Disputa por herança política de Bolsonaro acirra racha entre aliados

Ciro Nogueira e Valdemar são vistos como ‘aproveitadores’

Carlos Petrocilo
Danielle Brant
Folha

Aliados de Jair Bolsonaro (PL) têm manifestado internamente descontentamento com a postura de pessoas próximas em relação a supostas sinalizações dadas pelo ex-presidente, e afirmam ver tentativa de aproveitar a inacessibilidade dele para tentar alcançar interesses próprios.

Braço direito de Eduardo Bolsonaro (PL-SP) nos Estados Unidos, o influenciador Paulo Figueiredo colocou lenha na fogueira ao escrever em suas redes sociais que, hoje, o ex-presidente é um refém.

CIRO E VALDEMAR – Sob reserva, os aliados criticam especificamente o senador Ciro Nogueira (PP) e o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que veem como tentando orquestrar narrativas para tirar de vez o protagonismo do ex-presidente, a um ano das eleições.

Um ex-integrante do governo Bolsonaro avalia que Ciro está “hipnotizado” com a possibilidade de ser candidato a vice de Tarcísio de Freitas (Republicanos) caso ele decida disputar a Presidência em 2026, enquanto Valdemar tem como interesse os fundos partidário e eleitoral.

Outro aliado diz que caciques partidários aproveitaram o distanciamento entre Bolsonaro e Eduardo, conforme decisão do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, para deflagrar uma guerra de egos.

CONFUSÃO – Na avaliação dos bolsonaristas, as narrativas atribuídas ao ex-presidente servem para confundir a cabeça da militância. Eles lembram que, como ele está distante das redes sociais e suas visitas têm que passar pelo aval do Supremo, há muitas pessoas usando uma espécie de “liberdade poética” sobre conversas que teriam tido com Bolsonaro.

Com isso, acabam aparecendo em reportagens versões de conversas moldadas conforme o interesse do interlocutor, dizem. E Bolsonaro não tem como contraditar, o que cria uma crise de liderança, complementam.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEm tradução simultânea, a família Bolsonaro – especialmente Eduardo – está tumultuando a oposição a Lula. E o  governador Tarcísio de Freitas, o mais forte oposicionista, só aceita a candidatura se for consenso nas direitas. E assim Lula pode se mumificar no poder, igual a Lenin, falando em gravações as mesmas bobagens de sempre, até o final dos tempos. (C.N.)

Bolsonaro corta especulação: Michelle será candidata ao Senado

Após polêmica, Michelle descarta Planalto

Malu Gaspar
O Globo

Deu problema em casa a entrevista de Michelle Bolsonaro ao jornal inglês The Telegraph em que ela afirmou que, se fosse necessário, se candidataria a presidente em 2026. Nas conversas que teve depois da publicação, Jair Bolsonaro não a citou, mas fez questão de mencionar que Michelle será sim candidata em 2026 – a senadora.

A reação fez com que interlocutores do ex-presidente entendessem que as declarações de Michelle são um não-assunto para ele. Desde antes da prisão, aliados de Bolsonaro relatam que ele já dizia que a mulher não deveria se candidatar à Presidência e sim ao Senado Federal pelo Distrito Federal, mesmo aparecendo bem colocada nas pesquisas de intenção de voto.

“VALORES CONSERVADORES” – Ao jornal, Michelle prometeu “se levantar como uma leoa para defender nossos valores conservadores”. O diário ressaltou que a ex-primeira-dama se posicionou “como potencial sucessora de seu marido” e “deu a entender” que estaria disposta a disputar a eleição presidencial do ano que vem.

No último sábado, (27), três dias depois da entrevista, Michelle disse a apoiadores em um evento do PL Mulher em Ji-Paraná (RO) que não quer ser presidente e sim primeira-dama. E explicou sua fala:

“Nós somos mulheres que acolhem, que alimentam, que ajudam, que cuidam e defendem os seus como leoa. Nós vamos defender a nossa família. O meu marido está dentro de casa, mas, se ele quiser, eu serei a voz dele nos quatro cantos dessa nação.”

