Supremo está sob ataque há muitos anos, o que mudou foram apenas os adversários

STF volta, de olho na eleição. | Opinião | Jornal da Manhã

Charge do Elio (Jornal da Manhã)

Marcus André Melo
Folha

O Supremo está sob ataque há mais de 15 anos, embora o combate cerrado tenha tido início há apenas cinco anos. O que mudou são seus adversários. Os ataques tiveram início com o mensalão e o acolhimento pela Corte da denúncia da PGR em 2007, mas mudaram de patamar com o julgamento do mérito das acusações em 2012.

As bandeiras dos ataques também mudaram. Se inicialmente a questão que vertebrava os ataques era a corrupção, ela mudou e passou a ser a democracia.

NOVA BATALHA – Com a ascensão de Bolsonaro, o STF escolheu a batalha que passou a travar: da luta contra a corrupção para a defesa da democracia.

Não se trata apenas disso: o desmonte da operação que se tornou símbolo da luta contra a corrupção foi assumido como uma batalha em si mesmo. Não ficou pedra sobre pedra. E continua, em decisões monocráticas, com um juiz anulando tudo, com custo reputacional abissal para a instituição.

E num contexto em que, segundo o Latam Pulse AtlasIntel, 58% dos entrevistados apontaram a corrupção como o maior problema do país, superando temas como criminalidade e tráfico de drogas.

DIZIA DIRCEU – Os adversários do STF agora são outros: as diatribes contra a instituição se originavam no PT e seus apoiadores. Como afirmou José Dirceu “o STF não é poder da República. Nossa Constituição estabeleceu três poderes, mas só existem dois: os eleitos, que têm soberania popular, o Legislativo e o Executivo. O Judiciário é [apenas] um órgão”.

Sua conclusão era que se “deveria tirar todos os poderes do supremo” e convertê-lo em Corte constitucional.

Sob Bolsonaro em diante, os ataques aos ‘juízes não eleitos’ do STF partem do círculo presidencial. Começaram antes da campanha eleitoral, com a famigerada referência a um soldado e um cabo para intervir na Corte.

ALTERNÂNCIA – Segundo a teoria democrática, a alternância entre forças políticas rivais gera incentivos para um aprendizado coletivo. A perspectiva de alternância mitiga pretensões hegemônicas de grupos que passam a se enxergar menos como inimigos e mais como rivais.

Numa espécie de ‘véu da ignorância’ rawlsiano, que levaria os cidadãos a examinar as instituições como perdedores e a avaliá-las tanto como regras do jogo quanto como bens públicos. A realpolitik, no entanto, sugere que as precondições para que isso ocorra são raras.

No momento, o que observamos no Brasil e América Latina são pretensões hegemônicas de governantes que buscam moldar unilateralmente as instituições a seus interesses.

MÉXICO E EQUADOR – À esquerda, o caso mais flagrante na América Latina é o do México de Cláudia Sheinbaum, que deu seguimento às ameaças de destituição coletiva de magistrados dos tribunais superiores de seu antecessor e patrono, Obrador.

Como que para ilustrar as comunalidades entre o majoritarianismo iliberal de esquerda e direita, o exemplo foi seguido esta semana por Daniel Noboa, presidente do Equador.

De megafone em punho, liderou passeata por uma consulta popular pedindo, entre outras medidas, o impedimento coletivo do tribunal constitucional daquele país. 

Trump e Eduardo Bolsonaro armam clima de “barata voa” na direita

A submissão aos interesses dos EUA virou motivo de comemoração para Eduardo  Bolsonaro. Enquanto o governo Trump ataca a soberania nacional, o deputado  agradece. Isso não é liberdade de expressão, é traição

Charge do Lafa (facebook)

Eliane Cantanhêde
Estadão

Jair Bolsonaro chega à reta final do julgamento pelo golpe já derrotado, jurídica e politicamente. Eduardo Bolsonaro está prestes a ser expelido do PL, em favor de Tarcísio de Freitas. Carla Zambelli foi mantida em prisão fechada na Itália. Congresso avança no PL da adultização e adia a PEC da blindagem a parlamentares.

De quebra, Javier Milei despenca nas pesquisas e é recebido com pedras e garrafas em evento na Argentina, depois de escândalo de corrupção.

DOIS NO CENTRO – O que isso tudo significa? Que a extrema direita incensada por Donald Trump não está com essa bola toda pelas nossas bandas, o horizonte é de ascensão de uma direita menos belicosa e, no Brasil, de uma disputa em 2026 entre Lula e Tarcísio, ambos empurrados para o centro, um na centro-esquerda, outro na centro-direita.

Inelegível, preso em casa, cercado de policiais, de tornozeleira e às vésperas de ser julgado pela tentativa de golpe, junto com seus generais, Bolsonaro já não é sequer listado como presidenciável em 2026, diferentemente de Trump, que perdeu a reeleição, atiçou o golpe contra o Capitólio e voltou à Presidência na eleição seguinte.

Faltou um Xandão para investigar e cobrar responsabilidades nos EUA.

PÓS-CONDENAÇÃO – O que se discute já é o pós-condenação de Bolsonaro. Condenado, vai perder a patente de capitão do Exército? Pelo próprio Supremo ou pela Justiça Militar? Ficará preso em casa, num quartel ou na Papuda? São questões que envolvem questões legais, mas também políticas, em se tratando de um ex-presidente.

Há um “barata voa” no bolsonarismo, enquanto adversários comemoram a impulsividade – ou “imaturidade”, como define seu próprio pai – e a falta de inteligência, estratégia, visão política e patriotismo de Eduardo Bolsonaro, que xinga tudo e todos, divide a direita e empurra o centro para Tarcísio. Virou seu cabo eleitoral e só piorou a posição de Jair Bolsonaro.

Como defender um ataque à soberania nacional e aos brasileiros em favor de uma única pessoa?

ARMA NA MÃO – Zambelli se tornou um símbolo da debacle, correndo de arma em punho pela rua, contratando um condenado para invadir o sistema digital do STF, introduzindo documentos falsos, até da prisão de Alexandre de Moraes. Coisa de bom moço, ou boa moça, não é.

E Milei? Ele assumiu um país despedaçado e erra a mão ao juntar os cacos. A inflação despencou e o superavit disparou, mas moradia, saúde, educação, impostos, gás, luz, transporte? Queridinho de Wall Street, asfixia classe média e pobres.

Zambelli é um símbolo do bolsonarismo, Milei é um alerta sobre a extrema direita trumpista no continente.

Com Bolsonaro fora da política, muita coisa vai mudar com as novas eleições

Bolsonaro critica políticos que mandaram ficar em casa na pandemia |  Agência Brasil

Bolsonaro perdeu o poder, porém manteve os admiradores

Vicente Limongi Netto

É terrível, inacreditável, são coisas da democracia, mas é pena que a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, seja adoradora do clã Bolsonaro. O governador Ibaneis Rocha, por sua vez, também tornou-se bolsonarista de carteirinha, porque lá atrás foi achincalhado por Lula no episódio do famigerado 8 de janeiro.

É um direito dele. Porém, pertence ao MDB, completamente agremiação antibolsonarista, por tradição, coerência e vigor democrático. MDB não engole Bolsonaro nem pintado de ouro.

CONSTRANGEDOR – Ibaneis, caso eleito no Senado, vai continuar bolsonarista, isolado dentro do MDB? Será constrangedor. MDB, hoje e amanhã, quer distância de Bolsonaro.  Estou farto de escrever sobre isso.

O STF vai fuzilar Bolsonaro e o filho fujão. Alexandre de Moraes e outros da Suprema Corte  jamais se intimidarão com passeatas, ameaças, discursos, histerismos do PL, de Trump e outros menos votados.

