Ao que parece, Moraes enfim entendeu que já é tempo de distensionar

Alexandre de Moraes recebe 50% a mais de manifestações que Edson Fachin -  Estadão

Charge do Kleber Sales (Correio Braziliense)

Clarissa Oliveira
da CNN

Medidas recentes adotadas por Moraes em relação a Bolsonaro provocam debates entre magistrados da Corte sobre possíveis excessos nas decisões

Motor da escalada das tensões entre o bolsonarismo e o STF (Supremo Tribunal Federal), a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro ganha desdobramentos que vão muito além da restrição de liberdade imposta ao ex-presidente. Nos bastidores da Corte, ainda prevalece a ideia de que o ministro Alexandre de Moraes seguirá sendo respaldado por seus pares.

SUBJETIVIDADE –Mas a polêmica crescente desse caso é combustível para um desconforto que já vinha sendo manifestado sob reserva por alguns outros magistrados.

O incômodo tem menos a ver com a prisão domiciliar em si – tida como legítima, dadas as atitudes de bolsonaristas nas manifestações do último domingo – e mais com os acontecimentos que levaram a essa decisão. Por exemplo, a subjetividade das medidas cautelares impostas a Bolsonaro nas decisões anteriores de Moraes entra nessa lista.

Um ponto que aparece com frequência nas conversas de bastidores é a ideia de que a escalada das tensões tem potencial de impactar no andamento do julgamento sobre a trama golpista no Supremo.

DISTENSIONAR – Afinal, o tribunal trabalha com a ideia de encerrar o assunto ainda neste segundo semestre, para evitar que o tema se misture com o calendário eleitoral. E a prisão de Bolsonaro contribui para tirar foco da ação.

É nesse contexto que a ideia de distensionar ganha força. E, ao menos à primeira vista, o próprio ministro Alexandre de Moraes parece dar alguns sinais nessa direção.

É o que sugere a decisão anunciada mais cedo pelo próprio ministro, que autorizou previamente visitas dos filhos e familiares próximos de Bolsonaro durante a prisão domiciliar.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Moraes recuar? Gostaria que fosse verdade. O país está cansado dessa radicalização ridícula, que não leva a nada. (C.N.)

Datafolha: 36% dos brasileiros reprovam os ministros do STF e só 29% aprovam

Número de brasileiros que reprova o STF superou o dos que aprova.Fellipe Gualberto
Estadão

A maior parte dos brasileiros reprova a atuação dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). De acordo com pesquisa divulgada nesta terça-feira, 5, pelo Datafolha, 36% dos entrevistados consideram ruim ou péssimo o trabalho dos magistrados.

O estudo também constatou que aqueles que consideram as decisões dos juízes são ótimas ou boas somam 29%. Enquanto isso, 31% pensam que os ministros têm desempenho regular e 4% dos entrevistados não sabem opinar.

PRIORIDADE – Dentre os entrevistados, a maioria (68%) considerou que a Corte prioriza os próprios interesses e apenas 27% afirmaram que eles pensam em primeiro lugar na população.

A medição foi feita pelo instituto entre os dias 29 e 30 de julho, ou seja, antes de ser decretada pelo ministro Alexandre de Moraes a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), por desobedecer as medidas cautelares.

Após a prisão do ex-presidente, seus apoiadores e filhos desferiram ataques contra a Corte, afirmando que o Tribunal minou a democracia brasileira e pedindo o impeachment de Moraes. Os deputados Luciano Zucco (PL-RS) e Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) incentivaram seguidores a usar os termos “vingança não é justiça” nas redes sociais, para atacar o STF.

PETISTAS APOIAM – A pesquisa demonstrou que, dentre os bolsonaristas, 81% reprovam o trabalho dos ministros do STF e apenas 2% são favoráveis. Os petistas, por outro lado, são mais alinhados com a Corte: 59% têm avaliação positiva e 9% negativa.

A reprovação do STF subiu desde a última medição realizada pelo Datafolha. Em março de 2024, 28% dos brasileiros reprovavam a Corte e uma ligeira maioria, de 29% dos entrevistados, era a favor da atuação. Na ocasião, 40% dos participantes ainda consideraram os ministros com atuação regular e 3% não opinou

Desde a data, os embates entre o Supremo e atores políticos aumentaram. Oito magistrados da Corte chegaram a ser sancionados com a cassação de seus vistos americanos em retaliação ao processo que conduzem contra Jair Bolsonaro, investigando a participação do ex-presidente na tentativa de golpe de Estado.

Trump e Milei garantem o inesperado sucesso da nova direita radical

Javier Milei segue Donald Trump e vai retirar Argentina da OMS

Trump e Milei logo conseguiram avanços concretos

Marcus André Melo
Folha

O americano, mesmo enfrentando resistência, implementa partes relevantes de sua agenda, e o argentino caminha na mesma trilha

A ascensão de lideranças da direita radical tem gerado um paradoxo que desafia explicações tradicionais. Uma de suas características é a propensão a erros por serem outsiders, incapazes de construir coalizões, e pelo amadorismo de suas assessorias e projetos estapafúrdios.

Trump, no entanto, mesmo enfrentando resistência, conseguiu implementar partes relevantes de sua agenda. Na Argentina, Milei caminha na mesma trilha, embora enfrente obstáculos ainda mais profundos: detém apenas 15% da Câmara dos Deputados.

MUITAS PROMESSAS – Trump promoveu desregulação, caça aos imigrantes, reformas fiscais, guerra com as universidades e cortes radicais no orçamento. Na guerra das tarifas, os resultados alcançados até agora seguem – inclusive para o Brasil – um script claro: blefes e ameaças estapafúrdias seguidas de reestruturação radical vantajosa.

Contudo ele ganha perdendo: o sucesso na implementação da agenda tem sido acompanhado de fiasco político. Sua popularidade declinou, e a base de apoio se mostrou volátil.

Parte de sua sustentação veio de efeitos conjunturais: após o colapso de mercado em fevereiro, o índice S&P registrou muito mais que recuperação, estimulando uma percepção de aumento de bem-estar econômico. No entanto esse movimento se deu, em parte, pela antecipação de estoques por empresas temendo as tarifas impostas, efeito de fôlego curto.

DIZEM AS PESQUISAS – O apoio ao partido republicano caiu cinco pontos percentuais (de 48% para 43%) na primeira estimativa do agregador Strength in Numbers.

Os democratas aparecem com a perspectiva de fazer a maioria (222 cadeiras) na Câmara dos Deputados (mesmo descontando possível manipulação dos distritos eleitorais no Texas), e com chances similares de levar o Senado.

Tudo isso a despeito da declinante identificação com os democratas que está em baixa histórica (negativa para 63% do eleitorado). A brecha voto x aprovação nunca foi tão alta, segundo G Elliott Morris. Mais importante: os efeitos das tarifas sobre a atividade econômica e a inflação aparecerão no médio prazo.

E A ARGENTINA? – Milei apresenta um caso ainda mais instigante. Hiperminoritário e com enfrentamentos constantes com os governadores, tem, paradoxalmente, conseguido avançar em sua agenda de ruptura histórica com o passado.

Esse sucesso inicial se deve ao colapso virtual do país, viabilizando um outsider. Ele se apoia em mecanismo institucional peculiar: Lei Ônibus delegada que equivale a carte blanche por 12 meses (ao contrário de batalhas por PECs e PLs sucessivos, como no Brasil).

