Eduardo Bolsonaro desmonta discurso de Tarcísio e expõe racha no bolsonarismo rumo a 2026

Tarcísio rompe com o STF e aposta no tudo ou nada para herdar espaço de Bolsonaro

Governador acusou de Moraes de ‘tirania’ e pressionou por anistia

Bela Megale
O Globo

Os ataques de Tarcísio de Freitas ao ministro Alexandre de Moraes foram considerados um “divisor de águas” na relação que o governador de São Paulo mantinha com a corte. Na avaliação de ao menos três ministros, Tarcísio “ultrapassou limites institucionais” ao chamar Moraes de “ditador” e “tirano” em seu discurso na Avenida Paulista, no 7 de Setembro.

“Ele foi para o tudo ou nada. Um ataque tão virulento dirigido ao ministro Alexandre de Moraes atinge todo o tribunal. Tarcísio passou dos limites institucionais, e isso tem consequências. Certamente, o diálogo dele fica prejudicado com uma boa parcela dos ministros”, disse um magistrado à coluna.

APROVAÇÃO – A leitura de parte dos integrantes do STF é que Tarcísio radicalizou sua fala para fazer gestos a Jair Bolsonaro e sua base, na tentativa de se consolidar como o candidato à Presidência no lugar do capitão reformado em 2026.

“Obviamente, o discurso do Tarcísio não é um sinal de quem queira construir diálogo com o Judiciário. O que eu vejo é ele radicalizando em busca da bênção do Bolsonaro para concorrer à Presidência”, avaliou outro ministro.

Após os ataques de Tarcísio ao ministro Moraes, o decano do STF, Gilmar Mendes, foi às redes sociais rebater o governador: “Não há no Brasil “ditadura da toga”, tampouco ministros agindo como tiranos. O STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito, impedindo retrocessos e preservando as garantias fundamentais”.

RISCOS – O ministro ainda reforçou que os riscos à democracia não vieram do Judiciário, mas de ações como a negligência durante a pandemia, os acampamentos em frente a quartéis e a tentativa de golpe de 8 de janeiro.

“Se quisermos falar sobre os perigos do autoritarismo, basta recordar o passado recente de nosso país: milhares de mortos em uma pandemia, vacinas deliberadamente negligenciadas por autoridades, ameaças ao sistema eleitoral e à separação de Poderes, acampamentos diante de quartéis pedindo intervenção militar, tentativa de golpe de Estado com violência e destruição do patrimônio público, além de planos de assassinato contra autoridades da República”, disse.

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Lula e o 7 de Setembro: soberania como estratégia política

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Petistas querem condenar Bolsonaro à maior pena possível e imaginável

Do 'nunca serei preso' ao julgamento, a longa sombra do 7 de Setembro ofusca Bolsonaro – CartaCapital

A meta: 43 anos de prisão por um golpe que não existiu

Carlos Newton

Chega a ser constrangedor o grande número de reportagens, análises políticas e editoriais pregando a tese de que Jair Bolsonaro e os golpistas têm de ser condenados. É claro que, em condições ideais de temperatura e pressão, como se diz na Física, jamais poderia nem deveria haver penas brandas ou absolvição . Mas acontece que o Brasil está longe – mas muito longe mesmo – de viver em situação de normalidade jurídica.

Desde 2019, quando o presidiário Lula da Silva foi libertado ilegalmente pelo Supremo, o Brasil entrou na contramão da normalidade política, porque se tornou o único país da ONU que passou a não mais prender criminoso após condenação em segunda instância, quando se esgota a discussão do mérito.

TERCEIRA INSTÂNCIA – Aliás, no caso de Lula, ele já tinha condenação unânime em terceira instância (Superior Tribunal de Justiça). Quer dizer, o Supremo forçou a barra e sujou o nome do Brasil no cenário das nações, única e exclusivamente para beneficiar o detento Lula da Silva, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, com abundância de provas.

Mas ainda não era suficiente. Para permitir a candidatura de Lula, que à época já deveria até ter sido julgado no Supremo, os criativos ministros tiveram de inventar em 2021 uma exceção de “incompetência territorial absoluta”, algo que também não existe em nenhum outro país, emporcalhando ainda mais a imagem jurídica do Brasil no exterior.

Agora, quando se aproxima o julgamento do golpe, os petistas defendem o cumprimento mais rigoroso possível das leis, esquecidos do que o Supremo fez nos verões passados para favorecer um criminoso vulgar como Lula.