Terça-Feira, dia 5 de agosto, escrevi mais uma vez, enfatizando o assunto. Gostemos ou não, é meu caso, estou me lixando para ambos, mas o fato é que Lula será reeleito. Tem a caneta cheia de tinta.

FAZEM O DIABO – Em ano eleitoral, o PT e seguidores costumam ir com tudo. Governadores adversários, alguns qualificados, não pensam em chegar em apenas um nome, para enfrentar Lula. Já vimos este filme.

O ego pessoal fala mais alto. Desunião dilui votos, agradando Lula, o PT e aliados. Ano que vem vai ferver. Chutes na virilha serão afagos do céu.

Sabemos que Lula e PT são vingativos. Lula reeleito, a bolsonarista Celina Leão certamente eleita governadora, não será bem-vinda no Palácio do Planalto. Pleitos de Brasília sofrerão. O DF depende do Fundo  Constitucional.

MICHELLE NO DF – Mulher de Bolsonaro, cotada para senadora por Brasília, também vai ralar para conseguir as coisas. Seria bom canal político colocar para vice-governador na chapa de Celina, para abrandar o ambiente e a convivência política, um homem público respeitado e com trânsito em todas as áreas.

Paulo Octávio, ex-senador, ex-vice-governador, empresário vitorioso, será bom nome.  O MDB na Câmara Federal segue a cartilha dos senadores. Sarney continuará ouvido e respeitado. Renan Calheiros, também.  Craques nos bastidores. Não entram em briga de amadores. Renan ainda tem o filho e xará como ministro dos Transportes.  É senador ainda com longo mandato e pode voltar ao governo alagoano.

VOLTA AO SENADO – O calejado Renan, por sua vez, tem amplas chances de ser reeleito senador.

Não vejo possibilidade de um senador bolsonarista vir a presidir o Senado. O desprezível Rui Costa não se sabe se será senador pela Bahia, ou permanece poderoso ministro, carne e unha com Lula. Não esconde que odeia Brasília.  Lula reeleito, Davi Alcolumbre tentará manter-se na presidência do Senado.  Outra pedra nas cabeças bolsonaristas.

Lula e petistas podem até fingir bem, mas governadores bolsonaristas comerão pão duro e café frio no governo federal, com Lula reeleito.

Congresso é esconderijo ideal para os infiltrados do crime organizado

charge de Thiago Lucas (@thiagochargista), para o Jornal do Commercio.  #CarlosLupi #INSS #corrupção #aposentados #aposentadoria #dinheiro #governo  #lula #brasil #chargejc #chargejornaldocommercio #chargethiagojc  #chargethiagolucas #chargethiagolucasjc

Charge do Thiago Lucas (Jornal do Commercio)

Dora Kramer
Folha

O presidente da Câmara traduziu com precisão o espírito da coisa, quando disse que a chamada PEC da blindagem revelava “o espírito da Casa”. Espírito do corpo em estado bruto é do que falou Hugo Motta (Republicanos-PB), num ato de franqueza.

Já numa demonstração de fraqueza, Motta deixou que a confusão tomasse conta da reunião de líderes que engendrava a votação à sorrelfa da noite adentro na quarta-feira (27), aceitando um texto apócrifo que propunha ampliar ainda mais a impunidade de deputados e senadores em ações na Justiça.

FALTOU CLAREZA – Se a ideia era escancarar o absurdo e provocar a suspensão do debate diante da má repercussão, a condição de condutor do processo exigiria que defendesse essa posição com clareza.

Mas ficou parecendo que a intenção foi evitar uma derrota no plenário e adiar o exame do tema para retomá-lo em momento oportuno.

Os adeptos da causa não desistirão de transformar o Congresso numa espécie de esconderijo, indiferentes ao risco de se interditar investigações de ilícitos. De toda ordem.

CRIME ORGANIZADO – Acabamos de ver revelada a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis e no mercado financeiro.

Já sabíamos, embora ainda sem ter a real dimensão, o quanto a bandidagem se imiscui na sociedade e no aparelho de Estado. Nos três poderes.

Como nosso assunto é o Legislativo, citemos apenas as câmaras municipais, assembleias estaduais e até o Congresso Nacional, onde há presença crescente dessas ligações perigosas.

DOMÍNIO TERRITORIAL – Um dos caminhos de acesso, não o único, é o domínio de territórios nas grandes cidades. E, conforme constata há tempos o ex-ministro da Segurança Pública Raul Jungmann, “quem domina o território, controla o voto”.

Os arquitetos da blindagem já pensaram que, ao manter o Parlamento fora do alcance da Justiça, protegerão também os criminosos infiltrados, cada vez mais interessados nessa proteção?

Se não pensaram, conviria que atentassem a isso, sob pena de se tornarem cúmplices de máfias que ameaçam a segurança nacional.

CPI do INSS causará mais dano a Lula do que julgamento ao bolsonarismo]

CPI do INSS: irmão de Lula já é alvo de três 3 requerimentos

Frei Chico, irmão de Lula, será convocado para depor

Diogo Schelp
Estadão

O governo Lula e a oposição bolsonarista vão enfrentar provações cruciais e simultâneas a partir desta e da próxima semana. Na terça-feira, 26, o Congresso dará início aos trabalhos da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) para investigar a fraude no INSS (Instituto Nacional de Seguro Social).

Os líderes governistas dormiram no ponto e deixaram que a presidência e a relatoria da comissão fossem conquistadas por opositores ferrenhos. Uma semana depois, no dia 2, o STF (Supremo Tribunal Federal) vai iniciar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado após a derrota para Lula na eleição de 2022.

DISPUTANDO PÚBLICO – Dois circos estarão montados um ao lado do outro, disputando público. A oposição bolsonarista vai usar a CPMI para criar fatos, manchetes e vídeos virais negativos em série para o governo — enquanto, no picadeiro ao lado, seu líder Bolsonaro estará sentado no banco dos réus.

O objetivo dos parlamentares oposicionistas vai ser, primeiro, provar responsabilidade do governo no avanço do esquema de descontos indevidos nos benefícios dos aposentados e, segundo, vincular entidades e pessoas que participaram da fraude ao PT e — quem sabe, no que seria o prêmio maior — ao próprio presidente.

Uma possibilidade é que Frei Chico, irmão de Lula e vice-presidente de um dos sindicatos investigados pela suspeita de ter tirado nacos ilegais das aposentadorias e pensões, seja convocado para prestar depoimento na comissão.

MOMENTO ADEQUADO – O deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL), relator da CPMI, tergiversou e disse que “não é o momento adequado” para tal convocação.

Com a missão de evitar uma nova mancada da base governista, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) terá como prioridade evitar que Frei Chico seja obrigado a depor e que o governo se torne o único alvo das investigações.

Trata-se de uma tarefa ingrata, ainda mais sem o comando da presidência e da relatoria da comissão. A CPMI do INSS tem tudo para se tornar um eficiente instrumento de desgaste da imagem do governo Lula, assim como a CPI da Covid-19 contribuiu para abalar a popularidade de Bolsonaro em 2021.

POPULARIDADE – O então presidente tinha 30% de aprovação popular, segundo o Datafolha, antes daquela comissão começar. Depois de seis meses de uma CPI que expôs a atuação criminosa do governo na pandemia, a popularidade de Bolsonaro minguou para 22%.

Costuma-se dizer em Brasília que todos sabem como uma CPI começa, mas não como termina. Esse imponderável é o que torna essa comissão tão perigosa para Lula.

Já do julgamento de Bolsonaro no STF pode-se dizer o oposto: sabe-se como começa e pode-se fazer uma aposta segura de como termina, ou seja, provavelmente com a condenação do ex-presidente.

