Paulo Peres
Poemas & Canções
O jornalista, cronista, romancista, contista, ensaísta e poeta alagoano Lêdo Ivo (1924-2012), no poema “Recife, Poesia”, confessa que amou várias mulheres, mas seu amor por cidades, somente Recife obteve.
RECIFE, POESIA
Lêdo Ivo
Amar mulheres, várias.
Amar cidades, só uma – Recife.
E assim mesmo com as suas pontes,
e os seus rios que cantam,
e seus jardins leves como sonâmbulos
e suas esquinas que desdobram os sonhos de Nassau.
Amar senhoras, muitas. Cidade,
só uma, e assim mesmo com o vento
amplo do Atlântico
e o sol do Nordeste entre as mãos.
Felizes os jovens poetas que recebem
em seus corações
antes do amor e depois da infância
a palavra, a cidade Recife.
Felizes os poetas que podem
lembrar-se eternamente
das pontes que separavam: ia-se a noite
no Capibaribe, e as águas do Beberibe
te davam, ó Madalena
o meu primeiro verso.
Corola diante do mar,
bares da arte poética,
bondes, navios, aviões.
Cidade, meus pés transportam as tuas pontes
para margens versáteis.
Igrejas nos postais, namorados nos portais.
Recife de meu pai,
Recife que me deu a poesia sem que eu pedisse nada,
cidade onde se descobre Rimbaud,
a maresia de antigamente em meus olhos abertos.
Mulheres, inúmeras. Cidade, só uma
e assim mesmo diante do mar.
Morei na minha Olinda, perto de Nilópolis
No fim do mundo, numa casa de fundo
Havia lá um rio
que por irresponsabilidade e desmazelo
ficava entupido o ano inteiro
Meu meio de locomoção era o trem da Central
Entupido como lata de sardinha ou bloco de carnaval
Olinda… como posso te esquecer?
Um dia eu volto para te ver, coisa que nunca mais fiz
Por estar sempre ocupado nessa pobre cidade que se chama Paris