HORA DE ACORDO – Ora, meus amigos, é nesse ambiente juridicamente imundo que o Congresso agora quer defender um acordo, na esperança de pacificar o país, mas os petistas e a imprensa não aceitam de forma alguma. Não querem ceder um milímetro e buscam culpar os militares de agora como se fossem os torturadores de 1964.

O resultado é a polarização total, com posições cada vez mais radicalizadas. Vamos aguardar a desfaçatez do Supremo, que deveria reduzir as penas dos falsos terroristas do 8 de Janeiro, para ter condições mínimas de condenar Bolsonaro e seu  núcleo duro.

O problema é que o relator Alexandre de Moraes não aceita qualquer negociação, sem perceber que 43 anos para punir um golpe que não houve é um bocado de exagero.

“Ninguém aguenta mais a tirania do ministro Moraes”, diz Tarcisio

Tarcísio discursou no domingo no evento da Av. Paulista

Maria Clara Matos e Henrique Sales Barros
da CNN

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), afirmou neste domingo (7) em manifestação na avenida Paulista que “ninguém aguenta mais” a “tirania” de um ministro como Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país. Eu faço um apelo… Devolvam o passaporte do Silas Malafaia. Devolvam o caderno de sermões do pastor Silas Malafaia. Não é justo tomar o caderno de sermões do sacerdote”, disse Tarcísio ao discursar.

PASSAPORTE – A fala do chefe do Executivo paulista acontece após o magistrado do Supremo ordenar a apreensão do passaporte do pastor Silas Malafaia. O líder religioso foi alvo de mandado de busca e apreensão no Aeroporto Internacional do Galeão, no Rio de Janeiro, no final de agosto.

Malafaia chegou a pedir a devolução do documento. Ainda nos atos deste 7 de setembro, que contou com críticas à atuação do STF e pedidos pela anistia aos condenados de 8 de janeiro de 2023, o pastor afirmou que Alexandre de Moraes impede o “livre exercício da sua função” e citou perseguição religiosa.

PAUTAR A ANISTIA – Ainda ao discursar em um trio elétrico na capital paulista junto a membros da direita brasileira como a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (PL), Tarcísio também acrescentou que não será aceito a “imposição de um Poder sobre o outro”.

O governador também enviou um recado direcionado para o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, cobrando a pauta da anistia: “Hugo, paute a anistia. Deixe a casa decidir. E tenho certeza que ele vai fazer isso”.

EUA deixam Padilha sem respostas sobre visto para reunião da ONU

Saúde e soberania não se negociam', afirma Padilha após sanção dos EUA |  Jovem Pan

Sem visto, Padilha vai perder essa viagem a Nova Iorque

Jamil Chade
do UOL

O governo dos EUA até agora não deu uma resposta ao ministro da Saúde, Alexandre Padilha, sobre seu pedido de visto para poder acompanhar as reuniões da ONU, no final do mês em Nova York. Pelas regras da entidade internacional, o governo americano tem a obrigação de conceder vistos a todas as delegações.

Padilha foi alvo de sanções por sua participação na contratação de médicos cubanos para atuar no Brasil. Mas, por fazer parte da delegação do Brasil que irá para a Assembleia Geral da ONU, voltou a solicitar o visto. O UOL apurou que, até o momento, a embaixada americana não respondeu ao pedido.

LULA E TRUMP – Neste ano, o evento que começa no dia 23 em Nova York com o presidente Lula tem um caráter ainda mais simbólico ao marcar os 80 anos das Nações Unidas. O segundo a falar será Donald Trump e, nos corredores que dão acesso ao palco, o encontro entre as duas delegações é praticamente inevitável.

Assim, a reunião de cúpula promete testar a dimensão da tensão entre Brasil e EUA.

Ao UOL, membros do governo indicaram que acreditam que novas sanções podem ser anunciadas caso o ex-presidente Jair Bolsonaro seja condenado. O anúncio viria antes da reunião da ONU.

NEGAR O VISTO – No Palácio do Planalto, a ordem é de se preparar para eventuais obstáculos para a delegação brasileira que irá ao evento. Ainda assim, o governo insiste que, pelo acordo entre a ONU e os EUA, de 1947, as autoridades americanas não podem negar um visto a uma delegação estrangeira que esteja viajando para reuniões nas Nações Unidas.