Aprovada como “última cartada para evitar colapso do país”, ela garantiu trégua. Ele enfrenta, no entanto, eleições de meio de mandato em outubro, o que suscitou mais que estremecimento –guerra aberta– das relações como governadores provinciais e ex-apoiadores, inconformados com a suspensão de transferências federais em ano eleitoral.

DIREITA EM ALTA – Apesar disso, as pesquisas apontam que 40% do eleitorado considera votar em candidatos alinhados a Milei, contra 27% da oposição. Isso pode indicar uma oportunidade de crescimento legislativo nas eleições seguintes, ainda que não garanta maioria.

Assim, cada família da direita radical enfrenta infortúnios tolstoianos a sua própria maneira, mas a de Milei tem tido menos atribulações.

Prisão de Bolsonaro irrita ministros do STF, isola Moraes e pode ser anulada

Depoimentos indicam que prisão de Bolsonaro virá rapidamente e parte da direita até torce por isso - Estadão

Prisão indevida de Bolsonaro desagrada ministros do STF

Mônica Bergamo
Folha

A prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) irritou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e deixou Alexandre de Moraes isolado na Corte. Magistrados inclusive que não participam do julgamento do ex-presidente na Primeira Turma, e também alguns que a integram, consideram que a decisão foi exagerada, desnecessária e insustentável do ponto de vista jurídico.

Com isso, dizem, o ministro debilita o STF justamente no momento em que a Corte, e especialmente ele próprio, estão sob feroz ataque de uma potência estrangeira, os EUA.

TEM APOIO –Embora Moraes siga com forte apoio dos colegas e reconhecimento pelo papel que desempenhou até agora e pelo preço pessoal que pagou na contenção de ataques à democracia, a impressão é a de que ele errou no caso específico.

A aposta, e esperança entre integrantes do Supremo é a de que Moraes pode reconsiderar a determinação que encarcerou Bolsonaro em prisão domiciliar. O problema seria a personalidade do ministro, que dificilmente dá o braço a torcer e não costuma seguir ponderações dos colegas.

Caso ele mantenha a decisão, os integrantes da Primeira Turma poderiam derrubá-la, o que não é considerado impossível, porém, muito difícil de acontecer.

SEM SENTIDO – Do ponto de vista técnico, magistrados ouvidos pela coluna consideram que não faz sentido Moraes afirmar, em decisão anterior, que Bolsonaro estava liberado para “proferir discursos em eventos públicos ou privados” e na sequência mandar prender o ex-presidente porque ele falou a manifestantes em Copacabana no domingo (3).

Neste dia, por meio de ligação telefônica transmitida em viva-voz por seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, o ex-presidente disse “boa tarde, Copacabana. Boa tarde, meu Brasil. Um abraço a todos. É pela nossa liberdade. Estamos juntos”.

Do ponto de vista político, integrantes do STF afirmaram à coluna que a decisão de Moraes teve o condão de quebrar o consenso que existia até então entre amplos setores do empresariado, da imprensa e da opinião pública de que os ataques do presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil estavam tendo respostas adequadas do STF.

ESTÁ MUDANDO – O vento estava a favor do Supremo e contra Trump e Jair Bolsonaro. Mas desde a segunda (4), dizem, começou a mudar.

Antes da prisão de Bolsonaro, diversas pesquisas mostravam que a população brasileira estava contra as atitudes de Trump que condenava a família Bolsonaro por causa do tarifaço. A reação de Lula em defesa da soberania brasileira também era aprovada pela maioria.

Até mesmo a decisão de Moraes de colocar tornozeleira em Bolsonaro foi aprovada pela maioria, que acreditava que ele poderia, sim, fugir do Brasil.

QUASE UNANIMIDADE – Empresários, economistas, cientistas políticos, advogados, diplomatas e ex-chanceleres eram praticamente unânimes em dizer que o norte-americano tentava submeter o país a uma chantagem e que Bolsonaro e seu filho estavam traindo a própria pátria.

Depois da decisão de Moraes, afirma um magistrado, a conta do tarifaço de Trump começou a cair no colo do STF. Editoriais de jornais, analistas e empresários passaram a criticar duramente a decisão de Moraes.

A defesa de Bolsonaro já recorreu para que o magistrado reconsidere a determinação.

A dívida infindável do país (e a nossa), na visão do poeta Carlos Nejar

Tribuna da Internet | E o poeta Carlos Nejar pagou alto preço pelo excesso  de amor a todas as coisasPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, ficcionista e poeta gaúcho Luís Carlos Verzoni Nejar, da Academia Brasileira de Letras, diz que nossa dívida já colocou até a eternidade à venda.

A DÍVIDA
Carlos Nejar

A dívida aumenta,
A do país e a nossa.

Cada manhã sabemos
que se acumula a dívida.
A grama que pisamos é dívida.
A casa é uma hipoteca
que a noite vai adiando.
E os juros na hora certa.

Ao fim do mês o emprego
é dívida que aumenta
com o sono. Os pesadelos.
E nós, sempre mais pobres,
vendemos por varejo ou menos
o Sol, a Lua, os planetas,
até os dias vincendos.

A dívida aumenta
por cálculo ou sem ele.
O acaso engendra
sua imagem no espelho
que ao refletir é dívida.

A eternidade à venda
por dívida.
A roça da morte
em hasta pública
por dívida.
A hierarquia dos anjos
deixou o céu por dívida.
No despejo final:
só ratos e formigas.

Trump terá candidato no Brasil na eleição de 2026, e a China também

Lula, Bolsonaro e Trump - Metrópoles

É certo que Trump estará atuante na eleição brasileira

Mario Sabino
Metrópoles

Donald Trump é um imperialista do século XIX que comanda os Estados Unidos do século XXI. Ambiciona que os americanos tenham uma hegemonia incontrastável, e o seu grande porrete é a economia da qual o mundo inteiro depende, além do poderio militar sem rivais.

Fazer os Estados Unidos grandes de novo é desenhar o mapa da geopolítica por meio da geoeconomia, um conceito que está longe de ser novidade. As sanções impostas pelo Ocidente à Rússia e ao Irã, por exemplo, são geoeconomia.

ANTIGLOBALIZAÇÃO – O aspecto surpreendente é Donald Trump usar a extraordinária força econômica americana como instrumento de coação de países aliados, penalizados com tarifas exorbitantes e a exigência de investimentos vultosos nos Estados Unidos para reverter a desindustrialização das últimas décadas, fruto amargo da globalização, na visão do presidente americano.

Todos terão de pagar um pedágio alto para usufruir do mais rico mercado do mundo. Todos terão de ajudar a cobrir o imenso déficit das contas governamentais americanas — não basta mais comprar títulos da dívida dos Estados Unidos, como já o fazem.

O resultado geopolítico da geoeconomia de Donald Trump é que foi abalado o sistema de alianças construído a partir do final da Segunda Guerra, e é improvável que volte a ser tão robusto como parecia ser até oito meses atrás.

UM EXPERIMENTO – O presidente americano também está fazendo um experimento, e o Brasil é a sua cobaia. Ao lado do tarifaço, ele decidiu lançar mão de um instrumento legal dos Estados Unidos, a Lei Magnitsky, para interferir na política do maior país da América Latina, região que julga ser o seu quintal e que a China deseja que passe à sua esfera de influência.

Na visão do presidente americano, o Brasil tem dois problemas: um presidente de esquerda e um presidente de esquerda que resolveu brincar de ser grande potência e que faz o jogo da China, por intermédio do Brics.

A hegemonia incontrastável pretendida por Donald Trump não admite governos de esquerda, seja no seu próprio país, seja além das fronteiras americanas, em quaisquer latitudes.

