Bolsonarismo e corrupção ameaçam a solidez da democracia no Brasil

Charge do Bira (Arquivo Google)

Josias de Souza
do UOL

Entre o final de 2022 e o início de 2023, o Brasil esteve à beira de uma ruptura institucional. O regime democrático reagiu. A maioria do eleitorado recusou-se a fornecer um novo mandato ao grotesco. Paisanos e fardados que supunham ser inatingíveis roçam as grades. Mas o enfrentamento ao golpismo ainda lida com resistências variadas. Eram dissimuladas. Tornaram-se ostensivas.

Estimulado por uma inusitada interferência de Trump, o golpismo bolsonarista se uniu ao velho patrimonialismo cleptocrata, nutrido com as verbas federais das emendas, para tentar recolocar a história na contramão. Desnudados pelos fatos, ambos os grupos preferem desfilar pela conjuntura pelados a aproveitar a oportunidade que as circunstâncias oferecem para que se recomponham.

CONTRA A SOCIEDADE – Ironicamente, conspiram contra a sociedade dentro do Congresso, templo da representação popular. Na semana passada, fecharam a Câmara e o Senado por 30 horas.

A psicanálise ensina que é difícil curar as neuroses de quem deseja o mal que o aflige. Numa democracia, o direito de se exprimir livremente não assegura o direito de ser levado a sério. Sobretudo para quem não convive pacificamente com a expressão de múltiplos pontos de vista.

O brasileiro assiste a um caso burlesco de resistência ao projeto democrático. O ódio ultrapassa a disputa política. Odeia-se a normalidade. A coalizão dos adeptos da virada da mesa com a banda que planta bananeira dentro dos cofres públicos serve ao país um ensopadinho indigesto. É feito de cacoetes, preconceitos e vícios insanáveis. A síntese da reação é Bolsonaro. Até anteontem, era apenas símbolo do golpismo. De repente, virou também uma oportunidade que o fisiologismo aproveita.

FALSO PATRIOTA – Enquanto isso, Eduardo Bolsonaro cavalga o mandato de deputado federal como um patriota do lado avesso. Cobra da Casa Branca novas sanções para livrar papai da cadeia. Insatisfeito com o caos, sonha com o pântano: “Se houver um cenário de terra arrasada, pelo menos eu estarei vingado desses ditadores de toga”.

Com a pose de vítima envernizada pela chantagem tarifária de Trump, o “mito” reitera a alegação de que não houve tentativa de golpe. Ora, ora, ora… Se não houvesse prova, dever-se-ia buscar o a absolvição de um inocente. Como as evidências em contrário são abundantes, restou o esperneio contra uma cadeia que chega a conta-gotas. A apreensão do passaporte, a tornozeleira, a prisão domiciliar… A cela é o limite.

A maioria do eleitorado manifestou, por meio das pesquisas, sua aversão à ideia de impunidade embutida na tese da anistia. É como se o brasileiro que rala para encher a geladeira imaginasse como seria viver num país alternativo: o Brasil que poderia ter sido se o golpe tivesse dado certo, e que por muito pouco não foi.

SELVAGERIA INÉDITA – O Brasil do golpe consumado seria um país de selvageria inédita. Uma nação desatinada para a qual nem as piores violências do passado pós-64 havia preparado a sociedade – e da qual nada a redimiria. As intenções estão materializadas em delação, testemunhos, minutas tresloucadas e planos confessados de fechamento da Justiça Eleitoral, anulação do resultado das urnas e assassinato dos eleitos.

À medida que se aproximam as sentenças, tenta-se criar um outro Brasil alternativo, tão inimaginável quanto o da fantasia do golpe jamais tentado. Um país fictício em que nada aconteceu. Nele, aceita-se a tese esdrúxula de que tudo não passou de um debate inocente sobre alternativas constitucionais para evitar a volta do bicho-papão do “comunismo”.

Até governadores com pretensões presidenciais decidiram atuar como coadjuvantes nessa ficção que nenhum autor de novela assinaria para não passar por improvável, mesmo que fosse contada como farsa.