Vistos, segundo o acordo, “devem ser dados sem custo e o mais rápido possível”. Mas o governo Trump tem violado essa regra. Na semana passada, Washington anunciou que não dará vistos à delegação palestina.

Fontes diplomáticas brasileiras confirmaram à reportagem que, ao observar a situação de outros governos sob sanções americanas, a prática tem sido a de criar uma série de obstáculos com o objetivo de enfraquecer a delegação do país.

OPERAÇÃO TARTARUGA – No caso da Rússia, por exemplo, ministros visitaram com frequência a sede da ONU ao longo dos últimos três anos de guerra na Ucrânia. Ainda assim, uma das práticas mais frequentes tem sido a de conceder a autorização faltando poucas horas para as reuniões em Nova York, inviabilizando as viagens de técnicos e assistentes e ministros.

Segundo diplomatas, a “operação tartaruga” por parte dos americanos foi aplicada em outros casos, inclusive em relação às delegações do Irã, Sudão, Cuba ou Venezuela.

No governo de Trump entre 2017 e 2021, diversas queixas foram apresentadas à ONU por delegações contra o comportamento do republicano diante dos vistos.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Visto não é nada. Perguntem ao ministro Luís Roberto Barroso. Duro mesmo é perder propriedades e patrimônio. Barroso tem sob ameaça dois imóveis de luxo na Flórida, no valor de R$ 50 milhões. Quanto aos investimentos em dólares, o ministro já deve ter zerado as contas bancárias, é claro. (C.N.)

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Condenação de Bolsonaro é certa, mas a anistia já se vê no horizonte

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Charge do Laerte (Folha)

William Waack
Estadão

O problema para o “acerto” que se procura fechar em Brasília é a falta de controle e convergência entre os potenciais participantes. Por “acerto” entende-se a ação política, na qual o governador de São Paulo acabou assumindo o papel mais visível, de buscar algum tipo de anistia benéfica a Bolsonaro. E alcançar o que se chama de “pacificação”.

O preço a ser pago por Bolsonaro é alto: indicar imediatamente fora do seu clã familiar o “herdeiro” de seu cacife eleitoral. Na prática significa abdicar da posição atual de “king maker” – nos termos até aqui conhecidos desse “acerto”, Bolsonaro continuaria inelegível, e precipitaria justamente a situação que tenta evitar, a de uma direita competitiva sem ele.

DECISÃO ERRADA – Nesse sentido, o apelo feito a Trump foi a pior decisão estratégica possível do agrupamento bolsonarista. Não só pela dificuldade em se acomodar com vários setores do espectro de centro-direita, que consideram inaceitáveis as interferências da potência estrangeira nos assuntos brasileiros.

Mas também por trazer danos eleitorais, ajudar o adversário no governo e reforçar a ideia de que os caminhos melhores para o Brasil não passam por Lula nem por Bolsonaro.

O “acerto” precisaria de termos a serem combinados de alguma maneira – de preferência informal – com integrantes do STF. Hoje são termos ainda muito difusos, dentro de uma Corte na qual as antigas vozes de condução dos grandes assuntos perderam a capacidade de coordenação, ou mesmo influência. A falta de freio de arrumação em Alexandre de Moraes é o mais eloquente indício.

FALTA DE LIDERANÇA – Também o STF sofre com falta de liderança. Problema mais grave ainda dentro do Congresso, para nem se falar o que acontece fora dele. No amplo espectro de centro-direita há vários operadores hábeis num jogo concentrado na defesa dos interesses diretos de parlamentares, que consiste em encurralar o governo para manter e ampliar ferramentas de poder e emendas. Mas não estão até aqui à altura de executar um “grande jogo” como esse da anistia.

O “acerto” pressupõe que uma “pacificação” possa significar uma volta a um “normal” que ninguém é capaz de dizer qual seria, nem quando deixou de existir. Ao contrário, o cenário evoluiu para uma inédita complexidade que envolve fatores geopolíticos, além da constante deterioração da relação entre os poderes no Brasil e da notória falta de lideranças.

O que se tem pela frente são águas nunca dantes navegadas. Serão enfrentadas por gente variada portando bússolas oscilantes. Nem dá para contar com o GPS controlado pelo Pentágono.