PAPEL DO MAGA – Para moldar ao mundo à sua imagem e semelhança, o presidente conta com um movimento com tentáculos internacionais, o Maga.

Ele tenta, assim, influenciar diretamente a política interna de nações europeias para colocar a direita dura no poder, mas lá o jogo é muito mais complicado.

A velha Europa conta com democracias consolidadas, nas quais os atores são partidos fortes, de variados matizes ideológicos, e eleitores politizados. Já na América Latina, onde a esquerda viceja, a história é diferente: as democracias são frágeis e os eleitores são apenas massa de manobra.

EFEITO BRASIL – No subcontinente, o Brasil pode servir não só de case forte, ótimo para ser replicado nos seus vizinhos, como oferece condições ideais para o experimento de Donald Trump.

O país espelha em ondas tropicais o quadro institucional dos Estados Unidos que Donald Trump pintava antes de ser eleito, e que ele quer pendurar na história oficial.

O Brasil tem um ex-presidente de direita, que afirma ter sido derrotado em razão de fraude eleitoral e que, acusado de tentar um golpe, é perseguido por uma Justiça que transbordou do seu leito institucional, em conluio com um presidente de esquerda.

E AS BIG TECHS – Para completar, há também o objetivo de censurar as big techs, cujas plataformas são essenciais para a difusão das vozes de direita, que têm acesso restrito ou quase nenhum nos meios de comunicação controlados pela esquerda.

Não importa se o quadro é falso ou se é verdadeiro até certo ponto. Nada mudará a visão que Donald Trump tem da situação brasileira.

Nas condições existentes hoje, mesmo com todo o seu poder, é impossível que o presidente americano consiga que Jair Bolsonaro se livre dos seus processos e se torne elegível em 2026. Não estamos mais no século XIX. Mas o presidente americano terá um candidato em 2026. E a China também.

O tabuleiro político de Bolsonaro e os limites da soberania nacional

Charge do Claudio (Folha de São Paulo)

Pedro do Coutto

A decretação de prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro pelo ministro Alexandre de Moraes marca um novo e delicado capítulo na história recente do Brasil. Não se trata apenas de um desdobramento jurídico de alta relevância, mas de um evento com forte impacto político interno e, sobretudo, com ressonância internacional.

O caso escancara os dilemas de um país que ainda lida com as cicatrizes de um governo controverso, agora envolto em questões legais, e evidencia as tensões que se agravam quando interesses estrangeiros parecem interferir em decisões soberanas. De acordo com reportagens de veículos como The New York Times, El País e Le Monde, o caso tem sido acompanhado de perto por observadores internacionais.

DESRESPEITO – A prisão domiciliar, decretada sob a justificativa do descumprimento de medidas coercitivas, é interpretada por aliados do ex-presidente como mais um sinal de perseguição política. No entanto, como destaca a decisão do STF, Bolsonaro desrespeitou medidas impostas pela Justiça brasileira, o que reforça a gravidade institucional da sua postura enquanto ex-chefe de Estado.

Paralelamente, ganha força nos bastidores a atuação de Eduardo Bolsonaro, deputado federal e filho do ex-presidente, atualmente nos Estados Unidos, em articulações junto a setores do governo Trump. A presença de Eduardo no exterior e sua interlocução com lideranças republicanas norte-americanas acende um sinal de alerta.

Cresce entre bolsonaristas a expectativa — ainda que fantasiosa — de que uma eventual pressão da Casa Branca possa resultar em algum tipo de “liberação” judicial que permita Bolsonaro disputar novamente as eleições no Brasil. É nesse contexto que se insere o movimento pró-anistia, impulsionado por setores da direita, mas que inevitavelmente se choca com os princípios fundamentais da soberania nacional e da separação entre os Poderes.

SOBERANIA – A tentativa de condicionar uma decisão judicial brasileira a interesses ou pressões internacionais fere não apenas o bom senso, mas também o próprio Estado Democrático de Direito. Nenhum país soberano pode aceitar que suas instituições judiciais sejam instrumentalizadas por forças externas, muito menos quando se trata de julgar um ex-presidente acusado de violar regras impostas pelo seu próprio sistema legal.

O pano de fundo dessa crise é ainda mais tenso diante do agravamento das relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos, especialmente após a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros por parte do governo Trump. O chamado “tarifaço” tem sido visto por analistas como um gesto político, mais do que econômico, e pode estar inserido no contexto das aproximações ideológicas entre os bolsonaristas e o núcleo duro da direita norte-americana.

Em outras palavras, o uso da política comercial como instrumento de pressão reforça a percepção de que há, sim, tentativas externas de influenciar o ambiente interno brasileiro. Diante desse cenário, a atuação dos advogados de Bolsonaro precisa ser vista com cautela.

ESTRATÉGIA RETÓRICA – O argumento da perseguição política, embora usual em casos de líderes populistas confrontados pela Justiça, perde força diante de fatos concretos, como o descumprimento reiterado de decisões judiciais. A estratégia retórica pode ter apelo junto à base bolsonarista e mesmo ressonância em certos setores da opinião pública internacional, mas não resiste à luz do devido processo legal.

A cobertura da imprensa estrangeira tem sido clara ao enfatizar o equilíbrio necessário entre a liberdade política e a responsabilidade legal. Nenhuma democracia madura pode tolerar que seus líderes passem impunes por violações institucionais — muito menos quando há evidências de desrespeito à autoridade do Judiciário. O caso Bolsonaro, assim, deixa de ser apenas uma questão doméstica e se transforma em um teste crucial para a robustez das instituições brasileiras.

EVIDÊNCIAS – O futuro político do ex-presidente está, portanto, condicionado não a pressões internacionais ou mobilizações populares, mas ao funcionamento regular do Estado de Direito. O Brasil precisa afirmar, com clareza, que suas decisões judiciais são tomadas com base em evidências, não em simpatias ideológicas nem em interesses de potências estrangeiras. A independência da Justiça, o respeito à Constituição e o compromisso com a verdade devem ser os únicos norteadores de um país que se pretende democrático.

Neste momento crítico, cabe à sociedade brasileira — e às suas lideranças — rejeitar qualquer tentativa de chantagem política, interna ou externa, em nome de uma falsa conciliação. A anistia, se vier a ser debatida, precisa nascer do diálogo nacional e do reconhecimento de erros, e jamais de pactos velados com potências estrangeiras que desprezam a autodeterminação dos povos. O Brasil, para seguir adiante, deve reafirmar que sua Justiça não está à venda.

É hora de Tagliaferro contar tudo o que sabe sobre ilegalidades de Moraes

Quem é o ex-assessor de Moraes que promete ‘revelar tudo’ sobre o ministro

Tagliaferro é uma nova versão de O Homem que Sabia Demais…

Deu na Gazeta do Povo

Eduardo Tagliaferro, o ex-assessor do Tribunal Superior Eleitoral cujas mensagens, trocadas com dois juízes que assessoravam Alexandre de Moraes no STF e no TSE, revelaram o uso da estrutura do Judiciário para perseguição política a críticos dos tribunais superiores, está prestes a ser o único a pagar por um escândalo que, em um país normal, levaria à queda de todos os envolvidos.

Mas ele provavelmente sabe muito mais do que veio à tona até agora, por meio de reportagens publicadas no jornal Folha de S.Paulo em 2024.

