sua viagem favorita?” “Aqueles dez metros entre o sofá e a geladeira.”

“O que você menos gosta na sua aparência?” “Minhas semelhanças físicas com o ator Pedro Pascal. Já cansa.”

“Qual ou quem é o grande amor da sua vida?” “Minha antiga professora Sylvia Kristel, com quem aprendi francês e biologia.”

“Qual é a sua posse mais preciosa?” “Um pelo pubiano da rainha Vitória —em homenagem ao cineasta João César Monteiro.”

PAGAR A CONTA – “Qual é a sua característica mais marcante?” “Conceder sempre aos outros o prazer de pagarem a conta para mim.”

“Com qual figura histórica você mais se identifica?” “Pepino, o Breve, Luís, o Gago, e Carlos, o Calvo —reis franceses que sobreviveram a suas alcunhas.”

“Se você morresse e voltasse como uma pessoa ou coisa, o que acha que seria?” “Um mosquito invisível pairando sobre as noites de Roger Waters.”

“Qual é o seu maior medo?” “Chegar ao inferno e encontrar todos os leitores que não entenderam as ironias. E explicar tudo de novo durante a eternidade.”

“O que você considera o fundo do poço da miséria?” “Colonoscopia sem sedação.”

ÁGUA EM VINHO“Qual é o traço que você mais deplora em si mesmo?” “Não ter a capacidade de transformar a água em vinho.”

“Qual é o traço que mais deplora nos outros?” “As boas intenções.”

“Qual virtude você considera mais superestimada?” “A autenticidade. Prefiro aquela artificialidade que esconde os defeitos.”

“Em que ocasião você mente?” “Quando me enviam textos ou poemas e pedem muito uma opinião sincera a respeito.”

“O que você mais valoriza nos seus amigos?” “O fato de nem todos serem imaginários.”

DESPREZOS AMPLOS“Qual pessoa viva você mais despreza?” “Nenhuma em particular. Meus desprezos são amplos e democraticamente distribuídos.”

“Quais palavras ou expressões você mais usa?” “‘A situação é catastrófica, mas não séria’ —em homenagem aos Habsburgos. Também abuso de ‘está quase pronto’, ‘não me esqueci de você’ e ‘juro pelos seus filhos’.”

“Qual é o seu maior arrependimento?” “Ter seguido muitas vezes os conselhos dos mais sábios.”

“Quando e onde você foi mais feliz?” “No útero, sem boletos.”

OUTRAS REFLEXÕES – “Qual é o seu estado de espírito atual?” “Aéreo como sempre. E sem paraquedas.”

“O que você mais detesta?” “Diarreia digital. Receber uma mensagem que vem às prestações.”

“O que você considera sua maior realização?” “Ter percebido muito jovem que Clark Kent e Super-Homem eram a mesma pessoa, separados apenas por uns óculos.”

“Se pudesse escolher como voltar, o que você gostaria de ser?” “Com as novas ameaças nucleares, talvez uma barata.”

RESISTIR À TENTAÇÃO“Quem são seus escritores favoritos?” “Todos os que resistiram à tentação de escrever o livro que tinham dentro de si.”

“Como você gostaria de morrer?” “Minha intenção é ser imortal. Mas, se tivesse de escolher, que fosse assistindo a um filme genial de Oliver Stone —o que, de tão improvável, dá no mesmo.”

“Quais são os seus nomes preferidos?” “Nomes portugueses arcaicos e injustamente esquecidos: Hermengarda, Eurico, Ordonho, Teodomiro. Nomes brasileiros modernos como Aricléia, Elvisley ou Gêngis Khan.”

Trump age como Rússia e China ao atacar uma premissa fundamental do liberalismo

How Donald Trump's criminal charges are defining his White House race

Trump não quer nem saber das teorias do liberalismo

Carlos Gustavo Poggio
Estadão

“Mas eles não são capitalistas?” Essa teria sido a reação, em tom de estupefação, de oficiais soviéticos ao saber que o governo Reagan havia decidido proibir a exportação de componentes norte-americanos para um gasoduto que abasteceria a Europa com gás soviético, no início dos anos 1980.

Para os soviéticos, tratava-se de um projeto eminentemente econômico. Esperavam, portanto, que os americanos agissem como capitalistas: vendendo produtos, maximizando lucros, e deixando a ideologia para os políticos. A decisão de Reagan, no entanto, foi deliberadamente política. Seu objetivo era enfraquecer a União Soviética, bloqueando sua diplomacia energética e limitando seu acesso a divisas.

FISSURA IMPORTANTE – Esse episódio revelou uma fissura importante no pensamento liberal. Durante décadas, prevaleceu no Ocidente a ideia de que política e economia deveriam operar em esferas distintas. Os políticos que cuidassem da diplomacia e das guerras. Os empresários que cuidassem dos lucros.

O comércio, idealmente, seguiria suas próprias regras – técnicas, neutras, universais. A realidade, evidentemente, sempre foi mais ambígua, mas via de regra era essa a expectativa que se tinha dos Estados Unidos.

Países como China e Rússia, por exemplo, nunca aderiram de fato à lógica liberal de separar Estado e mercado. Para essas potências, comércio é ferramenta de poder. Pequim já deixou claro diversas vezes que decisões políticas têm consequências econômicas.

REAÇÕES DA CHINA -Em 2010, após o Comitê do Nobel da Noruega conceder o Prêmio da Paz ao dissidente Liu Xiaobo, o governo chinês suspendeu negociações comerciais e bloqueou a importação de salmão norueguês.