7 de Setembro vira campo de batalha simbólica entre Lula e Bolsonaro

Mensagem profética de uma contagem regressiva neste mundo agredido

Planeta Terra Com Diversos Ecossistemas Foto Realística Ilustração ...

ilustração reproduzida do Arquivo Google

Paulo Peres
Poemas & Canções

O administrador de empresas e poeta carioca Marcos Fernandes Monteiro, conhecido como Coquito, na letra de “Contagem Regressiva”, parceria com Johnny do Matto, personifica-se de profeta e alerta para os primeiros sinais.

A música “Contagem Regressiva” foi gravada por Johnny do Matto no CD Parcerias, em 2009, produção independente.

CONTAGEM REGRESSIVA
Johnny do Matto e Cokito

Fique atento aos primeiros sinais
Movimentos celestes
A chegada das pestes
Mensagens astrais

Fique atento aos primeiros sinais
Caso a lua se vá
Sem querer mais voltar
E o sol também for
E levar seu calor

Fique atento aos primeiros sinais
Só restará uma prece
E é bom que se apresse
Pois a estrela cadente
Desce incandescente
Anunciando a matança
Mas ainda há esperança
Na força de um grito
Que leve ao infinito
Toda a redenção
De um novo ser humano
Em um novo plano
Através da lição
Em um novo mundo
Na recriação

Anistia em debate: Como o Congresso quer apagar o 8 de Janeiro

Manobra busca blindar Bolsonaro e seus aliados

Marcelo Copelli
Revista Fórum

O debate sobre a anistia irrompe novamente no centro da cena política brasileira. O termo, que carrega em si a ideia de perdão e esquecimento, foi resgatado não apenas como um instrumento jurídico, mas como estratégia política de sobrevivência. E, embora se fale em “pacificação nacional” e “reconciliação do país”, o que está em jogo, na prática, é a tentativa de salvar o ex-presidente Jair Bolsonaro e proteger seu círculo mais próximo das consequências penais e políticas dos atos golpistas de 8 de Janeiro de 2023.

Por trás da retórica de “virar a página”, move-se uma engrenagem de poder cujo real objetivo é blindar o ex-mandatário e seus aliados, numa disputa direta com o Supremo Tribunal Federal e com a própria lógica constitucional. No Congresso, a articulação em torno da anistia ganhou fôlego com projetos de lei que buscam apagar a punibilidade dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito e de tentativa de golpe de Estado. 

MANOBRA – Sob a justificativa de proteger “manifestantes” ou “inocentes arrastados pelo contexto”, a proposta abrange, na prática, lideranças políticas e financiadores que hoje enfrentam processos no STF. Trata-se, portanto, menos de um gesto magnânimo em direção à sociedade e mais de uma manobra para interromper o cerco judicial que já alcança Bolsonaro e poderá atingir figuras centrais de sua campanha e de seu governo. A insistência nesse debate revela que não se trata de um esforço para acalmar ânimos, mas de uma operação política com endereço certo.

Do ponto de vista constitucional, a anistia é prerrogativa do Congresso, mas não ilimitada. A Carta de 1988 veda expressamente o perdão para crimes de tortura, terrorismo, tráfico de drogas e crimes hediondos. Embora os crimes imputados aos réus de 8 de Janeiro não tenham sido enquadrados formalmente como terrorismo, a essência dos atos — a tentativa de derrubar a ordem democrática pela força — se aproxima daquilo que a Constituição quis proteger de forma absoluta.

É aqui que emerge a tese da inconstitucionalidade material: ainda que o texto não vede de forma literal, conceder anistia a crimes que atacam o coração da democracia violaria os princípios fundamentais da República, a separação dos Poderes e o dever estatal de preservar o Estado Democrático de Direito.

“RASURA CONSTITUCIONAL” – Não por acaso, juristas críticos à anistia lembram que ela equivaleria a uma “rasura constitucional” disfarçada de acordo político. A comparação com a Lei de Anistia de 1979 não se sustenta, uma vez que, naquele contexto, havia uma transição da ditadura para a democracia, e a discussão girava em torno de como permitir a abertura política.

Hoje, a situação é inversa: discute-se perdoar crimes cometidos contra uma democracia consolidada, em pleno funcionamento institucional, com todas as garantias constitucionais em vigor. O que em 1979 foi apresentado como ponte para o futuro, em 2025 soa como um atalho para o retrocesso.

O Supremo Tribunal Federal, por sua vez, já consolidou sentenças contra envolvidos nos atos. Ao intervir com uma anistia ampla, o Congresso não apenas enfraqueceria essa resposta, mas passaria a perigosa mensagem de que a democracia pode ser negociada no balcão da política. Além disso, transformaria o esforço de responsabilização em peça descartável, sujeita ao humor das maiorias parlamentares.

