O poder do silêncio: a lição de Vargas lembrada por Elio Gaspari

Presidente cultivava seus silêncios estratégicos

Pedro do Coutto

No artigo publicado ontem em O Globo e na Folha de S.Paulo, Elio Gaspari lembra que Getúlio Vargas demonstrou, em plena Segunda Guerra Mundial, que o silêncio pode ser mais estratégico do que qualquer discurso. Em 1942, Franklin Roosevelt pressionava intensamente o Brasil a ceder bases militares em Natal e Recife, pontos considerados vitais para a logística americana rumo à África contra o nazismo.

O Pentágono já tinha, como lembra Gaspari, o “Plan Rubber” pronto — um esboço de invasão do Nordeste caso a negociação diplomática fracassasse. Vargas, diante de um cenário que poderia ter transformado o Brasil em mero satélite de Washington, preferiu o caminho da paciência e da ambiguidade. “Ganhou a guerra calado”, escreve Gaspari, sintetizando a habilidade de um líder que soube usar a ausência de resposta como uma forma de poder.

ESTRATÉGIA – O silêncio de Vargas não foi um gesto de submissão, mas uma estratégia calculada. Ao não ceder de imediato, manteve margem de manobra e, quando autorizou a instalação das bases, fez isso em condições que reforçaram a soberania brasileira e asseguraram ganhos políticos e militares. Gaspari lembra que, com essa manobra, o país não apenas evitou a ocupação, como ainda saiu fortalecido na cena internacional, ingressando na guerra como aliado de peso.

O paralelo que Gaspari traça com o presente é revelador. As pressões externas não desapareceram; apenas mudaram de forma e intensidade. Se no passado a diplomacia americana se valia de notas, telegramas e ameaças veladas, hoje ela pode surgir em declarações públicas, tweets presidenciais ou sanções anunciadas em rede internacional.

A diferença está no estilo: enquanto Roosevelt combinava diplomacia firme com cautela estratégica, Donald Trump apostou em humilhações públicas e barganhas de balcão, numa lógica em que a comunicação é mais importante que a construção de confiança.

SILÊNCIO – Há, contudo, um ponto crítico a ser observado. O silêncio de Vargas no plano externo contrasta com o silêncio imposto no plano interno. A mesma habilidade de calar frente a Roosevelt vinha acompanhada, dentro do Brasil, de censura, repressão e autoritarismo. Ou seja, a tática que se mostrou virtuosa no campo diplomático tinha um reverso sombrio quando aplicada à política doméstica.

O ensinamento que Gaspari nos ajuda a revisitar, portanto, não é o de exaltar Vargas em bloco, mas o de compreender que a prudência e o cálculo podem ser mais eficazes que a retórica vazia quando se trata de defender os interesses nacionais.

Num mundo saturado de ruído, declarações impulsivas e confrontos verbais, a lição que emerge desse episódio histórico é clara: saber quando falar é importante, mas saber quando se calar pode ser decisivo. E como conclui Gaspari, talvez o maior legado de Vargas tenha sido mostrar que, diante das grandes potências, o Brasil não precisa se ajoelhar nem gritar — basta ter inteligência para escolher o silêncio certo, no momento certo.

5 thoughts on “O poder do silêncio: a lição de Vargas lembrada por Elio Gaspari

  1. Vargas, teria encampado o Banco da América do Sul e valores oriundos do Deutch Bank, pertencentes à brasileiros dentre os quais meu saudoso avô materno Victor Soares de Carvalho, assim atribuido calote à Alemanha!
    PS. Ao Banco Central, para “pronta” manifestação!

  2. Élio Gaspari, no ensaio sobre Getúlio, tenta um comparativo com as negociações com o presidente Rosevelt, para os EUA usarem a Base Aérea de Natal e de lá monitorar e destruir as embarcações alemães, que navegassem pelo Atlântico na política de expansão de seus domínios na Europa e África.

    Os tempos são outros. Getúlio não e Lula e Rosevelt nada tem a ver com o fabricador de factóides, mentiroso, vaidoso, senil, volúvel e mau caráter do Trump.

    Trump não quer conversa, não deseja diplomacia, o imperador americano, exige rendição pura e simples.

    Ele quer uma coisa e se não dá para ele, vem a Rebordosa de todo tipo. Tarifaço, sanções e até ameaça de invasão de território. Os tempos são novos e terríveis. O ogro quer inaugurar a política do grande porrete, o que significa apoio para a derrubada de presidentes que o contariam para colocar no lugar um capacho que faça a vontade dele.

    Nesse sentido de intervir na soberania alheia, os ventos sopram contra o governo Lula, com a continuidade do Golpe que fracassou, para derrubar ou eliminar o Chefe de Estado, agora com mais competência e planejamento militar, para uma nova etapa do Bolsonarismo no Poder com Bolsonaro ou um dos seus filhos, na cadeira presidencial do Palácio do Planalto.

    Depois, nós vamos pagar a conta do favorzinho que Trump vai oferecer.

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