De olho no que restou do espólio eleitoral do falso Messias, conservadores adultos agarram-se a um conto da carochinha que desafia a ingenuidade de uma criança de cinco anos.

VIRARIA HÁBITO – Levada às últimas consequências, a ficção transformaria a tentativa de golpe numa simples chacrinha embaraçosa. De embaraço, o golpismo passaria a hábito. De hábito, passaria a parâmetro. E, quando menos se esperasse, nada mais precisaria ser explicado ou punido nesse Brasil em que nada aconteceu.

Não é que golpistas e cleptocraras se recusam a aceitar a execução de futuras condenações criminais. É pior do que isso. A coisa não se limita à anistia ou à fuga do foro do Supremo, momentaneamente desprivilegiado. Vitaminados pelo oportunismo da banda larápia do Congresso, os golpistas rejeitam a ideia de aceitar a soberania popular e a honestidade como valores civilizatórios. Testam a resistência do próprio regime democrático.

Nenhuma outra democracia do mundo oferece tantas opções ideológicas como as que existem no Brasil: esquerda, meia-esquerda, um quarto de esquerda, liberal, social-democrata de bico rachado, centro, centrão, direita feijão com arroz, agrodireita, direita de Cristo… Há espaço para quase tudo, exceto para golpistas camuflados de patriotas.

8 thoughts on “Bolsonarismo e corrupção ameaçam a solidez da democracia no Brasil

  1. O cara esqueceu da cleptocracia do Mensalão, Lava Jato e assalto aos aposentados expurgada de seus pecados pelos atuais “defensores da Democracia”, expostos em praça pública internacional como atentadores contra os direitos humanos.

    Se esquecemos da bagaça, países com melhores níveis econômicos e de democracia, não.

    https://jornalgrandebahia.com.br/2025/08/colunista-do-wall-street-journal-acusa-stf-de-golpe-de-estado-e-critica-atuacao-de-alexandre-de-moraes/

    Não esqueçamos que exportadores de bananinhas, importamos corruptos assemelhados.

    É um pilantra, idiota ou inocente inútil?

