Família Bolsonaro transforma prisão domiciliar em QG político durante julgamento no STF

Renan e Carluxo faltam sessões para acompanhar julgamento

Luísa Marzullo
O Globo

Com o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) em curso na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), sua família tem se organizado para prestar apoio em Brasília. Ao longo da primeira semana de sessões, os filhos Carlos e Jair Renan viajaram para a capital e estiveram na casa do pai, que cumpre prisão domiciliar, durante os julgamentos.

A decisão custou ausências nos Legislativos municipais do Rio de Janeiro e de Balneário Camboriú, formalmente justificadas como “assuntos pessoais”, mas que coincidem com a mobilização familiar em torno do processo.

AFASTAMENTO – No caso de Jair Renan, vereador em Balneário Camboriú desde janeiro, ele não participou das sessões dos dias 2 e 3 de setembro. O afastamento foi comunicado à Presidência da Câmara por meio de documento assinado por seu assessor Nicholas Meira, datado de 1º de setembro.

O pedido falava apenas em compromissos pessoais, sem mencionar o julgamento, mas Jair Renan embarcou para Brasília já na véspera, quando se juntou aos irmãos numa vigília em frente à casa do ex-presidente.

Carlos Bolsonaro, vereador no Rio, também se ausentou do plenário nos dias 2, 3 e 4 de setembro. A justificativa foi semelhante à do irmão, sem referência direta ao STF. Ambos priorizaram a permanência ao lado do pai, reforçando o simbolismo político da presença familiar durante o julgamento. O Globo procurou os vereadores e o espaço permanece aberto para manifestações.

AGENDA – O único filho que manteve normalmente a agenda legislativa foi o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que chegou a presidir audiências em comissões no Congresso. Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que está nos Estados Unidos desde fevereiro, segue afastado das atividades no Brasil: já acumula 18 faltas na Câmara e pode perder o mandato ainda este ano por baixo comparecimento.

Na casa do Jardim Botânico, onde Bolsonaro cumpre prisão domiciliar, a rotina da semana passada foi de portas abertas para a família. Carlos e Jair Renan passaram longos períodos na residência, acompanhando o pai de perto durante as sessões da Primeira Turma do STF.

EXPECTATIVA – Entre um voto e outro, o ex-presidente recebia informações atualizadas por advogados, enquanto os filhos circulavam entre a sala e a área externa, em conversas com aliados que foram prestar solidariedade. O clima, segundo relatos de quem esteve no local, era de expectativa e nervosismo, com celulares em mãos e olhos fixos nas transmissões do Supremo.

Desde o início de agosto, a casa virou uma espécie de quartel-general improvisado. Parlamentares do PL e assessores próximos fizeram visitas ao longo do último mês. Na segunda-feira passada, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF) e o ex-presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), estiveram com o ex-presidente.

###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGEm meio ao julgamento, Bolsonaro pede licença para fazer pequena cirurgia, com suspeitas de câncer de pele. Ao invés de fazer logo a operação, pediu para agendá-la dois dias após o julgamento. Dá para entender? Claro que não. (C.N.)

A grande novidade é Tarcísio estar pisando firme no palanque dos aflitos

Com Tarcísio e bandeiras dos EUA, bolsonaristas pedem anistia para golpistas na avenida Paulista

Tarcísio defende Bolsonaro junto de Michelle e Malafaia

Vicente Limongi Netto

Michelle chorou, atacou Moraes e declarou amor eterno ao marido; o senador Flávio Bolsonaro tingiu a alma de chocolate,  culpando desde já o ministro Alexandre de Moraes pela eventual segunda facada; e o governador Tarcísio de Freitas entrou na pilha.

Fogoso, pisou firme no palanque dos aflitos. Olhos sangrando de rancor. Respirou fundo e foi logo tirando o. couro de Moraes para fazer cuica. Como pode ser tudo, menos bobo, vestiu Bolsonaro com a imagem do Cristo Redentor.

A MESMA LINHA – Mais figurantes da ópera bufa seguiram a mesma linha despudorada da pieguice explícita. Zelando pelas marionetes suadas, gordas, mal vestidas e indóceis, estava o pastor das almas penadas, Malafaia de tal. Que também abriu o bico, blasfemando contra tudo e todos.

A esta altura, até a mãe de Moraes já havia sido docilmente homenageada pela multidão. As televisões mostraram o medonho, inacreditável e inútil show de demagogos, oportunistas e desocupados. Todos com o peito ardendo de ódio. Alucinados e reféns do sol escaldante.

LEITE CONDENSADO – O doce Jair Messias Bolsonaro, chorando em casa, forrado de fervor cívico, de dieta braba, se fartando com pão com leite condensado, frango assado e camarão empanado, o canastrão principal da pantomima, perto de ser canonizado, antes de ser fritado.

