No seio do catolicismo, Igreja temia experiências diretas de fiéis com Deus

A ilustração de Ricardo Cammarota foi executada em técnica digital, linguagem vetor. Mostra três figuras alongadas e estilizadas em silhueta roxa, sobre fundo branco. As formas se sobrepõem e lembram seres híbridos entre humanos e animais. À esquerda, uma figura tem cabeça felina e braços estendidos. No centro, uma silhueta antropomórfica aparece em posição inclinada. À direita, outra figura de corpo humanoide apresenta cabeça de antílope com chifres, segurando um bastão longo e fino. Todas as figuras estão entrelaçadas por linhas diagonais que cruzam a composição.

Ilustração de Ricardo Cammarota (Folha)

Luiz Felipe Pondé
Folha

O medo da religião hoje está ligado ao medo do mal que a religião pode fazer para a vida psicológica emancipada moderna, assim como o medo do que grupos religiosos podem fazer à democracia. Exemplo claro da primeira situação é a suspeita em relação à submissão de pessoas religiosas aos “funcionários de Deus” —como o teólogo alemão Eugen Drewermann chama o clero.

Exemplo da segunda situação é o medo manifesto por vários setores da sociedade brasileira de que o país se torne refém do crescimento dos evangélicos de cepa conservadora.

 

NO LADO DE DENTRO – O medo da religião nem sempre teve origem na população exterior às comunidades religiosas. Muitas vezes, e de forma dramática, esse medo veio de dentro dessas mesmas comunidades.

No seio do catolicismo, teve uma face específica que foi o medo da corrente mística dentro da história da espiritualidade católica. A liderança oficial da igreja sempre temeu e acompanhou de perto as pessoas e suas narrativas de experiencias diretas com Deus, denominadas como experiências místicas.

Tanto o medo contemporâneo no Brasil do risco da “irracionalidade evangélica” contaminar a nossa vida social, política, moral e psicológica —nem percamos tempo tentando negar a afirmação acima do medo da irracionalidade evangélica, porque qualquer negação desse tipo seria mentira— quanto o medo da mística dentro da história do catolicismo desde, grosso modo, os séculos 13 e 14, agravando-se ao longo do século 17, ambos são marcados pela identificação do componente de irracionalidade —e da irresponsabilidade moral decorrente— como sendo o núcleo do risco em questão.

MEDO DA MÍSTICA – No caso do medo da mística —meu interesse e objeto de estudo há anos—, devemos olhar para a luta da Igreja Católica para ter controle sobre o que seria ou não uma legítima espiritualidade tocada pelo “conhecimento direto de Deus”.

Essa tentativa de controle da espiritualidade ou da ritualística é denominado pelo historiador francês André Vauchez como a busca pela colonização do sobrenatural europeu por parte do cristianismo católico.

Ela acontece num primeiro momento sobre as formas religiosas pré-cristãs na Europa e, na sequência, sobre as distintas formas de espiritualidades cristãs no mesmo continente.

SANTA INQUISIÇÃO – O leitor que conhece algo do assunto pensará logo na Santa Inquisição, e não estará errado em fazê-lo. Apesar de ela sempre ter sido uma espécie de ministério público da Igreja a aceitar denúncias, processar, investigar e condenar —aqui mais como supremo tribunal da ortodoxia da fé— suspeitos de heresia ou ilegitimidade espiritual, a discussão deste texto não quer chegar a essas minúcias “jurídicas”.

Meu interesse recai sobre o que o grande historiador da mística cristã Bernard McGinnn chama de “A Crise da Mística” no seu livro, cujo título é este em inglês, relançado em 2021.

Essa crise da mística se refere, especificamente, à disputa acerca do quietismo no século 17, que assolou a França, a Itália e a Espanha.

PASSIVIDADE – Quietistas foram, entre muitos outros, o espanhol Miguel de Molinos, condenado pela inquisição e que morreu na prisão depois de nove anos de cárcere na Itália, e os franceses, o arcebispo Fénelon —condenado ao ostracismo—, e Madame Guyon —presa por mais de oito anos. Todos eles tiveram as suas vidas arruinadas.

O quietismo teve esse nome porque afirmava a experiência mística como de absoluta passividade e quietude diante de Deus, num aniquilamento absoluto da alma, conceito que data de autoras como a francesa Marguerite Porete —queimada em Paris em 1310. Quietismo implica um radical silêncio interior, que seria a antessala da experiência mística.

ACIMA DAS LEIS – Os quietistas serão acusados por agentes da hierarquia católica de defensores do antinomianismo. O que é isso? Trata-se de uma acusação muito grave que significa que os místicos estariam acima das leis religiosas ou seculares porque unidos a Deus.

O praticante da oração interior que o aniquila e o leva à liberdade absoluta, sem necessidades de contenção exterior constituída pela instituição ao longo dos séculos, está livre de cometer pecados, livre da necessidade de mortificações ou mesmo da busca de direção espiritual por parte dos membros do clero. Imagine só uma mulher mística assim.

IRRACIONALIDADE – No século 17 do grande racionalismo e posterior iluminismo, a mística quietista —outro termo comum é “a invasão mística”— será vista como um surto de irracionalidade no seio do catolicismo.

