Jaguar, grande cartunista, morre aos 93 anos no Rio de Janeiro

Jaguar não poderia esquecer de pedir a última…

Carlos Newton

O cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, conhecido como “Jaguar”, morreu neste domingo, aos 93 anos, no Rio de Janeiro. A informação foi confirmada à Veja pela viúva do desenhista, Celia Regina Pierantoni.

Jaguar se destacou, em sua trajetória, por ser um dos fundadores do jornal satírico O Pasquim, em 1969. Com diversas críticas à ditadura militar, o cartunista chegou a ser preso pelo regime no início dos anos 1970.

Quando me convidou para escrever no Pasquim, que ele estava dirigindo na sede na Rua da Carioca, recolocou na porta do Redação o cartaz criado pelo humorista Apparicio Torelli, o Barão de Itararé, com os dizeres “ENTRE SEM BATER”, para que a Polícia não espancasse a gente ao nos visitar…

Charge de Jaguar com o título "O PIB SUBIU 0,3%" mostra um personagem meio coberto com um lençol. Ele é careca, tem o rosto rosa, os olhos esbugalhados e o nariz grande e arredondado. É possível ver só uma parte da sua cabeça e um dedo da mão direita, que levanta o pano para esconder a boca. No lençol está escrita a frase: "Isso nunca me aconteceu antes na vida!".

Charge do Jaguar, publicada na Folha

Para enlouquecer a cabeça do leitor, Jaguar editava uma página de Política Nacional assinada por Carlos Newton e uma outra, de Política Internacional, redigida por nosso grande amigo Newton Carlos, que morreu antes da gente e não avisou para ninguém. Era casado com a bela Eliane, neta do Dr. Vital Brazil.

Prisão preventiva de Bolsonaro é inviável, não há elementos para sustentá-la

Marina Coelho Araújo no Migalhas

Prisão de Bolsonaro depende de julgamento, diz advogada

Da CNN

A advogada Marina Coelho Araújo, doutora em Direito Penal avaliou, durante sua participação no WW, que não há elementos suficientes para sustentar uma prisão preventiva fechada do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo a especialista, as condições atuais de prisão domiciliar já atendem às necessidades de controle e minimização de riscos.

A análise baseia-se no conceito de cautelaridade, que exige elementos de contemporaneidade para justificar uma prisão preventiva.

SEM RISCO IMEDIATO – “É preciso haver algo acontecendo no momento presente, que coloque em risco a investigação ou processo, ou alguma medida de execução da pena.

Tem que existir essa necessidade de defender um risco imediato”, explica Marina Coelho.

A especialista destaca que a atual condição de prisão domiciliar permite um controle efetivo. “A situação dele é controlada, qualquer movimento será imediatamente repelido pelas autoridades competentes”, argumenta a criminalista.

PELO CELULAR – O relatório em questão menciona mensagens e acessos apreendidos do celular que sugeririam violações de medidas cautelares anteriormente impostas. No entanto, Marina Coelho considera que esses elementos não apresentam a contemporaneidade necessária para justificar uma prisão preventiva mais rigorosa.

A advogada conclui que as atuais restrições impostas pela prisão domiciliar são suficientes para garantir o controle necessário da situação, dispensando medidas mais severas no momento

Prisão de Bolsonaro ampliaria ataques ao STF e agravaria crise com EUA

bolsonaro lula

O mesmo STF que inocentou Lula condenará Bolsonaro

Carolina Brígido
Estadão

Quando o ministro Alexandre de Moraes decretou a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro, no último dia 4, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reagiram mal. Em caráter reservado, consideraram a medida desnecessária naquele momento. Com a previsão de julgamento do ex-presidente para setembro, o ideal, na visão de integrantes da Corte, seria o réu aguardar em liberdade.

Diante da revelação dos áudios em aparelhos celulares de Bolsonaro, Moraes deu prazo de 48 horas para a defesa do ex-presidente explicar o descumprimento de medidas cautelares e um rascunho de pedido de asilo político na Argentina, que pode configurar tentativa de fuga. A depender da resposta, o ministro pode decretar a prisão preventiva – dessa vez, numa cela.

HORA ERRADA – Assessores do STF e pessoas próximas de ministros afirmam que a avaliação interna é a mesma: prender Bolsonaro agora teria o condão de ampliar os ataques à Corte e a crise entre o Brasil e os EUA. Às vésperas do julgamento, a maioria dos ministros teria preferência por manter o caso em fogo baixo – ou seja, com Bolsonaro aguardando a data do veredicto em casa.

Assim como em outras ocasiões, Moraes não informou previamente os colegas que divulgaria as mensagens de Bolsonaro ontem, a menos de duas semanas do julgamento, agendado para começar no dia 2. Se mandar prender o ex-presidente, provavelmente o relator agirá da mesma forma.

Após a divulgação das novas provas, ministros do STF optaram pelo silêncio, na tentativa de diminuir a pressão pública contra a Corte. Sabem que, em setembro, vão precisar vir defender uma provável condenação de Bolsonaro.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
É a velha prática do morde e assopra, numa briga em que os dois lados não têm caráter, nenhum deles merece vencer.  E ficará para sempre no ar a pergunta que jamais será respondida: se Lula da Silva, um criminoso vulgar, foi libertado para disputar eleição, porque Jair Bolsonaro, outro criminoso vulgar, não pode fazer o mesmo?  (C.N.)

Veja como o Brasil é o país que cultiva mais gêneros musicais

Bira da Vila, grande cantor da Baixada Paulo Peres
Poemas & Canções

O cantor, compositor e percussionista Ubirajara Silva de Souza nasceu no Bairro Vila São Luiz, Duque de Caxias (RJ), razão pela qual adotou o nome artístico de Bira da Vila. Em parceria com Serginho Meriti, ele aborda os diversos estilos populares da música brasileira na letra de “O Daqui, o Dali e o de Lá”. Este samba foi gravado por Bira da Vila no CD Canto da Baixada, em 2010, produção independente.

O DAQUI, O DALI E O DE LÁ
Serginho Meriti e Bira da Vila

É preciso mexer, misturar
O daqui, o dali e o de lá
Pois o nosso tempero tem samba, tem xote
Tem frevo e bolada, balada e ijexá
Bota a banda pra tocar
Que o povo vai curtir, a galera vai gostar
Nossa gente é isso aí
Vai, vai…

No embalo do maracatu
Vaquejada, jambo, caxambú
Carimbó, sertanejo, merengue, lambada
Forró pé de serra, côco, boi bumbá
Xaxado, calango, reisado e axé
Toca aí que a gente diz no pé
Toca aí que a gente diz no pé

Toca um bom samba de enredo
O samba de roda, pagode e baião
Toca de tudo que toca em nosso coração
Um coração verde e branco, azul, amarelo
É canto, é dança, é ritmo
Elo, firmando a corrente da nossa nação

Toca quadrilha, congada
Fandango, lundu e saravacuê
Bumba meu boi, caiapó, toca maculelê
Cateretê, moçambique, quilombo
Bigada, caboclinho lambe, surge o marujada
Muita timbalada e o tererê.

Governadores mostram união em Barretos e dizem que vão derrotar Lula

A imagem mostra um grupo de seis homens em um palco durante um evento político. Eles estão vestidos com camisas de diferentes cores, algumas com logotipos visíveis. O homem à direita usa um chapéu de cowboy. Ao fundo, há uma iluminação que sugere um ambiente festivo ou de celebração. Na frente, há uma câmera focada nos homens, indicando que o evento está sendo filmado ou transmitido.