Nas ruas, fantoches com a bandeira dos Estados Unidos nos ombros. Um mendigo, acordado pela barulheira, coçou a cabeça piolhenta e lascou para o segurança grandalhão do palanque com voz fraca e esfomeada: “Que horas vão distribuir o sanduiche que prometeram?”

Centrão arma aliança para 2026 e ameaça agenda de Lula

Charge do Ivan Cabral (ivancabral.com)

Catia Seabra e
Victoria Azevedo
Folha

Aliados do presidente Lula (PT) temem que a aliança que partidos do centrão costuram em torno de uma candidatura de direita para 2026 prejudique a pauta do governo até o fim do mandato. O medo é que, unidos em torno da candidatura de Tarcísio de Freitas (Republicanos), parlamentares do grupo se juntem ao bolsonarismo e travem a agenda do Executivo, em especial a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.

Na última semana, as cúpulas do Progressistas (PP) e do União Brasil anunciaram o rompimento com o governo petista. As legendas determinaram que “detentores de mandato” deixem seus cargos na Esplanada até o próximo dia 30, sob risco de expulsão. O movimento ocorreu em meio ao julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no STF (Supremo Tribunal Federal).

ENTRAVES – Governistas reconhecem que a saída desses dois partidos pode dificultar a aprovação de projetos, já que o governo reduziria sua base oficial para 259 deputados —apenas dois a mais do que a metade.

Uma amostra dos efeitos do desembarque foi vista no Senado, quando senadores do PP e do União Brasil votaram contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) que cria novas regras para os precatórios. A proposta, que permite ao governo um gasto extra de R$ 12,4 bilhões em 2026, foi aprovada com o número mínimo de votos necessários.

Além disso, integrantes do governo temem que o avanço da articulação pela anistia aos condenados do 8 de Janeiro atropele a pauta, já que o debate impossibilita o andamento de outras matérias no plenário da Câmara.

OPOSIÇÃO – Há também uma avaliação entre aliados do presidente de que os partidos de centro poderão atuar contra a agenda do governo, justamente para evitar que o petista possa ter ganhos eleitorais com essas medidas, principalmente no caso da isenção do Imposto de Renda.

Auxiliares de Lula apontam que esse rompimento poderia servir de matéria-prima para um discurso de combate aos privilégios. A estratégia seria mostrar que, em vez de aprovar isenção do IR para milhões de brasileiros, os apoiadores de Tarcísio priorizam a anistia para envolvidos em atos antidemocráticos, que culminaram na depredação das sedes dos três Poderes em Brasília.

A ideia seria reforçar que os bolsonaristas mantêm seus interesses políticos acima dos nacionais, a exemplo do apoio manifesto às sanções econômicas impostas pelo governo Donald Trump ao Brasil.

PRESSÃO – No Congresso, articuladores do governo já admitem, sob reservas, que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), deve sucumbir à pressão para incluir a anistia na pauta. O esforço, agora, será para convencê-lo a levar o projeto do IR a voto antes da anistia, sob o argumento de que a aprovação de uma medida popular será importante para a imagem da Câmara e do próprio Motta.

A proposta do IR foi aprovada em comissão especial no mês de julho, mas não avançou desde então. Ela ainda precisa ser votada no plenário da Câmara antes de seguir para o Senado.

Aliados de Lula avaliam que, ao priorizar a anistia em detrimento do IR, Motta estaria empoderando o mesmo grupo que obstruiu a mesa na Câmara durante uma rebelião no plenário —o que, até o momento, não resultou em punições aos envolvidos.

MEDIDA IMPOPULAR – Além disso, dizem que o centrão, ao embarcar no debate da anistia, apoia uma medida impopular e gera mais desgaste à imagem do Congresso como um todo. Nas últimas semanas, foram alvo de críticas propostas que estavam em discussão no Parlamento, como a PEC da Blindagem, que dá poder ao Congresso para barrar qualquer investigação e processo contra parlamentares.

No Planalto, a orientação será de oposição à anistia. A avaliação de aliados de Lula e do próprio presidente é que a aprovação dessa proposta seria uma vitória da direita radical e representaria uma rendição a Trump, já que o governo americano impôs sanções econômicas ao país em resposta ao julgamento de Bolsonaro no STF.

Um aliado de Lula avalia que hoje a pauta principal do bolsonarismo é a anistia. A aprovação desse projeto, portanto, daria uma vitória política importante ao grupo, às vésperas das eleições.

DIVISOR DE ÁGUAS – Líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ) afirma que essa votação será um divisor de águas para o governo, um risco no chão. “O governo tem um compromisso de defesa das instituições democráticas, do STF. O deputado que votar pela urgência estará optando pela saída do governo”, afirmou.

Em reuniões políticas e atividades públicas, Lula tem se manifestado contra a anistia. Na quinta-feira (4), fez um apelo por mobilização popular contra a proposta. “Nós estamos vendo agora os falsos patriotas nos EUA pedindo intervenção do presidente Trump no Brasil. Os caras que fizeram campanha embrulhados na bandeira nacional, dizendo que eram patriotas, agora estão embrulhados na bandeira americana, pedindo para o Trump intervir no Brasil”, disse o petista ma última quinta-feira (4) em conversa com lideranças e influenciadores da periferia em Belo Horizonte.