MANIFESTAÇÃO – À equipe da coluna, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que entende o comportamento de Michelle como manifestação de indignação e acha que ela não se colocou como candidata. “Que mulher não ficaria revoltada com o marido colocado em cativeiro, como meu pai?”.

Para Flávio, “não é hora” de discutir um eventual substituto para seu pai na chapa presidencial em 2026. “Nossa prioridade é restabelecer tudo o que Alexandre de Moraes tirou do Bolsonaro”, diz o filho 01.

Tarcísio desiste da Presidência e será candidato à reeleição em São Paulo

A charge mostra o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, abraçando a Morte com as mãos ensanguentadas e dizendo: "Me desculpa por ter me afastado..." e a Morte respondendo: "Agora está tudo bem, filho!".

Charge do Cláudio Mor (Folha)

Vicente Limongi Netto

Analistas políticos pegos de calças e saias justas com a revelação de Tarcísio de Freitas de que disputará a reeleição. Sábios da GloboNews, com a arrogância habitual, tiveram que aceitar o tranco. Com argumentos rasos e tentativas patéticas de explicações razoáveis. Apelando para rumores e disse me disse.

A decisão de Tarcísio causou espanto a todos. Menos para este veterano e calejado repórter.  Nessa linha, recordo o que escrevi na Tribuna da Internet, dia 10 de setembro:

“O plano B de Tarcísio de Freitas é ser reeleito governador ou ser eleito senador. Fica melhor para o figurino dele. Tarcísio é novo e capaz. Não precisa, politicamente, do clã Bolsonaro para rigorosamente nada. Tarcísio, vá devagar ao pote. Para não ficar sem o mel e a cabaça. O apressado come mal e cru. Cabeça é para ser usada. Não apenas para colocar bonés de Trump”.

IRRESPONSABILIDADES – O Jornal de Brasília contribui com bom e vigilante jornalismo, revelando irresponsabilidades dos motoristas no tumultuado trânsito da capital. Nessa linha, na edição do dia 29, o jornal revela que “a falta do uso de seta cresce 88% no DF”.

Muitos acham que a seta é enfeite. Serve como brinco. De maneira geral, os números medonhos mostram que a esmagadora maioria dos cidadãos deixa os neurônios em casa, quando entra no carro e pega o volante. 

As cenas patéticas de trapalhadas são perigosas, diárias e constantes. Ultrapassam pela direita. O pior, alguns em alta velocidade.

MUITAS INFRAÇÕES – É um festival demaus motoristas. Alguns estacionam o carro trancando os outros, e deixam freado ou até engrenado, somem no mundo.

Desrespeitam as faixas de pedestres; colam o carro na traseira do outro, com farol alto; dirigem lanchando, falando no celular e tablet; é quase absoluta a falta de educação com vagas para idosos e deficientes; malucos e surdos com som fora dos padrões.

Outro tipo de fofos irresponsáveis dirige com cãozinho no colo. Exibicionistas colocam o braço para fora do carro. Querem mostrar o relógio novo, mesmo que possam perder o braço. E há aqueles que não usam o cinto de segurança. Seguramente, o pior exemplo de péssimo motorista. 

BOA NOTÍCIA – O SESC-DF anunciou que será inaugurado em setembro de 2028 o maior Centro Cultural já construído pela importante entidade do Sistema S.

Localizado na Asa Norte de Brasília, o investimento será de 150 milhões de reais. O povo de Brasília merece mais cultura e menos politicagem.

Eduardo Bolsonaro usa carta de Trump para atacar STF e defender anistia ampla

Deputado diz que acusações motivam atenção dos EUA

Bruna Rocha
Estadão

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) utilizou as redes sociais nesta segunda-feira, 29, para comentar a carta do presidente americano Donald Trump, aproveitando a ocasião para criticar o projeto de lei da anistia. Segundo ele, a proposta de anistia, que acabou se transformando em uma dosimetria para reduzir as penas dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, não seria suficiente para encerrar o que classificou como uma “perseguição”.

No X (antigo Twitter), Eduardo Bolsonaro, que está morando nos Estados Unidos desde fevereiro deste ano, usou a carta enviada por Trump ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para criticar a Justiça brasileira.