Caiado, Tarcísio e Zema, com os organizadores da festa

Marcelo Toledo
Folha

Reunidos no estádio de rodeios de Barretos (SP) pela primeira vez, três governadores da direita criticaram o PT e a esquerda em relação ao segmento, disseram que um deles vencerá a eleição presidencial do ano que vem. E, fora do evento também de forma inédita desde 2017, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) foi defendido pelo governador paulista, Tarcísio de Freitas, na Festa do Peão de Barretos.

Tarcísio (Republicanos) e os governadores de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), se reuniram na noite deste sábado (23) com dirigentes de Os Independentes, associação que organiza a festa há 70 anos, e depois se dirigiram ao estádio, que estava lotado, com 35 mil pessoas nas arquibancadas, e fizeram breves discursos.

GRITOS E PALMAS – Tarcísio afirmou que Bolsonaro é vítima de injustiça e levantou um pequeno boneco inflável com a imagem do ex-presidente, gesto que foi respondido pelo público com gritos e palmas.

“Uma pessoa que fez tudo por mim, me abriu portas e que está passando por uma grande injustiça. Mas, se a humilhação traz tristeza, o tempo vai trazer justiça, eu tenho certeza que a justiça chegará. A justiça chegará. Eu tenho certeza que esse Brasil vai se encontrar com seu futuro, com a sua vocação. A vocação do Brasil é ser grande. Ninguém vai segurar esse país, ninguém vai segurar o Brasil, a gente não vai permitir isso”, afirmou o governador.

CAIADO E ZEMA – Caiado, o primeiro a discursar, criticou o PT e a esquerda, que segundo ele tentaram impedir a realização de vaquejadas e rodeios no país, e afirmou que “um de nós”, em relação aos governadores, vencerá a eleição presidencial de outubro do ano que vem e “ocupará o Palácio do Planalto”.

Já Zema afirmou que mais de 500 municípios mineiros realizam festas de peão e que apoia os eventos do gênero, além de afirmar que o agro tem sido o principal pilar econômico em Minas Gerais.

Bolsonaro esteve em Barretos em 2017, ainda como deputado federal, e retornou no ano seguinte, como candidato à Presidência da República. Em 2019, assinou decreto, também dentro do estádio de rodeios, que na prática flexibilizava a realização de eventos do gênero e dificultava a ação de entidades de proteção animal.

MICHELLE FALTOU – Entre 2022 e o ano passado, foi presença constante na cidade paulista. Cumprindo prisão domiciliar, a expectativa é que ele fosse representado neste sábado pela ex-primeira dama Michelle Bolsonaro, mas a visita não se confirmou.

Depois de deixarem o estádio, os três governadores foram recebidos num jantar no rancho Ponto de Pouso, ao lado do estádio, onde comeram a Queima do Alho, prato típico que era consumido no passado pelos peões nos estradões. Ele é composto por arroz carreteiro, feijão gordo, paçoca de carne seca e churrasco.

No local, os governadores voltaram a fazer críticas ao governo federal e disseram que não há problemas em ter mais de um candidato da direita para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2026.

TODOS JUNTOS – “No segundo turno está todo mundo junto, unido, para devolvermos ao Brasil aos brasileiros de bem”, disse Caiado.

Zema afirmou que o peso de Bolsonaro no apoio a outros candidatos no próximo ano é grande e que ouviu do ex-presidente que o lançamento de mais nomes da direita fortalece o espectro político. Repetindo Caiado, disse que “quando chegar o segundo turno, todos [estarão] juntos”. Tarcísio, por sua vez, disse “ter certeza” que a direita tem excelentes nomes para o país.

Apresentador do ato com os governadores no estádio, o locutor de rodeios bolsonarista Cuiabano Lima afirmou que a associação organizadora da Festa do Peão é apartidária. A mesma afirmação foi feita à Folha pelo presidente de Os Independentes, Jerônio Luiz Muzetti, antes da edição comemorativa dos 70 anos do evento.

Projeto do governo para big techs é menos rigoroso do que decisões de Moraes

Segundo Marco Civil da Internet protege MoraesPatrícia Campos Mello
Folha

A versão final do projeto de lei de regulação das big techs do governo Lula, obtida pela Folha, usa critérios semelhantes aos adotados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) em decisão de junho que alterou o Marco Civil da Internet. O texto é uma versão legislativa do novo regime de responsabilidade civil para as big techs proposto pelo Supremo —só que, agora, na esfera administrativa. O projeto tem escopo mais amplo do que a decisão sobre o Marco Civil, porque prevê responsabilidade objetiva das plataformas, além de abordar também fraudes na internet e proteção das crianças no mundo digital.

A proposta não trata, em nenhum momento, de combate à desinformação, tema tabu para a oposição. O texto está pronto, mas o governo Lula deve enviá-lo ao Congresso só na semana que vem. Dessa forma, a entrega não coincidirá com a votação na Câmara do PL 2628, apelidado de ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) digital, prevista para esta quarta-feira (20).

FOCO DE LULA – A regulamentação das big techs está no foco de Lula desde o começo do mandato, mas ganhou prioridade nas últimas semanas depois da sobretaxa imposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil e do vídeo do influenciador Felca sobre de crianças.

Um artigo que vem despertando controvérsia, a partir de versão anterior do projeto revelada pela Folha, determina que as plataformas de internet devem usar “mecanismos e sistemas para promover a detecção e a imediata indisponibilização de conteúdo ilícito de terceiros” quando houver determinados crimes contra crianças e adolescentes, atos de terrorismo, induzimento ao suicídio e à automutilação, dentre outros.

As plataformas que descumprirem essa determinação estarão sujeitas a sanções administrativas. Essas punições podem ser desde advertência, passando por multa de até 10% do faturamento do grupo econômico no Brasil, até suspensão do provedor por 30 dias, prorrogável por mais 30. Pode haver suspensão por prazo indeterminado, após ordem judicial.

PUNIÇÕES – No entanto, nenhuma empresa será multada ou sancionada se deixar escapar um ou dois posts que incidam nesses crimes ou descumpram a lei de alguma forma. Tal qual a decisão do STF, não há responsabilização por conteúdos esparsos ou únicos —é preciso haver descumprimento generalizado. Caso a empresa de internet consiga demonstrar que fez o melhor possível para mitigar esses riscos ou remover posts ilícitos, ela não recebe a multa nem é suspensa.

Mas o texto do governo vai além do STF ao determinar responsabilidade civil objetiva às empresas (independentemente de haver culpa) quando houver dano decorrente de conteúdo impulsionado ou remunerado. Se alguém se sentir lesado pelo conteúdo, pode processar a empresa, e ela pode ser julgada responsável, independentemente de ter culpa ou ter sido notificada anteriormente.

O STF afasta a possibilidade de responsabilidade objetiva para as plataformas. O PL do governo só prevê responsabilidade objetiva nos casos em que as plataformas deixarem de adotar “as providências necessárias para indisponibilizar ou desabilitar o acesso ao conteúdo danoso, ou cessar a atividade danosa, de forma célere, ao tomar conhecimento dos fatos”.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGO
O projeto tenta justificar alguns procedimentos de Moraes que revoltaram Elon Musk, parlamentares americanos e o próprio presidente Musk. Mas não adianta. As decisões de Moraes descumpriam as leis da época, que são as mesmas que ainda continuam em vigor. A Polícia chama isso de batom n cueca, não tem como justificar. (C.N.)

Bolsonaro entre a negação e o contra-ataque: a nova ofensiva no STF

Defesa de Bolsonaro ironiza Moraes: “WhatsApp não é rede social”

Da CNN

Charge: Brasil é o país que mais utiliza Whatsapp no mundo - Blog do AFTM

Charge do Cazo (Blog do AFTM)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou, na última sexta-feira (22), suas considerações contestando o relatório da PF (Polícia Federal) sobre novas quebra das medidas cautelares impostas pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes.