EXTREMA DIREITA – “Agora, outra coisa que nós temos que saber: se for votar no Congresso, nós corremos o risco da anistia. O Congresso, vocês sabem, não é um Congresso eleito pela periferia. O Congresso tem ajudado o governo, o governo aprovou quase tudo que o governo queria, mas a extrema direita tem muita força ainda. Então é uma batalha que tem que ser feita também pelo povo”, acrescentou.

No centrão, a estratégia será pela conclusão desse debate ainda neste ano, para não contaminar o calendário eleitoral de 2026. A tática é para que temas espinhosos, como sanções econômicas e anistia para quem atentou contra a democracia, estejam longe da disputa para que Tarcísio ou outro candidato da direita não se vejam obrigados a se justificar para os eleitores.

Moraes expõe organização criminosa e vincula Bolsonaro ao uso da máquina do Estado

Ministro abriu o voto no julgamento da trama golpista

Camila Turtelli,
Mariana Muniz
e Daniel Gullino
O Globo

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), usou seu voto no julgamento de Jair Bolsonaro (PL) e outros sete réus da trama golpista para detalhar os argumentos do seu voto e explicar as provas colhidas ao longo do processo da trama golpista.

Logo na abertura, Moraes ressaltou que a materialidade dos crimes já foi reconhecida em centenas de ações penais relativas ao 8 de janeiro. Segundo ele, não se discute mais se houve tentativa de golpe, mas sim a participação de cada réu nos atos executórios — a cadeia de ações que buscou restringir o Judiciário e impedir a alternância de poder. “Esse julgamento não discute se houve ou não tentativa de golpe. O que se analisa é a autoria das infrações penais imputadas”.

ATO EXECUTÓRIO – Moraes descreveu como documentos e mensagens apreendidos com Augusto Heleno e Alexandre Ramagem se alinharam ao discurso de Jair Bolsonaro contra o sistema eletrônico de votação. Para o relator, a live feita pelo ex-presidente em julho de 2021 já configurou um ato executório, por ter espalhado desinformação e ameaças à Justiça Eleitoral.

“Não é razoável achar normal que um general de quatro estrelas tenha uma agenda com anotações golpistas”, disse Moraes: “Isso não é uma mensagem de um delinquente do PCC para outro. É uma mensagem do diretor da Abin para o então presidente da República”.

Disse ainda o relator: “Atos executórios e já públicos, com graves ameaças à Justiça Eleitoral, que derivam de toda a preparação e divulgação dos órgãos públicos. A live do dia 29/7/2021, a entrevista de 3 de agosto, todos com graves ameaças e grande divulgação de desinformação sobre a Justiça Eleitoral”.

GABINETE DO ÓDIO – Moraes afirmou que a organização criminosa utilizou o chamado gabinete do ódio e as milícias digitais para potencializar as falas de Jair Bolsonaro contra a Justiça Eleitoral. O relator disse que a live de julho de 2020, transmitida por mais de duas horas, foi acompanhada por ministros como Anderson Torres e Augusto Heleno para dar respaldo institucional ao discurso golpista.

“A partir desta live já se verifica a utilização do mecanismo que ficou muito conhecido, o mecanismo utilizado por essa organização criminosa a partir do gabinete do ódio, as denominadas milícias digitais”.

“Não é razoável achar normal que um ministro da Justiça e um general de quatro estrelas apareçam numa transmissão que tinha como objetivo desacreditar a Justiça Eleitoral”.

VOTO ELETRÔNICO – Moraes lembrou que Jair Bolsonaro construiu sua carreira política sendo eleito sucessivas vezes pelo voto eletrônico — inclusive presidente em 2018 —, mas ainda assim alimentou suspeitas sobre o sistema. Para o ministro, o discurso serviu apenas para reforçar a narrativa golpista.

“Alguém que por 40 anos ganhou eleições para deputado, alguém que havia ganho eleições para presidente da República em 2018… por que continua questionando a idoneidade das urnas?”

Moraes rechaçou as nulidades apontadas pelas defesas contra a colaboração de Mauro Cid. Lembrou que o STF já firmou que a PF pode celebrar acordos e que a PGR, mesmo após questionar, terminou por concordar com o uso da delação no oferecimento da denúncia, na instrução e nas alegações finais. Para o ministro, a tentativa de tratar oito depoimentos temáticos do mesmo dia como “oito delações” distorce os autos.

SEM VÍCIO – “A ideia de que houve oito delações contraditórias beira o total desconhecimento dos autos, ou, com todo respeito, litigância de má-fé. A colaboração premiada é meio de obtenção de prova; não há vício no acordo realizado pela polícia e homologado pelo Judiciário”.

