
Lula tenta apoio para atacar Trump, mas está difícil
Jamil Chade
do UOL
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai usar uma cúpula de líderes no Chile, nesta segunda-feira, para articular uma resposta conjunta de governos democráticos contra os avanços da extrema direita.
A iniciativa não tocará no nome de Donald Trump e foi organizada antes mesmo da ofensiva do americano contra o Brasil. Mas, nos últimos dias, o evento ganhou uma nova dimensão, inclusive diante das investidas contra a Colômbia, as barreiras comerciais contra o cobre do Chile e os ataques ao STF no Brasil.
SEM REPRESENTATIVIDADE – O presidente chileno, Gabriel Boric, será o anfitrião na reunião, que ainda contará com o uruguaio Yamandú Orsi, o colombiano Gustavo Petro e o espanhol Pedro Sánchez, além de Lula.
Dentro do Palácio do Planalto, estima-se que a região esteja “órfã” de um âmbito latino-americano que possa se posicionar contra o avanço da política externa americana.
No Mercosul, a agenda está em parte freada por Argentina e Paraguai, países que se aliaram à Casa Branca. Na OEA, a presença dos EUA impede qualquer debate mais contundente. Mesmo a Celac, esperança do Brasil de uma retomada de arranjo regional, foi minada por aliados de Trump no continente.
SEM CITAR TRUMP – No caso dessa cúpula, uma declaração final está sendo costurada. Mas o UOL apurou que não haverá uma menção explícita ao presidente americano. A consideração dos chilenos é de que, com a eleição se aproximando no país, transformar a cúpula num ato contra Trump pode acabar prejudicando a ala progressista nos cálculos eleitorais. A instabilidade na Colômbia tampouco ajuda.
Lula, porém, usará o palco para fazer um discurso na tarde de segunda-feira. Assessores prepararam uma mensagem “contundente” de defesa da soberania, diante dos ataques contra ministros do STF e tarifas impostas contra o Brasil.
Membros do governo consideram que a disputa está “apenas começando” e que a crise não será resolvida da noite para o dia, ou com uma negociação de abertura de mercados.
FORMA DE CENSURA – Além disso, um dos temas centrais do interesse do governo americano estará no centro das atenções em Santiago: a regulamentação das tecnologias e redes sociais. O governo Trump considera que isso seria uma forma de censura.
O documento deverá pedir um avanço neste sentido. O assunto é considerado central para frear o avanço da desinformação manipulada pela extrema direita.
Em nota, o governo brasileiro indicou que as discussões estarão organizadas em torno de três eixos centrais: defesa da democracia e do multilateralismo; combate às desigualdades; e tecnologias digitais e o enfrentamento à desinformação.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Em tradução simultânea, Lula está completamente perdido. Depois de uma semana inteira de euforia, em que usou o nacionalismo brasileiro para ganhar apoio a um governo que inexiste, Lula enfim percebe que caiu numa armadilha. Entre os países da ONU que mantêm relações comerciais com os Estados Unidos e realmente têm alguma importância, apenas o Brasil não conseguiu renegociar as novas tarifas fixadas. (C.N.)