Vocação do poder é se corromper e destruir a liberdade dos cidadãos

Bertrand de Jouvenel's “On Power” | Joel Davis

As reflexões de Jouvenel sobre o poder são impressionantes

Luiz Felipe Pondé
Folha

A história da filosofia também tem suas modas. Há autores que caem em desgraça enquanto vivos ou mesmo depois de mortos. O francês Bertrand de Jouvenel é um desses casos. Hoje, quase ninguém tem a mínima ideia de quem ele seja, uma pena.

Bertrand de Jouvenel (1903-1987) teve sua memória manchada pelas simpatias pelo fascismo. De ascendência judaica, o avô materno —sua mãe chamava-se Sarah— era judeu da família Boas e o pai era um aristocrata católico, daí a famosa partícula “de” no seu sobrenome. Entrevistou Hitler em 1936, foi de esquerda, liberal, enfim, um homem de carreira controversa.

CASO ESCANDALOSO – Para você ter uma ideia, aos 16 anos tornou-se amante, num caso escandaloso, da sua madrasta, a famosa escritora Colette, que então tinha cerca de 50 anos.

Ela, por sua vez, escreveu um livro inspirado, provavelmente, nesse affaire. Já adulto, teve um caso tórrido com a fotógrafa de guerra Martha Gellhorn. Basta?

Independente da sua trajetória acidentada, ele refletiu sobre a natureza do poder de forma bastante significativa. Jouvenel pensou o poder na fronteira entre a metafísica da substância do poder e sua “natureza” intrínseca. E como “funciona” essa substância natural do poder?

SEM PARAR – O poder não para de crescer se algo não o impedir, ou seja, uma outra forma de poder. Esse problema lhe parece conhecido?

Seu livro mais famoso sobre o tema é de 1945, “Du Pouvoir: Histoire Naturelle de sa Croissance” —”O Poder: História Natural do seu Crescimento”, com tradução no Brasil. Para Jouvenel, a história natural do poder revela sua tendência implacável à expansão de sua natureza —redundância proposital. Cada vez mais o poder quer mais poder. Insaciável.

Esse crescimento se dá de modo a aumentar a concentração de poder e centralização deste nas mãos de quem o exerce institucionalmente. Logo, qualquer instituição sem limites externos tenderá ao abuso e à expansão de suas funções de controle sobre o corpo social no qual está inserido.

SEM LIMITES – Deste fato decorre que o poder jamais se limita, mesmo quando exerce esse poder em nome do bem comum. Logo, um “poder do bem” é tão intrinsecamente expansionista e de vocação autoritária quanto um “poder do mal”, devido à sua natureza voltada ao crescimento de si mesmo no tempo e no espaço.

Uma consequência inevitável dessa “lei de crescimento do poder”, mesmo quando movido por boas intenções —poderíamos dizer que o inferno está cheio de gente poderosa com boas intenções—, é que ele esmagará a liberdade e a autonomia dos indivíduos.

Portanto, se depender de qualquer instituição não limitada exteriormente, a vocação do poder por si mesmo é destruir a liberdade dos cidadãos.

ESTADO DE DIREITO – Assim sendo, mesmo no Estado de Direito, se não portar dentro de si, ou seja, dentro das suas instituições, um mecanismo de freios e contrapesos efetivo, a vocação orgânica de qualquer uma das suas instituições será esmagar a liberdade dos indivíduos.

O Estado moderno é, historicamente, a forma de poder com maior vocação centralizadora e expansionista que já existiu no mundo, diferentemente do que sugere nossa vã filosofia do senso comum e também dos ideólogos das políticas do bem.

Se compararmos com outras formas ao longo da história, o caráter fragmentado do poder que existia —inclusive pela geografia sem estradas e sem formas efetivas e rápidas de controle e de comunicação— implicava em menor potencial de se tornar um poder expandido e dominador na sua área de influência.

ESMAGAMENTO – Dito de outra forma: o Estado moderno é a forma de poder, até hoje, com maior potencial de esmagar seus cidadãos, se deixado à sua livre natureza de querer e realizar cada vez mais controle.

Seja em nome da justiça, do bem comum ou da democracia, o poder, bem como as suas instituições, deve sempre ser posto sob controle de algum tipo.