A analista de política Jussara Soares, da CNN, comentou durante o programa Prime Time a tese da defesa de que não havia restrições para uso do aplicativo de mensagens e conversas com familiares.

NÃO É REDE – A defesa ironizou a acusação de Moraes e alegou que o WhatsApp configura-se como um aplicativo de mensagens, e não se enquadra como rede social. Segundo os advogados, não havia restrições determinadas para o uso da plataforma de mensagens instantâneas.

A analista de Política da CNN Jussara Soares comentou durante o CNN Prime Time que, segundo a manifestação da defesa, as mensagens trocadas por Bolsonaro, mesmo tendo sido amplamente divulgadas pela imprensa, não configuram crime.

Os advogados afirmam que Bolsonaro nunca esteve proibido de usar o WhatsApp, trocar mensagens ou se manifestar, mesmo após a PF apontar o envio de mais de 300 vídeos e mensagens durante o período do inquérito.

LIBERDADE TOTAL – A defesa ressalta que, até 17 de julho, Bolsonaro tinha liberdade para conversar com seu filho Eduardo Bolsonaro, inclusive sobre temas relacionados a eleições.

Os advogados argumentam que as desavenças reveladas nas conversas entre pai e filho, incluindo críticas ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), servem mais às manchetes dos jornais do que aos próprios autos do processo.

Em sua argumentação, a defesa critica fortemente o relatório da PF, classificando-o como um “manifesto político” e uma forma de perseguição. Os advogados sustentam que a divulgação das conversas, especialmente aquelas que mostram desentendimentos entre pai e filho, visa criar um espetáculo midiático em vez de contribuir para o processo legal.

Bolsonaro responde a Moraes e diz ser “um perseguido político”

Em resposta ao STF, defesa de Bolsonaro critica PF e fala em perseguição

Bolsonaro afirma que jamais tencionou fugir do Brasil

Manoela Alcântara e Pablo Giovanni
Metrópoles

A defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apresentou ao Supremo Tribunal Federal, nesta sexta-feira (22/8), explicações sobre o rascunho de um pedido de asilo político à Argentina encontrado pela Polícia Federal no celular do ex-mandatário. O prazo para esclarecimento dado pelo ministro Alexandre de Moraes se encerraria às 20h34.

O indício de fuga consta em um arquivo de texto encontrado no aparelho de Bolsonaro. Na carta, o ex-presidente alega ser perseguido no Brasil “por motivos e por delitos essencialmente políticos” e cita medidas cautelares impostas pelo STF.

PERSEGUIDO?  – “De início, devo dizer que sou, em meu país de origem, perseguido por motivos e por delitos essencialmente políticos. No âmbito de tal perseguição, recentemente, fui alvo de diversas medidas cautelares. Para decretação de tais medidas foram mencionados os delitos dos Arts. 359-I e 359-M do Código Penal brasileiro”, escreveu Bolsonaro no rascunho.

Na manifestação, a defesa afirma: “Parece claro que um rascunho de pedido de asilo ao presidente argentino, datado de fevereiro de 2024, não pode ser considerado um indício de fuga. Seria necessário avisar à Polícia Federal, especialmente ao setor de inteligência, que o processo criminal que originou as cautelares foi proposto um ano depois e, desde então, o ex-presidente compareceu a todos os seus atos, inclusive estando em sua residência quando determinado o uso de tornozeleira por Vossa Excelência (Moraes)”.

COM BRAGA NETTO – Sobre o questionamento se Bolsonaro teria descumprido cautelar em conversa com Braga Netto, a defesa alega que esta seria uma “tentativa de tirar alguma conclusão a partir da mensagem de SMS, enviada em 2024, ao telefone de Bolsonaro”.

Ao citar trecho de relatório da PF que registrou uma mensagem recebida por SMS por Jair Bolsonaro de Braga Netto com o texto: “Estou com este número pré-pago para qualquer emergência. Não tem zap. Somente face time”, a defesa alega que o teor da mensagem é vazio e que não há resposta.

“A ausência de resposta é mais do que esclarecedora sobre a perseguição aqui apontada. A mensagem foi apenas recebida! Sem notícia de resposta. Sem qualquer reação. Sem qualquer comunicação por parte do ex-presidente”, acrescenta.

SEM DESCUMPRIMENTO – Ainda assim, para a Polícia Federal, o recebimento desta mensagem corroboraria “a hipótese de que os réus Jair Bolsonaro e Walter Souza Braga Netto descumpriram as medidas cautelares de proibição de manter contato durante a investigação realizada pela Polícia Federal no âmbito da Pet 12.100/DF”.

A defesa reitera que não houve descumprimento e que Bolsonaro cumpre com rigor as cautelares impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. Mas deixou claro que não é a primeira vez, em um curto intervalo, que o ministro cobra explicações da defesa sobre suposto descumprimento de medidas cautelares.

TORNOZELEIRA – Em 21 de julho, Moraes deu 24 horas para que os advogados justificassem a conduta do ex-presidente, que havia falado com a imprensa na saída da Câmara dos Deputados — onde participou de reunião do Partido Liberal (PL). Bolsonaro chegou a exibir sua tornozeleira eletrônica, embora estivesse proibido de dar entrevistas por decisão judicial.

Na ocasião, a defesa alegou que não havia clareza sobre os limites das restrições impostas. Moraes considerou a infração um episódio isolado, manteve as medidas cautelares e advertiu: em caso de novo descumprimento, Bolsonaro poderá ser preso no âmbito da Ação Penal nº 2668, que apura uma suposta trama golpista.

Bolívia, espelho do desastre populista, torna-se um alerta para o Brasil

Eleições na Bolívia: país terá segundo turno inédito, em pleito marcado por  derrota da esquerda - BBC News Brasil

Senador Rodrigo Paz, de direita, vence o primeiro turno

Bruno Gomez Musa
TimeLine

Permitam-me compartilhar com vocês uma preocupação profunda que carrego: a Bolívia. Hoje, ao observar a situação da nação andina, sinto um frio na espinha, pois vejo ali um espelho, um reflexo do que pode se tornar o Brasil se não abrirmos os olhos. A Bolívia está à beira de uma “ruína econômica” e, pasmem, quase uma “guerra civil”.

Não é um exagero; é a triste realidade de 25 anos de políticas populistas de extrema esquerda, lideradas por Evo Morales e, mais recentemente, por Luis Arce. A mensagem que tiro disso é clara: se o Brasil não se desvencilhar dessas práticas, corremos o risco real de trilhar o “mesmo caminho” para o colapso.

NA DERROCADA – Os números, meus amigos, são implacáveis. A inflação na Bolívia está flertando com 25% anuais. Pensem nisso… E as reservas internacionais, que em 2014 eram robustos US$ 15 bilhões, hoje se arrastam em meros US$ 1,7 bilhão. Comparem com a reserva do Brasil, aproximadamente US$ 340 bilhões.

O governo boliviano gasta mais do que arrecada, e o déficit fiscal é financiado pela impressão de dinheiro e pela emissão de dívida. É uma espiral de autodestruição. O PIB per capita deles, estagnado e abaixo de US$ 4 mil entre 2015 e 2023, é a prova da ausência de crescimento real após o período de bonança das commodities.

Sim, a dependência do gás natural, principal motor de exportação, cobrou seu preço, com a queda dos valores, mas os gastos populistas, esses não acompanharam o freio nas receitas.