  2. SIMÃO BACAMARTE, personagem de “O Alienista”, de Machado de Assis, e a sua Casa Verde, na verdade, afeiçoam-se à realidade política brasileira, mergulhada na criminalidade, gerada pela república do militarismo e do partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, com a imprensa falada, escrita e televisionada a bordo. “MÉDICO E LOUCO – Relembro: médico e cientista, Simão Bacamarte abre o hospício Casa Verde, em Itaguaí, e ao observar o comportamento dos habitantes da cidade, classifica quase todos os habitantes da cidade como loucos. Até que, ao questionar os limites entre sanidade e loucura, ele conclui que louco é ele por não perceber que a norma é a loucura e a sanidade, a exceção. Simão Bacamarte dá alta, então, aos seus pacientes e se interna no hospício que abriu. Troque-se loucura por democracia, e talvez Alexandre de Moraes um dia se dê conta de que, ao considerar tanta gente antidemocrática e ao atropelar a Constituição a pretexto de defender a democracia, o antidemocrático é ele.” A DIFERENÇA é que os loucos de Simão Bacamarte eram mais civilizados, mais mansos, mais pacíficos, mais inteligentes e mais democráticos que os loucos da seara política gerados no Brasil, há 135 anos, pela plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, que, salvo exceções, afeiçoam-se a uma horda gigantesca de “malucos”, mitomaníacos, egocêntricos, aloprados, porras-loucas, treteiros, doidos de pedra, violentos, agressivos, dissimulados, cheios de armações e esquemas, pra lá de nocivos ao erário e à boa convivência social, plutocracia essa made in USA, fantasiada de democracia apenas para locupletar os loucos mais esperto$ e ludibriar a crédula, tola e indefesa freguesia, na real, no frigir dos ovos, vítimas, reféns, súditos e escravos da dita-cuja engenhoca norte-americana, copiada mal e porcamente no Brasil pelo militarismo e o partidarismo, politiqueiro$, e seus tentáculos velhaco$, loucos de ativos, por dinheiro, poder, vantagens e privilégios, sem limite$, que, há 135 anos, operam livres, leves e soltos, à moda todos os bônus para ele$ e o resto que se dane com os ônus, capazes de tudo e qualquer coisa para lograrem os seus intento$, estado de coisa$ e coiso$ esse que, a meu ver, será possível conter colocando uma espécie de mata-burros, loucos, corruptos, mentirosos, ladrões e afin$ na porta de entrada da política e da administração pública, como proponho há cerca de 35 anos com a Revolução Pacífica do Leão, com projeto próprio, novo e alternativo de política e de nação, que mostra o novo caminho para o novo Brasil de verdade, confederativo, usando-se a confederação como instrumento de libertação do país, da política e da vida da população, sob a égide da Democracia Direta, com Meritocracia e Deus na Causa, dando-se assim adeus ao velho Hospício Brasil, da plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, em que pese a sensação de que , no caso, o louco da História do Brasil sou eu pelo fato de encarnar à missão quase impossível de convencer os loucos de pedra, alucinados por dinheiro, poder, vantagens e privilégios, sem limite$, a abortar a trajetória da bagaça bichada, e mudar de rumo do país, antes que o fim da dita-cuja revele-se uma tragédia total. Contudo, o show tem que continuar, mas a corrupção, a mentira, a má-fé, a enganação e a roubalheira tem que parar, senão nada irá mudar para melhor neste país de Deus Nosso Senhor que, às vezes, parece do Diabo… https://www.tribunadainternet.com.br/2025/08/11/considerado-paladino-da-democracia-moraes-e-apenas-um-tirano-enganador/?fbclid=IwY2xjawMIV6xleHRuA2FlbQIxMQABHvvK6hh0QhYB_lky1j3zx6ANHzJ35gcUAcwwAC3rf0ZdoOoPypZXdehYTiyz_aem_ec4bbICNdcOVG-FYq-fI2Q#comments

  3. Vamos esperar para o que resultará da reunião do Trump e Putin. Se o Trump nada conseguir, vai perder a face e ser muito criticado porque ele afirmou várias que terminaria a guerra da Ucrania em um dia!
    Isso deve afetar muito a sua liderança. E já falam que há grande chance de os republicanos perderem a liderança do congresso no próximo ano.
    Assim o Trump pode parar de querer mandar no mundo!

    • Não pode falar nada sobre o Narco, os patrões perdem a boquinha da Secom…

      E o joseca perde suas 30 moedas, e a dignidade…

      HA!HA!HA

      aquele abraço

  4. Esse tipo de jornalismo leva qualquer empresa ao fundo do poço.
    A credibilidade e confiança vai a nível zero.
    A parcialidade ao governo de plantão (qualquer que seja) não tem nada com o comportamento crítico esperado, sempre, daqueles que militam na imprensa.
    O Portal UOL tem dessas coisas…

    Curtinhas

    PS.: Melhor ficar calado
    É melhor calar-se e deixar que as pessoas pensem que você é um idiota do que falar e acabar com a dúvida.
    (Maurice Switzer)

    PS. 02: Afronta
    Lula afrontou embargo aumentando em 6.000% importação de diesel da Rússia.
    (Coluna Cláudio Humberto, 06/08/2025)

    PS. 03: Lula não telefona a Trump porque tem medo

    Tem um motivo bizarro a recusa de Lula (PT) de cumprir seu dever, como chefe de governo, de telefonar ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e tentar uma negociação de alto nível sobre o tarifaço: medo. Após declarar “apoio” à então candidata Kamala Harris, chamar o atual presidente de “nazista” e de fazer pregação tola e solitária contra o dólar, o medo do petista é ouvir o que não gostaria, tomar uma invertida do líder republicano, em eventual conversa.
    (Coluna Cláudio Humberto, 06/08/2025)

  5. Será que em algum momento da História do Brasil, saberemos onde foram parar as imagens das câmeras do Planalto do período entre 02 à 08 de janeiro de 2023?

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