Interessante lembrar que Jouvenel não conheceu a interação entre o poder do Estado moderno —e as formas ágeis de exercício desse poder—, por exemplo, via cliques jurídicos ou formas de rastreio minucioso da renda e dos gastos do cidadão.

PODER AVASSALADOR – A tendência inexorável do Estado moderno é se tornar —na confluência entre suas instituições e as modernas tecnologias da informação e da inteligência artificial— a forma mais avassaladora de poder que já se conheceu na face da Terra.

Nesse contexto, qualquer ideia de um poder centralizado e global —como propunha Albert Einstein em 1932 a fim de evitar as guerras na sua carta para Sigmund Freud sobre esse tema— é fadada a se tornar um leviatã absoluto, mesmo que seja para salvar o planeta de uma crise climática.

Por fim, corromper-se é da natureza do poder.

19 thoughts on “Vocação do poder é se corromper e destruir a liberdade dos cidadãos

  1. Vá direto ao assunto, Pondé.

    Chega de floreamento. estamos num Estado de Exceção!

    Até os gênios imbecilizados sabem disto:

    file:///C:/Users/delci.DESKTOP-E5T1HMT/Downloads/821-Texto%20do%20artigo-1976-1-10-20171015.pdf

    • Calma, Sr. Lima

      O Sinistro e Presidente do Regime Supremo Soviético na abertura dos trabalhos no Palácio da Justiça do Século XXI, não existe censura no Páis….

      O video está circulando pela rede….

      Ainda bem que somos um Páis livre e da Liberdade de Expressão…..

      STF censura sites e manda retirar matéria que liga Toffoli à Odebrecht

      Ministro Alexandre de Moraes, do STF, relator de inquérito que apura notícias fraudulentas, estipulou multa diária de R$ 100 mil. PF vai ouvir responsáveis do site ‘O Antagonista’ e da revista ‘Crusoé’, que publicaram documento que cita presidente do STF.

  2. MARACUTAIA todos sabemos que é, e faz tempo, desde a proclamação da república dos me$mo$, sob a égide de um congresso de índole pra lá de temerária, salvo exceções que, infelizmente, tb não resolvem nada diante da regra que, “data venia”, o caracteriza mais com uma congregação de picaretas$, aventureiros, oportunistas e aproveitadores de todos os rincões do país, tipo vanguarda do atraso, sem ética, sem moral, sem desconfiômetro, sem escrúpulos e sem remorsos, que não projetam nada sem projetarem antes os seus próprios interesse$, portanto nada a ver com um congresso propriamente dito. PORÉM, o problema maior é como resolver a problemática centenária gerada pela república dos me$mo$, dominados, ao que parece, por uma mentalidade parasita, escravagista e chupa-cabras inerente à plutocracia putrefata com jeitão de cleptocracia e ares fétidos de bandidocracia, made in USA, fantasiada de democracia apenas para locupletar esperto$ (tipo negócio bilionário para os me$mo$ porém péssimo para a consecução do bem comum enquanto sonho constitucional), e, por conseguinte, ludibriar a crédula, tola e indefesa freguesia, copiada mal e porcamente dos EUA, que permite exceções apenas para justificar a regra da conservação da dita-cuja, cujos efeitos colaterais danosos só se avolumam, tipo bola de neve$ que já virou iceberg gigantesco à espera do Titanic brasuca, de modo que, senão apenas como factoides e manobras eleitorais, de nada adiantam os blá-blá-blá, gogó, trololó e xixi nos sapatos dos adversários barra pesada, capazes de tudo e qualquer coisa para lograrem os seus intento$, sem a apresentação do borogodó da solucionática que necessitamos há trocentos anos, que são as mudanças de verdade, sérias, estruturais e profundas, com projeto próprio, novo e alternativo de política e de nação, enquanto expressão da mega solução, via evolução, que implica em colocar na porta de entrada do comando da política, da democracia e da administração pública, uma espécie de mata-burros, corruptos, golpistas e afins, até porque o comando do conjunto da obra da política, da democracia e da administração pública tem que ser científico, não é para pessoas desqualificadas e muito menos para pessoas xucras de índole ruim, tipo ignorantes interesseiro$, avessos ao interesse público, de baixa cognição e péssimo grau de instrução e de consciência que não tem como dar certo, de modo que nivelar por cima o comando de atividades de suma importância para o conjunto da sociedade, enquanto carro-chefe desta, é preciso, como propõe, há cerca de 35 anos, a RPL-PNBC-DD-ME, o novo caminho para o novo Brasil de verdade, confederativo, com Democracia Direta, Meritocracia e Deus na Causa, com a qual, certamente, clara como a luz do sol do meio dia, há um outro mundo bem melhor a descortinarmos, sobretudo, porque dos me$mo$ não há mais nada de bom, novo e alvissareiro a esperar. https://www.facebook.com/reel/798683602853046