A crise da mística à qual se refere McGinn é o descrédito e posterior empobrecimento que se abateram sobre a mística na Igreja Católica desde então.

Defesa plena é uma porta que se fecha com o julgamento de Bolsonaro

Internautas soltam criatividade com saída de Lula da cadeia | Gazeta Digital

Charge do Zappa (humortadela.com)

Roberto Motta
Gazeta do Povo

O veredito menos surpreendente da história brasileira acaba de ser anunciado: o ex-presidente Jair Bolsonaro e vários outros réus foram condenados por crimes que incluem “tentativa de abolição do estado democrático de direito” e “golpe de estado”.

Recapitulando: Bolsonaro foi condenado a 27 anos de prisão; Walter Braga Netto a 26 anos de prisão; Anderson Torres a 24 anos e perda de cargo na Polícia Federal; Almir Garnier Santos a 24 anos; Augusto Heleno a 21 anos; Paulo Sérgio Nogueira a 19 anos; Mauro Cid a 2 anos em regime aberto; e Alexandre Ramagem a 16 anos de prisão, perda de mandato de deputado federal e perda do cargo na Polícia Federal. Todos ficarão inelegíveis por 8 anos após o cumprimento das sentenças e, além de multas individuais, terão que pagar uma multa “solidária” de R$ 30 milhões.

TOM MORDAZ – Ao debater o valor da multa, um dos ministros comentou em tom mordaz que o réu Jair Bolsonaro teria “boa situação financeira”, lembrando de doações via Pix que teriam sido recebidas por ele.

Apesar da gravidade da decisão e de suas consequências, o bom-humor predominou enquanto os ministros pronunciavam suas sugestões para o tempo em que o ex-presidente deveria ficar na cadeia.

Se não houve surpresa alguma com esse resultado, certamente houve choque; o choque de ver confirmada uma previsão que, apesar de já ser considerada certa, ainda assim não perdeu o poder de espantar. A surpresa já tinha vindo um dia antes, no voto do ministro Luiz Fux.

VOTO DEMOLIDOR – No início da semana, no programa “Os Pingos nos Is”, eu disse que não esperava nenhuma novidade no julgamento. Errei. O voto do ministro Fux não foi apenas desconcertante e divergente. Na opinião de muitos juristas ele foi demolidor.

É um voto a ser estudado em salas de aula de Direito no Brasil do futuro – um país que, por algum milagre, tenha se reencontrado com a legalidade.

Um milagre será necessário porque o voto do ministro Fux apontou três nulidades – três fatores que, na sua opinião, tornariam o processo nulo.

AS NULIDADES – Em primeiro lugar, a corte não teria competência para julgar o caso, já que os réus deste processo não têm foro privilegiado – eles deixaram seus cargos no governo antes que fosse modificado o entendimento da corte sobre a manutenção do foro. Os réus deveriam ser julgados por um juiz de primeiro grau, disse o ministro Fux.

Em segundo lugar, disse o ministro, mesmo que, de alguma forma, fosse reconhecida a competência da corte, o caso não deveria ser julgado pela turma, e sim pelo plenário, lugar onde foram realizados todos os grandes julgamentos.

Por último, afirma o ministro, ficou comprovado que houve cerceamento de defesa. Para o ministro Luiz Fux, trata-se de nulidades insanáveis.

EXAME DETALHADO – Em seu extenso voto (a leitura durou treze horas) o magistrado fez um exame detalhado dos autos, provas e alegações. Ele considerou cada uma das acusações, submeteu as provas apresentadas a testes temporais e de lógica, e comparou as condutas dos réus com aquelas definidas na lei como crimes.

Ao final desse processo, o ministro votou pela absolvição do ex-presidente Bolsonaro. Segundo ele, os fatos narrados pela Procuradoria Geral da República não correspondem ao crime de golpe de Estado.

Para o ministro, também não é possível dizer que os crimes praticados nos atos de 8 de janeiro de 2023 decorrem de discursos e entrevistas do ex-presidente.

FORA DA LEI – Ele lembrou que “a lei não permite que se considere uma pessoa responsável por crimes cometidos por outros que foram influenciados por suas palavras”. E deu um claro exemplo: a culpa pelo atentado sofrido por Jair Bolsonaro em 2018 não pode ser imputada a opositores políticos que usaram retórica violenta contra o então candidato. É o óbvio.

Em homenagem ao jurista Evaristo de Moraes, o ministro Fux lembrou que “um crime só existe quando a conduta se encaixa na lei penal como uma luva se encaixa na mão”.

Além de Bolsonaro, o ministro pediu a absolvição de todos os outros réus, à exceção de Mauro Cid e Braga Neto.

IMPARCIALIDADE – Um dos trechos mais impactantes do voto de Fux fala sobre a imparcialidade do juiz. Ele disse:

“O juiz deve acompanhar a ação penal com distanciamento, não apenas por não dispor de competência investigativa como também por seu necessário dever de imparcialidade”.

Fux afirmou ainda que não compete ao tribunal realizar juízo político, e que sua missão exige objetividade, rigor técnico e “minimalismo interpretativo”.