Em 2021, quando a Lituânia estreitou laços diplomáticos com Taiwan, a resposta chinesa foi rápida: importações interrompidas, empresas pressionadas, e sanções aplicadas de forma informal. A mensagem era clara: quem desafia a China politicamente, paga economicamente.

A Rússia sempre seguiu lógica semelhante, especialmente no uso da energia como instrumento de coerção. Durante anos, manipulou os preços do gás natural e seus contratos de fornecimento para recompensar aliados e punir países que buscavam aproximação com a União Europeia ou a Otan. O comércio, nesses casos, nunca foi apenas comércio: era política por outros meios.

AGORA, TRUMP – A novidade é que os Estados Unidos passaram a agir de maneira parecida. Donald Trump transformou o uso de tarifas em um instrumento sistemático de pressão externa. Suas medidas deixaram de ter como foco exclusivo déficits comerciais ou práticas desleais e passaram a responder também a divergências políticas e ideológicas.

A ameaça recente de impor tarifas generalizadas ao Brasil, país com o qual os EUA mantêm um superavit comercial, reforça esse padrão. A mensagem é menos sobre regras comerciais e mais sobre alinhamento político. Não se trata mais de defender o mercado interno, mas de redefinir o papel do comércio na política externa norte-americana.

Essa mudança carrega implicações profundas. Ao usar tarifas como forma de coerção política, os EUA se afastam do modelo que ajudaram a criar no pós-guerra, baseado em regras estáveis, instituições multilaterais e confiança mútua.

CAMPO DE DISPUTA – O comércio, que deveria ser terreno de cooperação e previsibilidade, torna-se campo de disputa e intimidação. A lógica liberal, segundo a qual o mercado deve operar com relativa autonomia frente ao poder político, dá lugar a uma visão transacional, na qual tudo é moeda de troca.

A adoção dessa postura pelos Estados Unidos marca um ponto de inflexão. O país que por décadas promoveu a abertura econômica, agora se aproxima das práticas adotadas por potências autoritárias. Resta saber se essa convergência é uma adaptação necessária às novas condições do sistema internacional ou um sintoma de sua fragmentação acelerada.

Seja qual for a resposta, o fato é que estamos testemunhando a erosão de uma das premissas centrais do liberalismo: a de que comércio e política devem obedecer a lógicas diferentes.

No país da “Matemágica”, PEC dos precatórios abala o frágil ajuste fiscal

Clayton Rebouças | Haddad cita compromisso com ajuste fiscal ao FMI #charge #cartum #cartoon #humor #política #humorpolitico #desenho #art #caricatura... | Instagram

(Charge do Clayton) Haddad como ministro, é uma piada

Alexandre Schwartsman
Estadão

Foi aprovada em dois turnos na Câmara, e devidamente encaminhada ao Senado, nova Proposta de Emenda Constitucional referente ao pagamento de precatórios, inclusive os federais. Até 2026, por decisão do Onipotente Supremo Tribunal Federal (apenas “Supremo” não mais descreve o atual status do Excelso Pretório), cerca de metade destes pagamentos não serão considerados para fins de aferimento da meta fiscal.

De forma mais simples, ao verificar se o resultado do Tesouro Nacional se encontra de acordo com a meta definida, diga-se, pelo próprio governo, é possível excluir tais gastos.

GASTO FANTASMA – Não que tenham deixado de existir: apenas permite-se que o Tesouro se gabe de ter atingido um resultado melhor do que aquele registrado pela fria contabilidade pública, que, aliás, é o que interessa para determinar se a dívida pública aumenta ou diminui.

Já a partir de 2027, graças à PEC, os precatórios de responsabilidade da União ficarão fora do limite de gastos (o avacalhado Novo Arcabouço Fiscal) e apenas parcialmente contabilizados para fins de aferição da meta (10% no primeiro ano, 20% no segundo e assim por diante).

Na prática, portanto, o Tesouro poderá registrar resultados abaixo das metas fiscais.

VEJAM EM 2027 – Por exemplo, em 2027, quando a meta fiscal requer superávit de 0,5% do PIB (cerca de R$ 75 bilhões), será possível abater dela 90% do montante de precatórios a serem pagos.

Segundo as projeções da Lei de Diretrizes Orçamentárias, trata-se de valor na casa de R$ 124 bilhões, ou seja, serão abatidos da meta R$ 111 bilhões. Ou seja, mesmo um déficit de R$ 36 bilhões (75 – 111) poderá ser comemorado como se superávit fosse.

Há certa controvérsia, mas, segundo a opinião de alguns analistas, também a exclusão dos precatórios do limite de despesas permitirá espaço para algum gasto adicional, porque, afinal de contas, que mal faz, né?

ENDIVIDAMENTO – A ginástica contábil, contudo, não muda a trajetória do endividamento público. Com ou sem PEC, NAF, OSTF ou qualquer outra sigla, a dívida seguirá crescendo à frente do PIB e, com ela, também a percepção de risco.

Quando quiserem entender as razões para poupadores só emprestarem ao Tesouro a juros reais superiores a 7% ao ano, não olhem para o Banco Central.

O culpado também mora em Brasília, mas em outro endereço.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGDeus meu! A que ponto essa gente chega na manipulação dos recursos públicos. Por muito menos, Dilma Rousseff sofreu impeachment. Os petistas vivem a aplicar esses golpes de maquiagem contábil, e não acontece nada. Ninguém é demitido, cassado ou punido com bloqueio de bens. Por isso, a esculhambação se eterniza. Ainda bem que existem economistas como Alexandre Schwartsman, mas quem se interessa? (C.N.)