MENSAGENS  REVELADORAS – A Gazeta do Povo, em apuração exclusiva, analisou mensagens trocadas entre Tagliaferro e sua atual esposa, na qual ele afirmou temer por sua vida. No dia 17 de abril, publicou texto dizendo que as conversas ficaram todas disponíveis para acesso nos sistemas do STF por duas semanas, até que fossem retiradas do ar na tarde daquela quarta-feira, dia 16 de abril – e foram bloqueados inclusive até mesmo diálogos entre o ex-assessor e seu advogado que haviam sido divulgadas, em uma violação grotesca do sigilo profissional.

À esposa, Tagliaferro afirmou que “hoje, se eu falar algo, o Ministro [Moraes] me mata ou me prende”, usando o exemplo de Mauro Cid, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro.

UMA VERDADE –  “Veja pelo Cid, falou em um grupo privado, algo que nem seria crime, somente comentou uma verdade, o fdp [outra referência a Moraes] mandou prender ele de novo”.

O assessor ainda acrescentou que “minha vontade é chutar o pau da barraca, jogar tudo para o alto. Meter o louco e não fazer mais nada, mas não posso, tenho as meninas” – uma referência a duas filhas adolescentes.

Na época das mensagens, Tagliaferro não era mais assessor do TSE, tendo sido demitido da Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED) em 2023 após ser detido por suposta violência doméstica contra a ex-mulher”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É tanta sujeirada que fica difícil imaginar como este país continua de pé, hígido e se desenvolvendo devagar e sempre, com essas autoridades que só sabem explorá-lo de forma vergonhosa, vejam agora Lula reclamando que receber R$ 46 mil por mês, sem gastar um centavo e detonando o cartão corporativo presidencial, ainda é pouco. Por que não volta a ser metalúrgico, companheiro? (C.N.)

Prisão de Bolsonaro deve antecipar novas sanções dos EUA contra STF

Charge do JCaesar: 21 de julho | VEJA

Charge do JCaesar (VEJA)

Johanns Eller
O Globo

A determinação da prisão domiciliar de Jair Bolsonaro pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes precipitará novas sanções dos Estados Unidos contra autoridades da Corte e do Judiciário, segundo aliados do ex-presidente com interlocução junto à Casa Branca de Donald Trump.

Antes da ordem de Moraes, a expectativa no bolsonarismo era de uma trégua na ofensiva americana sobre o Supremo, para, nas palavras do ex-apresentador Paulo Figueiredo, deixar o “sistema digerir” as sanções impostas ao ministro pelo governo Trump no âmbito da lei Magnitisky, chamada informalmente de “pena de morte financeira”.

ISOLAMENTO – A expectativa de Figueiredo, de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e dos aliados mais próximos era de que as medidas de Trump levassem os ministros do Supremo a reavaliar o apoio que tem dado internamente a Moraes, levando a um isolamento dele na Corte.

Imaginavam, ainda, que esse movimento facilitasse a votação do projeto que anistia os presos do 8 de janeiro na Câmara dos Deputados, que já tem assinaturas suficientes para ser analisada no plenário em regime de urgência, mas foi deixado em banho maria pelo presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB).

Caso a Corte e o Congresso brasileiro não recuassem, os bolsonaristas sempre previram a inclusão de outras autoridades do Judiciário na lista da Magnitsky – como o decano do STF, Gilmar Mendes, o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, e o procurador-geral da República, Paulo Gonet.

ANTECIPAÇÃO – Com a prisão domiciliar de Bolsonaro, essas etapas deverão ser antecipadas, apostam aliados com quem a equipe da coluna conversou logo após a prisão.

O ministro do STF foi incluído na lista da Magnitsky na última quarta-feira (30) após meses de especulações. Desde março, quando se licenciou do mandato para ficar nos Estados Unidos em uma espécie de autoexílio, o deputado Eduardo Bolsonaro ameaçava com a inclusão de Moraes e de outros ministros do Supremo entre os sancionados pela lei.

Depois que Trump anunciou o aumento das tarifas sobre os produtos brasileiros para 50%, exigindo como contrapartida o fim do processo contra Bolsonaro, e ainda incluiu Moraes na Magnitisky, integrantes do Supremo e aliados do ex-presidente em Brasília tentaram engatar uma conversa de bastidores com vistas a buscar algum tipo de acordo.

SEMANA PASSADA -Um desses encontros se deu no início da semana passada, quando as sanções da Magnitisky já eram esperadas, mas não estavam em vigor ainda. Lideranças do PL tomaram um café da manhã com o decano do STF, Gilmar Mendes, para discutir a situação.

A conversa, porém, foi definida pelos dois lados como ‘muito ruim”, porque Gilmar disse que o Supremo não recuaria e não aceitaria, por exemplo, enviar os processos dos golpistas e do 8 de janeiro para a primeira instância – e os bolsonaristas, por sua vez, diziam que não poderiam evitar as sanções.

Na abertura do segundo semestre do Judiciário, o ministro Alexandre de Moraes disparou contra os Bolsonaro em seu discurso no Supremo. Para o magistrado, a ofensiva de Eduardo nos EUA reflete a ação de “uma organização criminosa que age de maneira covarde e traiçoeira” com o objetivo de “tentar submeter o funcionamento do STF ao crivo de autoridade estrangeira”.

NÃO SE VERGARÃO – Moraes declarou, ainda, que a Corte, a Procuradoria-Geral da República (PGR) e a Polícia Federal “não se vergarão a essas ameaças”.

Bolsonaro já estava submetido ao monitoramento por tornozeleira eletrônica e o recolhimento domiciliar noturno desde o último dia 18.

Segundo Moraes, ele desrespeitou as medidas cautelares impostas pelo STF no último final de semana, em especial quando o ex-presidente se dirigiu a apoiadores através de uma ligação de vídeo com o filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e outra chamada com o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) durante atos bolsonaristas no Rio de Janeiro e na Avenida Paulista, em São Paulo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A quem interessa esse tipo de impasse. O Brasil é um dos países que mais podem se beneficiar da disputa entre Estados Unidos e China/Rússia, porque tem condições de negociar com os dois grupos simultaneamente. Mas a curta visão de Lula, de Moraes e dos bolsonaristas favorece o confronto, e quem sai perdendo são os brasileiros, como um todo. (C.N.)

Trump sonha com a “lavagem cerebral” que o faça dominar o Brasil e o mundo

Donald Trump, novo presidente dos Estados Unidos da América - Embaixada e Consulados dos EUA no Brasil

Trump não vai conseguir dobrar o governo brasileiro

 Vicente Limongi Netto

O jogo continua, bruto e desleal, entre Donald Trump e o Brasil. O Brasil procura jogar limpo, desde o início da partida. Trump parte para cima, bate de bico na virilha do Brasil. A tônica do script é enfadonha e patética. Lavagem cerebral de Trump é insistente. Mas não cola.

O presidente norte-americano, desde o início do arranca-rabo com a ameaça do tarifaço de 50%, mandou às calendas a diplomacia e a economia. O indecoroso jogo é político. Surrada e risível a postura do presidente norte-americano.  De causar rebuliço na alma de eternos humoristas, como Chico Anisio e Jerry Lewis.

O VILÃO É MORAES – As pantomimas de Trump estão levando parte expressiva do Brasil a achar que a família Bolsonaro é composta de santos imaculados e inatacáveis. Merecedores de bustos em praças públicas. O vilão que precisa ser punido e execrado é o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. O capeta é a Suprema Corte brasileira.

Trump costuma falar grosso com a Suprema Corte americana. Aqui, é perda de tempo e de saliva. O busilis é mais embaixo. A soberania brasileira exige respeito. Em vão, se jogar pedras no STF. O rosto de Trump vai acabar ficando mais vermelho e suado do que as gravatas vermelhas que usa.