DÍVIDA X PIB – Consequentemente, a relação entre dívida e PIB explodiu, superando os 80% e tornando-se insustentável. E a cereja do bolo da crise, o que paralisa tudo, é a escassez de dólares, que impede a importação de combustíveis, travando transporte, distribuição e toda a atividade econômica. É desolador.

A semente dessa crise, acreditem, foi plantada lá no início dos anos 2000. Tanto a Bolívia, sob Evo Morales, quanto nós, sob Lula, vivenciamos um período de fartura impulsionado pelos altos preços das commodities.

E aqui está o ponto crucial: o influxo de dólares não foi canalizado para investimentos em produtividade de longo prazo. Em vez disso, foi usado para financiar políticas populistas, subsídios e programas sociais ineficientes. Isso gerou um crescimento artificial de curto prazo, inflado pelo expansionismo fiscal, mas sem bases sólidas.

EXAUSTÃO – A conta, como sempre, chegou quando os preços das commodities despencaram. As receitas diminuíram, mas os gastos populistas persistiram, levando ao financiamento via dívida, à explosão do endividamento público e à exaustão das reservas. Eu vejo essa “fórmula do fracasso” boliviana e a comparo diretamente com as práticas que temos observado no Brasil. É um alerta de causa e efeito que não podemos ignorar.

A trajetória de Evo Morales, que assumiu a presidência em 2005, é para mim o manual do populismo autoritário. Em 2008, ele expulsa a agência antidrogas dos Estados Unidos e nacionaliza recursos naturais, inclusive a Petrobras boliviana. Em 2009, elabora uma nova Constituição, que permitia a reeleição, garantindo-lhe 8 anos no poder. E Morales não parou. No fim de seu terceiro mandato, tentou um quarto, com base numa “tecnicalidade”.

NO SUPREMO – O desrespeito à vontade popular ficou evidente quando, após perder um referendo popular que rejeitava sua permanência, ele recorreu ao Tribunal Constitucional – com juízes que ele mesmo havia indicado –, que convenientemente permitiu sua candidatura. Em 2019, denúncias de fraude eleitoral feitas pela OEA e a retirada de apoio do Exército levaram à sua renúncia.

Na eleição desta semana, o populismo de esquerda foi varrido do poder. O segundo turno será disputado por dois nomes de direita:  Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão) obteve mais de (32,08%) e Tuto Quiroga (Aliança Livre), com 26,94%), segundo resultados preliminares divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral.

Apesar de todas as sombrias comparações, preciso reconhecer que o Brasil, até o momento, não atingiu a mesma ruína da Bolívia. E por quê? Atribuo essa diferença a dois fatores cruciais: a nossa pauta exportadora e a indústria brasileira são muito mais diversificadas e robustas, garantindo maior resiliência econômica. Além disso – e aqui faço uma aposta com o futuro –, sugiro que a população brasileira, especialmente a partir de 2025, parece estar “mais acordada” para os riscos do “regime nefasto” do autoritarismo e do populismo. Isso pode gerar – e espero que seja assim – uma maior resistência a essas práticas

Tarcísio e Michelle são as atrações políticas da Festa do Peão de Barretos

 

Pesquisa Quaest: Tarcísio e Michelle lideram para substituir Bolsonaro

Michelle e Tarcísio combinaram se encontrar em Barretos

Victória Cócolo
Folha

 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), vai comparecer à Festa do Peão de Barretos neste sábado (23). Ele antecipou a ida ao evento depois que a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) confirmou presença.

Tarcísio tinha a intenção de visitar a celebração no fim da semana do dia 30 de agosto, mas, segundos interlocutores, fez questão de que a agenda coincidisse com a de Michelle.

MICHELLE BOIADEIRA – Como mostrou a coluna, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL) deve ser a grande estrela da Festa do Peão de Barretos, no interior de São Paulo, na noite deste sábado (23). A informação foi confirmada pelos organizadores do evento. A assessoria de Michelle não respondeu.

A propriedade de Michelle ocorre no momento em que cresce a disputa pelo espólio político de Jair Bolsonaro, que está em prisão domiciliar desde 4 de agosto, por ordem ministro do Alexandre de Moraes, com restrições de visitas e de comunicação. O movimento causou transtornos em aliados do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

VISITA INOPORTUNA – Nesta sexta-feira (22), o um dos principais aliados de Bolsonaro no meio rural, Nabhan Garcia disse ser inoportuna a ida de Michelle à Festa do Peão de Barretos.

“Se eventualmente ela está indo para explorar algum benefício político, será para quem? Porque o marido é inelegível, e ele mesmo já disse que, por conta de uma perseguição, vai ser preso. Ela irá se candidatar a alguma coisa?”, indaga Garcia.


Antes da festa, Tarcísio participa na formação de alunos do programa Caminho da Capacitação, que habilita pessoas em cursos gratuitos de qualificação profissional. A esposa do governador, Cristiane, também compareceu aos eventos. 

Aonde vai parar a nova briga de Moraes, desta vez com André Mendonça?

André Mendonça critica ativismo judicial — Foto: Jornal Nacional

Sem agressividade, Mendonça deu uma bela aula de Direito

Deu no Jornal Nacional

Dois ministros do Supremo Tribunal Federal participaram nesta sexta-feira (22) de um evento no Rio de Janeiro. Pela manhã, o ministro André Mendonça falou sobre o papel do Poder Judiciário em relação aos demais poderes e à democracia.

O ministro condenou o que têm críticas chamadas de ativismo judicial — decisões tomadas por juízes nem sempre amparadas apenas no que a legislação prevê explicitamente e que podem se sobrepor a outros poderes da República.

ESTADO DE DIREITO – “O Judiciário não pode ser o fator de criação e inovação legislativa. O Estado de Direito exige autocontenção, o que se contrapõe ao ativismo judicial. O ativismo suprime, desconsidera e supera os consensos sociais estabelecidos pelos representantes periodicamente eleitos pelos verdadeiros detentores do poder, que é o povo. O ativismo judicial implica no reconhecimento implícito de que o Judiciário tenha prevalência sobre os demais poderes. E o ativismo judicial implica no reconhecimento implícito, ainda que não desejado, no enfraquecimento dos demais poderes”.

“Se é verdade que em um Estado de Direito forte, que nele, o Judiciário tenha a prerrogativa de dar a última palavra — e essa é uma verdade —, mas num Estado de Direito forte, o poder Judiciário não tenha a prerrogativa de dar a primeira e a palavra”.

“Essa situação passa a impressão de viver não em um Estado Democrático de Direito, mas em um Estado Judicial de Direito. Todos nós precisamos fazer um compromisso público de que o bom juiz tem que ser reconhecido pelo respeito, e não pelo medo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O ministro André Mendonça, o tremendamente evangélico, disse boas e duras verdades sobre a ditadura do STF e os homens que provocam na nação, especialmente a insegurança jurídica. Moraes deu aquela velha embromada, dizendo que o principal é o respeito à autoridade . (CN)

Há provas contra Bolsonaro, mas o processo inteiro deveria ser anulado

Humor Político on X: "#ampulheta #bolsonaro #bolsonaropresoamanha #Brasil # Charge #eleições2022 #JairBolsonaro #nacadeiaem2023 #Tempo  https://t.co/NC6W4w48PH https://t.co/3FBN9lDJ5A" / X

Charg do Lattuff (Brasil de Fato)

Bianca Gomes
Estadão

No dia 2 de setembro, o Supremo Tribunal Federal (STF) começa a julgar Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus acusados de comandar o núcleo central de um plano para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ao longo do caminho, o ministro Alexandre de Moraes acumulou uma série de críticas pela forma como conduziu o processo. Mesmo assim, criminalistas consultados pelo Estadão afirmam que as provas reunidas sustentam a acusação de que Bolsonaro articulou uma tentativa de golpe. Para eles, a condenação é certa — a dúvida, agora, está no tamanho da pena que será aplicada ao ex-presidente.