DISPUTAR O ESPÓLIO – A situação política de Bolsonaro não passará a ser muito diferente da atual. A confirmação de sua prisão apenas vai permitir aos seus herdeiros políticos se movimentar com mais liberdade para disputar seu espólio eleitoral.

O bolsonarismo vai se fortalecer com a narrativa de perseguição ao seu líder e com a possibilidade de se unir em torno de um nome que o “honre” nas urnas.

As atrações do circo ao lado são mais imprevisíveis.

Nova patriotada eleitoreira do PT é o “crime de alta traição à pátria”

Líder do PT na Câmara diz que tarifas de Trump são ataque à democracia | Jornal de Brasília

Lindbergh inventou um crime para enquadrar os adversários

Mario Sabino
Metrópoles

Armado do seu bodoque, o deputado Lindbergh Farias, do PT, o mais reto e vertical partido brasileiro, apresentou um projeto de lei que propõe pena de até 40 anos de prisão para quem cometer “crime de alta traição à pátria”.

Fiquem calmos: o projeto não considera alta traição à pátria desviar bilhões em dinheiro público, aparelhar e depenar estatais ou falsificar as contas governamentais para vencer eleição.

FUZILAMENTO – Na justificativa de pena tão inclemente para os Calabares e os Silvérios dos Reis, o petista disse aos seus pares na Câmara:

“Os senhores podem pensar que é exagero. Em vários estados norte-americanos, o crime de traição à pátria é o fuzilamento. É assim que se trata o traidor da pátria.”

A oposição apelou logo para a quebra de decoro, mas o petista afirmou que foi só uma referência e coisa e tal. Mas há um atavismo sob a referência, que talvez tenha escapado ao próprio deputado: a esquerda tem afinidades eletivas históricas com o paredón. É para onde ela costumava levar adversários nos bons tempos revolucionários. Ou para o gulag, que era uma morte homeopática.

CULPA DO EDUARDO – Desnecessário dizer, mas digo mesmo assim, que a circunstância a ressuscitar os instintos primitivos de Lindbergh se chama Eduardo Bolsonaro, a vivandeira que foi bulir com os granadeiros trumpistas nos seus bivaques.

O petista, no entanto, está sendo injusto com a vivandeira. Com as tarifas e a inclusão de Alexandre de Moraes na Lei Magnitsky, obtidas junto ao amigo americano, Eduardo Bolsonaro não conseguirá livrar o seu pai da cadeia, mas deu um sopro de vida a Lula, que andava com a aprovação em baixa.

Sem medo de ser feliz, o que no mais das vezes significa abraçar o ridículo, o chefão petista aproveitou a oportunidade e tomou da direita a bandeira do patriotismo.

ELE E SIDÔNIO – Lula passou a agitá-la sozinho diante das fuças bolsonaristas, assessorado pelo marqueteiro Sidônio, criador do slogan originalíssimo sobre o Brasil ser dos brasileiros, inscrito em bonés igualmente inovadores.

O projeto de Lindbergh é só um boné legislativo. Está no campo das patriotadas eleitoreiras propiciadas por Eduardo Bolsonaro. Na verdade, o PT deveria até agradecer ao filho de Jair.

Como se dizia na Inglaterra, sejamos patriotas sem esquecer que somos cavalheiros, por favor.

Olhos tristes, que se curvam sob o olhar poético de Henriqueta Lisboa

Pode ser uma imagem de 1 pessoa e texto que diz "Hen iqueta Lisboa strelas são mariposas (faz az tanto frio na rua!) batem asas de esperança contra as vidraças dalua." Henriqueta Lisboa (1901-1985) efrases_mensagens_epoesias"Paulo Peres
Poemas & Canções

A renomada poeta mineira  Henriqueta Lisboa (1901-1985), no soneto “Olhos Tristes”, tem a sensação de uma despedida através de renúncias repetidas.

OLHOS TRISTES
Henriqueta Lisboa

Olhos mais tristes ainda do que os meus
são esses olhos com que o olhar me fitas.
Tenho a impressão que vais dizer adeus
este olhar de renúncias infinitas.

Todos os sonhos, que se fazem seus,
tomam logo a expressão de almas aflitas.
E até que, um dia, cegue à mão de Deus,
será o olhar de todas as desditas.

Assim parado a olhar-me, quase extinto,
esse olhar que, de noite, é como o luar,
vem da distância, bêbedo de absinto…

Este olhar, que me enleva e que me assombra,
vive curvado sob o meu olhar
como um cipreste sobre a própria sombra.

Bolsonaristas não desistem e apostam tudo na anistia depois do julgamento

Lauro Jardim
O Globo

Faltam três dias de começar o julgamento de Jair Bolsonaro e o quadro no bolsonarismo está assim: “ok, ele vai ser condenado, mas depois a política entra e o Congresso e o anistia”. Essa é a palavra de ordem no bolsonarismo.

Dentro desse contexto a declaração de Luis Roberto Barroso sobre o assunto, na semana passada, virou uma espécie de mantra repetido por todo bolsonarista envolvido nas articulações pró-anistia.

IMPOSSIBILIDADE – Barroso disse que anistia antes do julgamento “é uma impossibilidade”. Mas que, depois do julgamento, “passa a ser uma questão política e questões políticas vão ser definidas pelo Congresso”.

A partir daí, esses bolsonaristas, que vão do líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalvanti, ao presidente do PP, Ciro Nogueira, passando pelo pastor Silas Malafaia e tantos outros, passaram a dizer que a frase de Barroso foi uma espécie de senha do Supremo para que o Congresso possa se sentir à vontade para votar um projeto de anistia a Bolsonaro.

Só que não é bem assim. De fato, a afirmação de Barroso tem um grau ambiguidade que pode levar a esse entendimento.

DECISÃO TRIVIAL – Mas não é bem assim. Porque não seria uma decisão trivial a aprovação de uma anistia imediatamente depois de uma condenação de um ex-presidente da República por golpe de estado, pelo Supremo. Seria uma decisão que jogaria no lixo um julgamento cercado de tintas muito especiais.

Se isso acontecesse, se instalaria um choque inédito entre dois Poderes — e num tema grave que é uma condenação por golpe de estado.

Mas quais as chances de, depois da condenação de Bolsonaro, um projeto desses ser votado e aprovado?

PRESSÃO VIOLENTA – O que existe hoje é uma pressão violenta por parte da direita e do bolsonarismo sobre Hugo Motta para que ele bote para votar a anistia. Já o governo Lula faz uma pressão no sentido contrário.

Até agora Motta se equilibrou entre os dois lados. Mas não pautou o projeto.

Aparentemente, a anistia teria votos para ser aprovada. Do contrário, o presidente da Câmara já poderia há algum tempo ter se livrado do problema mandando ao plenário a anistia. Se ela não fosse aprovada, os bolsonaristas não o perturbariam mais. Motta, por diversos motivos, resistiu até agora em pautar esse projeto.

SEM CHOQUE – Um desses motivos é não criar um choque com o STF durante o julgamento. Um outro motivo é não criar um atrito com o Palácio do Planalto.

Mas pode ser que, de fato, depois do julgamento ele não consiga resistir à pressão do bolsonarismo, do Centrão e da direita. Inclusive porque ele mesmo pertence ao Centrão e à direita.

Hoje, é impossível bancar, como querem os bolsonaristas, que a anistia virá até o fim do ano. Depende da força das pressões, do jogo de forças que vai começar a emergir a partir do veredito dado pelos ministros do Supremo na ação do golpe. Um jogo de forças que vai mostrar a cara para valer a partir da segunda quinzena de setembro.