PASSOU DOS LIMITES – É desaforo sem tamanho um chefe da nação meter o bedelho em decisões jurídicas de outros países. Trump não enxerga nem admite que passou dos limites civilizados e diplomáticos.

 O clã Bolsonaro, por sua vez, apoiado pelo Partido Liberal, segue obedecendo cegamente o plano do patrão, Trump. Usam o pai e ex-presidente Bolsonaro para infligir as normas impostas pelo ministro Alexandre de Moraes, apoiadas pela maioria do colegiado. Jogam o entulho do mal feito no ar.

Prontamente Moraes agrava e impõe novas sanções a Bolsonaro. Desta vez, rigorosa prisão domiciliar.

EM CENA ABERTA – Com o show montado, ingressos vendidos, é a vez dos bolsonaristas entrarem em cena. Como atores e atrizes de quinta categoria, é a vez dos boquirrotos e ferozes algozes de Alexandre de Moraes.

Choram pitangas ao mundo. Alegam que a prisão domiciliar é afrontosa e vingativa. Com eleições batendo na porta, os sinistros bolsonaristas sabem que decisões de Moraes ganham boas migalhas do noticiário políticos. Alexandre de Moraes prossegue inabalável a pressões e ameaças. Atuando serenamente, dentro dos autos. O jogo segue pesado. Sem hora para acabar.

As sobras ruins vão para os bolsos dos cidadãos. Alimentos encarecendo mais. Todos eles. Famílias de mendigos, com crianças chorando, com fome, se acumulam nas portas de restaurantes, bares, lanchonetes e hotéis. Eis nosso retrato.

Ex-assessor Tagliaferro entrega provas contra Moraes para TV internacional

Não existia alternativa de deixar de fazer', diz perito sobre ordens de  Alexandre de Moraes ao TSE - Estadão

Ex-assessor diz era obrigado a aceitar as ilegalidades de Moraes

Deu no Pleno.News

O ex-assessor de Alexandre de Moraes no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eduardo Tagliaferro, declarou, nesta segunda-feira (4), que entregou provas contra o ministro para uma emissora internacional de televisão. A declaração foi feita em entrevista ao programa Show da Manhã, da plataforma Fio Diário.

– O material já está com uma grande emissora internacional em avaliação, deve estar estourando aí por uma semana, acredito, mas espero que até sexta-feira [seja divulgado] – disse Tagliaferro.

E continuou: – Então, já que tudo já foi entregue para quem tem que jogar no mundo, então, agora eu posso falar, porque agora, se algo me acontecer, o material já está entregue e será divulgado.

CHEFE DA ASSESSORIA – Tagliaferro chefiou a Assessoria Especial de Enfrentamento à Desinformação (AEED), órgão criado em 2022 pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o objetivo de combater a desinformação durante o processo eleitoral.

Fora do Brasil, o ex-assessor começou a dar entrevistas dizendo que tem provas que mostram que recebeu ordens do ministro para investigar e monitorar pessoas, sendo que todas elas eram ligadas à direita. Em outra entrevista, ele chegou a dizer que irá provar que houve abusos durante as eleições de 2022 por parte de seu ex-chefe.

Vale lembrar que desde 2024 Tagliaferro é investigado por causa do vazamento de conversas. Para a Polícia Federal, ele “praticou, de forma consciente e voluntária, a violação do sigilo funcional” ao enviar para um jornalista as trocas de mensagens entre ele e outros servidores do setor.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Como se vê, Moraes cometeu erros incríveis, que agora abrem sua guarda e permitem que seja atacado por cima, no caso de Trump, e por baixo, no caso do ex-assessorTagliaferro. Tudo indica que Moraes terá um final melancólico, pois seus erros judiciais começaram na libertação de Lula, depois na cassação do deputado Deltan Dallagnol (Podemos-PR). Na verdade, a biografia jurídica de Moraes se tornou um festival de asneiras que em breve vai acabar, porque até no Supremo ninguém aguenta mais.
(C.N.)

Ação de Trump causa curto-circuito no patriotismo de fãs de Bolsonaro

Cartum: quadrinhos, tirinhas e charges - 19/09/2024 | Folha

Charge do Claudio Oliveira (Folha)

Josias de Souza
do UOL

As manifestações de domingo revelaram que a deficiência do bolsonarismo não está nas ruas. Os atos tiveram boa presença nas capitais e no interior. O principal déficit do movimento está localizado entre as orelhas de Eduardo Bolsonaro. Ao atrair Trump para a arena política do Brasil, Eduardo provocou um curto-circuito no patriotismo dos devotos do seu pai.

Manifestantes enrolaram-se na bandeira dos Estados Unidos. A imagem de Trump foi cultuada em cartazes. Continham mensagens de agradecimento pelas sanções financeiras contra Alexandre de Moraes. Governadores de direita com pretensões presidenciais preferiram não comparecer. Proibido de sair ao meio-fio nos finais de semana, Bolsonaro também não foi ao microfone.

EFEITO EDUARDO – É devastador o resultado da campanha de Eduardo junto a Trump para livrar o pai da cadeia. Aumentou o rol de crimes atribuídos a Bolsonaro. Instalou uma tornozeleira na perna dele. Induziu a Casa Branca a adotar um tarifaço que, na opinião de 89% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha, prejudicará empresas e empregos no Brasil. Mandou para as calendas a ideia de anistia, repudiada por 61% dos brasileiros.

Com sua astúcia, Eduardo tirou Bolsonaro do palanque, afugentou governadores e taxou o capital antes de Lula. De quebra, despertou o patriotismo da esquerda. Parte da militância petista vestiu verde, amarelo e azul no encontro nacional do PT, no final de semana. As cores da bandeira como que diluíram o vermelho tradicional.

O PL deveria considerar a hipótese de abrir uma investigação interna. A essa altura, convém não descartar a hipótese de que Eduardo Bolsonaro seja um comunista infiltrado, cuja missão é usar o imperialismo ianque para aniquilar a direita brasileira.

Muita gente que não tolera Bolsonaro também não engole Moraes

Ação de Bolsonaro contra Alexandre de Moraes gera onda de ataques a  ministro nas redes | Sonar - A Escuta das Redes - O Globo

Moraes e Bolsonaro são iguais e têm alma de ditadores

Joel Pinheiro da Fonseca
Folha

A prisão domiciliar de Bolsonaro —não por algum crime que tenha cometido, e sim por ter feito uma mensagem para as redes sociais— ilustra uma dinâmica comum: o Supremo impõe restrições abusivas e a direita desafia o Supremo porque quer derrubá-lo. Estamos vendo o choque entre duas visões inconciliáveis que promete escalar ainda mais.

Para uma, vivemos o ataque constante à democracia pela extrema direita. Contra isso, o Supremo não pode assistir inerte enquanto as instituições do país são nocauteadas. Lugar de golpista é na cadeia e quem se indignar com isso é porque está do lado do golpe.

DITADURA CLARA – Para o outro, vivemos a ditadura do Supremo, em que um ministro pode determinar tudo o que quiser sem limite algum. Determina investigações, censura e prisões contra a direita e quem ousar tecer críticas às urnas eletrônicas. É vítima, investigador e juiz; prende ou solta com base em posts nas redes sociais. Se acostumou a dar ordens ilegais e depois punir duramente quem as descumpre.

E se ambas as visões estiverem erradas? Um resultado surpreendente do Datafolha indica essa possibilidade.

