
Cúpula do PL trabalha para conseguir mais votos na corte
Bela Megale
O Globo
Lideranças do PL já fazem cálculos de quantos votos teriam no Supremo Tribunal Federal (STF) se uma eventual anistia contemplando Jair Bolsonaro for judicializada.
Contrariando os sinais explícitos do tribunal, membros do partido trabalham com uma perspectiva otimista, acreditando que podem até obter uma vitória e manter a anistia, apesar das manifestações públicas de diversos ministros de que a medida seria inconstitucional.
VOTOS CERTOS – De saída, o PL contabiliza a favor da manutenção da proposta os votos dos ministros indicados por Jair Bolsonaro para a corte: Kassio Nunes Marques e André Mendonça. O voto do ministro Luiz Fux também é dado como certo, ainda mais depois de sua manifestação no julgamento da Primeira Turma para absolver Bolsonaro das acusações da trama golpista.
Integrantes da cúpula do PL trabalham junto a magistrados para angariar mais três votos, já que calculam precisar de seis dos 11 votos dos integrantes do Supremo. Os focos prioritários são o ministro Dias Toffoli, que foi presidente da corte na gestão Bolsonaro e mantinha relação amistosa com o capitão reformado, e o próximo presidente do STF, o ministro Edson Fachin.
Interlocutores de Bolsonaro têm buscado estabelecer uma ponte com o magistrado e levado o discurso de que a anistia ajudaria a pacificar a relação com o tribunal durante seu mandato.
PASSAPORTES – Já a abordagem junto aos ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes é outra. Membros da cúpula do PL pretendem oferecer a recuperação de seus passaportes suspensos pelos Estados Unidos devido às articulações de Eduardo Bolsonaro junto ao governo Donald Trump.
Já os ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que votaram pela condenação do ex-presidente e dos demais envolvidos na tentativa de golpe, são considerados votos certos a favor da inconstitucionalidade da anistia.
SEM ESPAÇO – Ministros da corte, no entanto, avaliam que não há espaço para que a maioria decida a favor de uma proposta que beneficie Bolsonaro, ainda mais sob a ameaça crescente dos EUA a integrantes do STF por influência de Eduardo. Internamente, a avaliação é que Fux, Mendonça e Nunes Marques devem ficar isolados numa eventual votação sobre a inconstitucionalidade da anistia.
Um dos precedentes destacados pelos ministros foi a votação do indulto concedido por Jair Bolsonaro ao ex-deputado Daniel Silveira, que cumpre pena de oito anos de prisão por ameaça ao Estado Democrático de Direito, derrubado em 2023. Sete dos 11 ministros que fazem parte da atual composição do STF consideraram inconstitucional a hipótese de perdoar condenados por ataques à democracia.