A perigosa aliança entre o crime organizado e o mundo financeiro

Charge do Laerte (Arquivo do Google)

Pedro do Coutto

O avanço do crime organizado sobre o sistema financeiro formal é um fenômeno que merece atenção imediata, não apenas das autoridades, mas de toda a sociedade. O caso mais recente envolvendo o Primeiro Comando da Capital (PCC), revelado em entrevista do promotor Lincoln Gakiya ao jornal O Globo, evidencia como o narcotráfico tem se sofisticado a ponto de se infiltrar em segmentos do mercado financeiro, aproveitando-se da fragilidade regulatória de certas áreas, como as fintechs, para lavar dinheiro e ampliar sua influência.

Essa conexão representa uma ameaça de grandes proporções: de um lado, a brutalidade do crime; do outro, a sofisticação do universo financeiro. Quando esses dois mundos se encontram, o resultado é devastador para a economia e para a democracia.

ENGRENAGEM – A recente operação que prendeu pessoas ligadas ao mercado financeiro por suspeita de colaborar com o PCC é um exemplo concreto de como essa engrenagem criminosa opera. Não se trata apenas de transações ocultas, mas da criação de estruturas capazes de dar aparência de legalidade a recursos ilícitos, minando a confiança em instituições reguladas e afastando investimentos legítimos.

Como destacou o promotor Gakiya, é mais fácil dizer em qual setor o PCC ainda não atua do que mapear sua presença. Essa capilaridade reforça o caráter camaleônico da facção, que se adapta e se expande onde encontra brechas.

O perigo não está restrito ao desvio de recursos. Ele se manifesta também na erosão das regras regulatórias, na concorrência desleal com empresas que atuam dentro da legalidade e no enfraquecimento do próprio Estado, que perde espaço de controle. Ao se infiltrar em instituições financeiras e até em estruturas do Estado, o crime organizado cria uma rede de proteção que dificulta investigações e amplia a sensação de impunidade.

RELEVÂNCIA – É nesse ponto que o trabalho de promotores como Lincoln Gakiya ganha ainda mais relevância. Vivendo sob escolta há anos, ele simboliza a linha de frente contra uma ameaça que já ultrapassa os limites do sistema prisional e do tráfico de drogas. É preciso reconhecer também que essa aliança entre crime e finanças não ocorre de forma isolada: ela dialoga com a fragilidade das instituições políticas e com a dificuldade de o país estruturar políticas públicas duradouras para prevenção e repressão qualificada.

Em um cenário em que o Estado é constantemente pressionado por crises orçamentárias e instabilidades políticas, o crime organizado se aproveita do vácuo para expandir seu poder. Não é apenas uma disputa por dinheiro, mas uma batalha pela própria governança, já que, ao se infiltrar em setores formais da economia, o PCC e outras facções passam a disputar espaço de poder com o próprio Estado, corrompendo servidores, comprando decisões e interferindo em políticas estratégicas.

ESTRATÉGIAS – Se o crime encontra no mercado financeiro a sofisticação que não produz por si mesmo, cabe ao Estado responder com estratégias igualmente complexas e articuladas. Reforçar a regulação sobre fintechs, ampliar a cooperação entre polícias, Ministério Público e órgãos financeiros, além de proteger investigadores que enfrentam essa rede, são passos fundamentais.

É igualmente urgente investir em inteligência financeira, rastreamento internacional de ativos e cooperação com organismos multilaterais, pois o crime organizado, cada vez mais globalizado, não respeita fronteiras. A operação recente mostra que é possível desarticular parte da engrenagem, mas também deixa claro que o enfrentamento precisa ser contínuo. Afinal, a aliança entre narcotráfico e mundo financeiro não é apenas um risco: é um projeto em curso que ameaça corroer os pilares da democracia e a confiança na economia formal.

Tarcísio diz que primeiro ato, caso se eleja, será o indulto a Bolsonaro

Ida de Tarcísio para o PL depende de Bolsonaro - PlatôBR

Tarcísio deixa bem clara sua lealdade a Jair Bolsonaro

Lavínia Kaucz
(Broadcast)

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disse que sua primeira medida caso se torne presidente da República será conceder um indulto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Tarcísio foi questionado se concederia o indulto em entrevista ao Diário do Grande ABC, publicada nesta sexta-feira, 29. “Na hora. Primeiro ato. Porque eu acho que tudo isso que está acontecendo é absolutamente desarrazoado”, afirmou.

O governador voltou a negar, porém, a intenção de se candidatar à Presidência em 2026. “Eu não sou candidato à Presidência, vou deixar isso bem claro. Todo governador de São Paulo é presidenciável, pelo tamanho do Estado, um Estado muito importante. Mas vamos pegar na história recente qual foi o governador de São Paulo que se tornou presidente da República: o último foi Jânio Quadros e o penúltimo foi Washington Luís”, afirmou.

POR PRECAUÇÃO – Como mostrou o Estadão, Tarcísio já calibra comunicação, ouve marqueteiros e busca projeção nacional de olho nas eleições de 2026, mas evita dar sinais de campanha antecipada para não virar alvo do bolsonarismo.

Esta foi a primeira declaração do governador citando o indulto como uma ação caso seja eleito para o Planalto. Em julho, Tarcísio havia afirmado acreditar que “qualquer candidato” de centro-direita deveria conceder um indulto a Bolsonaro, caso o ex-presidente seja condenado na ação penal sobre a trama golpista. Na ocasião, Tarcísio afirmou acreditar na inocência do aliado.

Tarcísio também disse que não confia na Justiça e que não vê elementos para a condenação de Bolsonaro, que começa a ser julgado por tentativa de golpe na terça-feira, 2, no Supremo Tribunal Federal (STF). “Não acredito em elementos para ele ser condenado, mas infelizmente hoje eu não posso falar que confio na Justiça, por tudo que a gente tem visto”, disse.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Uma decisão de muita coragem. Vejam que Tarcísio não vacilou, não tentou embromar e foi logo cravando como primeiro ato o indulto presidencial, que de nada servirá, pois a idade e os problemas de saúde tornam Bolsonaro um político com prazo de validade mais do que vencido, igual a Lula da Silva, que já deu o que tinha que dar. (C.N.).

Apertem os cintos! A Lava Jato está renascendo em plena Av. Faria Lima

Reag acerta a compra da Bom Pra Crédito | Finanças | Valor Econômico

Mansur é um dos líderes dos bastidores da Faria Lima

Carlos Newton

A Faria Lima anda em polvorosa. No centro desse turbilhão está agora João Carlos Mansur, figura conhecida e respeitada nos bastidores do mercado, que há anos atua como verdadeiro maestro de grandes fortunas.

A Reag, gestora de fundos criada por Mansur, tornou-se referência para empresários e banqueiros que buscam alternativas de blindagem patrimonial em tempos de incerteza. O problema é que, quando o rastro do dinheiro começa a ser seguido, passam a surgir conexões incômodas.

SEM LIMITES – Não se trata apenas das ligações já noticiadas com Daniel Vorcaro, dono do Banco Marques, que continua buscando uma saída. O alcance de Mansur vai muito além, envolvendo banqueiros e bilionários da elite financeira paulista.

A cada fio puxado, revela-se um novelo que compromete não só indivíduos, mas práticas estruturais que caracterizam o próprio modus operandi da Faria Lima.

É o típico caso em que um único personagem pode funcionar como “bomba atômica” no sistema, não pela sua queda, mas pelo que expõe sobre os mecanismos ocultos de poder e riqueza.

E O GOVERNO? – Nesse tabuleiro, o governo Lula pode ganhar inesperado protagonismo. À frente do Ministério da Justiça, Ricardo Lewandowski tem nas mãos uma oportunidade rara de retomar o combate aos crimes do colarinho branco, área em que o país vinha colecionando frustrações.