Uma maioria de 55% dos eleitores são contrários à anistia aos presos do 8 de janeiro e uma pluralidade de 47% é favorável à suspensão do visto americano de Moraes (contra 42% contrários). Muita gente que não tolera Bolsonaro e também não engole Moraes.

JULGAMENTO VÁLIDO – Bolsonaro comprovadamente buscou convencer generais a endossar um golpe e fez acusações falsas de fraude nas urnas para tentar invalidar a eleição. Sua PRF (Polícia Rodoviária Federal) tentou bloquear o acesso de eleitores às urnas.

Ao fim da história, seus seguidores mais fanatizados invadiram os Três Poderes na esperança de provocar a sonhada intervenção militar. Não há perseguição nenhuma em levá-lo a julgamento.

Moraes também não fez por menos. Os abusos se somam desde a censura a uma matéria da Crusoé em 2019. Proibição de uso das redes sociais por tempo indeterminado, inquéritos de ofício do Supremo que se estendem até hoje, busca de motivos que justifiquem prisão com base em posts de redes sociais; investigação de empresários por falas banais em grupo de WhatsApp; prisão preventiva indevida de Filipe Martins que se estendeu por meses. Prisões aos invasores do 8 de janeiro mais longas do que as de assassinos. E tudo isso no Supremo, que já é a última instância. É difícil vislumbrar a anulação desses e outros julgamentos quando a maré política mudar?

PODERES ABUSIVOS – Nada disso se deu num vácuo. A escalada do Supremo se deu em meio a uma movimentação real para minar nossa democracia, melar nossas eleições e, após perdê-las, dar um golpe de Estado.

O problema de poderes excepcionais é que, depois de passada a ameaça que justificou seu uso, eles tendem a permanecer. A autocontenção é uma virtude elogiada no discurso e desprezada na prática. Em agosto do ano passado, o ministro Barroso opinou que o fim do inquérito das fake news “não está distante”. Até hoje, nada.

O maior desastre da sanção americana é dificultar a contenção desses poderes abusivos do Supremo. Recentemente, Fux abriu divergência com outros ministros da Primeira Turma. Outros viriam? Dificilmente virão agora, em que divergir de Moraes trará a pecha da traição e da covardia. Dificultou também para o Congresso, de quem se espera movimentos para conter excessos do Supremo. Resta apenas a opinião pública.

Aplicar Lei Magnitsky contra Moraes é “alarmante”, afirma a Transparência 

Ministro Alexandre de Moraes é sancionado com Lei Magnitsky pelos EUA | Metrópoles

Moraes era o algoz, agora virou novamente a vítima

Fellipe Gualberto
Estadão

A Transparência Internacional – Brasil afirmou ser “alarmante e inaceitável o uso seletivo da Lei Magnitsky para fins políticos e econômicos”, se referindo à sanção aplicada pelos Estados Unidos contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira, 30. “Uma ameaça real à democracia brasileira”, definiu a entidade sobre a medida.

A Transparência disse que a sanção recaiu sobre Moraes porque o ministro é o relator do processo que investiga a participação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na tentativa de golpe de Estado de 2022. De acordo com a entidade, “tal medida apenas fomentará mais instabilidade política no Brasil”.

CRÍTICAS AO SUPREMO – A Transparência Internacional afirmou que faz críticas ao STF, “tanto pela impunidade generalizada em casos de corrupção quanto por abusos de poder cada vez mais normalizados”.

No entanto, “nada disso justifica a interferência de um governo estrangeiro que desrespeita princípios fundamentais do direito, como a soberania nacional e a separação dos Poderes”.

Esta é a primeira vez que a Lei Magnitsky é aplicada contra uma autoridade de um país democrático. O dispositivo, que era usado para punir ditadores, criminosos que lavam dinheiro e violadores dos direitos humanos, impede que Moraes movimente dinheiro nos EUA, acesse o país e tenha acesso a instituições financeiras e plataformas de tecnologia americanas.

ARBITRARIEDADE – A Transparência Internacional afirmou que há arbitrariedade e motivação política na sanção contra Moraes. Como exemplo, a instituição cita líderes como Nayib Bukele, presidente de El Salvador, que possui “estreita parceria da administração Trump”, apesar de ser “amplamente denunciado por violações sistemáticas de direitos humanos, incluindo encarceramento em massa sem o devido processo legal, tortura e repressão à dissidência”.

O texto também ressaltou a remoção do ministro húngaro Antal Rogán da lista de sancionados pela Lei Magnitsky. “Rogán, figura de destaque no governo de Viktor Orbán, foi amplamente acusado de orquestrar esquemas de corrupção e de facilitar a captura do Estado na Hungria, beneficiando a si e seu partido”.

“Enquanto Bukele e Orbán são considerados aliados estratégicos a despeito de seus abusos, um magistrado brasileiro – por mais controverso que seja – que enfrenta interesses políticos e econômicos alinhados com Trump e sua rede é sancionado”, disse a entidade.

DUPLO PADRÃO – O grupo ainda afirmou que existe um “duplo padrão” de aplicação da Lei Magnitsky, que revela instrumentalização da norma como “ferramenta de conveniência política, e não de responsabilização baseada em princípios”.

As alegações da entidade são fundamentadas pelas tentativas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de blindar Jair Bolsonaro.

O país já aplicou tarifas contra o Brasil e sanções individuais, como o cancelamento de visto de ministros do STF em busca de impedir o julgamento do ex-presidente. O filho de Bolsonaro, deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), foi um dos que articulou as medidas.

‘Sonho’ de Bolsonaro já virara pesadelo, e a prisão dele era questão de tempo

A charge do Izânio fala | Portal AZ

Charge do Izânio (Portal AZ)

Camila Rocha
Folha

Em abril de 2015, Jair Bolsonaro se desfiliou do Partido Progressista (PP) com o “sonho” de se candidatar à Presidência. Dez anos depois, o movimento político que o levou ao poder vive sua pior crise.

A crise possui três frentes. A primeira é institucional. Além de estar inelegível, Bolsonaro aguarda o resultado do julgamento por tentativa de golpe com uma tornozeleira eletrônica. Sua prisão, portanto, era questão de tempo.

ZAMBELLI JÁ ERA – Carla Zambelli, uma de suas apoiadoras mais fiéis, foi abandonada à própria sorte. Presa pela Justiça italiana, aguarda a decisão sobre sua extradição para o Brasil. Caso regresse, deve enfrentar uma pena de dez anos por crimes relacionados à invasão do sistema do Conselho Nacional de Justiça. E faltam outros processos em andamento.

Eduardo Bolsonaro, ao tentar salvar o pai, apenas agravou a situação. Caso retorne ao Brasil, deve ser condenado por crimes como obstrução de investigação de organização criminosa e tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, entre outros.

Nikolas Ferreira enfrenta um processo judicial que pode torná-lo inelegível. De acordo com denúncia do Ministério Público, o deputado encabeçou, ao lado de Bruno Engler (PL), uma campanha coordenada de desinformação contra o então prefeito e candidato à reeleição em Belo Horizonte, Fuad Jorge Noman Filho, que faleceu pouco tempo depois das eleições.

MAIS UM – Ricardo Salles, um dos cinco deputados federais mais votados em 2022, ao lado de Nikolas, Zambelli e Eduardo Bolsonaro, abandonou o PL e foi para o Partido Novo. No entanto, o processo por contrabando de madeira, no qual é réu, foi reaberto e agora tramita no STF sob relatoria de Alexandre de Moraes.

