Um povo que não conhece sua História está condenado a repeti-la, dizia Burke

Edmund Burke Brasil - Fonte: BURKE, Edmund. An Appeal from the New to the Old Whigs, in Consequence of Some Late Discussions in Parliament, Relative to the Reflections on the French Revolution.Merval Pereira
O Globo

“Um povo que não conhece sua história está condenado a repeti-la”, dizia Edmund Burke, filósofo irlandês do século XVIII. A frase me veio à mente assistindo na Academia Brasileira de Letras (ABL) à palestra do cientista político e professor associado do IESP-UERJ Christian Lynch sobre o livro “À margem da história da República”, coletânea organizada em 1924 por Vicente Licinio Cardoso, que reflete principalmente as ideias que ganharão hegemonia na organização institucional e na direção intelectual do Brasil de 1920 a 1980.

Para ele, essas ideias contaminaram a esfera pública na década de 20, a partir do governo de Arthur Bernardes, e ganharam materialidade durante a Era Vargas, dando origem ao estado e às concepções de sociedade brasileira que vão durar até a década de 1990, quando desaparece o mundo que lhes deu origem, ou seja, o curto século XX, na concepção do historiador Éric Hobsbawn.

MODERNISMO – A obra, considerada “um manifesto político modernista”, é, para Lynch, “tanto um diagnóstico da Primeira República quanto um prenúncio das mudanças que culminariam na Revolução de 1930”.

As coincidências com os acontecimentos atuais são muitas, o que, segundo Christian Lynch, evidencia “a necessidade de estudá-las na sua dinâmica histórica, para compreendermos eventualmente o que estamos vivendo hoje”. Ele fez um relato ironicamente sublinhando as repetições históricas, para chamar a atenção da importância de analisá-las.

“Era uma vez uma vez um país latino-americano, o Brasil, que desejara se reinventar contra suas antigas mazelas por meio de um novo regime constitucional progressista”, iniciou.

TUDO IA BEM… – Durante duas décadas tudo pareceu andar bem. Até que, depois de uma eleição presidencial disputada e cujo resultado foi questionado em sua lisura, se impôs uma decepção generalizada. O liberalismo entrou em crise. Os mais avançados denunciavam o já não tão novo regime por sua incapacidade em avançar em suas promessas. Mas a crise do liberalismo não vinha só de dentro.

“De fato, a globalização que organizava o mundo havia décadas colapsara. O incremento do movimento migratório e de mercadorias, com o surgimento concomitante de novas tecnologias, trouxe pânico diante das crises econômicas.

O cosmopolitismo e o primado da economia cediam lugar a um nacionalismo agressivo no cenário internacional. Entrementes, uma pandemia paralisou o mundo, matando milhões e milhões de pessoas, gerando mais insegurança e pânico, impondo maiores controles de fronteira e mercadoria.

CRISE NO STF – “Potências emergentes questionavam o status quo tradicional das potências do Atlântico Norte. Um país tradicionalmente vinculado à democracia se converteu ao fascismo”.

Ao mesmo tempo, a crise levara ao poder no Brasil um desastroso governo comandado por um militar, cujo autoritarismo o fizera chocar-se com o Supremo Tribunal Federal e quase levara o país à ditadura. Ao mesmo tempo, reacionários religiosos, julgados extintos desde a nova Constituição, se rearticularam politicamente em crítica contra a laicidade da República.

“Um novo presidente do Brasil, eleito na esteira do desastroso governo militarista, foi eleito com o objetivo de restaurar o estado anterior de coisas e pacificar o país. Mas o vidro havia se partido. Mesmo conservadores mais moderados criticavam a independência do STF”.

CONSTITUIÇÃO – Outros viam a própria Constituição como excessivamente cosmopolita e permissiva, inadequada aos novos tempos. Foi nesse contexto de transição de época que uma nova geração de intelectuais preocupados com o futuro do país publicou uma coletânea que era um verdadeiro manifesto político dos nossos tempos”…

Mas a Constituição não era a de 1988, mas a de 1891; a eleição não era de 2018, mas de 1909-1910 entre Rui Barbosa e Marechal Hermes da Fonseca; quem não respeitou o STF foi Hermes da Fonseca; a pandemia não era a da COVID, mas a da gripe espanhola. O país democrático que se tornou fascista não era os Estados Unidos, mas a Itália.