Se o ministro apostar em investigações consistentes, com eventual cooperação penal internacional, a repercussão será inevitável. Afinal, as engrenagens da blindagem patrimonial são globais, e só podem ser compreendidas quando se conecta São Paulo a Nova York, Miami ou Luxemburgo.

Política, economia e justiça se encontram nesse ponto nevrálgico.

NOVA IMAGEM – O Brasil pode surpreender ao reverter a imagem de complacência com a corrupção, criando um contraponto direto ao estilo de Donald Trump, que não esconde a tolerância com desvios na elite empresarial.

Os desdobramentos são imprevisíveis, mas a simples perspectiva de vasculhar essas engrenagens já é suficiente para fazer a Faria Lima tremer.

È por isso que já afirmamos aqui na Tribuna da Internet, sempre com absoluta exclusividade, que o desdobramento dos casos do Banco Marques e do PCC pode funcionar como uma nova operação Lava Jato, centrada no mercado financeiro. Comprem pipocas, muitas pipocas.

 

Comprei pipoca para ver Bolsonaro condenado, mas continuar influindo…

Gonet é contra colocar agentes da PF dentro da casa de Bolsonaro | Política  | Valor Econômico

Bolsonaro começa a ser julgado na semana que vem

Hélio Schwartsman
Folha

Já comprei pipoca para assistir, a partir da semana que vem, ao julgamento de Jair Bolsonaro e de militares que o apoiavam por tentativa de golpe de Estado. Não há muita dúvida nem sobre o veredicto que será dado à maioria dos réus nem sobre a importância histórica desse juízo.

 Julgamento de golpistas no STF é avanço institucional, marca decadência política do ex-presidente, mas não zera sua influência eleitoral

SEM PUNIÇÃO – Um dos erros em série cometidos pelo Brasil foi o de nunca responsabilizar plenamente os militares pelas várias rupturas e viradas de mesa que promoveram ao longo de nossa não tão longa história democrática. Impunidade nessas situações é praticamente um convite à próxima intervenção.

Espera-se que a condenação agora eleve substancialmente o custo de ignorar as regras fundamentais da democracia e ponha fim ao ciclo de golpismo barato.

Politicamente, a situação é mais ambígua. É certo que o processo contra o ex-presidente, encimado pela assombrosa campanha de Eduardo Bolsonaro por sanções dos Estados Unidos contra o Brasil, marca uma redução da influência da família.

AINDA COM INFLUÊNCIA – Receio, porém, que os Bolsonaros, apesar da trajetória descendente, ainda conservem força suficiente para vetar candidaturas de direita, o que significa que não voltarão imediatamente para o campo da irrelevância política de onde não deveriam ter saído.

Em relação ao pleito de 2026, as coisas são ainda mais fluidas. A polarização transforma a disputa naquilo que meus colegas das páginas de esporte chamam de jogo de seis pontos. Perdas de um lado são ganhos para o outro e vice-versa.

No início do ano, o governo Lula parecia caminhar resolutamente para as cordas, mas as reinações de Dudu combinadas com preços de comida um pouco mais comportados recolocam o petista no jogo com boas chances.

LULA SEM GARANTIAS – Nada garante, contudo, que Lula não cometerá nenhuma tolice digna de Bolsonaros ou verá sua proverbial sorte revertida.

O que quer que aconteça na eleição, no plano institucional a condenação de golpistas representa inequívoco avanço, o que já faz valer a pipoca.

Tarcísio só disputará contra Lula se Bolsonaro lhe pedir pessoalmente

Tarcísio de Freitas não aceita sequer discutir o assuntoCaio Junqueira
da CNN

Interlocutores diretos do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, admitem o crescimento da pressão para que ele seja candidato à Presidência em 2026. Porém, nenhum cronograma do governo do estado foi alterado em razão do aumento dessa pressão. Assim, o planejamento segue sendo realizar as entregas previstas para 2026, independentemente do prazo de desincompatibilização que Tarcísio teria em 1º de abril, caso quisesse se candidatar ao Planalto.

A CNN conversou durante a semana com aliados próximos ao governador, que dizem que o plano de Tarcísio para o próximo ano continua sendo tentar a reeleição.

DOIS PONTOS – A pressão no Bandeirantes foi detectada a partir de dois pontos principais:

O primeiro, de partidos do Centrão, como PSD, MDB, União Brasil e PP, que ou não veem outro candidato competitivo para disputar contra Lula — caso de União e PP — ou desejam ver a vaga de governador aberta para ser ocupada por eles — caso de PSD e MDB.

O segundo, dos agentes econômicos, em especial da chamada “Faria Lima”, o centro financeiro do país, tradicionalmente avesso ao petismo e à agenda econômica de Lula.

CONSENSO ABSOLUTO – Os interlocutores diretos de Tarcísio dizem que ele só seria candidato se houvesse um consenso absoluto das forças políticas à direita em torno do seu nome — em especial, o aval e apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro e de sua família. E que não há nenhum sinal de que isso ocorrerá. Muito pelo contrário, todos os sinais lidos até agora no Bandeirantes são de que os Bolsonaro não desejam Tarcísio como candidato à Presidência.

Consultores próximos ao governador apontam que, sem esse apoio fechado do bolsonarismo, suas chances diminuiriam muito e ele correria o risco de perder uma reeleição praticamente garantida por uma aventura incerta rumo ao Planalto — ainda mais em um momento em que Lula começa a recuperar parte da popularidade perdida.

Será que Lula e PT entendem que o PCC é um gravíssimo problema?

Foto preto e banco de homem branco, cabelo curto, camiseta branca e com quatro silhuetas de pessoas atrás dele - Metrópoles

Este é Marcola, um dos líderes do PCC que estão presos

Mario Sabino
Metrópoles

O PCC parecia ser apenas problema de periferia em 15 de maio de 2006, quando saí de um restaurante da Faria Lima, onde havia almoçado com colegas de trabalho, e me deparei com a avenida em polvorosa.

O trânsito estava completamente parado, como se fosse a hora do rush, as buzinas soavam nervosas, os pedestres corriam de lá para cá. Perguntei ao manobrista do restaurante o que estava acontecendo. “O PCC está atacando São Paulo”, disse ele.

SEGURANÇA MÁXIMA – A facção respondia com uma ação de escala inédita à transferência de integrantes seus para presídios de segurança máxima, às vésperas do Dia das Mães.

Quase 20 anos depois, o PCC está na Faria Lima outra vez, mas dentro das suas torres, lavando bilhões de reais com fintechs. Tornou-se uma das organizações criminosas mais poderosas do mundo, associada a máfias europeias no negócio das drogas, com tentáculos no transporte público de São Paulo, no mercado de combustíveis e, como não poderia deixar ser, no mercado financeiro, um segredo de Polichinelo até a operação policial de sexta-feira.

A história de sucesso do PCC é a história do fracasso de um país. Assim como as facções adversárias, ele foi impulsionado pela ausência, pela incompetência e pela cumplicidade do Estado brasileiro, nas suas diferentes instâncias — cumplicidade ideológica, inclusive, porque a esquerda, que se mantém à frente do governo federal há quase duas décadas, com os breves interregnos de Michel Temer e de Jair Bolsonaro, vê bandido como vítima da sociedade capitalista.

CONTROLE TOTAL – O resultado está aí: depois de dominar os presídios do país, as organizações criminosas expandiram-se incontrolavelmente.

A coisa chegou a tal ponto, que, de acordo com um estudo conduzido por quatro pesquisadores de universidades americanas, publicado recentemente pela inglesa Cambridge University Press, 26% dos brasileiros vivem sob o domínio das facções, o maior índice da América Latina. São 50,6 milhões de cidadãos obrigados a se submeter cotidianamente às ordens dos facínoras.