As redes sociais, outra frente em que o bolsonarismo parecia imbatível, não estão rendendo como antes. Narrativas como a “anistia” para Bolsonaro perderam poder de mobilização. E agora o acúmulo de derrotas fragilizou o poder midiático do bolsonarismo.

Incapazes de se posicionar a favor de pautas populares como a defesa da escala 6×1 e a taxação dos super-ricos, a última aposta dos bolsonaristas para tentar animar as bases fracassou de modo retumbante. Segundo pesquisa da Quaest, a aplicação da Lei Magnitsky contra o ministro Alexandre de Moraes (STF) foi criticada em 60% das menções nas redes e aprovada apenas em 28%.

ATOS EM BAIXA – A crise também ocorre nas ruas. O número de bolsonaristas dispostos a ir às ruas vem oscilando para baixo desde o início do ano.

De acordo com estimativas do Monitor do Debate Político no Meio Digital do Cebrap, no dia 25 de fevereiro de 2024, o ato encabeçado por Jair Bolsonaro na avenida Paulista teve um pico de 185 mil pessoas. No dia 6 de abril, no mesmo local, o evento “Anistia Já” reuniu 44 mil pessoas. Meses depois, no dia 29 de junho, compareceram ao último ato apenas 12 mil pessoas.

Em 10 de julho, lideranças de esquerda conseguiram reunir um número maior na avenida Paulista, 15 mil pessoas. Foi a primeira vez que a direita perdeu da esquerda nas ruas desde 2015.

VIRAR PESADELO – Mas é justamente nas ruas que os bolsonaristas procuram reverter a crise. Neste domingo (dia 3), a estimativa foi de 37,6 mil na Paulista.

Encher novamente praças e avenidas brasileiras pode demonstrar que suas bases estão abatidas, mas não mortas.

Resta saber se será suficiente para impactar as eleições de 2026 e impedir que o “sonho” de Bolsonaro vire um pesadelo para todos aqueles que o apoiam.

“Vou mastigando o mundo e ruminando, e assim vou tocando essa vida marvada”

Morre Rolando Boldrin, ator, compositor e cantor ícone da música caipira

Rolando Boldrin, o grande cantador brasileiro

Paulo Peres
Poemas & Canções

O ator, cantor, poeta, contador de causos, radialista, apresentador de televisão e compositor paulista Rolando Boldrin (1936/2022), na letra de “Vide Vida Marvada”, descreveu a vida calma e mansa de todo matuto.

Essa música foi gravada pelo próprio Rolando Boldrin no LP Caipira, em 1981, pela Som Brasil.

VIDE VIDA MARVADA
Rolando Boldrin

Corre um boato aqui donde eu moro
Que as mágoas que eu choro
São mal ponteadas
Que no capim mascado do meu boi
A baba sempre foi
Santa e purificada

Diz que eu rumino desde menininho
Fraco e mirradinho
A ração da estrada
Vou mastigando o mundo e ruminando
E assim vou tocando
Essa vida marvada

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remedio pro meu desengano
É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda magoa é um misterio fora desse plano
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pra uma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê

Tem um ditado tido como certo
Que cavalo esperto
Não espanta boiada
E quem refuga o mundo resmungando
Passará berrando
Essa vida marvada

Cumpade meu que envelheceu cantando
Diz que ruminando
Dá pra ser feliz
Por isso eu vagueio ponteando
e assim procurando
Minha flor de lis

É que a viola fala alto no meu peito humano
E toda moda é um remedio pro meu desengano
E toda magoa é um misterio fora desses planos
Pra todo aquele que só fala que eu não sei viver
Chega lá em casa pra uma visitinha
Que no verso ou no reverso da vida inteirinha
Há de encontrar-me num cateretê

Como os militares rejeitaram o golpe, Bolsonaro teve de recorrer aos EUA 

Jair Bolsonaro com os filhos Flávio, Eduardo e Carlos

Os Bolsonaro – uma família unida pelo golpe militar

Eliane Cantanhêde
Estadão

O ex-presidente Jair Bolsonaro e seus filhos não desistem de dar um golpe no Brasil. Como as Forças Armadas não embarcaram na aventura em 2023, eles recorreram a Donald Trump, que é presidente dos Estados Unidos e se acha imperador do mundo, para terminar o serviço. “Cuidado com o andor, porque o santo é de barro”, segundo o ditado. Pois o andor “Deus, Pátria e Família” ruiu e foram todos parar na lama da história.

Eduardo Bolsonaro dizia, sem ruborizar, que “bastava um cabo e um soldado para fechar o Supremo”. Seu pai assumiu a Presidência e escalou, não cabos e soldados, mas sim generais, almirantes e brigadeiros, para lacrar as instituições e a democracia brasileira. As cúpulas militares não caíram na esparrela e, agora, a família põe uma potência estrangeira acima das Forças Armadas. Haja patriotismo!

APOLOGIA DA DITADURA – Fora do Exército, o capitão passou a vida fazendo apologia da ditadura e de mortes de adversários e, como presidente, usou “CPFs” das três forças para o golpe e uma tropa de arruaceiros para acampar nos quartéis e vandalizar os três Poderes. Em vão. E lá se foram os Bolsonaro provocar Trump a jogar seus mísseis contra a soberania, a democracia, indústrias e empregos do Brasil.

A sucessão de absurdos é estarrecedora. Como o presidente de um país… manda uma carta pública ao presidente de outro país exigindo que interrompa “imediatamente” o processo contra um réu por tentativa de golpe? E a soberania? A independência entre Poderes?

…E recorre a uma falsa “emergência” para aplicar uma lei feita para terroristas, organizações criminosas e corruptos contra um ministro do STF?

SEM JUSTIFICATIVA – …E como esse mesmo presidente justifica o uso dessa lei com mentiras e ataques à democracia brasileira? A Human Rights Watch e a Transparência Internacional defenderam o Brasil, onde há democracia e o direito à manifestação é livre – desde que não para apologia de crimes e golpes.

…E depois se mete em questões internas, enquanto atenta contra as leis dos EUA, confronta o Judiciário, nega cidadania a nascidos no país, persegue universidades e estudantes contrários ao genocídio em Gaza, tortura estrangeiros? Quem é Trump para falar de democracia?

…E usa um decreto sem pé nem cabeça para impor o tarifaço ao Brasil, sem argumentos comerciais e citando Bolsonaro e Paulo Figueiredo, neto do último general da ditadura e denunciado na tentativa de golpe?

O mais assustador, porém, é um ex-presidente, um deputado desertor e um imigrante brasileiro estarem por trás desse ataque dos EUA ao Brasil e aos brasileiros. Nada é mais abjeto e detestável do que trair a Pátria. Talvez, só a tortura, que Bolsonaro tanto defende.

Lula impõe limites a Trump: comércio sim, anistia a Bolsonaro não

Oposição fala em “ditadura declarada” após Moraes prender Bolsonaro

Gilmar Fraga: a democracia... | GZH

Charge do Gilmar Fraga (Gaúcha/Zero Hora)

Ana Carolina Curvello
Gazeta do Povo

A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), de decretar nesta segunda-feira (4) a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gerou reação de parlamentares aliados nas redes sociais. Para líderes do PL e da oposição, trata-se de um avanço autoritário e uma tentativa de retirá-lo do processo eleitoral de 2026.

A prisão de Bolsonaro, um dia após manifestações nacionais pelo impeachment de Moraes, gera um novo capítulo de tensão entre o Judiciário e o núcleo político do entorno de Bolsonaro, com parlamentares acusando o STF de interferência eleitoral e censura prévia. Até o momento, a defesa do ex-presidente não se manifestou oficialmente.