CONTESTAÇÃO – Ele contestou a condenação do pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro, sentenciado a 27 anos e 3 meses de prisão por liderar uma organização criminosa e tentar abolir o Estado Democrático de Direito após o resultado das eleições de 2022.

No documento datado de 9 de julho de 2025, Trump elogiou Jair Bolsonaro, chamando-o de líder “altamente respeitado” e criticou as acusações contra o ex-presidente, classificando o julgamento no STF como uma “caça às bruxas”. Trump também pediu a suspensão imediata do processo judicial e considerou o caso uma “vergonha internacional”

Usando esse argumento, Eduardo afirmou: “Este é o principal motivo que atrai a atenção dos EUA para o Brasil — daí decorrem também diversos outros fatores. A dosimetria, destaque-se, não conserta essa perseguição; a anistia, sim”, escreveu o deputado.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Eduardo Bolsonaro mais uma vez recorre ao discurso de vitimização para tentar blindar o pai e o bolsonarismo das consequências jurídicas de seus atos. Ao usar uma carta de Donald Trump para atacar a Justiça brasileira e pressionar pela anistia, o deputado reforça a narrativa de “perseguição” que ignora as provas e condenações já confirmadas no Supremo. Em vez de se posicionar como parlamentar comprometido com o Estado Democrático de Direito,  atua como porta-voz de uma estratégia de deslegitimação das instituições, apostando na polarização e no desgaste da democracia para obter dividendos políticos. (M.C.)

Relator bolsonarista põe em xeque julgamento de Eduardo Bolsonaro

Trump, Netanyahu e o veto à Palestina: a geopolítica da exclusão

Proposta de Trump não oferece dignidade, apenas gestão

Marcelo Copelli
Revista Visão (Portugal)

A recente proposta do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para encerrar o conflito entre Israel e o Hamas em Gaza volta a expor os impasses históricos em torno da questão palestina e a revelar os verdadeiros interesses que moldam a política internacional.

Trump afirmou que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, concordou com a ideia de criar em Gaza um “comitê palestino de transição, tecnocrático e apolítico”, formado por especialistas internacionais e representantes locais qualificados, responsável por administrar temporariamente a região. Ao mesmo tempo, criticou a posição da maioria dos países que apoiam a criação de um Estado da Palestina, reafirmando a tradicional recusa norte-americana e israelense em aceitar essa solução.

REIVINDICAÇÃO HISTÓRICO – O que se apresenta como proposta de paz soa, na prática, como um adiamento indefinido de uma reivindicação histórica. Ao substituir a soberania por um arranjo tutelado, os Estados Unidos e Israel mantêm o essencial: o controle político e estratégico sobre os territórios, impedindo que os árabes da região se constituam como Estado pleno, com fronteiras reconhecidas, governo eleito, capacidade de autodefesa e representação internacional.

A ideia de um comitê “apolítico” é, na verdade, profundamente política, porque retira da população local a possibilidade de escolher quem a governa e delega a gestão de suas vidas cotidianas a tecnocratas sem legitimidade popular.

O argumento central para negar o Estado continua a ser o da segurança. Israel insiste que não pode permitir a emergência de um vizinho soberano que, em sua visão, poderia servir de plataforma para novos ataques. Mas, ao colocar toda a ênfase na segurança, ignora-se que a ocupação prolongada, a ausência de soberania e a negação de direitos são, por si mesmas, fatores permanentes de instabilidade e radicalização.

RAZÕES TERRITORIAIS – A recusa também se apoia em razões territoriais e ideológicas: muitos setores do Estado israelense não admitem abrir mão de partes estratégicas da Cisjordânia, nem aceitar um rival com pretensões equivalentes de legitimidade histórica.

Para os Estados Unidos, as razões são múltiplas. No plano geopolítico, Washington mantém a pretensão de ser árbitro da região, mas raramente se posiciona de forma a contrariar os interesses de Israel. Internamente, a política em relação ao conflito é atravessada por pressões eleitorais, pelo peso do lobby pró-Israel e pelo discurso religioso de parcelas do eleitorado.

Externamente, a Casa Branca procura equilibrar-se entre o apoio incondicional a Israel e a necessidade de não perder aliados no mundo árabe, onde a causa da autodeterminação continua a ressoar fortemente. Não reconhecer a soberania reivindicada, portanto, é também uma forma de manter influência, controlar o ritmo das negociações e evitar compromissos que possam ser politicamente custosos.