ALÍVIO MOMENTÂNEO – O voto do ministro Luiz Fux produziu um alívio momentâneo em milhões de brasileiros. No dia seguinte vieram as condenações. Retornando de uma viagem a São Paulo, eu atravessava o saguão do Aeroporto de Congonhas quando um rapaz humilde me parou, os olhos cheios d’água. Ele disse: “Me sinto como se o condenado fosse eu”.

Não é o único. Há quem diga que o voto do ministro Fux, além de firmar sua posição como um defensor do Direito, abriu uma porta para que o tribunal saísse da confusão em que havia se metido.

Mas um dia depois o tribunal fechou a porta com estrondo.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOGExcelente análise, enviada por Mário Assis Causanilhas. Mostra que o cinismo e a desfaçatez da maioria dos ministros do Supremo irão prevalecer enquanto eles não forem substituídos. (C.N.)

Governo de Trump volta a criticar Moraes, condenando a ‘farsa política’

Vice de Rubio fala em "uso da lei como arma política" - Crusoé

“Moraes prejudica relações diplomáticas”, diz Landau

Raisa Toledo
Estadão

O vice-secretário de Estado dos Estados Unidos, Christopher Landau, voltou a criticar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes nesta quarta-feira, 17. Em publicações no X (antigo Twitter), ele acusou Moraes de colocar em risco a relação diplomática entre Brasil e EUA e afirmou que o governo brasileiro precisa adotar medidas contra o integrante do Supremo.

“Os Estados Unidos continuam aguardando que o Brasil contenha o juiz fora de controle Moraes antes que ele destrua completamente a relação de que nossos grandes países desfrutam há mais de dois séculos”, escreveu o membro do governo Trump, referindo-se ao ministro como “sancionado e violador de direitos humanos”.

PRESO NA PAPUDA – Landau comentou uma reportagem do jornal Folha de S. Paulo que afirmava que, segundo ministros do STF, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) poderia ficar preso no Complexo Penitenciário da Papuda caso os EUA prosseguissem com sanções contra o Brasil.

“Se esta reportagem for precisa, apenas confirma que todo o processo ‘judicial’ em andamento no Brasil é uma farsa política. Aqueles que afirmam seguir o Estado de Direito não podem aumentar a punição de um réu em função da resposta de terceiros à sua decisão”, escreveu.

“Como @realDonaldTrump e @SecRubio enfatizaram, os Estados Unidos responderão adequadamente a essa caça às bruxas política e não serão dissuadidos por ameaças judiciais”, completou.

MORAES ABUSA – Em comentário de outra notícia, sobre um pedido de prisão expedido em 2024 por Alexandre de Moraes contra uma mulher que tem dupla cidadania e vive nos Estados Unidos, Landau afirmou que “os Estados Unidos não permitirão que o juiz Moraes estenda seu regime de censura ao nosso território”.

Ele acusou o ministro de abusar do sistema judicial e o Brasil de deixá-lo perseguir objetivos políticos.

Acredite se quiser! Procuradoria quer fechar a Jovem Pan por defender Bolsonaro

Fraude no INSS: bens de luxo de lobistas vão bancar ressarcimento a aposentados

As dúvidas e angústias de Drummond sobre o que realmente significa viver

O importante não é estar aqui ou ali,... Carlos Drummond de Andrade - PensadorPaulo Peres
Poemas & Canções

O bacharel em Farmácia, funcionário público, escritor e poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), um dos mestres da poesia brasileira, fala das angústias de quem esperava mais do viver.

VIVER
Carlos Drummond de Andrade

Mas era apenas isso,
era isso mais nada?
Era só a batida
numa porta fechada?

E ninguém respondendo,
nenhum gesto de abrir:
era, sem fechadura,
uma chave perdida?

Isso, ou menos que isso,
uma noção de porta,
o projeto de abri-la
sem haver outro lado?

O projeto de escuta
à procura de som?
O responder que oferta
o dom de uma recusa?

Como viver o mundo
em termos de esperança?
E que palavra é essa
que a vida não alcança?

Bolsonaro é condenado a pagar R$ 1 milhão por declarações racistas

Deputados aprovam a excrescência chamada de “blindagem parlamentar”

Brasília (DF), 16/09//2025 - Sessão da Câmara dos Deputados. Foto: Lula Marques/Agência Brasil

Hugo Morra comandou a votação da PEC da Bandidagem

Vicente Limongi Netto

Deputados federais chegaram ao fundo do poço em matéria de agressão ao bom senso. Um monumento recheado de privilégios imundos e nada republicanos.  Aprovaram a excrescência chamada “PEC da Blindagem”. Um balaio indecoroso protegendo todos os cretinos engomados de processos.

O palavrão legislativo já é tratado,  com todo merecimento, pela população, de “PEC da bandidagem”. Pelo texto, os parlamentares não poderão mais ser denunciados nem punidos pela Justiça, por qualquer tipo de crime, por mais escabrosos que sejam, sem o consentimento da Câmara Federal.

Mais uma vez pautas de interesse da coletividade, que deveriam ser discutidas com rigorosa prioridade, são esquecidas em detrimento de pleitos pessoais que apequenam e envergonham mais ainda o Legislativo junto à opinião pública. Tenho ânsia de vômito.

UM POEMEU – Por fim, “Sombras do Céu”. É um “poemeu’, como dizia Millôr Fernandes, em breves palavras.
SOMBRAS DO CÉU
Recebo sombras do céu.
Molhadas com orvalho.
Carregadas de mãos amorosas.
No peito a dor da aflição.
Na boca a timidez do prazer. t

Valdemar, Bolsonaro e a confissão que abala o bolsonarismo

Valdemar admite que houve ‘planejamento de golpe’

Pedro do Coutto

A recente declaração de Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, de que havia de fato um plano de golpe de Estado para manter Jair Bolsonaro no poder, abriu uma crise sem precedentes dentro da direita brasileira. Não se trata apenas de uma fala infeliz ou de um deslize verbal: Valdemar, um dos principais articuladores políticos do bolsonarismo, reforçou publicamente a tese sustentada pela Procuradoria-Geral da República e acolhida pelo Supremo Tribunal Federal.

Na prática, confirmou aquilo que o STF já havia julgado e condenado: a conspiração contra o Estado Democrático de Direito. Com essa admissão, ainda que posteriormente negada, o líder do PL ofereceu munição pesada a opositores e colocou em xeque a estratégia de defesa de Bolsonaro e de sua base.

REFLEXOS – A reação de Bolsonaro foi imediata e furiosa. O ex-presidente, condenado a mais de 27 anos de prisão, nunca admitiu a existência de um plano golpista, preferindo sustentar a narrativa de perseguição política. Quando um dos seus mais próximos aliados rompe essa versão e reconhece, ainda que por descuido, a articulação da ruptura institucional, toda a retórica cuidadosamente construída desmorona.

Valdemar percebeu o erro e, num movimento típico da política, tentou recuar, relativizar suas palavras e negar o que havia dito. Mas, como lembrava Magalhães Pinto, a política é como a nuvem: muda de forma com o vento. A tentativa de desdizer o que já estava dito não apagou o estrago. A imagem de um líder partidário admitindo a conspiração ficou registrada no imaginário político e midiático.

ANISTIA – O impacto imediato foi sobre a articulação da anistia que bolsonaristas pressionam para colocar em votação no Congresso. O discurso de Valdemar enfraqueceu sobremaneira o projeto, pois deu razão àqueles que acusam a proposta de ser uma manobra para encobrir crimes graves contra a democracia.

Parlamentares alinhados ao governo e setores da sociedade civil passaram a usar as palavras do próprio presidente do PL como prova de que a anistia não pode prosperar. Valdemar, ao tentar apagar o fogo que ele mesmo acendeu, acabou revelando uma contradição incontornável: como defender a anistia de crimes que já foram confirmados por seus próprios aliados?

O episódio pode se consolidar como um divisor de águas, deixando claro que, ao menos no terreno político, o bolsonarismo começa a enfrentar não apenas a resistência institucional, mas também as rachaduras internas que comprometem sua narrativa de unidade e vitimização.

Câmara avalia manobra que mantém Eduardo Bolsonaro no cargo apesar das faltas

Para salvar Bolsonaro, aliados querem que EUA apoie anistia e CPI do STF

Com rito acelerado, a anistia pode ser aprovada este mês na Câmara

Charge do Eri (Arquivo Google)

Guilherme Caetano
Estadão

Com Jair Bolsonaro condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão, o bolsonarismo deve abrir ao menos três frentes de batalha para tentar salvar o ex-presidente e contra-atacar o Judiciário: duas no Congresso e uma no âmbito internacional, em especial nos Estados Unidos de Donald Trump.

O deputado Luciano Zucco (PL-RS), líder da oposição e o aliado de Bolsonaro mais presente na plateia da Primeira Turma do STF durante o julgamento, avalia que a “brecha jurídica” aberta pelo voto dissidente do ministro Luiz Fux deve ser usada para tentar reverter o quadro do ex-presidente.

Fux foi o único dos cinco ministros que compõem a Primeira Turma do STF que repetiu as alegações apresentadas pelas defesas, votou pela nulidade do processo e rechaçou o teor golpista dos episódios que precederam o 8 de Janeiro. Os demais ministros condenaram Bolsonaro pelos crimes de organização criminosa, tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de direito, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

VOTO DISSIDENTE – A saída traçada pelos bolsonaristas para salvar o ex-presidente passaria por instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista — com deputados e senadores — para investigar eventuais abusos e irregularidades do Poder Judiciário. A empreitada tem apoio até mesmo da ala moderada do bolsonarismo, como o senador Marcos Pontes (PL-SP).

A ideia da CPI nasce do crescente sentimento entre os bolsonaristas de que o julgamento encerrado no último dia 11 de setembro foi um “jogo de cartas marcadas” entre magistrados que querem perseguir o ex-presidente.

“O poder corrompido não trata quem pensa diferente como adversário, mas como inimigo a ser eliminado. Nesse cenário, uma reorganização e fortalecimento (do bolsonarismo) são necessários. Assim como o Brasil precisa estar livre, todos os presos políticos — incluindo Bolsonaro — também precisam. É por essa liberdade que trabalharemos”, diz a deputada Júlia Zanatta (PL-SC).

ADESÃO À CPI – Os bolsonaristas têm mantido um site, registrado no nome do deputado Gustavo Gayer (PL-GO), para monitorar a adesão dos parlamentares à ideia de criação da CPI e pressionar os demais. O placar apontava, na tarde da sexta-feira, 12, um total de 184 assinaturas a favor nas duas Casas, 145 contrários e 284 indefinidos. Zucco diz estar reunindo as últimas assinaturas necessárias para protocolar o pedido de instalação da comissão.

“Nós temos discutido a CPI da Vaza Toga. A gente entende que, como não temos como recorrer em nenhuma instância (dentro do Brasil), possamos levar isso para tribunais internacionais. Vamos tratar com o Filipe Barros (presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara) a possibilidade de ida de parlamentares ao parlamento americano, a entidades jurídicas internacionais, para levar as denúncias”, afirma ele.

APOIO DOS EUA – Nessa frente internacional mencionada por Zucco estaria a articulação que vem sendo feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e pelo comunicador Paulo Figueiredo.

Os dois têm feito reuniões em Washington para pressionar a Casa Branca a sancionar ministros do STF e tentar impedir punições contra o ex-presidente.

“Só há uma postura possível (a partir da condenação): uma luta incessante em cada front por uma anistia ampla, geral e irrestrita. Congresso, governos, Estados, lideranças religiosas, comunicadores, setor empresarial e, claro, os Estados Unidos com os demais países da comunidade internacional”, diz Figueiredo, questionado pelo Estadão sobre qual frente priorizar.

OFENSIVA DE TRUMP – Os Estados Unidos aparecem como nova fronteira da direita brasileira, uma vez que Trump já demonstrou, na ocasião do tarifaço e da imposição da Lei Magnitsky contra o ministro do STF Alexandre de Moraes, estar atento ao julgamento de Bolsonaro e que pode usá-lo como munição para outra ofensiva contra o Brasil.

O Partido Liberal (PL) vê surgir mais uma vez, após sucessivos fracassos, um novo momento político para avançar com a anistia. A bancada federal está definindo as estratégias de atuação e espera ver o tema ser pautado no Colégio de Líderes no mesmo dia.

Apesar da pressão bolsonarista, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), vem fazendo o que pode para empurrar a discussão da anistia. Ele segue sem dar previsão de votação nem indicar relator para o tema.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A resistência de Motta tem limites. O regimento da Câmara determina que, se houver apoio da maioria absoluta dos deputados ou assinatura de líderes de partidos que representem esta maioria (metade mais um), o presidente da Câmara é obrigado a reconhecer situação de “urgência urgentíssima” e tem de pautar o projeto na primeira sessão. Para vocês terem uma ideia, na História Republicana já houve “urgência urgentíssima” para atrasar o relógio do plenário e não perder o prazo. (C.N.)

Tempos de cólera, com a política infectada por intolerância e õdio

Jovem - O ativista conservador Charlie Kirk, aliado próximo do presidente Donald Trump, morreu nesta quarta-feira (10) após ser baleado durante um evento na Universidade Utah Valley, nos Estados Unidos. De acordo

Charlie Kirk, ativista migo de Trump, levou cinco tiros

Vicente Limongi Filho 

Nos Estados Unidos, um famoso ativista de direita, Charlie Kirk, pregador da paz,  partidário de Donald Trump, é assassinado; no Brasil, reitora filha do ministro do STF, Edson Fachin, é insultada e recebe cusparada no rosto; governador de Santa Catarina, bolsonarista, é ameaçado de morte  por cinco bandidos; na Praia Grande, SP, ex-diretor-geral da Policia Civil é executado em emboscada. 

BARBÁRIE E ÓDIO – É o clima de intolerância de mãos dadas com a barbárie e com o ódio, cada vez mais ganhando espaço no Brasil. No meio político, embora ainda longe das eleições, o ambiente é de degradação pessoal. O topetudo Trump manda e desmanda no Brasil.

Lula e seu ministro Lewandowski adotaram a postura do silêncio. Passou da hora de reagir duro. Itamaraty reage timidamente. Interesses pessoais na frente dos interesses coletivos.

Grupos políticos trocam insultos, pisam na honra alheia. O povo que se dane. 

MEMÓRIAS DO LOBÃO – Antes de entrar na política, Edison Lobão foi um expressivo colunista político. Do Correio Braziliense e da Última Hora.  Agora lançou livro rico em revelações políticas e históricas. Viveu, participou e escreveu sobre importantes épocas da vida do Brasil.

Na marcante obra, “Memórias e Testemunhos”, o eterno repórter Edison Lobão relata momentos felizes e tumultuados do país. O livro de Lobão é útil para estudantes, repórteres políticos iniciantes, professores, historiadores e sociólogos.

DIZ SARNEY – Prefácio é do ex-presidente e acadêmico José Sarney. Para Sarney, “Lobão nos surpreende com um delicioso livro, abrindo sua caixa de segredos não contados em suas colunas, em que com seu estilo de síntese consegue analisar um período difícil da história política brasileira, de que foi testemunha e, já como político, também protagonista”.

Em sua carreira vitoriosa de homem público, Edison Lobão foi deputado federal, senador, governador e ministro de Estado. Como senador, foi presidente interino da Câmara Alta, com a licença do senador-presidente, Jader Barbalho.  

AMIGO DA ONÇA –  Uma onça solta em Brasília causando pânico. Matando o que encontra pela frente. Autoridades alertam que o ferino é intocável. Feri-lo dá cadeia sem direito a fiança.

Nada contra os animais. O que não entra na minha cabeça é que ferinos perigosos podem mutilar, ferir e matar seres humanos. Se a reação dos humanos for violenta, correm o risco de serem presos. Me expliquem, por favor, se exagero nas minhas ponderações.

EVOLUÇÃO NO DF – O comércio do Distrito Federal é um dos principais indicadores da situação real da economia nacional. É fato da maior importância a notícia de que na capital as vendas do comércio cresceram bem acima da média nacional e devem fechar 2025 em alta.

Para o presidente do Sistema Fecomércio-DF, José Aparecido, o resultado confirma a força do mercado brasiliense, que espera boas notícias neste Natal.

Padilha ignora risco de bloqueio nos EUA e alfineta Eduardo Bolsonaro: ‘Tô nem aí’

Lula libera recorde de emendas PIX em meio a crise política e desembarque partidário

Mauro Cid planeja futuro fora do Exército entre EUA e consultorias

Perdeu, mané”: condenada do 8/1 cumprirá pena em prisão domiciliar

Débora deverá respeitar medidas cautelares

Márcio Falcão
G1

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, determinou nesta segunda-feira (15) que Débora Rodrigues dos Santos, condenada pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, vai permanecer em prisão domiciliar, agora em cumprimento da pena.

Entre os atos de Débora nos ataques, ela pichou “Perdeu, mané”, na estátua “A Justiça”, durante os atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023.

CONDENAÇÃO –  Débora Rodrigues foi condenada pela Primeira Turma do STF a 14 anos de prisão pelos crimes de deterioração de patrimônio tombado, dano qualificado, golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito e associação criminosa armada.

Como encerraram as chances de recursos, Moraes entendeu que no início da execução da pena deve ser mantida a prisão domiciliar com outras cautelares, como proibição do uso de redes sociais. A Procuradoria-Geral da República (PGR) afirmou ao Supremo que há comprovação de que a mulher participou dos crimes por conta das provas reunidas ao longo do processo.

CONFIRMAÇÃO – As provas são laudos que apontam que é Débora a pessoa nas imagens que mostram a pichação na estátua. Além disso, ela mesma confirmou em interrogatório que era a mulher que aparece nos registros. “Pode-se visualizar pelas imagens coletadas, de maneira nítida, a denunciada em cima da estátua ‘A Justiça’, depredando-a pela escrita da frase ‘perdeu, mané’, com batom vermelho, cuja cor também se reflete em seu rosto e suas mãos. Está rodeada de inúmeros outros manifestantes e aparenta celebrar a conduta danosa”, afirmou o Ministério Público.

Segundo a PGR, Débora disse ter ido a Brasília para se manifestar pacificamente. No entanto, “inflada pelos demais, praticou os atos de depredação, e somente se retirou do local após a chegada da polícia para contenção dos invasores que intentavam o golpe de Estado e a abolição violenta do Estado Democrático de Direito, por inconformismo com o resultado das eleições presidenciais de 2022”.

“No que diz respeito ao caso dos autos, não há dúvidas de que a acusada aderiu ao propósito de abolir o Estado Democrático de Direito e de depor o governo legitimamente constituído”, completou. A defesa da cabeleireira nega que ela tenha tido o intuito golpista e ressalta que ela pediu desculpas.

DEFESA – Em manifestação ao Supremo, a defesa de Débora Rodrigues dos Santos sustentou que houve cerceamento de defesa, por não ter acesso a elementos de prova. Entre eles, imagens sobre o ataque que teriam sido registradas pelo Ministério da Justiça.

Os advogados apontaram ainda que não há elementos suficientes para condenar a mulher. Ressaltaram que não há, por exemplo, provas de que ela intencionalmente agiu para praticar os crimes.

“A ré compareceu aos atos de 8.1.2023 com o intuito de manifestar-se pacificamente, conforme declarou em seu interrogatório. Não há evidências de que ela tenha aderido a qualquer plano golpista ou que tenha participado de reuniões ou articulações prévias com esse fim”, disseram os advogados.

PARTICIPAÇÃO ATIVA –  “A acusação não conseguiu demonstrar que a ré teve participação ativa na invasão dos prédios públicos ou na articulação dos atos violentos. A simples presença na Praça dos Três Poderes, por si só, não é suficiente para caracterizar a prática dos crimes imputados”, completaram.

Eles também argumentaram que ela não usou violência ou grave ameaça no ato de pichação. “O uso de um batom para escrever uma frase na estátua não configura violência ou ameaça, conforme exigido pelo tipo penal”.

Voto de Fux alimenta tese para anulação, repetindo a Lava Jato

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Charge do Clayton (O Povo/CE)

Hugo Henud
Estadão

O voto divergente do ministro Luiz Fux no julgamento de Jair Bolsonaro não muda o resultado imediato, mas abre à defesa do ex-presidente uma brecha estratégica para tentar anular a condenação no futuro, sobretudo diante das mudanças políticas e da nova composição do Supremo Tribunal Federal (STF) a partir de 2027 – em movimento semelhante ao que levou à revisão de decisões da Operação Lava Jato.

Em mais de 13 horas de voto, Fux abriu fissuras internas em nulidades processuais ao sustentar a “incompetência absoluta” do STF para julgar Bolsonaro, defendendo que o caso deveria tramitar na primeira instância e que todos os atos do processo seriam nulos.

CERCEAMENTO – O ministro também apontou cerceamento de defesa, ao destacar o “tsunami de dados” que, segundo ele, inviabilizou a análise do material pelos advogados. Na prática, Fux acolheu as teses já apresentadas pela defesa do ex-presidente.

Juristas ouvidos pelo Estadão avaliam que os argumentos de Fux têm potencial de abrir caminho para a anulação do processo e a revisão da condenação, já que se apoiam em pontos preliminares que não discutem o mérito dos crimes pelos quais Bolsonaro foi condenado.

O efeito, no entanto, depende do cenário político e da nova composição do Supremo a partir de 2027, quando haverá mudanças na Corte depois das eleições presidenciais de 2026.

TARCÍSIO DESPONTA – É nesse tabuleiro que entra Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo e principal aposta da direita para 2026, explica o professor de ciência política do Insper Leandro Cosentino.

Apadrinhado por Bolsonaro, Tarcísio já declarou não confiar na Justiça e chegou a prometer indulto ao ex-presidente caso chegue ao Planalto.

No ato de 7 de Setembro, atacou o que chamou de “tirania de Moraes”, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, relator da ação penal que levou à condenação do ex-presidente. Outros governadores aliados de Bolsonaro também saíram em defesa do ex-presidente, prometendo algum tipo de indulto ou anistia.

NOVOS MINISTROS – O presidente que for eleito em 2026 poderá indicar três ministros para o STF ao longo de seu mandato, entre 2027 e 2030, com as aposentadorias por idade de Luiz Fux (2028), Cármen Lúcia (2029) e Gilmar Mendes (2030). “Isso pode abrir caminho para mudança”, afirma Cosentino.

Em paralelo, partidos já articulam para 2026 a formação de uma maioria contrária ao Supremo no Senado, o que também pode abrir espaço até para pautas de impeachment contra ministros da Corte. Isso também poderia, em último caso, alterar a composição do STF, o que poderia gerar outros entendimentos sobre teses já analisadas.

Esse ambiente político reforça a aposta jurídica da defesa. Para o criminalista e coordenador do curso de Direito da ESPM-SP, Marcelo Crespo, a revisão criminal é um dos instrumentos possíveis. O mecanismo permite reabrir um processo já transitado em julgado quando há fundamentos para anular ou modificar a condenação.

UM NOVO QUADRO – Ele explica que esses requisitos específicos não estão configurados hoje na ação que condenou Bolsonaro. A avaliação, porém, é de que o quadro pode mudar caso a composição do Supremo se altere nos próximos anos.

“Com uma nova composição, se tivermos ministros dispostos a agir como Fux, poderiam, em tese, julgar procedente uma revisão criminal favorável a Bolsonaro”, afirma Crespo.

O criminalista Renato Vieira, ex-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (IBCCRIM), aponta outra via: um habeas corpus que questione a suspeição de Alexandre de Moraes poderia abrir espaço para revisão, desde que em um contexto político diferente. “Aí pode haver algum caminho”, afirma.

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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
A solução é a anistia. O resto é muito difícil e complicado. (C.N.)

Eduardo Bolsonaro tenta herdar o trono da direita após condenação do pai

“Sinto que ora salto, meu foguete some, queimando espaço…”

Música Eleva a Alma: Egberto Gismonti - Discografia

Gismonti e seu raríssimo violão de 14 cordas

Paulo Peres
Poemas & Canções

O produtor musical, arranjador, instrumentista e compositor Egberto Amin Gismonti, natural de Carmo (RJ), na letra de “O Sonho”, viajou pelas maravilhas existentes no espaço até acordar para a realidade.

A música foi gravada por Elis Regina no LP Elis – Como e Porque, em 1969, pela Philips.

O SONHO
Egberto Gismonti

Sinto que ora salto
Meu foguete some
Queimando espaço
Tudo vejo e abraço
A vaidade
Estou morando em pleno céu
Namorando o azul

Ando no espaço rouco
Meu foguete some
Deixando traços
Entre estrelas vejo
A liberdade
Fotografo todo céu
E revelo paz

Busco cores e imagens
Faltam pássaros e flores
Coração na mão
Corpo solto estou
Entre estrelas
Vou deitar neste luar
Indo de encontro ao riso
Do quarto minguante
E o sol queimando
A pele branca
Despertando,
vejo a cama e meu amor
Acordado estou
Choro, choro, choro….

Com Bolsonaro fora do jogo, PT mira Tarcísio como rival central em 2026

Para o PT, Tarcísio já cumpriu roteiro traçado com Bolsonaro

Catia Seabra
Victoria Azevedo
Folha

Aliados de Lula (PT) e integrantes do governo federal apontam que a condenação de Jair Bolsonaro (PL) deixa o caminho aberto para uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), contra o petista em 2026.

Pessoas próximas a Lula também avaliam que o julgamento deve levar o governo Donald Trump, nos Estados Unidos, a impor uma nova ofensiva contra o Brasil e temem uma interferência do país na eleição do ano que vem.

ARTICULAÇÕES – Para auxiliares do petista, a pavimentação da rota de Tarcísio rumo à candidatura ao Planalto se deu a partir dos movimentos feitos pelo governador de São Paulo nos dias que antecederam a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Tarcísio se reuniu com lideranças para defender a votação de anistia a envolvidos na trama golpistas e criticou diretamente o tribunal.

Governistas avaliam que Tarcísio cumpriu um roteiro traçado com o próprio Bolsonaro, em busca de apoio à sua campanha ao Palácio do Planalto. Os dois conversaram durante uma visita recente do governador ao ex-presidente. Nos dias seguintes, o centrão ampliou a defesa do nome de Tarcísio como candidato.

Em reuniões, o próprio Lula vem repetindo que Tarcísio será o candidato do centrão no ano que vem. Ele chega a ressaltar uma mudança no comportamento do governador, que se mostrou disposto a parcerias com o governo federal nos primeiros anos de seu mandato. Um aliado do presidente diz acreditar que, daqui por diante, ele não participará mais de atos ao lado de Lula.

ESTRATÉGIA – Diante desse cenário, petistas dizem que o governador passará a nacionalizar cada vez mais seu discurso e que é preciso atuar para desgastar a imagem de Tarcísio. Os sinais de consolidação da candidatura dele fizeram com que o PT mudasse a estratégia para São Paulo, por exemplo. Na última semana, o partido decidiu levar à TV uma campanha com críticas ao governador, em uma inserção produzida exclusivamente para o estado. No restante do país, a propaganda petista foi destinada à exaltação do governo Lula.

No ano que vem, a disputa nacional vai influenciar a estratégia do governo para a eleição paulista. O PT quer montar uma chapa forte para o Palácio Bandeirantes e as duas vagas de São Paulo para o Senado. A ideia é montar um palanque que dê sustentação à campanha de Lula no estado.

Além dos nomes do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Fernando Haddad (Fazenda), a ministra Simone Tebet (Planejamento) é lembrada para a disputa, no caso dela, para o Senado. Sem Tarcísio no pleito estadual, aliados de Lula avaliam que Alckmin teria chances de ser, mais uma vez, eleito governador. Haddad também é mencionado para a vaga, embora venha descartando a hipótese.

IMPACTOS – Aliados de Lula também dizem que, com a condenação e a aceleração das articulações em torno de Tarcísio, o PT deve analisar os impactos sobre suas alianças para 2026. Auxiliares do presidente entendem que dificilmente partidos do centrão hoje com o petista deverão apoiar sua reeleição. O esforço será para atrair parte das lideranças desses partidos e evitar que eles se aliem formalmente à candidatura adversária.

Além disso, com a condenação de Bolsonaro, petistas e aliados do governo no Congresso reconhecem o risco de aumento da pressão para que o projeto da anistia avance no Legislativo. No Palácio do Planalto, a orientação é contra essa proposta e a favor de um empenho para que o tema não seja levado ao plenário —diante da avaliação que hoje haveria votos suficientes para que ele fosse aprovado.

Esses aliados também dizem que é preciso trabalhar para que a pauta do Congresso não fique paralisada nesse meio tempo, mirando a aprovação de um pacote de medidas sociais que possam ajudar o petista na reeleição.

SOBRETAXA – Há ainda uma avaliação de integrantes do governo e do próprio presidente da República de que a aprovação da anistia representaria uma vitória do governo dos Estados Unidos, num momento em que Donald Trump lança uma ofensiva contra o Brasil e impõe sobretaxa de 50% a produtos brasileiros.

Para aliados de Lula, a condenação de Bolsonaro deve levar a gestão Trump a impor novas sanções ao país e a autoridades brasileiras. Há um temor em relação à amplitude dessa ofensiva americana, sobretudo com o receio de interferência nas eleições do próximo ano.

Um petista diz que, diferentemente das outras eleições, há possibilidades de 2026 conter um fator de internacionalização da disputa, com ofensiva de Trump para garantir um aliado na Presidência.

PARCEIROS COMERCIAIS – Esse petista diz que é preciso reforçar as relações internacionais, buscar outros parceiros comerciais e tentar blindar o debate de regulação das big techs —assunto que tem a oposição frontal da gestão do republicano.

Por trás de todos os cálculos políticos, aliados de Lula vêm reforçando a avaliação de que o resultado do julgamento no STF, com a condenação de Bolsonaro e generais à prisão, pode ser considerado uma vitória histórica, ao mostrar que uma tentativa de golpe contra as instituições foi punida.