
Francisco Alvim, um poeta bem-humorado
Paulo Peres
Poemas & Canções
O diplomata e poeta mineiro Francisco Soares Alvim Neto, em “História Antiga”, reconta poeticamente o caso do homem que queria um emprego público, uma história iniciada no Brasil com a carta de Pero Vaz de Caminha, na chegada das caravelas de Pedro Álvares Cabral.
HISTÓRIA ANTIGA
Francisco Alvim
Na época das vagas magras,
redemocratizado o país,
governava a Paraíba
alugava de meu bolso
em Itaipu uma casa.
Do Estado só um soldado
que lá ficava sentinela
um dia meio gripado
que passara todo em casa
fui dar uma volta na praia
e vi um pescador
com sua rede e jangada
mar adentro e saindo;
Perguntei se podia ir junto
não me reconheceu partimos
se arrependimento matasse
nunca sofri tanto jogado
naquela velhíssima jangada
no meio de um mar
brabíssimo.
Voltamos agradeci
meses depois num despacho
anunciaram um pescador
já adivinhando de quem
e do que se tratava
dei (do meu bolso) três contos
é para uma nova jangada
que nunca vi outra
tão velha.
Voltou o portador
com a seguinte notícia
o homem não quer jangada
quer um emprego público
O Amor da Rosa Branca
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Num certo mundo encantado havia um beija-flor
Que vivia muito ocupado a voar de flor em flor
Num constante vaivém, em repetidos clamores
Jurava sempre querer bem e amar todas as flores
Mas elas bem que sabiam que ele era louco pelo perfume
De uma rosa branca, o que causava a elas inveja e ciúmes
Um dia, porém, surgiu no jardim uma flor muito formosa
Pequena como o jasmin, e mais perfumada que as rosas
Com todo esse o seu encanto, logo o beija-flor seduziu
E a rosa branca, enciumada, de dor as pétalas tingiu
Seus dias então se tornaram sempre tristes e cinzentos
Sem que nela houvesse ao menos esperança ou alento
Certa manhã, porém, surpresa a rosa branca viu
Enxames de abelhas a voar, e um girassol que se abriu
Viu também milhares de jasmins, begônias, margaridas
Radiantes a festejar a primavera bem-vinda
Primavera! Primavera! Parecia a natureza clamar
E, por toda parte, fragâncias misturavam-se no ar …
De súbito a rosa branca viu num canteiro distante
Um pequenino beija-flor, falando às flores, galante
Um frisson incontido por suas pétalas correu:
Era ele que voltava, afinal, o seu amado Romeu!