Ricardo Dias de Sousa
Observador de Portugal
A Oficina da Liberdade, em parceria com o grupo LeYa, promove o lançamento de um livro sobre Javier Milei da autoria do professor Phillip Bagus, que é prefaciado para a edição em Portugal pelo próprio Presidente da República Argentina. É um livro que recomendo vivamente porque o fenómeno é mal compreendido em Portugal, em grande parte por desconhecimento do que aconteceu na Argentina no último quarto de século.
O pano de fundo é a Argentina, um dos poucos casos da História contemporânea de um país que foi desenvolvido, um dos mais ricos do mundo há pouco mais de um século, que caiu na indigência. Como Milei bem explicou, a causa dessa queda foi ter abraçado as políticas do Socialismo.
ATAQUES DA ESQUERDA – Só por esse motivo, por ter apontado corretamente o motivo do fracasso da Argentina, Milei começou atacado pela esquerda um pouco por todos os lados.
Existe uma certa ironia nisso. Toda a gente sabe que o Socialismo fracassou, até a esquerda. De tal forma que muito poucos se afirmam socialistas em público e os políticos do quadrante evitam a palavra.
Preferem substituí-la por eufemismos como “progressista”, ou “de esquerda” quando se referem à sua ideologia, ou chamar “justiça social”, “políticas igualitárias” ou “defesa das minorias” às políticas socialistas que continuam a implementar.
FORA DO AR – Com a excepção de Portugal e Espanha onde continuam a controlar grande parte do aparelho estatal, a palavra “Socialista” desapareceu das siglas dos partidos do ramo.
Mas quando Milei diz algo óbvio, que o Socialismo destruiu a sociedade e a economia argentina, é logo apelidado de fascista, como se isso não tivesse acontecido na URSS, na Coreia do Norte ou em Cuba.
Ironicamente, o único país socialista que vai revelando algum êxito (em grande parte por ter abandonado o Socialismo versão maoísta) é a China. País que raramente a esquerda progressista utiliza como exemplo a seguir. Mas o Socialismo não morreu, simplesmente mudou de pele como as serpentes.
ERRO INTELECTUAL – Na feliz expressão de Hayek, o Socialismo é um erro intelectual pelo que, na medida em que esse erro continue a ser cometido, o Socialismo continuará a prosperar. Especialmente quando esse erro passa despercebido.
Um dos grandes triunfos da Economia, enquanto ciência, foi desmascarar a pretensão de que o Socialismo era o caminho para uma sociedade mais próspera. Houve um tempo, que a esquerda atual prefere ignorar, em que os socialistas acreditavam que as economias socialistas, com o seu planeamento central e propriedade pública dos meios de produção iam ser mais prósperas que as outras.
A famosa frase de Nikita Kruschev ao Ocidente – “vamos enterrar-vos” – fazia referência a essa crença que, num futuro próximo (duas décadas), a URSS iria ultrapassar os Estados Unidos em riqueza material.
JUSTIÇA SOCIAL – Os socialistas atuais são mais cautos, prometem uma riqueza materialista sim, mas não material. A riqueza está na construção de uma sociedade mais justa, mais solidária, mais inclusiva, um discurso que só apela a quem dá por garantido o acesso a bens e serviços em quantidade e qualidade.
No entanto a ciência económica também está em crise. Esse é um tema que daria para uma tese e não cabe num artigo de jornal. Mas é suficiente com dizer que, na ânsia de abraçar os métodos das ciências exatas, a Economia sacrificou a Teoria à Prática sendo que, sem Teoria, a Prática dificilmente terá utilidade.
Concretamente, para poder medir os fenómenos que tratam, os economistas reduzem a complexidade qualitativa dos conceitos a grandezas quantitativas que possam medir.
VERSÕES DO PIB – Por exemplo, crescimento económico passa a ser produção nacional, e produção nacional aquilo que o PIB mede. Obviamente que não há nenhum economista que não saiba que isto é apenas aproximadamente correto.
Mas na hora de tentar prever o futuro (que é, no fundo, o motivo pelo qual os economistas se focam em imitar a metodologia das ciências exatas – prever com rigor), nenhum economista tenta prever o crescimento económico, mas sim o valor do PIB que depois é utilizado como sinónimo de crescimento económico.
Entenda-se que, do ponto de vista económico, dificilmente se vai encontrar um indicador que quantifique melhor essa realidade para o consenso da profissão, mas isto leva a situações caricatas, como a de políticos tentarem manipular o valor do PIB para as que as regiões que governam apresentem pequenas variações positivas neste indicador de ano para ano e assim presumir de êxito económico nas suas políticas.
REFORMAS REGRESSIVAS – Fruto desta forma de pensar, muitos economistas insuspeitos de socialismo apostaram que as reformas que Milei queria implementar na Argentina iriam provocar uma grande depressão no país porque eram “regressivas” – leia-se – iriam fazer contrair o PIB (que, acreditavam, entraria numa espiral deflacionária devido a algo que aprenderam de Keynes e que nunca fez muito sentido).
É o tal temor a “políticas de austeridade” que fez que muitas economias europeias tivessem perdido a oportunidade de reverter rapidamente a crise económica há década e meia, mesmo aquelas governadas à direita teoricamente insuspeitas de socialismo, porque a tal austeridade consistiu não em reduzir o gasto, mas em reduzir o ritmo do crescimento.
Aumento esse que, mesmo sendo menor que o originalmente projetado, foi financiado através do aumento da dívida pública, dos impostos e finalmente da inflação, que é o imposto sobre a insolvência do Estado e é geralmente pago pelos mais desfavorecidos.
REDUÇÃO DO PIB – Como seria de esperar, a tal esquerda progressista celebrou com júbilo os primeiros dados de redução do PIB para afirmar alto e a bom som que as políticas económicas “ultradireitistas” de Milei estavam a fracassar.
Foi este temor, o temor de ver o PIB reduzir, o que impediu uma reforma profunda na Europa depois da crise de 2008. Mas Milei, armado com um sólido conhecimento de Economia, sabia que essa contração era inevitável.
Se o parasita que provoca esse aumento no PIB não for alimentado, esses recursos ficam disponíveis para que a economia produza aqueles bens e serviços que têm valor e, o que é melhor, crie as condições para um crescimento aritmético ou mesmo exponencial futuro, coisa que o desvio de recursos constante do parasitismo estatal impede.
CRESCIMENTO SÓLIDO – É por isso que, a partir de meados de 2024 a economia argentina passou a registar, não crescimentos do PIB raquíticos da ordem dos 1,5%, mas crescimento do PIB real de 5,8%, indiciando que o crescimento económico real seja maior.
Curiosamente, quando os dados positivos começaram a ser publicados, o PIB argentino deixou de ser utilizado como argumento que espelhava a política económica do Milei. O mesmo sucedeu com a redução do indicador de pobreza de 52% para 31%.
Os argentinos ainda têm um longo caminho a percorrer, com muitos altos e baixos, antes de voltarem a ser uma economia desenvolvida. E não existe nenhuma garantia de que tal venha a suceder se voltarem a escolher o Socialismo. Mas enquanto o silêncio dos detratores de Milei persistir, sabemos que os argentinos estão no bom caminho.
(Artigo enviado por Duarte Bertolini)