Assim, se a história não é cíclica, ela anda em espiral, comenta Christian Lynch.

17 thoughts on “Um povo que não conhece sua História está condenado a repeti-la, dizia Burke

  1. Não se cansam, pode virar tragédia a repetição da historia, o Experimento Soviético não deu certo. Estão tentando no Brasil.
    Um povo sem memória e sem cultura não sabe os que os soviéticos fizeram no passado.

    • Eu sei o que os jacobinos fizeram na França e sei também o que os bolcheviques fizeram na Rússia.
      O legado desse ultimo se mediu em cadáveres, aos milhões.

          • Fonte, Google.
            O período do Terror (ou Reinado do Terror) foi uma fase violenta e radical da Revolução Francesa, que ocorreu entre 1793 e 1794, sob a liderança de Maximilien Robespierre e os jacobinos. Caracterizou-se pela perseguição e execução em massa de opositores políticos e sociais através da guilhotina, com o objetivo de consolidar a república e combater as ameaças internas e externas. O período terminou com a Reação Termidoriana, que levou à prisão e execução de Robespierre.
            O que foi o Período do Terror?
            Duração e Contexto: O Terror foi a fase mais violenta da Revolução Francesa, acontecendo entre setembro de 1793 e julho de 1794.
            Liderança e Ideologia: Os jacobinos, um grupo político mais radical, estavam no poder sob a liderança de Robespierre. Eles buscavam preservar a república e eliminar os inimigos da revolução.
            Violência e Execuções: A principal característica foi a violência sancionada pelo Estado e o uso da guilhotina para executar milhares de pessoas consideradas “contrarrevolucionárias”.
            Principais Ações e Características
            Criação de Comitês: O governo estabeleceu comitês, como o Comitê de Salvação Pública, para gerenciar a crise interna e externa e reprimir a oposição.
            Tribunais Revolucionários: Foram criados tribunais especiais para julgar rapidamente os suspeitos, muitas vezes sem garantia de defesa.
            Lei do Preço Máximo: Para combater a crise econômica, o governo implementou uma lei que controlava o preço de bens essenciais, como o pão.
            Descristianização: Houve uma tentativa de descristianizar a França, com a criação de um novo calendário revolucionário e a perseguição da igreja.
            O Fim do Terror
            Fim do Apoio Popular: A violência indiscriminada e a insatisfação popular desgastaram o governo.
            A Reação Termidoriana: Os girondinos, um partido político mais moderado, lideraram uma reação contra Robespierre, prendendo-o e executando-o em julho de 1794.

          • Tu do sob multilateral contorle!
            ” “Vamos examinar as tropas que serão alocadas na América do Norte, segundo esse plano definido em 1952:

            Nordeste — Tropas colombianas e venezuelanas;
            Sul dos EUA até a Califórnia — Tropas russas. A linha começa na Virginia e vai direto para o oeste até a fronteira com a Califórnia;
            Meio-Oeste — Tropas belgas;
            Noroeste, incluindo a Califórnia — Tropas irlandesas;
            Canadá — Tropas mongóis (chinesas) e russas;
            México — Tropas mongóis (chinesas).”

          • Abrólhos!
            “Os Estados Unidos se Dividirão em Seis Partes?
            Um professor de diplomacia russo “deu com a língua nos dentes” a respeito de uma parte do Plano dos Illuminati, que sempre achei que estivesse mais distante no futuro. No entanto, em função dessa revelação, feita por um russo que tem acesso ao nível diplomático mais alto, isso pode sinalizar que o plano de dividir os EUA em seis zonas pode estar mais perto do que eu imaginava.”
            http://www.espada.eti.br/n2327.asp

  2. Tudo muito bonito, muito lindo, Edmond Burke (!!!), mas em Pindorama, desde sua gestação, vigorou, vigora e vigorará per omnia saecula saeculorum a máxima “Farinha pouca meu pirão primeiro”. Suponho que o sábio Edmond Burke jamais pôs seus olhos sobre nosotros. Ai ai…

  3. Tudo muito bonito, muito lindo, Edmund Burke (!!!), mas em Pindorama, desde sua gestação, vigorou, vigora e vigorará per omnia saecula saeculorum a máxima “Farinha pouca meu pirão primeiro”. Suponho que o sábio Edmund Burke jamais pôs seus olhos sobre nosotros. Ai ai…

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