O que fazer com os milhões que querem votar na extrema direita por convicção?

Charges sobre democracia - 07/08/2020 - Política - Fotografia - Folha de  S.Paulo

Charge do Benett (Folha)

Fabiano Lana
Folha

Por décadas, o Brasil viveu um consenso ilusório e ingênuo. Imaginava-se que o fim de duas décadas de ditadura representaria a união de todo um País em torno da democracia e uma série de valores compartilhados. Que agora as tarefas da sociedade eram outras, mais práticas. Como superar a inflação, a miséria, a desigualdade. As disputas pelo poder seriam entre os grupos políticos mais capazes de lidar com a missão econômica e social.

Nessa utopia prestes a se realizar na cabeça dos ludibriados, o Brasil seria formado por um povo gentil e contaria com grandes artistas, cantores, compositores, atores, a dar bênçãos aos nossos administradores.

PT e PSDB – A eleição de Fernando Collor em 1990 foi considerada um equívoco de trajetória, logo corrigido com um impeachment. O Brasil, portanto, seria governado por duas agremiações sociais-democratas, o PT, que tendia mais ao socialismo, e o PSDB, mais próximo do liberalismo.

Mas essa visão rósea da sociedade deixava de fora milhões de pessoas que eram saudosas do regime militar, que não viam com bons olhos a progressiva liberalidade na questão dos costumes, que queriam políticas fortemente repressivas na segurança pública, que mantinham o trinômio “pátria, família e religião”. E, do ponto de vista da cultura, não viam gente como Chico Buarque, Caetano Veloso ou Gilberto Gil como ídolos musicais, muito pelo contrário.

NUM PRIMEIRO MOMENTO – Votavam no PSDB, num primeiro momento, pelo êxito do Plano Real; e, num segundo momento, não exatamente pelos valores dos tucanos, mas para evitar que Lula e o Partido dos Trabalhadores tivessem poder.

De alguma maneira, a paranoia anticomunista se manteve viva durante a Nova República e os tucanos e petistas eram igualmente alvos. O filósofo Olavo de Carvalho defendia essa tese em seus artigos, mas era visto apenas como um doidivanas. Publicamente, quase ninguém se dizia de direita – era o equivalente a um pecado.

Nem mesmo o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen, aceitava o rótulo. Direita era estar associado não só à ditadura. Mas também tinha a ver com insensibilidade social, truculência, falta de modos, anacronismo, falta de gosto – cafonice, enfim.

DIREITISTAS – Foram nesses momentos que o PT soube subjugar o PSDB, apenas taxando seus integrantes de “direitistas”. Os tucanos se deprimiam com a acusação e nunca reagiram efetivamente.

Foi preciso uma grande crise política, econômica e moral – a combinação de recessão e Lava Jato -, somada com o advento das redes sociais, onde cada cidadão é um palanque – para a verdadeira direita sair do armário, sob a liderança do até então obscuro deputado do baixo-clero, Jair Bolsonaro.

Agora, os direitistas tinham a opção de varrer do mapa tanto o petismo quanto o PSDB. Conseguiram com relação aos tucanos (sem contar os motivos internos da sigla).

NÃO É DEMOCRATA – Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente em 2018. A questão é que tudo indica que seu apreço pela democracia não seja verdadeiro, assim como o de boa parte de seus eleitores.

Hoje, com o líder prestes a ir para cadeia, bolsonaristas bradam que vivemos em uma ditadura. Ora, ditadura era o que eles queriam implantar e regime do qual têm nostalgia. Que o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, algoz de Bolsonaro, cometeu excessos, hoje pouca gente nega.

A questão é que odeiam Moraes não pelos seus erros, como as excessivas penas dos vândalos de 8/1/23, mas pelo acerto de possivelmente condenar os líderes golpistas malfadados, de dezembro de 2022.

HÁ UM DILEMA – Porém, a democracia tem um dilema. Como lidar com milhões e milhões de pessoas radicais, que votaram em Bolsonaro não apenas para evitar o PT, mas por consonância de ideias com o líder. Há quem defenda extirpá-los da sociedade, censurá-los, não publicar suas opiniões nos jornais, e até mesmo prendê-los. Ou seja, há quem proponha soluções autoritárias para acabar com o autoritarismo.

A política, por sua vez, parece caminhar em apresentar suas soluções. A direita cogita lançar candidatos sem o sobrenome Bolsonaro na disputa com Lula em 2026 – para o desespero e indignação do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que ainda sonha com essa possibilidade. A aposta centro-direitista seria evitar um Bolsonaro em disputa pela presidência para colher os votos dos bolsonaristas sem opção e dos moderados. O tempo vai dizer se a estratégia funcionará.