Entre todas as organizações criminosas brasileiras, o PCC, além de ser a maior, é a mais profissionalizada. Altamente hierarquizada, funciona como um relógio e é a que mais está infiltrada na política, seguindo o caminho das máfias italianas.

VALOR DE MERCADO – Como os bilhões de reais que o PCC movimenta variam de fonte para fonte, perguntei ao Grok, a IA da rede X, qual seria o valor de mercado da facção, se ela fosse uma empresa, a partir das diferentes estimativas publicadas pela imprensa. É um exercício fantasioso, evidentemente, mas que serve para dar a sua dimensão.

A resposta foi a seguinte: Se o PCC fosse avaliado como uma empresa, o seu valor de mercado estimado, com base em seu faturamento anual e ativos, estaria na faixa de R$ 16 bilhões a R$ 24 bilhões, com um limite superior próximo aos R$ 30 bilhões, considerando o seu patrimônio.

ALTA CAPACIDADE – Esse valor reflete a sua capacidade de gerar receitas significativas (principalmente via tráfico de drogas e lavagem de dinheiro) e sua infiltração em setores econômicos formais, como combustíveis e mercado financeiro.

Não existe questão mais urgente no Brasil do que as organizações criminosas. A operação de anteontem deveria servir como o início do bom combate, não à exploração política.

Fica a pergunta: será que o PT e as suas linhas auxiliares entenderam mesmo que o PCC e as demais fações são um problema?

Moraes ordena vistoria em carros para impedir a fuga de Bolsonaro

Saiba o que a PF encontrou na casa de Bolsonaro

Até os porta-malas dos veículos têm de ser vistoriados

Thaís Barcellos
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou neste sábado que os carros que deixarem a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro, em prisão domiciliar, terão de ser revistados. Moraes também determinou monitoramento presencial da área externa da residência.

Segundo o ministro, as novas medidas são necessárias para impedir “qualquer possibilidade de fuga” do ex-presidente. Na semana que vem, Bolsonaro começará a ser julgado pelo STF pela tentativa de golpe de Estado.

ORDEM À PF – “Determino que a Polícia Penal do Distrito Federal, em complementação às medidas de monitoramento em curso, realize ‘vistorias nos habitáculos e porta-malas de todos os veículos que saírem da residência do réu, para fins de incremento nas atividades de monitoramento'”, disse, na decisão.

O magistrado afirmou que as vistorias deverão ser devidamente documentadas, com a indicação dos veículos, motoristas e passageiros e que os autos das vistorias deverão ser enviados à juízo diariamente.

Quanto ao monitoramento da área externa da casa, Moraes explicou que se refere à parte descoberta da propriedade, na área que faz divisa com outros imóveis devido a existência de “pontos cegos”.

LEI PENAL – Na decisão, o ministro do STF afirmou que a efetividade do monitoramento integral de Bolsonaro, determinada pelo próprio Moraes, exige a adoção de novas medidas “que conciliem a privacidade dos demais residentes do local e a necessária garantia da lei penal, impedindo qualquer possibilidade de fuga.”

A decisão ocorre após um relatório da Polícia Federal apontar que, em caso de intenção de fuga de Jair Bolsonaro, seria necessário o “acompanhamento in loco e em tempo integral das atividades do custodiado, e do fluxo de veículos na residência e de vizinhos próximos, únicas medidas hábeis a minimizar, de forma razoavelmente satisfatória, tais riscos”.

Depois, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal destacou, em ofício, que a existência de outras casas ao lado e nos fundos da residência do ex-presidente causa a existência de “pontos cegos” no monitoramento já realizado na frente da propriedade, também determinado por Moraes.

SINAL DA TORNOZELEIRA – A secretaria também apontou que, a depender da localização de Bolsonaro, o sinal da tornozeleira eletrônica pode ser interrompido ou ficar mais lento.

Já a Procuradoria-Geral da República não objetou a vigilância da área externa da casa, embora tenha se manifestado contra a presença de agentes na área interna da residência.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Sinceramente, o ministro Moraes é muito exagerado e criativo. A perseguição a que submete Bolsonaro é totalmente dispensável, parece uma forma de tortura psicológica para premiar um admirador de Brilhante Ustra, vejam como os peixes continuam morrendo pela boca. (C.N.)

Alto Comissariado e servidores da ONU comprovam genocídio em Gaza

Israel retoma fornecimento de tendas de campanha para Gaza — DNOTICIAS.PT

Refugiados ficam em tendas ao longo da Faixa de Gaza

Jamil Chade
do UOL

Em uma espécie de rebelião interna, centenas de funcionários das Nações Unidas escreveram uma carta para a direção da entidade fazendo um apelo para que a situação de Gaza seja oficialmente classificada como um genocídio por parte de Israel contra os palestinos. Quase dois anos após o início da crise e com 63 mil palestinos mortos, a ONU ainda não tomou uma posição oficial para como qualificar o que está ocorrendo em Gaza.

No documento, o grupo de mais de 500 funcionários pede que o alto comissário da ONU para Direitos Humanos, Volker Turk, mude de postura e alerta que o silêncio pode ser considerado como cumplicidade. A iniciativa ocorre num momento em que a ONU declarou oficialmente o estabelecimento da fome em Gaza e quando o número oficial de mortes chega a 63 mil palestinos.

ATO INÉDITO – A postura dos funcionários da ONU é inédita, ainda que, nos primeiros meses da ofensiva de Israel contra Gaza, um dos diretores da entidade tenha publicado uma carta no dia de sua aposentadoria alertando para o fracasso da instituição em qualificar a situação dos palestinos como um genocídio.

Na carta desta semana, os funcionários apontaram como os critérios legais para definir gaza como genocídio tinham sido preenchidos.

Em um dos trechos, os especialistas “expressam profunda frustração com a escala, o alcance e a natureza das violações relatadas e seu impacto sobre os civis, especialmente mulheres e crianças, e muitos estão preocupados com o fato de que a abordagem do Escritório da ONU corre o risco de minar a credibilidade da entidade como autoridade líder em direitos humanos para todos em todos os lugares”.

BASE EM RELATÓRIOS – Os funcionários consideram –com base em relatórios extensos dos mecanismos da ONU e de especialistas independentes — que a situação em Gaza “atende aos elementos da Convenção para a Prevenção e Punição do Crime de Genocídio e acreditam que o Escritório da ONU deveria refletir essa avaliação de forma mais explícita em suas comunicações públicas”.

Segundo a carta, os relatórios humanitários da ONU continuam a documentar as baixas civis em massa diárias, a destruição generalizada e as interrupções na assistência humanitária, resultando em fome forçada, morte e deslocamento.

2Os funcionários enfatizam que, com base nas evidências disponíveis e nas avaliações autorizadas dos especialistas nomeados pela ONU, bem como de profissionais jurídicos, o limiar jurídico previsto na Convenção sobre Genocídio foi atingido. Portanto, instam o Escritório da ONU a avaliar essas conclusões e a declarar publicamente a caracterização jurídica.

ATRASO – Reconhecimento do atraso. A equipe solicita que o Escritório da ONU reconheça as preocupações com o atraso em assumir uma posição clara e pública sobre a situação em Gaza e seu impacto na confiança na liderança da instituição.

Os funcionários solicitam que a ONU pressione publicamente os estados e outras entidades a suspenderem a venda e transferência de armas, bem como o apoio logístico ou financeiro relacionado às autoridades israelenses, o que constitui uma clara violação do direito internacional.

Segundo eles, o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos tem uma “forte responsabilidade legal e moral de denunciar atos de genocídio”. “A ONU foi fundada após a Segunda Guerra Mundial, incluindo o Holocausto, com o objetivo de impedir que tais atrocidades se repetissem”, alertam. “Deixar de denunciar um genocídio em andamento compromete a credibilidade da ONU e do próprio sistema de direitos humanos”, disseram.