Cinco especialistas fizeram, a pedido da reportagem, uma avaliação da condução do processo no Supremo: Maíra Beauchamp Salomi, vice-presidente da Comissão de Estudos de Direito Penal do Instituto dos Advogados de São Paulo; Marcelo Crespo, professor e coordenador do curso de Direito da ESPM; Renato Vieira, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM); Welington Arruda, mestre em Direito pelo IDP; e Priscila Pamela Santos. Em conjunto, as entrevistas indicam ao menos sete pontos controversos na ação penal.

FORO PRIVILEGIADO – Um dos pontos mais discutidos é se caberia ou não ao Supremo julgar Bolsonaro. Advogados citam que, quando a ação penal contra o ex-presidente foi aberta, prevalecia o entendimento de que antigos ocupantes do Palácio do Planalto deveriam responder na primeira instância da Justiça, como cidadãos comuns.

“Em abril, no julgamento do Habeas Corpus 232627, o STF mudou seu entendimento e decidiu que crimes cometidos por autoridades no exercício do mandato podem continuar sendo julgados pela Corte mesmo depois que elas deixam o cargo. Essa alteração, porém, aconteceu depois que a ação penal contra Bolsonaro já havia sido oferecida”, explica Maíra Beauchamp Salomi.

Ela defende que o STF não seria o foro adequado para o caso. Embora o tema esteja pacificado, a criminalista cita o exemplo do presidente Lula, cujo processo começou na primeira instância, em Curitiba, sob o comando do então juiz Sérgio Moro.

O criminalista Welington Arruda concorda. Para ele, o Supremo atraiu a ação sob duas justificativas frágeis: a suposta “conexão” de Bolsonaro com outros réus parlamentares, que possuem foro, e o fato de os crimes investigados terem como alvo o próprio Supremo.

“Essa interpretação pode alongar demais a ideia de conexão e esvaziar a garantia do juiz natural, que é o princípio de que cada caso será julgado por um magistrado cuja competência está prévia e impessoalmente definida em lei, antes do fato e do réu. É uma trava de imparcialidade que afasta tribunais de exceção, escolhas de juiz para o caso e conexões artificiais usadas para concentrar processos sem limite probatório concreto”, afirma Arruda.

ACÚMULO DE FUNÇÕES – “O STF concentrou etapas que, no desenho original, seriam separadas. O mesmo relator que, em 8 de fevereiro de 2024, determinou — a pedido da Polícia Federal e com parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) — buscas e apreensões, quebras de sigilo e a apreensão do passaporte do ex-presidente, além de decretar a prisão preventiva de assessores próximos, depois manteve essas cautelares, levantou o sigilo do inquérito e remeteu o relatório da PF à PGR.

Agora, é a própria Corte que julgará o mérito. Quando quem autoriza as medidas investigativas e as cautelares também julga, surge uma dúvida legítima sobre imparcialidade e separação de funções. Esse é o ponto”, critica Arruda.

Marcelo Crespo lembra que o problema começou em 2019, quando o então presidente do STF, Dias Toffoli, nomeou Moraes relator do inquérito das fake news. “No processo penal, a regra é que a escolha do relator seja feita por sorteio. Só há exceção quando já existe um caso semelhante e o mesmo ministro assume também o novo processo, para evitar decisões distintas”, explica Crespo.

Desde então, Moraes acumulou a relatoria de investigações sensíveis, ferindo o princípio do juiz natural. “Em determinado momento, houve uma confusão de papéis: ele era magistrado, atuava como órgão investigador e também figurava como vítima. No processo penal, quem julga não deve investigar, e quem investiga não deve julgar. E, se é vítima, não pode participar da investigação.”

O coordenador da ESPM, porém, pondera que a atipicidade dos fatos torna natural que as decisões despertem questionamentos. “É importante lembrar que praticamente todas as decisões dele foram referendadas pelos demais ministros. Não são decisões individuais, são do Supremo”, diz.

PELA PRIMEIRA TURMA – Outro debate é o fato de Bolsonaro ser julgado pela Primeira Turma do STF, que tem cinco ministros. As turmas costumam analisar recursos vindos de instâncias inferiores e casos menos complexos. Votações de maior relevância, em regra, são analisadas pelo Plenário, formado pelos 11 ministros.

“Esse caso merece ser analisado pelo Plenário porque envolve crime supostamente cometido por um presidente da República — que, pelo regimento, deve ser julgado pelo colegiado — e porque trata de tipos penais novos, criados em 2021: golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito”, afirma Renato Vieira, sócio do Kehdi Vieira Advogados. “Estamos falando de crimes centrais para a sobrevivência da democracia. Faz sentido julgá-los com apenas cinco ministros?”, questiona.

Crespo diverge. “Você tem, recentemente, jurisprudência do STF dizendo que esse caso poderia ser julgado pela turma, e não pelo plenário. Idealmente, ao julgar um presidente da República, seria mais adequado levar ao pleno. Mas, se a própria jurisprudência do Tribunal admite que seja feito pela turma, não há nenhum absurdo nessa decisão.”

Arruda, por sua vez, aponta ainda possível sobreposição de tipos penais ao somar as penas de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e golpe de Estado. “Há quem defenda a absorção de um crime pelo outro”, observa.

CERCEAMENTO DA DEFESA – Vieira também é crítico sobre a forma como a acusação dividiu os réus em núcleos distintos. Segundo ele, a separação restringiu a atuação das defesas.

“O acusador trabalhou com o mesmo contexto e deu ritmos diferentes a determinados grupos. O que aconteceu: um réu de terceiro escalão, que cumpria ordens de quem estava no primeiro ou no segundo, ficou em um núcleo separado. O normal seria que o mandante pudesse participar da audiência do subordinado, para questionar provas que dizem respeito à relação entre eles. Mas Moraes não permitiu que os integrantes do núcleo 1 participassem das audiências dos núcleos 2 e 3. Isso gerou um cerceamento de defesa.”

Ele cita como exemplo o caso de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF, colocado em núcleo diferente ao de Bolsonaro.

“A decisão de fazer a seletividade de eleitores no contexto da eleição dizia respeito diretamente a Bolsonaro, e ele não pôde influenciar a colheita da prova nesse núcleo.” Vieira também critica a falta de prazo das defesas para análise de documentos: “Houve um evento em que o documento foi juntado um dia antes da audiência”.

DELAÇÃO PREMIADA – O ponto mais grave na condução de Moraes, na opinião de Vieira, ocorreu na delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. Para ele, o ministro desrespeitou a lei ao conduzir pessoalmente todas as perguntas na audiência de 19 de novembro de 2024.

“Dias antes daquela audiência, o ministro havia recebido um ofício com as possíveis omissões de Cid e fez todas as perguntas de mérito — aquelas que, na avaliação dele, chegariam à verdade. Aquele momento significou, para mim, o rompimento, por parte do ministro Alexandre de Moraes, da observância da lei de delação premiada, que prevê que o juiz deve apenas verificar a voluntariedade e as condições do acordo e não, em hipótese alguma, entrar no mérito das informações prestadas.”

Para Vieira, esse fato é relevante porque foi nessa audiência que vieram à tona as informações sobre o plano Punhal Verde e Amarelo, que previa o assassinato de Lula. Com isso, diz o criminalista, houve um vício na colheita das declarações do delator.