SEM SOBERANIA – O problema é que a proposta de Trump não oferece dignidade, apenas gestão. Sem governo eleito, sem soberania real e sem voz própria, Gaza correria o risco de transformar-se em um protetorado indefinido, onde milhões de pessoas viveriam sob a tutela de organismos externos.

A história mostra que arranjos desse tipo tendem a prolongar os conflitos em vez de resolvê-los, porque não lidam com a raiz do problema: a falta de reconhecimento do direito de autodeterminação. Além disso, uma solução imposta de cima para baixo, que desconsidera a vontade popular, está condenada a ser vista como ilegítima, alimentando ainda mais ressentimento e violência.

Enquanto se discute em mesas diplomáticas, a realidade em Gaza continua a ser de destruição, deslocamento e sofrimento humano. Para aquele povo, a ideia de Estado não é um capricho, mas a condição mínima para reconstruir escolas, hospitais, energia, infraestrutura e, sobretudo, para recuperar a dignidade de viver com autonomia. Negar essa aspiração é condená-los a uma existência de dependência e humilhação, em que até os direitos mais básicos ficam sujeitos à boa vontade de outros.

SEM JUSTIFICATIVA – Os interesses estratégicos de Israel e dos Estados Unidos explicam a recusa, mas não a justificam. Uma paz verdadeira só poderá nascer de uma solução que reconheça plenamente a soberania reivindicada, que respeite o direito internacional e que permita aos dois povos coexistirem em condições de igualdade. O plano de Trump, ao contrário, parece apenas adiar indefinidamente essa possibilidade, criando uma gestão temporária que pode transformar-se em permanente e perpetuar a lógica da exclusão.

No fundo, o que está em jogo é a escolha entre oferecer dignidade ou impor tutela. Negar um Estado àquele povo é manter a região refém do medo, da insegurança e da desigualdade. Reconhecê-lo seria um passo arriscado para alguns, mas indispensável para qualquer paz que mereça esse nome.

Sem justiça e sem soberania, a paz será sempre uma miragem, e propostas como a que agora se apresenta não passam de sombras de solução, incapazes de oferecer futuro a uma nação que há décadas espera por ele.

Antes de morrer com apenas 20 anos, o último pedido de Álvares de Azevedo

Feliz daquele que no livro d'alma não... Álvares de Azevedo - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O dramaturgo, ensaísta, contista e poeta paulista Manuel Antônio Álvares de Azevedo (1831-1852), no poema “Tristeza”, antes de morrer aos 20 anos, fez um último pedido para que escrevessem uma frase em sua sepultura.

TRISTEZA
Álvares de Azevedo

Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto o poento caminheiro;
Como as horas de um longo pesadelo,
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;

Como um desterro de minha alma errante,
Onde fogo insensato a consumia…
Só levo um saudade – é um desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.

Só levo uma saudade – é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas…
De ti, ó minha mãe, pobre coitada,
Que por minha tristeza te definhas!

Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz – e escrevam nela:
Foi poeta, sonhou e amou a vida

Moraes autoriza Daniel Silveira a cumprir pena em regime aberto com tornozeleira

Decisão reconhece cumprimento de requisitos legais

or Rayssa Motta
Estadão

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou o ex-deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) a cumprir o restante da pena do regime aberto. Ele terá que usar tornozeleira eletrônica, comparecer semanalmente no fórum, ficar fora das redes sociais e comprovar “atividade laborativa lícita”.

A defesa do ex-deputado pediu a progressão de regime e a Procuradoria-Geral da República (PGR) foi a favor. O ex-deputado preencheu os requisitos previstos na Lei de Execuções Penais para a progressão do regime de prisão, como o cumprimento de parte da condenação no sistema fechado e o bom comportamento.

REGIME PROGRESSIVO – Em sua decisão, Moraes justificou que a pena “deverá ser cumprida em regime progressivo, permitindo ao sentenciado, desde que presentes em sua integralidade os requisitos legais objetivos e subjetivos, o acesso aos regimes menos rigorosos”.