IMPUNIDADE – Politicamente, o argumento da pacificação é sedutor, mas, sem memória e garantias de não repetição, se reduz a mero sinônimo de impunidade. O que se busca, ratifique-se, é proteger Bolsonaro da inelegibilidade, das condenações e do estigma de ter liderado ou incentivado um movimento contra as instituições. A anistia seria o mecanismo de salvação para recolocar o ex-presidente no jogo político de 2026, ainda que ao custo de deslegitimar a Constituição de 1988 e enfraquecer a autoridade do Supremo.

Mais grave ainda é a erosão da confiança pública nas instituições. Para os milhões de brasileiros que assistiram, estarrecidos, às imagens de prédios históricos depredados, de obras de arte destruídas e de símbolos da República violados, a mensagem de um perdão coletivo soaria como traição. Seria como dizer que o Congresso não enxerga gravidade em crimes que, em qualquer democracia madura, seriam tratados como uma linha vermelha intransponível. Esse desgaste simbólico pode ser mais perigoso do que as consequências jurídicas imediatas, pois mina o pacto de confiança entre cidadãos e Estado.

Outro ponto que deve ser considerado é o precedente político. Uma anistia agora poderia abrir caminho para que futuros ataques às instituições sejam encarados como apostas de baixo risco. Testa-se o limite da violência, avalia-se a correlação de forças no Congresso e, se houver maioria política, o perdão é concedido.

DIMENSÃO INTERNACIONAL – A democracia não pode se permitir normalizar a lógica da reincidência, em que atos contra a ordem constitucional passam a ser tratados como meras manobras de pressão, passíveis de absolvição a cada ciclo eleitoral. Há também a dimensão internacional. O Brasil, como signatário de tratados de direitos humanos e integrante de organismos multilaterais, assumiu o compromisso de punir ataques contra o Estado de Direito e proteger suas instituições. Uma anistia ampla e indiscriminada para crimes dessa magnitude seria interpretada como sinal de fragilidade institucional e poderia comprometer a imagem do país como democracia estável.

Em tempos de crescente autoritarismo global, a indulgência em relação a atos golpistas colocaria o Brasil na contramão das nações que fortalecem suas defesas contra ameaças internas. Assim, é importante lembrar que a verdadeira pacificação não se alcança pelo esquecimento, mas pela responsabilização.

SALVO-CONDUTO – Países que enfrentaram períodos de instabilidade democrática só conseguiram construir estabilidade duradoura quando combinaram justiça com memória e garantias de não repetição. O que se propõe hoje no Congresso não é um pacto de reconciliação, mas um salvo-conduto para que lideranças políticas escapem das consequências de seus atos.

Em vez de curar feridas, a anistia ampliaria as cicatrizes. A democracia brasileira já foi atacada no fatídico 8 de Janeiro; cabe agora ao país decidir se irá se defender com firmeza ou se permitirá que um acordo político de ocasião reescreva, em nome da conveniência, a sua própria Constituição.

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Na discussão do processo de Jair Bolsonaro, o país continua dividido e o Supremo não consegue atrair o apoio da maioria da opinião pública, por mais que alegue e divulgue ter apresentado provas de que o ex-presidente e seu núcleo duro “tentaram” aplicar um golpe de estado. Como se sabe, nesse tipo de processo é preciso provar que se configurou uma “tentativa”, para que possa haver crime concretamente, com a devida punição.

Não há a menor dúvida de que os réus “planejaram” o golpe e alguns deles chegaram até a imaginá-lo de uma forma espetacular, com assassinato de alguns envolvidos.

Esse “planejamento” está mais do que provado nos autos, mas faltou comprovar que houve mesmo a “tentativa”, e essa lacuna jogaria tudo por terra, juridicamente, num país sério.

DOGMA JURÍDICO – A configuração da “tentativa” é tema importantíssimo, porque se trata de um dos principais dogmas jurídicos em vigor no mundo inteiro, inclusive no Brasil, mas agora o Supremo inventou de tentar desconhecê-lo, para inicialmente condenar os envolvidos no 8 de Janeiro.

As defesas, é claro, exigem obediência a essa doutrina jurídica, mas a acusação finge que nem existe polêmica, e o procurador Paulo Gonet, também passa por cima, ao concordar com a posição claramente equivocada do ministro relator Alexandre de Moraes.

