Ilusão à toa! PL calcula votos no STF para anistiar Bolsonaro

Cúpula do PL trabalha para conseguir mais votos na corte

Bela Megale
O Globo

Lideranças do PL já fazem cálculos de quantos votos teriam no Supremo Tribunal Federal (STF) se uma eventual anistia contemplando Jair Bolsonaro for judicializada.

Contrariando os sinais explícitos do tribunal, membros do partido trabalham com uma perspectiva otimista, acreditando que podem até obter uma vitória e manter a anistia, apesar das manifestações públicas de diversos ministros de que a medida seria inconstitucional.

VOTOS CERTOS – De saída, o PL contabiliza a favor da manutenção da proposta os votos dos ministros indicados por Jair Bolsonaro para a corte: Kassio Nunes Marques e André Mendonça. O voto do ministro Luiz Fux também é dado como certo, ainda mais depois de sua manifestação no julgamento da Primeira Turma para absolver Bolsonaro das acusações da trama golpista.

Integrantes da cúpula do PL trabalham junto a magistrados para angariar mais três votos, já que calculam precisar de seis dos 11 votos dos integrantes do Supremo. Os focos prioritários são o ministro Dias Toffoli, que foi presidente da corte na gestão Bolsonaro e mantinha relação amistosa com o capitão reformado, e o próximo presidente do STF, o ministro Edson Fachin.

Interlocutores de Bolsonaro têm buscado estabelecer uma ponte com o magistrado e levado o discurso de que a anistia ajudaria a pacificar a relação com o tribunal durante seu mandato.

PASSAPORTES – Já a abordagem junto aos ministros Luís Roberto Barroso e Gilmar Mendes é outra. Membros da cúpula do PL pretendem oferecer a recuperação de seus passaportes suspensos pelos Estados Unidos devido às articulações de Eduardo Bolsonaro junto ao governo Donald Trump.

Já os ministros Alexandre de Moraes, Flávio Dino, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, que votaram pela condenação do ex-presidente e dos demais envolvidos na tentativa de golpe, são considerados votos certos a favor da inconstitucionalidade da anistia.

SEM ESPAÇO – Ministros da corte, no entanto, avaliam que não há espaço para que a maioria decida a favor de uma proposta que beneficie Bolsonaro, ainda mais sob a ameaça crescente dos EUA a integrantes do STF por influência de Eduardo. Internamente, a avaliação é que Fux, Mendonça e Nunes Marques devem ficar isolados numa eventual votação sobre a inconstitucionalidade da anistia.

Um dos precedentes destacados pelos ministros foi a votação do indulto concedido por Jair Bolsonaro ao ex-deputado Daniel Silveira, que cumpre pena de oito anos de prisão por ameaça ao Estado Democrático de Direito, derrubado em 2023. Sete dos 11 ministros que fazem parte da atual composição do STF consideraram inconstitucional a hipótese de perdoar condenados por ataques à democracia.

Reduzir penas do STF? O impasse entre política, justiça e democracia

Charge do Cláudio Oliveira (Folha)

Pedro do Coutto

O debate sobre a anistia dos condenados pelos atos de 8 de janeiro voltou ao centro da cena política em Brasília, mas desta vez com contornos mais pragmáticos. O relator do projeto, deputado Paulinho da Força, tem repetido que a ideia de uma anistia ampla, geral e irrestrita já está descartada.

O que se discute agora é um projeto que ficou conhecido como “PL da dosimetria”, voltado não para apagar as condenações, mas para reduzir penas aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal. Essa proposta, porém, levanta questões delicadas sobre o equilíbrio entre os Poderes.

INTERFERÊNCIA – Afinal, até que ponto o Legislativo pode interferir em decisões transitadas em julgado, especialmente quando o STF já aplicou sanções após processos que seguiram o devido rito legal? A dúvida é pertinente, pois a separação entre política e justiça é um dos pilares do sistema democrático, e qualquer tentativa de borrar essa fronteira pode gerar uma crise institucional de grandes proporções.

A discussão esbarra em fundamentos centrais da democracia: a separação dos Poderes e a proteção ao Estado de Direito. Para muitos juristas, reduzir penas já impostas pelo Supremo seria uma forma de intervenção política sobre o Judiciário, com potencial de abrir precedentes perigosos para outros casos.