O ex-presidente do IBCCRIM avalia que, embora Moraes tenha ultrapassado os cuidados exigidos para preservar sua imparcialidade em alguns momentos, é difícil afastar a conclusão de que houve, de fato, uma tentativa de golpe de Estado.

CELULARES DE ADVOGADOS – A advogada criminalista Priscila Pamela Santos destaca que as críticas a Moraes não se limitam ao processo de Bolsonaro, mas refletem reivindicações antigas da advocacia em várias instâncias. “O que se vê hoje são muitos garantistas de ocasião”, avalia.

Para ela, de modo geral, Moraes atuou dentro dos padrões do Judiciário. O caso, ressalta, é complexo, envolve crimes graves e uma situação totalmente atípica.

“A atuação da Corte em defesa da Democracia foi essencial para estarmos hoje aqui falando sobre o assunto. Mas mesmo diante desse contexto, uma decisão em particular considero controversa: a apreensão dos celulares de advogados. Acho problemática a decisão porque pode resvalar no exercício do direito de defesa, que é um pilar da democracia”, afirma.

PRISÃO DOMICILIAR – Outro ponto questionado foi a decretação da prisão domiciliar de Bolsonaro. Moraes justificou a medida afirmando que o ex-presidente descumpriu cautelares ao aparecer nas redes sociais dos filhos. Maíra Beauchamp Salomi, doutoranda em Direito Penal da USP, contesta a decisão e diz que Moraes não conseguiu provar que Bolsonaro tinha ciência ou determinou a publicação desses vídeos, como sugere em sua decisão ao tratar o material divulgado como “pré-fabricado”.

Na avaliação dela, além de não comprovar a violação, Moraes impôs a prisão domiciliar sem apresentar justificativa. Pelo Código de Processo Penal, explica a criminalista, essa medida só pode ser aplicada em casos específicos — como substituição da prisão preventiva ou definitiva quando o réu é idoso, doente, gestante ou responsável por filhos menores.

“Se Moraes entendeu que houve descumprimento das medidas cautelares, o adequado seria decretar a prisão preventiva. Caberia então à defesa demonstrar que Bolsonaro se enquadra em alguma das hipóteses do artigo 317 do Código de Processo Penal para converter a preventiva em prisão domiciliar”, explica.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O processo todo deveria ser anulado, devido às irregularidades cometidas por Moraes. Mas ainda há quem suponha que a Justiça funciona no Brasil. (C.N.)

O amor aos amigos, na poesia eterna de Machado de Assis

Não se deliberam sentimentos; ama-se ou... Machado de Assis - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O jornalista, crítico literário, dramaturgo, folhetinista, romancista, contista, cronista e poeta carioca Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908) é amplamente considerado como o maior nome da literatura nacional. Neste poema, Machado de Assis afirma que amou “Os Amigos”, especialmente para dividir a sede da alegria, por mais amarga que ela fosse.

OS AMIGOS
Machado de Assis

Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham;
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria –
por mais amarga.

Acordo para unir PP e União inclui a chapa Tarcísio-Ciro Nogueira

O gesto de Ciro Nogueira para se reaproximar de Tarcísio de Freitas

Com Nogueira de vice, Tarcísio deve sair a presidente

Natália Portinari
do UOL

O acordo para a criação da federação entre PP e União Brasil, oficializada nesta semana, envolve planos para a eleição presidencial. Os dirigentes da federação querem que a União Progressista apoie a candidatura à Presidência do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), com o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, como vice.

Além da presença de Tarcísio na conferência que formalizou a federação na terça, os defensores desse plano tiveram outra boa notícia quinta-feira: a divulgação de mensagens em que Eduardo Bolsonaro (PL-SP) critica Tarcísio. Em mensagens a Jair Bolsonaro, Eduardo disse que Tarcísio nunca ajudou seu pai no STF (Supremo Tribunal Federal) e não poderia ser a solução para 2026.

MAIOR BANCADA – A expectativa no União e no PP é de atrair Tarcísio para a esfera de influência da federação e enfraquecer o PL —que, inclusive, já perdeu nessa semana o posto de maior bancada de direita na Câmara dos Deputados para os novos federados.

Tarcísio ainda não está fechado com esse plano, mas sabe de sua existência e está esperando o momento correto para fazer qualquer movimentação. A possível indicação de Ciro a vice é uma contrapartida ao fato de Antonio Rueda, presidente do União Brasil, liderar a federação no seu primeiro ano.

O plano, a princípio, era que Arthur Lira (PP-AL), ex-presidente da Câmara dos Deputados, presidisse a federação. Essa ideia acabou sendo descartada, porém, para manter o protagonismo de Ciro Nogueira e Rueda.

CPMI DO INSS – Na noite de terça-feira, a federação foi selada com uma articulação para vencer o governo e colocar a oposição à frente da CPI do INSS.

Após o jantar comemorativo, Ciro Nogueira passou a madrugada fazendo ligações e disparando mensagens para articular a derrota do governo federal na manhã seguinte.

Rueda e Ciro querem projetar a federação como o grande partido de direita das eleições de 2026, e, para isso, precisam demonstrar força no Congresso. O papel de Alfredo Gaspar (União-AL) como relator da CPI faz parte desse jogo.

ENTREGAR OS CARGOS – O impasse, agora, está nos cargos ocupados pelo União Brasil no governo federal, já que os dois partidos têm juntos quatro ministérios e dezenas de cargos nos órgãos federais nos estados.

Embora o discurso de Rueda e de Ciro seja de que é possível entregar esses cargos, o empecilho é Davi Alcolumbre (União-AP), presidente do Senado.

Dois desses ministérios são ocupados por indicados dele: Integração e Desenvolvimento Regional e Comunicações.

Piada do Ano! Escritório do processo da Magnitsky patrocina palestra de Moraes

Moraes ganhou cachê do escritório que Dino quis ameaçar

Andre Shalders
Metrópoles

O escritório Warde Advogados, do jurista Walfrido Warde, patrocinou na tarde desta sexta-feira (22) um evento que inclui uma palestra do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A fala de Moraes foi na tarde desta sexta (22/8) na 24ª edição do Fórum Empresarial LIDE, no Rio de Janeiro.

Walfrido Warde representa o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) num processo que corre no STF sobre o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Foi nesse processo que o ministro Flávio Dino deu um despacho nesta segunda-feira (18) reafirmando que decisões judiciais e leis estrangeiras não têm validade automática no Brasil.

RESPOSTA A SANÇÕES – O despacho de Dino foi visto como uma resposta à sanção contra Alexandre de Moraes pelo governo dos EUA por meio da Lei Magnitsky, embora não tenha relação direta com o caso de Moraes,

O despacho de Dino não menciona o colega dele no STF ou a Lei Magnitsky, mas foi exarado num momento de elevação das tensões entre os Estados Unidos e o Brasil.

No site do evento do LIDE, cada palestra aparece associada a patrocinadores ligados ao tema das falas. Moraes proferiu a conferência de encerramento do evento, com o tema “O Brasil de hoje e o Brasil do amanhã”. Ao lado da palestra está o logo do Warde Advogados. Outro ministro do STF, André Mendonça, fez a conferência de abertura na manhã desta sexta. O painel apareceu vinculado ao Pinheiro & Mendes Advogados.

INSTRUMENTOS – Na sua fala, sobre “Impunidade, omissão e covardia nunca deram certo”, Alexandre de Moraes defendeu a aplicação dos “instrumentos que a Constituição prevê” para garantir a normalidade democrática.