O relator descreveu o uso da Abin e do GSI como “centrais” da estrutura golpista para produzir e difundir desinformação contra a Justiça Eleitoral e para monitorar adversários — inclusive autoridades e jornalistas — por meio de sistemas como o FirstMile. Segundo ele, documentos e mensagens apreendidos mostram unidade de desígnios entre Alexandre Ramagem e Augusto Heleno nessa engrenagem.

“A clara utilização dos órgãos de Estado para corromper a República, para corromper a democracia. A Abin passou a funcionar como central de contrainteligência da organização criminosa, criando narrativas falsas contra opositores”.

ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA – Moraes afirmou que foi descoberta uma “verdadeira organização criminosa” que buscou coagir o Supremo e até submeter a Corte ao crivo de um governo estrangeiro. O ministro citou medidas tomadas pelo então presidente Donald Trump, como a cassação de vistos de ministros do STF, sua inclusão na Lei Magnitsky e a imposição de tarifas contra o Brasil.

“Lamentavelmente, no curso da ação penal se constatou a existência de condutas dolosas e conscientes de uma verdadeira organização criminosa, e de forma jamais vista anteriormente em nosso país, passou a agir de covarde e traiçoeira, com a finalidade de tentar coagir o Poder Judiciário, em especial esse Supremo Tribunal Federal e submeter o funcionamento da Corte ao crivo de outro Estado estrangeiro”.

“A história deste Supremo Tribunal Federal demonstra que jamais faltou ou jamais faltará coragem aos seus membros para repudiar as agressões contra os inimigos da soberania nacional, da democracia, do Estado de Direito ou da independência do Poder Judiciário”.

PAPEL ATIVO – Ao rebater a alegação de que teria extrapolado sua função ao intervir na instrução, Moraes defendeu que o juiz tem papel ativo na busca da verdade real. Ele ironizou a estratégia da defesa de contar perguntas feitas na audiência e frisou que o direito ao silêncio foi respeitado.

“A ideia de que o juiz deve ser uma samambaia jurídica durante o processo não tem nenhuma ligação com o sistema acusatório.Há argumentos jurídicos muito mais importantes do que ficar contando o número de perguntas que o juiz fez”.

TENSÃO – Um dos momentos de maior tensão no plenário ocorreu quando Moraes foi interrompido por Luiz Fux. O ministro Flávio Dino havia feito um aparte, a pedido de Moraes, para comentar sobre a operação da PRF, mas Fux reagiu lembrando que havia sido combinado que o voto seria lido sem interrupções.

” Esse aparte foi pedido a mim, e não a Vossa Excelência”, respondeu Moraes. O clima ficou pesado na sessão, com constrangimento geral. Dino encerrou dizendo: “Eu não pedirei (aparte para) Vossa Excelência, pode dormir em paz”.

Fux reforçou: “Os ministros votariam direto sem intervenções de outros colegas, muito embora foi muito própria essa intervenção do ministro Flávio Dino, mas eu gostaria de cumprir aquilo que nós combinamos”.

QUESTÃO SUPERADA – Antes, porém, ao relembrar que a competência do STF — e, subsidiariamente, da Primeira Turma — já havia sido definida no recebimento da denúncia, Moraes reforçou que a questão está superada. Ele fez questão de registrar o voto vencido do ministro Luiz Fux, como gesto de deferência institucional.

“A preliminar de incompetência do Supremo Tribunal Federal, e subsidiariamente da Primeira Turma, foi afastada no momento do recebimento da denúncia por maioria de votos, vencido o eminente ministro Luiz Fux”.

O ministro também recordou que, em 7 de setembro de 2021, Bolsonaro dirigiu uma ameaça direta a Fux, que presidia o STF, forçando o tribunal a ampliar seu esquema de segurança. “Ou o chefe desse poder enquadra o seu, ou esse poder pode sofrer aquilo que não queremos”.

INVASÃO – Moraes lembrou que os atos violentos de 12 de dezembro de 2022, dia da diplomação de Lula e Alckmin, já configuraram mais um passo da trama golpista. Ônibus foram incendiados em Brasília e houve tentativa de invasão à Polícia Federal.

“Assim como no dia 8 de janeiro, no dia 12 se tentou impedir que aqueles que foram legitimamente eleitos pela maioria do eleitorado pudessem ser diplomados e assumissem os seus cargos”.

O relator citou ainda o atentado frustrado de 24 de dezembro, quando uma bomba foi colocada nas proximidades do Aeroporto de Brasília. Para Moraes, o episódio mostra que a escalada golpista estava estruturada e financiada. “Essa bomba não explodiu por pouco. Acarretaria a morte de centenas de pessoas. O Brasil quase voltou a uma ditadura porque uma organização criminosa não soube perder eleições”.