Imagine-se, por exemplo, se no futuro o Congresso resolvesse suavizar penas aplicadas a políticos envolvidos em escândalos de corrupção sob o argumento de buscar “pacificação nacional”. O risco é de que a justiça deixe de ser um espaço de decisões técnicas, baseadas em provas e garantias legais, para se transformar em campo de barganha política.

REJEIÇÃO – Além disso, pesquisas recentes indicam que grande parte da população rejeita qualquer tipo de perdão aos envolvidos nos ataques, o que reforça a percepção de que uma redução generalizada de penas poderia ser vista como impunidade travestida de conciliação. Em última instância, o país poderia viver um perigoso esvaziamento da confiança nas instituições, num momento em que já enfrenta graves desafios de polarização e descrédito político.

Apesar disso, a pressão política por uma “pacificação” segue forte. Parlamentares da oposição querem apresentar a medida como um gesto de reconciliação, enquanto setores do governo e do Judiciário alertam para os riscos de se fragilizar a autoridade das decisões judiciais. Paulinho da Força tenta construir um meio-termo, preservando a legitimidade do STF, mas ao mesmo tempo oferecendo uma saída menos radical para parte dos condenados, especialmente aqueles de menor envolvimento.

A estratégia é claramente política: evitar a narrativa de que apenas os “peixes grandes” pagaram a conta, enquanto pequenos participantes dos atos permaneceriam presos por longos anos. Esse discurso ganha força em setores mais moderados do Congresso e pode se tornar um argumento central para conquistar votos, já que, ao mesmo tempo em que rejeita a impunidade total, tenta dar uma resposta mais equilibrada à sociedade.

DOSIMETRIA – O fato é que, descartada a anistia irrestrita, a batalha agora será em torno da dosimetria. No Congresso, ainda não há consenso, e no STF, a expectativa é de que qualquer norma aprovada seja alvo de contestação imediata.

O impasse ilustra como, no Brasil de hoje, a política e a justiça caminham em tensão permanente: de um lado, a busca por acordos e soluções políticas; de outro, a necessidade de manter intactos os pilares constitucionais que sustentam a democracia.

Nesse tabuleiro delicado, cada movimento pode redefinir não apenas o destino dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, mas também o próprio desenho das relações entre os Poderes. É uma disputa que ultrapassa o caso concreto e se inscreve no coração do sistema democrático, testando a capacidade do país de equilibrar justiça, política e legitimidade social.

Políticos blindados: O golpe da PEC contra a democracia no Brasil

PEC da Blindagem fragiliza o Estado de Direito

Marcelo Copelli
Revista Fórum

A aprovação da chamada PEC da Blindagem pela Câmara dos Deputados marca um dos episódios mais graves de descompromisso com a ética e a responsabilização política no Brasil contemporâneo.

A proposta altera a Constituição de forma a dificultar drasticamente a investigação e a responsabilização de parlamentares, transferindo para o próprio Legislativo a prerrogativa de autorizar processos criminais contra deputados e senadores.

CONQUISTAS – Essa mudança reverte conquistas importantes da Emenda Constitucional 35/2001, que retirou do Congresso a competência exclusiva de filtrar investigações, justamente para impedir que interesses políticos se sobrepusessem ao direito à Justiça.

A exigência de autorização prévia, por votação secreta, da maioria absoluta da Câmara ou do Senado para que um parlamentar seja processado cria um mecanismo que transforma o Legislativo em barreira à responsabilização, favorecendo a ausência de punição e corroendo a credibilidade do sistema jurídico. Além do filtro político para processos, a PEC amplia o foro privilegiado, estendendo-o a presidentes nacionais de partidos com representação no Congresso — medida inédita e sem paralelo em democracias consolidadas.

Outro ponto alarmante é a restrição à prisão de parlamentares. A proposta limita a medida a crimes inafiançáveis e ainda exige autorização legislativa, mesmo em casos em que a urgência demandaria resposta imediata da Justiça. Na prática, ergue-se uma barreira quase intransponível, tornando inviável a aplicação célere da lei contra quem ocupa cargos políticos, mesmo diante de indícios claros de criminalidade.

ARGUMENTO – A desfaçatez da classe política que apoiou a PEC é evidente. O argumento de que a medida protegeria o exercício do mandato não se sustenta: não há evidências de que a atividade parlamentar tenha sido prejudicada pelo sistema atual de responsabilização.

O que se revela é um pacto de conveniência. Trata-se de corporativismo em sua forma mais crua, um esforço calculado para blindar parlamentares em meio a um cenário já marcado por denúncias de corrupção, irregularidades administrativas e condutas que beiram a criminalidade.

O processo de aprovação evidenciou a amplitude desse alinhamento. A decisão em dois turnos, mesmo sob intensa controvérsia, mostrou que a autopreservação foi colocada acima da ética e da responsabilidade institucional.

ESTADO DE DIREITO – As implicações para a democracia são profundas. Ao criar obstáculos artificiais à responsabilização penal, a PEC da Blindagem dilui o princípio da igualdade perante a lei e fragiliza o Estado de Direito. A percepção de que o Parlamento se protegeu de investigações alimenta o descrédito popular e reforça a ideia de que a política brasileira se converteu em um círculo fechado de privilégios, distante da sociedade que deveria representar.

Além disso, ao reduzir a capacidade de ação do Judiciário em situações urgentes, a proposta abre espaço para a infiltração de práticas ilícitas e a consolidação de redes de corrupção sistêmica, comprometendo a governabilidade e a transparência que deveriam sustentar uma democracia madura.

A reação da sociedade civil e da imprensa tem sido vigorosa. Ampla mobilização nas redes sociais denunciou a medida como um manto de irresponsabilidade institucional. Pesquisas e monitoramentos mostram que uma parcela expressiva da opinião pública percebe a PEC como gesto de autoproteção parlamentar — um recado de que, para muitos congressistas, preservar privilégios pessoais vale mais do que honrar responsabilidades perante a população.

ALERTA – Esse sentimento de frustração e revolta social é um alerta para os próximos passos do Senado, que agora tem a chance de restabelecer o equilíbrio entre os Poderes e proteger os fundamentos constitucionais.

A PEC da Blindagem não é apenas um retrocesso jurídico; é também uma afronta simbólica. Expõe um Legislativo disposto a sacrificar princípios republicanos em nome da autoproteção, desconsiderando o impacto devastador sobre a confiança pública nas instituições.

A sociedade, os tribunais e os órgãos de controle devem permanecer vigilantes, exigindo transparência, ética e responsabilização efetiva. Caso contrário, o Congresso corre o risco de se tornar um espaço autorregulado, imune à fiscalização e alheio às demandas por justiça e equidade — um golpe silencioso contra a legitimidade democrática.

MARCO PERIGOSO – Em última instância, a PEC da Blindagem representa um marco perigoso. Está em jogo se a política nacional continuará a servir ao interesse coletivo ou se será reduzida a um mecanismo de proteção corporativa.

O Senado e a sociedade civil carregam a responsabilidade de impedir que o Parlamento se converta em reduto de irresponsabilidade, reafirmando que, independentemente do cargo ocupado, todos devem responder perante a Justiça.

Se essa tendência não for revertida, consolidar-se-á um precedente corrosivo, capaz de afastar ainda mais a política brasileira dos princípios éticos e democráticos que deveriam norteá-la.

Anote aí: O relator Paulinho da Força apenas finge ser contrário à anistia

Paulinho da Força é escolhido relator do projeto da anistiaMateus Salomão e Emilly Behnke,
CNN Brasil

Após meses de impasse e pressões, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou a urgência da anistia aos envolvidos em atos antidemocráticos.

Embora a urgência esteja atrelada a um projeto de lei apresentado por Marcelo Crivella (Republicanos-RJ), não há qualquer indicação de que será esse o texto apreciado pelo plenário.

INGLÊS VER… – Pelo contrário, a CNN apurou que internamento o projeto é “para inglês ver”, ou seja, não tem sido levado em conta nas articulações. Nesse momento, a discussão está concentrada na elaboração do relatório a ser apresentado por Paulinho da Força (Solidariedade-SP).

A atuação do relator, entretanto, mira a dosimetria das penas, ao invés do perdão dos condenados. Em entrevista à CNN, na sexta-feira (19), Paulinho da Força disse que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será beneficiado com a redução de penas.

“Ele será beneficiado em alguns crimes que foram imputados a ele. Nós não vamos pegar todos os crimes, vamos pegar alguns crimes que foram imputados, e que não vai servir só para o Bolsonaro, mas para todos, e esses crimes serão beneficiados”, afirmou.

ANISTIA LIGHT – ntegrantes do centrão, em especial no Senado, defendem a ideia de uma anistia “light”, que module penas e não necessariamente beneficie Bolsonaro. A ideia inicial de retomar a elegibilidade do ex-presidente tem sido descartada por articuladores.

Na última quarta-feira (17), o plenário da Câmara dos Deputados aprovou o regime de urgência do projeto de anistia por 311 votos a 163 e sete abstenções.

Na prática, a urgência acelera a tramitação da matéria na Câmara. Apesar de ainda não haver acordo quanto à votação do mérito da matéria, a aprovação da urgência representa um avanço na articulação da oposição.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
Todos sabiam que a “urgência urgentíssima” seria aprovada com facilidade na Câmara. Cansamos de escrever sobre isso aqui na TI. Agora só falta redigir o artigo que incluirá Bolsonaro e seu entorno. Como será o texto, ninguém sabe, mas é certo que incluirá Bolsonaro.  O relator Paulinho da Força (Solidariedade-SP) apenas finge que não é a favor da anistia. (C.N.)

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PEC da Blindagem pode estender escudo a deputados estaduais

Charge do Gilmar Fraga (gauchazh.clicrbs.com.br)

Por Camila Bomfim
G1

A PEC da Blindagem, aprovada na Câmara dos Deputados e pendente de análise no Senado, pode criar um escudo mais amplo do que se imagina. Se aprovado de forma definitiva, o mecanismo não ficaria restrito a deputados e senadores, mas se estenderia a deputados estaduais. Isso porque há uma extensão automática de benefícios e imunidades prevista na Constituição.

O artigo 27, parágrafo 1º da Constituição prevê que o número de deputados estaduais terá como critério uma matemática que envolve os mandatos federais. E que se replica automaticamente a imunidade dos parlamentares federais para os estaduais.

REGRAS – “§ 1º Será de quatro anos o mandato dos Deputados Estaduais, aplicando-se-lhes as regras desta Constituição sobre sistema eleitoral, inviolabilidade, imunidades, remuneração, perda de mandato, licença, impedimentos e incorporação às Forças Armadas”, diz o artigo 27.

O jurista Gustavo Sampaio concorda que a extensão é automática, e vai ampliar de forma consistente o guarda-chuva da blindagem política. A preocupação maior é que a PEC vire um escudo para o crime organizado.

ESTÍMULO – “Isso vai estimular que grandes criminosos procurem o abrigo do mandato parlamentar em busca de uma insuscetibilidade de constrição judicial”, disse ao blog. Ele também argumentou que facções já se infiltraram na política por meio de deputados estaduais que defendem interesses dos criminosos.

“Nas assembleias dos estados a presença do crime patrocina eleições e reeleições, e desmerece homens e mulheres honestos, que acredito serem maioria, e que ocupam cadeiras parlamentares em busca do bem e do interesse comum. Os maus políticos desprestigiam o Parlamento e não podem ficar infensos à constrição judicial”, concluiu.

Gilmar Mendes garante que PEC da Blindagem não barra ações contra políticos

Ministro afirma que proposta não altera ações já em curso

Mariana Muniz
O Globo

O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal, afirmou nesta semana que os processos já em andamento na Corte contra parlamentares não serão afetados pela eventual aprovação da chamada PEC da Blindagem. A proposta, que tramita no Congresso, busca restringir medidas judiciais contra deputados e senadores, ampliando o escopo do foro privilegiado.

— Os processos seguirão seu rumo— disse o ministro, ao ser questionado sobre os efeitos práticos da PEC. A declaração foi dada durante evento no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

AUTORIZAÇÃO PRÉVIA – A proposta aprovada pela Câmara estabelece que deputados e senadores só poderão ser processados criminalmente com autorização prévia do Congresso Nacional. Isso significa que antes de o Supremo abrir ação contra um parlamentar, será necessário o aval da respectiva Casa Legislativa, em votação aberta e com prazo de até 90 dias.

Gilmar evitou comentar a constitucionalidade do texto, que tem sido alvo de críticas por parte de juristas e integrantes do próprio Judiciário. Nos bastidores, a avaliação é que a proposta representa mais um capítulo da tensão entre os Poderes, especialmente em um momento em que o Legislativo busca ampliar sua margem de proteção institucional.

CRIVO DO SENADO – A PEC, aprovada em primeiro turno na Câmara, ainda precisa passar pelo crivo do Senado — onde enfrenta resistência, inclusive do presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Otto Alencar (PSD-BA), que já sinalizou que o texto “não passará de jeito nenhum”.

Gilmar também foi cauteloso ao comentar o projeto de lei da Anistia, que trata de punições a envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. “É preciso aguardar para fazer uma avaliação mais precisa”, afirmou.

Uma despedida saudosa do poeta Augusto Frederico Schmidt

A Ausente | Um Poema de Augusto Frederico SchmidtPaulo Peres
Poemas & Canções

O empresário e poeta carioca Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), no poema “Despedida”, aborda sentimentos guardados desde a infância e que nem todas as pessoas podem entender.

DESPEDIDA
Augusto Frederico Schmidt

Os que seguem os trens onde viajam moças muito doentes com os olhos chorando
Os que se lembram da terra perdida, acordados pelos apitos dos navios
Os que encontram a infância distante numa criança que brinca
Estes entenderão o desespero da minha despedida.
Porque este amor que vai viajar para a última estação da memória
Foi a infância distante, foi a pátria perdida, e a moça que não volta.

Líderes da PEC da Bandidagem têm de ser expurgados da vida pública

Valdemar Costa Neto | CNN Brasil

Costa Neto ameaça Alcolumbre por causa da anistia

Vicente Limongi Netto

Hora dos cidadãos isentos e vigilantes colocarem na carteirinha do título de eleitor a lista com os nomes das excrescências engomadas que votaram na Câmara dos Deputados pela aprovação da PEC deles. Ou seja, a PEC da Bandidagem. Se lambuzaram de pouca vergonha.

Cretinos e cretinas que esquecem que foram eleitos para zelar e cuidar dos pleitos que melhorem a qualidade de vida da coletividade. A sociedade dará o troco nas urnas, para essa camarilha imunda e desprezível.  O voto é a mais digna e expressiva arma do cidadão.

Já fiz minha lista com os nomes dos infames. Não tenho dúvidas que o Senado repudiará, com rigor, a imoral canalhice.

BOM ALUNO – O presidente do PL, Valdemar Costa Neto,  mandou recado ao presidente do Senado e do Congresso, Davi Alcolumbre, como se estivesse se dirigindo aos capachos dele do Partido Liberal. Patético Valdemar. O tom raivoso de Valdemar lembra as declarações do fanfarrão patrão dele, Jair Bolsonaro.

 Na quinta-feira, tratei aqui no meu artigo, Davi Alcolumbre foi duro com Eduardo Bolsonaro. Deixou claro, frisei, que bolsonaristas não terão vida mansa no Senado. Valdemar não gostou. Passou recibo para Davi, tentando intimidá-lo. A esta altura do jogo, não amolecerá Alcolumbre. Valdemar pode estrebuchar à vontade. Não tem meios de dobrar Davi.

Não morro de amores por Alcolumbre, mas o senador não deixará barato as ameaças de Valdemar. Se a esta altura, enquanto escrevo, já não terá devolvido as infâmias de Valdemar… Jogo é pesado. Próximos lances prometem mais emoções.

Entre a anistia e a redução de penas existe um risco à democracia

Não me comovo ao ver velhos censores pedindo clemência aos novos

O X da questão

Charge de Júlio César Barros (O Antagonista)

João Pereira Coutinho
Folha

“Discurso de ódio”, diziam eles, pedindo leis e prisão para opiniões ofensivas. Eu sorria. Não saberão esses iluminados que “discurso de ódio” depende sempre de quem está olhando?

Esse é o ponto. Existem duas defesas típicas da liberdade de expressão. Primeira: a liberdade de expressão é importante porque respeita a autonomia do sujeito. Segunda: a liberdade de expressão é importante porque permite o confronto de ideias e, com sorte, a obtenção da verdade.

Vejo méritos em ambas, mas com limitações. Nem tudo o que brota da minha autonomia tem valor social. E a verdade, como lembrava John Stuart Mill, pressupõe um verdadeiro confronto de ideias —coisa rara entre idiotas.

HIERARQUIA DO PODER – Existe uma terceira defesa, porém, que podemos chamar de teoria cínica: a liberdade de expressão é importante porque você nunca sabe em que ponto da hierarquia do poder vai estar no futuro. É um raciocínio à la John Rawls aplicado ao tema.

Rawls propunha que imaginássemos uma sociedade sem saber que lugar ocuparíamos nela —ricos ou pobres, maioria ou minoria, instruídos ou ignorantes. Atrás desse “véu de ignorância”, concluiu, o mais racional seria escolher regras que protegessem os mais vulneráveis, porque poderíamos ser um deles na grande loteria social.

O mesmo vale para a liberdade de expressão: enquanto está no poder, você pode sonhar em censurar os outros; mas, se amanhã for minoria, vai desejar desesperadamente as proteções que hoje tenta destruir.

EXEMPLO DOS EUA – É o caso: Donald Trump vai esmagando a liberdade de expressão nos Estados Unidos porque também não tolera o “discurso de ódio”. E o cancelamento, tão defendido por alguns progressistas americanos, é agora usado contra eles, nos mesmos termos e com o mesmo fanatismo. A suspensão de Jimmy Kimmel ilustra o que digo.

Pessoalmente, como sempre abominei a cultura de cancelamento dos progressistas, também abomino este previsível ajuste de contas pelos republicanos.

Mas não me comovo com a choradeira dos velhos censores que pedem clemência aos novos. Achavam o quê? A censura, quando nasce, é para todos.

Piada do Ano! Não pode haver anistia, porque estamos numa democracia…

Tribuna da Internet | Fracasso da democracia no Brasil não a torna o pior dos regimes

Charge do Duke |(Rádio Itatiaia)

Demétrio Magnoli
Folha

Os projetos de anistia, amplas ou estreitas, que circulam no Congresso não são iniciativas elogiáveis, pois oferecem abrigo ao golpismo. Contudo, ao contrário do que proclamam os sábios juristas Alexandre de Moraes e Flávio Dino, seriam atos legais, ou seja, constitucionais.

Assevera-se por aí, com ar de superioridade, que só especialistas deveriam pronunciar-se sobre o significado das leis. Ignorância pura: leis não são livros sagrados ou herméticos manuscritos oriundos de seitas místicas. São textos escritos por legisladores eleitos, isto é, gente comum de variados ofícios. Você e eu somos capazes de compreender o sentido dos códigos legais.

SEM ILEGALIDADES – A lei não admite ilegalidades justificadas pela alegação de incompreensão da lei. Implicação: todas as pessoas alfabetizadas dispõem dos meios para entender as leis. No caso da anistia, a Constituição é clara como a luz do deserto, dispensando a interpretação sistemática dos especialistas.

O artigo 5º, inciso XLIII, elenca os “crimes insuscetíveis de graça ou anistia”, entre os quais não se encontra nada parecido com golpe de Estado.

O inciso seguinte, XLIV, trata especificamente da “ação de grupos armados contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”, qualificando-a apenas como “crime inafiançável e imprescritível”. Inexiste omissão sobre anistia a golpismo, pois o legislador escolheu situar ações golpistas no inciso que não proíbe perdão.

BOAS PIADAS – Moraes e Dino podem contar outra: a do papagaio. Alternativamente, podem decidir que o STF escreve uma Constituição a cada dia, segundo a sua vontade soberana. “A Constituição sou eu”, diria um Luís 14 de toga.

Contudo, trilhando tal caminho, os juízes invadiriam a competência do Congresso, sabotando a educação política do conjunto da sociedade;

A via constitucional manda os juízes saírem de cena, colocando os congressistas alinhados ao golpismo diante do tribunal da opinião pública. O Datafolha indica maioria de 54% a 39% contrária à anistia para Bolsonaro e sua trupe criminosa.

PELA DEMOCRACIA – Apesar dos discursos dos extremistas, os brasileiros preferem a democracia. Por que evitar o entrechoque da maioria da população com um Centrão disposto a conceder perdão aos golpistas em troca da passagem do bastão de Bolsonaro a Tarcísio?

Democracia não é o governo dos juízes, mas o governo do povo, filtrado pelas instituições e leis. A maioria parlamentar não pode revogar o Estado Democrático de Direito, que figura como cláusula constitucional pétrea —mas, obviamente, aprovar a anistia não o revoga.

E o artigo 48 da Constituição esclarece que a “concessão de anistia” faz parte das “atribuições do Congresso Nacional”.

AMNÉSIA DE DINO – No seu voto, o erudito Dino alegou que “nunca a anistia se prestou a favor dos que exercem o poder”.

Incultura? Amnésia? A Lei de Anistia de 1979 prestou-se principalmente a proteger os que exerciam o poder, perdoou o crime hediondo de tortura e —surpresa!— foi acolhida pelo STF. Por isso, mesmo condenado, Brilhante Ustra, herói de Bolsonaro, jamais cumpriu pena.

A anistia que hoje se discute seria ainda mais vergonhosa, pois instituída na democracia. Os congressistas sem coluna vertebral têm o direito de tentar. A resistência compete aos outros, que expressam a vontade da maioria dos cidadãos e têm o dever de mobilizá-los.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG –
Interessante e sinistra essa conclusão de Demétrio Magnoli. Quer dizer que não pode haver anistia, porque vivemos hoje em regime democrático? Caramba, amigo, deve ser algum tipo intelectualizado de Piada do Ano. (C.N.)

Crise política brasileira já começa a desmoralizar os principais atores

Brasil-Corrupção-2016-Charge-Crise-Charge de Alexandre de Oliveira em  07.09.2016

Charge do Oliveira (Arquivo Google)

William Waack
Estadão

Olhando para a PEC da Blindagem na Câmara pode-se argumentar se é a esculhambação na política que leva a uma perda de juízo generalizada, ou se é o contrário. O resultado permanece o mesmo.

É o agravamento de uma situação em si bastante perigosa, que vem se disseminando há bastante tempo e se solidificando em vastos estratos sociais, ignorando divisões ideológicas. É a ideia de que o “sistema” está quebrado.

TUDO ERRADO – Por “sistema” entende-se “tudo”, ou seja, partidos, Poderes, leis, instituições, normas, regulamentos. Esse conjunto é percebido como incapaz de responder às questões mais desafiadoras (como crescimento da economia, por exemplo) ou é visto como viciado para favorecer determinada corrente grupo política e perseguir outra.

A crise brasileira mais abrangente pode ser descrita como a incapacidade de enfrentar os principais problemas “estruturais” (os grandes responsáveis por desigualdade, miséria e injustiça), tais como a janela demográfica, a estagnação da produtividade e os péssimos resultados em educação.

A expressão mais imediata dessa grande crise é o clima de cada um por si.

EXEMPLOS FORTES – A reforma tributária (na qual quem podia garantiu o seu) e as renúncias fiscais (a exceção vira direito adquirido) são exemplos fortes desse arraigado estado de espírito.

No sentido ainda mais imediato a PEC da Blindagem (ou da bandidagem, como se quiser) é mais um retrato nítido de como o corporativismo de agentes públicos opera principalmente para conquistar ou defender o que é “seu”.

A erosão da legitimidade e a desmoralização dos Poderes tem sido, nesse sentido, uma obra coletiva de longa duração.

DESMORALIZAÇÃO – O sistema de governo colabora para desmoralizar a figura do chefe do Executivo (que nada faz sem o Legislativo).

O sistema proporcional de voto colabora para tornar principalmente a Câmara uma casa de baixíssima representatividade, fracionada e dissociada de interesses nacionais abrangentes (fora todo o resto).

Integrantes do STF tem dificuldades em reconhecer como a própria instituição está sendo desmoralizada na luta política da qual passou a fazer parte como ator. A realidade política que a Corte enfrenta é a do crescente descrédito junto a uma enorme parcela da sociedade que não pode ser designada como “adversários liberticidas bolsonaristas”.

REINA A ANSIEDADE – Os avanços incrementais que alguns operadores políticos detectam (como melhoria na legislação eleitoral, por exemplo) contrastam com um ambiente geral no qual prevalecem hoje imprevisibilidade, insegurança jurídica e a falta de lideranças abrangentes dentro ou fora da política.

Cabe tudo, porém, na palavra do momento: ansiedade.

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Com pena branda a Mauro Cid, STF sinaliza incentivo à delação premiada

Tenente-coronel foi o único delator no processo

Davi Vittorazzi
CNN

Dois anos após ter fechado o acordo de delação premiada, o tenente-coronel Mauro Cid conseguiu quase todos os benefícios solicitados e teve a menor pena de condenação pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na ação do plano de golpe de Estado, com 2 anos em regime aberto.

Especialistas ouvidos pela CNN apontam que, apesar das críticas de adversários, a delação seguiu normas legais e foi importante por ajudar nas investigações que resultaram nas condenações. Além disso, que o resultado do julgamento pelo STF revela um incentivo aos acordos de delação premiada.

CRÍTICAS – A delação sofreu críticas por parte dos condenados desde o início da ação penal, como pelas defesas de Jair Bolsonaro (PL) e do general Walter Braga Netto, por supostos descumprimentos do acordo. Enquanto outros integrantes do núcleo 1, como o general Augusto Heleno, usaram a delação a seu favor, por dizer que não eram citados por Cid.

Quando fez a sustentação oral, o advogado Jair Alves Pereira, que fez a defesa de Cid, defendeu o acordo de delação e disse que o colaborador passou informações importantes. Mas, no entanto, não cabia a ele passar todos os detalhes, ainda mais por estar sob pressão social.

“Foi através dele que se descobriu a reunião com os comandantes [das Forças Armadas] e houve a discussão dos considerandos [da minuta do golpe]”, disse o advogado de Cid.

VÁRIAS VERSÕES – Ao votar pela manutenção da delação no julgamento, Moraes rebateu os advogados de que havia várias versões de delações do colaborador. “Não há nem oito, nem nove, nem 14 delações. Beira a litigância de má-fé, que foram oito depoimentos sobre fatos diversos numa mesma delação”, disse o ministro.

Na conclusão do julgamento da Primeira Turma do STF, os cinco ministros chegaram ao entendimento que o Mauro Cid deve cumprir dois anos de reclusão em regime aberto, ter a restituição de seus bens e valores, extensão de benefícios da colaboração para pai, esposa e filha maior e ações da PF (Polícia Federal) para garantir segurança do colaborador e familiares.

Um dia após a conclusão do julgamento, os advogados de Cid solicitaram ao ministro relator a retirada da tornozeleira eletrônica e demais medidas cautelares e o abatimento de pena, já que o tenente-coronel já ficou dois anos e quatro meses com restrição de liberdade e sob medidas cautelares.

RECURSOS – No entanto, na terça-feira (16), Moraes indeferiu o pedido ao entender que ainda cabem recursos que podem ser interpostos pelas defesas dos demais condenados até o caso entrar em trânsito em julgado.

Thiago Turbay, advogado criminalista e mestre em Direito pela UnB (Universidade de Brasília), avalia que, apesar das críticas das defesas de Bolsonaro e Braga Netto, o STF tem jurisprudência no sentido de que não é cabível contestações de terceiros, por ser negócio jurídico processual que vincula apenas a parte de Mauro Cid.

“Esse entendimento parece desconsiderar o efeito das colaborações em direitos alheios”, diz Turbay à CNN. Segundo o especialista, os benefícios concedidos ao colaborar são válidos e justos. “O acordo foi considerado útil e necessário, para revelar pontos relevantes e, especialmente, apontar as lideranças, que atuaram em contrariedade à lei”, completa.

EQUILÍBRIO – Enquanto o advogado criminalista Leonardo Magalhães Avelar considera que a questão mais delicada é encontrar o equilíbrio entre os benefícios dados ao colaborador e a seriedade dos crimes que ele cometeu. “No caso concreto, ao que parece, a decisão do Supremo Tribunal Federal envia uma mensagem de estímulo à cooperação em casos envolvendo violações ao Estado Democrático de Direito”, avalia Avelar.

Por sua vez, o advogado Daniel Bialski, mestre em Processo Penal pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), afirma que a delação premiada seguiu a legislação, mesmo com a possibilidade de investigações sobre a conduta do delator.

“Na minha opinião, para a população, o reflexo não gera sintoma de impunidade, mas de oportunismo diante do problema e da gravidade em que está envolvido”, pontua.