Para a acusação, a “tentativa” de golpe teria ocorrido devido a três motivos – a manutenção dos acampamentos diante dos quartéis, o episódio de vandalismo de 12 de dezembro e o quebra-quebra de 8 de janeiro, como se existisse uma forte conexão de causalidade entre os três eventos, que então teriam sido liderados pessoalmente por Bolsonaro e o núcleo duro, embora o ex-presidente estivesse morando nos EUA desde 30 de dezembro de 2022.

FALSA CONEXÃO – Com a máxima vênia, a acusação não tem nenhuma prova desta falsa conexão, que fez o Supremo considerar como “terroristas armados” os cidadãos que invadiram os Três Poderes no domingo 8 de janeiro, absolutamente desarmados, para protestar contra a eleição e posse de um criminoso vulgar, extraído da cadeia pelo Supremo sem motivo rigorosamente legal, conforme todos sabem.

Pela invasão dos Três Poderes, cidadãos de bem foram para a cadeia cumprir indevidamente 17 anos de cadeia e pagar multa milionária.

Por isso, o Supremo tem agora dificuldade para julgar os supostos líderes, porque teriam de receber penas ainda mais graves.

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P.S. – Bolsonaro, Lula, Alexandre de Moraes, é tudo uma vergonheira só. São maus brasileiros, despreparados para servir ao público. Eu não entendo por que são tão odiados e amados ao mesmo tempo, mas talvez Freud explique. (C.N.)

CGU aponta que INSS foi avisado em 2019 sobre desconto ilegal e nada fez

Relatora da CGU diz que INSS ignorou recomendações

Levy Teles e
Vinícius Valfré
Estadão

A diretora de auditoria de previdência e benefícios da Controladoria-Geral da União (CGU), Eliane Viegas Mota, disse à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) que o órgão foi informado da existência de um esquema fraudulento de descontos associativos em aposentadorias em 2019, depois foi comunicado pela própria CGU em julho de 2024 e acabou por não fazer nada.

A comunicação da CGU ao INSS foi feita em uma reunião com o então presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, em julho de 2024. O próprio Stefanutto só viria a ser destituído do cargo por decisão judicial quase um ano depois, em abril de 2025, quando foi deflagrada operação da Polícia Federal.

ESQUEMA – Segundo Mota, ela teve conhecimento do esquema a partir da recomendação que foi feita pelo Ministério Público Federal no Paraná, em 2019, quando o órgão no Estado deu ciência ao INSS sobre um crescimento diferenciado, em relação a quatro entidades, em reclamações de beneficiários. O MP recomendou ao INSS suspender acordos de cooperação técnica com essas entidades que começavam a operacionalizar o esquema fraudulento. “No primeiro relatório, nós mencionamos um trecho dessa recomendação”, disse.

O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), voltou a perguntar se a CGU só tomou conhecimento de irregularidades em descontos associativos a partir de 2019. “Eu não tenho acesso, não tenho conhecimento, a nenhum registro anterior”, respondeu Mota, que trabalha na CGU há 24 anos.

Em 2019, foi criado no âmbito da CGU uma Diretoria de Auditoria de Previdência e Benefícios. Até então, as questões relacionadas ao tema eram pulverizados dentro do órgão. Em março de 2024, a CGU começou uma auditoria. Os trabalhos foram concluídos e levados ao conhecimento do então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, em julho daquele ano.

PROVIDÊNCIAS – Houve uma reunião de Mota com Stefanutto e outras pessoas para tratar do relatório. Na ocasião, ele se prontificou em avaliar a viabilidade das providências listadas. A diretora da CGU afirmou que o INSS não suspendeu acordos de cooperação técnica (ACTs) com entidades suspeitas após essa reunião.

Stefanutto foi nomeado para o cargo de presidente do INSS no dia 11 de julho de 2023 pelo então ministro da Previdência, Carlos Lupi. O pedetista teceu elogios ao subordinado, dizendo que ele não “se deixa dobrar por interesses menores”. “Continue esse homem reto, leal à causa pública e, principalmente, que não se deixa dobrar por interesses menores. Quem ganha é o povo brasileiro, é o INSS, somos todos nós”, disse Lupi à época da nomeação.

Em entrevista em junho de 2025, o ministro da CGU, Vinicius Carvalho, disse que todo mundo sabia do problema e que a CGU estava fazendo auditoria, inclusive o ministro da Casa Civil, Rui Costa.

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