PLANO – Moraes destacou como militares ligados a Bolsonaro elaboraram um plano para assassinar Lula, Alckmin e o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, em operação batizada de “Punhal Verde-Amarelo”. O esquema previa uso de forças especiais e até envenenamento.

“Não é possível normalizar esse retorno a momentos obscuros da história. Documentos e mensagens mostram que esse planejamento foi impresso dentro do Palácio do Planalto e levado ao Alvorada no mesmo dia em que Bolsonaro ordenava manter o discurso de fraude nas eleições”.

NEUTRALIZAÇÃO – Segundo o relator, militares das forças especiais planejavam a neutralização de autoridades e chegaram a adquirir chips e celulares para dificultar o rastreamento. A execução só não avançou porque os comandantes do Exército e da Aeronáutica recusaram aderir ao golpe.

“Toda a operação foi preparada com mapas, cruzamento de celulares e monitoramento de autoridades. Só foi abortada porque não houve adesão das Forças Armadas”.

Moraes destacou ainda que houve monitoramento ilegal de autoridades, incluindo ele próprio e o então presidente eleito Lula, até o fim de 2022. “Não se trata de tentativa de homicídio isolada, mas de atos executórios voltados ao golpe de Estado, com divisão de tarefas e anuência do líder da organização criminosa”.

Oitiva de Lupi dura quase dez horas, e CPMI do INSS vira palco de brigas e ofensas

Pesquisa CNT/MDA: Metade do país apoia condenação de Bolsonaro por tentativa de golpe

E surge um amor impossível, querendo ser o que jamais seremos…

O Poeta - Moacyr Felix

Moacyr Felix, grande poeta

Paulo Peres
Poemas & Canções

O editor, escritor e poeta carioca Moacyr Félix de Oliveira (1926-2005), no poema “Sentimento Clássico”, expõe a dor que colocamos em tudo e, calados, procuramos ser o que jamais seremos. 

SENTIMENTO CLÁSSICO
Moacyr Félix

Pisados, os olhos com que pisaste
a soleira escura de minha face;
e por mais pontes que entre nós lançasse,
ao que de fato sou nunca chegaste.
Que distâncias lamento, e que contraste !

Gravando em cada ser o amor que nasce
não encontrei o amor que me encontrasse:
amaram sem me ver, como me amaste.

Tinha os olhos tristes como eu tenho,
e o pranto que eu te trouxe de onde venho
é o mesmo que te espera adonde vais.

Se a mesma sóbria dor em tudo pomos,
não vês o que me calo. E assim nós somos
o que não somos nem seremos mais.

Generais avançam à reta final com cenário mais favorável no Supremo

Defesas dos generais mudam curso durante processo

Cézar Feitoza
e Ana Pompeu
Folha

Os generais e ex-ministros Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira chegam à reta final do julgamento da trama golpista na Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) com uma situação mais favorável do que no início do processo que tem como figura principal o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A avaliação feita por dois ministros do Supremo e advogados ouvidos pela Folha é que as acusações contra Heleno se mostraram mais frágeis em comparação com as dos demais réus. Já Paulo Sérgio recebeu testemunhos favoráveis e mudou o curso de sua defesa no decorrer do processo, mas ainda pesa contra ele a atuação agressiva contra o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) durante o processo eleitoral de 2022.

DEFINIÇÕES – O destino dos dois será conhecido na próxima sexta-feira (12), quando a Primeira Turma do Supremo deve encerrar o julgamento e definir a sentença dos oito réus da trama golpista. Além de Heleno, Bolsonaro e Paulo Sérgio, são denunciados no processo Alexandre Ramagem (ex-diretor da Abin, a Agência Brasileira de Inteligência), Almir Garnier (ex-comandante da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Mauro Cid (ex-ajudante de ordens) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil).

Augusto Heleno era ministro do Gabinete de Segurança Institucional durante o governo Bolsonaro (2019-2022). Ele é acusado pela PGR de construir a narrativa do ex-presidente contra as urnas eletrônicas. A principal prova apresentada pela Procuradoria são anotações em um caderno de Heleno que foi apreendido pela Polícia Federal. Os manuscritos do general indicavam a importância de “continuar a criticar a urna eletrônica”.

O advogado Matheus Milanez argumenta que a prova é frágil para condenar o ex-ministro. Ele diz que a investigação não soube dizer a data em que a anotação foi feita nem levou em conta outros trechos do mesmo caderno —como um em que o general sugere que Bolsonaro deveria se vacinar contra a Covid-19.

AFASTAMENTO – O foco da defesa de Heleno é mostrar que o general se afastou do centro decisório do governo Bolsonaro em 2021, quando o então presidente se aliou aos partidos do centrão e abriu espaço para os novos governistas no Planalto. “Quando o presidente Bolsonaro se aproxima dos partidos do centrão e tem sua filiação ao PL, inicia-se sim um afastamento da cúpula do poder. Claro que não existia um afastamento 100%. Mas houve essa diminuição”, afirmou Milanez.