“O Brasil, que infelizmente tem um histórico de golpes de estado e de regimes de exceção (…), nós temos (na Nova República) 37 anos de Estado Democrático de Direito. E de estabilidade institucional. Que, repito, não significa tranquilidade, céu de brigadeiro. Mas significa que temos mecanismos importantes para garantir essa normalidade”, disse.

“E nesses momentos, onde há intranquilidade, onde há a necessidade de aplicação dos instrumentos que a Constituição prevê para a garantia da estabilidade democrática (…), a história nos ensina: impunidade, omissão e covardia podem, num primeiro momento, parecerem o caminho mais rápido, para acabar com os problemas. Mas é um caminho falso. Impunidade, omissão e covardia nunca deram certo”, disse Moraes.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
O Lide é uma empresa de eventos criada pelo ex-governador de São Paulo, João Doria Jr. O ministro Moraes poderia ser patrocinado por qualquer patrocinador. O fato de a conta ter saído para o escritório Warde foi uma ironia do destino, porque não se poderia prever que Flávio Dino fizesse uma lambança jurídica dessa envergadura, para distribuir pitacos no processo dos outros. Comprem pipocas, porque esse lance da Magnitsky vai render muito. (C.N.)

Divulgação de “provas” quer inflamar o público às vésperas do julgamento

JH: Investigação aponta que Silas Malafaia atuava em linha com o  ex-presidente Jair Bolsonaro

Carolina Brígido
Estadão

Mais do que o conteúdo das mensagens de Jair Bolsonaro, vale atentar para o momento que elas foram divulgadas. A menos de duas semanas do início do julgamento do ex-presidente e outros sete réus da trama golpista, o Supremo Tribunal Federal (STF) revelou nesta quarta-feira, 20, diálogos do capitão com interlocutores próximos – entre eles, o filho Eduardo, que atua nos EUA para tentar salvar o pai.

As mensagens instruem outra investigação em andamento no STF, sobre as artimanhas de Bolsonaro para se esquivar de eventual punição por ter planejado um golpe de Estado. O ministro Alexandre de Moraes decretou neste inquérito medidas cautelares ao ex-presidente e, diante do descumprimento, a prisão domiciliar.

EXISTÊNCIA DA TRAMA – Ou seja, Moraes diz que já tem convicção da existência da trama para livrar Bolsonaro da Justiça. Com o apoio de áudios e transcrições, acha que os fatos se tornam irrefutáveis. Assim, diante da força das provas, o ministro preferiu divulgar as mensagens ao público.

Os celulares usados por Bolsonaro foram apreendidos em 18 de julho e em 4 de agosto – respectivamente, quando foram impostas as medidas cautelares e quando a prisão foi decretada. Ou seja: a primeira leva do material estava com a Polícia Federal há mais de um mês.

A decisão de divulgar as provas agora não parece aleatória. A pouco tempo do julgamento final de Bolsonaro, áudios, transcrições de mensagens e vídeos comovem a opinião pública.

CONDENAÇÃO – Portanto, a condenação do ex-presidente pelo STF é inevitável. Agora, o relator da ação penal lembra os brasileiros dos crimes que Bolsonaro cometeu e prepara o terreno para o julgamento, agendado para iniciar dia 2 de setembro.

Moraes também ressalta, com a divulgação no material, que o réu é o ex-presidente, e não o ministro – que acabou punido pelos EUA, por influência de Eduardo.

Diálogos e suspeitas financeiras agravam a situação de Bolsonaro no STF

Charge do Cláudio de Oliveira (Folha)

Pedro do Coutto

Nesta semana, veio à tona diálogos envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro, seus filhos e o pastor Silas Malafaia, o que agravou de forma significativa a situação do ex-mandatário no inquérito que tramita no Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes.

As conversas, obtidas pela Polícia Federal a partir do acesso a arquivos armazenados em nuvem, revelam uma rede de articulações que vai desde o campo político até movimentações financeiras de alto valor. Diante da repercussão, Moraes determinou que Bolsonaro apresentasse explicações em prazo curto, uma medida que reforça a pressão jurídica e política sobre ele.

DEPÓSITO – Entre os pontos mais delicados está a descoberta de um depósito de cerca de R$ 30 milhões na conta de Bolsonaro, realizados em parcelas cuja origem ainda não foi esclarecida. A Polícia Federal vê nessa operação um indício de movimentação financeira atípica, potencialmente ligada a lavagem de dinheiro. A defesa do ex-presidente terá de explicar não apenas o destino da quantia, mas principalmente a fonte dos recursos, o que coloca Bolsonaro em posição defensiva.

Ao mesmo tempo, veio à tona um rascunho de pedido de asilo político na Argentina, endereçado ao presidente Javier Milei, elaborado em 2024, o que demonstra que Bolsonaro cogitou seriamente deixar o país diante do avanço das investigações. Embora o documento não tenha sido formalizado, sua simples existência adiciona um componente de fragilidade à narrativa de que se vê perseguido politicamente, pois indica que o ex-presidente vislumbrava a fuga como saída.

Outro ponto que chamou atenção foi a inclusão do pastor Silas Malafaia no inquérito conduzido por Alexandre de Moraes. Malafaia teria participado de movimentos para pressionar a Justiça brasileira e influenciar a opinião pública em favor de Bolsonaro, inclusive articulando campanhas internacionais contra ministros do Supremo.

MOBILIZAÇÃO – Além disso, diálogos revelam que Eduardo Bolsonaro, deputado federal que reside nos Estados Unidos, tentou mobilizar autoridades norte-americanas para adotar medidas contra integrantes da cúpula do Judiciário brasileiro, como a suspensão de vistos e o bloqueio de bens. Essa tentativa de internacionalizar o conflito e obter apoio externo para desgastar o Supremo vem sendo interpretada como obstrução de justiça e ameaça à soberania nacional.

O impacto dessas revelações não se restringe ao campo jurídico. Elas acentuam a crise interna no núcleo bolsonarista, expondo divergências e fragilidades na própria família. Combinadas, essas circunstâncias tornam mais difícil a tarefa do ex-presidente de oferecer uma explicação clara e convincente para a sociedade. Bolsonaro se vê, assim, diante de um dilema: ou se pronuncia de forma transparente, assumindo riscos jurídicos ainda maiores, ou opta pelo silêncio, que pode lhe custar ainda mais caro na opinião pública.

De um modo ou de outro, a pressão cresce, e os fatos parecem se consolidar contra ele, num cenário em que a cada revelação as saídas políticas e legais se estreitam.

Dino, o agente provocador, pode causar radicalização da Magnitsky à brasileira

Prometeu o céu, entregou o inferno: os dados que desmentem a promessa de Flávio  Dino - Crítica Cotidiana

Charge sem assinatura (Arquivo Gppgle)

Carlos Andreazza
Estadão

Um dos grandes problemas do Brasil é o excesso de valentes – de candidatos a heróis. De corajosos que não pisam nas ruas e não experimentam a materialidade-decorrência de suas bravuras. Os tomadores de riscos com o pescoço alheio – temos deles aos montes e com muito poder. Nós os bancamos.

Nada aprendemos com a história, inclusive a recente, a da Lava Jato, ou talvez admitamos utilitariamente que corrupções nos processos – que arreganhos autoritários – sejam usados contra os nossos adversários, por motivo nobre; sendo sempre bom lembrar que os precedentes ficam.

NOBREZA DEMAIS – Os motivos serão sempre nobres. O gênio xandônico não voltará à lâmpada, mesmo quando já não houver Xandão. Não nos faltam salvadores da pátria, os que pretendem nos proteger de nós mesmos, autorizados, sempre em nome de causa virtuosa, a enfrentar situações excepcionais com atos de exceção.