  3. Há dois tipos de gênios imbecilizados no Brasil: os que são pagos diretamente para serem intelectuais orgânicos da Organização Petista e os que o são indiretamente, através dos aparelhs ideológicos midiáticos e educacionais do Estado de Exceção, comandado por Lula, a maior aberração e farsa ideológicas da História.

    https://www.poder360.com.br/poder-gente/caixa-contratou-bueno-por-r-327-mi-para-atualizar-livros/

    Este é um caso de recebimento em cache, diretamente da fonte de extração da mais valia absolutíssima, operadora da Organização.

  4. “..Vocação do poder é se corromper e destruir a liberdade dos cidadãos..””

    Nosso Editor-Chefe é Mestre em criar frases que deixam os Demo-Comunas relichando por todos os cantos, alguns deles chegam a tirar o cuecão sujo de dólares pelo pescoço….

    Essa é mais uma frase que deveria ser exposta em todos os Outdoors deste Páis…

    aquele abraço

  5. Sr. Newton

    Todos esquecem “menas nóis”….

    Coitada da Fadinha da Floresta, mais uma vez não conseguiu salvar o Planeta…..

    Lula desagrada Marina e autoriza afundar porta-aviões desativado

    Ministra do Meio Ambiente era contrária a essa operação por porta-aviões ter substâncias tóxicas; prevaleceu ponto de vista da Marinha e embarcação foi afundada a 350 km da costa…

    https://www.poder360.com.br/governo/lula-desagrada-marina-e-autoriza-afundar-porta-avioes-desativado/

  6. Nunca na história deste Páis existiu qualquer tipo de censura, aqui a Liberdade de Expressão é plena e vitalícia,

    O Brasil é a maior Demogracinha do Planeta e também InterPlanetária…..

    È a Demogracinha das Galáxias….

    Todos são amigos dos amigos dos meus pais…

    “…URGENTE: Ministro do STF censura Crusoé,…”

    Desde o fim da manhã desta segunda-feira, 15, Crusoé está sob censura, por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Passava pouco das 11 horas da manhã quando um oficial de Justiça a serviço da corte bateu à porta da redação para entregar cópia da decisão. Alexandre de Moraes determina que Crusoé..

    • Estamos na maior Liberdade de Expressão do Planeta….

      Segundo o Sinistro Vira-Lata, ”

      “Lê quer quer, acredita quem quer”…

      “”..MPF pedir fechamento da Jovem Pan é um ataque à liberdade de imprensa..””

      • A mais plena Liberdade de Expressão…..

        “.STF mantém bloqueio de contas do youtuber Monark em redes sociais..”

        “..TSE confirma veto a filme da Brasil Paralelo; ministros negam censura..””

        “”.TSE desmonetiza quatro canais e suspende divulgação de documentário..””

        “”Juíza condena Monark a prisão por chamar Dino de “gordola”..””

        “…X afirma ter derrubado mais de 200 contas por ordem de STF e TSE desde 2020… –

        “…Em cinco anos, Alexandre de Moraes bloqueou 120 perfis nas redes sociais…””

        “…1ª Turma do STF forma maioria para manter bloqueio do Rumble…”

        “”..STF determina suspensão do X, antigo Twitter, em todo o território nacional…””

        “”..Alexandre de Moraes ordena suspensão imediata do X no Brasil..””

  7. O Estado é um mal necessário. Sua existência não é algo natural. É algo coercitivo, mas sua existência permite a convivência dos seres humanos de uma forma mais racional. É um tipo de conrato social com deveres e obrigações. Claro que o ser humano não gosta dos deveres, mas eles são essenciais à existência do Estado.

    Diferentes filósofos imaginaram um tipo de Estado. Alguns o imaginaram com mais poder, outros com menos. Hobbes, Locke e Rousseau imaginaram tipos de Estado diferentes no seu poder sobre os cidadãos.

    Para mim, Rousseau estava mais correto na sua concepção de Estado.

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