A defesa de Heleno criticou a Polícia Federal por “selecionar a dedo” páginas de um caderno descontextualizadas, sem provas adicionais, para acusar o general. “Por que a Polícia Federal, junto com o Ministério Público, não trouxe as conversas do general Heleno que [provam que ele] estaria junto na trama golpista? Porque não há, excelências. Papel aceita tudo”, completou o advogado.

Um ministro do Supremo afirmou, sob reserva, que a tese do afastamento de Heleno é questão relevante para entender o papel do general na trama golpista. Outro integrante do tribunal disse à Folha que uma eventual absolvição do ex-ministro pode servir de desagravo às Forças Armadas.

ESTRATÉGIA – O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira mudou de estratégia ao longo do processo. Na defesa prévia, o advogado Andrew Fernandes dedicou pequena parte do documento para tratar do mérito da acusação. Durante os depoimentos das testemunhas e dos próprios réus, Fernandes foi redirecionando a defesa de Paulo Sérgio.

Ele tentava mostrar que o ex-ministro da Defesa discordava dos planos golpistas sugeridos por Bolsonaro —posicionando-se ao lado dos ex-comandantes Baptista Júnior (Aeronáutica) e Freire Gomes (Exército). Baptista Júnior disse, em depoimento, que Paulo Sérgio tentava convencer Bolsonaro a não dar um golpe.

“Dessas reuniões, eu tenho uma visão muito passiva do Almirante Garnier. Eu lembro que o Paulo Sérgio, Freire Gomes e eu conversávamos mais, debatíamos mais, tentávamos demover a mais o presidente”, disse. O tenente-coronel Mauro Cid seguiu a mesma linha. Em sua delação, diz que Paulo Sérgio fazia parte do mesmo grupo do general Freire Gomes.

ALEGAÇÕES FINAIS – Segundo o delator, eles entendiam que “nada poderia ser feito diante do resultado das eleições, que qualquer coisa em outro sentido seria um golpe armado”. Com base nos depoimentos, Andrew escreveu em suas alegações finais a palavra “demover” 21 vezes —todas elas no sentido de que Paulo Sérgio atuou para Bolsonaro não avançar com planos golpistas.

Em sustentação oral ao Supremo, o advogado disse que a principal prova de que Paulo Sérgio foi contra a trama golpista é o fato de ele ter sido alvo de ataques de bolsonaristas após as eleições de 2022. “Qual é a prova dos nove da hipótese acusatória? Que ele fazia parte da organização criminosa para dar um golpe de Estado. Qual é a prova dos nove que o general Paulo Sérgio não fazia parte dessa organização criminosa? Ele sofreu ataques”, disse.

DESCONFIANÇA – “Segundo a própria acusação, membros dessa organização criminosa estavam lutando para retirar o general Paulo Sérgio, ministro da Defesa, e o comandante do Exército, general Freire Gomes.” A situação de Paulo Sérgio, porém, não é tão simples. Outra parte da acusação da PGR diz que o general atuou de forma subserviente a Bolsonaro no ataque às urnas eletrônicas, utilizando as Forças Armadas para criar desconfiança sobre o sistema eleitoral.

O ministro Alexandre de Moraes viveu a crise com as Forças Armadas de perto. Ele era o presidente do TSE enquanto Paulo Sérgio, ministro da Defesa, insistia em mudanças no sistema eletrônico de votação.

Eduardo Bolsonaro ameaça estender as sanções à família de Moraes

Eduardo Bolsonaro (PL-SP) em live feita em seu canal de YouTube

Vou atrás de cada um de vocês, diz Eduardo a  Moraes

Bianca Gomes
Estadão

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) publicou no último domingo, 7, um vídeo em que faz ameaças à família do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

“Eu vou provar para o Alexandre de Moraes que ele encontrou um cara de saco roxo que vai acabar com essa brincadeirinha dele. Moraes, você, a sua mulher, e depois dela, que em breve será sancionado os seus filhos, eu vou atrás de cada um de vocês”, disse o deputado.

PALAVRAS DURAS – Posso ter me excedido no final, mas as palavras mais duras existem para isso mesmo. Só um homem agressivo pode ser pacífico, do contrário a única opção é ser cordeiro.

O vídeo, divulgado na conta do deputado no X (antigo Twitter), traz um trecho de uma videochamada de Eduardo com apoiadores que participavam de manifestações bolsonaristas em Curitiba e Porto Alegre.

Na legenda da publicação, Eduardo admite que pode ter se “excedido”, mas justifica que as palavras mais duras existem para isso. ”Só um homem agressivo pode ser pacífico, do contrário a única opção é ser cordeiro”, escreveu.

NÃO DESISTE – Eduardo, que está nos Estados Unidos em busca de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, afirmou que não vai desistir da empreitada.

A ele é atribuída a articulação que resultou na aplicação da Lei Magnitsky a Moraes, que pode ser estendida a sua mulher e filhos..

