
Oposição rejeita texto que não trate da anistia geral
Elisa Clavery,
Julia Lindner
e Fernanda Rouvenat
G1
Lideranças do Centrão na Câmara dos Deputados admitem a possibilidade de que o projeto da anistia comece a tramitar pelo Senado, com a solução negociada pelo presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União-AP), com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Neste caso, o benefício poderia não ser estendido ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O entendimento é que, se o projeto do Senado for apresentado e votado antes do texto da Câmara, é esse que deve ganhar força também entre os deputados.
Aliados de Alcolumbre dizem que o senador trabalha em um texto não para conceder anistia aos condenados, mas para reduzir as penas previstas hoje em lei para crimes contra a democracia. A depender da redação, isso poderia beneficiar Bolsonaro ao reduzir a pena em uma eventual condenação, mas não o livra da punição.
SINUCA DE BICO – A avaliação de parlamentares é que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), está “entre a cruz e a espada”, em um momento fragilizado, e não consegue superar o assunto da anistia para seguir a sua gestão na Casa. A avaliação é que o texto do presidente do Senado ganha força por já ter apoio do STF e do governo.
Um deputado afirma que nem adianta insistir em anistiar Bolsonaro, já que “todo mundo sabe que o Supremo vai considerar a anistia ampla, geral e irrestrita inconstitucional.” Outro líder do Centrão diz que a iniciativa do Senado, de certa forma, “ajuda” Motta a se livrar de ter que tomar uma decisão neste momento. Ao mesmo tempo, enfraquece a liderança da Câmara na condução de um debate que essencialmente começou na Casa.
Enquanto isso, a oposição rejeita qualquer texto que não trate da anistia geral e diz conseguir barrar o avanço de uma proposta alternativa no Senado. Alguns parlamentares passaram a admitir abertamente que o projeto deve contemplar o ex-presidente Jair Bolsonaro – algo que, até então, não era dito explicitamente.
RASCUNHO – Um dos principais entusiastas da proposta, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), apresentou um rascunho de projeto nesta quinta-feira (4). A proposta beneficiaria aqueles que “tenham sido, estejam sendo ou, ainda, eventualmente, possam vir a ser investigados, processados ou condenados”, por exemplo, por ataques a instituições públicas, descrédito ao processo eleitoral ou reforço à polarização política.
A proposta garante a anistia a partir de 2019, com o inquérito das fake news como marco temporal. O texto é amplo e poderia, por exemplo, beneficiar não apenas o ex-presidente, mas o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), seu filho, e o ex-deputado Daniel Silveira.
Além disso, o texto tenta garantir a possibilidade de Jair Bolsonaro concorrer às eleições de 2026 ao dizer que a anistia alcança “os crimes políticos ou conexos, eleitorais e aqueles que tiveram seus direitos sociais e políticos violados”. Bolsonaro está inelegível até 2030 por decisões da Justiça Eleitoral.
RESISTÊNCIA – Dentro do Centrão, há resistência em recolocar Bolsonaro no jogo político, já que partidos como Republicanos e a federação União-PP tratam o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, como o nome preferido à corrida do Palácio do Planalto pela direita.
Especialistas em direito eleitoral também afirmam que uma eventual anistia não serviria para derrubar a inelegibilidade de Bolsonaro por crimes eleitorais, algo que dependeria de uma alteração na Lei da Ficha Limpa.
Estepaiz é o reino encantado do faz de conta:
– faz de conta que existem leis, mas só valem para o zé-ninguém, porque para os donos do jogo sempre há o jeitinho das bancas de causídicos, um habeas corpus de estimação, um erro processual autofágico providencial;
– faz de conta que existem tribunais, palcos iluminados onde togados fazem caras severas, mas no fundo distribuem sentenças como quem reparte fatias de bolo em um chá da tarde de comadres;
– faz de conta que existem juízes, deuses de toga, alguns com currículo de coach motivacional, outros com vocação de influenciador digital, todos convictos de que a imparcialidade é artigo de luxo;
– faz de conta que existe um congresso nacional ilibado, condomínio de excelências que tratam a pátria como um grande balcão de negócios: cada discurso é marketing, cada voto é moeda, cada comissão é oportunidade de negócios;
– faz de conta que o povo é culto, honesto e educado, mas que se vende por um lote de terra irregular, por um saco de cimento, um churrasquinho de campanha, um pé de sapato ou alguma promessa reciclada, acreditando que dessa vez vai ser diferente.
No fundo, é paraíso tropical da hipocrisia, onde a corrupção e o crime especializado virou patrimônio cultural, a impunidade, cláusula pétrea. O povo, eterno figurante, se orgulha de viver no país do futuro, sem perceber que este chegou e que lhe está sendo confiscado.