FALHAS DA ONU – “Notavelmente, o silêncio durante o genocídio de Ruanda é frequentemente citado como uma das maiores falhas morais da ONU”, alertam.

A carta vem depois que relatores da ONU e entidades como a Anistia Internacional já optaram por chamar Gaza de genocídio. A ONU, porém, vem optando por apenas citar crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

A posição oficial da entidade é que apenas um tribunal pode chegar a essa constatação, já que a definição do genocídio envolve uma investigação para determinar que existe a motivação da morte de um grupo étnico.

DAR O ALARME – Em nota, o escritório de Direitos Humanos da ONU afirma que tem trabalhado “em circunstâncias muito difíceis — e enfrentando difamações e acusações de parcialidade, cumplicidade, antissemitismo, duplo padrão e muito mais — para tentar documentar os fatos no terreno e dar o alarme”.

O órgão garante que “tem havido e continuará a haver discussões internas sobre como avançar”.

“Sobre a questão da qualificação dos crimes, o Alto Comissário tem alertado –desde o início do conflito– para o risco elevado e crescente de que estejam a ser cometidos crimes atrozes no Território Palestino Ocupado, incluindo ao Conselho de Segurança da ONU”, afirma.

CRIMES DE ISRAEL – “Os crimes atrozes incluem crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio”, insiste.

De acordo com a nota, Turk também apontou repetidamente para as ordens da Corte Internacional de Justiça sobre os riscos de violações da Convenção sobre Genocídio e a necessidade urgente de cumprimento integral dessas ordens vinculativas e das obrigações da Convenção. “Ele tem chamado a atenção para a necessidade de prevenir o genocídio”, destaca.

Para eles, Gaza tem sido uma “mancha na consciência coletiva da humanidade”. “A comunidade internacional precisa se unir para pôr fim a esse horror insuportável”, completam.

NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Negar o genocídio em Gaza significa a mesma coisa que negar o Holocausto na Segunda Guerra. O governo de Israel precisa parar as atrocidades, que já foram longe demais. (C.N.)

Colocar policiais na casa de Bolsonaro seria abusivo e inconstitucional

Polícia Federal faz busca e apreensão na casa do ex-presidente Jair Bolsonaro em Brasília — Foto: Cristiano Mariz / O Globo

A casa está cercada, não há necessidade de ingressar nela

Wálter Maierovitch
do UOL

Por proposta do procurador Paulo Gonet, o ministro Alexandre de Moraes negou a representação formulada pela Polícia Federal a respeito da necessidade de se colocar, durante o tempo de duração da custódia domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, um agente no interior da residência, para comunicar a movimentação e eventuais indicativos de fuga, dadas como insuficientes a tornozeleira e a vigilância externa.

Toda medida restritiva da liberdade de locomoção deve estar baseada na necessidade e na urgência. No caso, a colocação de um policial federal na casa de Bolsonaro trata-se de exagero absoluto.

ABUSO DE PODER – Proposta abusiva e inconstitucional. Abuso, pois desnecessária e geradora de inconveniente espetacularização, às vésperas de importante julgamento do STF relativo ao processo criminal de tentativa de golpe de Estado.

Como se sabe, policiais encontram-se dentro do condomínio fechado onde reside o ex-presidente e, praticamente, na soleira da porta de ingresso da casa de Bolsonaro. Toda a casa está vigiada de fora, cercada e monitorada.

Basta alguém sair da casa para ser notado. E a polícia tem experiência para neutralizar toda tentativa de fuga, usando disfarce ou métodos imaginativos, cinematográficos, variados.

TUDO ERRADO – Um deferimento da representação da Polícia Federal pelo ministro Moraes acarretaria exposição desnecessária, com violação à garantia constitucional da privacidade, da intimidade, à véspera do julgamento do rumoroso processo no STF.

A casa, como regra, é asilo inviolável. Nossa Constituição garante isso. Aliás, uma garantia nascida na Inglaterra em razão dos abusos do poder real: “My house is my kingdom” (minha casa é o meu reino).

Gonet já afastou a presença de policiais dentro da casa de Bolsonauro. Espera-se, até segunda feira (1º), uma provocação da Procuradoria-Geral da República a fim de ser imposta, por decisão de Moraes, a prisão preventiva de Eduardo Bolsonaro. É claramente necessária.

PAI E FILHO – O inquérito que investigou ações atentatórias à soberania nacional, com negociações nos EUA voltadas a desestabilizar o nosso país e coagir autoridades, está concluído. Nesse inquérito, então indiciados o ex-presidente Bolsonaro e o filho-deputado Eduardo. Aliás, o rebento atua no interesse do pai, e não do Brasil. É um ventríloquo do pai, em panos de traidor da pátria.

Atenção. Nesse inquérito é que deverá ocorrer o requerimento do procurador-geral, Paulo Gonet, de imposição da prisão preventiva a Eduardo.

Pelos elementos contidos na investigação e as notórias e nefastas atuações criminosas de pai e filho, Gonet não deverá propor o arquivamento do inquérito.

O testamento lírico de Hilda Hilst, uma poeta-criança tão confundida

Paulo Peres
Poemas & Canções

A ficcionista, dramaturga, cronista e poeta paulista (1930-2004) Hilda Hist é considerada pela crítica especializada como uma das maiores escritoras em língua portuguesa do século XX. No poema “Testamento Lírico”, Hilda diz que sempre se perdeu, porque desde criança era confundida e, nesse sentido, responde aos que desejam saber o quanto ela pediu durante sua vida. 

TESTAMENTO LÍRICO
Hilda Hilst

Se quiserem saber se pedi muito
Ou se nada pedi, nesta minha vida,
Saiba, senhor, que sempre me perdi
Na criança que fui, tão confundida.
À noite ouvia vozes e regressos.

A noite me falava sempre sempre
Do possível de fábulas. De fadas.
O mundo na varanda. Céu aberto.
Castanheiras douradas. Meu espanto
Diante das muitas falas, das risadas.
Eu era uma criança delirante.

Nem soube defender-me das palavras.
Nem soube dizer das aflições, da mágoa
De não saber dizer coisas amantes.
O que vivia em mim, sempre calava.

E não sou mais que a infância. Nem pretendo
Ser outra, comedida. Ah, se soubésseis!
Ter escolhido um mundo, este em que vivo,
Ter rituais e gestos e lembranças.
Viver secretamente. Em sigilo
Permanecer aquela, esquiva e dócil.
Querer deixar um testamento lírico
E escutar (apesar) entre as paredes
Um ruído inquietante de sorrisos
Uma boca de plumas, murmurante.

Nem sempre há de falar-vos um poeta.
E ainda que minha voz não seja ouvida
Um dentre vós, resguardará (por certo)
A criança que foi. Tão confundida.

Ligação do PCC com Banco Master vai criar uma nova Lava Jato

A imagem mostra uma casa moderna iluminada à noite, com uma piscina em primeiro plano. A estrutura da casa é de dois andares, com grandes janelas que refletem a luz interna. Há uma área externa com mesas e cadeiras, além de plantas ao redor. O céu está escuro, indicando que é noite.

Mansão onde mora o banqueiro na verdade pertence ao PCC

Guilherme Seto e Lucas Marchesini
Folha

Mais da metade dos fundos do Banco Master, comandado por Daniel Vorcaro e que está em processo de venda para o BRB (Banco de Brasília), são administrados por Trustee DTVM e Reag Investimentos, empresas que foram alvos de operações nesta quinta-feira (28) contra a atuação do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de outras facções na cadeia produtiva de combustíveis e no setor financeiro.

Na avaliação de profissionais do mercado ouvidos pela reportagem, a operação mostra um possível ponto de fragilidade do Master no momento em que o Banco Central analisa a negociação com o BRB.