Como mostrou o Estadão, juntamente com o comunicador Paulo Figueiredo, o deputado pretende levar a ofensiva contra Moraes também para a Europa neste segundo semestre.

Às vésperas da sentença no STF, Bolsonaro pede autorização para nova cirurgia

Bandeira estrangeira e o futuro da democracia brasileira

Moraes abre fase decisiva no STF e endurece contra Bolsonaro: ‘Impunidade não é opção’

Barroso defende STF e diz que processo contra Bolsonaro ocorre ‘à luz do dia

Barroso diz que julgamento é guiado por provas

Gabriela Boechat

CNN

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Luís Roberto Barroso, afirmou nesta segunda-feira (8) que a Corte conduz seus processos criminais com base em provas e não em “disputa política ou ideológica”.

O ministro disse que aguarda o momento correto para se pronunciar sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado, mas afirmou que o processo tem sido conduzido “à luz do dia”, diferentemente do que ocorria no período da ditadura militar.

À LUZ DO DIA – “Processo penal é prova, não disputa política ou ideológica. Por ora, o que posso dizer é que, tendo vivido e combatido a ditadura, nela é que não havia devido processo legal público e transparente, acompanhado pela imprensa e pela sociedade em geral. Era um mundo de sombras. Hoje, tudo tem sido feito à luz do dia. O julgamento é um reflexo da realidade. Na vida, não adianta querer quebrar o espelho por não gostar da imagem”, diz o ministro em nota obtida pela CNN.

O julgamento contra o ex-presidente será retomado a partir desta terça-feira(9), com o voto dos ministros. Conforme apurou a CNN, a condenação é considerada certa, mas pode haver divergência entre os ministros quanto à pena a ser aplicada.

PRESSÕES  – O julgamento ocorre em meio a pressões diversas, seja do grupo político de Bolsonaro, que critica o Supremo e pleiteia anistia; seja pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tem aplicado sanções a ministros e ao Brasil. No último domingo, em manifestações do 7 de setembro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), criticou a condução do processo pelo ministro Alexandre de Moraes.

Em seu discurso, disse que “ninguém aguenta mais” a “tirania” do ministro, que a acusação no âmbito da ação penal se baseia em uma delação premiada “falha” e que houve cerceamento de defesa no processo. “Se toda a trama, todo o enredo, narrativa, foi construída em cima de uma delação mentirosa, e não tem uma ordem, um texto, um áudio, vinculando o Bolsonaro ao 8 de Janeiro. É tudo muito frágil e tênue”, afirmou.
 
Em defesa da anistia, Tarcísio afirmou que o processo está “maculado, viciado” e que a única saída seria uma medida ampla. “A impunidade deixaria uma cicatriz, mas a condenação sem prova abre uma ferida que nunca vai fechar. A gente está pedindo uma anistia porque sabe que esse processo está maculado, viciado.”

Valdemar Costa Neto: “Nosso único plano é Bolsonaro em 2026”

Eduardo Bolsonaro já falta mais do que aparece na Câmara e aumenta risco de cassação

Moraes amplia sessões e STF acelera julgamento de Bolsonaro na trama golpista

Vereadora tenta ceder área pública para ONG do seu próprio assessor

ONG foi fundada por seu suplente e assessor na Câmara Municipal

Carlos Petrocilo
Folha

A vereadora Cris Monteiro (Novo), de São Paulo, apresentou emenda que cedia uma área do município para a ONG de um assessor por 90 anos, com possibilidade de prorrogação. Ao ver sua iniciativa contestada por vereadores de oposição, ela desistiu da ideia. O terreno, ocupado parcialmente por uma escola infantil municipal, fica na Cidade Ademar, Zona Sul da capital.

A emenda seria a um projeto de lei aprovado que permitiu a venda de áreas do município para a iniciativa privada, inclusive ruas. A ONG beneficiada se chama Eu Acho um Absurdo e foi fundada por Edson Teixeira, que trabalha como assessor da liderança do Novo, partido da vereadora, na Câmara, além de ser suplente da própria parlamentar.

LIDERANÇA – A entidade oferece atividades esportivas, de cultura e assistência social a comunidades carentes. Como única representante da legenda na Casa, Monteiro é também a líder da bancada de uma só pessoa. A ONG é presidida pela esposa de Teixeira, Erika Dias Araújo, conforme anunciado em sua página na internet.

A assessoria de imprensa da vereadora afirmou que “ao tomar ciência de que havia uma discussão em andamento entre a subprefeitura e uma escola municipal sobre a responsabilidade da área, a vereadora optou por retirar a emenda”.

“A emenda teve como objetivo propor a cessão administrativa de um espaço público ocioso —tomado por vegetação, sem utilização, nem mesmo pela CEI vizinha— que vinha servindo de criadouro de insetos e ratos, causando grande desconforto à população do entorno”, disse em nota.