JUSTIFICATIVAS FRACAS – Moraes justificou sua decisão em um suposto descumprimento de medidas cautelares por parte do ex-mandatário que, desde o dia 18 de julho, usa tornozeleira eletrônica e está proibido de utilizar suas redes sociais, inclusive por intermédio de terceiros.

Para o ministro, Bolsonaro, ao mandar recado a manifestantes deste domingo (3) por chamada de vídeo, feriu as medidas cautelares.

O ministro Moraes também citou que imagens do ex-presidente assistindo às manifestações foram publicadas nas redes sociais por seus filhos, e isso estaria proibido entre as restrições que estabeleceu a Bolsonaro.

DITADURA DECLARADA – O líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), ressaltou que se trata de uma “ditadura declarada”.

“Bolsonaro preso em casa por ordem de Moraes. […] Tentaram matá-lo. Perseguiram sua família. Proibiram-no de falar. Agora o trancam dentro da própria casa, como um criminoso. […] Isso não é justiça, é vingança política!”, escreveu na rede X. Na sequência, o parlamentar pediu o impeachment de Moraes e disse que “eleição sem Bolsonaro é golpe”.

O deputado Nikolas Ferreira (PL-MG) ironizou os fundamentos da decisão: “Prisão domiciliar decretada de Jair Bolsonaro por Moraes. Motivo: corrupção? Rachadinha? Desvio de bilhões? Roubou o INSS? Não. Seus filhos postaram conteúdo dele nas redes sociais. Que várzea!”.

VAZA TOGA – Já Marcel van Hattem (Novo-RS) chamou atenção para a coincidência entre a medida e a revelação de novas mensagens da “Vaza Toga” sobre a atuação do ministro do STF no inquérito do 8 de janeiro:

“Absurda prisão domiciliar de Bolsonaro no dia em que sai nova matéria da Vaza Toga sobre os abusos de Moraes no 8 de Janeiro. Claro que não é coincidência!”, escreveu em suas redes sociais.

Para a líder da Minoria na Câmara, Caroline de Toni (PL-SC), a prisão domiciliar de Bolsonaro reforça “o fim do disfarce”. “Depois de tudo que veio à tona hoje, das mensagens vazadas escancarando a existência de uma justiça paralela, operando à margem da lei para perseguir adversários políticos, vem a prova cabal: Alexandre de Moraes decreta a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, sob uma justificativa absurda e autoritária”, escreveu no X.

SEM CRIME – A deputada ainda ressaltou que a decisão ocorre “sem julgamento, sem direito à defesa, sem crime. A “prova” seria um vídeo postado nas redes do filho, com uma fala de apoio à liberdade. Isso basta, segundo o ministro, para manter um ex-presidente em cárcere.”

“É por esse tipo de injustiça que o povo voltou às ruas. E não vai parar”, destacou Caroline de Toni.

O senador Ciro Nogueira (PP-PI) classificou o episódio como um “dia triste” para ele e “dezenas de milhões de brasileiros”. “A prisão domiciliar do presidente Bolsonaro, antes mesmo do julgamento, é um fato jurídico com que ninguém pode concordar. Ainda acredito que a Justiça irá prevalecer no final”, disse.

SEM DEMOCRACIA – Já o líder da Oposição na Câmara, deputado Luciano Zucco (PL-RS), afirmou que “o Brasil não é mais uma democracia”. Segundo ele, a prisão domiciliar de Bolsonaro – sem nenhuma condenação – “é uma injustiça e um grave ataque ao Estado de Direito”.

“Uma manobra autoritária para calar opositores e consolidar o projeto de poder em curso no país. Hoje é com Bolsonaro, amanhã pode ser comigo, ou com qualquer cidadão que critique o governo ou o Judiciário”, disse o líder, acrescentando:

“Não podemos aceitar isso calados. É hora de fazer valer a voz de milhões de brasileiros”.

ADVOGADOS REAGEM – O Movimento Advogados de Direita classificou a determinação de Moraes sobre a prisão domiciliar de Bolsonaro como um “alarmante episódio de perseguição judicial”.

“O ministro Alexandre de Moraes acaba de decretar a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, sob a alegação de descumprimento de medida cautelar. O “crime”? Aparecer em vídeo publicado por terceiros, enquanto recebia uma ligação do filho, Flávio Bolsonaro, durante as manifestações populares de 3 de agosto. A ordem de prisão não se baseia em ação direta de Bolsonaro nas redes, mas em conteúdo divulgado por terceiros, num evento público, onde foi apenas destinatário de uma ligação telefônica”, diz o Movimento, acentuando:

“Trata-se de um novo e alarmante episódio de perseguição judicial, sem contraditório, sem flagrante, sem proporcionalidade”, afirmou o grupo no X.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Até inventarem Moraes como jurista, o Brasil vivia numa democracia e não percebia. Com ele liderando o Supremo, a gente logo constata que era feliz e nem sabia. Eu quero meu país de volta, onde uma cabeleireira que pintou de batom uma estátua seja Piada do Ano, sem ser chamada de terrorista e sem pegar 13 anos de cadeia e ter de pagar multa milionária. Afinal, que país é esse? (C.N.)

Atenção! Governo dos EUA ameaça punir quem auxiliar as decisões de Moraes

Sanção dos EUA fura bolha da polarização e fortalece Moraes nas redes | VEJA

Moraes está cada vez mais famoso no mundo inteiro

Pedro Augusto Figueiredo
Estadão

O Departamento de Estado dos Estados Unidos, órgão equivalente ao Itamaraty brasileiro, condenou na noite desta segunda-feira, 4, a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL) imposta pelo ministro Alexandre de Moraes e prometeu punições a quem auxiliar ou incentivar o ministro a continuar nessa direção.

Em nota publicada nas redes sociais, o Escritório para Assuntos do Hemisfério Ocidental se referiu a Moraes como “violador de direitos humanos” e disse que ele coloca restrições à capacidade de Bolsonaro se defender em público.

“O juiz Moraes, agora um violador de direitos humanos sancionado pelos EUA, continua a usar as instituições brasileiras para silenciar a oposição e ameaçar a democracia. Impor ainda mais restrições à capacidade de Jair Bolsonaro de se defender em público não é um serviço público. Deixem Bolsonaro falar”, diz a nota, em tradução livre.

“Os Estados Unidos condenam a decisão de Moraes que impôs prisão domiciliar a Bolsonaro e responsabilizarão todos aqueles que auxiliarem ou incentivarem a conduta sancionada”, finaliza o texto.

RETALIAÇÕES – Na semana passada, o ministro foi incluído pelo governo de Donald Trump na lista de pessoas sancionadas pela Lei Magnitsky. Moraes foi a primeira autoridade de um país democrático a receber a punição, que bloqueia bens e contas nos EUA e o impede de entrar no país norte-americano.

Trump já havia revogado o visto de Moraes, de outros sete ministros do STF e do procurador-geral da República, Paulo Gonet, como retaliação à decisão que obrigou Bolsonaro a usar tornozeleira eletrônica.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Vejam que situação delicada. O imperialista Departamento de Estado norte-americano vem a público para dizer que “os Estados Unidos condenam a decisão de Moraes que impôs prisão domiciliar a Bolsonaro e responsabilizarão todos aqueles que auxiliarem ou incentivarem a conduta sancionada”. Nunca se viu isso nem mesmo nos tempos em que Roberto Marinho acertava com o embaixador Lincoln Gordon os detalhes do golpe de 1964. Esse povo parece que não tem juízo, digamos assim, para dizer o mínimo. (C.N.)