“Na presente hipótese, estão presentes todos os requisitos legais exigidos para a progressão do sentenciado ao regime aberto de cumprimento de sua pena privativa de liberdade”, escreveu o ministro.

O ex-deputado conseguiu a remissão de 389 dias da pena, abatidos a partir da comprovação de atividades de estudo e trabalho na cadeia, e também pagou a multa corrigida de R$ 271 mil por violar a tornozeleira eletrônica quando estava em prisão domiciliar.

ATAQUES – Daniel Silveira foi condenado pelo STF a oito anos e nove meses de prisão por defender pautas antidemocráticas, como a destituição de ministros do tribunal e a ditadura militar. Em um vídeo publicado nas redes sociais, em fevereiro de 2021, ele atacou e ofendeu ministros, falou em dar uma “surra” nos magistrados, defendeu o golpe militar de 1964 e o AI-5 (ato mais duro da ditadura).

O julgamento foi concluído em abril de 2022, mas Daniel Silveira não começou a cumprir a pena imediatamente porque o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) editou um decreto para perdoar a condenação. O indulto terminou anulado pelo STF. Até o dia 16 de setembro, data da emissão do atestado de pena mais recente, consta que o ex-deputado cumpriu quatro anos, um mês e 26 dias da pena.

Bolsonaro tranquiliza Tarcísio e diz que Eduardo não disputará Presidência

Tarcísio visita Bolsonaro, prega anistia e sinaliza união em 2026

Bolsonaro diz a Tarcísio que Eduardo tentará o Senado 

Luísa Marzullo
O Globo

No primeiro encontro com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. desde que foi condenado a 27 anos de prisão, Jair Bolsonaro afirmou que deseja manter a candidatura de Eduardo Bolsonaro ao Senado por São Paulo em 2026, descartando a possibilidade de que o filho seja lançado ao Planalto.

A reunião, um almoço, ocorreu no condomínio em que o ex-presidente cumpre prisão domiciliar, em Brasília, e contou também com a presença do senador Flávio Bolsonaro e do vereador Jair Renan.

FOI TAXATIVO – Segundo relatos de interlocutores, Bolsonaro foi taxativo ao defender Eduardo como nome da família na disputa paulista.

A leitura é que, embora a vaga não inviabilize outros aliados — como Guilherme Derrite, ex-secretário da Segurança de Tarcísio e hoje deputado pelo PP —, a ênfase no filho simboliza a tentativa do ex-presidente de preservar influência direta sobre o maior colégio eleitoral do país.

Eduardo, porém, está fora do Brasil desde fevereiro e enfrenta investigações que podem levá-lo à inelegibilidade, o que faz com que aliados já discutam alternativas para a chapa.

EDUARDO INSISTE – A posição de Bolsonaro contrasta com a do próprio Eduardo, que na semana passada declarou em entrevista ao Metrópoles que seria candidato à Presidência mesmo sem o apoio do pai.

— Eu sou, na impossibilidade de Jair Bolsonaro, candidato a presidente da República; por isso que o sistema corre e se apressa para tentar me condenar em algum colegiado, que seja na Primeira Turma do STF, para tentar me deixar inelegível — afirmou.

Entre aliados, cresce a avaliação de que, caso Eduardo permaneça fora do Brasil ou tenha sua situação jurídica agravada, não há como registrar a sua candidatura em 2026. A aposta de Bolsonaro no Senado funciona, nesse contexto, também como tentativa de blindagem, oferecendo ao filho uma plataforma eleitoral considerada por aliados como mais segura do que a retórica presidencial.

SEM VIABILIDADE – Já em relação ao Planalto, Bolsonaro teria dito a Tarcísio que não enxerga viabilidade em um projeto nacional de Eduardo. Ao contrário do que aliados próximos ventilam, trata a hipótese como recurso retórico, útil para manter o protagonismo da família no debate público e preservar a narrativa de perseguição que sustenta sua base.

O governador paulista, por sua vez, aproveitou o encontro para reafirmar que será candidato à reeleição, resistindo às pressões de setores do bolsonarismo que gostariam de vê-lo no Planalto.

A insistência na reeleição é lida por aliados como uma forma de dar uma “acalmada” nas especulações e ganhar tempo, até porque, em meio à indefinição sobre o futuro de Bolsonaro e à tramitação da anistia no Congresso, qualquer gesto antecipado poderia gerar ruído.

PRIMEIRO, ANISTIA – Na saída, Flávio Bolsonaro fez questão de elogiar o governador, mas condicionou o debate da sucessão à aprovação da anistia.

— Tarcísio é um dos principais ativos que a centro-direita tem. Tem feito um grande trabalho — disse o senador. E acrescentou: — Somente após esse processo legislativo da anistia e esse desenrolar final, não tem porque antecipar nome de nada.

No PL, dirigentes avaliam que a candidatura de Eduardo ao Senado era o caminho natural, mas que o cenário tende a se complicar. Valdemar Costa Neto, presidente da legenda, busca calibrar o discurso entre a lealdade à família Bolsonaro e a pressão do centrão por nomes com maior viabilidade. Um aliado direto de Valdemar afirmou que Eduardo já é tido como carta fora do baralho.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
– Como se vê, nada de novo no front ocidental. Eduardo Bolsonaro não tem apoio do pai e o PL não lhe dará legenda. Essa bagunça que está fazendo nos EUA é tiro no pé, porque prejudica a união da direita com o Centrão e fortalece o petista Lula, que até teria virado favorito, segundo essas ridículas pesquisas tentam espalhar. (C.N.)

Quando a educação pesa no bolso: mensalidades muito além da inflação

Bolsonaro rejeita ‘anistia light’ e acordo do Congresso com Supremo

Ex-presidente rejeita endossar projeto de Paulinho da Força

Malu Gaspar
O Globo

Em conversa reservada com o presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, Jair Bolsonaro deixou claro que não vai apoiar as articulações no Congresso para aprovar uma “anistia light” que diminua as penas dos investigados na intentona golpista que culminou com os ataques às sede dos três poderes em 8 de janeiro de 2023.

Para o ex-presidente, não dá para endossar publicamente um projeto cujo relator, na visão dele, foi “escolhido pelo STF” e atua “em dobradinha” com o Supremo – referindo-se ao deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que é próximo dos ministros da Corte. Caberia, portanto, a Paulinho e ao STF assumirem o ônus por capitanear qualquer iniciativa nesse sentido.

RECUO – Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, a avaliação do ex-presidente é a de que, se o PL for a favor do projeto, isso não apenas seria interpretado como um recuo, mas também irritaria o núcleo duro da base bolsonarista, que insiste em uma anistia “ampla, geral e irrestrita”, como defende o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Valdemar se encontrou com o ex-presidente na tarde da última quinta-feira (25) no condomínio Solar de Brasília, onde Bolsonaro cumpre prisão domiciliar desde 4 de agosto por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Conforme informou a colunista Bela Megale, Eduardo avisou ao líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (RJ), que qualquer alternativa à anistia só vai levar ao recrudescimento de sua atuação nos Estados Unidos por sanções contra autoridades brasileiras.

RECADO – A leitura de Bolsonaro é a de que uma eventual adesão do PL à iniciativa poderia passar para a militância bolsonarista o recado de que a sigla topou fazer parte do acordo – que ainda envolve o ex-presidente Michel Temer e o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG). Além deles, também participaram os ministros do STF Moraes e Gilmar Mendes, que são próximos de Paulinho e deram aval às negociações.

A versão mais aceita do projeto em discussão nos bastidores poderia levar à redução em até 11 anos das penas dos condenados do 8 de Janeiro, conforme informou o blog. “Que tal ler a Constituição, Hugo Motta e Paulinho da Força? Dosimetria é uma ferramenta do Judiciário; anistia, do Legislativo; graça e indulto, da Presidência da República. Não inventem!”, escreveu na última quinta-feira (25) o senador e ex-secretário da Pesca de Bolsonaro Jorge Seif (PL-SC), integrante da tropa de choque bolsonarista na Casa

ANÁLISE – A depender do desfecho das negociações em torno do PL da Dosimetria, a pena imposta pelo Supremo a Bolsonaro por articular um golpe de Estado pode cair de 27 para 16 anos.

No entorno de Valdemar, há quem faça uma análise mais pragmática sobre a situação do ex-presidente, que tem 70 anos de idade e enfrenta uma série de problemas de saúde, com crises frequentes de soluços e vômitos após o atentado que sofreu nas eleições de 2018.

“27 anos de pena é quase uma sentença de morte, com a probabilidade alta de Bolsonaro morrer em regime fechado. Já com 16 anos, há a esperança de que ele possa progredir de regime num prazo bem menor. Isso dá uma expectativa de uma vida livre”, afirma um integrante do PL. “O PL da Dosimetria está longe de ter consenso, mas Bolsonaro não está em condições de endossar nada.”

PROPOSTA –  Entre as principais propostas em discussão nos bastidores da Câmara estão a de reduzir as penas dos crimes de golpe de Estado e a abolição violenta do Estado democrático de direito e definir que eles se absorvem, o que impediria que um mesmo réu fosse condenado por ambos.

Atualmente, a legislação brasileira, sancionada pelo próprio Bolsonaro em setembro de 2021, prevê pena de quatro a 12 anos de prisão para o crime de golpe de Estado – e de quatro a oito anos para quem tentar “com emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado Democrático de Direito, impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais”.

Com a redução, a pena para abolição do Estado democrático de direito poderia passar para entre dois e seis anos, e a de golpe de Estado entre dois e oito anos, mas a proposta final ainda não foi fechada.

Eduardo quer ser candidato em 2026, mesmo que destrua o pai Bolsonaro

PF: Eduardo quis continuar ação nos EUA e diz que Bolsonaro é "empecilho" | CNN Brasil

Líder de si mesmo, Eduardo diz que o pai é  um “empecilho”

Carlos Andreazza
Estadão

Eduardo Bolsonaro desenvolve o seu pós-Bolsonaro – pós-Jair, para não haver dúvida. Pós-pai. A superação político-eleitoral do pai. A constituição desse movimento está explícita. Eduardo propõe uma dissidência bolsonarista, que se organiza em função do monopólio (desafiado?) do acesso à Casa Branca e da imposição do que se tornaria a pauta única da direita brasileira: a anistia, tão difícil de alcançar quanto eficaz em interditar a ascensão de liderança que não da família.

Não tem negócio. Jair Bolsonaro inelegível, incontornavelmente inelegível, todo mundo se organizando em função dessa inelegibilidade – e o bolsonarismo eduardista sustentando a agenda, a da anistia “ampla, geral e irrestrita”, que engessa a direita e lhe garante poder e centralidade sobre o espólio de Jair. Tem método.

ALGUM BOLSONARO – “Em 2026 será Bolsonaro” – escreveu Paulo Figueiredo, a inteligência influente que formula e pauta Eduardo. Em 2026 será Bolsonaro. Não necessariamente Jair – interpreta o cronista.

O bolsonarismo eduardista considera Jair Bolsonaro um “refém”, donde impossibilitado de avaliar o cenário. Um frágil; manipulado, chantageado mesmo, para chancelar o “pacto republicano” em função de Tarcísio, encarnação da “direita permitida”.

O ex-presidente seria um incapaz – é o que se comunica. Daí a proposta eduardista de superação a Jair em defesa de Jair – em proteção a Jair. O filho que, pelo pai, não obedecerá (mais) o pai. Está dito.

A REBOQUE – Todo mundo quer encostar Jair – um ex-presidente passivo, a reboque, seja do bolsonarismo eduardista, seja do bolsonarismo de oportunidades de Ciro Nogueira.

Jair Bolsonaro seria refém sobretudo do bolsonarismo de oportunidades – assim denuncia o bolsonarismo eduardista. Refém de Valdemar e turma. O ex-presidente – este é o pressuposto – estaria sequestrado, homem doente, inepto para decidir. Inepto para liderar. Inepto para orientar.

Qualquer pesquisa nas redes bolsonaristas ligadas a Eduardo empilhará qualificações dessa natureza para o velho Jair, o verdadeiro coagido, em cuja goela querem – os aliados traidores – enfiar o acordão.

FIM DA DIREITA – A opção Tarcísio por futuro de um Jair livre representaria jogada para “exterminar a direita” – direita aqui entendida sob o modo totalitário bolsonarista. Eduardo pretende ser candidato a presidente com ou sem o apoio do pai; e reagiu dessa maneira, em entrevista ao Metrópoles, à possibilidade de também ele não poder concorrer. Apoiaria Tarcísio?

“Se eu estiver inelegível porque fui condenado pela minha atividade nos EUA, eu acho provável que os EUA não reconheçam a eleição do Brasil”.

Eduardo nos informa diariamente que o bolsonarismo eduardista, mais do que não reconhecer Tarcísio, não reconhecerá a legitimidade da eleição, a Magnitsky estacionada sobre o Brasil. Eduardo estará inelegível. Mais do que projetar candidatura, projeta a inevitabilidade da dissidência, projetada também a impossibilidade de controlá-la.

Bolsonaro é aconselhado a acionar Flávio para conter investida de Eduardo nos EUA

No balanço da gestão, Barroso saiu-se bem enfrentando a crise no Supremo

Roberto Barroso fará retiro espiritual

Barroso foi aplaudido ao deixar a presidência do Supremo

Vicente Limongi Netto

Merecidas duas páginas, com quatro fotos e chamada de capa do Correio Braziliense (29/09) para o elegante ministro Luís Roberto Barroso, em final de mandato, da presidência do Supremo Tribunal Federal (STF).

Espirituoso, cultuador esmerado do vernáculo, cantor nas horas vagas, Barroso aprecia artistas populares e gosta de citar frases e versos.

TOLICE – A meu ver, Barroso foi infeliz no episódio de Nova Iorque. Xingado por brasileiros, não conseguiu se conter e respondeu, “Perdeu, Mané”. Vai carregar a tolice por muito tempo.

Curiosidade do ministro que vai pautar os mais atilados:  respondendo a uma pergunta sobre a sonhada e difícil pacificação, Barroso deixou escapar o que seu faro político sugere para 2026:

“Nas eleições, por exemplo, o presidente Lula e o governador Tarcísio poderão disputar, cada um com suas propostas. Mas o debate deve ser civilizado, qualificado e sem ódio”.

PELA DEMOCRACIA – Barroso está convencido que suas atitudes e decisões, na jornada como presidente da Suprema Corte, contribuíram para fortalecer a democracia, a Constituição e a soberania.

Sem citar a jornalista e publicitária Cíntia Costa, autora da frase, Barroso frisou que ela explica bem a sua gestão:” Viver não é esperar a tempestade passar, é aprender a dançar na chuva”.

Nessa linha, Barroso poderia ter salientado versos da sublime Adélia Prado, que cabem bem no coração dele: “Não tenho tempo para mais nada. Ser feliz me consome”.

Eduardo rompe com centrão e se lança como herdeiro do bolsonarismo

Tarcísio encurralado: Fracassos e divisões minam projeto presidencial

Trump anuncia plano com Netanyahu para encerrar guerra em Gaza

Silenciado pelo medo: Juiz que condenou Beira-Mar denuncia omissão do Estado

Como dizia Ariano Suassuna, “sou contra a Morte e nunca hei de morrer”

Eu digo sempre que das três virtudes... Ariano Suassuna - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções 

O dramaturgo, romancista e poeta paraibano Ariano Vilar Suassuna, no poema “Abertura Sob Pela de Ovelha”, mostra a luta eterna do homem contra o envelhecimento e a morte.

ABERTURA SOB PELE DE OVELHA
Ariano Suassuna

Falso Profeta, Insone, Extraviado,
Vivo, Cego, a sondar o Indecifrável:
e, Jaguar da Sibila – inevitável,
meu Sangue traça a rota desse Fado.

Eu, forçado a ascender, eu, Mutilado,
busco a Estrela que chama, inapelável.
E a pulsação do Ser, fera indomável,
arde ao Sol do meu Pasto – incendiado.

Por sobre a Dor, Sarça do Espinheiro
que acende o estranho Sol, sangue do ser,
transforma o sangue em Candelabro e Veiro.

Por isso, não vou nunca envelhecer:
com meu Cantar, supero o Desespero,
sou contra a Morte e nunca hei de morrer

Anistia irrestrita ou nada! E o bolsonarismo explode em crise interna