A assessoria acrescentou que “o Instituto Eu Acho um Absurdo desenvolve um amplo trabalho social em São Paulo, já tendo atendido mais de 70 comunidades com apoio voluntário e atualmente oferecendo atividades de assistência social, educação, esporte, cultura e lazer, que impactam diretamente cerca de 400 pessoas por semana.”

ABANDONO – A parlamentar afirmou ainda que a sua atuação é guiada pelo compromisso de fomentar iniciativas que tragam impacto positivo para a cidade. Edson Japão afirmou que o terreno está tomado por um matagal e abandonado há quase 30 anos.

“É fundamental que as autoridades assumam a responsabilidade e apresentem uma solução adequada, de modo que a população não precise continuar convivendo com essa situação”, escreveu o fundador da ONG e assessor do Novo. “A periferia da nossa cidade precisa de mais serviços de assistência social, esporte e lazer que realmente impactem positivamente a vida das pessoas”, prosseguiu.

Direita perde narrativa no 7 de Setembro ao trocar a bandeira do Brasil pela dos EUA

Bandeira errada, dia errado: oposição erra feio em manifestação

Por Valdo Cruz
G1

Os eventos do Sete de Setembro deste domingo (7) mostraram uma direita com maior capacidade de mobilização, reunindo mais de 80 mil apoiadores no Rio e em São Paulo, enquanto a esquerda só reuniu 8,8 mil pessoas na Praça da República na capital paulista.  Mas o que poderia ser uma grande vitória da direita sobre a esquerda na queda de braço de mobilização, acabou perdendo força quando os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) desfilaram na avenida Paulista com uma bandeira gigantesca dos Estados Unidos.

Nem bem a manifestação da direita em São Paulo havia acabado, o governo Lula e petistas já estavam usando a munição dada de bandeja pelos apoiadores de Bolsonaro nas redes sociais. Viralizou na internet posts de petistas, como a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, e o líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (PT-RJ), colocando lado a lado as imagens da bandeira americana no protesto dos apoiadores do ex-presidente e a brasileira no desfile de Sete de Setembro em Brasília.

REVERÊNCIA – “Os apoiadores de Bolsonaro reverenciam a bandeira dos Estados Unidos em plena data da independência do Brasil. Isso mostra que estão do lado de quem aplica um tarifaço sobre o Brasil, enquanto o presidente Lula defende a soberania brasileira”, acrescentando com uma pergunta: “Quem está ao lado do povo brasileiro, os bolsonaristas ou o presidente Lula?”, questionou Lindbergh.

O governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, fez questão de evitar imagens em seus posts da bandeira dos Estados Unidos estendida na avenida Paulista, ciente de que os apoiadores de Bolsonaro acabaram dando munição aos petistas.

Em Recife, capital de Pernambuco, os apoiadores de Bolsonaro seguiram a tradição do Carnaval e desfilaram com um boneco gigantesco de Donald Trump. A imagem foi usada pelo grupo do prefeito da cidade, João Campos, e do líder do PSB na Câmara, Pedro Campos, para também atacar os bolsonaristas por estarem apoiando o presidente dos Estados Unidos, que ameaça aplicar novas sanções contra o Brasil depois da conclusão do julgamento da ação penal do golpe.

ANISTIA – Por sinal, nas manifestações deste domingo, os apoiadores de Bolsonaro, desta vez, deixaram muito explícito que a meta é aprovar uma anistia principalmente para o ex-presidente da República Jair Bolsonaro. Até então, nas manifestações anteriores, o líder Sóstenes Cavalcante fazia questão de afirmar que o objetivo era anistiar as velhinhas que foram presas no 8 de janeiro e que o caso de Bolsonaro seria tratado depois. Agora, a estratégia mudou completamente.

Isso vai aumentar a pressão dos líderes bolsonaristas sobre o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, mas ele já indicou que não vai pautar o projeto da anistia antes do julgamento da ação penal do golpe. Hugo Motta esteve presente no Sete de Setembro ao lado de Lula. Seu colega do Senado, o presidente Davi Alcolumbre, não compareceu. Seus interlocutores dizem que ele quer se resguardar para votar um projeto que reduza as penas dos atos golpistas, mas não uma anistia.

Leminski: “A gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto”

Você está tão longe que às vezes... Paulo Leminski - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O crítico literário, tradutor, professor, escritor e poeta paranaense Paulo Leminski Filho (1944-1989) expressa, no poema “Bem no Fundo”, uma vontade que as pessoas gostariam de sentir acontecer, ou seja, a resolução de todos os seus problemas, mesmo que fosse por decreto, tornando a “mágoa” nula sob “silêncio perpétuo”, extinguindo o “remorso” por força de lei.

Mas problemas não se resolvem através de remédios legais, pois problemas têm família grande, que gera probleminhas no cotidiano das pessoas.

BEM NO FUNDO
Paulo Leminski

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

Planalto joga tudo para impedir anistia e medir forças com Centrão