MAIORES PARCEIRAS –  Levantamento da Folha identificou que 18 dos 34 fundos declarados pelo Master em seu balanço são administrados por Trustee e Reag. Juntas, elas são as duas principais parceiras do banco.

Em nota, a assessoria de imprensa da instituição financeira de Vorcaro afirmou que “a Reag é uma prestadora de serviços do Banco Master, e tem como atividades a gestão e a administração de fundos. É uma entre outras entidades financeiras que prestam serviços nesta atividade. O Master é apenas um entre centenas de clientes da Reag.”

MANSÃO NO LAGO – Vorcaro tem relação próxima com as duas empresas. A casa em que ele mora e na qual faz reuniões de relacionamento político, em Brasília, tem ligações com a Reag, que administra cinco fundos operados pelo Master.

Reportagem da Folha mostrou que o imóvel de R$ 36 milhões foi adquirido por uma empresa que tem ligações com Vorcaro, a Super Empreendimentos, em 3 de junho de 2024. À época, seu cunhado, o advogado Fabiano Zettel, era um dos diretores da firma. A Super pertence a um fundo que é administrado pela Reag.

O Will Bank, que tem forte atuação no Nordeste e é parte central da operação de venda do Master para o BRB, foi comprado pelo Master em operação conjunta com a Reag, em 2024. O Will Bank é visto pelo BRB como aposta para entrar no mercado de serviços digitais e para ampliar a base de clientes nas classes C e D.

ALVO DA OPERAÇÃO – Listada na B3, a Reag confirmou ter sido alvo da operação e disse que está colaborando com a investigação. As ações da empresa caíam mais de 12% no Ibovespa nesta quinta em virtude da operação.

A Trustee DTVM, por sua vez, pertence a Maurício Quadrado, que foi sócio do Master, anunciou a venda de sua fatia no ano passado e hoje comanda o BlueBank. A Trustee administra 13 fundos ligados ao banco.

A gestora apareceu em polêmica recente envolvendo o Master, o empresário Nelson Tanure (próximo de Vorcaro) e Tércio Borlenghi Júnior, controlador da empresa de gestão ambiental Ambipar.

TROCA DE FAVORES – Segundo a área técnica da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a compra de ações da Ambipar por parte de fundos da Trustee no ano passado, que levou à valorização dos papéis em mais de 800%, teria sido uma “troca de favores” que fez com que a empresa aumentasse seu valor de mercado e o Master elevasse seu patrimônio.

Além disso, Tanure teria conseguido garantias necessárias para arrematar a Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) m leilão.

O colegiado da CVM, no entanto, acolheu recurso dos envolvidos e decidiu contra o parecer da equipe técnica.

Em nota, a Trustee disse ter renunciado à administração de fundos antes mesmo da ação desta quinta-feira por decisão da área de compliance “por desconformidade da atualização cadastral identificada há alguns meses”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A operação Carbono Oculto, maior ação desse tipo na história, segundo a Receita Federal, mobilizou 1.400 agentes em oito estados e busca desarticular a infiltração do crime organizado no setor de combustíveis e em instituições financeiras utilizadas como suporte dessa cadeia, envolvendo diretamente a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). É a segunda Lava Jato, que vai dar muito o que falar. O mercado financeiro está em polvorosa e os escritórios de advocacia explodem champagne. (C.N.)

Bolsonaro no banco dos réus: O legado de um Brasil que resiste

O julgamento do ex-presidente é  um divisor de águas

Marcelo Avelino Copelli
Revista Fórum  

O Brasil atravessa um momento decisivo em sua história democrática. O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, previsto para o próximo dia 2 de setembro, não trata apenas da responsabilização de um ex-chefe de governo acusado de graves crimes contra a democracia, mas também da reafirmação da força das instituições e da capacidade do país de resistir ao autoritarismo. Refere-se a um processo que ultrapassa o indivíduo e alcança a própria essência do Estado de Direito.

Bolsonaro enfrenta acusações graves, incluindo tentativa de golpe de Estado, organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do regime democrático. Se condenado, poderá enfrentar até quatro décadas de prisão. A Procuradoria-Geral da República tem sido incisiva na acusação, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) demonstra firmeza inabalável em suas decisões.

CONTRAPONTO – Essa postura é um contraponto fundamental diante de um histórico recente em que setores conservadores da política nacional testaram os limites da democracia, ora flertando com a ruptura institucional, ora pressionando o Judiciário em busca de impunidade.

Recentemente, o ministro Alexandre de Moraes determinou o reforço da vigilância na residência de Bolsonaro após a descoberta de um rascunho de pedido de asilo político na Argentina e informações sobre uma possível fuga para a Embaixada dos Estados Unidos.

Embora a defesa alegue que o documento não tem validade, o episódio expôs a fragilidade e imprevisibilidade do ex-presidente. Diante do peso das acusações, ele buscou alternativas fora do país, o que compromete sua imagem de “estadista”. A tentativa de transformar uma estratégia de fuga em argumento de perseguição política revela mais sobre a fragilidade da defesa do que sobre qualquer suposta arbitrariedade do Judiciário.

RESISTÊNCIA – A crise que se desenha não é inédita. A democracia brasileira já enfrentou ameaças semelhantes no passado: da quartelada de 1964 às tensões institucionais que marcaram o processo de redemocratização e os anos seguintes. Em todos esses momentos, a capacidade ou incapacidade das instituições de resistir à pressão definiu os rumos do país.

Hoje, novamente, o Brasil se vê diante da mesma encruzilhada — e, ao contrário de outrora, encontra um Supremo disposto a resistir firmemente, mesmo diante de ataques pessoais, ameaças digitais e sanções internacionais.

As mensagens privadas divulgadas pela Polícia Federal explicitam fissuras dentro da base bolsonarista, revelando disputas internas e desconfianças em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas para 2026. A revelação de transferências financeiras suspeitas para Eduardo Bolsonaro no exterior e a aproximação com líderes estrangeiros de extrema-direita reforçam a percepção de que o bolsonarismo buscou apoio externo para enfraquecer o Poder Judiciário. Contudo, tais articulações não foram capazes de impedir o avanço do processo, que segue rigorosamente dentro dos marcos constitucionais.

DESTAQUE – No plano internacional, a postura firme do STF contrasta com experiências recentes de democracias mais antigas, como a americana. Não por acaso, a revista The Economist destacou que o Brasil oferece aos Estados Unidos uma lição de maturidade democrática.

Enquanto a política norte-americana ainda luta para responsabilizar Donald Trump pelos eventos de 6 de janeiro de 2021, com a invasão do Capitólio, o Brasil demonstra que não há líderes acima da lei. Essa distinção projeta o país no cenário global como exemplo de que democracias jovens também podem ser resilientes, mesmo sob enorme pressão.

O julgamento de Bolsonaro é, portanto, mais do que um processo jurídico: é um divisor de águas. A escolha que o Brasil tem diante de si neste momento — entre justiça e impunidade, entre democracia e autoritarismo — terá efeitos de longo prazo sobre a política nacional e a confiança das futuras gerações em suas instituições.

GUARDIÃO – O Supremo, alvo de críticas e ataques, emerge como guardião último da ordem constitucional, reafirmando que a soberania nacional não pode ser negociada nem refém de pressões externas.

A maturidade de uma democracia se mede, sobretudo, pela capacidade de enfrentar seus fantasmas sem ceder ao medo ou ao populismo. Se o Brasil souber atravessar este julgamento com firmeza, transparência e respeito ao devido processo legal, não apenas reafirmará seu compromisso com o Estado de Direito, mas também enviará ao mundo uma mensagem poderosa: aqui, a democracia não se dobra.