Entre esses barrosos, destaca-se Flávio Dino, senador togado, o ministro da Corte Constitucional com maior vocação para concorrer com Alexandre de Moraes à condição de mestre-criador do Direito, ao posto de instrumentalizador-geral da lei.

Veja-se o caso da reação do Supremo – a reação irresponsável de Dino é do Supremo – à Lei Magnitsky. Há uma ADPF específica a respeito, sob relatoria de Cristiano Zanin. Foi ignorada-atropelada. Impossível crer que sem combinação-articulação entre ministros. Tem método.

ESCOLA DE SAMBA – Ainda que, em momentos de pressão, o STF vire uma escola de samba, com seus integrantes plantando anonimamente na imprensa que alas do tribunal estariam incomodadas com decisões de fulano ou sicrano, Dino – jamais sozinho – escolheu manipular a natureza de uma ação sobre a tragédia de Mariana para mandar recados políticos e, na prática, produzir insegurança jurídica e amedrontar certamente não o governo americano.

De novo: não sem aval dos donos da corte, Dino disparou recados ao sistema financeiro nacional, produziu insegurança jurídica interna e amedrontou – acirrando a nossa já intensa imprevisibilidade – os brasileiros. Parabéns.

Para o objetivo de brecar os efeitos da Magnitsky no Brasil, a decisão do ministro é inócua. Eficaz somente para lançar as instituições financeiras brasileiras numa encruzilhada que, afinal, tende a evidenciar a fraqueza do STF, limitação também sobre a compreensão do tamanho do problema. Porque a questão crucial permanece: sobre se haveria alternativa a um banco, se se quiser inserido no sistema financeiro global, senão se submeter às consequências da Magnitsky no Brasil.

DÚVIDA FATAL – Esse é o impasse, enfraquecedor do Supremo, que o despacho de Dino arma – e que se pode resumir na forma de pergunta: tendo de escolher, uma instituição brasileira preferirá violar a soberania nacional, contrariar o STF e se defender no Brasil, talvez mesmo contratando banca que conte com parentes de ministros do tribunal, ou enfrentar as sanções econômicas baixadas nos (e a partir dos) EUA? Como responderia a essa inquirição um banco com linhas de crédito sob financiamento internacional?

Essa indagação serve para empresas brasileiras no geral, cujos sistemas – os provedores de infraestrutura, por exemplo – são americanos. Contratos que seriam encerrados – nos EUA – sob ordens da OFAC, a agência do Departamento do Tesouro americano que cuida de sanções econômicas e comerciais.

Sobre isso, também e bizarramente no Supremo, parece haver desconhecimento; sendo assustador que decisões voluntariosas sejam tomadas sob ignorância.

CONTRA OS BANQUEIROS – A decisão de Dino esclarece o óbvio, pela honra (uhu!) da soberania nacional: que determinação judicial de tribunal de outro país não vigorará no Brasil sem homologação do STF. Lindo. Lindo e em nada responsivo à Lei Magnitsky, que se desenvolve em outro registro e não sobre território brasileiro. Decisão, portanto, que serviu somente para emparedar – em resumo – os banqueiros. Banqueiros dos bancos em que todos nós, os ferrados, temos contas. Nossos dinheiros estão lá. Parabéns.

Nota pétrea; e não exclusivamente destinada a um ex-governador do Maranhão, Estado que deixou na mesma miséria que encontrara: soberania de brasileiro – no mundo real, aquele em que não vivem os ministros do STF – é comida em casa, segurança na rua e condições para trabalhar. No caso de um empresário, previsibilidade para manter funcional o seu negócio.

Esclareça-se: toda empresa que assina contrato com prestadores de serviços americanos – como os de soluções para tecnologia – contrata também o compromisso de obedecer aos efeitos das sanções, sanções aplicadas nos EUA, sob o risco de sanção contra si a partir dos EUA. A Lei Magnitsky pune – nos EUA – com multas bilionárias, para estrangular mesmo, empresas ou instituições financeiras estrangeiras que tenham negócios nos EUA e se relacionem formalmente com sancionados.

AGENTE PROVOCADOR – Donde, repita-se, o caráter inócuo da decisão de Flávio Dino, posto que a Magnitsky não toma providências diretamente no Brasil, mas com consequências no Brasil, se quiserem as empresas brasileiras continuar existindo nos EUA – estando os EUA, economicamente, em todo lugar.

A decisão de Dino tem por eficiência – aí, sim – provocar. Esse é o potencial; e não é bom. Da mesma maneira que ele presta esclarecimentos sobre a defesa da soberania nacional brasileira, seus despachos podem motivar esclarecimentos também de parte do governo americano. Não seria bacana. Porque, hoje, os efeitos da Magnitsky contra Moraes – assim tocam os bancos brasileiros – são meia-boca, sobretudo intimidatórios, e estão limitados a bloquear operações em dólar e o uso de cartões com bandeiras americanas, liberados os trânsitos em real. Sobrevive-se.

Seria o caso de torcer para que o arranjo continuasse acomodado desse jeito, com Trump fingindo não ver Dino e satisfeito em apenas estacionar o uso pervertido da lei, como ameaça, sobre o Brasil – uma espécie de Magnitsky à brasileira. Mas Dino quer a Magnitsky à americana. Mui amigo.

Derrota inicial na CPMI do INSS expõe o desprestígio de Motta e Alcolumbre

Oposição articula paralisação do Congresso para pressionar Motta e  Alcolumbre após prisão de Bolsonaro

Motta e Alcolumbre respondem pelos erros do governo

Dora Kramer
Folha

Mais que um fiasco da base governista, a perda do comando da CPI mista do INSS foi uma derrota pessoal dos presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado. Davi Alcolumbre (União-AP) e Hugo Motta (Republicanos-PB) levaram um passa-moleque inédito e surpreendente para comandantes do Congresso eleitos há poucos meses em situação de quase unanimidade.

EROSÃO DO CAPITAL – Uma acelerada erosão de capital de autoridade que pode ser atribuída tanto a um revide pela posição dos dois no episódio do motim de deputados e senadores quanto à percepção de que se dispuseram a prestar serviço ao Palácio do Planalto na indicação de presidente e relator amigáveis.

O fracasso, sabemos, não tem pai nem mãe, mas no caso a filiação é compartilhada pelo presidente Luiz Inácio da Silva (PT) em sua desatenção ao Congresso neste mandato, pela incompetência de seus líderes no Parlamento e pelo excesso de confiança de Motta e Alcolumbre nos respectivos tacos.

Salto alto, cochilo, imprevidência e o que mais se possa listar para explicar o malogro, fato é que a CPMI começa sob a égide da desorganização do governo. Na tentativa de reduzir o dano, o líder Randolfe Rodrigues (PT-AP) falou em “circunstância regimental” e prometeu reação ao longo dos trabalhos.

BASE AOS PEDAÇOES  – O problema, no entanto, não é de natureza circunstancial, dado não ser a primeira vez que o governo dorme no ponto e subestima a oposição. Chega a ser irrelevante, por impossível, prever o rumo da comissão do ponto de vista substantivo. No adjetivo, está claro que será palco de embates políticos ferrenhos em detrimento da investigação rigorosa e atribuição de responsabilidades.

A questão é que a derrota não foi fruto de acidente, mas resultado de um trabalho malfeito de articulação, de improvisações e de suposições equivocadas.

Se a oposição soube jogar com o regimento, aproveitar ausências de governistas para substituí-los por suplentes e entrar a madrugada organizando a tropa, caberia ao governo detectar os movimentos e se antecipar aos acontecimentos.