A tarefa passa também por convencer milhões de que o bolsonarismo – que tantos colocaram suas esperanças e convicções – na verdade, é um movimento político arriscado, regressivo e golpista. Convencer que, se o objetivo for encontrar um remédio para derrotar o petismo, o bolsonarismo tornou-se um veneno a contaminar toda a sociedade. E, por último e mais importante, de ponto de vista do consentimento: hoje, o bolsonarismo, por provocar ojeriza nos centristas, tem ajudado Lula e o PT a se reeleger.

17 thoughts on “O que fazer com os milhões que querem votar na extrema direita por convicção?

  1. Bolsonaro é o trapalhão travestido de direita.

    Ele não chega nem perto da verdadeira direita

    “O maior perigo é um governo incompetente travestido de direita. Nesses casos, o atraso e a roubalheira voltam com tudo e se fortalecem pela generalização”

    Faria Lima, que lucra em todos os cenários.

    PS

    PCC está presente desde o STF, passando pelo Agro e até a Faria Lima.

    • Estou “matutando ” Como uma merda de artigo como este pode fazer parte do portfólio da nossa querida TI…

      Caramba…é muito ruim …digamos com todas as letras ( me perdoe CN…) É digna de um idiota útil que nem sabe discernir o que seja Política…uma besta que escreve uma “perola da idiotice” como este “artigo da boca do lixo”…Na moral …nem vou citar mais nada.
      Que lixo…

      Assino: Carlos de Jesus

      YAH NOSSO CRIADOR E SALVADOR SEJA LOUVADO SEMPRE…

  2. Votem no Srº Ciro Gomes , o melhor , superior e mais preparado candidato para ocupar a Presidência da República do Brasil , que todos os pretensos candidatos a Presidência da República de todos os extremos da política Brasileira .

  3. O jornalista, em seu lampejo de genialidade, aponta para a “última bolacha do pacote”: Loola na cabeça. Que medo!
    Na sequência, oferece ao leitor uma análise tão rasa quanto um pires: crítica enviesada a quem ousa lembrar — com nostalgia ou simples lucidez — que o regime militar não aprovava a “progressiva liberalidade nos costumes”.
    Daí, conclui-se o óbvio ululante: desde 1985 vivemos no paraíso, um Éden tropical onde tudo deu certo.
    Afinal, o povo brasileiro — sempre tratado como criança de jardim de infância — precisa ser conduzido pela mão até a cabine eleitoral para não cometer a heresia de votar “errado”. Porque, veja bem, se errar, corre o risco de ressuscitar o espantalho da direita e reinstalar aquele terrível regime militar, o qual, segundo a cartilha oficial, foi a encarnação máxima do atraso, da improdutividade e da maldade nacional.

  4. E os milhões que votam na esquerda porque não vêm que só agem em interesse próprio e só sobem enganar os incautos. Uns cara que só falam em protege e em quase 26 anos é meio não fizeram nada para melhorar a vida dos mais necessitados. Um cara que critica a classe média e só anda com roupa de grife

  5. POBRES

    Pobre de direita é aquele que, desde criança, não importando o ambiente em que vive ou como ele é, estuda e se prepara para a vida, aspirando a um futuro melhor; pobre de esquerda é aquele que, desde criança, não importando o ambiente em que vive ou como ele é, prepara-se para um dia alegar que é uma pessoa excluída da sociedade e, por isso, exige dos que produzem, seja diretamente, pedindo esmolas e/ou roubando ou indiretamente, quando é o próprio governo que tira dinheiro da sociedade (via impostos) para, eleitoralmente, fornecer “auxílios” para tais vagabundos.

  6. POBRES

    Pobre de direita é aquele que, desde criança, não importando o ambiente em que vive ou como ele é, estuda e se prepara para a vida, aspirando a um futuro melhor;

    Pobre de esquerda é aquele que, desde criança, não importando o ambiente em que vive ou como ele é, prepara-se para um dia alegar que é uma pessoa excluída da sociedade e, por isso, exige dos que produzem, seja diretamente, pedindo esmolas e/ou roubando ou indiretamente, quando é o próprio governo que tira dinheiro da sociedade (via impostos) para, eleitoralmente, fornecer “auxílios” para tais vagabundos.

  7. O que fazer com os milhões que querem votar na extrema esquerda e no mesmo ladrão por conveniência, quando existem pelo menos cinco outros candidatos ?

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *